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Página Textos da Reforma

Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus, Soli Deo Gloria
http://www.geocities.com/Athens/Bridge/3039
Responsável: Dawson Campos de Lima
E-mail: dawson@samnet.com.br

A ORAÇÃO E A SOBERANIA DE DEUS


Ricardo Barbosa de Souza

Jesus, explicando a importância da oração, afirmou o seguinte: “Não vos


assemelheis, pois, a eles [referindo-se aos gentios que presumiam que, pelo muito falar,
seriam ouvidos]; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade antes que
lho peçais” (Mateus 6.8). Essa afirmação de Jesus sempre me intrigou muito. Se Deus
sabe o que preciso, se conhece todas as minhas necessidades, por que então devo orar?
Qual a finalidade da oração se Deus, antes mesmo que eu lhe apresente qualquer pedido,
já sabe o que de fato necessito?
Acredito que, para entender melhor o que Jesus está dizendo, devemos mudar
primeiro nosso conceito e percepção da oração. Para muitos, a oração é um instrumento
que Deus coloca à nossa disposição para fazermos as coisas acontecerem. Estas coisas
podem ser desde grandes milagres até uma forcinha para passar na prova (o que, em
alguns casos, não deixa de ser milagre). A imagem que temos é a de que Deus fica
dando sopa por aí com seu poder, e a oração é o recurso de que dispomos para ativar
essa inesgotável fonte de bênçãos. Precisamos aprender a tirar o máximo de Deus e
usufruir daquilo que Ele pode nos dar. Para isso, oramos, insistimos, suplicamos,
jejuamos para fazer com que Deus saiba o que queremos e seja, de certa forma,
convencido a fazer o que julgamos correto.
Diante dessa imagem, ouvimos Jesus afirmar: “Eu conheço as necessidades de vocês
antes mesmo que supliquem por elas.” Se Ele sabe, por que então devo suplicar? Por
que Ele não resolve de vez me dar aquilo de que necessito sem que eu tenha que pedir?
Será que Deus e um desses pais sádicos que não soltam a grana enquanto não vêem
seus filhos humilhados e convencidos do seu grande poder?
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Relacionamento Pessoal
O que um pai mais gostaria de ouvir de seus filhos? Eu tenho dois. Para mim –
embora eu seja bastante limitado em minhas percepções -, não é muito difícil saber o
que eles necessitam. Principalmente, quando se trata de coisas materiais. Como pai, não
lhes nego tudo aquilo que é possível e que julgo necessário para o seu desenvolvimento
físico, mental, social, e espiritual. No entanto, o que eu mais gostaria de ver neles – e
estou certo de que é também o que eles mais procuram em mim, embora nem sempre
demonstremos isto – é uma relação pessoal de amizade, amor, respeito e aceitação. Se
nós, que somos pais, sabemos do que nossos filhos necessitam e temos o maior prazer
em atender, nosso Pai celeste com toda a certeza também sabe o que precisamos, o que
é melhor para nós, e tem muito mais prazer em responder aos anseios dos seus filhos.
Mas o que o Pai do céu busca são filhos que o procuram, não pelo que Ele pode e
tem para oferecer, mas por quem Ele é e pelo prazer de estarem com Ele em comunhão
e amizade. Deus sabe o que necessitamos. Se nós o conhecemos como um Pai que nos
ama e que se preocupa com cada detalhe da nossa vida, sabemos que podemos
descansar em seu amor e providência, e, conseqüentemente, aquilo que necessitamos
deixa de ocupar o primeiro lugar na agenda dos nossos encontros e conversas com
Deus. Como pai, o que mais gostaria de ouvir dos meus filhos não é a lista de itens que
precisam – muitos deles legítimos, outros nem tanto, e, quem sabe, a maioria
absolutamente supérflua – mas de estar com eles, poder amá-los e ser amado, gozar de
uma amizade intensa, íntima e pessoal.
Quando Jesus afirma que o nosso Pai sabe o que necessitamos, Ele muda
radicalmente todo o conceito utilitário que temos da oração. Ele demonstra, com tais
palavras, que nossas necessidades fazem parte da agenda e cuidado de Deus antes
mesmo que tenhamos consciência delas. Jesus aponta para um novo modelo de relação a
partir da oração. A pauta das nossas orações não somos mais nós e nossas necessidades,
mas Deus e nossa comunhão com Ele. Oramos, não para reivindicar nossas
necessidades, mas para demonstrar amor e afeto por nosso Pai.

Vãs Repetições
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Censurando a forma como os gentios e hipócritas oravam, Jesus disse: “Orando, não
useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que, pelo seu muito falar,
serão ouvidos.” O problema das repetições não está na nossa necessidade de suplicar e
até mesmo insistir por nossas necessidades diante de Deus, mas no conceito falso de que
é a nossa insistência que abre os ouvidos de Deus. Quando agimos assim, colocamos na
oração um poder que não lhe pertence. Achamos que é a repetição que torna a súplica
favorável diante de Deus, e não a mediação soberana de Jesus Cristo.
O povo insistiu para ter um rei e Deus lhes deu Saul. No entanto, esta insistência os
levou a trocar o governo justo de Deus por um governo humano limitado, frágil e
injusto. A insistência fez com que rompessem as relações pessoais que haviam sido
construídas pela aliança que Deus havia estabelecido por uma relação institucional e
impessoal com o imperador. Quando substituímos Deus, com seu imenso amor e
cuidado paterno, pela insistência vã e repetitiva, transformamos a oração num fim e
Deus apenas no meio para alcançarmos o que a nossa vaidade busca. Deus, e somente
Deus, é o motivo e a razão da nossa oração.
Talvez o que nós mais necessitemos seja redescobrir Deus como nosso Pai. Não na
perspectiva das lembranças e memórias que temos dos nossos pais, mas a partir da
relação que o próprio Filho Jesus teve com o Pai. É ele quem nos revela o Pai com seu
cuidado amoroso e terno. Jesus mesmo nunca precisou usar o recurso das vãs repetições
para conseguir qualquer vantagem, mas sempre se ofereceu em completa obediência e
temor ao Pai, na certeza de guia-los pelos caminhos que determinou.
Orar é entrar nesta relação única que Jesus, o Filho, nutriu com o Pai. Buscar a
vontade do Pai, oferecendo-nos em submissão e obediência para que Ele seja o princípio
e o fim de toda a nossa existência. Deus sabe o que necessitamos. Basta reconhece-lo
como Pai para termos certeza disso. A oração não existe para informar a Deus o que Ele
já sabe a respeito de nossas necessidades, mas para gozar da alegria de experimentar sua
vontade justa e soberana; e, no mais, as outras coisas nos serão acrescentadas.

Fonte: VINDE, a revista gospel do Brasil


Ano 1 – No. 12 – Outubro/1996
Seção Espiritualidade
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“Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília”. (na época em que o texto
foi publicado)
Não conseguimos entrar em contato com o autor, para solicitar autorização.

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