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Faculdade Paulus de Comunicação e Tecnologia

Comunicações no Brasil: novos e velhos atores


Fichamento

Mariani Carvalho de Campos


RA 171258
Jornalismo matutino 1º semestre

São Paulo, 30 de maio de 2017


1. Introdução

Havia 50 grandes empresas controladoras da mídia mundial em 1984. Até 1993, esse
número caiu para 20, por conta das fusões entre as mesmas. Hoje, a mídia mundial é
controlada por dez enormes conglomerados em primeiro nível, e outras 40 em segundo,
direta ou indiretamente associadas aos conglomerados. Essas fusões caracterizam uma
concentração de poder sem precedentes por conta da onda liberalizante internacional de
privatizações e desregulamentações, acelerada pela aprovação do Telecommunications Act
americano em 96, que provocou uma avalanche de aquisições e fusões envolvendo Estados
nacionais, bancos, empreiteiras e empresas transnacionais, tanto privadas quanto mistas e
estatais.

Os executivos explicam que esse processo de oligopolização é inevitável e mais


eficiente do que ter várias empresas isoladas, sendo necessária a integração horizontal,
vertical e cruzada das indústrias da comunicação, o que resulta em duas consequências: a
primeira sendo a fusão das políticas públicas, antes dividida entre as áreas da
telecomunicação, mídia de massa e informática, transformada em uma única política de
comunicação, e a segunda a presença de novos conglomerados empresariais e organismos
internacionais, por exemplo a OMC (Organização Mundial do Comércio) e a UIT (União
Internacional de Telecomunicações) como poderosos atores na formulação das políticas de
comunicação.

Essa nova forma de monopólio da mídia traz consequências ao Brasil: a primeira é


manter a dominação desse e outros setores por poucos grupos familiares e pelas elites
políticas, a segunda é que estamos assistindo à entrada de um novo e muito poderoso grupo
no setor, no caso as igrejas, principalmente a evangélica, e a terceira é que fortalece e
consolida o império hegemônico das Organizações Globo.

2. O padrão universal: concentração da propriedade

O padrão de concentração de propriedade encontra no Brasil um ambiente


historicamente favorável, já que nossa mídia de massa se estabeleceu por forma dos
oligopólios. O rádio e a TV seguem regidos pelo mesmo código desde a década de 60,
constituindo um sistema organizado em torno de poucas redes sem nenhuma
regulamentação legal. A propriedade e controle da telecomunicação em nosso país está
passando do controle do estado para o oligopólio de empresas privadas, e até mesmo a
indústria da informática, depois de frustradas tentativas para que permanecesse reservada
ao mercado nacional, está consolidando-se ao mercado por meio da presença dos global
players.

A Constituição brasileira garante desde 1988 que “os meios de comunicação social não
podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio” (Parágrafo 5º, Artigo
220). Mas normas legais recentes como a Lei da TV a cabo, a Lei Mínima e a Lei Geral de
Telecomunicações não incluíram dispositivos diretos para limitar ou controlar a concentração
de propriedade.

Alguns fatores contribuem para a concentração das propriedades de comunicação no


Brasil, como o não cumprimento da norma legal (Decreto 236/67) que limita a participação
societária do mesmo grupo em empresas de radiodifusão a cinco concessões em rede
nacional e três em rede regional (a Rede Globo tem participação societária em 32 emissoras
de TV, por exemplo), o período de carência legal para a venda dessas concessões é de
apenas cinco anos, e mesmo assim ocorrem vendas antecipadas por meio dos “contratos
de gaveta”, onde uma pessoa assume a dívida do financiamento e do bem no lugar de outra,
e ainda, a falta de normas ou restrições legais para a afiliação de emissoras de radiodifusão
para a formação de redes nacionais ou regionais.

