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PREFEITURA MUNICIPAL DO SALVADOR

Secretaria Municipal de Educação e Cultura – SMEC


Coordenadoria de Ensino e Apoio Pedagógico – CENAP

A TEORIA NA PRÁTICA: USO DE TEXTOS NA ALFABETIZAÇÃOi

Angela Freireii

O texto é o lugar de interação de sujeitos sociais. É um construto histórico e social, complexo e


multifacetado. Instrumento de manifestação da linguagem que não pode prescindir de uma
dimensão social. É uma unidade de sentido.

Considerar o texto, como unidade de ensino, tem sido a base do processo ensino-aprendizagem,
desde a década de 1980. Ele foi eleito ponto de partida e de chegada deste processo, propiciando
atividades de leitura, de produção e de análise lingüística. De acordo com esta concepção, letras,
fonemas, sílabas, palavras e frases soltas são descartáveis no ensino da língua em detrimento do
texto como unidade básica de ensino e os gêneros textuais como objeto de ensino.

Partindo deste pressuposto, não se pode conceber o processo de alfabetização sem desvinculá-lo da
noção de texto, concebido como lugar de enunciação e produto de interação verbal. O texto deve
constituir-se em objeto de conhecimento para o ensino e aprendizagem da língua. É nele que esta se
configura em sua "concretude".

Nesta perspectiva, é preciso “alfabetizar letrando”, garantindo desde o início do processo de


alfabetização a participação dos/as alfabetizandos/as em práticas de leitura e produção de textos
reais e significativos. É preciso que eles/as conheçam variações de tipos de textos para que
aprendam a identificar as suas formas e funções. Para tanto, deve-se dar oportunidade a estes
sujeitos a interação com uma grande variedade de escritos sociais, de textos impressos e orais.

O texto trabalhado na alfabetização desperta a curiosidade, desvela o desconhecido, provoca


inquietações, levanta questionamentos, estimula o prazer pela leitura e o interesse em aprender
para conhecer.

TRABALHANDO COM TEXTOS NA ALFABETIZAÇAO

Inicialmente, é fundamental trabalhar com textos conhecidos de memória pelos/as


alfabetizandos/as, pois, assim como nós, eles/as podem fazer antecipações e inferências, desde o
inicio da aprendizagem de leitura.iii São eles: quadrinhas, parlendas, trava-línguas, adivinhas,
cantigas de roda, poesias. O trabalho pedagógico com tais textos favorece o estabelecimento de
correspondência entre o falado e o escrito.
As adivinhas, as cantigas de roda, as parlendas, as quadrinhas e os trava-línguas são antigas
manifestações da cultura popular, universalmente conhecidas e mantidas vivas através da
tradição oral. São textos que pertencem a uma longa tradição de uso da linguagem para cantar,
recitar e brincar. A maioria deles é de domínio público, ou seja, não se sabe quem os inventou:
foram simplesmente passados de boca a boca, das pessoas mais velhas para as pessoas mais
novas (Projeto Nordeste - Escola ativa).
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Dar visibilidade a esses textos na sala de aula favorece a valorização e a apreciação da cultura
popular, assim como o estabelecimento de um vínculo prazeroso com a leitura e a escrita. Os textos,
pertencentes à tradição oral e dos quais os/as alfabetizandos/as conhecem de memória, possibilitam
o avanço nas hipóteses a respeito da língua escrita. O primeiro passo para envolvê-los/as ativamente
na leitura, mesmo que eles/as ainda não a dominem, é escolher um texto adequado aos interesses do
grupo. Veja algumas sugestões de exploração dos textos:

Exemplos de atividades pedagógicas

• Escrever o texto em uma folha grande de papel em letra de fôrma maiúscula (caixa alta).
• Explorar o título e levantar hipóteses do tema geral.
• Ler o texto completo em voz alta.

• Estimular os/as alfabetizandos/as a contar o que compreenderam.

• Identificar o gênero, suas características e funções, bem como o portador textual, título, o

autor, personagens, a intenção do texto, dentre outros aspectos.


• Ler o texto, apontando palavra por palavra, para que eles/as acompanhem.
• Chamar a tensão para a direção do texto, os limites gráficos das frases e os espaços entre as

palavras.
• Propor a leitura: silenciosa e compartilhada, individual ou coletiva.

