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AULA 08 INTERPRETACAO DE TEXTO. DISCURSO DIRETO E INDIRETO. ARGUMENTAGAO. PRESSUPOSTOS E SUBENTENDIDOS. Sumario Tipo x Género... A narracéo.. Tipos de narrador.... Tipos de discurso do narrador Discurso direto... Discurso indireto .... Discurso indireto livre ... Passagem do discurso direto para o indireto:. Exemplos de conversao de discurso direto para o indireto. Opinio do autor/narrador .. Descric&o.. Dissertagao.... Texto dissertativo expositivo (puro) informativo: Texto dissertativo expositiv Texto dissertativo argumentativo/opinativo: Operadores argumentativos: A estrutura argumentativa.. Introdugéo .. Férmulas de introdugéo... Desenvolvimento..... Estratégias para desenvolver um paragrafo argumentat TEXTO INJUNTIVO/INSTRUCIONAL... Interpretag&o e compreensio .. Julgamento de Assertivas: principais erros. RESUMO Lista de questes. Gabaritos.... 1 de 119 Prof. Felipe Luccas Rosas -concurseiresuaidoemrgeiros °7-PT Consideracoes Iniciais A tipologia textual se refere fundamentalmente ao tipo de texto e a sua estrutura e apresentacéo. Diferencia-se um tipo do outro pela presenga de certos tracos linguisticos predominantes, que servem a uma finalidade. Narrar é contar uma histéria, descrever é caracterizar estaticamente, dissertar é expor ideias, seja para defender uma tese, para demonstrar conhecimento, para polemizar uma questdo, entre outras finalidades. Importante esclarecer, de plano, que é incomum um texto totalmente fiel as caracteristicas de um tipo textual. Geralmente os textos trazem elementos narrativos, descritivos ou dissertativos simultaneamente e sua classificacdo sera baseada na predominancia ou na prevaléncia de uma delas, em coeréncia com a finalidade principal do texto. Uma dissertac&o pode trazer trechos narrativos e descritivos e ainda assim seré classificada como um texto dissertativo, se ficar indicado que o objetivo era expor ideias e defender uma tese. Normalmente, em concursos publicos, as bancas examinadoras tém cobrado com mais profundidade o tipo dissertagao e suas subvariantes argumentativa e expositiva. A descrig&o quase nao é cobrada, por ser muito facil de identificar, mas também deve ser estudada, pois permeia os outros tipos de texto e pode induzir 0 aluno a marcar que um texto é uma descric&o pura... O género textual é um conjunto de caracteristicas comuns de um texto. E um conceito mais especifico que 0 conceito de “tipo” textual, que se define fundamentalmente pela “finalidade”. Por exemplo, o “tipo” narragéo tem varios “géneros”, como romance, fabula, boletim de ocorréncia, didrio, piada, ata, noticia de jornal, conto, crénica. O “tipo” injuntivo/instrucional tem géneros como a receita culindria, o manual de instrugées, 0 tutorial. 0 “tipo” descritivo inclui varios géneros, como cardapios, antincios, panfletos. © “tipo” dissertativo abarca, por sua vez, artigos de opindo, matérias jornalisticas, monografias, ensaios cientificos, editoriais. Por exempolo, a fébula é um texto narrativo alegérico, de texto curto e linguagem simples, cujos personagens sdo animais personificados e refletem as caracteristicas humanas, como a preguica, a previdéncia, a inveja, a falsidade, a coragem, a bondade. desfecho da fabula transmite uma licgo de moral ou uma critica a comportamentos humanos. Veja um exemplo. ‘A Gigarra e a Formiga Num dia soalheiro de Verdo, a Cigarra cantava feliz. Enquanto isso, uma Formiga passou por perto. Vinha afidigada, carregando penosamente um grao de milho que arrastava para o formigueiro. - Por que no ficas aqui a conversar um potico comigo, em vez de te afadigares tanto? — Perguntou-lhe a Cigarra. - Preciso de arrecadar comida para o Inverno —respondeu-Ihe a Formiga. — Aconselho-te a fizeres 0 mesmo. ~ Por que me hei-de preocupar com o Inverno? Comida nao nos falta... -respondeu a Cigarra, olhando em redor. A Formiga nao respondeu, continuou o seu trabalho e foi-se embora. Quando 0 Inverno chegou, a TT Prof. Felipe Luccas Rosas jconcurseiresuaidoeargeiros °7-P 2de 119 8 - Felipe Luccas Rosas Cigarra nao tinha nada para comer, No entanto, viu que as Formigas tinham muita comida porque a tinham guardado no Verdo. Distribuiam-na diariamente entre si e nao tinham fome como ela. A Cigarra compreendeu que tinha feito mal. ‘Moral da historia: Nao penses s6 em divertir-te, Trabalha ¢ pensa no futuro, Um género narrativo que tem sido bastante cobrado é a crénica, que se caracteriza por apresentar reflexdes sobre fatos cotidianos, da vida social, do dia a dia, aparentemente banais. Dentro dessa tematica, pode ser humoristica, critica, intimista. Geralmente é narrada em primeira pessoa e transmite a visdo particular do autor. Sua linguagem é direta e geralmente informal, registrando a fala literal e espontanea dos personagens. Hé presenca de lirismo e ironia. Contudo, ha crénicas de alguns autores, especialmente classicos, em que se verifica registro formal e erudito da lingua. Género Textual (textos com caractet Tipo Textual = (Modo de Organizagao) situagdes especificas) | = PTET Tae-Tor-fo) a a, = = lh —>= Em suma, os tipos textuais principais so poucos, mas os géneros s&o inumeros, e est&o sempre surgindo novos de modo a abranger as novas “situacdes comunicativas”. 1. (IF-PE / Técnico em Laboratorio / 2016) Analise as proposicées do texto em relagao a tipologia e género textual: 1. A Fébula 6 uma Tipologia textual e néo um género de texto; 2. O género textual fébula pertence & tipologia narrativa; 3. O Género e a tipologia textual se definem igualmente 4. So caracteristicas que definem a fabula: os animais que falam e uma linguagem erudita Assinale a alternativa correta: a)1e2 ES a Prof. Felipe Luccas Rosas om.br Bde 119 \www.concurseiresunidosangeiros b) 1,23 c)2e4 d) Apenas 2 e) Todas esto corretas Comentarios: Tipo textual é 0 modo de organizac&o: descrig&o, narragao, dissertag&o. Género textual um produto do tipo, mas especifico, criado para atender necessidades das inumeras situagées comunicativas: séo géneros o recado, a bula de remédio, o diario, a mensagem de SMS, a carta. Temos entéo conceitos diferentes. A fabula é um g@nero textual, pertencente ao tipo narrativo, que se caracteriza pela presenca de personagens personificados em uma histéria curta, de linguagem simples, que pretende transmitir uma moral. Gabarito letra D. jarracao A narracdo tem a finalidade de contar uma histéria, isto é, retratar acontecimentos, reais ou imaginérios, sucessivos num lapso temporal, de forma linear ou néo linear. E dinamica, pois traz uma mudanga de estado, uma sequéncia de fatos, uma relag&o de antes e depois. Os elementos da narrativa so narrador, enredo, tempo (quando), lugar/espaco (onde), personagens (quem) e um encadeamento de eventos (0 qué) que se desenvolvem ou se complicam até um climax e um posterior desfecho. Por narrar acontecimentos em sequéncia no tempo-espaco, o tempo verbal predominante é 0 pretérito perfeito, embora também possa ocorrer o pretérito imperfeito ou até o presente, quando se pretende aproximar os acontecimentos do tempo da narracao. Nao hd uma estrutura rigida para a construg&o de um enredo, contudo a narrativa normalmente parte de um “fato narrativo inicial”, um evento que da a referéncia inicial a partir do qual o enredo vai se desenvolver. Deve haver uma relagdo de causalidade entre os eventos, uma integracdo ldgica das agdes e acontecimentos, pois 0 relato de varios eventos desconexos nao constitui um enredo, que deve ter uma unidade légica. 0 enredo da narrativa geralmente vai partir de um estado inicial de harmonia, que sera interrompido por um fato gerador de desarmonia e conflito, que causaré a busca por uma soluc&o. Entéo, essa busca se desenrolaré em varias outras acées e outros conflitos, até um climax e um desfecho da histéria. Basta pensar em qualquer filme ou romance e perceberemos esse desenvolvimento. A banca nao costuma cobrar isso de forma teérica, mas pode perguntar sobre a motivacdo dos personagens. Repito, nao ha uma sequéncia rigida, as narragdes podem ocorrer de forma muito simplicada, resumidas ao relato de algumas poucas acdes sequenciais. A caracteristica mais marcante de uma narracdo é a sequéncia temporal. A passagem do tempo narrativo geralmente se explicita por meio de advérbios de tempo, oragdes temporais, tempos verbais especificos. Contudo, pode vir implicita: Ex: Joo deixou uma panela de feijao no fogo e foi 4 padaria comprar po. Quando voltou, antes de entrar em casa, parou para brincar com seu cachorro e entao sentiu eee Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 4 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros um cheiro forte. Ao entrar em casa, percebeu que 0 feijéo queimara. Desligou 0 fogo e gritou um palavrao bem alto. Observe as marcas temporais: os verbos esto conjugados no pretérito perfeito, indicando acées perfeitamente concluidas. Os advérbios de tempo “antes”, “depois” e as oragdes temporais “quando voltou” e “ao entrar” sinalizam explicitamente a distribuig&o das ages na linha cronolégica. Em “desligou 0 fogo E gritou”, o “E” aditivo é uma marca implicita da passagem do tempo, pois também indica uma ago seguida da outra. As narrativas podem seguir cronologias irregulares, tempos psicolégicos, em que os eventos so narrados dentro da consciéncia do narrador e nao coincidem com o tempo real. Também podem ser contadas de tras para frente, em “flashback”. 0 ritmo da narrativa também pode variar, podemos ter uma “narrativa direta”, que se desenvolve rapidamente, com foco em levar o leitor diretamente ao desfecho. Esse é 0 caso das piadas, anedotas, tirinhas. Também podemos ter uma “narrativa indireta”, que se desenvolve de forma mais lenta, com muitas interrupcdes e digressdes do narrador, com rodeios, devaneios, pausas para descrigdes e intercalacéo de subnarrativas de eventos secundarios. Esse é 0 estilo de narracéo de grandes obras, como “Memérias Péstumas de Bras Cubas” e “Dom Quixote”. Quanto ao elemento “personagens”, é importante lembrar que sdo seres humanos ou humanizados (entidades personificadas, com atitude humana). Podem ser principais e secundérios, de acordo com sua importancia na narrativa. O personagem protagonista um dos principais e conduz a acéo. Sua experiéncia é 0 foco da narrativa, que geralmente se funda na solugéo de um conflito ou busca do personagem principal. O personagem antagonista é aquele que se opée ao objetivo do protagonista. Suas acdes geram obstaculos que ajudam a desenvolver a narrativa em outras acées e outras subtramas. Pessoal, isso é bem simples, basta pensar nos “heréis” e “vildes” dos filmes e quadrinhos. Os principais géneros textuais narrativos so charges, piadas, contos, novelas, crénicas e romances. Tipos de narrador © narrador pode apresentar diversos graus de interferéncia na histéria. Pode ser um narrador personagem, que conta a historia em primeira pessoa e faz parte dela. Sua fala também pode vir registrada como a de um personagem comum, reproduzida literalmente ou indiretamente, com a pontuacao pertinente. A narrativa em primeira pessoa é impregnada pela opiniao e pelas impressées do narrador. Veja o exemplo: "Nao tinhamos dinheiro para passagem de dnibus a préxima cidade, de modo que meu amigo sugeriu irmos de trem de carga, a condugao dos espertos. Quando anoiteceu, corremos a nos esconder num vagao vazio. Ofegantes, fechamos a pesada porta e nos estendemos sobre o chao. Estévamos cansados e famintos." Pode ser um narrador observador, que narra a histéria em terceira pessoa, como se a assistisse de fora, traz o relato de uma testemunha. “..Ele andava calmamente, a rua estava escura dificultando sua caminhada, mas ele parecia ndo se importar, andava lentamente como se a escuridéo néo 0 assustasse...” EE LT Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' S de 119 Por fim, pode ser um narrador onisciente, que nao sé narra a histéria, mas também tem pleno conhecimento do pensamento e das emogées dos personagens, bem como sobre 0 passado e o futuro dos acontecimentos. Nao ha segredos para ele, pode desvelar a tendéncia e a personalidade dos personagens, mesmo que esses mesmos nao saibam. Ele conhece a verdade da narrativa. “Ele sofria como um tolo desde a despedida dela. Dizia para si mesmo um milhao de vezes que ela um dia voltaria. Mas no fundo, o idiota se obrigava a acreditar nesta imbecil fantasia. Afinal, era a Unica coisa que o impedia de estourar os préprios miolos”. Tipos de discurso do narrador © narrador dispée de 3 tipos de discurso para estruturar sua narrativa e mostrar ao leitor as falas, as emoges e o pensamentos dos personagens. Sao eles 0 discurso direto, 0 indireto e o indireto livre. Discurso direto E narrado em primeira pessoa, retratando as exatas palavras dos personagens. Caracteriza-se pelo uso de verbos dicendi ou declarativos, como dizer, falar, afirmar, ponderar, retrucar, redarguir, replicar, perguntar, responder, pensar, refletir, indagar e outros que exergam essa funcdo. A pontuagao se caracteriza pela presenca de dois pontos, travessées ou aspas para isolar as falas, que so claramente alternadas, bem como de sinais gréficos, como interjeigdes, interrogacées e exclamagées, para indicar o sentimento que as permeia. Vejamos exemplos: "Por que veio tao tarde? perguntou-Ihe Sofia, logo que apareceu 4 porta do jardim, em Santa Teresa. - Depois do almoco, que acabou as duas horas, estive arranjando uns papéis. Mas nao