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Mombelli, Raquel. Quilombos em Santa Catarina e Os 10 Anos Do Decreto 4887 PDF
Mombelli, Raquel. Quilombos em Santa Catarina e Os 10 Anos Do Decreto 4887 PDF
8871
Raquel Mombelli
1.Introdução
Este texto faz uma avaliação dos impactos do Decreto n. 4.887 no estado de
Santa Catarinapassados 10 anos de sua publicação. Como é de conhecimento público, o
decreto é responsável pela regulamentação dos procedimentos de regularização e
titulação de terras quilombolas conforme estabelece o artigo 68 dos Atos de Disposição
Transitórios da Constituição Federal Brasileira de 1988.
1
Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de
agosto de 2014, Natal/RN.”
Neste período, 15 comunidades quilombolas em Santa Catarina receberam a
Certidão de Reconhecimento da Fundação Cultural Palmares e ingressaram junto ao
INCRA-SC com pedido para regularização fundiária de suas terras, conforme se
observa na Tabela 1.
Valongo, Porto Belo 2010 Sem Previsão para licitação dos estudos
2
Dados extraídos de http://www.incra.gov.br/index.php/estrutura-fundiaria/quilombolas/file/1789-
relacao-de-processos-abertos, acessado em 21/05/2014.
Tapera, São Francisco do 2011 Sem previsão
Sul
Sem previsão
• duas outras situações Família Thomaz e Campo dos Poli estão com os
estudos antropológicos concluídos, porém os RTID não foram publicados
e,
3
Das 132 propriedades que constituem a área total de 7,9 mil hectares, onze tiveram ações de
desapropriação ajuizadas pela autarquia no mês de setembro de 2012, com parecer favorável sobre os
valores propostos para as indenizações. As onze áreas que somam 172,06 hectares, avaliadas em R$
2.397.517,58, valores que serão pagos pela autarquia aos seus ocupantes.
Nessa perspectiva, o cenário desenhado nesses 10 anos de implementação do
Decreto 4.887 em Santa Catarina, não parece otimista. A sua aplicação, a exemplo de
outras situações pelo país, tem sido marcada por um conjunto de procedimentos
administrativos institucionais extremamente morosos e frequentemente afetados pelo
efeito das ações políticas promovidas por determinados segmentos econômicos e
políticos declaradamente contrárias aos direitos das comunidades quilombolas.
4
Nos 316 anos de escravidão no Brasil, foram 15 milhões de africanos arrancados de suas terras, durante
o ‘trafico negreiro’. Os primeiros africanos escravizados chegaram ao país em 1554.
5
Trata-se do Texto Os grãos de areia, publicado no livro Contrafogos 2: movimento social europeu, 2001.
6
Termo atribuído ao movimento criado por Abdias do Nascimento nos anos 1940 para tratar de propostas
de inclusão para população negra a educação, mercado de trabalho e acesso a terra à Assembléia
Constituinte.
7
Instrução Normativa n.16/2004 publicada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Art. 2º Consideram-se remanescentes das comunidades dos
quilombos, para fins deste Decreto, os grupos étnicos-raciais,
segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica
própria, dotados de relações territoriais específicas, com
presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à
opressão histórica sofrida.
§ 1º Para fins desse Decreto, a caracterização dos remanescentes das
comunidades dos quilombos será atestada mediante autodefinição
da própria comunidade.