• Ler e reler textos que as crianças conhecem de memória.

É importante salientar que nas atividades de leitura, os/as alfabetizandos/as precisam analisar todos
os indicadores disponíveis para descobrir o significado do escrito e poder realizar a leitura de duas
formasiv:
1) Pelo ajuste da leitura do texto, que conhece de cor, aos segmentos escritos. Os textos mais
adequados a esta situação são:

Quadrinhas, parlendas, trava-línguas, adivinhas, cantigas de roda, poemas.

2) Pela combinação de estratégias de antecipação (a partir de informações obtidas no contexto, por


meio de pistas) com índices providos pelo próprio texto, em especial os relacionados à
correspondência fonográfica. Os textos mais adequados a esta situação são:

Embalagens comerciais, anúncios e folhetos de propaganda. Tais textos fazem suposições de


sentido a partir do conteúdo, da imagem, ou foto, do conhecimento da marca ou do logotipo, isto
é, de qualquer elemento do texto ou do seu entorno que permita aos alfabetizandos/as imaginar o
que poderia estar ai escrito.

O planejamento de situações de leitura para crianças que estão se alfabetizando deve considerar as
seguintes questõesv:
1. É possível ler, quando ainda não se sabe ler convencionalmente.
2. Ler (diferentes textos, em distintas circunstâncias de comunicação) é um bom problema a ser
resolvido.
3. Quando o/a alfabetizando/a ainda não sabe decodificar completamente o texto impresso e precisa
descobrir o que está escrito, sua tendência é buscar adivinhar o que não consegue decifrar,
recorrendo ao contexto nos quais os escritos estão inseridos, bem como às letras iniciais, finais ou
intermediárias das palavras.
4. Os/as alfabetizandos/as devem ser tratados como leitores plenos: é preciso evitar colocá-los em
posição de decifradores, ou de “sonorizadores” de textos.

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5. É fundamental planejar, desde o início do processo de aprendizagem da leitura, atividades que
tenham a maior similaridade possível com as práticas sociais de leitura.
6. Deve-se dar oportunidade às crianças de interagir com uma grande variedade de textos impressos,
de escritos sociais.
7. Apresentar os textos no contexto em que eles/as efetivamente aparecem favorece a coordenação
necessária, em todo ato de leitura, entre a escrita e o contexto.
8. É preciso propor atividades ao mesmo tempo possíveis e difíceis, que permitam refletir sobre a
escrita convencional: atividades em que os alunos ponham em jogo o que sabem, para aprender o
que ainda não sabem.
9. É importante não trabalhar com as palavras isoladamente, mas como meio para que a criança,
com sua atenção focalizada em uma unidade pequena do texto, possa refletir sobre as características
da escrita.
10. Deve-se favorecer a cooperação entre os/as alfabetizandos/as, de tal modo que eles/as possam
socializar as informações que já têm, confrontar e pôr à prova suas diferentes estratégias de leitura.
No que se refere à escrita de textos, é fundamental que eles/as tenham muitas oportunidades de
fazê-la, mesmo antes de saber grafar corretamente as palavras: quanto mais fizer isso mais
aprenderá sobre o funcionamento da escrita.

A oportunidade de escrever quando ainda não sabe permite que as crianças confrontem hipóteses
sobre a escrita e pensem em como ela se organiza, o que representa, para que serve.

É preciso considerá-las escritoras plenas, capazes de produzir textos diversos dirigidos a


destinatários reais e orientados para cumprir propósitos característicos da escrita – informar,
registrar, persuadir, documentar –, evitando colocá-los na posição de meros copistas de textos
irrelevantes, em situações em que a cópia não responde a nenhum propósito identificável.vi
Agora, veja alguns aspectos significativos das concepções de alfabetização baseadas nas
perspectivas tradicional e construtivista:vii

TRADICIONAL: com silabário. CONSTRUTIVISTA: com textos.


