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Porque conseguimos cooptar jovens mentes

A mente dos jovens é moldável, principalmente na infância e juventude. Encontramos crianças com variado espectro
de educação. Crianças mais vulneráveis a sugestão e outras não. A razão primária se dá pelo fato das crianças
copiarem pelo exemplo, no primeiro estágio da vida. É um “imprint” que ocorre desde o nascimento até cerca dos
12 anos, nos acompanhando pelo resto de nossas vidas, agindo na formação do caráter. Depois, ao começarem a
entender o que lhes é ensinado, os conceitos começam a se consolidar. Porém, os parâmetros de moral, compaixão,
civilidade, etc. ainda não estão bem solidificados... Então, seguem o que lhes é ensinado pelo exemplo.

Quando pequeninos, se não obedecem, sofrem consequências e isto faz parte do aprendizado. Afinal, todo ato tem
uma consequência para si mesmo ou para outro. O bom exemplo é de suma importância nesta fase. A verdade, o
direito e o respeito fazem parte destes ensinamentos primários. Muitas vezes, se faz necessário a aplicação de um
corretivo de maneira mais severa, talvez uma palmada, um castigo ou uma privação, mas nunca em excesso. A
intenção é educar, não causar traumas. Mesmo assim, ao longo do crescimento, passamos por várias situações que
nem sempre agradam ou compreendemos. Esta compreensão vem com a experiência de vida e a transferência da
informação. A facilidade com que pessoas podem incutir novos conceitos nas jovens mentes, antes da plena
compreensão de seus atos é justamente o que ocorre na deformação de caráter. Funciona muito bem para o crime
ou para doutrinações extremistas, principalmente, naquelas que oferecem uma vantagem monetária rápida, um
status ou a libertação à "opressão", causada pelos pais ou pela sociedade. O jovem resiste contra as ações que lhes
causam mal estar. A implantação de ideologias nas escolas exemplifica bem este último status. Ora, quando se é
jovem, sentimo-nos quase imortais, ainda temos muitos e muitos anos pela frente. Somos fortes, viris e a força da
juventude corre em nossas veias. Mesmo assim, cometemos atos não bem compreendidos em nossos conceitos no
fervor da impulsão, sem pensar e analisar mais as consequências. O crime coopta pela possibilidade de obtenção de
bens ou poder, pulando fases quase sempre desagradáveis. Portanto, fornece um senso de conquista rápida, o
desejo de possuir algo em poder de outros, sem percebermos as etapas que levaram para conquista-las ou, pela
desigualdade de oportunidades colocada pela sociedade. Já os que possuem mais oportunidades, vindas de um bom
lar financeiro, podem ser cooptados pela oferta de outro status: o do agente da mudança e transformação social
impulsionado pelo desejo de conquista de um reconhecimento de sua própria posição social e força viril. É neste
ponto, justamente, que ideologias e novos pensamentos são utilizados para cooptar e moldar a índole dos jovens,
transformando-as em massa de manobra para outros interesses ou, sedimentando valores positivos. Jovens entram
em grupos, gangues e até instituições com doutrinas ideológicas porque buscam este poder de transformação, sem
perceber a manipulação, tolhendo-os do amadurecimento correto. São impulsivos, levados a crer que tais ações
serão recompensadas por suas façanhas, alcançando o título de cavaleiro de armadura cintilante, vingando os fracos
e oprimidos, principalmente, com utilização da força física e de jargões copiados contra as sociedades onde crescem
experimentando um sistema, muitas vezes não confiável, retrógrado e corrupto. O que não lhes falta é jovialidade
para enfrentar estas mazelas. Por isso, vemos tantos jovens enfrentando professores, policiais e o "poder opressor”
das instituições que não lhes agradam mesmo quando estas, não são a causa do problema. Os profetas, teóricos de
plantão e aliciadores do crime adoram este ambiente, pois, se utilizam desta insatisfação e mau funcionamento dos
controles para tentar infiltrar, obter lucro ou vantagens ao seu grupo. É o pensamento egoísta para si e somente
para sua “turma”. Os aliciados são exemplos da manipulação de memórias ainda latentes, impostas de maneira sutil
para que ocorra tal cativação contra o poder dos pais ou das regras de uma sociedade. O sentido da liberdade
individual lhes é, gradativamente, suprimido diante das novas concepções coletivistas que visam quebrar as regras
construtivas e os valores da sociedade.

O ser humano passou por uma grande mudança de vida econômica e social garantindo fartura na sobrevivência
devido ao início da industrialização, portanto, muito recente. Hoje, aproveitamos as benesses deste crescimento.
Contudo, a era moderna como conhecemos, a abundância alimentar e o conhecimento vieram muito rápidos e de
forma desigual. Ainda não adaptamos totalmente nem moldamos as regras sociais. Não possuímos plena
compreensão deste novo período de tecnologias e garantias de direitos. Não há um objetivo definido. Cabe a
sociedade como um todo, buscar uma melhor forma de transmitir e fazer entender estas novas conquistas. Algumas
sociedades já caminham nesta estrada como os países nórdicos, principalmente, oferecendo uma educação
universal mais ampla, prazerosa e justa, abrindo oportunidades sociais, profissionais e entendimento mútuo. As
mentes agora devem ser exploradas no seu potencial, mostrando caminhos ainda a serem abertos, mas dentro dos
valores da sociedade. Caso contrário, disponibilizaremos mais soldados para o crime e para doutrinas,
incrementando a desigualdade entre as pessoas.

Mauro Nadruz - Gestor em Segurança da Activeguard, pós-graduado em gestão estratégica da segurança, analista e professor.

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