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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO


ARQUITETURA E URBANISMO

TÉCNICAS RETROSPECTIVAS
Prof. Roberto Araujo
Prof. Terezinha Silva

Mapeamento de danos e patologias

Hadassa Medeiros
Rodrigo Cândido
Rebeca Nicodemos
Gutembergue Nascimento

Recife, Setembro de 2017


Sumário

1. Apresentação

2. Relatório da visita

3. Histórico

4. Levantamento métrico e fotográfico

4.1. Fichas cadastrais por imóvel

4.2. Perfil da via - Desenho de fachadas

5. Considerações finais

Referências bibliográficas

Apêndices
1. Apresentação

Este trabalho apresenta e analisa os resultados do mapeamento de danos de edificações da


Rua Velha, a qual integra a Zona de Preservação Rigorosa do Sítio Histórico do Bairro da Boa Vista,
na cidade do Recife, Pernambuco. Esta etapa dá continuidade a uma primeira etapa, realizada por
ocasião da disciplina de Técnicas Retrospectivas, na qual foi feito levantamento métrico e fotográfico
das fachadas de 12 edificações, no lado par da via (recorte especificado na figura 1).
Após apresentação em sala de aula da metodologia a ser utilizada nos levantamentos, foram
realizadas visitas ao local, tanto supervisionada pelos professores, como também de forma individual,
a fim de realizar medições e fazer o registro fotográfico das edificações. Foram preenchidas, ainda,
fichas cadastrais dos bens avaliados a fim de caracterizar a situação atual de cada um deles e como
se encaixam no tecido urbano atualmente.
Nesta segunda fase, cada integrante ficou responsável por mapear danos e caracterizar
patologias presentes em uma das edificações levantadas. Para tanto, mais visitas foram feitas para
registro fotográfico de detalhes, além de detalhamento de desenho técnico das fachadas, consulta a
material disponibilizado na disciplina e análise e classificação de cada tipo de dano em fichas
individuais, que complementam os mapas de danos de cada edificação.
2. Relatório da Visita