- Valoriza o produto final do ato de ler e - Entende alfabetização como compreensão do
escrever. modo de construir conhecimento.
- A concepção de ensino e aprendizagem - A concepção de ensino e aprendizagem
pressupõe que a alfabetização é um processo pressupõe que a alfabetização é um processo de
cumulativo: agregam-se conhecimentos, construção conceitual, apoiado na reflexão sobre
passando pouco a pouco do simples (letras e as características e funcionamento da escrita:
sílabas) ao complexo (palavras e texto). pouco a pouco o/a educando/a compreende as
regularidades que caracterizam a escrita.
- Exercícios repetitivos de coordenação - Entende alfabetização como compreensão dos
motora, discriminação visual e auditiva, meios que a criança utiliza para representar a
localização espaço-temporal, etc. construção do seu conhecimento sobre a língua
escrita.
- O modelo de ensino apóia-se na capacidade - O modelo de ensino apóia-se na capacidade do
do sujeito de associar estímulos e respostas, sujeito refletir, inferir, estabelecer relações,
repetindo, memorizando e fixando na processar e compreender informações
memória; a escrita é algo a ser decifrado. transformando-as em conhecimento próprio.
A criança compreende a função social da
escrita.
- Parte-se da crença de que seja fácil para o/a - Parte-se do que os/as educando/as pensam e
educando/a aprender primeiro, havendo falsa sabem sobre a escrita, e isto possibilita que a

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suposição sobre o que é fácil e difícil de aprendizagem seja significativa.
aprender.
- A criança é copista, não conseguindo - Ela elabora o texto de acordo com sua visão de
construir um texto elaborado, e sim com frases mundo, de forma criativa, expondo suas idéias.
soltas, repetitivas.
- Tudo vem pronto para ser copiado. São - Os textos são desenvolvidos pelas crianças,
utilizados textos artificiais para ensinar a ler e
conforme sua linha de raciocínio. São textos
a escrever. reais, considerados como o local onde se
aprende a ler e escrever, bem como se reflete
sobre as regularidades da escrita.
-A informação deve ser oferecida da forma - O/a aprendiz é um sujeito, protagonista do seu
mais simples possível, uma de cada vez, para próprio processo de aprendizagem.
não confundir aquele que aprende.

Veja também alguns exemplos de situações didáticas que envolvem leitura e escrita de textos:viii

