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INVESTIGAÇÃO ENTRE A RELAÇÃO DOS CASOS DE MICROCEFALIA E OS

SURTOS DE ZIKA VÍRUS.

SANTOS, H. S. A.¹; MOURÃO, F. A. B.¹; COELHO, D. Y. S; SOUZA, J. H. K.²

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Acadêmicos do curso de medicina da Faculdade de Minas Belo Horizonte/Faminas-BH
2
Prof. Dr. Coordenador do Núcleo de Saúde da Mulher e Professor Titular de Ginecologia na
Faculdade de Minas (FAMINAS-BH)

*Autor para correspondência:


Heitor Stephenson Aguiar Santos
E-mail: heitoraguiarmed@gmail.com FAMINAS-BH Av. Cristiano Machado, 12001, Belo
Horizonte - MG, CEP 31744-007. Telefone: (31) 2126-3100

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RESUMO

O Zika vírus é um vírus transmitido por artrópodes do gênero Flavivirus, da espécie Aedes aegypt. Em março de 2015, o
Brasil relatou a transmissão do vírus, e um surto foi declarado meses depois. Estudos epidemiológicos demostraram uma
associação temporal e geográfica entre a infecção pelo Zika vírus e o aparecimento posterior de crianças com microcefalia
congênita no Brasil. O vírus já foi encontrado em amostras de líquido amniótico, tecidos placentários e cerebrais de
recém-nascidos a partir de ensaios de transcriptase-polimerase em cadeia da reação inversa (RT-PCR). No entanto, ainda
há muito a ser determinado quanto a associação entre a infecção do Zika vírus e malformações fetais. Nesse sentido, o
objetivo do trabalho busca apontar e discutir a relação entre microcefalia e Zika vírus. Para determinar se a infecção por
Zika vírus durante a gravidez ocasiona danos neurológicos, foram analisados dados disponíveis a partir de critérios que
têm sido propostos para a avaliar o potencial teratogênico do Zika vírus, utilizando os critério de Shepard, além de
características anatomopatológicas dos danos a barreira placentária e o forte neurotropismo fetal. A metodologia
empregada no presente artigo constitui-se de uma revisão integrativa de literaturas, realizada no período de 2015 até os
dias atuais, sendo selecionados artigos em português e inglês, nas bases de dados Scielo, Google acadêmico e PubMed.
Os descritores empregados foram; ZICA VÍRUS; MICROCEFALIA; GRAVIDEZ; MALFORMAÇÕES
NEUROLÓGICAS, TERATOGENICIDADE. Assim, com base em uma revisão de evidências, o potencial teratogênico
desmostrou uma relação causal existente, entre a infecção no pré-natal causada pelo Zika vírus e a microcefalia com base
nos critérios 1,3 e 4. No critério 1, uma exposição comprovada a um agente deve ocorrer em um momento crítico durante
o desenvolvimento pré-natal e as infecções foram consistentes com os defeitos observados, complicações severa e
calcificações intracranianas. No critério 3, houve uma delineação cuidadosa nos casos clínicos com a descoberta de um
defeito ou uma síndrome específica e o critério 4, refere-se à associação entre uma exposição rara e um defeito raro; que
também foram cumpridos. Nos achados anatomopatologicos foi observado placentite crônica (tipo TORCH), com
detecção de proteínas virais por imuno-histoquímica em células Hofbauer e o neurotropismo do vírus através da deteção
de proteínas virais em células da glia. Utilizando ambos os critérios que são, o potencial teratogênico e analises
anatomopatologicas, sugerimos uma evidência suficientemente acumulada para inferir uma relação causal entre a
infecção pelo Zika vírus no pré-natal e a microcefalia. Conclui-se então que, esses resultados nos levam a crer em
melhores pespectivas; tanto em condutas em ambientes de cuidados clínicos quanto na orientação da saúde pública.
Palavras-Chave: Zika Vírus, Microcefalia