Os lotes são, em grande maioria, estreitos e compridos, tendo frentes com larguras similares
(em torno de 5,00m) e construções sem recuos frontal e lateral, certa regularidade de alturas - sendo
que a edificação mais alta estudada apresenta 3 pavimentos, além do térreo, e constitui exceção no
perfil do recorte em analisado.
antenas proeminentes na fachada, cabeamento, fiação dos postes instalados ao longo da
calçada obstruindo as fachadas, manchas devido à umidade e crostas negras, rachaduras na
estrutura, descascamento no revestimento.
Quanto às calçadas do trecho estudado, apresentam largura suficiente para passagem
confortável de duas pessoas, lado a lado (em medição no local, aproximadamente 1,40m e 1,60m,
referentes às calçadas esquerda e direita, respectivamente, sentido nordeste-sudoeste).
Consideramos tais dimensões insuficientes devido a existência de mais comércios na rua,
atualmente - como mostrado no histórico - (aumentando a probabilidade de caminhantes) e devido ao
fluxo de veículos ser intenso ao longo do dia, incluindo - além de carros, bicicletas e motocicletas -
ônibus de linhas metropolitanas, ônibus turísticos e caminhões, o que gera sensação de
“esmagamento” e certa insegurança para o pedestre.
Um fato curioso observado foi que do lado da rua de numeração par, a predominância é de
fachadas características de arquitetura tradicional (colonial), enquanto no lado oposto - numeração
ímpar - predomina uma arquitetura vernacular modificada (adaptada, alterada). Isso pôde ser
percebido ao se percorrer a via e observar o casario, como durante o preenchimento posterior das
fichas aqui apresentadas, na etapa de caracterização dos tipos arquitetônicos.
Foi no dia 12 de setembro de 2017 que no horário compreendido entre as 13 e 18 horas
iniciamos nossa visita de campo, saindo do Mercado da Boa Vista em direção a Rua Velha. Em
grupo percorremos um trajeto em que predominam edifícios de bens de serviço, e a primeira
impressão é que além do prédio de 4 pavimentos n 352, de azul desbotado , localizado do lado
esquerdo da rua, ninguém mais deveria residir ali a muito tempo. Quase que uma “cidade fantasma”
os casarios antigos, em sua grande maioria, mostravam claramente sua passagem no tempo,
apresentados não como resistentes representantes do passado, mas sim como anciões de uma rua
que já teve seu momento de glória; mas seria esta a impressão de um passante despercebido?
Assim se iniciaram as medições, aportados de pranchetas trenas e máquina fotográfica,
iniciamos um trabalho de montagem minucioso de um espaço de passagem, para a maioria dos
recifenses; prestando atenção a dimensões e detalhes, qual foi nossa surpresa, quando do interior
das casas um cheiro antigo, nos cativou o olhar, foi assim olhando por uma fresta de porta aberta
que na residência 361, vimos os primeiros sinais de vida naquela rua aparentemente esquecida. E
aos poucos fomos notando, o ir e vir dos que por ali passavam; cada porta de casario antigo que se
abria para dar passagem a seus antigos moradores, era um vislumbre, quando do pequeno pedaço
aberto podiamos notar, um quintal ao fundo, plantas e móveis antigos, que faziam o cenário perfeito
de um lar.
Aos poucos fomos nos tornando íntimos de algo, que nunca havia nos prendido por completo
a atenção, e nos sentimos emergindo no passado e nas suas mudanças no tempo, as modificações
modernista misturadas com o resquício ecletico das edificações nos levantaram o olhar, para o
descaso com essa parte histórica da cidade.
O fluxo constante de carros perturba o vislumbre dos edifícios ainda preservados, e traz uma
característica de passagem que não deveria existir numa rua que se mostrou tão residêncial e
histórica; Apesar da grande porção de grades na maioria das edificações, o que mostra uma
insegurança local, tais edificações não perdem seu valor histórico; mais lamentável é notar tantas
pichações nas fachadas de tão belos edifícios.
Histórico da Boa Vista e da Rua Velha

A Boa Vista surge no período da ocupação holandesa, no século XVII. Com a chegada de
Mauricio de Nassau em 1637, elaboram-se planos de expansão para o Recife, a realização de
aterros e a construção de duas pontes que ligam o istmo à Ilha de Antônio Vaz e esta a parte
continental do território.

Figura 02 - Recife, 1749. Planta genográfica da Villa de Santo Antonio do Recife e


Pernambuco.
Fonte: MENEZES, 1988
No início do século XVIII, as primeiras construções surgem nas imediações do cruzamento
da Rua da Glória com a Rua Velha, desenvolvendo-se a partir daí nas décadas seguintes (em
GARCIA - CAVALCANTI, 1977, p. 234). Porém, apenas em uma planta de 1749 (Figura 02) é
possível ver assinalado o povoado da Boa Vista, a partir de onde desenvolvem-se dois núcleos
principais no entorno das igrejas de São Gonçalo e de Santa Cruz (MENEZES, 1999), acessíveis
respectivamente pela Rua da Glória, chamada anteriormente de Rua de São Gonçalo, e pela Rua
Velha, que por ter surgido depois da Rua de São Gonçalo era chamada na época de Nova, até que a
construção da Rua do Aterro, atual Rua da Imperatriz, deu o nome pelo qual a conhecemos hoje
(MENEZES, 1988, p.85).