SITUAÇÕES DE LEITURA COM SITUAÇÕES DE ESCRITA DE TEXTOS


TEXTOS CONHECIDOS CONHECIDOS
Leitura pelo professor – É importante que o/a Escrita individual – Escrever segundo suas
professor/a faça a leitura de vários textos do próprias hipóteses é fundamental para refletir
mesmo gênero (adivinhas, cantigas de roda, sobre a forma de escrever as palavras. Por isso
parlendas, quadrinhas ou trava-línguas), de é importante criar momentos na rotina de sala
modo que as crianças possam se apropriar de de aula em que as crianças possam escrever
um amplo repertório do texto em questão. Essa sozinhas. Por exemplo: pedir que elas
atividade de leitura pode ser diária (na hora da escrevam uma parlenda que conhecem de
chegada, na volta do recreio…), ou semanal. O memória, ou que escrevam a cantiga de roda
importante é que elas tenham um contato preferida. Vale ressaltar que, quando
freqüente com os textos, para que possam propomos a escrita de textos que os/as
conhecê-los melhor. alfabetizandos/as conhecem de memória, em
Leitura compartilhada (professor e alunos) que não há um destinatário específico, é
– Em alguns momentos da rotina de sala de fundamental aceitar as hipóteses e não
aula, o/a professor/a pode ler junto com as interferir diretamente nas produções: não se
crianças alguns textos (adivinhas, cantigas de deve corrigir, escrever embaixo ou coisa do
roda, parlendas, quadrinhas ou trava-línguas) tipo. Entretanto, deve-se fazer a revisão do
que elas conheçam bastante, para que possam texto coletivo na lousa, para que eles/as
inferir e antecipar significados durante a confrontem sua hipóteses de escritas com a
leitura. Os textos que serão lidos podem estar escrita convencional. (grifo nosso).
afixados na sala em forma de cartaz, escritos Tirando dúvidas
na lousa ou impressos em sés livros. Nessas atividades de escrita, a criança que
Leitura coletiva – Ler, cantar, recitar e brincar ainda não sabe escrever convencionalmente
com textos conhecidos. É fundamental que as precisa se esforçar para construir
crianças possam vivenciar na escola situações procedimentos de análise e encontrar formas
em que a leitura esteja vinculada diretamente de representar graficamente aquilo que se
ao desfrute pessoal, à descontração e ao prazer. propõe a escrever. É por isso que esta é uma
Leitura dirigida – Propor atividades de leitura boa atividade de alfabetização: havendo
em que os/as alfabetizando/as tenham de informação disponível e espaço para reflexão
localizar palavras em um texto conhecido. Por sobre o sistema de escrita, os/as
exemplo: o/a professor/a lê o texto inteiro e alfabetizandos/as constroem os procedimentos
depois pede às crianças que localizem uma de análise necessários para que a alfabetização
palavra determinada (ex.: “piano”, na parlenda se realize, mediante a mediação do/a
“Lá em cima do piano”). A intenção é que professor/a (grifo nosso).
possam utilizar seus conhecimentos sobre a Escrita coletiva – O/a professor/a escreve na
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escrita para localizar e ler as palavras lousa, ou em um cartaz, o texto que as crianças
selecionadas. ditam para ele/a. Nesse caso é absolutamente
Leitura individual – Quando elas conhecem necessário que todos/as os/as alfabetizandos/as
bastante os textos, já podem começar a lê-los conheçam bem a cantiga de roda, a parlenda
individualmente. E nesse caso é importante que ou a quadrinha que será ditada. Durante o
tenham objetivos com a atividade de leitura. processo de escrita, é fundamental que o/a
Por exemplo: ler para escolher a parte de que professor/a discuta com eles/as a forma de
mais gosta, ler para depois recitar em voz alta escrever as palavras, pois isto favorece a
para todos etc. aprendizagem de novos conhecimentos sobre a
Pesquisa de outros textos – Os/as língua escrita. Quando for possível, liste
alfabetizando/as podem pesquisar outros textos coletivamente os títulos dos textos de que as
do mesmo gênero em livros, na família e na crianças mais gostam.
comunidade. Podem, por exemplo, entrevistar Reflexão sobre a escrita – Sempre que for
pais, avós e amigos a respeito de adivinhas, possível favoreça a reflexão dos/as
cantigas de roda, parlendas, quadrinhas ou alfabetizandos/as sobre a escrita, propondo
trava-línguas que conhecem; ou procurar textos comparações entre palavras que começam ou
conhecidos no Livro do aluno. No caso dos terminam da mesma forma (letras, sílabas ou
poemas, também é possível pesquisar autores partes das palavras).
da comunidade, autores conhecidos no Brasil Aprendendo com outros – A interação com
inteiro etc. bons modelos é fundamental na aprendizagem,
Rodas de conversa ou de leitura – Sentar em por isso é importante que os/as
roda é uma boa estratégia para socializar alfabetizando/as possam compartilhar atos de
experiências e conhecimentos, pois favorece a leitura e observar outras pessoas lendo,
troca entre as crianças. A roda de conversa recitando ou cantando os textos que estão
permite identificar o repertório delas a respeito estudando. Desta forma podem aprender a
do texto que está sendo trabalhado e também utilizar uma variedade maior de recursos
suas preferências. A roda de leitura permite interpretativos: entonação, pausas, expressões
compartilhar momentos de prazer e diversão faciais, gestos… O/a professor/a pode chamar
com a leitura. No caso dos trava-línguas, é para a sala de aula alguns familiares ou
interessante propor um concurso de trava- pessoas da comunidade que gostem de ler,
línguas – falar sem tropeçar nas palavras. recitar ou cantar para os outros. Também é
possível levar para a sala de aula gravações de
pessoas lendo, cantando ou recitando.
Produção de um livro – Seleção dos textos
preferidos para a produção de uma coletânea
(livro). Cada criança pode escrever um de seus
textos preferidos.
Projetos – As propostas de aprendizagem
também podem ser organizadas por meio de
projetos que proponham aos alfabetizando/as
situações comunicativas envolvendo a leitura e
escrita das adivinhas, cantigas de roda,
parlendas, quadrinhas ou trava-línguas. Essas
propostas de trabalho podem contemplar todas
as séries, cada um/a contribuindo de acordo
com suas possibilidades. Exemplos: propor a
realização de:
• um mural/painel de textos para colocar na
entrada da escola;
• um recital ou coral para pessoas da
comunidade;
• um livro de textos, para presentear alguém ou