é tao tarde assim, continuou Rubio, vendo o relégio; s80 quatro horas e meia. - Sempre é tarde para os amigos, replicou Sofia, em ar de censura.” (Machado de Assis, Quincas Borba, cap. XXXIV) Discurso indireto E narrado em terceira pessoa e o narrador incorpora a fala dos personagens a sua prépria fala, também utilizando os verbos de elocugao (discendi ou declarativos) como dizer, falar, afirmar, ponderar, retrucar, redarguir, replicar, perguntar, responder, pensar, refletir, indagar. Trata-se de uma pardfrase, uma reescritura das falas, agindo o narrador como intérprete e informante do que foi dito. Geralmente traz uma orag&o subordinada substantiva, com a conjung&o que. Observe: “A certo ponto da conversacao, Gloria me disse gue desejava muito conhecer Carlota e perguntou por que néo a levei comigo.” “Capitu segredou-me que a escrava desconfiara, e ia talvez contar as outras” Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 6 de 119 LT Ee relipe Luccas Rosas Discurso indireto livre E um discurso hibrido, haja vista que concilia caracteristicas dos dois anteriores. Ha absoluta liberdade formal e sintdtica por parte do narrador, que mistura reproduces literais das falas com pardfrases, que alterna pensamentos e registro de falas e aces, aproximando a fala do narrador e do personagem, como se ambos falassem em unissono. Normalmente, a marca do discurso indireto livre esta marcado por uma interrogacio ou exclamagao. Vejamos dois exemplos classicos desse modo misto: Por vezes, adiantava 0 braco, para ajuda-la a descer. E ela baixava sozinha, nao raro saltando o ultimo degrau com os pés unidos, como a dizer-lhe que s6 mais tarde, quando fossem marido e mulher, aceitaria © amparo que ele Ihe oferecia. E por que melindrar-se com os longos siléncios dela? Por acaso, ali junto ao relégio, com o seu livro e a sua caixa de costura, Sinharinha nao fora também assim, esquiva e cismarenta? "Aperto 0 copo na mio. Quando Lorena sacode a bola de vidro a neve sobe to leve. Rodopia flutuante e depois vai caindo no telhado, na cerca e na menininha de capuz vermelho. Entao ela sacode de novo. ‘Assim tenho neve o ano inteiro'. Mas por que neve o ano inteiro? Onde é que tem neve aqui? Acha lindo a neve. Uma enjoada. Trinco a pedra de gelo nos dentes.” Mafra o consolou, batendo-Ihe nas costas: tirara o terceiro lugar [numa prova de natacéo]. Foi para casa sozinho, a cabeca num tumulto. Por que afinal tudo aquilo, Santo Deus? Que ideia descabida, que estranha teimosia aquela, esquecer tudo durante um més, para dedicar-se como um louco a uma experiéncia tao dura que néo lhe traria proveito algum! Vaidade, apenas? Solidariedade para com seu clube? Ora, sabia muito bem que essas coisas nao existiam mais para ele. Por qué, entao? O pai Ihe dissera apreensivo: "Vocé esté exagerando, meu filho. Isso ndo pode fazer bem”. (Sabino, 1956:127) Passagem do discurso direto para o indireto: Essa conversdo é cobrada em prova e deve observar algumas mudangas. Todas essas mudancas s&o légicas e decorrentes da prépria passagem de uma fala literal para uma fala recontada. Ent&o, vamos sistematizar essas regras gerais. Discurso direto: 12 pessoa Discurso indireto: 32 pessoa Alteracdo na pontuagao: Frases interrogativas, exclamativas e imperativas frases declarativas (caEe) Conversdo dos pronomes: Fa, ing, mie comilgo ele, ela, se, si, consigo, 0, a, Ihe BGS no ConoeD eles, elas, os, as, Ihes ‘meu, meus, minha, minhas, nosso, seu, seus, sua e suas SSS Prof. Felipe Luccas Rosas www.concurseiresunidonangeiros O™-DF 7 de 119 = TRF 52 REC 3 — Felipe Luccas Rosas Convers&o dos tempos verbais: Pretérito imperfeito do Presente do indicativo aie indicativo Pretérito perfeito do | Pretérito mais-que-perfeito indicativo do indicativo Futuro do presente futuro do pretérito do do indicativo indicativo Presente e futuro do ‘, Pretérito imperfeito do subjuntivo subjuntivo pretérito imperfeito do subjuntivo Imperativo Advérbios e adjuntos adverbiais: Hoje e agora » Naquele dia e naquele momento No dia seguinte Ali, La Aquele, Aquilo Exemplos de conversao de discurso direto para o indireto. — Fujam agora— ordenou o General. O general ordenou que fugissem imediatamente (naquele momento). Pedro: Eu confesso— Quero viver sem pensar tanto em mim mesmo—. Pedro confessou que queria viver sem pensar tanto em si mesmo. "Comego a estudar amanhé aqui mesmo nesta bibliblioteca” — Prometeu Maria. Maria prometeu que comegaria a estudar no dia seguinte, ali mesmo naquela biblioteca. Quem me chamou ontem? — perguntou Maria. ee TT Prof. Felipe Luccas Rosas www.concurseiresunidonangeiros O™-DF Bde 119 | Maria perguntou quem a chamara no dia anterior. Observo que a converséo do discurso direto para o indireto esta sinalizada principalmente pelo verbo “declarativo” (verbo discendi), aquele que introduz a fala (disse, declarou, afirmou, respondeu, retrucou, etc), seguido da oracéo com conjungéio integrante. Ent&o, algumas vezes, somente o verbo declarative é passado para o discurso indireto e os verbos do restante da fala séo mantidos nos tempos originais. — "Pedro no desistiré”— disse Jodo, (Discurso Direto) Jo&o disse que Pedro nao desistiria. Jodo disse que Pedro nao desistiré. Opiniado do autor/narrador Percebemos entéio que o discurso direto é mais objetivo, pois narra falas literais, exatamente como proferidas, de modo que o leitor pode julgar por si mesmo a atitude dos personagens. Entao, © discurso direto ajuda a construir “veracidade” e “credibilidade” no que foi dito. J4 no discurso indireto e indireto livre, o narrador divide com o leitor seu préprio ponto de vista, sua propria leitura dos fatos. Inclusive, ao recontar as falas dos outros, ja pode estar inserindo seu viés na prépria escolha das palavras. Nesse contexto, a opiniéo do narrador (ou do locutor de um texto argumentativo) pode ser verificada em algumas pistas, palavras que indicam em algum nivel as verdadeiras impressdes sobre o que se fala. Essas expressdes que indicam ponto de vista so chamadas de “modalizadores”: Ex: Pedro infelizmente ndo tinha chegado ainda, devia estar no maldito transito e fatalmente perderia o inicio do evento que lutara para organizar. No exemplo acima, os advérbios “infelizmente” e “fatalmente” indicam que o locutor considera negativos o acontecimento de perder o inicio do evento. Entao, tais expressdes revelam um viés “afetivo” e “subjetivo”. 0 advérbio “ainda” indica que ha na fala expectativa ou convicgiio de que ele jé deveria ter chegado. Se o advérbio utilizado fosse "jé” (ele j4 chegou), o sentido seria outro e revelaria a visdo de que ele chegou mais répido que o esperado. © verbo “devia” foi usado como um modalizador, para __indicar “possibilidade/probabilidade”, de modo que sabemos que nao ha certeza absoluta naquela declarag&o. Se fosse usado outro verbo, como “poderia”, ou um uma forma verbal mais categérica, como “estava”, os sentidos seriam outros e a viséo do fato pareceria outra. 0 adjetivo “maldito” expressa verdadeiro rancor contra o “transito” verbo “lutar” também indica que o autor considera o ato de “organizar” o evento uma tarefa dificil, que exigia esforco e encontrava oposicao, enfim, uma luta. Esses séo apenas alguns indicios de opiniéo do narrador/autor, examinados num pequeno periodo. No texto, qualquer estrutura ou classe de palavras (verbos, adjetivos, EE LT Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 9 de 119 advérbios, palavras denotativas, interjeigdes) pode ser vestigio de uma opinido subjacente. O que foi dito acima nao é exclusivo para “narradores”: vale para a opiniéo do autor em dissertagées, argumentagées, propagandas, artigos, matérias jornalisticas e qualquer género textual. Cuidado, ndo é qualquer adjetivo ou advérbio que necessariamente indica um juizo de valor, muitas vezes eles tém cardter mais objetivo, embasado em uma situag&o concreta. E preciso analisar o contexto e também as opcées da questo. Vimos a teoria, mas é nas questées de prova que observaremos melhor todas essas caracteristicas. Vamos a elas? worne raticar! 2. (MS-Concursos / Fiscal de Tributos / 2017) Assinale a alternativa incorreta. a) No discurso direto, o narrador reproduz na integra a fala das personagens ou interlocutores. Geralmente essa fala é introduzida por travesso. b) No discurso indireto, o narrador exprime indiretamente a fala da personage. © narrador funciona como testemunha auditiva e passa para o leitor 0 que ouviu da personagem. c) O discurso indireto livre é resultante da mistura dos discursos direto e indireto. d) © discurso indireto é 0 que geralmente apresenta verbos de elocugo (declarativos ou dicendi) que indicam quem esta emitindo a mensagem. Comentarios: Essa questdo resume bem os pontos mais cobrados sobre os tipos de dircurso. a) Correta. No discurso direto, 0 narrador reproduz na integra a fala das personagens ou interlocutores. Geralmente essa fala é introduzida por travesséo. b) Correta. No discurso indireto, o narrador exprime indiretamente a fala da personagem. O narrador funciona como testemunha auditiva e passa para o leitor 0 que ouviu da personagem. ¢) Correta. O discurso indireto livre resultante da mistura dos discursos direto e indireto. d) Incorreta. O discurso indireto também apresenta os verbos discendi ou declarativos, sempre, assim como 0 direto. A banca deu a entender que os verbos declarativos podem n4o aparecer no discurso indireto. Os verbos declarativos aparecem em ambos. A diferenga esta em se a fala é reproduzida de forma literal, nas exatas palavras do personagem ou se € recontada pelo narrador, na sua propria versdo do que foi dito. Compare: Amanhi vou estudar— Disse Joao. (discurso direto) Parabéns! — Respondeu Sofia. (discurso direto) EE LT Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 10 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros Jo&o disse que iria estudar. (discurso indireto) Sofia respondeu que ele estava de parabéns. (discurso indireto) Além disso, esses verbos de elocuc&o (declarativos ou dicendi), no discurso indireto, no indicam exatamente “quem esta emitindo a mensagem’, isso ocorre no direto. No indireto, esses verbos so usados pelo “narrador”. Gabarito letra D. 3. (FGV / Taquigrafo / 2013) Fi wou EF ror que me veion WI SEU BARCO ESTA ZORSEETADO, 1, PUBCAR DBA DE QUE EUNAO seat il vou Gostar pesca} Com relaéo aos constituintes linguisticos e graficos da tira acima, assinale a afirmativa correta. “A tira é um exemplo claro de texto narrativo, j4 que apresenta uma sequéncia cronolégica de agées.” Comentarios: A charge é um classico género textual em que predomina o tipo narrativo. Observem que temos personagens (Hagar, seu amigo e 0 homem que conserta barcos), um enredo (0 conserto do barco e a apresentagao da conta), uma sequéncia cronolégica de acées, um estado de antes e depois, marcado aqui pela mudanga de quadros da tira. Item correto. 4. (MPE-RS / Promotor de Justica / 2017) O professor encerra seu numero, numa senha para que a mulher se apresse. Amei nosso entretém, monsieur, sé lamento néo poder ........ para o jantar. Vocé também é sempre bem-vinda, Carminha, nem que seja apenas para brincar com a Piaf. Vou ........, diz Anne enxugando as maos num pano de prato. De repente, dé um suspiro curto e um saltito juvenil: um momento, monsieur Hollander. Tira da geladeira um rocambole cheirando a maga e separa uma fatia num prato de sobremesa: 0 senhor disse que seu pai morou na Alemanha? Entrega-me o pratinho coberto com um papel de pao: é uma receita da minha avé alsaciana, ele val gostar. ........ em diregao 4 sala, onde a Minhoca brinca mais uma vez com a Piaf. Henri Beauregard fecha 0 piano e se refugia num banheiro. Ainda procuro protelar o adeus, alisando 0 piano e tecendo elogios ao seu design art déco, quando escuto 0 ruido da chave na fechadura e vejo a macaneta girar sozinha. Paralisado defronte da porta por onde entraré meu irméo alemao, repasso na meméria as ideias mais fantasiosas que fiz dele, desde que soube da sua existéncia. Recordo quantas vezes sonhei com ele, a cada sonho com uma cara diferente, caras que eram transfiguradas pelo aquério do sonho, seres que a luz da manha desvanecia, durante os anos em que ansiei por este encontro. E agora jé ndo quero que a porta se abra, por mim aquela maganeta poderia girar perpetuamente. Prefiro continuar a ver meu irmao em sonhos, com sua cara ainda sem acabamento. Penso que vé- lo assim & queima-roupa, com excessiva nitidez, seré como ver escancarada numa EE LT Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' Aide 119 tela de cinema a personagem de um romance que eu vinha adivinhando fio a fio medida que lia. Se pudesse, eu pediria ao meu irm&o que me esperasse /4 fora, para ser de novo o vulto noturno que apenas entrevi. Mas a porta range, a maganeta desfaz seu giro, e o que tenho diante de mim néo pode ser meu irméo alem&o. E um homem da minha idade, com a pele branca meio escamada, 0 nariz adunco de Henri e uma calvicie precoce. E sinceramente um tipo banal, desses que a meméria ndo fixa, que nao frequentam os sonhos. Eis meu filho Christian, diz Anne em francés, e este cavalheiro aqui, ele é 0 monsieur Hollander, namorado da Carminha. Christian cumprimenta-nos com a cabeca, porque esté sobrecarregado de livros, e se escafede escada acima. Anne abre a porta da rua: au revoir. A Minhoca me puxa pela manga, e jd do lado de fora pergunto de supetdo: e 0 outro, madame? O outro? O seu outro filho, madame. Ouco um som de descarga, e mesmo na contraluz percebo como Anne enrubesce: néo temos outro filho, monsieur Hollander. Fecha a porta, e estou no portéo quando ela torna a abri-la: psiu. E para a Piaf, que vinha atrés da Minhoca e volta correndo para dentro. No texto, o narrador utiliza expressdes que caracterizam ou sugerem sentimentos, atitudes ou intengées ora de outros personagens, ora préprios dele, narrador. Assinale a alternativa em que ele caracteriza um sentimento préprio. a) O professor encerra seu ntimero, numa senha para que a mulher se apresse (1.01) b) Henri Beauregard fecha o piano e se refugia num banheiro (1.10) c) Esinceramente um tipo banal, desses que a meméria nao fixa (|.27-28) d) Christian cumprimenta-nos com a cabeca [...] e se escafede escada acima (1.30-31) e) [...] mesmo na contraluz percebo como Anne enrubesce: ndo temos outro filho (1.32) Comentarios: Na verdade, no era preciso ler o texto. Entre os trechos destacados, a letra C traz claras marcas de opiniaio, como o advérbio “sinceramente” e 0 adjetivo “banal”. Além disso, 0 narrador declara que "a meméria no fixa", o que confirma seu tom opinativo de desdém. 