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INTRODUÇÃO

A América Latina está passando por uma grande epidemia de vírus de Zika ,que é um arbovírus da
família de vírus Flaviviridae e do gênero Flavivirus , que é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.
O nome Zika vem da floresta Zika de Uganda, onde o vírus foi isolado pela primeira vez em 1947,
mas a infecção pelo Zika Vírus (ZIKV) em humanos foi descrita em Uganda em 1964 e mais tarde
no Sudeste Asiático. Em janeiro 2016, o vírus foi identificado em 28 países e territórios.Estima-se
que mais de 80% dos indivíduos infectados são assintomáticos.(Miranda, 2016)
O ZIKV pertence à mesma família da dengue e da febre amarela. Foi descoberto em 1947 e foi
associado com infecções humanas em casos esporádicos na África e Ásia . Contudo, desde 2007, o
vírus vem sendo associado a grandes surtos humanos com mudanças no padrão das infecções . Têm
sido relatadas altas taxas de infecção e apresentações graves, incluindo complicações neurológicas (
Síndrome de Guillain Barré , meningoencefalite ). (Cavalheiro. 2016).
No início de 2015, vários pacientes apresentaram sintomas semelhantes aos que ocorreram nas
infecções pelo vírus da dengue, tais como febre , prurido, mal estar e artralgia.Tais achados chamou
a atenção dos médicos infectologistas da região Nordeste do Brasil, embora todos os pacientes
residissem em uma área endêmica de dengue , o diagnóstico da dengue após a realização de exames
foi negativo. Os resultados de soros dos pacientes revelou então, uma infecção ZIKV autóctone no
país. Atualmente, estima-se que existam no Brasil, mais de 1.500.000 pessoas contaminadas por
ZIKV. Além disso, o vírus se espalhou para outras regiões do Sul e países da América Central. Em
outubro de 2015, uma incidência anormalmente elevada de microcefalia em recém-nascidos foi
observada . A maioria das mulheres que deram à luz dessas crianças, apresentaram sintomas
compatíveis aos da infecção por ZIKV durante os primeiros meses de gravidez. Em novembro deste
mesmo ano o Ministério da Saúde (MS) do Brasil emitiu um boletim confirmando a relação entre a
infecção por Zika vírus ( ZIKV ) e o surto microcefalia na região nordeste.Em fevereiro de 2016,
foram relatados mais de 5.600 casos suspeitos de microcefalia em recém-nascidos, representando um
aumento de mais de vinte vezes em comparação com a média histórica dos últimos cinco anos, e 120
suspeitas de mortes devido a microcefalia relacionadas com a infecção pelo ZIKV forram notificados
às autoridades de saúde brasileiras. (Noronha et al. 2016)
Sabe-se que o RNA de ZIKV foi detectado em amostras de líquido amniótico de duas gestantes que
tiveram sintomas da infecção por ZIKV e cujos fetos foram diagnosticados com microcefalia. Além
disso, o RNA e proteínas virais foram detectados no tecido cerebral de recém-nascidos assim como
no tecido placentário, o que destaca a ligação entre a infecção ZIKV em mães e microcefalia em

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recém-nascidos. Estudos comprovam a ocorrêcia da transmissão transplacentária de ZIKA VÍRUS
através da detecção de proteínas virais e RNA viral em amostras de tecido de placenta a partir de
mulheres grávidas infectadas em diferentes fases da gestação. Por meio da análise de amostras,
evidenciaram a placentite crónica (tipo TORCH), com a detecção de proteínas virais por imuno-
histoquímica em células de Hofbauer e alguns histiócitos no espaço interviloso. Também
demonstraram o neurotropismo do vírus através da detecção de infecções de proteínas virais em
células da glia e em algumas células endoteliais além da observação de focos dispersos de
microcalcificações nos tecidos cerebrais. Notou-se também, que as lesões foram localizadas
principalmente na substância branca. Embora na grande maioria dos casos, o indivíduo fica
debilitado após ser mordido por um mosquito infectado, alguns casos têm sido descritos por resultar
da transmissão sexual de outros indivíduos infectados (Foy et al. 2011).
Do ponto de vista obstétrico , em outubro de 2015, houve um aumento anormal do número de recém-
nascidos com microcefalia , em Pernambuco . Sendo que algumas das mães dessas crianças tiveram
erupções no período gestacional a possibilidade de transmissão de ZIKV mãe para filho , causando
defeitos neurológicos na criança . Após a realização de testes em recém-nascidos com microcefalia
e outras malformações na região do Nordeste,observou-se a presença do vírus no sangue e no tecido
cerebral dos bebês, comprovando a suposição de que há uma relação entre a microcefalia e o ZIKV.(
(Foy et al. 2011).
Baseado nos dados e fatos apresentados, o objetivo do trabalho é abordar e discutir acerca de algumas
pesquisas realizadas que estabelecem a relação entre a microcefalia e o Zika Vírus. Alguns estudos
realizados por meio de testes com amostras de tecidos afetados já apontaram que o vírus foi
encontrado no Sistema Nervoso Central. Para tanto, realizou-se uma revisão integrativa de
literaturas, no período de 2015 até os dias atuais, sendo selecionados artigos em português e inglês,
nas bases de dados Scielo, Google Acadêmico e Pubmed.