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para compor a biblioteca da classe.
Como os textos produzidos nos projetos têm
um leitor real, o/a professor/a deve torná-lo o
mais legível possível, com o mínimo de erros,
traduzindo a escrita dos alunos ou revisando as
escritas em que só faltam algumas letras.
Tirando dúvidas
Os projetos são excelentes situações para que
os/as alfabetizandos/as produzam textos de
forma contextualizada; além disso,
dependendo de como se organizam, exigem
leitura, escuta de leituras, produção de textos
orais, estudo, pesquisa ou outras atividades.
Podem ser de curta ou média duração,
envolver ou não outras áreas do conhecimento
e resultar em diferentes produtos: uma
coletânea de textos de um mesmo gênero
(poemas, contos de assombração ou de fadas,
lendas etc.), um livro sobre um tema
pesquisado, uma revista sobre vários temas
estudados, um mural, uma cartilha sobre
cuidados com a saúde, um jornal mensal, um
folheto informativo, um panfleto, cartazes de
divulgação de uma festa na escola, um único
cartaz…

SITUAÇÕES DE LEITURA COM TEXTOS SITUAÇÕES DE ESCRITA DE TEXTOS


NARRATIVOSix NARRATIVOS
Leitura pelo professor – É importante que o/a Escrita coletiva – O/a professor/a escreve na
professor/a faça a leitura de vários textos do lousa, ou em um cartaz, o que os/as
mesmo gênero (contos, mitos, lendas e fábulas), alfabetizandos/as ditam para ele/a. Neste caso
de modo que os alunos possam se apropriar de é absolutamente necessário que todas as
um conhecimento que faz parte do patrimônio crianças conheçam bem o conto, a lenda ou
cultural da humanidade e instrumentalizá-los fábula. Durante o processo de escrita do texto,
para desfrutar das narrativas literárias. é fundamental que o/a professor/a discuta com
A atividade de leitura deve ser diária (na hora elas a forma de escrever as palavras, pois isso
da chegada, na volta do recreio, antes da saída), favorece a aprendizagem de novos
pois é importante que os/as alfabetizandos/as conhecimentos sobre a língua escrita.
tenham um contato freqüente com os textos, Reflexão sobre a escrita – Sempre que for
para que possam conhecê-los melhor. possível, favorecer a reflexão das crianças
O/a professor/a necessita ler os textos antes, sobre a escrita, propondo comparações entre
para se preparar para a leitura em voz alta, palavras que começam ou terminam da
garantindo que eles/as possam ouvir a história mesma forma (letras, sílabas ou pedaços).
tal qual está escrita, imprimindo ritmo à Pesquisa de outros textos: – Elas podem
narrativa e dando uma idéia correta do que pesquisar outros textos do mesmo gênero em
significa ler. livros, na família e na comunidade. Podem,
Essas situações de leitura não devem estar por exemplo: entrevistar pais, avós e amigos a
vinculadas a atividades de interpretação por respeito de lendas, fábulas e contos que
escrito do texto, pois são momentos em que se conhecem; ou procurar textos conhecidos no
privilegia o ouvir. Nas atividades de leitura, é caderno do aluno.
importante comentar previamente o assunto a Rodas de conversa ou de leitura – Sentar em