A concentração de propriedade no Brasil ocorre de quatro maneiras: concentração


horizontal, concentração vertical, propriedade cruzada e monopólio em cruz. A concentração
horizontal é caracterizada pelo monopólio dentro de uma mesma área ou setor, sendo o
melhor exemplo em nosso país a televisão, tanto aberta quanto paga. A concentração
vertical é a integração das diferentes etapas de uma cadeia de produção e distribuição, como
um grupo controlar desde a produção de programas de televisão até a sua veiculação,
comercialização e distribuição. A propriedade cruzada caracteriza-se por um mesmo grupo
ter propriedade de diferentes tipos de mídia, como TV aberta, TV por assinatura, rádios,
revistas, jornais etc. E o monopólio em cruz é a reprodução dos oligopólios da propriedade
cruzada em níveis nacionais e regionais.

3. O padrão histórico brasileiro: famílias e elites políticas

Além da concentração de propriedade, outras duas características identificam o setor


de comunicação no Brasil: a presença dominante de grupos familiares e a vinculação com
as elites políticas nacionais ou regionais.

Há mais de 50 anos a Constituição restringe as propriedades jornalísticas e de


radiodifusão a pessoas jurídicas, sociedades anônimas por parte de ações e estrangeiros,
sendo o objetivo dos legisladores ter a identificação plena dos proprietários e impedir o
controle do setor pelo capital internacional. Entretanto, uma das consequências dessa norma
é o controle histórico do setor por pessoas físicas, no caso, grupos familiares. Desde março
de 1997 tramita na Câmara dos Deputados uma Proposta de Emenda Constitucional que
altera a norma em vigor, passando a permitir a participação de pessoas jurídicas em
empresas de comunicação e do capital estrangeiro em até 30%. A Emenda passou por todas
as aprovações necessárias e está desde então na Ordem do Dia para a votação no plenário,
mas isso nunca aconteceu.

As informações disponíveis sobre indicam que o SBT, a Bandeirantes, a Record e a


CNT eram a favor da abertura da área de comunicação ao capital estrangeiro, embora
houvessem divergências nos porquês. A Rede Globo, embora favorável externamente,
colocou restrições por acreditar que o capital nacional seria inevitavelmente absorvido pelo
capital estrangeiro. Ocorreram reuniões entre o relator e a cúpula da Rede Globo para
discutir o assunto, e até mesmo um encontro entre o presidente e os donos da rede, mas
não há perspectivas para que a votação continue, o que impede a mudança estrutural desse
setor.

Há certa dificuldade em identificar os reais grupos concessionários do país. Um decreto


do ex-presidente José Sarney autorizou o Diário Oficial da União a publicar somente a razão
social dos beneficiados com as concessões de rádio e televisão, impedindo o conhecimento
das pessoas físicas contempladas. A lei diz que uma pessoa física não pode ter participação
em mais de dez emissoras de TV em todo país, mas a realidade é bem diferente.

São oito os principais grupos familiares que dominam o setor da comunicação no Brasil:
em alcance nacional a família Marinho (Globo), a família Abravanel (SBT) e a família Saad
(Bandeirantes); em alcance regional a família Sirotsky (RBS), a família Daou (TV
Amazonas), a família Jereissati (TV Verdes Mares), a família Zahran (Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul), e a família Câmara (TV Anhanguera). Somente as famílias Abravanel e Saad
não são sócias das Organizações Globo. Fora essas oito famílias, outros seis grupos
familiares também controlam a comunicação no Brasil no meio impresso: Civita (Abril),
Mesquita (O Estado de São Paulo), Frias (grupo Folha), Nascimento Brito (Jornal do Brasil),
Martinez (CNT) e Levy (Gazeta Mercantil).