Figuras 03 - Evolução urbana do bairro da Boa Vista, em destaque a Rua Velha


. Fonte: Garcia, Fernanda Ghirotto. 2012 p.70

O território da boa vista passa por sucessivos acréscimos e transformações ao longo dos
séculos (Figura 03). Enquanto Francisco Rego Barros, o Conde da Boa Vista, promoveu
melhoramentos no abastecimento de água da cidade já em 1837, Herculano Bandeira providencia
um projeto de água encanada e de saneamento básico. Os aterros realizado em 1939 criam, além da
Avenida Mário Melo, o Parque 13 de Maio, o maior jardim do bairro da Boa Vista.
Embora a Boa Vista tenha passado a abrigar residências de pessoas abastadas e grandes
equipamentos públicos, a exemplo do Hospital Pedro II, e Mercado da Boa Vista, a partir dos aterros
realizados no séc. XIX, nos arredores da Rua Velha também viviam negros libertos em casas térreas
(MENEZES, 2015, p. 83). A ocupação judaica no bairro por volta dos anos 1930 transforma a Rua do
Aragão, que tinha uso residencial, numa área de comércio de móveis (LUDERMIR. 2003, p. 9). Essa
conversão de uso predominantemente residencial para comercial é observada também na Rua de
Santa Cruz e em menor grau na Rua Velha, sendo essa região ocupada, ainda, por uma população
mais empobrecida (Figuras 04 e 05).

Figura 04 - Usos na Boa Vista em 1980


Fonte: MENEZES, 2015

Figura 05 - Usos na Boa Vista em 2015.


Fonte: MENEZES, 2015

Em 1978 o PPSH - Plano de Preservação de Sítios Históricos da Região Metropolitana do


Recife instituI a Zona de Preservação do Sítio Histórico do Bairro da Boa Vista, na categoria de
“Conjuntos Antigos”, sendo identificada identificada como a Zona Especial de Preservação do
Patrimônio Histórico-Cultural 8 (ZEPH-8). A Rua Velha se insere na Zona de Preservação Rigorosa 1
(ZPR-1). (Figura 06)
Figura 06 - Mapa do Sítio Histórico da Boa Vista.
Fonte: PPSH, 1978

Ao longo do séc. XX, a Rua Velha gradativamente tem seus imóveis transformados em
comércios (Figura 07), enquanto outros sofrem com o abandono. Algumas fachadas passaram por
alterações drásticas (Figura 08), assim como seus interiores.

Figuras 07 e 08 - Fotos da Rua Velha atualmente, setembro de 2017.


Autoria própria
Fig. 09 (esquerda) - Levantamento do Parcelamento da Rua Velha nº0656 sem data
fonte: DPPC, Acesso em 2017
Fig. 10 (direita) - Unibase em “.dwg” da ZEPH8 datada em 2007
Fonte: DPPC. Acesso em 2017
4. Levantamento métrico e fotográfico
4.1. Perfil da via - Desenho de fachadas

Fig. 14 - Fotomontagem de fachadas das edificações


Fig. 15 - Desenho técnico, levantamento de fachadas
Fonte: Autoria própria
5. Considerações finais

Acerca da produção do material (registro e desenho das fachadas), algumas observações


