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Noviembre 2017 Noviembre 2017

CONVERSA COM JAVIER IZQUIERDO SOBRE SEU FILME


EDITORIAL
Se não lemos, não sabemos escrever e, se não
sabemos escrever, não sabemos pensar, disse
O SECRETO EN LA CAJA
por Sebastian Morales
o escritor mexicano Juan José Arreola. A este
respeito, em um artigo do Site Cultura Inquieta,
em um ensaio assinado por Alejandro Mar G, 1) Marcelo Chiriboga é um escritor “esquecido” do chamado
lança-se uma questão: hoje todos escrevem, todos boom latino-americano. Como chegou a conhecê-lo? O
querem expressar seus sentimentos e opiniões, que lhe interessavanesse personagem?
mas quem lê?
Eu soube de Marcelo Chiriboga em um romance de José
Para o Cinema, considerando que ele é uma
Muito
O INVISEVEL
Donoso chamado “El jardim al lado”. O que me interessou
linguagem em si mesmo, pode-se aplicar a
nesse personagem foi o seu potencial metafórico: Chiriboga,
mesma questão: todos veem filmes, todos querem
expressar seus sentimentos e opiniões, mas quem
de alguma maneira,representa uma ausência equatoriana
na recente cena literária e a “invisibilidade” dos escritores
além da
realmente vê?
Escrever sobre Cinema é um ato que nasceu
equatorianos tanto dentro como fora de suas fronteiras.
Por sorte, Donoso não deu muitos detalhes sobre sua vida
montanha
(GABRIEL E A MONTANHA)
em conjunto com o Cinema, como provam
as primeiras crônicas, comentários e artigos
(HÍBRIDOS OS ESPÍRITOS DO BRASIL) Un secreto em la caja, do equatoriano Javier e trabalho, pelo que havia, então, muito espaço para a
por Márcia
Izquierdo, explora um gênero cinematográfico por imaginação. Moreira
por Sergio Zapata
jornalísticos sobre as primeiras projeções com demais estimulante: o falso documentário. O filme
o cinematógrafo dos Irmãos Lumière, no final segue os passos de Marcelo Chiriboga, que seria o 2) Você pode nos falar sobre a maneira como construiu o
Imagens que condensam e transmissão fílmica dos sentidos em cada ambiente (os personagens e as situações) de Chiriboga?
do século XIX. Essa necessidade de entender o um preciosismo tão é um fetiche enquanto sequência, cada imagem representante equatoriano do boom latino-americano. Divido em quatro blocos,
fenômeno cinematográfico não só se resumiaà intenso quanto as engenhoca que acumula e som. Este personagem fictício permite a Izquierdo fazer um o filme GABRIEL E A
mecânica do novo invento, mas àquilo que ele retrato imaginado de seu país e do continente. No A biografia de Chiriboga que elaboramos foi construída
ações que buscam receitas comerciais de O clima eclético que a partir de fatos históricos do Equador e do mundo, MONTANHA já começa
registrava. À medida que o cinema se tornava mais capturar, imagens que uma peça cujo valor envolve a vida espiritual marco do festival Pachamama, cinema de Fronteira, com o fim da história: a
falamos com ele. especialmente no que concerne ao conflito fronteiriço com
complexo em sua forma e se fazia linguagem, o buscam instantes de reside no fortalecimento do Brasil é acompanhado morte do protagonista.
escrever sobre Cinema, ou seja, o pensamento fé, de compromisso da diferença, na por uma abordagem Mas calma, antes que você
interior, imagens que excentricidade próxima aos corpos, aos

EQUIPO DE
gerado em torno dele, também se tornava mais xingue a moça que vos
complexo e saíada esfera de mero espetáculo ou abrem a brecha para antropológica, no depositários da fé em escreve, alerto que isso não
curiosidade. Hoje, a escrita sobre Cinema passa pensar e sentir a erotismo superficial várias oportunidades é um spoiler. O enredo