5. (CESPE / MPU / Seguranca Instit. e Transporte / 2015) A partir de uma ag&o do Ministério Publico Federal (MPF), 0 Tribunal Regional Federal da 2.a Regiéo (TRF2) determinou que a Google Brasil retirasse, em até 72 horas, 15 videos do YouTube que disseminam o preconceito, a intolerancia e a discriminagao a religiées de matriz africana, e fixou multa didria de R$ 50.000,00 em caso de descumprimento da ordem judicial. Na ac&o civil publica, a Procuradoria Regional dos Direltos do Cidad3o (PRDC/RJ) alegou que a Constituic&0 garante aos cidad3os ndo apenas a obrigagao do Estado em respeitar as liberdades, mas também a obrigagao de zelar para que elas sejam respeitadas pelas pessoas em suas relacées reciprocas. Para a PRDC/RJ, somente a imediata excluséo dos videos da Internet restauraria a dignidade de tratamento, que, nesse caso, foi negada as religiées de matrizes africanas. Corroborando a viséo do MPF, 0 TRF2 entendeu que a veiculacéo de videos potencialmente ofensivos e fomentadores do édio, da discriminagao e da LT Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 12 de 119 ~ Felipe Luccas Rosas. intoleréncia contra religiées de matrizes africanas n&o corresponde ao legitimo exercicio do direito liberdade de expresso. O tribunal considerou que a liberdade de expressao nao se pode traduzir em desrespeito 4 diferentes manifestacdes dessa mesma liberdade, pois ela encontra limites no prdprio exercicio de outros direitos fundamentais. A respeito das ideias e das estruturas linguisticas do texto, julgue o item subsequente. Predomina no texto em apreco o tipo textual narrativo. Comentarios: Temos personagens (MPF, Google, PRDC) realizando agdes sequenciais. O tempo predominante é 0 pretérito perfeito (determinou, fixou, alegou, entendeu, considerou), uma indicagaio de antes e depois ("...a partir de uma aco do MPF, o TRF determinou...” a acéo foi antes e a determinag&o foi depois). Essas caracteristicas so suficientes para afirmar que se trata de um texto com organizacao estrutural predominantemente narrativa, especialmente porque nao ha trechos de descrigéo e nem ha uma opiniao sendo defendida. Observa-se que a finalidade principal foi narrar a sequéncia de acontecimentos, na sua cronologia. Item correto. 6. (FCC / TRT 34 REGIAO / Contabilidade / 2015) Atengao: A questo refere-se a crénica que segue. Dona Doida Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso, com trovoada e clarées, exatamente como chove agora. Quando se péde abrir as janelas, as pogas tremiam com os ultimos pingos. Minha mae, como quem sabe que vai escrever um poema, decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de oves. Ful buscar os chuchus e estou voltando agora, trinta anos depois. N&o encontrei minha mae. A mulher que me abriu a porta, riu de dona tao velha, com sombrinha infantil € coxas 4 mostra. Meus filhos me repudiaram envergonhados, meu marido ficou triste até a morte, eu fiquei doida no encalco. Sé melhoro quando chove. Na construcio do poema, predomina o tipo narrativo, sinalizado por advérbios como agora e quando. Comentarios: Observe imediatamente que ha personagens realizando acdes em sequéncia e isso esta EE LT Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 13 de 119 indicado por advérbios de tempo e por verbos no passado (era, tremiam, decidiu, fui, encontrei, abriu, repudiaram). Outra marca da narracéo esta na relacéo anterior- posterior, marcada na presenca dos advérbios quando, agora e depois: quando eu era menina; estou voltando agora; 30 anos depois. Item correto. 7. (WUNESP / FUNDACENTRO / 2014) Leia o texto para responder a questdo. O marido, na cama, foi despertado pelo puxdo nervoso e pelas palavras ainda mais nervosas de dona Irene: ~ Imagina: me roubaram e me devolveram meu relégio! ~ Que relégio? ~ Este aqui - e ela estendeu o pulso, esquecida de que o pusera na bolsa, sem tempo e sem calma para atar novamente a pulseira, depois do fato. Abriu a bolsa e exibiu o relégio recuperado. = Mas vocé néo levou relégio nenhum, filha. Vocé esqueceu ele na mesinha de cabeceira. Esté ali. Quando eu det fé, corri a janela para avisar, mas n&o vi mais vocé. Sujeito assustado, aquele ladrao! Mais medroso do que a medrosa dona Irene. A Altima frase do texto - Sujeito assustado, aquele ladréio! Mais medroso do que a medrosa dona Irene. - corresponde a uma reflexdo a) do marido, em relag&io ao comportamento da mulher. b) do narrador, em relag&o ao comportamento do ladrao. c) da mulher, em relago ao comportamento do ladrao. d) da mulher, em relac&o ao seu préprio comportamento. e) do marido, em relagao ao comportamento do ladrao. Comentarios: Inseri essa questo para observarmos as caracteristicas do narrador e do discurso. A pontuacéo com travesséo, dois pontos, exclamacéo e interrogacéo sio indicagées do discurso direto, com reproducgéo das exatas palavras dos personagens. 0 narrador é onisciente e conhece o sentimento dos personagens, como ‘© esquecimento e a ansiedade: e ela estendeu o pulso, esquecida de que o pusera na bolsa, sem tempo e sem calma para atar novamente a pulseira, depois do fato. Abriu a bolsa e exibiu o relégio recuperado. Por fim, respondendo a questo, a fala so pode ser do narrador, pois emite opiniao sobre os sentimentos do ladrao, que sé ele conhece. Como a narragdo usa discurso direto, as falas dos personagens estdo marcadas pelo travessao, se fosse uma fala da mulher, ela nao se referiria a si propria como dona Irene, e, sim, como eu. Gabarito letra b. 8. (MP-RS / ASSESSOR / CIENCIAS JURIDICAS E SOCIAIS) O advogado Jairo Adriano de Mello contesta com raciocinio clarissimo colegas que defendem o boicote 4 fiscalizacao com base na presungao da inocéncia e no direito LT Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 14 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros de n&o produzir prova contra si: - Est&o invertendo certas légicas, e muitos repetem os argumentos como papagaios. Todos s&o inocentes até que se prove contrério, mas, no momento eu dificulto a prova, sou contra ela, a légica autoriza a inverséo da presuncdo da inocéncia. O teste do bafémetro nao é prova contra mim. E a possibilidade que me é dada de provar que néo estou alcoolizado. Observe os trechos do texto abaixo transcritos e as propostas de sua reescrita em discurso indireto. 1. Est&o invertendo certas légicas, e muitos repetem os argumentos como papagaios: © advogado afirmou que certas ldgicas esto sendo invertidas e que muitos repetem os argumentos como papagaios. 2. [...] eu dificulto a prova, sou contra ela: © advogado declarou que ele havia dificultado a prova, por ser contra ela. 3 [...] O teste do bafémetro no é prova contra mim: © advogado disse que o teste do bafémetro ndo era prova contra ele. Quais propostas de reescrita em discurso indireto est&o corretas? (A) Apenas 1 e 3. (B) Apenas 1. (C) Apenas 2. (D) Apenas 2 e 3. (E) 1,2e3. Comentarios: O discurso indireto reproduz a fala de um personagem, com uso de verbos dicendi e da terceira pessoa. E caracteristica também a presenca das conjungées integrantes “que” ese”: fulano disse que... Sicrano perguntou se... Veja no texto: 1- 0 advogado afirmou que... 2- 0 advogado disse que Observe que, em 1-, apenas o verbo declarativo foi para o pretérito e o restante foi mantido: “certas légicas esto sendo invertidas e que muitos repetem os argumentos como papagaios”. No entanto, como foi observada a converséo para 0 discurso indireto pelo uso do verbo declarativo e da conjungao integrante, o item foi considerado correto. Agora veja o problema na segunda conversdo: 2. [...] eu dificulto (presente do indicativo) a prova, sou contra ela: 0 advogado declarou que ele hevie-iffewttede (pretérito mais-que-perfeito) a prova, por ser contra ela. Na passagem do discurso direto para o indireto, deve ser conservada a correlac&o correta dos tempos verbais. A conversdo correta seria: 0 advogado declarou que “dificultava” a prova. Gabarito letra a. Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 15 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT 9. (UFPR / COPEL / ENGENHEIRO / 2017) Assinale a alternativa em que o trecho transcrito NAO apresenta nenhum tipo de julgamento de valor/opi a) “O ano de 2016 passaré aos livros como um dos periodos mais dificeis para os direitos humanos da breve histéria democratica brasileira”. b) “Outro importante principio expresso no texto da nova lei de migracdo € o do combate a xenofobia”. c) “O numero de migrantes no Brasil aumentou significativamente nos Ultimos anos, principalmente por conta do afluxo de haitianos que buscavam saida para o agravamento da crise humanitéria no pais depois do terremoto de 2010”. d) “A existéncia de um marco legal positivo, portanto, é fundamental para proteger essas pessoas”. e) “Em dezembro, a Camara dos Deputados aprovou uma lei que, se confirmada pelo Senado e sancionada pela Presidéncia, substituird, por fim, 0 retrogrado e inconstitucional Estatuto do Estrangeiro, criado durante a ditadura”. Comentarios: Temos claro indicio de opiniéo nos adjetivos “dificeis", “breve”, “importante”, “fundamental”, “retrégrado”. Atengéio, o advérbio “significativamente” ndo é indicative de mera opinido, pois se baseia num fato declarado e justificado: “o numero de imigrantes aumentou, principalmente por conta do fluxo de hatianos apés o terremoto de 2010”. Aqui, nesse contexto, ele indica um fato, néo um juizo de valor. Gabarito letra C. Descrigao Descrever é caracterizar, relatar em detalhes caracteristicas de pessoas, objetos, imagens, cenas, situagdes, emocdes, sentimentos. A descrigéo é uma pormenorizacéo estatica, uma pausa no tempo, geralmente uma interrupcéo da narracéo, para apresentacéo de tracos dos seres. Para isso, se utiliza de muitos adjetivos, verbos de ligacdo que indicam estado e oragées e locucdes adjetivas para caracterizacao. O tempo mais usual 6 o pretérito imperfeito, por indicar uma acdo continuada ou rotineira: era, fazia, estava, parecia... Importante lembrar que os adjetivos podem ter valor objetivo ou relacional, quando so isentos de opinido e simplesmente expressam um fato: carro preto, homem japonés, doenca degenerativa. Esses adjetivos geralmente nao aceitam gradagao (homem mais japonés) e vao indicar uma descrigéo objetiva. Jé os adjetivos qualificativos ou subjetivos expressam opiniao, n&o s&o fatos, essas qualidades podem ser graduadas e questionadas: homem bonito, carro extravagante, aluno teimoso, lugar longe, muito longe... Esses adjetivos, por sua vez, caracterizam uma descrig&o subjetiva, impregnada pela opinido de quem descreve. A descrigéo quase sempre esté presente em outros tipos textuais, assim como dificilmente € encontrada na sua forma pura, de modo que também € comumente permeada por trechos narrativos ou dissertativos. Nas provas de concurso, 0 mais comum é a descri¢ao aparecer dentro de uma narracao. eee Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 16 de 119 Difere-se fundamentalmente da narracao por trazer acontecimentos simultaneos, que ‘ocorrem ao mesmo tempo, sem progressdo temporal e sem relacao de anterioridade e posterioridade; esta para uma foto, assim como a narracao esté para um filme. As agées podem descrever uma rotina, agées habituais, sem foco narrativo. A descric&o é 0 tipo textual que predomina em géneros como manuais, propagandas, biografias, relatérios, definigées e verbetes, tutoriais. E rara a cobranga de uma descrigéio pura. Vamos ver um exemplo, retirado da prova do Centro Brasileiro de Pesquisas Fisicas. Amanhece na ilha de Heron. Sobre a imensa faixa de areia, que se estende em curva jaté desaparecer na bruma da manh&, despeja-se uma lua violécea, que pouco a) lpouco se encorpa. Mas é somente quando o sol obliquo jé incide sobre as areias e a Agua, sobre a vegetacao rasteira e os tufos de algas que brilham nas pedras com a maré baixa, é sé ent&o - nunca antes - que se pode notar o primeiro movimento na praia.” (0 texto comega pela descric&o da ilha de Heron. Um texto descritivo é caracterizado fundamentalmente por: a) ages que ocorrem em uma sequéncia cronolégica. b) reflexdes sobre aspectos problematicos da vida. c) registro de elementos caracterizadores de uma realidade. d) citag&o de informacdes sobre determinado objeto. e) conjunto de pensamentos inacabados. A resposta é a letra C. Observe a descricdo estatica da paisagem da ilha, a abundancia de adjetivos, a construgao de uma imagem. Nao ha agdes em sequéncia cronolégica, nem reflexdes sobre problemas, nem pensamentos inacabados. Trata- se de uma descrig&o pura. Vejamos agora essas caracteristicas nos textos que vém sendo cobrados: raticar! 