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Lukács.
[1] “[…] operou-se uma grande mudança de visão de mundo na concepção do progresso
humano, em comparação com o Iluminismo. O progresso deixa de ser visto como um
progresso na luta essencialmente anistórica da razão humana contra a razão feudal
absolutista. Segundo essa nova concepção, a racionalidade do progresso humano é
desenvolvida de modo cada vez mais acentuado a partir do conflito interno das forças
sociais na própria história; de acordo com essa concepção, a própria história deve ser a
portadora e a realizadora do progresso humano. O mais importante aqui é a consciência
histórica cada vez maior do papel decisivo que a luta de classes desempenha no
progresso histórico da humanidade. O novo espírito da histocidade, que pode ser visto
com mais nitidez nos grandes historiadores franceses do periodo da Restauração,
concentra-se precisamente nesta questão: nas provas históricas de que a sociedade
moderna surgiu das lutas de classes entre a nobreza e a burguesia, das lutas de classes
que fulminaram a “Idade Média idílica”e cuja última e grande etapa foi a grande
Revolução Francesa. Desse círculo de ideias surge pela primeira vez uma tentativa de
periodização racional da história, uma tentativa de apreender de modo racional e científico
a especifidade histórica e a gênese do presente” (György Lukács, O romance histórico, p.
18).
[2] “Afortunados os tempos para os quais o céu estrelado é o mapa dos caminhos
transitáveis e a serem transitados, e cujos rumos a luz das estrelas ilumina. Tudo lhe és
novo e, no entanto, familiar; aventuroso, e no entanto próprio. O mundo é vasto, e no
entanto é como a própria casa, pois o fogo que arde na alma é da mesma essência que
as estrelas ; distinguem-se eles nitidamente, o mundo e o eu, a luz e o fogo, porém jamais
se tornarão para sempre alheios um ao outro, pois o fogo é a alma de toda luz e de luz
veste-se todo fogo. Todo ato da alma torna-se, pois, significativo e integrado nessa
dualidade: perfeito no sentido e perfeito para os sentidos; integrado, porque a alma
repousa em si durante a ação; integrado, porque seu ato depreende-se dela e, tornado a
si mesmo, encontra um centro próprio e traça ao seu redor uma circunferência fechada”
(György Lukács, A teoria do romance, p. 25).