TRABAJO
pela teoria, pela análise e crítica cinematográfica, experiência religiosa. e na provocação e às relações corporais vai muito além disso, e
e bebe das distintas vertentes do conhecimento Essa experiência miserabilista,enquanto que ela gera. Nessas essa é a riqueza que trás a
interiorem HÍBRIDOS, Vicent Moon e Priscilla visões de HÍBRIDOS obra do diretor brasileiro
humano. Portanto, pode-se afirmar, para nosso
OS ESPÍRITOS Telmon optam por um compreendemos a Fellipe Barbosa, que usou
caso, escrever e ler nos ajuda a pensar sobre o que
DO BRASIL, como registro versátil e leve, relação intrínseca entre as anotações do amigo para
vemos, então o ato de ver não é necessariamente retrato etnográfico privilegiando o trabalho fé e corporalidade, fazer seu primeiro longa-
suficiente para entender. musical,escava no sonoro de Moon, já corporalidade em sua DIRECÇÃO metragem.
Prazer da Mirada é um jogo de palavras em vórtice iconográfico familiarizado com o dimensão totalizadora de
espanhol e português, é o nome do espaço criado
Marcelo Cordero
a possibilidade de registro de som em recipiente de forças e/ou Baseado em fatos reais,
em 2014 no site do V Festival Internacional momentos autênticos. rituais religiosos criando laços espirituais com um o filme fala de Gabriel
PachamamaCinema de Fronteira e que é reservado A autenticidade nas um universo espiritual mundo invisível. COMITÊ DE EDITORIAL Buchman, um jovem
ao material crítico e jornalístico produzido durante imagens e na criação que permite a entrega A possibilidade de pensar economista de família
o evento. Hoje esse espaço comemora 4 anos
Sebastian Morales rica que decide fazer um
de vida e chega a sua versão impressa com a Marcelo Miranda intercâmbio na África. De
sorriso fácil, o personagem
intenção de alcançar de forma mais objetiva, José Romero já nos ganha nos primeiros
direta,o público que prestigia o evento, além
momentos do filme, quando
de ser memória do mesmo. Embora o virtual o Peru, que marcou o país os mapas oficiais. Nesse
facilite a publicação e circulação de informação e COLABORADORES durante boa parte do século sentido, me interessava
as crianças da família
simples que o hospedou
conhecimento, isso não significa que ele melhore Márcia Moreira XX. Vários personagens e explorar a ficção da História, pediu que ele compartilhasse
seu alcance, considerando que, hoje, a Internet, ambientes surgiram a partir e o falso documentário se
apesar de ser uma ferramenta que ajuda a Sergio Zapata desta biografia marcada por prestava muito a isso.
uma canção do Brasil.
Como resposta, os meninos
democratizar, também dispersa a atenção devido guerras, exílios, etc. também entoaram um coro
4) Luis Ospina, em Un tigre
ao excesso de conteúdo que oferece, muitas vezes IDENTIDADE VISUAL 3) A literatura, a ficção, o de papel, faz um retrato
musical ao visitante.
prejudicando mais do que ajudando. Pensamos
que uma publicação impressa ajudará o público Guilherme K. Noronha documentário, a verdade e de um personagem muito A história segue como
a mentira se misturam em parecido com Chiriboga.
a se conectar melhor com o Festival e sua gknoronha.com seu filme a tal ponto que O filme de Ospinafoi uma
um filme de estrada que
programação, além de ser uma ponte de diálogo mostra nuances da troca de
não é possível diferenciar influência em seu filme? cultura, abrigos e amizades.
e encontro com os curadores do evento e um
motor para incentivar o pensamento e a reflexão
e ver o invisível é a provocação inicial, sustentada vez, é web, pretende IMPRESSÃO entre um e outro. Por sua Gentileza em meio a um
durante o filme, de testemunhar esse gesto, essa gerar diálogos sobre fé e vez, o filme fala sobre o seu Eu vi Un tigre de papel
cinematográfica na população de Rio Branco, pulsão visível que vagueia na música e nos cantos, cinematografia, formas
Cerro Azul S.R.L país, o Equador. A história enquanto estava
mundo de simplicidade.
Companheirismo. Colo
cidade sede doPachamama. Deste modo, a versão nos corpos em transe ou simplesmente na procissão, de ver a experiência do Equador (e da América desenvolvendo Un secreto amigo. Emoção. Uma grande
impressa é uma extensão da apresentação virtual. na comunidade reunida no acompanhamento interior e as formas Latina) é uma ficção? enlacaja, e ele me deu
Esta publicação foi editada a partir dos textos
DESIGN E DIAGRAMA várias pistas de por onde eu
busca da que le jovem pelo
coletivo. Dividido em atos, este projeto que, por sua de transmiti-lo com as autoconhecimento.
enviados por nossos curadores e colaboradores, ferramentas não apenas Alexandro Sandoval Embora todos os países poderia ir. Eu sempre disse A morte precoce de Gabriel
do cinema, mas também sejam construções, em que ele é uma referência
que produziram os conteúdos livremente, tendo Panda Kreat - Ingeniería Creativa nenhum lugar isso é tão chave para o meu filme e,
ocorreu ao tentar subir o
como único indicativo escrever sobre o que multimídia. Monte Mulanje, localizado
consideram mais relevante na programação. O A hibridez de HÍBRIDOS evidente quanto na América embora os dois trabalhos no continente africano.
que não quer dizer, de nenhum ponto de vista, permeia todo o olhar La Paz – Bolivia Latina, onde a maioria compartilhem coisas como A montanha – de três
que o enfrenta, pois nos dos países têm conflitos usar um artista fictício mil metros de altitude e
que os filmes não são falados aqui sejam menos
obriga a reacomodar limítrofes entre si. O conflito para explorar a história de altamente arriscada – ganha
importantes. de fronteira com o Peru seus países, também têm
nosso olhar sobre os protagonismo junto com
Esperamos que esta publicação seja o início de é algo que me obcecava diferenças como o fato de
invisíveis e suas forças, o rapaz no título do filme.
algo maior e que convide a pensar, dialogar e desde pequeno, pelo uso que em Un tigre de papel os
como também pensar Mas a trama vai muito,
refletir sobre o Cinema e tudo o que ele abarca, o lugar do documento político que lhe foi dado entrevistados são pessoas mas muito além do que seu
paraalém do próprio Festival. audiovisual (e sonoro) e/ durante anos no Equador, reais e em Un secreto em nome propõe. □
ou etnográfico. □ chegando mesmo a alterar lacaja são todos fictícios. □
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RELATÓRIO CENTRAL nisso em sua filmografia? Se estou certo em

ZAMA,
minha observação, você crê que ZAMA é o ápice
dessa obsessão de entender, revelar a estrutura
social de nossos países, do seu país?

