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1. Gostaria de iniciar essa breve exposição com uma pergunta ao Sr.

Professor, para que


reflita: existe um DIREITO a morrer? Por óbvio, enquanto jurista e padre o Senhor pode
refletir sobre a questão sob diversas perspectivas. É justamente com esse cenário
complexo que o Direito se depara, atualmente. Assim, o crescimento da eutanásia
acarretou o questionamento acerca da existência de um direito à morte;

2. O Direito acolheu a morte enquanto fato jurídica, isto é, fato decorrente da natureza ao
qual se reconhece efeitos jurídicos. Para tanto, basta recordar o Direito Sucessório.
Todavia, é recente, para o direito, a perspectiva da morte enquanto ato humano – afora,
obviamente, o direito penal;

3. Como dito, a discussão relativa a um direito a morrer remete à eutanásia. Dessa forma, é
necessário traçar os delineamentos conceituais bem como distingui-la frente a ortotanasia
e distanásia. O saudoso poeta Mário Quintana, certa vez, aduziu que “há uns que
morrem antes; outros depois. O que há de mais raro, em tal assunto, é o defunto
certo na hora exata.” É possível traçar um paralelo para explicar os conceitos de
distanásia, ortotanásia e eutanásia. Assim:

4. ORTOTANÁSIA: ortotanásia compreende-se o a auxilio à morte natural, isto é, ao


processo natural da morte, de forma que o papel do profissional de medicina limita-se a
intervir a fim de proporcionar uma boa morte, isenta de sofrimentos, sem utilizar-se de
quaisquer métodos com fito de encurtar ou alongar a vida. É aquele que morre na hora
certa, como diria Quintana.

5. DISTANÁSIA: a distanásia consiste no prolongamento artificial da vida humana, seja


por meio de drogas ministradas ou de aparelhos. É que morre depois.

6. EUTANÁSIA: Por sua vez, em seu conceito recente, é o agir sobre a morte, de forma a
antecipá-la. É o que morre antes.

7. Assim, questiona-se: a eutanásia é ética?

José Renato Nalini1 aduz a existência de quatro perspectivas, sob o aspecto ético:

a) A doutrina da sagração da vida em sentido estrito: diante da qual não se admite quaisquer
das modalidades de eutanásia;
b) A doutrina da sagração da vida em sentido moderado: pela qual repudia-se a eutanásia
ativa-direta e o auxílio ao suicídio;

1
NALINI, José Renato. Ética geral e profissional, 7 ed. rev. atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2009. p. 211.
c) A posição liberal moderada: que reputa admissível não apenas a eutanásia ativa-direta,
como a ortotanásia e o suicídio do paciente;
d) A posição fortemente liberal: que admite todas as formas de eutanásia.

8. O ordenamento jurídico brasileiro reputa legal a distanásia e a ortotanásia. Essa última, é


objeto da resolução nº 1.805, do Conselho Federal de Medicina, que foi julgada válida
em 2010, em ação civil pública.

9. Todavia, em relação à eutanásia, o tratamento dispensado é oposto: a eutanásia configura


crime. E há previsão de manutenção do entendimento, pois o projeto do novo Código
Penal (PL n 236/2012) traz, de modo expresso, a eutanásia enquanto tipo penal em seu
artigo 122.

10. Por sua vez, quanto a existência de um direito à morte, os juristas se filiam a posições
antagônicas.

11. Para os que admitem e pugnam pela existência do referido direito, o fazem apoiados no
direito à liberdade. A existência de um direito a morrer significa reconhecer a liberdade
(autonomia) do indivíduo de recorrer à eutanásia.

12. Outros, contrários à ideia, dentre os quais, Nalini, pugnam que o direito a vida é direito
fundamental em nosso ordenamento, e absoluto.

Contudo, é necessário compreender que o direito a vida é um direito, não um dever. Ademais, se
é garantido ao homem, enquanto ser dotado de dignidade, a livre condução de sua vida, como
admitir a exclusão de um dos aspectos mais caros à vida: a própria morte? Aliás, Mayra
Figueiredo Frison2 promove interessantes questionamentos, que traduzem a contraposição entre
a dignidade humana e a eutanásia:

Algumas questões deveriam ser respondidas: quem poderá dizer o


quanto de sofrimento deve suportar uma pessoa até que sua morte,
antecipada, possa ser julgada aceitável? Seria, por acaso, um ato heróico
e admirável morrer de "modo natural" ao término de um longo combate
travado pela medicina de ponta com tecnologia complexa e invasiva?

13. É certo que não há uma única resposta e tampouco uma resposta fácil. Mas é necessário
que o Direito cuide da questão, urgentemente, a fim de evitar violações que os que
pretendem a manutenção da proibição visam, justamente evitar. Há que se refletir se a
eutanásia não seria um instrumento de resguardo da dignidade do homem.

2
FRISON, Mayra Figueiredo. Há um direito de morrer? Impacto da biotecnologia no direito de família.
Âmbito jurídico. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link
=revista_artigos _leitura&artigo_ id=8107>. Acesso em: 16 out 2015.

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