8
Trata-se originalmente da proposta do extinto PFL, assumida pelo Democratas, que ajuizou uma Ação
Direta de Inconstitucionalidade, sob nº 3239, questionando os critérios de autodefinição, os
procedimentos de desapropriações e os critérios de identificação da territorialidade. A ADI entrou em
votação no Supremo Tribunal Federal, em 18 de abril de 2012, mas o processo foi suspenso pelo pedido
de vistas da ministra Rosa Weber.
direitos pelas comunidades quilombolas constantemente reduzido a um problema,
perigo, fraude” (Brustolin, 2009, p. 211). Nesse campo, a questão dos direitos
quilombolas não parecem entrar para o rol das coisas indiscutíveis, como parece ser o
direito à propriedade privada no país. Nesse sentido, as reivindicações por direitos
territoriais com base na identidade quilombola esteve sempre associada à necessidade
de “justificar e fundamentar incessantemente a reivindicação, de acionar sempre mais
provas de veracidade, documentos, instrumentos jurídicos”. Apesar disso, grãos do
Decreto estão sendo depositados nas engrenagem do racismo e revelam em seu lento
movimento a capacidade dos quilombos em resistir diante das tentativas de
deslegitimar seus direitos, de forças que insistem em ignorá-los, desrespeitá-los.
A implementação do Decreto 4887 é a força capaz de promover a igualdade
racial, combater o racismo e consolidar a cidadania negra e quilombola nesse País.
9
Destaca-se as pesquisas pioneiras efetuadas por Bandeira (1981) e nos anos posteriores por Soares
(1981), Vogt e Fry (1992), Queiroz (1993), Baiochi (1993), Monteiro (1985), Bandeira (1988),
Almeida, (1989), Leite (1990) Teixeira (1990), Martins (1990), Hartung (1992), Acevedo & Castro
(1993), Gusmão (1995)
A autora em sua pesquisa destaca a potencialidade do conceito para abordar a
questão das relações raciais atuais no Brasil e a dimensão étnica da posse da terra ao
dizer que “ a territorialidade negra, inequívoca aos negros e aos brancos, configura uma
situação especifica de alteridade, de cujo prisma refratam alguns aspectos encobertos
das relações raciais (....) A posse da terra, independente das suas origens patrimoniais,
se efetiva pelas comunidades enquanto sujeito coletivo, configurando um grupo étnico.
A apropriação coletiva é feita por negros organizados etnicamente, como sujeito social,
não se tratando, portanto, de posse de negros enquanto pessoas físicas”.
(Bandeira:1988, p. 22)
10
O estudo sobre o Morro da África foi produzido por Ilka Boaventura Leite; sobre Morro do Fortunato
por Miriam Hartung; sobre os Cafuzos por Pedro Martins; sobre os Valongos por Vera Item Teixeira.
(Leite, 1996)
11
A produção de um mapa ou de uma lista com os nomes e os lugares não foi produzida. O NUER, por
definição prévia, adotou uma postura de respeito às vontades e interesses das próprias comunidades, de
modo a preservar em qualquer circunstância os critérios de autodefinição e as categorias de pertencimento
elaboradas e compartilhadas pelos moradores das referidas áreas.
12
Em todas as localidades pesquisadas registraram-se precárias condições de moradia e acesso a serviços
básicos como água, luz, saneamento, telefone, postos de saúde, escolas, pavimentação, entre outras
questões. Assim como os vínculos de trabalho e atividades desenvolvidas, que se caracterizavam por
inexistente13, efeitos produzidos pela ideologia do embranquecimento como projeto
nacional, implementado por meio da miscigenação seletiva e políticas de povoamento e
imigração européia e também construída pelas elites políticas e intelectuais a respeito
dos seus países, supostamente caracterizados pela harmonia e tolerância racial e
ausência de preconceito e discriminação racial. Entre as representações e os efeitos no
mundo social, na realidade, corresponde a subordinação social ou a virtual desaparição
da população negra (Hasenbalg, 1996, p. 236). Se a população negra estava condenada
ao embraquecimento e ao desaparecimento, a implementação de políticas públicas nas
comunidades negras são vistas pelos poderes públicos como desnecessárias.
vínculos sazonais, com baixa remuneração e exercidos de modo informal como diaristas, serventes, bóias-
frias, biscateiros e pescadores.
13
Um questionário foi elaborado e enviado às prefeituras municipais dos três estados do Sul perguntando
sobre a existência ou não de grupos negros no município. Em sua maioria as respostas eram negativas
mesmo naquelas áreas em que já haviam sido confirmadas pelos pesquisadores do projeto.