Gostaria que fosse assim, mas não o creio. Os


filmes revelam muito pouco, e muito lentamente.
Pelo menos os meus. Mas devemos tentar ver
a falha, esse detalhe insignificante que um
dia nos permite compreeender com claridade

DE
meridiana que a realidade é uma construção,
que somos seus autores e podemos modificá-
la. Temos construído, sobre um mistério sem
sentido como é a existência, uma ostentação
cheia de expectativas para cumprir. É encantador
tanto esforço e quão bem conseguimos nos fazer
acreditar que há um sentido na estadia neste

LUCRECIA MARTEL
planeta. Como aceitamos trabalhar tantas horas
por duas semanas de férias? Quantas semanas de
férias ou horas dedicadas à própria felicidade há
em uma existência? Em nosso sistema, fazendo
contas, a duas semanas por ano, em uma vida
profissional que vai dos 20 aos 70, teremos tido
mais ou menos, 50 por 2, 100 semanas de férias,
por Marcelo Cordero vou adicionar fins de semana para não deprimir
seus leitores, 8x12x50, 4.800 dias, divididos Em La Niña Santa, o personagem de Alejandro Mas, acordados, podem mais os que têm mais
por 7, 685,71 (calculadora do telefone). Então Urdapilleta, uma glória argentina que partiu há dinheiro. Parece que o problema, no final, é o
girar o sentido, que são esses sons que se vão estamos falando de 685 semanas em uma vida, uns anos, olhava para o relógio de quando em dinheiro.
organizando na cabeça enquanto eu leio, o que em uma vida de alguém da classe média, é claro. quando para ver a hora, não porque tinha algo a
eu realmente estou fazendo enquanto leio? Tenho Dividido por 4, cerca de 196 meses. Com certeza fazer, mas porque tinha visto que assim faziam Você é existencialista, niilista, ambos?
algumas hipóteses, audazes, mas por enquanto me equivoquei nas contas. Meio ano de tempo os grandes. Creio que um adulto é um mau ator,
para fazer mais ou menos o que queremos em quer interpretar um ser humano, mas este não Ninguém é nada, porque ninguém é tão obediente.
chamaremos Infectio. Um veneno está entrando
uma vida, dançar, ouvir música, conversar, jogar, aparece. Creio na humanidade, com seu horrível poder
em mim, e serei modificada para sempre. Por isso
conhecer lugares, falar despreocupadamente. destrutivo, e com sua infinita capacidade de nos
eram queimados na fogueira, como as bruxas,
Deveríamos tatuar nos bebês esse número ao Diego de ZAMA está preso entre o conservadorismo, surpreender com suas invenções. De um avião se
porque um livro é algo extremamente perigoso. E
nascer, e assim que aprendessem a caminhar o tédio, a mediocridade e as causas perdidas. A vê como modificamos a superfície desta bolinha
afortunadamente temos convencido as crianças
fugiriam de nossas casas. Se tudo é tão absurdo, falta de pertencimento geográfico é outra questão cósmica, somos uma praga fosforescente que
a jogar em um Play Station. Diga em uma escola
é necessário sermos mais criativos com o que é trabalhada no filme. Todos, exceto os índios, transformou um planeta opaco em uma jóia de
que está completamente proibido ler os livros da
capitalismo. são forasteiros. O personagem principal sempre luzes. Com uma olhada a 33 mil metros de altura, é
Biblioteca, e as crianças, no intervalo, entrarão
caminha para o abismo, para sua decadência, ele impossível não se orgulhar de ser humano. Eu diria
pelas janelas para saber do que se trata. Outra
O fantástico é um elemento presente em quase inevitavelmente me remete para os defeitos da que a 10 mil pés de altura sou positivista, posso
confusão enorme, a pior de todas, é acreditar que
todo o filme, especialmente na última parte, em nossa sociedade mestiço-crioula. Pode comentar festejar até uma explosão atômica. O problema
os livros contam uma história.Os livros relacionam
que você cria um mundo onírico, imprevisível e um pouco a respeito? Os índios, que papel que é que há outra escala, ao nível da superfície da
fatos como quem ilumina com uma lanterna o