10. (CESPE / SEDF / 2017) Rubio tinha vexame, por causa de Sofia; ndo sabia haver-se com senhoras. Felizmente, lembrou-se da promessa que a si mesmo fizera de ser forte e implacavel. Foi jantar. Abengoada resolugao! Onde acharia iguais horas? Sofia era, em casa, muito melhor que no trem de ferro. Lé vestia a capa, embora tivesse os olhos descobertos; cé trazia 4 vista os olhos e corpo, elegantemente apertado em um vestido de cambraia, mostrando as méos, que eram bonitas, e um principio de braco. Demais, aqui era a dona da casa, falava mais, desfazia-se em obséquios; Rubio desceu meio tonto. O trecho “Sofia (...) em obséquios” (I. 1 a 8) é predominantemente narrativo, o que se comprova pelas formas verbais flexionadas no pretérito imperfeito, empregadas pelo narrador para apresentar acées rotineiras de Sofia. Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 17 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT Comenta: Observe que a banca fez bem o recorte: do trecho: Sofia era, em casa, muito melhor que no trem de ferro. Lé vestia a capa, embora tivesse os olhos descobertos; ca trazia 4 vista os olhos e o corpo, elegantemente apertado em um vestido de cambraia, mostrando as mos, que eram bonitas, e um principio de braco. Demais, aqui era a dona da casa, falava mais, desfazia-se em obséquios; Observe as marcas linguisticas da descricdo: verbos no pretérito imperfeito e adjetivos qualificativos dos substantivos “corpo”, “maos”, “vestido”. Além disso, percebemos que as agGes descritas so simulténeas, ocorrem todas ao mesmo tempo, numa cena “congelada” no tempo. Esses verbos descrevem a rotina de Sofia. Falta, portanto, o elemento sequencial da narracéo. Temos aqui uma descrico. Questo incorreta. 11. (FGV / Taquigrafo / 2013 "Dvorak arrastou-se montanha acima, na velocidade que os ferimentos permitiam. Encostou-se a um grande tronco e escorregou por ele até o chéo, arranhando a pele dura das costas. Parou um momento de mexer-se e passou a escutar os barulhos da floresta Esse é um pequeno fragmento de um romance. Nesse caso, o texto é corretamente classificado como a) narrativo com segmentos descritivos. b) descritivo com segmentos narrativos. c) exclusivamente narrativo. d) narrativo, com segmentos descritivos e argumentativos. e) descritivo, com segmentos narrativos e argumentativos. Comentarios: Temos 0 personagem Dvorak praticando diversas agées sequenciais no tempo- espaco: primeiro se arrastou, depois se encostou e depois parou para ouvir os barulhos da floresta. O tempo utilizado é o pretérito perfeito, para marcar agées terminadas seguidas de outras, numa relacdo de antes e depois. Embora haja dois adjetivos, em “grande tronco” e “pele dura”, esses nao so suficientes para formar um “segmento” descritivo, por isso nao podemos nos confundir e pensar que ha uma descrig&o aqui. Ainda ndo vimos a argumentacdo, mas sabemos que ela essencialmente discute um tema, com ou sem defesa de uma opinido. Nao ha nada disso nesse pequeno trecho. O texto ent&o é exclusivamente narrativo, com suas caracteristicas principais. O gabarito éa letra. 12. (Cesgranrio/ BNDES/ 2009) Em qual sequéncia é caracterizada uma descrigéo? a) "Leves, classudos, num tom esportivamente escuro, cada lente com uma sombra que subia de baixo para cima," b) " 'Pois é, mas eu estava com a vista cada vez mais cansada, até que fui ao oculista. c) "Més depois, encontrei uma amiga cujo pai € oftalmologista.” Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 18 de 119 LT d) “ela me contou que um curioso cliente do pai havia pedido um modelo de éculos sem grau.” e) "E, era ele mesmo - 0 editor.” Comentarios: Observe na letra A os adjetivos subjetivos, como “leves”, “classudos”, “esportivamente escuro”... Esse é nosso gabarito. Nas alternativas seguintes, podemos ver uma progressdo temporal, uma aco ocorrendo depois da outra, com advérbios de tempo, “até que”, “depois” € verbos no pretérito indicando acées acabadas, como “contou”, “era”. Gabarito: letra a. Dissertacgao Agora veremos 0 assunto mais importante desta aula e talvez deste curso. Digo isso porque a dissertac&o é 0 tipo textual Cais cobrado, tanto em tipologia quando nas questdes de portugués que trazem textos. Conhecer estruturagéo desse tipo vai ser vital na interpretag&o em geral, pois aprenderemos as estratégias argumentativas que so objeto de questdes de compreensio, e também nas provas discursivas, e ficaremos familiares com a estruturacdo correta de um pardgrafo e de um texto. © texto dissertativo basicamente expée ideias, razées, teorias, raciocinios, abstragées, por meio de relacées légicas sequenciadas no texto, dentro de uma estrutura_especifica (introducdo, desenvolvimento e conclusdo), sem necesséria progressdo temporal. Por ser neutra, atemporal e clara, marca-se pelo uso dos verbos no presente, porque indicam verdades universais: “a dgua ferve a 100 graus”; “a terra gira em torno do sol”. A dissertagao pode ser objetiva, também chamada de expositiva; ou subjetiva, também chamada de argumentativa ou opinativa. Veremos também que ha subtipos para um texto argumentativo e para um texto expositivo. Na maioria das provas, a banca espera que o candidato saiba identificartextos dissertativos com diferentes finalidades. Texto dissertativo expositivo (puro): A finalidade essencial de um texto expositivo é trazer conceitos, discutir um assunto de maneira impessoal e objetiva, ou seja, sem defesa clara de uma opinido. Nao ha defesa de tese, apenas exposig&o clara e atemporal de ideias. Diz-se que o autor é impessoal e 0 leitor é universal. O autor explana o que sabe de forma neutra e permite que o leitor forme sua prépria opini&o. Pode ocorrer que a opiniaio do autor transpareca pelo sentido dos modalizadores (marcas linguisticas de opiniao), mas nado é seu objetivo primario criar debate e convencer o leitor. As questées discursivas de provas de Auditor-Fiscal séo exemplos desse tipo de dissertagéio, em que o candidato- autor apenas expée 0 contetido pedido no enunciado, sem opinar. Por isso, algumas bancas chamam esse tipo de “explicativo”. Prof. Felipe Luccas Rosas jconcurseiresuaidoeargeiros °7-P 19 de 119 Texto dissertativo expositivo-informativo: E um subtipo do expositivo. Esse texto visa acrescentar informagio nova ao leitor, ao contrério do expositivo puro, que nao pressupée que a informacao discutida seja nova para quem Ié. E comum ocorrerem no texto informativo trechos descritivos, como dados, estatisticas; ‘ou narrativos, como relatos de acontecimentos, mas é a finalidade do texto que deve ser o critério de identificaco do tipo textual. No é por trazer relato de um crime que um texto com clara finalidade de trazer informago nova ao leitor (sobre uma agao da policia, por exemplo) deve ser classificado como uma narrativa. Atentem para isso, pois quase todo texto dissertativo traz elementos de outra tipologia. Vamos ver na pratica? 13. (CESPE / SUFRAMA / 2014) O homem habita a Amazénia hé meis de 11.000 anos. No entanto, foi s6 no século XVI que o rio Amazonas foi navegado pela primeira vez, pelo explorador e conquistador espanhol Don Francisco de Orellana (1511- 1546). Em busca de vastas florestas de canela e da lendéria cidade do ouro El Dorado, Orellana deixou Quito, no Equador, em fevereiro de 1541. Nao encontrou nem canela nem ouro, e, sim, 0 maior rio da Terra. O explorador batizou o rio “recém-descoberto” de rio de Orellana. Tal nome depois seria abandonado em troca do nome rio Amazonas, inspirado na mitica tribo de guerreiras. Passaram-se muitos anos até a Amazénia receber uma nova expedicéo — a primeira a subir o rio inteiro. Entre 1637 e 1638, as primeiras informacées detalhadas sobre a regio, sua histéria natural e seu povo foram registradas pelo Padre Cristévéo de Acufia, que viajou como membro de uma grande expedicéo comandada pelo general portugués Pedro Teixeira. Ele registrou dados de impressionante preciso acerca da extensdo e do tamanho do rio Amazonas, e da topografia de seu curso, com descrigées detalhadas das dreas de floresta inundada ao longo do rio, da fauna aquatica, dos sistemas agricolas e das plantacées dos povos indigenas. No que se refere aos aspectos linguisticos e tipologia do texto acima, julgue 0 item que se segue: No texto, de carater informatio, ha trechos narrativos que tratam da navegacao na regido amazénica. Comentarios: A banca traz um texto expositivo-informativo, iniciado por uma informacdo trazida de forma clara e imparcial, no presente do indicative, como um fato universal: 0 homem habita Amazénia hé mais de 11.000 anos. No restante do texto, amplia essa afirmacao inicial com trechos narratives, mas nao se propde a contar uma histéria, e, sim, a detalhar o periodo de 11.000 anos que inicia o texto. Outro indicio de que é um texto informativo é a fonte: ainda que vocé nao soubesse que WWF é uma Ong de conservagao natureza, o .org trazia uma pista de ser um site de organizagéo néo governamental. Tais ‘sites geralmente publicam contetido informativo, de conscientizacio. Item correto. Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 20 de 119 LT ~ Felipe Luccas Rosas Texto dissertativo argumentativo/opinativo: © texto argumentative, além de discutir e informar, defende uma tese, uma opinido pessoal, sua finalidade principal é o convencimento do leitor. Para persuadi- lo, 0 autor se utiliza de modalizadores e de operadores argumentativos, construindo fundamentag&o para seus argumentos por via de relagées légicas organizadas numa estrutura argumentativa progressiva. A linguagem utilizada é clara, impessoal (embora parcial), culta. A primeira pessoa 6 utilizada para realcar a incluséio do autor no universo de ideias discutidas e seu alinhamento aos argumentos utilizados, bem como para envolver o leitor. Também é comum 0 uso da terceira pessoa, com verbos no presente do indicativo, como estratégia para sugerir que as informagdes so fatos. Os verbos so semanticamente carregados e sugerem ou corroboram a opinido que esté sendo defendida. Esses argumentos sao apresentados de forma estruturada, com progressao. e InooMas FUNDO! Algumas provas também cobram o conceito de texto dissertative argumentativo polémico, que seria semelhante a modalidade argumentativa, mas com a diferenca de trazer pelo menos dois pontos de vista e contrabalanced-los. Atencdo: A distingao entre a dissertacéo argumentativa e a expositiva foi cobrada recentemente: 14. (IADES / TRE-PA / Taquigrafia / 2014) Com relagao ao pardgrafo dissertativo na redagao juridica, assinale a alternativa que define, respectivamente, a dissertagao expositiva e a argumentativa. a) Exposidio sucinta de fatos; discuss8o de uma ideia, de um assunto ou de uma doutrina. b) Representagao escrita de uma sequéncia de aspectos juridicos; exposicéo de um assunto, com insergéo de comentérios pessoais. ¢) Posicionamento sobre determinado assunto; relato detalhado de natureza persuasiva. d) Discussdo de uma ideia, de um assunto ou de uma doutrina; exposigg0 de ideias com o objetivo de convencer o leitor. e) Técnica de persuas&o necessaria no discurso forense; exposic&o de opinides de forma clara e objetiva. Comentarios: © tipo textual se refere a sua finalidade. A dissertacdo expositiva discute uma ideia, sem 0 objetivo de formar a opinido do leitor. A dissertacéo argumentativa, além de expor ideias, 0 faz de forma a convencer 0 leitor. Todos os argumentos convergem para aquela tese que esta sendo defendida. Gabarito: Letra d). Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoeargeiros ™-PF 21 de 119 Operadores argumentativos: Para comprovar sua opinido e sua tese, o autor deverd estabelecer algumas relacées de sentido para relacionar suas ideias e seus raciocinios. Para isso, poderé usar conectivos diversos, conjungées, advérbios, palavras denotativas. As conjungdes s&o operadores argumentativos, pois ajudam a construir argumentos e relagées ldgicas diversas. Em suma, introduzem ideias e argumentos, estabelecendo entre eles relagées de tempo, concessao, condi¢&o, proporcionalidade, comparaco, conformidade, causa, consequéncia, adic&o, alternancia, conclusao, explicacéo, oposicao. Advérbios e palavras denotativas também funcionam como operadores argumentativos, pois estabelecem entre argumentos relacées de incluso, exclusdo, retificacdo, realce, prioridade, predominancia, relevancia, esclarecimento. Nao vou aprofundar muito aqui, pois jé vimos essas relacées todas no estudo das classes (conjungées, advérbios, preposigies, palavras denotativas), mas é bom saber que a banca pode chamar de “operadores argumentativos ou discursivos” esses termos € os sentidos que estabelecem na construgao do texto. Dessa forma, podemos dizer que as conjungées aditivas so operadores que "somam argumentos”, as conjungdes adversativas “opdem argumentos”, as alternativas “excluem ou alternam” argumentos, assim por diante. A estrutura argumentativa Como dito, a dissertagéo argumentativa traz uma progressao légica de argumentos. Em nivel estrutural, essa progressdo toma a forma de introduc3o, desenvolvimento e concluséo. Na introducdo, o autor apresenta o tema, a ideia principal, sua tese. No desenvolvimento, o autor traz argumentos de apoio ao convencimento. Na conclus&o, o autor retoma a ideia central, apresentada na introdugao, e consolida seu raciocinio. Nesse paragrafo, geralmente ele oferece solucées para os problemas discutidos, faz constatacées e reitera sua opiniso de forma mais incisiva. Existe grande liberdade na forma com que os autores constroem suas argumentacoes. Alguns autores concluem logo no inicio, depois justificam sua posic&o, outros trazem sua tese somente no final. Aprenderemos aqui as principais e mais consagradas técnicas de estruturacéo e de argumentacdio, para que o aluno seja capaz de reproduzi- las em uma redacdo de sua prdpria autoria, bem como reconhecé-las nos textos da prova. Vejamos em detalhes cada uma dessas partes. Introducgao Na introdug&o deve constar a tese, uma afirmacdo que deverd ser sustentada no decorrer dos paragrafos. Se o autor pudesse sintetizar todo seu texto numa sentenca, essa seria sua tese. A opiniao do autor aqui aparece de modo brando e seré reiterada de modo forte na conclusdo. Também é na introduc&o que o autor tenta seduzir o leitor, captar seu interesse, atraindo-o para continuar lendo. Ah Felipe, isso ta muito tedrico!!! Como se estrutura na prética uma introdug&o? EE LT Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 22 de 119 Férmulas de introducgao Os textos dissertativos se estruturam de modo légico para convencer o leitor. A introduc ja é um momento de sugerir a estrutura que uma dissertag&o argumentativa deve tomar, sua divisdo, sua progressao... etc. Vejamos formulas comuns de se contruir um pardgrafo introdutério. Divisdo: é a enumeracdo explicita dos aspectos que serdo tratados. E facil e deixa © texto mais organizado. Além disso, facilita o uso de elementos de coesao: em relagao ao primeiro item, j quanto ao segundo... Ex: O problema das chuvas tem recebido bastante destaque na midia, em grandes debates sobre quem seria o responsavel. Hé dois fatores principais nesse contexto: a omissao do governo e a a¢ao dos cidadaos. Paragrafo 1: A omiss&o do governo pode ser observada em casos como... Pardgrafo 2: Jé a aco dos cidados tamoém influencia nesse resultado porque... Ex: No Brasil, a tradic&o politica no tocante representag&o gira em torno de trés ideias fundamentais. A primeira é a do mandato livre e independente, isto é, os representantes, ao serem eleitos, nao tém nenhuma obrigacdo, necessariamente, para com as reivindicagées e os interesses de seus eleitores. O representante deve exercer seu papel com base no exercicio auténomo de sua atividade, na medida em que é ele quem tem a capacidade de discernimento para deliberar sobre os verdadeiros interesses dos seus constituintes. A segunda ideia é a de que os representantes devem exprimir interesses gerais, e no interesses locais ou regionais. Os interesses nacionais seriam os Unicos e legitimos a serem representados. A terceira ideia refere-se a0 principio de que o sistema democratico representativo deve basear-se no governo da maioria. Praticamente todas as leis eleitorais que vigoraram no Brasil buscaram a formagao de maiorias compactas que pudessem governar. Definic&o: é a apresentac&o de um conceito. Ex: Denomina-se politica ambiental 0 conjunto de decisées e acées estratégicas que visam promover a conservagao e 0 uso sustentavel dos recursos naturais. A politica ambiental, portanto, tem relago direta com todas as demais politicas que promovam 0 uso dos recursos. Por isso, embora a responsabilidade pelo seu estabelecimento seja dos drgaos ambientais, todas as demais areas de governo tém um papel a cumprir na execucao das politicas ambientais. Citagao: é a reproducao literal ou indireta da fala de alguém cuja opinido seja relevante no contexto daquela dissertagao. Essa técnica também pode ser usada para introduzir logo na introdug&o um argumento de autoridade. Ex: Como afirma Foucault, a verdade juridica é uma relac&o construfda a partir de um paradigma de poder social que manipula o instrumental legal, de um poder-saber que estrutura discursos de dominagao. Assim, nao basta proteger o cidad&o do poder com 0 simples contraditério processual e a ampla defesa, abstratamente assegurados na Constitui¢éo. Deve haver um tratamento critico e uma posigao politica sobre o discurso Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 23 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT juridico, com a possibilidade de revelar possiveis contradicées e complexidades das tdbuas de valor que orientam o direito. Ex: "A violéncia é tao fascinante, e nossas vidas séo téo normais”. O célebre verso de Renato Russo traz 4 tona uma discussao atual sobre a seguranca publica nas grandes capitais... Ex: "Disse Alexandre Dumas que Shakespeare, depois de Deus, foi o poeta que mais criou. Aos 37 anos, jé escrevera 21 pecas e inventara uma forma de soneto.” Indagac@o: é¢ 0 uso de uma pergunta para captar a curiosidade do leitor ou para sinalizar o tema. Essa pergunta pode ser respondida na concluséo ou no desenvolvimento, com os argumentos. Pode também ser sé uma ténica para 0 assunto. EX: 0 problema das chuvas tem merecido bastante destaque na midia, em grandes debates sobre quem seria o responsével. A maioria culpa o Governo, por sua omisséo. Porém, seriam alguns habitos do cidadéo comum responsaveis por grande parte desses eventos? Aqui o autor poderia responder a essa pergunta ou se posicionar de forma diferente, atribuindo a um terceiro a culpa. A estratégia é seduzir o leitor e fazé-lo se perguntar quem seria o responsdvel e procurar a resposta no texto. Frases nominais: é 0 uso de uma frase seguida de uma explicagao. A frase seré 0 elemento de curiosidade, a frase seguinte sera uma explicagéo. Ex: Calamidade publica. Assim se referiu o secretério estadual de sade ao atual estado dos hospitais do Rio de Janeiro... Ex: Ditador, louco e genocida. Apés baixar a fumaga das explosées, essas palavras podem ser lidas em muralhas rachadas da maior capital do mundo érabe... Aluséo histérica/literaria: ¢ uma técnica de intertextualidade, comunicando a dissertag&o a outra obra. A alusdo serve para ressaltar semelhancas ou diferencas entre fenémenos atuais e passados, servindo como argumento para corroborar uma mudanca ou uma estagnacao. Ex: A Semana de Arte Moderna ocorreu no Teatro Municipal de S&0 Paulo, em 1922, tendo como objetivo mostrar as novas tendéncias artisticas que j4 vigoravam na Europa. Essa nova forma de expressao nao foi compreendida pela elite paulista, que era influenciada pelas formas estéticas europeias mais conservadoras. O idealizador deste evento artistico e cultural foi o pintor Di Cavalcanti. Ex: Na tarde do Yom Kipur de 1973, sdébado, 6 de outubro, Egito e Siria atacam Israel. Surpreendido e tendo de lutar em duas frentes, num primeiro momento o pais enfrenta dificuldades, mas menos de trés semanas depois, em uma das mais impressionantes reviravoltas da historia militar, seus exércitos estavam a caminho do Cairo e Damasco. Todo esse tempo depois, ainda hd resquicios desse conflito no dia a dia do povo palestino.... Ex: Machado de Assis, em seu conto a Igreja do Diabo, ironiza as religides e a eterna tentagao de violar prescrigdes e fazer o que é proibido. Tal tentacao ainda pode ser EE LT Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 24 de 119 observada, em casos como... Ex: Na mitologia grega, Prometeu é 0 tit que rouba o fogo dos deuses e é por eles condenado a um suplicio eterno. Preso a uma rocha, uma aguia devora-lhe constantemente o figado. Trata-se de uma lenda altamente simbélica e aplicdvel 4 época atual. Narracao: é trazer uma sequéncia de acdes, ou um relato, que vai servir de insinuag&o do tema. Ex: No inicio do més, um assaltante matou um jovem em Sao Paulo com um tiro na cabeca, mesmo depois de a vitima ter Ihe passado o celular. Identificado por cdmeras do sistema de seguranca do prédio do rapaz, 0 criminoso foi localizado pela policia, mas ~ apesar de todos os registros que no deixam diividas sobre a autoria do assassinato - néo ficaré um dia preso. Menor de idade, fol “apreendido” e levado a um centro de recolhimento. O maximo de punicdo a que esté sujeito é submeter-se, por trés anos, 4 aplicacéo de medidas "socioeducativas”. Ex: Para desburocratizar e modernizar a administracao publica federal, 0 Ministério do Planejamento, Orgamento e Gestéo (MPOG) assinou acordo de cooperacéo com o Instituto Nacional de Tecnologia da Informacao (ITI). O objetivo do termo é propor e implementar o Plano Nacional de Desmaterializacao de Processos (PNDProc), que prevé 2 utilizagéo da documentagao eletrénica em todos os tramites de processos. O extrato do pacto entre as entidades foi publicado nesta quarta-feira, 21, no Diério Oficial da Unido. Ex: As 4 horas da manhd, 0 médico se prepara para a cirurgia que vai salvar a vida de um menino baleado. Aplica anestesia, mas é interrompido pelo flash de uma explosao. Assim tém vivido os profissionais que se voluntariaram no programa da cruz vermelha que trabalham nas regides de confiito... Declaracao: semelhante a frase nominal, com uma oracgdo desenvolvida. Uma declaracao forte no inicio do pardgrafo introdutério surpreende o leitor e o induz a prosseguir na leitura. Ex: Jogar games de computador pode fazer bem a satide dos idosos. Foi o que concluiu uma pesquisa do laboratério Gains Through Gaming (Ganhos através de jogos, numa tradug&o livre), na Universidade da Carolina do Norte, nos EUA. Ex: As projecdes sobre a economia para os préximos dez anos sao alentadoras. Se o Brasil mantiver razodvel ritmo de crescimento nesse periodo, chegaré ao final da préxima década sem extrema pobreza. Algumas projecées chegam a apontar o pais como a primeira das atuais nagées emergentes em condigées de romper a barreira do subdesenvolvimento e ingressar no restrito mundo rico. Ex: O homem moderno sucumbiu ao consumismo, tem cada vez mais coisas e cada vez menos tempo. Agora chegou ao extremo de comprar produtos cuja finalidade é 0 préprio desperdici Muito bem! Essas so algumas das principais formulas de introdug&o. Elas podem ser mescladas e adaptadas aos seus argumentos. Observem o exemplo (de prova): Tem saido nos jornais: chuvas deixam Sdo Paulo no caos. E verdade que os moradores Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 28 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT esto sofrendo além da conta, quer estejam circulando pela cidade com seus carros ou nos 6nibus e metré, quer estejam em casa ou no trabalho. Trés fatores criam a confusdo: seméforos desligados; alagamentos nas ruas; falta de energia. Ent&o, tudo culpa da chuva, certo? Errado. Nessa introdugio constam uma declaracdo inicial, uma diviséio e uma indagac&o. Pura habilidade do autor! Mais adiante veremos também algumas estratégias argumentativas, que sao férmulas de pardgrafos de desenvolvimento, mas que, igualmente, podem ser utilizados para iniciar um texto. Desenvolvimento No desenvolvimento deve constar a fundamentag&o da opiniao “levantada” na introdug&o. Cada argumento deve vir separado em um paragrafo, por clareza e por destacar mais ainda a estrutura dissertativo-argumentativa. Essa regra é tao importante que as bancas geralmente descontam pontos por paragrafos que trazem mais de uma ideia. A ideia central de um paragrafo de desenvolvimento é chamada tépico frasal ‘ou pequena tese. Ele é a sintese do argumento, a ideia mais importante do paragrafo, geralmente vem no inicio, mas nao necessariamente. Importante destacar que o pardgrafo segue uma estrutura andloga ao texto argumentativo como um todo. O pardgrafo de desenvolvimento também tem a sua introdugao, que geralmente coincide com o tépico-frasal. 0 periodo seguinte deve trazer uma ampliagao desse tépico, sustentando-o por meio de argumentos e contra-argumentos, raciocinios légicos, exemplos, comparacdes, narrativas, citagdes de autoridades, dados estatisticos ou outra forma de desenvolvimento. Por fim, pode haver uma conclus&o que retoma a ideia-nticleo ou anuncia 0 tépico frasal do préximo argumento. Estrutura do paragrafo argumentativo: Tépico Frasal Ampliagao (exemplo, (eel Tale tee o (pequena tese ou Se litidemalciele} nucleo ou antincio do feet rie cio) dado, analogia...) aie Para ilustrar essa teoria, vamos focar no segundo paragrafo de desenvolvimento retirado da prova da CVM: O potencial das energias propriamente "limpas" e renovaveis & enorme, comparativamente ao que jé existe: ventos, marés, correntes maritimas e fluviais, energia solar. Elas deveréo constituir um né importante na matriz energética Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 26 de 119 Ee relipe Luccas Rosas mundial. Entretanto, admite-se que ainda assim continuaréo sendo apenas complementares e néo suficientes para substituir o petrdleo. Um dos problemas dessas energias limpas é que o seu potencial néo & regularmente distribuido no mundo entre as nagdes consumidoras (1). O Saara, Mogavi e o Nordeste brasileiro séo exemplos de ricos potenciais de energia solar, mas em que isso beneficia os grandes consumidores do norte da Europa? (2) O Nordeste brasileiro, assim como a regio de Bengala e outras regides tropicais, tem enorme potencial edlico. Mas néo sao sé eles: a Dinamarca produz 75% da energia que consome pelos ventos (3). Poucos paises podem rivalizar com o Brasil quanto @ energia hidrelétrica. Nenhuma dessas fontes energéticas limpas e renovaveis poderé, por si, constituir-se no sucessor do petréleo em nivel mundial (4). Na introdug&o, o autor deixa clara sua tese: Hé potencial de energia limpa. Entretanto, admite-se que ainda assim continuar&o sendo apenas complementares e nao suficientes para substituir 0 petréleo em nivel mundial. Isso tem que ser fundamentado no desenvolvimento Ja no desenvolvimento, observe o tépico frasal (1), que apresenta a ideia de que 0 potencial das energias limpas nao é distribuido de forma regular e se sugere que no seria a solucdo da crise energética mundial No segundo periodo (2), ha ampliagao desse tépico, com exemplos de regides com potencial de energia solar, mas que nao vao beneficiar os grandes consumidores da Europa. Em (3) 0 autor traz o exemplo da Dinamarca, na mesma linha. Esses exemplos sustentam a tese de que o potencial de energia limpa nao é distribuido regularmente. Em (4), 0 autor conclui seu raciocinio, reforgando que essa fontes nao substituirao © petréleo, ou seja, seréo apenas complementos, pois ndo s&o uniformemente distribuidas pelos grandes nticleos consumidores. Sintetizando a progressao légica e estrutural desse texto, temos: a) As fontes renovaveis s&o importantes, b) mas, seréo apenas um complemento, pois nado esto distribuidas de forma regular pelo mundo, conforme exemplos, c) portanto, n&o séo capazes de substituir o petréleo. Veja que a estrutura de um tinico parégrafo reflete a macroestrutura do texto dissertativo-argumentativo. Vamos ver questées recentes que cobraram essa teoria? 