14
Trata-se do artigo O trabalho do antropólogo e o Decreto 4.887.
15
Trata-se do projeto Quilombos no sul do Brasil: subsídios para a implementação do Decreto
4.887,realizado através de convênio entre UFSC e INCRA, para elaboração de estudos antropológicos
para três situações: São Roque, Invernada dos Negros e Casca no Rio Grande do Sul.
da geociência e do direito; e (3) a proposição de parâmetros para formulações de
políticas públicas.” (Mombelli, 2012).
Para além desses apontamentos, que por si já seriam suficientes para valorização
decorrentes da aplicação do Decreto 4.887, não apenas para as comunidades mas para
toda a sociedade brasileira, as pesquisas produzidas naqueles termos inspiram a
elaboração de outras pesquisas e projetos, de diferentes áreas do conhecimento16 e de
diversas instituições. Pesquisas de dissertações de mestrados, teses de doutorados,
artigos científicos foram apresentados em seminários e eventos científicos nacionais e
internacionais, potencializando dessa forma à formação acadêmica e tornando esses
espaços lugares de interlocução e visibilidade da temática.
Veja Raquel, nos nunca sabíamos nada da nossa historia e agora tudo
que a gente tá vendo, tá vendo que é verdade, que é isso mesmo, que
nos estamos confirmando. Nós não tinha isso. Agora, a gente sabe que
18
foi assim, que aconteceu tal coisa .
Nesse sentido, a história volta, porque não foi totalmente esquecida, está sendo
reescrita, re-atualizada em outros termos, com propriedade e domínio dos rumos que se
16
Entre esses cita-se algumas pesquisas: dissertação de mestrado em historia de Luana Teixeira (2008)
UFSC; tese de doutorado de Cindia Brustolin (2009) UFRGS, dissertação de mestrado em antropologia
de Maicon Silva Steuernagel (2010) UFPR, TCC de Ely de Souza (2012) UFSC; Maninho e os ainda
em elaboração de Adriana da Silva sobre a Juventude quilombola, Tamajara Silva UFRJ sobre
alimentação quilombola. Cita-se minha própria tese de doutorado sobre o tema do patrimônio cultural.
17
Na Invernada dos Negros, a expressão foi registrada logo após a publicação dos estudos antropológicos,
e em outras situações registradas por Chaga (2009) no Rio Grande do sul.
18
Entrevista com Florência de Sousa, herdeira da Invernada dos Negros, em setembro de 2007.
Mombelli,(2009).
quer dar. A história volta para ser restaurada, para ser resignificada em outros termos
nas relações historicamente desiguais das instâncias de poder. As próprias relações de
poder que permitiram que seus territórios negros fossem esbulhados e expropriados,
assim como revelar conflitos até então escondidos pela ação de uma ordem jurídica
hegemônica que desconsiderou os seus direitos a terra (Leite, 2006, p. 4), podem ser
agora, na condição de “remanescentes de quilombos” desvendadas.
19
A publicação do livro didático A África está em nós: história e cultura afro-brasileira: Africanidades
Catarinenses é um exemplo.
20
Trata-se do INRC realizado através parceria firmada entre FAPEU/NUFSC/NUER e IPHAN nos anos
de 2006 e 200, junto as comunidade de Invernada dos Negros e São Roque.
21
A autora define aquilombar-se como uma ação contínua de existência autônomo diante dos
antagonismos que se caracterizam de diferentes formas no curso de vida dessas comunidades e que
formas de resistência autônomas de existirem de acordo com sua identidade e cultura,
fortemente voltado para a coletividade, mas também como potencialidade para unir
comunidades de todas as regiões do país.
demandam ações de luta ao longo das gerações para que seus sujeitos tenham os direitos fundamental de
resistir com seus usos e costumes. (Souza, 2012, p.162)
22
. Estavam presentes comunidades de Morro do Fortunato, Aldeia, Paulo Lopes, Caldas de Imperatriz,
Caldas de Cubatão, Vidal Martins e São Roque.