fora de controle, quase uma fábula. O livro de Di desempenham na sua vida, na sua filmografia? Terra, e parece algo de que é impossível escapar,
pedaço de terra pelo qual avançamos à noite.
Benedetto convida a isso, no entanto, por sua vez, há um bem-estar que se sustenta com base no
Mas onde estamos? Para onde vamos? Bem, uma
é uma continuação, por exemplo, de seus filhos Os índios são pessoas que não conheço, porque sofrimento e no sacrifício de outros. E estou certa
vez que se produz a Infectio, nosso corpo muda.
caçando na floresta em La Ciénaga. Dentro da em nosso continente foi decidido que não valia a de que é possível engendrar um bem-estar que
Organicamente. No futuro poderá ser detectado
sua filmografia existem lugares onde os adultos pena conhecer. De longe me dão curiosidade, e de não precise da carência. Ao nível da superfície da
com uma tomografia especial, imagino, com
não podem entrar ou não estão interessados perto sinto muito pena pelo resto da população, Terra, sou mística.
um exame de sangue muito cuidadoso. O que
chamamos de obra-prima literária são infecções em conhecer. ZAMA, quando empreende a nós, os criollos, que maneira de perder coisas. Na
campanha militar em busca de Vicuña, é como minha filmografia, me recordam a barbárie, nossa Em que projeto está trabalhando agora?
particulares, que nos impulsionam a outra coisa,
por exemplo, se alguém sabe fazer filmes, faz uma dessas crianças. Por favor, você pode barbárie. Já o disse mil vezes em muitas notas, Estou prestes a apresentar uma ópera no Teatro
Lucrecia Martel volta ao cinema com ZAMA, O que acontece com Diego de ZAMA aconteceu um filme, se é nadador, cruza o Rio Paraná ou o comentar a respeito? e volto a dizê-lo, porque é algo que deveria ser Colón. Meu trabalho é apenas a puestaenescena.
depois de quase 10 anos desde a estreia de sua comigo, acontece, acontecerá muitas vezes Canal da Mancha. Depende. apregoado nas ruas: durante o casting de ZAMA É a primeira vez que não consigo trabalhar
última película, Mujer, que conseguiu se tornar na minha vida. Nós inventamos um mundo de Creio que você o descobriu. Deixou-o a na comunidade de Qom, nós nos contávamos construindo o som. Mas eu descobri a música. E
conhecida como uma obra prima perfeita. La esperanças, de sacrifícios presentes que serão O som desempenha um papel fundamental em descoberto. Não creio que existam os adultos. sonhos, os sonhos de quando dormimos. E nos não direi o que é.
Cienaga, que a impulsionou ao olimpo dos grandes compensados mais tarde. É muito difícil não seus filmes, não é um elemento que apenas Não tenho certeza, mas acontece que não sonhos podíamos voar, respirar debaixo de água,
diretores de cinema latioamericanos e cada um ser ZAMA. Eu relaciono isso com a identidade, acompanha, mas constrói significados. Você conheci um só adulto na minha vida. Um instante conversar com os animais, tínhamos medo de Resposta opcional: O que é cinema para você?
dos seus filmes seguintes, só reafirmaram a com ser alguém. Em nosso planeta humano ser pode compartilhar um pouco o papel que o som que te ponhas a falar com alguém, com tempo, cair, nos perseguiram e não podíamos correr.
genialidade desta diretora. alguém é cumprir muito mais com os sonhos representa em sua obra? sem pressa, e imediatamente fica em evidência. Éramos bons e éramos maus, como sempre. Compartilhar. □
Martel é uma crítica ferrenha a burguesia dos outros do que com os próprios. Soa insano? O som tem uma força referencial enorme, mas,
“salteña” (de Salta, Argentina) e a toda classe Assim nós estamos. por si mesmo, não é prova de nada. Se eu vejo
burguesa da América Latina. Em suas obras, uma mesa, eu digo, vi uma mesa, ou ao menos
revela de maneira sutil as estruturas sociais Que elementos você encontrou na obra de Antonio algo onde eu posso apoiar outras coisas; em
de dominação e o poder presente nas relações Di Benedetto com os quais se identificou? suma, é muito difícil que a imagem da mesa me