sobre os meios utilizados podem ser proveitosas: a fotomontagem das fachadas, produzida a partir
das visitas ao local, consistiu na junção digital - através de programas de edição gráfica - de
fotografias das várias fachadas estudadas, de modo a conseguir uma visão o mais ortogonal
possível. O objetivo foi facilitar a etapa seguinte, do desenho das fachadas - o qual, por sua vez,
constitui a base para a futura elaboração de mapas de danos de algumas das edificações. Sendo
assim, desde o início, buscou-se um desenho o mais fiel possível às medidas levantadas e à estética
atual das fachadas, incluindo ornamentos, variações nos revestimentos, etc.
Um fator que facilitou a montagem foi o modo de fotografar o casario, que, já visando a essa
posterior combinação das imagens, buscou pontos de vista favoráveis, mais “frontais” às fachadas.
Além de ter alcançado o objetivo principal, a fotomontagem produzida se revelou como potencial
exemplo para futuros trabalhos similares, além de constituir um panorama interessante e atualizado
do perfil da Rua Velha.
Com relação ao estudo, em si, apresentamos as conclusões mais significativas acerca da
área em questão.
Primeiramente, percebemos que a Rua Velha mantém integridade quanto a seu modo de
ocupação: apesar das claras modificações nas casas, enquanto construções individuais, o aspecto
visual da via ainda remete a seu tipo de ocupação original.
Embora o modo tradicional de construção e ornamentação ainda seja perceptível, ambos os
“lados” da Rua Velha se encontram descaracterizados e denunciam uma manutenção inexistente ou
insuficiente, como mostrado nos registros fotográficos. A sensação é de um local de importância
cultural e histórica, com múltiplos potenciais (estudos, visitas turísticas, uso pela população local),
mas que se encontra abandonado, servindo mais como local de passagem que de permanência.
Essa descaracterização da arquitetura do casario, bem notada pelo grupo, inclui várias
fachadas pichadas, portas metálicas de lojas ao lado das antigas esquadrias de madeira, elementos
infraestruturais aparentes e pavimentos adicionados sem preocupação de harmonização com o
aspecto original das casas. A tendência revelada, aqui, é a de valorização da funcionalidade sobre a
estética ou significado histórico do casario: as necessidades - econômicas e de adequação a novas
tecnologias de comunicação, por exemplo - acabam por falar mais alto. De fato, uma forte impressão,
na Rua Velha, é a de descompasso entre as tecnologias da vida urbana contemporânea e a forma
construída, que parece “não ter tido tempo” de acompanhá-las.
Por fim, após tais considerações, torna-se clara a importância de restauros e
compatibilização da via ao contexto atual, de modo que responda às necessidades da população
sem que haja perda de sua autenticidade enquanto bem patrimonial.
Referências Bibliográficas

BERNARDINO, I. L. ​Para morar no centro histórico: Condições de habitabilidade no


Sítio Histórico da boa Vista no Recife​. 2011.197 p. Dissertação (Mestrado em Arquitetura
e Urbanismo) - CAC, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2011.

Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural (DPPC), Iconografia, levantamentos e


documentos históricos. Último acesso em: Set 2017.

GARCIA, F. G ​O lugar como categoria de análise: a definição de zonas de interesse no


Bairro da Boa Vista​, Recife/PE. 2012. 188 p. Dissertação (Mestrado) – Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Mestrado Profissional em Preservação do
Patrimônio Cultural, Rio de Janeiro, 2012.

MENEZES, José Luiz Mota (Org.). ​Atlas histórico cartográfico do Recife​. Recife:
Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, PCR, URB, DPSH, 1988.

MENEZES, Larissa Rodrigues de. ​Habitar no centro histórico: a habitação de interesse


social como instrumento de reabilitação do Centro Histórico do Recife / Larissa
Rodrigues de Menezes. – Recife: O Autor, 2015.
Apêndice

APÊNDICE A – EVOLUÇÃO DAS CONDIÇÕES FÍSICAS DOS IMÓVEIS


ESTUDADOS NA RUA VELHA

RUA VELHA - LADO DA VIA DOS IMÓVEIS COM NUMERAÇÃO PAR

Nº Uso Uso em Fotos décadas 1970 Fotos 2017 Estado Estado


Década 2017 e 1980 de de
de 80 Preserva Conser
ção vação

332 Terreno Estacionam Modificado Precário


vago ento
/
328

334 Comercial Serviço + Modificado Precário


+ Residencial
Residencial

338 Residencial Serviço Modificado Regular


344 Residencial Residencial Modificado Regular

348 Residencial Fechado Modificado Bom

352 Comercial+ Residencial Modificado Precário


Residencial + Serviço

362 Comercial Fechado Modificado Bom


364 Residencial Fechado Modificado Precário

368 Residencial Ruínas Modificado Precário

372 Comercial Serviços Preservado Bom

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