23
Trata-de de Ação Civil Pública do Ministério Público Federal - Ação de Execução (nº 5009890-
88.2013.404.7204) junto a 4ª VARA FEDERAL SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CRICIÚMA (SC),
representantes24 do Movimento Negro Unificado de Santa Catarina (MNU-SC), no
contexto dos processos de regularização fundiárias das terras quilombolas. Esses
processos impulsionaram a necessidade de produção e o registro de informações e dados
quantitativos sobre as realidades socioeconômicas e culturais dessas comunidades, até
então desconhecidos pelas estatísticas dos órgãos oficiais. As ações produzidas pelo
MNU-SC revelaram um quadro de acentuada exclusão escolar nas comunidades
quilombolas, com elevado número de pessoas com pouco domínio da escrita e da leitura
e/ou com poucos anos de escolaridade. Tal déficit educacional seria apontado também
como um dos principais responsáveis pelas dificuldades relacionadas à mobilidade
econômica e do entrave dessas comunidades ao acesso às políticas públicas, entre esses
o sistema de crédito agrícola. Para tentar superar esse difícil quadro de desigualdade
educacional, foi formado em 2006 um coletivo por 16 Educadores, 8 representantes de
Comunidades de Remanescentes dos Quilombos de Santa Catarina25, professores e
pedagogos dos quadros do MNU-SC , com o objetivo de construir e implementar uma
proposta de alfabetização e escolarização dessa população. Desde então, esse coletivo
vem tentando fazer tratativa junto a Secretaria de Educação do Governo do Estado, para
a construção e implementação de uma proposta26 de Educação Quilombola fundada
pedagogicamente na “valorização das visões de mundo, modos de vida, saberes e o
processo de reconhecimento do território quilombola, com base em identidades étnicas,
especificidades culturais e memórias sociais”. Após sete anos de tentativas para esse
campo, nenhuma política pública de educação específica foi efetivamente realizada nas
comunidades quilombolas de Santa Catarina, em qualquer uma das modalidades
previstas, tais como a Educação de Jovens e Adultos, a Educação Profissional ou o
Ensino Superior. E, para completar, o governo do estado fechou no ano passado os 12
núcleos de alfabetização que existiam coordenados pelo coletivo dos professores das
comunidades quilombolas.
Sem contar com a presença do Estado na superação da desigualdade escolar, o
coletivo dos professores quilombolas, encontram nos editais públicos suporte para ações
de capacitação e fortalecimento das comunidades. Desde 2006, a execução de 7
24
Trata-se especialmente de Juan Pinedo (falecido), Vanda Gomes Pinedo e Maria de Lurdes Mina.
25
São elas: Invernada dos Negros Campos Novos, Campos dos Polli; Fraiburgo, localizada na região do
meio oeste; São Roque no município de Praia Grande; Aldeia e Morro do Fortunato, no município de
Garopaba; Toca/Santa Cruz, município de Paulo Lopes; e comunidade de Buraco Quente no município de
Araranguá.
26
Documento Proposta Educação Quilombola do MNU/SC/2007.
projetos27 incluíram aproximadamente 800 pessoas e constituíram-se em espaços
significativos de superação da desigualdade educacional e de inserção nas políticas
públicas.
Diante desse lamentável quadro, o MNU/SC tem investido em várias frentes
entre essas na elaboração de um projeto de Licenciatura Quilombola pela UFSC/NUER
e em projeto de Elevação da Escolaridade Quilombola através do PRONERA28
(Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária) do INCRA e também em
parceria com a UFSC. Entretanto, até o presente momento, não se tem informações
sobre os rumos administrativos das duas propostas.