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DESENVOLVIMENTO

Classificação da microcefalia

Microcefalia é uma condição na qual o cranio de um recém-nascido é menor do que o esperado em


comparação aos neonatos de idade gestacional, semelhante e sexo. Microcefalia congênita pode ser
detectada no pré-natal, mas geralmente é detectado após o nascimento. Devido a diferentes
definições de prevalência de microcefalia congénita no nascimento, observa-se uma difículdade
de padronização numa população. Nos Estados Unidos,por exemplo, as estimativas da prevalência
de nascimento é de 2 a 12 recém-nascidos afetados por 10.000 nascidos vivos Meaney-Delman,
Rasmussen; et al (2016).No Brasil, o aumento de nascimentos de crianças com microcefalia
congênita tem aumento junto com o surto de Zika vírus, diante disso o numero de recém-nascidos
com microcefalia atualmente é muito maior que o esperado com base nos dados epidemiologios em
anos anteriores. Diante disso, tem sido observada em paralelo com o surto Zika vírus que a
circunferência da cabeça de recém-nascidos com microcefalia, revela um perímetro cefálico ≥ 2
desvios-padrão abaixo da média para o sexo e idade gestacional ao nascimento. (MEANEY-
DELMAN ET AL, 2016).
Estudos analisaram retrospectivamente tomografias computadorizadas e / ou ressonâncias
magnéticsa do cérebro de 13 recém-nascidos com microcefalia nascidos de mães que foram
infectadas pelo Zika vírus na fase precoce da gravidez. Foram obtidos os seguintes achados
radiológicos: todos os pacientes tiveram desproporção craniofacial com microcefalia e um perímetro
cefálico <32 cm. Os crânios tinham um aspecto encurtado primordialmente nas regiões frontal e
occipital. A porção anterior do crânio mostrava uma formato de diamante. Diante disso, observou-
se que ,embora não se pode concluir que exista um padrão radiográfico patognomônico definitivo
de microcefalia causada pelo vírus Zika, calcificações grosseiras e distribuição anárquica envolvendo
a transição cortical subcortical e os gânglios basais, em associação com lissencefalia e na ausência
de ventriculomegalia hipertensiva, são característicos deste tipo de infecção.

Relação Da Teratogenicidade Do Zika Vírus Com O Desenvolvimento Gestacional


RASMUSSEN E JAMIESON et al; (2016) estudaram e correlacionaram o potencial de infecção do
Zika vírus e o nascimento de crianças com malformações. Apesar de existirem evidências que
corelacionam a ligação entre a infecção pelo Zika vírus e a microcefalia, sugere-se cuidado ao
afirmar que a infecção pelo vírus Zika é causalmente relacionada para estes acontecimentos,