7] % HORADE PRATICAR! (CESPE / TRE-ES / Taquigrafia / 2011) No Brasil, a tradic&o politica no tocante a representag&o gira em torno de trés ideias fundamentais. A primeira é a do mandato livre e independente, isto é, os representantes, ao serem eleitos, nao tem nenhuma obrigac&o, necessariamente, para com as reivindicagées e os interesses de seus eleitores. O representante deve exercer seu papel com base no exercicio auténomo de sua atividade, na medida em que é ele quem tem a capacidade de discernimento para deliberar sobre os verdadeiros interesses dos seus constituintes. A segunda ideia é a de que os 15. SSS Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoeargeiros ™-PF 27 de 119 representantes devem exprimir interesses gerais, e nao interesses locais ou regionais. Os interesses nacionais seriam os Unicos e legitimos a serem representados. A terceira ideia refere-se ao principio de que o sistema democrético representativo deve basear-se no governo da maioria. Praticamente todas as leis eleitorais que vigoraram no Brasil buscaram a formagéo de maiorias compactas que pudessem governar. Julgue o item que se segue, relativo as estruturas sintaticas e seménticas do texto. Nesse fragmento de texto, o tépico frasal corresponde ao primeiro periodo. Comentarios: primeiro periodo é esse: “No Brasil, a tradigao politica no tocante a representagao gira em torno de trés ideias fundamentais.” O autor anuncia que ha 3 ideias fundamentais e que a tradic&o politica gira em torno delas. Em seguida, detalha cada uma das 3, provando que o fato de haver 3 era a ideia central. Observe que foi usada a técnica de introdusao por divisdo, e a divisdo foi o préprio tépico frasal. Item correto. 16. (IADES / TRE-PA / Taquigrafia / 2014) Segundo Reale (1965, p.9), “o direito & realidade universal. Onde quer que exista o homem, ai existe o direito como expressao de vida e de convivéncia”. No trecho apresentado, o tépico frasal é representado pelo vocdbulo a) realidade. b) homem. c) vida. d) convivéncia. e) direito. Comentarios: Qual é a principal ideia tratada nesse pequeno trecho? O trecho fala de direito, a tese éa de que o direito é universal e inerente ao homem. Nao fala sobre realidade, nem do homem em si, nem da vida nem da convivéncia, menciona esses conceitos em fung&o do direito, que é o tema. Gabarito: letra E. Estratégias para desenvolver um paragrafo argumentativo. Assim como vimos formulas para desenvolver uma introdugdo, veremos agora algumas maneiras de se desenvolver pardgrafos argumentativos. Ha certa semelhanca entre algumas técnicas, na medida em que um dado estatistico pode ser considerado um exemplo ou um esclarecimento, uma explicagéo pode ser considerada um detalhamento. De toda forma, entender o exemplo é mais importante do que o nome da estratégia, pois a banca espera que o candidato identifique que os exemplos, esclarecimentos, detalhamentos ou dados estatisticos, testemunhos de autoridade foram utilizados para fortalecer uma tese e qual tese é essa. Exemplificagao: destacar alguns casos dentre um universo de fenémenos, para ratificar uma tese. Ex: Os investimentos diretos realizados por brasileiros no exterior tém aumentado muito nos Ultimos anos. Em 2011, somaram US$202,6 bilhdes, com crescimento de Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 28 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT 7,4% em relacéo ao ano anterior, conforme pesquisa divulgada em abril de 2012 pelo Banco Central. Os investimentos tém aumentado (tépico frasal). Por exemplo, em 2011 cresceram em 7,4%. Citacgao de fato histérico: como visto na técnica de introdugo, consiste em trazer um evento do passado e relaciond-lo ao presente, geralmente para indicar mudanga ou manutenco de tendéncias. Ex: O movimento feminista comegou a florescer no Brasil na virada do século 20. Diante da omissao da Constituinte de 1891 acerca do voto feminino, a baiana Leolinda de Figueiredo Daltro deu entrada no requerimento de seu alistamento eleitoral. Nao obteve sucesso, mas também n&o entregou os pontos. Menciona o evento histérico da omiss&o da constituinte acerca do voto feminino e indica mudanga nesse cenério. Atualmente as mulheres votam. Ex: Em 23 de dezembro de 1910, fundou no Rio de Janeiro o Partido Republicano Feminista. O grupo tinha como principal objetivo mobilizar as mulheres pelo direito de votar. Em novembro de 1917, uma passeata organizada por Leolinda contou com a participacao de 90 mulheres. O que hoje nao pararia o transito deve ter causado horror em distintos senhores e madames. Faz contraste entre o escdndalo de uma passeata de 90 mulheres em 1917 € indica que hoje tal evento nao seria capaz de parar o transito. Enumeragao ou detalhamento: listar sistematicamente topicos ou aspectos a serem tratados, ou subdividir um aspecto amplo em aspectos menores nele incluidos: Ex: A Igreja Catélica denuncia a amoralidade e 0 materialismo pelo vazio espiritual da moderna civilizac&o. A decomposicao das familias, a violencia, a corrupcao, as drogas, a dissolug&o dos costumes e a falta de solidariedade com os menos afortunados seriam sintomas de um mundo sem fé. O aspecto “Vazio espiritual” é detalhado em subaspectos: a decomposigo das familias, a violéncia, as drogas... Ex: Diversas sdo as naturezas dos instrumentos de que dispée 0 povo para participar efetivamente da sociedade em que vive. Politicos, sociais ou jurisdicionais, todos eles destinam-se 4 mesma finalidade: submeter o administrador ao controle e 4 aprovacéo do administrado. O sufragio universal, por exemplo, 6 um mecanismo de controle de indole eminentemente politica — no Brasil, esté previsto no art. 14 da Constituicéo Federal de 1988, que assegura ainda o voto direto e secreto e de igual valor para todos —, que garante o direito do cidadao de escolher seus representantes e de ser escolhido pelos seus pares. Enumera as naturezas dos intrumentos: politica, social e jurisdicional. Detalha a natureza politica com um exemplo: o sufragio. Contraste e Paralelo: ressalta semelhangas ou diferencas entre elementos. Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 29 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT Ex: Atualmente, hd duas Américas Latinas. A primeira conta com um bloco de paises — incluindo Brasil, Argentina e Venezuela — com acesso ao Oceano Atléntico, que confere ao Estado grande papel na economia. A segunda — composta por paises de frente para o Pacifico, como México, Peru, Chile e Colémbia — adota o livre comércio e 0 mercado livre. Dados estatisticos: por serem de natureza objetiva, d&o credibilidade ao argumento e so grandes recursos de convencimento. Ex: Dados do IBGE revelam que apenas 1,2% dos municipios possuiam plano municipal de redugéo de riscos em 2011. Nos municipios maiores, com mais de 500 mil habitantes, que nao ultrapassam quatro dezenas, este percentual superava 50%. De modo inverso, nos municipios menores, com menos de 20 mil habitantes, em torno de quatro mil, este percentual era de 3,3%. E uma situagéo bastante preocupante relacionada aos municipios de grande porte e drastica nos municipios de pequeno porte. © tépico frasal veio apés a estatistica, sendo sustentado por ela: poucos municipios grandes tém plano municipal de reducgo de riscos e apenas infima porcentagem dos pequenos municipios os possui. Ex: Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ajudam a tragar o perfil do eleitor brasileiro da ultima eleicéo. A inclus&o politica dos brasileiros vem, a cada eleicao, consolidando-se e os dados sao irrefutaveis quanto a isso. A cada cinco pessoas aptas a votar nas eleigées de 2010, uma era analfabeta ou nunca havia frequentado uma escola. S&0, ao todo, 27 milhées de eleitores nessa situagéo no cadastro do TSE. Desses, oito milhdes se declararam analfabetos e 19 milhées declararam saber ler e escrever, sem, entretanto, nunca terem estado em uma sala de aula. No total, havia 135,8 milhées de eleitores no pais em 2010. Tépico frasal: A incluso politica dos brasileiros vem, a cada eleicéio. Em seguida as estatisticas fornecidas fundamentam essa tese. Explicagao ou esclarecimento: consiste em explicitar 0 sentido de uma palavra ou afirmacao. Ex: Com a popularizagao dos computadores e o desenvolvimento da microeletrénica, a palavra informac&o adquiriu um significado diferente. Até ent&o, 0 seu sentido estava restrito 4 transmisséo de dados acerca de alguém ou de algo, geralmente noticias de fatos que chegavam ao receptor com certa defasagem temporal. Tépico frasal: 0 sentido da palavra informag&o mudou. Explicagao: antes significava transmitir dados acerca de alguém ou de algo, hoje significa outra coisa. Testemunho de autoridade: para dar credibilidade a uma tese, traz a opiniao respeitada de um especialista que se alinha ou se ope a ela. Serve como argumento e como contra-argumento. Ex: Entusiasta do sistema, 0 supervisor do Posto Fiscal Virtual, em Porto Alegre define 0 processo como seletivo, econémico e inteligente. “Esse é o futuro. No mundo, cada vez mais, a tecnologia substitui a ago humana, que, por mais atuante que possa ser, EE LT Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 30 de 119 ~ Felipe Luccas Rosas tem limitagées de tempo, esforco e capacidade pessoal”, afirma o auditor-fiscal. O processamento eletrénico, destaca, veio para ficar, e isso esté ocorrendo em todo o mundo. “No Chile, temos a fatura eletrénica, que é muito bem-sucedida. Aqui temos a Nota Fiscal Eletrénica, um sucesso crescente, que quase todos os Estados do pais j4 adotam. E um rumo sem volta. Este é 0 caminho”, garante. Tépico frasal: 0 processamento eletrénico é vantajoso e veio para ficar. A opiniao do supervisor do posto fiscal, um auditor-fiscal, permeada por exemplos, reforca essa tese. Relacdo causa-efeito: relaciona um fato a sua causa ou explicacao. Ex: Se a China e a India hoje surgem no cendrio internacional de modo surpreendente, €é porque sabem articular inovadoramente a cultura ocidental moderna com seus antiquissimos modos de pensar e agir, demonstrando que o desenvolvimento nao se dé mais em termos lineares e que o futuro ndo se desenha desprezando e recalcando 0 passado. india e China sabem articular inovadoramente a cultura ocidental moderna. Surgem no cenério internacional de modo surpreendente. Ex: Sabemos todos que as bombas atémicas fabricadas até hoje sao sujas (alids, imundas) porque, depois que explodem, deixam vagando pela atmosfera o j4 famoso e temido estréncio 90. Causa: Todas as bombas deixam vagando na atmosfera 0 temido estréncio 90. Efeito: todas as bombas sao consideradas sujas. Ex: Se vivemos hoje a era do conhecimento & porque nos alcamos em ombros de gigantes do passado. A Internet representa um poderoso agente de transformacao do nosso modus vivendi et operandi. Causa: Nés nos alcamos em ombros de gigantes no passado. Efeito: vivemos hoje a era do conhecimento. Ooms FUNDO! Conforme mencionado, para dar “validade” e “consist€ncia” aos argumentos, é preciso fundamenté-los. Caso contrario, sio mera “opiniao”, “mero registro de subjetividade”. Uma forma cléssica de se construir um argumento € 0 “silogismo", raciocinio dedutivo que parte duas premissas (maior e menor) para chegar a uma conclusao. Todos os cariocas séo brasileiros. (premissa maior) Jodo é carioca. (premissa menor) Logo, Joao é brasileiro. (conclusao) Quando um silogismo é vélido, a relacdo entre as premissas € verdadeira, irrefutavel e a conclusao é decorréncia necesséria, inevitavel das premissas. Se uma das premissas for falsa, vai levar a uma conclusao falsa Obs: Raciocinio dedutivo é aquele que parte de uma verdade geral para um caso particular. No exemplo acima, partimos de um conceito geral e abstrato (todos os SSS Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 31 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros = TRF 5» REG! 18 - Felipe Luccas Rosas, cariocas so brasileiros) e chegamos a uma verdade particular, concreta (Jodo é brasileiro) Raciocinio indutivo, por outro lado, é 0 que parte de premissas particulares para uma gereralizaco, uma concluséo ndo necessariamente é verdadeira. Ex: O leéo é mamifero/ O ledo é feroz. O lobo 6 mamifero/ O lobo é feroz. O tigre é mamifero/ O tigre é Feroz. 