humanas e sociais. É uma provocadora da moral, revele que era um animal e eu tinha visto mal.
com uma honestidade que incomoda por seu grau Reconhecer o redemoinho em que estamos Mas se eu arrastar uma mesa, esse som pode
de cinismo. Lucrecia conseguiu criar um universo presos como o macaco do início do romance, e ser de muitos tipos de móveis. Pode ser inclusive
próprio onde forma e conteúdo dialogam através não poder impedir que continuemos a dar voltas, um animal. Quer dizer, o som pode nos dar uma
de um cinema que se constrói em um ângulo de estar por irmos e não irmos. A inutilidade de referência imediata, que não podemos assegurar
360 graus. esperar, que não é o mesmo que se apressar. por completo. Isso é um estado mental. Creio que é
ZAMA, filme baseado no livro homônimo do Esse é talvez o problema mais delicado, o uma mesa, mas eu não o juraria. Tenho que juntar
escritor argentino Antonio Di Benedetto, é talvez contrário de esperar não é acelerar. E algo que mais elementos para sustentar essa afirmação.
o mais importante filme já feito nessa década nos impulsionou, o poder de criação que tem Esse estado de percepção é extremamente fértil.
na América Latina. Na oitava edição do Festival esse romance. Se alguém lê um livro ou vê um Em meus filmes, apostamos nisso.
Internacional Pachamama – Cinema de Fronteira, filme que lhe tira a força, então algo anda mal.
dialogamos um pouco sobre o filme e sobre a Uma coisa é nos angustiarmos, e outra é nos Tanto em ZAMA quanto em seus filmes anteriores,
forma de trabalho da diretora, suas obsessões, debilitarmos. algo que me impressiona: é como você trabalha
seu universo e seus próximos projetos. o fora de campo. Você consegue apenas com a
Quais são os desafios que você encontrou no insinuação descrever em 360 graus personagens,
Quando e como nasceu ZAMA? trabalho de adaptação? Como você entende o contextos sociais, culturais, etc. Pode comentar a
Cinema em relação à Literatura e vice-versa? respeito?
ZAMA, o romance, me foi dado de presente por Como foi o trabalho de tradução de palavra a
uma amiga quando eu a ndava investigando imagem? É uma pergunta impossível de responder. Me
coisas sobre a mecânica dos rios, e sobre o diverte a sua impudência.
direito à propriedade nas margens dos rios. Em Me custa usar a palavra adaptação, porque eu
2005. Mas eu não o li, até 2010, quando levei penso em um sapato que dói quando eu o compro, Na sequência da pergunta anterior, penso que seu
muitos livros que não havia lido a um barco, para mas se eu suportar o incômodo por um tempo, o cinema é ultrapolítico e crítico, revela relações de
fazer uma travessia de Buenos Aires a Asunción. pé acabará por alargá-lo A idéia de adaptação é poder, fala sobre gênero, sexualidade, machismo,
Nunca cheguei a Asunción. Mas eu li ZAMA. E se acostumar com algo para que logo esse algo racismo, etc. Você descreve e critica certos tipos
naquele mesmo dia pensei que queria fazer ceda. E o sapato se deforma um pouco, já não de condutas que se manifestam, por excelência,
um filme, não como um desafio de levar para o é aquela coisa preciosa que compramos, parece em setores da classe média e alta, onde a cor
cinema um romance que parecia impossível, mas uma empanada. E o pé terá que ser curado dessas da pele e a tradição são, em geral, elementos
como alguém que escava um túnel para sair de bolhas. A passagem da literatura para o cinema que marcam nossas sociedades. ZAMA não está
um mundo fabuloso a outro desconhecido. eu vou chamar, de agora em diante, Infectio. Para isento disto; no entanto, penso que vai muito
dar um toque clássico. Nós lemos um livro, sem além, porque a obra te permite ir ao Gênesis
Qual foi o gatilho que te levou a dizer: levarei esta saber exatamente o que estamos fazendo. Que desses provincianismos, como penso que os
obra ao cinema? é essa ordem das palavras, dessa maneira de denomina. Quais são os motivos para insistir
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Entrevista com Fernanda Pessoa