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tomando uma postura cautelosa, visto que, o flavivírus nem sempre foi demonstrado definitivamente
como causador das malformações no nascimento. Na utilização do trabalho, para avaliar o potencial
teratogênico da infecção do zika virus no pré-natal como causador da microcefalia,utilizou-se o
critério de Shepard, que propõe um conjunto de sete critérios para "Prova" de teratogenicidade
humana. De acordo com estes critérios, a causalidade é estabelecida quando tanto os critérios 1, 3
e 4 ou os critérios 1, 2 e 3 são cumpridos (SHEPARD et al, 1994).
O primeiro critério indica que uma exposição comprovada a um agente
deve ocorrer em um momento crítico durante o desenvolvimento de pré-natal. A microcefalia e
outras anomalias cerebrais graves têm sido observados em muitas crianças e são consistentes com
uma infecção que ocorre no primeiro ou no início do segundo trimestre de gravidez. Os autores
justifcam essas informações com trabalhos de Faccini, Feitosa; et al (2016) e Pereira, Gabaglia; et
al (2016), que mostram vários relatos de casos e estudos que demonstraram que as mulheres
que tiveram fetos ou recém-nascidos com anomalias cerebrais congênitas em que se acreditava, com
base nos sintomas da mãe ou a confirmação laboratorial, ser devido à infecção pelo Zika vírus, foram
infectados no primeiro ou no início do segundo trimestre de gravidez, isso ficou determinado pelo
calendário dos sintomas ou de acordo com o tempo de viagem para uma área onde o Zika vírus era
endêmica. Ainda segundo os autores, citando Pereira, Gabaglia; et al (2016), as Infecções por Zika
vírus que ocorrem mais tarde na gravidez sofreram associações insuficientes; crescimento intra-
uterino, morte fetal ou defeitos nas imagem pré-natal que ainda não foram confirmadas após o
nascimento, porque as gestações estão em andamento . Concluindo assim, que o primeiro critério de
Shepard foi cumprido.
O segundo critério exige que dois estudos epidemiológicos de alta qualidade apoiem a associação,
Para isso, fazem referência Teixeira, Costa M; et al (2016), afirmando que os dados do Brasil acerca
da associação temporal e geográfica entre a infecção pelo Zika vírus e o aparecimento posterior de
crianças com microcefalia congênita são convincentes. Dois estudos epidemiológicos também
fornecem suporte. Em um estudo realizado durante o surto no Brasil, 88 gestantes que tiveram um
início de erupção nos últimos cinco dias foram testadas para o RNA do Zika vírus. Entre as 72
mulheres que tiveram testes positivos, 42 foram submetidas a ultra-sonografia no pré-natal Tais
anormalidades foram observadas em 12 mulheres(29%); nenhuma das 16 mulheres com testes
negativos tinham anormalidades fetais. As alterações que foram observadas na ultra-sonografia
variaram muito, e algumas descobertas careciam de confirmação pós-natal porque as gestações
estavam em curso. (PEREIRA, GABAGLIA et al,2016)

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Uma análise retrospectiva após surto de Zika vírus, 2013-2014, na Polinésia Francesa
identificou oito casos de microcefalia. No entanto, esta estimativa foi baseada em pequenos
números, e o risco de outros resultados adversos (por exemplo, outras anomalias cerebrais) não foi
avaliado. Embora esses estudos forneçam evidências importantes que apoiem uma relação causal
entre o Zika vírus, microcefalia e outras anomalias cerebrais. A falta de controle de fatores e um
número confuso e relativamente pequeno de casos não atendem aos critérios rigorosos
estabelecidos pela Shepard. Assim, podemos concluir que o segundo critério de Shepard ainda não
foi satisfeito. (RASMUSSEN et al, 2016).
O terceiro critério, buscou realizar uma delineação cuidadosa nos casos clínicos com a descoberta
de um defeito ou uma síndrome específica, o que parece ter sido cumprido. Muitos fetos e recém-
nascidos com infecções congênitas pelo Zika vírus, apresentam um padrão típico, incluindo
microcefalia severa, calcificações intracranianas e outras anomalias cerebrais, por vezes
acompanhada de alterações oculares, pele do couro cabeludo redundante, artrogripose, e pé torto,
tais descobertas levaram autores a usar o termo "Síndrome Zika congênita” conforme ressalta
MIRANDA-FILHO, MARTELLI; ET AL (2016). Nesse sentido, FACCINI, FEITOSA; ET AL
(2016), em seu trabalho, exemplifica que, 11 de 35 crianças (31%) com microcefalia cujos casos
foram relatados para o registro do Ministério da Saúde do Brasil tinham a pele do couro cabeludo
excessivo e redundante, uma descoberta que não é normalmente visto em outras formas de
microcefalia. Estes achados sugerem uma interrupção do crescimento cerebral, mas não no caso da
pele do couro cabeludo.
O quarto critério de Shepard refere-se à associação entre uma exposição rara e um defeito raro;
podemos concluir que este critério também foi cumprido. Assim, um defeito raro que ocorre após
uma exposição rara durante a gravidez implica causalidade, devido à improbabilidade dos dois
eventos raros ocorrerem em conjunto. Microcefalia é um defeito raro que estima-se que ocorrem em
6 crianças por 10.000 nascidos vivas nos Estados Unidos. O Zika Vírus não seria uma exposição
rara entre as mulheres que vivem no Brasil durante o surto de vírus Zika; no entanto, relatos de efeitos
adversos no nascimento entre os viajantes que passaram apenas um período de tempo limitado em
uma área onde há transmissão ativa do Zika vírus são consistentes como fato do Zika vírus ser uma
exposição rara. (RASMUSSEN E JAMIESON et al, 2016).
Um relatório recente e ilustrativo é o trabalho de PEREIRA, GABAGLIA, ET AL (2016); onde
uma mulher grávida viajou por 7 dias ao México, Guatemala e Belize durante sua 11ª semana de
gestação e teve um teste positivo para anticorpos da imunoglobulina M (IgM) do Zika vírus, quarto