0 golfinho é mamifero/ Portanto, 0 golfinho é feroz. Obs: No estudo rigoroso do raciocinio Idgico, que foge ao nosso escopo e tem regras muito mais especificas, as premissas podem ser absurdas, ser assumidas como verdadeiras e gerar conclusées absurdas consideradas vélidas. Aqui, estamos trabalhando com 0 raciocinio de texto. Ex: Os homens voam, Maria é um homem. Logo, Maria voa. Para 0 nosso estudo, argumento consistente aquele que tem relacao de causalidade com as premissas, ou seja, decorre de premissas verdadeiras e conclui informacao verdadeira. Também quero registrar 0 método de raciocinio chamado “dialético”, que consiste em 3 premissas. A primeira é a tese, a segunda a antitese e a ultima, a sintese. A tese € 0 ponto de vista do autor, a opinio que ele pretende defender. A antitese é 0 contraposto de sua tese, ou seja, € uma opiniao contraria. A sintese é a retomada da tese, apés a desconstrugao ou invalidacéio da antitese, ou seja, uma conclusdo que combina elementos das duas. A juventude é provavelmente a melhor fase para se dedicar ao trabalho (tese). No entanto, uma juventude sem diversao pode dar a sensago de que trabalhar nao vale a pena (antitese). Portanto, é preciso aproveitar a juventude para produzir muito, mas sem abandonar totalmente o lazer (sintese). Essas estruturas aparecem muito frequentemente nos textos argumentativos e usamos esse tipo de raciocinio o tempo todo, sem perceber, de forma nao tdo sistematica. As relagdes de causa e efeito sdo muito semelhantes a um silogismo simplificado, pois uma informacio vai levar a conclusdo de uma outra. Entao, esteja pronto para reconhecer no texto as premissas, os argumentos e as conclusdes do autor. Por fim, ressalto que, assim como ocorrem nas férmulas de introduc&o, os textos trazem diversos argumentos desenvolvidos conjugando uma ou mais dessas técnicas, como veremos nesse exemplo de prova: Entre 1990 e 2010, mais de 96 milhdes de pessoas foram afetadas por desastres no Brasil, como demonstra o Atlas dos Desastres Naturais do Brasil. Destas, mais de 6 milhées tiveram de deixar suas moradias, cerca de 480 mil sofreram algum agravo ou doenga e quase 3,5 mil morreram imediatamente apés os mesmos. Desastres como o de Petrépolis, que resultaram em dezenas de Sbitos, néo existem em um vacuo. Se por um lado exigem a presenca de ameacas naturais, como chuvas fortes, por outro n&o se realizam sem condicées de vulnerabilidade, constituidas através dos processos sociais relacionados & dinamica do desenvolvimento econdmico e da protecéo social e ambiental. Isto significa que os debates em torno do desastre devem ir além das cobrangas que ano apds ano ficam restritas & Defesa Civil. ES TT Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 32 de 119 Nesse pardgrafo argumentativo, 0 autor traz dados e depois monta uma divisdo: um lado...por outro. Vejamos agora o texto injuntivo! TEXTO INJUNTIVO/INSTRUC O texto injuntivo traz instrugées ao leitor para realizar certa tarefa. Ensina, orienta, interpela ou obriga o leitor a fazer alguma coisa. Sua principal caracteristica é apresentar verbos no imperativo, em comandos neutros, genéricos e impessoais, para prescrever alguma agao do leitor. O uso do infinitivo impessoal também é usado como estratégia de neutralidade, pois omite o agente: Ex: Passo 1, remover a embalagem. Passo 2, inserir CD de instalac&o. Ex: 149 - Compete & autoridade judicidria disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvaré... Observamos esse tipo textual em géneros como leis, regulamentos, contratos, manuais de instrug&o, receitas de bolo, tutoriais. Vejamos uma questaozinha recente sobre o texto injuntivo: 17. (UFG / DP-GO / 2014) Leia o Texto para responder a questso LEI NO 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990 Dispée sobre o Estatuto da Crianga e do Adolescente e dé outras providéncias. O PRESIDENTE DA REPUBLICA: Faco saber que 0 Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Titulo I Das Disposigées Preliminares Art. 1° Esta Lei dispée sobre a protecao integral a crianga e ao adolescente. Art. 2° Considera-se crianga, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Paragrafo Unico. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto 4s pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. Art. 3° A crianga e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes 4 pessoa humana, sem prejuizo da protec&o integral de que trata esta Lei, assegurando-se-Ihes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de Ihes facultar 0 desenvolvimento fisico, mental, moral, espiritual e social, em condigdes de liberdade e de dignidade. EE LT Prof. Felipe Luccas Rosas jconcurseiresuaidoeargeiros °7-P 33 de 119 Art. 4° E dever da familia, da comunidade, da sociedade em geral e do poder publico assegurar, com absoluta prioridade, a efetivacéo dos direitos referentes & vida, 4 saude, @ alimentacéo, & educacéo, ao esporte, ao lazer, a profissionalizacao, a cultura, 4 dignidade, ao respeito, liberdade e 4 convivéncia familiar e comunitéria. Parégrafo nico. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber protegao e socorro em quaisquer circunstancias; b) precedéncia de atendimento nos servicos publicos ou de relevancia publica; ¢) preferéncia na formulacéo e na execucéo das politicas sociais publicas; d) destinac&o privilegiada de recursos publicos nas éreas relacionadas com a protecao a infancia e 4 juventude. Art. 5° Nenhuma crianga ou adolescente seré objeto de qualquer forma de negligéncia, discriminagao, exploracao, violéncia, crueldade e opressao, punido na forma da lei qualquer atentado, por agéo ou omisséo, aos seus direitos fundamentais. Em sua acepcfio técnica, lei equivale a uma regra escrita, dotada de poder normativo. No Texto, a normatividade do contetido da lei é marcada por: a) uso esporadico de recursos explicativos dos principios legais. b) estratégias injuntivas e de construg&o da neutralidade. c) recorréncia de raciocinio indutivo. d) expressdes de possibilidade geradoras de intimidac&o no leitor. e) escolha lexical de valor ambiguo. Comentarios: A lei € classico género textual injuntivo: traz comandos genéricos, instrucdes para a sociedade, regras que ela, como um todo, deve seguir. Observe os verbos no imperativo os comandos neutros e genéricos: “nenhuma crianga ou adolescente sera objeto...” e “Considera-se crianca, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos...”. Gabarit : Letra B. Sex: rani Finalidade predominante dos Textos Expositivo/Explicativo/Informativo: Expor informagées e conhecimentos Opinativo/Argumentativo: Convencer, defender uma opiniao. Polémico: Contrabalancear opiniées. Instrucional: Normatizar, prescrever, ensinar. Prof. Felipe Luccas Rosas \www.concurselresanidoaangeiros °™-br 34 de 119 18. (FGV / ALEMA / 2013) VIVA A MATA A finalidade basica do texto acima é a) regulamentar. b) informar. c) ensinar. d) convencer. e) prever. Comentarios: A propaganda é tipico género textual em que predomina o tipo argumentativo, pois a finalidade € convencer o interlocutor a fazer ou deixar de fazer algo. Nosso gabarito, portanto é a letra D. Na letra a) e na letra c) teriamos um texto injuntivo, cuja finalidade é regulamentar e instruir; na letra b) teriamos um texto expositivo, cuja finalidade é informar; na letra e) teriamos um texto preditivo, que se utiliza de dados anteriores para fazer deducdes e projecdes, tais como um horéscopo, uma previséo de economia ou uma previséo do tempo. Interpretagao e compreensao Embora muitos alunos os tratem por sinénimos, interpretar e compreender so acdes diferentes. Sem filosofar muito, para efeito de prova, interpretar é ser capaz de depreender informagoes do texto, deduzir baseado em pistas, inferir um subtexto, que no esta explicito, mas est pressuposto. Compreender, por sua vez, seria localizar uma informag&o explicita no texto e néo depende de nenhuma inferéncia, porque esta clara. Essa diferenga aparece nos enunciados, quando a banca nos informa se uma questao deve ser resolvida por recorréncia (compreensao) ou por inferéncia (interpretagdo). Veremos aqui uma breve distinc&o teérica e depois partiremos para as questées, porque 6 aprendemos a interpretar lendo e interpretando. Recorréncia: o leitor deve buscar no texto aquela informagao, sabendo que a resposta estard escrita com outras palavras, em forma de paréfrase, ou seja, de uma reescritura. 19. (CESPE / Escrivao / PC-DF / 2013) O problema intercultural ndo se resolve, como pretendem os multiculturalistas, pelo simples reconhecimento da isonomia axiolégica entre culturas distintas, mas, Prof. Felipe Luccas Rosas jconcurseiresuaidoeargeiros °7-P 35 de 119 fundamentalmente, pelo diélogo interpessoal entre individuos de culturas diferentes e, mais ainda, pelo acesso individual & prépria diversidade cultural, como condic&o para o exercicio da liberdade de pertencer a uma cultura, de assimilar novos valores culturais ou, simplesmente, de se reinventar culturalmente. Aliés, 0 reconhecimento da isonomia axiolégica entre culturas é importante nao porque limita a individualidade a uma estrita viséo antropolégica que projeta a condi¢éo humana ao circulo concéntrico da cultura do agrupamento familiar e social a que pertence 0 individuo, mas porque o liberta, ao Ihe dar amplitude de op¢ao cultural, que, transcendendo a esfera da identidade individual como simples parte de uma cultura, dimensiona a individualidade no campo da liberdade — da liberdade de criar a si mesmo. Por fim, a passagem para a democracia ndo totalitéria, ou seja, democracia na e para a diversidade, decorre, justamente, da sensibilizacao do politico e da democratizago do espaco pessoal, ‘antes preso a teia indizivel do monismo cultural ocidental, tornando-se papel do Estado 0 oferecimento das condi¢ées de acessibilidade 4 diversidade cultural, ambiente imprescindivel 4 autogestéo da identidade pessoal. Em relago ao texto acima, julgue o seguinte item. De acordo com 0 autor do texto, a soluc&o dos conflitos interculturais requer o emprego de mecanismos mais complexos do que o proposto pelos multiculturalistas. Comentarios: Comparem o enunciado com esse periodo: O problema intercultural nao se resolve, como pretendem os multiculturalistas, pelo simples reconhecimento da isonomia axiolégica entre culturas distintas. A pequena diferenca reside no verbo utilizado, pretender no lugar de propor. Item certo. Infer€ncia: o leitor deve fazer dedugées a partir do texto. O fundamento da deduc&o sera um pressuposto, ou seja, uma pista, vestigios que o texto traz. Deduzir além das pistas do texto é extrapolar. Geralmente questdes de inferéncia trazem o seguinte enunciado: “depreende-se das ideias do texto”. Ex: Douglas parou de fumar. Nessa informacéo temos um pressuposto, indicado no verbo parar. Sé para de fumar quem comesou a fumar. Entdo podemos inferir, deduzir, depreender dessa frase que Douglas fumava. Ex: Ainda néo langaram 0 novo filme do Tarantino. advérbio ainda é um pressuposto e traz o sentido implicito de que ha expectativa de que o filme j4 deveria ter saido. Ex: Minha primeira esposa desistiu de comprar aquele carro que no polui o ambiente. Pode se inferir de “primeira esposa” que o interlocutor se casou mais de uma vez, e que a referida primeira esposa pretendia comprar um determinado carro, tanto que desistiu. A oragao restritiva “que n&o polui o ambiente” indica que nem todos os carros tém essa caracteristica de nao poluir. Ex: Embora ele tentasse estudar sempre, até nos fins de semana, continuou sendo Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 36 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT criticado. A conjunggo “embora”, por ser concessiva, nos permite inferir que aquela oracao é vista como um possivel “obstaculo” ao que vai ser dito a seguir. Entende-se que o estudo constante deveria impedir a critica, mas nao impede. O verbo “tentasse” ja sugere que ele ‘tentava’, mas nao conseguia. A palavra denotativa “até” dé sentido de incluso, mas com uma camada seméntica de concess&o. Podemos depreender que “até nos fins de semana” indica que estudar no fim de semana tem um valor diferente. A forma “continuou” implica um inicio anterior: s6 continua quem comesou. Ex: A populacao supée que os senadores se tornardo defensores da nova democracia. Aqui, 0 uso do verbo “supde” sugere uma crenca no que nfo é verdadeiro. A forma “se tornardo” indica mudanca de estado, o que nos permite deduzir que o estado atual n’o é esse. Em outras palavras, os senadores nao s&o defensores da nova democracia. A préprosito, o adjetivo ‘nova’ permite presumir a existéncia de uma democracia “velha”. Os subentendidos, ao contrério dos pressupostos, ndo so decorréncias necessarias das pistas, mas so dedugées subjetivas, séo informacdes presumidas e insinuadas. Imagine os seguintes didlogos entre pessoas no ponto de énibus: Ex!: — Vocé tem relégio? — S&o 11 horas. — Obrigado! —Tenho sim. Por qué? No primeiro exemplo, havia um subentendid prontamente captado pelo ouvinte. No segundo exemplo, havia um subentendido na pergunta: “gostaria de acenter meu cigarro”. Mas 0 ouvinte n’o compreendeu a informagao subentendida e respondeu de forma literal @ pergunta insinuada. O pressuposto, embora traga informacdo implicita, esta visivelmente registrado no teor daquelas palavras, esta “marcado linguisticamente”, ao passo que o “subentendido” é um insinuag&o, néo marcada linguisticamente, ou seja, n&o esta propriamente nas palavras, é extralinguistico, esta nas entrelinhas. Por isso, a leitura literal das palavras pode levar a outra interpretacdo e no a informacao subentendida. Vejamos mais um exemplo de subentendido: “quero saber que horas séo”, que foi Sim..Acho que ‘él Novamente, a “oferta” de café, subentendida, nao foi observada pelo ouvinte, que se ateve ao sentido literal registrado nas palavras. Enfim, pessoal, infelizmente n&o hé uma dica milagrosa para interpretacdio. Teremos Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 37 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros ~ Felipe Luccas Rosas sempre que fazer esse exercicio de buscar informacées explicitas e implicitas no texto, baseado em vestigios e pistas, nas entrelinhas, ou muitas vezes encontrando a reescritura equivalente de uma ideia apresentada x * HORADE PRATICAR! 