O projeto de Elevação do Nível Escolar pelo PRONERA visa assegurar a
formação e a certificação educacional, respaldado em um conjunto de dispositivos
jurídicos nacionais e internacionais, diretrizes curriculares nacionais, que resguardam o
direito a diversidade étnico-racial, a valorização das diferentes culturas e étnicas para a
formação do povo brasileiro, especialmente as das matrizes indígenas e negras e o
combate o racismo. Entre essas, destaca-se o Decreto 4.887 no que diz respeito ao
direito a identidade, ancestralidade negra, manifestações culturais e sustentabilidade do
territorial, aquelas orientadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
Escolar Quilombola29, e dos princípios estabelecidos pelo Movimento Negro Unificado
para a educação.
27
1) Projeto de Alfabetização, convênio com a Fundação Banco do Brasil, Associação RONDON
BRASIL, Movimento Negro Unificado-SC e a Secretaria Estadual de Educação através do Programa
Brasil Alfabetizado, alfabetizando 339 quilombolas; - 2) Programa Saberes da Terra – Beneficiando
aproximadamente 50 quilombolas das Comunidades Remanescentes dos Quilombos de Invernada dos
Negros, em Campos Novos , Aldeia e Morro do Fortunato – Garopaba e Toca, em Santa Cruz Paulo
Lopes; -3) Projeto e Formação Política – Convênio Ministério do Desenvolvimento Agrário, Associação
Rondon Brasil e MNU-SC, realizado na Comunidade dos Remanescentes do Quilombo Invernada dos
Negros, em Campos Novos. Beneficiando 100 Quilombolas. - 4) Projeto Puxirão- realizado nas
Comunidade dos Remanescentes do Quilombo São Roque/ Praia Grande, Aldeia e Morro do Fortunato,
em Garopaba – SC, beneficiando 140 quilombolas.- 5) Projeto Gado Leiteiro- – Convênio Ministério do
Desenvolvimento Agrário, Associação Rondon Brasil e MNU-SC – realizado na Comunidade Invernada
dos Negros – Campos Novos, beneficiando 42 mulheres ¨6) - Projeto Artesanato Nativo, realizado na
Comunidade dos Remanescentes do Quilombo Invernada dos Negros, em Campos Novos, beneficiou 40
mulheres do Grupo de Mulheres Damasia/Margarida;7) Projeto Agricultura orgânica. Realizado na
Comunidade dos Remanescentes do Quilombo Invernada dos Negros, em Campos Novos, beneficiando
80 Quilombolas. ( total de pessoas inseridas 833). Essas informações foram fornecidas pelo Movimento
Negro de Santa Catarina.
28
Nesse proposta o PRONERA seria executado através de convênio com o Colégio de Aplicação da
UFSC e em parceira com o Movimento Negro Unificado, e representantes das Comunidades
Quilombolas de Santa Catarina. Proposta semelhante foi recentemente aprovada na UFPR para
graduação em direito para comunidades quilombolas e dos assentamentos do MST. O PRONERA foi
originalmente criado em 2010 pelo INCRA com o objetivo de ampliar os níveis de escolarização formal
dos trabalharores rurais assentados.
29
Documento aprovado pelo Ministério da Educação em 20/11/2012. Processo n. 3.001.000.113.\ 2010-
81, elaboradora pela relatora Nilma Lino Gomes em 5/06/2012.
Levantamentos atuais realizados pelo MNU/SC registram o seguinte quadro de
demandas de Elevação Escolar30 nas diversas comunidades quilombolas do estado
catarinense:
Demanda Alunos
Alfabetização/Nivelamento 478
1º a 5ª séries
6ª a 8ª Séries 340
Ensino 365
Médio/profissionalizante
Total de alunos 1.183
Fonte: MNU-SC ( 2013)
30
Dados do projeto Elevação do Nível Escolar – PRONERA/INCRA/MNU (2013).