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semanas mais tarde. Na ultra-sonografia e ressonância magnética realizado em 19 a 20 semanas de
gestação, anomalias cerebrais graves foram diagnosticadas no feto e a gravidez foi interrompida
com 21 semanas de gestação. Para os autores, a microcefalia não estava presente no momento da
interrupção da gravidez, mas a circunferência da cabeça tinha diminuído a partir do percentil 47 com
16 semanas de gestação ao percentil 24 às 20 semanas de gestação, o que sugere que a
microcefalia teria desenvolvido no feto caso tivesse a continuação da gravidez. Nesta mulher, Zika
vírus seria considerado uma exposição rara, e seu feto tem um resultado raro.
Os últimos três critérios são úteis, se estiverem presentes, mas não são considerados essenciais. O
quinto critério, a necessidade de um modelo animal que mostra a teratogenicidade, não foi cumprida.
Embora os modelos animais mostrassem que o Zika vírus é neurotrópico, não há estudos que foram
publicados que testaram para a teratogenicidade em um modelo animal, embora exista estudos que
estão em andamento. O sexto critério fala que, a associação deve fazer sentido biológico, é
perfeitamente preenchida. Além disso, a evidência patológica suporta esta associação; o RNA do
vírus foi visto em células mononucleares danificadas (presumivelmente células gliais e neurônios)
no cérebro de recém-nascidos com microcefalia, e que o vírus parece ser neurotrópico. Além disso,
o Zika vírus infecta eficientemente células progenitoras neurais e produz a morte celular e
crescimento anormal, fornecendo assim, um mecanismo possível para microcefalia. O sétimo
critério, a prova em um sistema experimental que o agente atua em um estado alterado, destina-se
a medicamentos ou exposição a produtos químicos e não se aplica a agentes infecciosos. Assim, os
critérios de Shepard 1, 3 e 4 foram satisfatórios, prova que é considerada suficiente para identificar
um agente como teratogênico. (RASMUSSEN E JAMIESON et al 2016).

Evidências Anatomopatológicas
As evidências anatomopatológicas demonstraram efeitos teratogênicos de flavivírus (Laszczyk et al.
2007) com neurotropismo, incluindo ZIKV, o que indica associação com anomalias cerebrais
congênitas (Martines et al. 2016, Mlakar et ai. 2016, Sarno et al. 2016). o flavivírus ZIKV estava
presente em tecidos cerebrais de recém-nascidos com microcefalia, o qual foi confirmado através
de exames em tempo real de PCR. A presença de proteínas de envelope viral não foi observado em
outros órgãos, (Martines et al. 2016, Mlakar et ai. 2016, Sarno et ai. 2016). Isto indica que o cérebro
era o principal órgão-alvo para a replicação viral em o feto, com destaque para a forte neurotropismo.
Além disso, analisou-se um caso em que a infecção no oitavo mês de gravidez resultou na infecção
no oitavo mês de gestação pelo ZIKV resultou em dano ao tecido placentário, mas não ao feto. Nesse