Fora o domínio familiar, há o domínio das elites políticas em parte da mídia brasileira.
Expressões como “coronelismo eletrônico” e “cartórios eletrônicos” são frequentemente
usadas para descrever a tentativa de políticos de exercer controle sobre seu eleitorado por
meio da mídia, criando vínculos com os magnatas da comunicação.
Um levantamento divulgado em 1995 indicava que 31,12% das emissoras de rádio e
TV no Brasil eram controladas por políticos e, em alguns estados, metade ou quase metade
das emissoras estava sob o controle por políticos. Esse envolvimento pode ser identificado
verificando quantos daqueles que possuem vínculo direto com a mídia concorrem como
candidatos a diferentes cargos políticos. A revista Carta Capital fez uma verificação do tipo
durante as eleições gerais de 1998 e constatou que os candidatos que estavam a frente nas
pesquisas eleitorais de intenção de voto eram políticos vinculados em pelo menos 13
estados à área da mídia.

4. Uma nova tendência: as igrejas na mídia

Desenvolveu-se no Brasil um processo único e de implicações significativas na área


da comunicação: o enorme crescimento da participação das igrejas sobretudo na mídia
eletrônica, no caso rádio e televisão, tendo como marco dessa tendência a compra da TV
Record do Grupo Silvio Santos pela Igreja Universal do Reino de Deus em 1990, e a entrada
da Rede Vida de Televisão, ligada à Igreja Católica, em 1995.

Fora a presença na mídia eletrônica diretamente por meio de concessões,


participações societárias e afiliações, há a participação indireta por meio da compra de
espaços para programas religiosos, além da presente participação na mídia impressa com
a publicação de centenas de jornais e revistas de periodicidade variável.

5. A consolidação do grupo hegemônico

Além de sobreviver no Brasil a velha estrutura da propriedade familiar, vínculos com


elites políticas e a emergência das igrejas no espaço midiático, há o fortalecimento e a
consolidação da presença hegemônica de um grupo nacional na área de comunicação do
país: as Organizações Globo, que antes mesmo da globalização já era hegemônico e
operava em praticamente em todas as áreas da mídia, como a TV aberta (inclusive na
produção de programas), rádio, jornais, revistas, discos e livros, ainda firmou alianças
internacionais para a exploração dos serviços de telefonia celular, TV paga via cabo e via
satélite, satélites e paging e para a produção do Futura: Canal do Conhecimento, um canal
educativo financiado apenas por grupos privados.

Em 1998 Roberto Irineu Marinho, vice-presidente das Organizações Globo, deu uma
declaração a respeito da reorientação empresarial do grupo de acordo com os novos
tempos, onde diz que as Organizações Globo estariam deixando para trás tudo que não
fosse mídia, entretenimento e comunicação.
6. Novas e velhas questões

A tendência a médio-prazo do novo milênio é a volta do monopólio no setor de


comunicação, só que agora em mãos privadas. O que nos leva a seguinte pergunta: quais
são as implicações que a propriedade e o controle por oligopólios e a hegemonia de um
único grupo empresarial acarretam para o Brasil?

Não há dúvida sobre a crescente relação entre informação e conhecimento, e o papel


que o ultimo desempenha como fator de poder na sociedade, tanto que o controle da
informação é uma questão de estratégia tanto para empresas quanto para governos. É
também conhecido o poder a longo prazo da mídia na construção da realidade por meio da
representação que faz dos aspectos da vida humana. As sociedades são mais dependentes
da mídia do que das famílias, escolas, igrejas e sindicatos para a construção do
conhecimento público. É por esse motivo que não se pode reduzir a importância das
comunicações apenas à transmissão de informação, mas sim como construtoras de
significação. O controle da mídia e a concentração de propriedade são questões que vão
muito além do apelo econômico.

Respondendo à pergunta, estamos há muito tempo assistindo à concentração de


propriedade e do domínio da mídia por grupos familiares, ao fortalecimento de alianças
entres essas e as elites políticas, além da ascensão da igreja no setor da comunicação. As
implicações acarretadas por conta desses fatores constituem em uma ameaça concreta não
só para a liberdade de expressão no Brasil, mas para sua própria democracia.

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