O cinema como pulsão de vida

HISTÓRIAS QUE NOSSO ENTREVISTA COM MARÍA ÁLVAREZ,


CINEMA (NÃO) CONTAVA por Marcelo Miranda
DIRETORA DO FILME LAS CINÉPHILAS por Sebastian Morales Escoffier

LAS CINÉPHILAS, filme que faz parte da fazer outras coisas. Ir para um museu,
seção competitiva do Festival Pachama- por exemplo, mas isso requer andar e
1) O filme constrói uma ro das coisas, fazendo o chanchada” não condizia ma Cinema de Fronteira, é a obra-pri- ficar muito tempo de pé. Não há tantas
espécie de “contra-narra- personagem sussurrar ou com essa noção, por isso ma da argentina María Álvarez. O filme coisas para fazer às cinco da tarde que
tiva” do golpe militar de escrever o valor. Eu quero não era reconhecida como parte de uma premissa muito simples: combinem suas necessidades físicas e
1964 e da ditadura atra- saber quanto custa o ca- cinema popular. explorar o mundo das cinéfilas, mulhe- intelectuais. As protagonistas do docu-
vés das comédias eróti- rro que ele está compran- Também acho importan- res mais velhas que passam os dias mentário são sábias e buscam em torno
cas do cinema brasileiro. do, a proposta que está te dizer é que eu não faço indo a salas de cinema. Com sua econo- ferramentas para se sentir bem. E sim,
Como se deu a escolha fazendo, etc. uma “defesa” da “porno- mia de recursos, o filme se constitui, em oxalá eu possa fazer o mesmo e man-
por fazer o filme a partir chanchada” (e aí também plena era digital, num manifesto, em tenha algo da curiosidade que elas têm
uma defesa do cinema em sua máxima aos oitenta anos.
desses arquivos e desse 3) Na sua visão, quais entra a questão do nome Diretor de POLÍTICA DOS CORPOS, Alice Riff
expressão. Acompanhar ao longo do
imaginário? os principais motivos de pejorativo que os críticos filme essas mulheres, que encontraram No site Cineargentino.net você publicou
as comédias eróticas te- deram para denominar
Na realidade, a minha rem se tornado motivo de uma série de filmes bas-
nas salas escuras uma afirmação da
vida, implica reconhecer o bem que faz
algumas anotações sobre a montagem
de “LAS CINÉPHILAS”, onde você pro-
MEU CORPO É POLÍTICO
pesquisa sobre esse pe- chacota e serem tão mal tante heterogêneos, afe- o cinema como alimento para a alma. põe que editar é escrever. Você pode por Sergio Zapata
ríodo do cinema brasilei- falados ao longo da his- tando assim a recepção A seguir, propusemos um diálogo com nos explicar essa relação no caso espe-
ro começou bem antes do tória do cinema brasilei- deles). O meu filme não é María Álvarez. cífico do seu filme?
filme. Eu trabalhei na fil- a ideia de começar a olhar tem um texto em que fala ro? A quem interessava o para dizer “olha só como
moteca da FAAP, onde sou discurso corrente de que esses filmes eram bons na Essas notas eu escrevi enquanto edi-
os filmes da “pornochan- que nesses filmes “en-
tava este documentário. Para mim, o
formada em cinema, com chada” com um olhar his- contra-se quase tudo: to- eram filmes alienados? verdade”. Os filmes têm trabalho de edição e a escrita são muito
o acervo de fotografias do tórico e comecei a pensar das as soluções possíveis, coisas boas e coisas ruins, parecidos. Você escreve em uma folha
cinema brasileiro, sob a no que fazer com isso. imaginárias e originais” Eu acho que em primeiro o que eu quero mostrar em branco e edita em uma folha pre-
direção do Máximo Barro, Num primeiro momento, e eu concordo. Esses fil- lugar tem a acusação do é que eles são um retra- ta. Editar um documentário é escrever
montador de vários filmes pensei em fazer uma sé- mes tinham uma liberda- “mal gosto” desses filmes, to dessa época e revelam em uma folha preta, onde você tem o
dos anos 1970. A maioria rie de vídeos curtos, algo de formal muito grande e que é onde a esquerda e sim muitas coisas sobre material bruto e deve raspar para que
das fotos que eu cataloga- mais a ver com a videoar- por isso tem planos muito a direita encontravam os anos 1970 no nosso vão aparecendo as letras e as palavras;
va eram dessa época. Foi te, mas depois eu percebi ousados, histórias muito Por que você escolheu mulheres mais e depois combiná-las para criar frases
aí que eu tive a minha velhas para falar sobre cinefilia? e sentidos. Minha cabeça funciona da Os corpos como um espaço corpo é políticocostura
que a forma ideal seria ousadas, e diálogos ab- mesma maneira quando escrevo. Quan-
primeira aproximação a um longa-metragem. Eu surdos que a gente nem do eu edito soma-se a parte técnica, de resistência, como um universo de vozes,
Desde que eu era estudante de cine-
essa filmografia. Durante assisti mais de 130 filmes pensar em ver no cinema ma, venho compartilhando funções da que para mim é muito pesada porque a espaço de enunciação cenários e corporalidades
esse trabalho, eu descobri para selecionar 30 e final- brasileiro atual. Eu acho tarde com mulheres mais velhas. Nós domino pouco, mas a maneira de pen- do presente, da que resistem e circulam
um filme que chamava “E mente trabalhar com 29. que a maioria desses fil- que vamos ao cinema nesses horário- sar o relato é a mesma. identidade. O corpo como em imagens, espaços e
agora José”, subtítulo: “A mes não necessariamen- sas vimos e as vemos todo o tempo. instrumento político o imaginários, seja eles
tortura do sexo” e esse fil- 2) Na montagem, o filme te carrega um discurso Eles estão lá, mantendo essas funções. O que lhe disseram as cinéfilas depois feminismoo denunciou cinematográficos ou
me me intrigou muito. Foi manipula cenas e sequên- politico escondido, mas Decidi retratá-las porque me identifi- de assistir o filme? há décadas, nos lembrou sociais, buscando ser