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caso, o RNA do vírus foi isolado a partir de tecidos da placenta, reforçando o tropismo do vírus por
este órgão e mostrando que é independente do período de gestação A falta do RNA do ZIKV e IgM
anti-ZIKV no soro do recém-nascidos sugerem fortemente que o feto não foi infectado, embora
ZIKV tinha atingido os tecidos placentários. (Noronha et al. 2016)
Em outro aspecto, as análises anatomopatológicos englobaram cinco casos de aborto espontâneo,
recém-nascidos com microcefalia e infecção por ZIKV durante a gravidez. Foi realizada análise de
amostras do tecido cerebral dos fetos. Observou-se Placentite crônica (grupo TORCH),
acompanhada de hiperplasia das células de Hofbauer. Sabe-se que As células de Hofbauer tem a
capacidade de migrar para a circulação fetal, e em seguida infectar as células fetais (Baurakiades et
al. 2011, Kim et al. 2015, apud Noronha et al. 2016) Diante disso, um dos estudos apresentou uma
hipótese de que o ZIKV poderia estar usando as células de Hofbauer e sua capacidade migratória
para alcançar os vasos fetais. Ademais, Foi observado destruição da arquitetura das vilosidades e do
epitélio trofoblástico, e estes resultados são consistentes com alterações na barreira placentária.
.(Noronha et al. 2016).
Em relação aos tecidos cerebrais dos fetos, Os ensaios de PCR quantitativo em tempo real produziram
resultados positivos para RNA ZIKAV e resultados negativos para RNA DENV. .(Noronha et al.
2016)Regiões da substância branca e cinzenta revelaram extensa destruição e infiltração de células
mononucleares células inflamatórias, infiltrados perivasculares por linfócitos e aglomerados de
micróglia e macrófagos, marcando sítios de neuronofagia. Hiperplasia microglial também estava
presente em todas as amostras de tecido cerebral. Além disso, testes de imuno-histoquímica com o
anti-flavivírus 4G2l mostrou imunopositividade difusamente distribuída em algumas células
gliais.(Noronha et al. 2016)

Outras Formas De Transmissão


As formas de contágio do vírus ainda não foram plenamente esclarecidas. Entretanto, estudos
demonstram que outros flavivírus, como o vírus da encefalite japonesa , o vírus do Nilo Ocidental e
o vírus St. Louis já foram detectados no sêmen de animais e humanos. Se a transmissão sexual pôde
ser verificada nesses estudos, supõe-se que o mesmo se estenderia ao ZIKV(Foy et al. 2011)
Meaney-Delman, Rasmussen; et al (2016), em seu trabalho intitulado, Virus Zika e Gravidez; O que
profissionais de saúde Obstétrica precisam saber, avalia que embora o modo mais comum de
transmissão do Zika vírus para os seres humanos é pela picada de um mosquito infectado, outros
modos de transmissão também foram documentadas, incluindo a transmissão materno-fetal o que

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pode resultar em infecções congênitas . Transmissão através de transfusão de sangue e exposição
laboratorial, também têm sido relatados. Três casos de provável transmissão sexual do Zika vírus
foram relatados. No entanto, o período de tempo que o vírus Zika permanece no sémen é
desconhecido. O RNA do Zika vírus foi identificado no leite materno, mas as tentativas de cultura
do vírus não foram bem sucedidas. A transmissão através de transplante de órgãos ou de tecidos é
teoricamente possível, mas não tem sido documentada.
Além da transmissão durante a gravidez, os autores citam o trabalho de Besnard, Cao-Lormeau,
et al (2014), que relataram a transmissão perinatal do Zika vírus. Os relatos foram classificado a
partir de duas mãe que tiveram seus filhos durante o surto 2013-2014 na Polinésia francesa. Em
um caso, a mãe desenvolveu uma erupção pruriginosa leve 2 dias antes do parto. O ARN do Zika
Vírus foi detectado no soro materno 2 dias após a entrega, e o soro obtido a partir do recém-nascido
no terceiro dia de vida foi positiva para o RNA do vírus. Com base nos sintomas e testes
subsequentes, a mãe apresentou susceptivel a viremia no momento da entrega, sugerindo
transmissão periparto. No segundo caso, o RNA do Zika vírus foi detectado no soro materno 1 dia
após o parto, com o subsequente desenvolvimento de febre e erupção cutânea. O RNA do Zika Vírus
foi detectado no recém-nascido no primeiro dia de vida, coincidindo com o desenvolvimento de uma
erupção maculopapular. Este recém-nascido também desenvolveu trombocitopenia, e possuía baixo
peso ao nascer.
Ainda segundo os autores, Meaney-Delman, Rasmussen; et al (2016), é importante ressaltar que a
frequência da transmissão materno-fetal e o risco de que um feto infectado com o Zika vírus
desenvolver microcefalia ou outros defeitos congênitos são desconhecidos. Também é desconhecido
se o momento ou a gravidade dos sintomas, da carga viral, a resposta imune materna, ou outros
fatores que aumentam o risco de transmissão da mãe para o feto ou da ocorrência de anormalidades.
Ainda não há tratamento específico para infecção pelo Zika vírus. A Organização Mundial de Saúde
emitiu uma orientação inicial sobre apoio psicossocial para pacientes e famílias afetadas pela
infecção do vírus Zika e complicações associadas incluindo microcefalia e síndrome de Guillain-
Barré. Ainda não existe vacina para a prevenção da infecção pelo vírus Zika.
Embora inexista evidências consistentes de que o ZIKV pode ser transmitido sexualmente de um
homem para os seus parceiros sexuais. é salutar que os homens que residem ou tenham viajado para
uma área de transmissão ZIKV ativa devem se abster de atividade sexual, e usar corretamente
preservativos durante as relações sexuais dentro de 2 semanas depois houve o retorno, e adiar a doar
sangue durante pelo menos 28 dias para evitar transmissões do vírus zika. Devido a potenciais riscos