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ser lido: fazer com que os/as alfabetizandos/as roda é uma boa estratégia para socializar
levantem hipóteses sobre o tema a partir do experiências e conhecimentos, pois favorece
título; oferecer informações que situem a leitura um ambiente de troca entre os alunos.
(autor, nome do livro etc.); criar um certo Uma roda de leitura permite compartilhar
suspense quando for o caso, ou seja, propor momentos de prazer e diversão com a leitura.
situações em que eles/as possam inferir e Aprendendo com outros – A interação com
antecipar significados antes, durante e depois da bons modelos é fundamental na
leitura. Para dar continuidade ao trabalho, o/a aprendizagem; por isso, é importante que as
professor/a deve buscar os livros na biblioteca crianças possam compartilhar atos de leitura e
da escola. observar outras pessoas lendo ou recontando.
Reconto oral – Possibilita ao aluno, que não é Desta forma podem aprender a utilizar uma
leitor e escritor convencional, saber mais sobre variedade maior de recursos interpretativos:
o texto, apropriando-se oralmente da língua que entonação, pausas, expressões faciais,
se escreve. Não é uma situação em que a gestos… O/a professor/a pode chamar para a
criança deve decorar integralmente o texto, mas sala de aula alguns familiares ou pessoas da
recontá-lo a partir do que se apropriou da comunidade, que gostem de contar ou ler para
história, não podendo transformar o enredo. outros. Também é possível levar para a sala
Essa situação de aprendizagem deve ser de aula gravações de pessoas lendo e
proposta a partir do momento em que os/as contando histórias.
alfabetizandos/as ampliaram o repertório desses Projetos – As propostas de aprendizagem
tipos de textos. Ao recontar, eles/as devem também podem ser organizadas por meio de
tanto procurar manter as características projetos que proponham aos alfabetizandos/as
lingüísticas do texto ouvido como esforçar-se situações comunicativas envolvendo a leitura
para adequar a linguagem à situação de e a escrita dos textos (lendas, fábulas, mitos e
comunicação na qual está inserido o reconto (é contos). Essas propostas de trabalho podem
diferente recontar para os colegas de classe, contemplar todas as séries, cada criança
numa situação de “Hora da História”, por contribuindo de acordo com suas
exemplo, e recontar para gravar uma fita cassete possibilidades. Exemplos: propor a realização
que comporá o acervo da biblioteca). Essa de:
atividade poderá ser realizada com ajuda e • Mural de personagens: descrição das
orientação do/a professor/a e de colegas. personagens mitológicas (características
Escritas produzidas pelos alunos – Escrever físicas, poderes, moradia etc.) acompanhada
segundo suas próprias hipóteses é fundamental de ilustrações que correspondam às
para refletir sobre a escrita. Por isso é descrições.
importante criar momentos na rotina de sala de • Seleção dos textos preferidos para a
aula em que as crianças possam escrever produção de uma coletânea (livro) – podem
sozinhas ou em duplas. Por exemplo: escrita da escrever ou selecionar os textos para
lista dos personagens do conto; escrita de um presentear alguém ou para compor a
novo título para o texto; reescrita de fábulas, biblioteca da classe.
contos, mitos e lendas conhecidas; reescrita • Reconto oral de contos conhecidos para um
trans-formando partes – modificando o cenário, público específico (outra classe, comunidade
o final, as características de uma personagem, etc.).
dando outro título etc.; escrita de textos a partir Como os textos produzidos nos projetos têm
de outros conhecidos – um bilhete ou carta de um leitor real, o/a professor/a deve torná-lo o
um personagem para outro, um trecho do diário mais próximo do correto, traduzindo a escrita
de um personagem, uma mensagem de alerta das crianças ou revisando as escritas em que
sobre os perigos em uma dada situação, um só faltam algumas letras.
convite; uma notícia informando a respeito do
desfecho de uma história etc.
Tirando dúvidas
Reescrita: reescrever é reelaborar um texto
fonte (bons textos conhecidos, utilizados como

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referência). Isto é feito conservando, retirando
ou acrescentando elementos com relação a ele.
Portanto, reescrita não é reprodução literal: é
uma versão própria de um texto já existente. A
reescrita de textos coloca a necessidade de a
criança recordar para escrever depois, levando-a
não só à reprodução dos principais elementos
presentes no texto-fonte, mas, algumas vezes,
também ao uso das mesmas expressões e
palavras que estão no livro. Podemos propor às
crianças a reescrita de alguma notícia na TV, de
uma lenda, de uma história etc. Toda atividade
de reescrita supõe a imitação do escrever do
outro: “do jeito que está no livro”, “do jeito que
sai no jornal” etc.
Referencial Curricular Nacional da Educação
Infantil /MEC