com esse filme que eu per- cias de forma a apresen- eu acho que eles são sim quei com elas no futuro. Não é que eu que o corpo é um espaço vistos, ouvidos e cuidados.
vá ser como elas, eu já sou como elas, “LAS CINÉPHILAS” é um documentário
cebi que tinha algo a mais tar os discursos dessa retratos de uma época, e campo de luta. A partir
com quarenta anos a menos. E nesses independente que, por circunstâncias
nessa filmografia, mas eu “contra-narrativa”, que principalmente porque de minha vida pessoal, foi filmado em da corporalidade, nos A câmera como um corpo
próximos quarenta anos, se eu tiver
não sabia ainda muito sai do oficial para aden- a maioria deles lidava a sorte de vivê-los,provavelmente me três países: Argentina, Espanha e Uru- constituímos no espaço ocupando os espaços,
bem o que era. Quando trar a ironia, a alegoria e com situações cotidia- acontecerão coisas semelhantes às que guai. A maioria das protagonistas do público e evitamos lutas sendo cúmplice neste
eu fui fazer meu mestra- até o burlesco. Você acha nos de pessoas da classe elas viveram e vivem. E são mulheres documentário não usa celulares nem no mesmo, Alice Riff exercício de olhar que
do em Paris, em 2012, eu que aqueles filmes carre- trabalhadora e da classe porque, estatisticamente, as mulheres computadores. A logística para que eles tomando o cinema, outra é meu corpo é político
fiz uma aula sobre a re- gavam discursos políticas média. Eu acredito que têm uma expectativa de vida dez anos vejam o documentário em uma tela arma de resistência, que obriga a pensar na
utilização de imagens no disfarçados? todo filme revela algo de maior do que os homens. O documen- grande, a única maneira que concebem a noção dos corpos no política dos corpos, como
cinema experimental e lá tário retrata esses últimos dez anos de de se ver um filme, é complicada. Nor- espaço desde o cotidiano, uma reflexão onde o corpo
histórico sobre sua épo-
vida. ma e Estela, as duas senhoras argen-
eu vi um curta-metragem Quando eu comecei a ca, mesmo que essa não razão em comum para país. a organização e a vida é objeto das políticas, pelo
tinas, apresentaram o filme na BAFICI
chamado “A queda do co- pesquisa, eu acho que eu seja a intenção original falar mal desses filmes. e já o viram várias vezes. Estela está social, para ingressar-nos que deve ser constituído
“LAS CINÉPHILAS” propõe uma visão
munismo vista pelo pornô tinha uma visão bem pre- do autor/diretor. Mui- Para a crítica de esquer- 4) Uma pergunta de espe- um pouco nostálgicade se aproximar viajando agora mesmo para apresentar no universotrans de São em sujeito da política
gay”, do William E. Jo- conceituosa desses filmes. tos desses filmes fazem da (com exceção de al- culação: existe um filme do cinema, entendido como esse ritual o filme em um Festival de Cinema. Elas Paulo. Tomando como para emancipar-se, e o
nes, que começa com a se- O que eu descobri é que críticas morais, mais do guns poucos críticos como ainda a ser feito com as de entrar em umasala escura. Você duas estão surpresas com o impacto estratégia o testemunho e cinema acompanha essa
guinte frase: “Mesmo em existe uma grande varie- que politicas. Eu diria Jean-Claude Bernardet “globochanchadas” e com compartilhacom seus personagensesta que o documentário teve em suas vidas, um encenação coral, Meu ação política e militante.□
um lugar improvável, é dade de filmes produzidos que maioria desses filmes e Paulo Emílio Sales Go- as comédias atuais do ci- forma de amar o cinema? a esta altura não esperavam participar
possível encontrar traços na época e que eles são não tem voluntariamen- mes), esses filmes eram nema brasileiro? de uma viagem assim. Paloma, uma
da nossa história recen- Eu não acho que seja uma forma nos- das duas “cinéphilas” espanholas, está
muito diferentes entre te um discurso político, e de mal gosto, despolitiza-
tálgica, é mais nostálgico ficar em casa. agora mesmo nos acompanhando em
te”. Quando eu vi esse fil- si. A Andrea Ormond, no talvez uns 10% tenham dos, alienantes, etc. Para Como eu disse anterior- um Festival de Cinema na Espanha,
É pulsão de vida. Ter a curiosidade e
me e li essa frase, eu tive site “Estranho Encontro”, sim essa pretensão politi- a direita, a censura, etc, mente, eu acredito que forças para sair de casa e viajar ou ca- para assistir o filme pela primeira vez
ca, principalmente os fil- esses filmes eram amo- todo filme revela algo so- minhar até o cinema todos os dias. Isso no cinema esta tarde. Veremos o que
mes da Boca do Lixo em rais, prejudicavam a boa bre a sua época. Eu tenho é saber estar sozinho, ter um mundo diz. Chelo e Lucia verão no final do ano.
São Paulo, de diretores educação do povo brasilei- certeza que se algum dia interior forte e desperto. Elas poderiam Assim que depois eu conto a você. □
como o Ody Fraga, Jean ro e mostravam uma ima- olharmos as “globochan-
Garret e Alfredo Stern- gem pejorativa de Brasil. chadas” com uma distân-
heim. Uma coisa que me Ninguém gostava da por- cia histórica e com um
surpreendeu muito é que nochanchada, a não ser o olhar voltado para isso,
eles sempre falam em va- público, que ia em massa encontraremos coisas
lores, números. Dá para ver esses filmes no cine- muito reveladoras sobre
saber quanto custavam ma. Acho que também a nossa época. Eu con-
os itens diários, quanto tem a ver com uma certa fesso que não tenho assis-
era considerado muito noção do termo “popu- tido muito esses filmes,
dinheiro, etc. Eu não gos- lar”. Acredito que muitas então essa tarefa vai ter
to desse truque que mui- vezes temos uma noção que ficar para algum pes-
tos filmes usam de não de popular e povo bastan- quisador ou cineasta no
revelar o valor em dinhei- te idealizada, e a “porno- futuro.□
P8 PRAZER DA MIRADA
Noviembre 2017