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de infecção por ZIKV através da contaminação sexual em mulheres em idade reprodutiva (15-44
anos), recomenda-se que os prestadores de cuidados de saúde devem discutir e fornecer
aconselhamento sobre reprodução de triagem e testes e planeamento da gravidez nas mulheres que
residem em áreas com infecção ZIKV em curso.(Foy et al. 2011)

DISCUSSÃO

Até o presente momento, as bases de estudos nos levam a pensar que a infecção pelo Zika vírus se
tornou um problema de saúde de proporções internacionais acometendo vários países (Cao-Lormeau,
Blake; et al, 2061; Meaney-Delman, Rasmussen; 2016) e que o foco dessas investigações
concentram-se na possível relação causal existente entre o surto de Zika vírus e o aumento de
microcefalias apresentados por recém-nascidos de mães que acabaram sendo expostas ao vírus
durante a gestação. Ainda que não se sabe quantos dos casos de microcefalia estão associados
com a infecção pelo vírus Zika. Além disso, RNA do vírus da Zika foi detectada nas amostras
patológicas de perdas fetais no primeiro trimestre, embora não se saiba se o vírus Zika foi o
causador de todas essas perdas fetais.
Embora o modo mais comum de transmissão do Zika vírus para os seres humanos é pela picada de
um mosquito infectado, outros modos de transmissão também
foram documentadas, incluindo a transmissão materno-fetal ( Meaney-Delman, Rasmussen; 2016) o
que leva pensar numa maior associação entre os dois fatores. Outros achados relevantes quanto ao
modo de transmissão também foram relatados, como transfusão de sangue e a transmissão sexual.
De fato transmissão pela via sexual carece de mais estudos, pois não se sabe ao certo o período de
tempo que o Zika vírus permanece ativo no sémen. Diante disso, estudos demonstram que outros
flavivírus, como o vírus da encefalite japonesa, o vírus do Nilo Ocidental e o vírus St. Louis já foram
detectados no sêmen de animais e humanos. (Foy et al. 2011) Se a transmissão sexual pôde ser
verificada nesses estudos, supõe-se que o mesmo se estenderia ao ZIKV
O ARN do Zika vírus foi identificada no leite materno, no entanto, a transmissão pelo leite materno
ainda não foi registrada ( Meaney-Delman, Rasmussen; 2016; LaBeaud, 2016). Existem fortes
indícios que o Zika Vírus é o causador da microcefalia, visto que o genoma do vírus já foi isolado
de fetos que não completaram a gestação de mãe que foram expostas ao vírus (LaBeaud, 2016 ).
Mesmo diante destes achados clínicos, muitos pesquisadores sem mantém cautelosos para afirmarem
uma associação direta desta relação de causalidade, entre Zika vírus e microcefalia. Analisou-se,