SITUAÇÕES DE LEITURA COM LISTAS, SITUAÇÕES DE ESCRITA COM


CARTAS E BILHETESx LISTAS, CARTAS E BILHETES

Leitura pelo professor (cartas e bilhetes) – Escrita individual de listas – Por ser um tipo
Para que as crianças possam saber mais sobre de texto simples, as atividades de escrita de
esses tipos de textos, é importante que o/a listas possibilita que as crianças pensem muito
professor/a selecione cartas e bilhetes literários mais na escrita das palavras (que letras usar,
ou recebidos e crie momentos de leitura na quantas usar, comparar outras escritas etc.).
rotina escolar. Nessas situações de O/a professor/a deve propor atividades de
aprendizagem a ênfase deve estar na escrita de listas das quais os/as
apreciação, diversão, nos tipos de informações alfabetizandos/as possam de alguma forma
que aparecem e nos estilos dos autores. fazer uso. Por exemplo: escrever a lista dos
Leitura compartilhada (cartas e bilhetes) – contos lidos, a lista dos animais que já foram
As cartas e bilhetes dos quais os alunos também estudados e dos que ainda pretendem estudar,
tenham a cópia podem ser lidos de forma lista dos personagens preferidos etc. Vale
coletiva. O/a professor/a pode perguntar aos ressaltar que, quando propomos a escrita de
alfabetizandos/as o local onde foi escrito, quem textos em que não há um destinatário
é o remetente, quem é o destinatário, que específico, é fundamental aceitar as hipóteses
informações esperam encontrar no texto. Isso é e não interferir diretamente nas produções:
importante para criar expectativas que possam não se deve corrigir, escrever embaixo ou
ser confirmadas, ou não, com a leitura. Em coisa do tipo.
seguida o/a professor/a pode ler o texto em voz Escrita individual de cartas e bilhetes – É
alta e as crianças acompanham em silêncio. importante propor situações em que as
Essa situação é uma boa estratégia para crianças escrevam esses tipos de textos, a
aprender a ler. partir das hipóteses que têm da escrita. Por
Leitura de listas – É importante propor exemplo: reescrita de cartas literárias; escrita
atividades de leitura em que os/as de cartas e bilhetes a partir de outro texto
alfabetizandos/as são os/as leitores/as. Por conhecido – um bilhete ou carta de um
exemplo: atividades em que recebam uma lista personagem para outro.
com os títulos dos contos lidos ou das Escrita coletiva – É importante que o/a
personagens conhecidos, e tenham que localizar professor/a crie situações de escrita de cartas e
determinados personagens ou títulos; leitura da bilhetes que tenham função de comunicação.
lista de ajudantes do dia; da lista de atividades Considerando que as crianças estão em
que serão realizadas no dia; da lista dos processo de alfabetização, o mais adequado
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aniversariantes do mês etc. seria propor a escrita coletiva de carta para um
Pesquisa de outros textos – Os/as destinatário real. Neste caso é absolutamente
alfabetizandos podem trazer cartas recebidas necessário que todas elas saibam sobre o
pela família para a leitura realizada pelo/a conteúdo que devem abordar. Por exemplo:
professor/a na roda de leitura. escrita de uma carta para uma editora pedindo
Rodas de leitura e de conversa – Sentar em livros, para participar de um/a educando/a,
roda é uma boa estratégia para socializar para uma outra escola, para um/a educando/a
experiências e conhecimentos, pois favorece a específico de uma escola etc. Durante o
troca entre os/as alfabetizandos. Uma roda de processo de escrita do texto, é fundamental
leitura e conversa permite identificar o que o/a professor/a discuta com as crianças a
repertório deles a respeito do texto que está forma de escrever as palavras e a organização
sendo trabalhado, e também conhecimentos do texto, pois isto favorece a aprendizagem de
sobre o assunto dos textos lidos. novos conhecimentos sobre a língua escrita.
Reflexão sobre a escrita – Sempre que for
possível, favorecer a reflexão dos/as
alfabetizando/as sobre a escrita, propor
comparações entre palavras que começam ou
terminam da mesma forma (letras, sílabas ou
pedaços). As listas são ótimos textos para a
realização dessas atividades.

NOTAS
i
O texto tece reflexões acerca do uso do texto na alfabetização e apresenta exemplos de sugestões didáticas que
envolvem diferentes gêneros textuais, fazendo assim, uma interface entre a teoria e a prática pedagógica do/a
professor/a alfabetizador/a.
ii
Texto elaborado e sistematizado por Angela Freire, Pedagoga graduada pela UCSAL, Psicopedagoga (UFBA) e
Coordenadora Pedagógica lotada na Coordenação de Ensino e Apoio Pedagógico (CENAP) / Núcleo de Tecnologia
Educacional (NET-17), na Fábrica do Saber.
iii
Parâmetros em Ação de Alfabetização, MEC/1999, pp. 32
iv
Ibid. Pp. 68
v
Ibid. Pp. 71-72.
vi
Texto extraído do Projeto Nordeste – Escola Ativa.
vii
Ibid.
viii
Ibid.
ix
Ibid.
x
Ibid

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