“O NO DUDIABLO”

Entrevista a Ramon Porto Mota por Marcelo Miranda


3) Algo que chama atenção que ela foi e é. Essas imagens tem também Mario Bava,
no filme é a não-fetichização precisam sair desse extra- Dario Argento, Lucio Fulci,
da violência, ainda que seja campo do “bom gosto”. TobeHooper, Wes Craven, Ser-
um filme muito violento. Como gio Leone, Sion Sono, Kiyoshi
lidar com esses equilíbrios de 4) O cinema de gênero, em Kurosawa. Além de cineastas
representação e de aborda- especial o horror, historica- que não estão ligados ao ci-
gem em algo tão delicado? mente produz filmes de forte nema de horror como Howard
Acho que ai só há uma forma: carga política, a exemplo de Hawks por exemplo. A lista
ser franco e direto, pegar a nomes como George A. Ro- obviamente é de uns 17 anos
câmera apontar, filmar (que mero e John Carpenter. Quais de cinefilia.
em inglês seria o shoot veja). foram as principais referên- Sobre a originalidade, veja,
Por conseqüência escolher cias em “O Nó do Diabo” e, ao elogio em boca própria é vitu-
1) O filme surgiu como série 2) Do ano de 2018 para um lado na história e ficar mesmo tempo, em que medi- pério, quem sou pra cantar a
de TV e foi montado de forma 1818, “O Nó do Diabo” retro- com esse lado, talvez ai de da vocês enxergam a origina- originalidade do nosso trabal-
a ser exibido como um lon- cede na história brasileira uma forma bem hawskiana. lidade do filme? ho? Acho que isso ta na mao
ga-metragem em episódios. tendo a escravidão como A responsabilidade reside aí, Carpenter e Romero são o dos espectadores do filme/
Você sempre pensou o pro- elemento central das tramas creio. Indo mais além, acre- que mais saltam aos olhos, seriado. Ainda assim, acho
jeto assim? Como percebeu e também como constitutiva dito que o uso da violência puxando a primeira leitura que há muito o que caçar ali,
que ele poderia render um das relações de trabalho e no Nó se aproxima muito da desse horror político, mas veja aqueles mortos vivos. □
filme maior? de poder no país. Deve ser o questão do cinema vulgar.
Escrevemos o Nó do Diabo primeiro filme de terror brasi- Ser frontal, agressivo é causa
pensando nos dois formatos leiro ambientado em tempos para criar imagens poderosas
de exibição possíveis. Assim de escravidão. A escolha pelo que contem aquela história
não houve nenhuma grande gênero surgiu atrelada ao de violência que está na tela,
questão durante a produção tema ou havia o tema e vocês e que, pasmem para alguns,
ou pós-produção sobre isso. aplicaram o verniz do horror? aconteceu e acontecem no
O filme/seriado era aquilo Acho que essa pergunta é um dia a dia desse país. Justo por
que estávamos escrevendo pouco a história do ovo ou da isso, vamos diretamente de
e os episódios poderiam ser galinha. Pra gente as duas encontro a um “bom gosto”
exibidos juntos ou separados, coisas sempre estiveram jun- estabelecido de como essa
em salas de cinema ou em tas desde o início e sempre violencia pode ser representa-
televisões. No fim, ser um foram postas de maneira a se da, por acreditar que não há
seriado ou um filme é só um entrelaçarem e contarem o fil- como filmar a história dessa
suporte de exibição, tal como me que a gente queria contar. país, da escravidão, sem re-
um DCP ou um DVD. presentar em tela a violência

UM DIRETOR ARGENTINO SINGULAR


EDUARDO CASTRO APRESENTA “LA NOCHE”
por Marcelo Miranda
Edgardo Castro com La noche explora territórios
sinuosos e malcuidados, as relações entre perso-
nagens trans e homossexuais da cidade de Buenos
Aires. Durante a noite é que ingressamos neste
universo carregado de planos fechados, câmera na
mão e sons estridentes onde os corpos se aproxi-
mam e se reconhecem acompanhados de um olhar
que reconhece esse espaço, o diretor é o protago-
nista.

Registro rápido, à velocidade da metragem, do


sexo explícito, o transitar pela noite e a solidão,
Edgardo Castro situa La noche dentro da cinema-
tografia mais vida, irreverente, comprometida com
o cinema e as margens do real, porque a La noche
é uma ideia e um lugar onde vivem centenas de
pessoas.
Filme que pode servir para incomodar, refletir cer-
tos códigos sociais e, o principal, o cinema argenti-
no dos últimos tempos. □

APOIO CULTURAL

El Mar es un derecho, #incubadora


recuperarlo es un deber.

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