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entretanto, o potencial teratogênico da infecção do zika virus no pré-natal como causador da
microcefalia.Assim utilizou-se o critério de Shepard (Rasmussen e Jamestown et al 2016). De acordo
com estes critérios, a causalidade é estabelecida quando os critérios 1, 3 e 4 ou os critérios 1, 2 e 3
são cumpridos. No estudo em questão os critérios 1, 3 e 4 foram cumpridos com sucesso.
Sendo que, o primeiro critério indica que, uma exposição comprovada a um agente
deve ocorrer em um momento crítico durante o desenvolvimento do pré-natal. A evidencia se
comprova com base nos relatos de casos e estudos epidemiológicos, no qual o momento da infecção
pelo Zika vírus associada a microcefalia que levam a complicações severa e calcificações
intracranianas parece ser no final do primeiro ou início segundo trimestre. O terceiro critério aborda
uma delineação cuidadosa de casos clínicos; um defeito ou uma síndroma específica, se presente, é
muito útil. A evidencia está na justificativa que fetos e recém-nascidos com infecções congênitas,
pelo Zika vírus, presumem ter um padrão típico, incluindo microcefalia severa, calcificações
intracranianas, e outras anomalias cerebrais, por vezes acompanhada de alterações oculares, pele do
couro cabeludo redundante, artrogripose, e pé torto.Tais descobertas levaram os autores a usar o
termo
"Síndrome Zika congênita” conforme ressalta Miranda-Filho, Martelli; et al (2016). Faccini,
Feitosa; et al (2016), em seus relatados de microfelaia para o registro do Ministério da Saúde do
Brasil explica que o cachado do couro cabeludo excessivo e redundante é uma descoberta que não é
normalmente visto em outras formas de microcefalia. Estes achados sugerem uma interrupção do
crescimento cerebral, mas não no caso da pele do couro cabeludo. O quarto critério de Shepard
refere-se à associação entre uma exposição rara e um defeito raro; podemos concluir que este critério
também foi cumprido. A evidência para isto está nos relatos de fetos e recém-nascidos com
microcefalia de mulheres com breves períodos de viagens para países com transmissão ativa do
Zika vírus. O defeito, microcefalia congênita, é rara, com uma prevalência de nascimento de cerca
de 6 casos por 10.000 nascidos vivos, de acordo com dados do sistema de vigilância de malformações
congénitas nos Estados Unidos (Rasmussen e Jamieson et al 2016). Para ilustrar este critério foi
utilizado o trabalho de Pereira, Gabaglia; et al (2016), que relata, uma mulher grávida que viajou por
7 dias ao México, Guatemala e Belize durante sua 11ª semana de gestação e teve um teste positivo
para anticorpos Zika vírus da imunoglobulina M (IgM) quatro semanas mais tarde. Nesta mulher, o
Zika vírus seria considerado uma exposição rara, e seu feto tem um resultado raro. Já o segundo
critério fala sobre a ocorrência de dois estudos epidemiológicos de alta qualidade para apoiarem
essa associação, esse critério foi parcialmente aceito. Com base nos dados do Brasil, a associação

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temporal e geográfica entre a doença do vírus Zika e casos de microcefalia é forte. Já uma análise
retrospectiva após um surto de Zika vírus, 2013-2014, na Polinésia Francesa identificou oito casos
de microcefalia, a falta de controle de fatores e um número confuso e relativamente pequeno de
casos não atenderam aos critérios rigorosos estabelecidos pelo critérios Shepard, (Rasmussen e
Jamieson et al 2016). Os últimos três critérios são úteis, se estiverem presentes, mas não são
considerados essenciais, nesse sentido o quinto critério não foi cumprido , o sexto foi e o sétimo
não era aplicável.

CONCLUSÃO

A disseminação em escala global do flavivirus Zika, associadas as manifestações clínicas encontrada,


especialmente a microcefalia, suscita uma atenção especial por parte dos órgãos de pesquisa, dos
governantes e de toda a população. Assim, com base em uma revisão de evidências, utilizando ambos
os critérios que são, o potencial teratogênico e analises anatomopatologicas, sugere-se uma estreita
relação causal entre a infecção pelo Zika vírus no pré-natal e a microcefalia.Entretanto, mais estudos
precisam ser realizados para elucidar os índicios que os ditúrbios neurólogicos são, de fato causados
pelo arbovírus. Contudo,espera-se que os estudos concluídos e os em andamento fomentem
melhorias nas condutas em ambientes de cuidados clínicos em orientação da saúde pública, com
um foco intensificado nos esforços de prevenção, tais como a implementação de controle de vetores,
e a identificação de métodos de diagnóstico mais acurados.

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