31
Trata-se do projeto aprovado pelo Edital PROEXT/MEC , executado pelo NEPI – UFSC .
efetivação. Esse universo nem sempre é dominado rapidamente o que exige dos
candidatos um tempo maior para respondê-lo. Isso conseqüentemente interfere no valor
final a ser pago pelo acesso a internet, de aproximadamente 2 reais a hora. Alguns
jovens das comunidades explicam que necessitam de mais do que uma hora de acesso a
internet para realizarem a inscrição do vestibular, e que de fato, esse tempo extrapola os
recursos destinados para isso, o que acaba inviabilizando a candidatura à universidade.
Sem condições de arcar com despesas superiores a cinco reais, a desistência torna-se
inevitável. Aqueles que conseguem realizar a inscrição online encontram dificuldades
posteriores com outros trâmites burocráticos como a solicitação da isenção da taxa do
vestibular, esse também destacado como complicador do acesso a universidade.
Diante dessas constatações, buscou-se junto a UFSC facilitar esse processo com
a solicitação de isenção das taxas de inscrição para o Vestibular/2014 para as
comunidades quilombolas, nos moldes já aplicados para os candidatos de comunidades
indígenas. Para facilitar o processo, solicitou-se também a disponibilização impressa do
formulário de inscrições, o que foi recusado pela instituição. A isenção das taxas de
inscrição foram todas autorizadas para os candidatos oriundos das comunidades
quilombolas, desde que atestados e validados pelo Movimento Negro Unificado de
Santa Catariana.
5. Considerações finais
32
O documento chama-se Proposições a UFSC para assegurar uma efetiva inclusão de qualidade dos
indígenas e dos quilombolas na universidade, protocolado na reitoria no dia 12/12/ 2013. O documento é
parte dos resultados do projeto PROEXT/MEC/2013 “Ações Afirmativas para a promoção da igualdade
Étnico- Racial no ensino superior de Santa Catarina”, elaborado pelo NEPI/UFSC.
As reivindicações territoriais e culturais são também reivindicações de
reconhecimento de identidades. A defesa do Decreto 4887 desenhada nesse artigo visa
destacar a importância desse dispositivo jurídico para o efetivo combate ao racismo no
Brasil. A sua implementação eleva o debate sobre a questão do negro no país em outros
parâmetros, o de reconhecimento de direitos. Enganam-se aqueles que tentam reduzi-lo
a mero instrumento de reivindicações de direto territoriais, ou a mera adequação de
realidades às exigências Estatais. A implementação do Decreto 4.887 revela a dimensão
moral das reivindicações identitárias, das lutas por reconhecimento (Honneth, 2003) e
dos esforços dos sujeitos oprimidos ou desrespeitados para re-configurar a própria
identidade e sua cidadania. A sua aplicação amplia a cidadania negra, quilombola e a
democracia nesse país, ao reconhecer a pluralidade que a constitui a nação brasileira.
6. Referências Bibliográficas
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Textos e Debates. Terras e Territórios de Negros no Brasil NUER/UFSC, ano 1, n.2 ,
1991, p.25-38.
HASENBALG, Carlos. Entre o mito e os fatos: racismo e relações raciais no Brasil. In:
MAIO, Marcos Chor (org). Raça, Ciência e Sociedade. Rio de Janeiro:
FIOCRUZ/CCBB, 1996. p. 235-249
HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: A gramática moral dos conflitos sociais.
São Paulo: Editora 34, 2003.
LEITE, Ilka Boaventura. Territórios de Negros em Área Rural e Urbana: algumas
questões. Textos e Debates. Terras e Territórios de Negros no Brasil. V. 1, n. 2
NUER/PPGAS, 1991, p. 39-46.
TEIXEIRA, Luana. Muito mais que senhores e escravos: relações de trabalho, conflito
e mobilidade social em um distrito agropecuário do Sul do Império do Brasil (São
Francisco de Paula de Cima da Serra, RS, 1850-1871). Programa de Pós-Graduação em
História, Universidade Federal de Santa Catarina, Dissertação de Mestrado, 2008.