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Abstract:
The vast majority of Brazilian cities, especially those members of metropolitan
regions, show significant changes over their watercourses: rectification,
waterproofing, illegal occupation of floodplain where concrete replaces the natural
soil, and houses replaces trees. The aim of this paper is to discuss the regulatory
instruments that protect urban rivers floodplain from occupation, considering the
territory of the Metropolitan Region of Rio de Janeiro, with an examination of the
particular case of the Municipality of Mesquita. We found that the different regulatory
frameworks existing (federal, state and municipal, in the case of the PD de
Mesquita), because they are sometimes conflicting, induce paralysis in the treatment
by the government to track protection of urban rivers. The text points out the need for
a new normative basis to guide the protection of urban rivers floodplains, which will
allows an application that won’t be generic, but that will fit the specific characteristics
of different urban areas.
Introdução
O tema das áreas de preservação permanente (APPs) em terras marginais de rios
tem sido amplamente discutido ao longo das últimas décadas, especialmente
quando se trata da inserção dessas em áreas urbanas. O debate ganha relevo em
regiões metropolitanas, cujo padrão observável é o da valorização do solo urbano
dotado de infraestrutura com a concomitante expulsão das populações pobres para
as áreas sem valor de mercado situadas próximas aos cursos d’água. Com o tempo,
esses locais vão sendo adensados de forma irregular, criando situações de
iniquidade social e de riscos, difíceis de serem resolvidos. Por outro lado, também
são observadas construções de imóveis públicos e privados em flagrante desacordo
com a legislação que trata da proteção dos corpos d’água. Essas áreas, por se
tratarem de APPs, constituem-se em faixa non aedificandi, ou seja, não são
permitidas edificações permanentes ao longo de lagos, rios, cursos d’água,
nascentes, etc.. O objetivo deste texto é discutir os instrumentos regulatórios que
incidem sobre as APPs em margens de rios urbanos considerando o território da
Região Metropolitana do Rio de Janeiro, em particular o Município de Mesquita.
Partimos da hipótese de que os instrumentos existentes são, por um lado,
ineficazes, não assegurando a proteção das faixas marginais, hoje na sua maior
parte profundamente alteradas pelo processo de ocupação e, por outro, também são
inadequados na perspectiva do uso sustentável das mesmas. Esta fragilidade se dá,
não só pelas características próprias aos instrumentos regulatórios, mas também em
decorrência da problemática articulação entre níveis de governo e setores de
planejamento dentro da mesma esfera de governo, cuja ação incide sobre as faixas
marginais. As competências entre estados e municípios muitas vezes parecem
confusas, podendo gerar conflitos e sobreposição legal. De fato, como assinalam
Santos e Scagliusi “legislações municipais e estaduais complementares e aquelas
de âmbito federal, como a Resolução CONAMA 369, a Lei 10.257/01, ou o Estatuto
da Cidade e a recente Lei 11.977/09, conhecida como ‘Minha Casa, Minha Vida’,
que procuraram abrigar algumas possibilidades de consolidação e regularização das
APPs estabelecidas na Resolução CONAMA 303, ao contrário de seus bons
objetivos têm contribuído para mais confundir e conflitar legisladores, órgãos de
fiscalização ambiental e empreendedores urbanos” (SANTOS; SCAGLIUSI, 2011)
Considerações Finais
Procuramos nesse texto discutir os instrumentos regulatórios que incidem sobre as
APPs em margens de rios urbanos, considerando o território da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, com um exame particular do caso do Município de
Mesquita.
Constatamos que os diferentes marcos regulatórios existentes (federal, estadual e
municipal, no caso do PD de Mesquita), por serem por vezes conflitantes, induzem a
uma paralisia no tratamento dado pelo poder público às faixas marginais de proteção
de rios urbanos. A análise do caso da Região Metropolitana do Rio de Janeiro
corrobora outras análises (MARTINS, 2006; SANTOS; SCAGLIUSI, 2011) e
evidencia que se faz necessária uma unificação da base normativa que orienta a
proteção das faixas marginais de rios urbanos, de forma que a mesma permita uma
aplicação que não seja genérica, mas que se adéqüe às especificidades dos
diferentes territórios urbanos. A legislação atual engessa a ação dos municípios e
inviabiliza diretrizes apontadas, mesmo para bons planos diretores, como é o caso
de Mesquita/RJ (MELO, 2011).
Essa nova forma da legislação é um desafio a ser enfrentado por planejadores
urbanos, urbanistas, ambientalistas e juristas, posto que ela não pode desconsiderar
a importância da preservação do meio ambiente, nem tampouco a preservação da
FMP, das áreas de baixada e sujeitas à inundação, mas deve garantir o respeito a
função social da propriedade com vistas à moradia digna. Experiências em outros
países mostram que a recuperação ambiental de faixas marginais a cursos d’água,
através de técnicas como a renaturalização de rios e da implementação de medidas
que reduzam os riscos de inundações envolvendo técnicas construtivas e de
urbanismo, são caminhos para promover o uso sustentável dessas áreas,
conciliando qualidade ambiental e direito à cidade.
Referências
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