20. (CESPE / DELEGADO / PC-GO / 2017) Texto CB1A1AAA A diferenga basica entre as policias civil e militar é a esséncia de suas atividades, pois assim desenhou 0 constituinte original: a Constituicéo da Republica Federativa do Brasil de 1988 (CF), em seu art. 144, atribui 4 policia federal e as policias civis dos estados as fungées de policia judiciéria — de natureza essencialmente investigatéria, com vistas a colheita de provas e, assim, viabilizagéo do transcorrer da a¢&o penal — e a apuragao de infracées penais. Enquanto a policia civil descobre, apura, colhe provas de crimes, propiciando a existéncia do processo criminal e a eventual condenagao do delinquente, a policia militar, fardada, faz o patrulhamento ostensivo, isto é, visivel, claro e perceptivel pelas ruas. Atua de modo preventivo-repressivo, mas nado é seu mister a investigacéio de crimes. Da mesma forma, nao cabe ao delegado de policia de carreira e a seus agentes sair pelas ruas ostensivamente em patrulhamento. A prépria comunidade identifica na farda a policia repressiva; quando ocorre um crime, em regra, esta é a primeira a ser chamada. Depois, havendo priséo em flagrante, por exemplo, atinge-se a fase de persecugao penal, e ocorre o ingresso da policia civil, cuja identificagéo no se dé necessariamente pelos trajes usados. Infere-se das informages do texto que a) 0 uso de fardamento pela policia militar € 0 que a diferencia da policia civil, que prescinde dos trajes corporativos. b) a esséncia da atividade do delegado de policia civil reside no controle, na prevengao e na repressdo de infracdes penais. c) ao delegado de policia cabem a condugao da investigacao criminal e a apuragéo de infragées penais. d) a tarefa precipua dos delegados de policia civil e de seus agentes é o patrulhamento ostensivo nas ruas. e) a fungéo de policia judiciéria concretiza-se no policiamento ostensivo, preventivo e repressivo. Comentarios: Pessoal, pela leitura do texto, temos a seguinte divisdo: A Policia Civil, judicidria, investiga e apura as infracdes penais, sua identificagéo nao se dé necessariamente pelos trajes usados . No cabe ao delegado de policia civil sair ostensivamente para fazer patrulhamento. A Policia Militar, ostensiva, atua de modo preventivo-repressivo, é fardada e a populacdo reconhece nessa farada seu caréter repressivo. SSS Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoeargeiros ™-PF 38 de 119 Veja isso no texto: Enquanto a policia civil descobre, apura, colhe provas de crimes, propiciando a existéncia do proceso criminal e a eventual condenagao do delinquente, a policia militar, fardada, faz © patrulhamento ostensivo, isto é, visivel, claro e perceptivel pelas ruas. Atua de modo preventivo-repressivo, mas nao é seu mister a investigacao de crimes. a) Incorreta. O que diferencia é so as atividades, previstas na constituicao. b) Incorreta. a esséncia da atividade do delegado de policia civil reside na apuracao de infragdes penals para a formacao do processo judicial. ¢) Exato, Ao delegado de policia cabem a condusao da investigagao criminal e a apuracao de infracdes penais. d) Incorreta. a tarefa precipua da policia militar e de seus agentes é 0 patrulhamento ostensivo nas ruas. ) Incorreta. a fung&o de militar concretiza-se no policiamento ostensivo, preventivo e repressivo. Portanto, nosso gabarito é Letra C. 21. (CESPE / DELEGADO / PC-GO / 2017) O texto texto CB1A1AAA(Questao 20) é predominantemente a) injuntivo. b) narrativo. c) dissertativo. d) exortativo. e) descritivo. Comentarios: Pela leitura atenta do texto, percebemos que o autor expde de forma clara e objetiva a diferenca entre as atribuigdes das policias civil e militar. Essa exposic&o é neutra, sem defesa de tese, reproduz os dizeres da Constituic&o Federal. Como marcas linguisticas, ha predominancia de verbos no presente do indicativo, o que indica a intengao de dar ao contetido tom de “verdade geral”, de “informac&io”, nao de opinido. Essa é uma marca da dissertacéio, no caso, de caréter meramente explicativo ou expositivo, pois no tem finalidade de comprovar ponto de vista. Gabarito letra C. 22. (IBFC / Perito Criminal / PC-RJ / 2013) No verso “Eu no me lembro mais”, a palavra em destaque permite que o leitor infira um conteudo pressuposto sobre a lembranca referida pelo sujeito lirico. Indique- 0. a) Ele nunca se lembrou. b) Ele agora se lembra mais do que ja lembrara um dia. c) Ele lembrara certamente num futuro préximo. d) Ele j4 no se lembra daquilo que lembrara um dia ) Ele nao se lembra com a mesma intensidade do passado.- Comentarios: © advérbio “mais” indica um pressuposto: se ela ndo se lembra “mais” é porque se lembrava antes e agora ja nao lembra. Gabarito letra D. Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 39 de 119 TT 23. (COMPERVE / UFERSA / CONTADOR / 2015) Considere o trecho reproduzido abaixo. Distritos residenciais foram erguidos cada vez mais distantes das 4reas centrais, onde tradicionalmente estao os postos de trabalho. O movimento pendular entre moradia e emprego tornou-se obrigatério para milhées de habitantes. Em relacio as informacées implicitas, é correto afirmar que nele existem a) um subentendido marcado linguisticamente e um pressuposto sem marcagao linguistica. b) dois subentendidos marcados linguisticamente. c) dois pressupostos marcados linguisticamente. d) um pressuposto sem marcacéo linguistica e um subentendido marcado linguisticamente. Comentarios: A questao é dificil, mas serve de exemplo do que vimos acima. Os pressupostos sao informagées impliticitas marcadas no texto, decorrentes logicamente do teor das palavras. Jé os subentendidos nao sdo marcados linguisticamente, a informacao ndo esté nas palavras, esté no contexto, é insinuada indiretamente. A forma “tornou-se” nos permite inferir que o movimento migratério nao era obrigatério antes e agora passou a ser. Pela expresso “cada vez mais” podemos inferir o pressuposto de que no inicio os “Distritos residenciais foram erguidos” préximo aos centros comerciais e foram gradativamente se distanciando. Gabarito letra C. 24. (UEG / DELEGADO / PC-GO / 2013) Na frase “[o homem] deixou de exercer sua forca perante uma forca maior”, hd 0 seguinte pressuposto acionado linguisticamente pelo verbo “deixar”: a) No passado, o homem exerceu sua forca perante uma fora maior. b) O homem é por natureza um ser que procura impor-se pela forca fisica. c) O homem esperto sabe que pode exercer sua forca perante o mais fraco. d) Nos dias atuais, o homem busca varias formas de exercer seu poder sobre os demais. Comentarios: Ora, se o homem “deixou de execer”, podemos inferir que um dia, no passado, exerceu que agora nao exerce mais. Gabarito letra A. 25. (Consulplan / MAPA / 2014) E sina de minha amiga penar pela sorte do préximo, se bem que seja um penar jubiloso. Explico-me. Todo sofrimento alheio a preocupa e acende nela o facho da ‘ago, que a torna feliz. N&o distingue entre gente e bicho, quando tem de agir, mas, como ha intimeras sociedades (com verbas) para o bem dos homens, e uma s6, sem recurso, para o bem dos animais, é nesta ultima que gosta de militar. Os problemas aparecem-Ihe em cardume, e parece que a escolhem de preferéncia a outras criaturas de menor sensibilidade e iniciativa (...). Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 40 de 119 LT Dissertar significa debater um tema, ou seja, apresentar uma tese e encontrar argumentos para defendé-la. Considerando tal pressuposto, é correto afirmar que o ponto de vista assumido no texto defende que a) a distingao entre “gente” e “bicho” é inadequada em qualquer situacao. b) pessoas menos sensiveis so mais suscetiveis a problemas do que as outras. c) as agées soliddrias, de ajuda ao préximo, s&o trabalhosas, mas causam satisfagao. d) todo sofrimento deve ser evitado, n&o importando tratar-se de “gente” ou “bicho”. Comentarios: Nessa questiio, temos que observar um pressuposto para identificar o ponto de vista do autor, que fica claro pela expresso concessiva “se bem que”: E sina de minha amiga penar pela sorte do préximo, se bem que (embora) seja um penar jubiloso. Ent&o, pela concess&io, temos a opinigio de que hé um lado ruim, um sofrimento, mas esse sofrimento nao a impede de cuidar dos animais, porque “todo sofrimento alheio a preocupa e acende nela o facho da ac&o, que a torna feliz’. Em outras palavras, sua tese é: ha uma sina em ajudar ao préximo, mas ela traz felicidade. Gabarito letra C. Leia o texto todo. Leia outra idek ke ae Questdes de recorréncia sf0 vez, marcando as ideias ip a resolvidas encontrando uma pecomee cove Me. paréfrase. Questdes de desenvolvimento €0tépte> || atin exam ume decurbo : Tonendnepesuponan centrais de cada pardgrafo, que frequentemente vem no seu Inicio. Julgamento de Assertivas: p erros Pessoal, vamos ver agora os principais raciocinios equivocados que fazem o aluno errar na hora da prova. @Extrapolar: Esse € 0 erro mais comum. O texto vai até um limite e 0 examinador oferece uma assertiva que “vai além” desse limite. 0 examinador inventa aspectos que no esto contidos no texto e 0 candidato, por no ter entendido bem o texto, preenche essas lacunas com a imaginacéo, fazendo outras associagbes, 4 margem do texto, estimulado pela assertiva errada. O exemplo mais perigoso é a extrapolag&o com informagéo eee Prof. Felipe Luccas Rosas jconcurseiresuaidoeargeiros °7-P 41 de 119 verdadeira, mas que no esta no texto. Q@Limitar e Restringir: E 0 contrario da extrapolacdo. Geralmente se manifesta na supress&o de informacaéo essencial para o texto. A assertiva reducionista omite parte do que foi dito ou restringe © fato discutido a um universo menor de possibilidades. @Acrescentar opiniao: Nesse tipo de assertiva errada, o examinador parafraseia parte do texto, mas acrescenta um pouco da sua prépria opini&o, opinido esta que n&o foi externada pelo autor. A armadilha dessas afirmativas esta em embutir uma opiniao que nao esté no texto, mas que estd na consciéncia coletiva, pelo fato de ser um cliché ou senso comum que o candidato possa compartilhar. @Ccontradizer o texto. texto original diz "A" e o texto parafraseado da assertiva errada diz “Nao A” ou “B”. Para disfarcar essa contradicéo, a banca usaré muitas palavras do texto, fara uma paréfrase muito semelhante, mas com um vocabulo crucial que fara o sentido ficar inverso ao do texto. @Tangenciar o tema. O examinador cria uma assertiva que aparentemente se relaciona ao tema, mas fala de outro assunto, remotamente correlato. No mundo dos fatos, aqueles dois temas podem até ser afins, mas no texto no se falou do segundo, s6 do primeiro; ent&o houve fuga ao tema. Vamos fazer um exercicio e localizar esses erros num texto. Para evitar os erros acima, 0 leitor deve ser capaz de fazer o “recorte tematico”, isto é, uma delimitago do tema, um estabelecimento de fronteiras do que esta no texto e 0 que o extrapola. 26. (Questao Inédita / 2017) As causas do desemprego no mundo Atualmente 0 mundo atingiu um nivel muito alto de desemprego, fato que s6 havia acontecido, em proporgées similares, apés a crise de 29. Segundo os érgéios internacionais, existem hoje, aproximadamente, 850 milhées de pessoas desempregadas, algumas profissdes foram superadas outras extintas, 0 crescimento constante de tecnologias provoca alteragdes no mercado de trabalho em todo o mundo. Até mesmo em paises de terceiro mundo, as fabricas e indiistrias estao sofisticadas @ modernas. As empresas so obrigadas a investir macigamente em tecnologia para garantir rapidez e melhorar a qualidade, itens necessdrios em um mercado t&o competitivo. De acordo com os fragmentos abaixo, julgue os itens: I- Consoante algumas institui¢des internacionais, um numero préximo de 850 milhdes de pessoas esto desempregadas, pois 0 desenvolvimento das tecnologias de automa¢ao modificou profundamente as relacées de trabalho, Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 42 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT I- II- Iv- v- aumentando a rotatividade nos postos de trabalho. Segundo o autor, o desemprego no Brasil atingiu um nivel muito alto, algo que sé ocorrera apés a depressdo de 1929. Fabricas em paises de terceiro mundo, ao contrario do que possa parecer, ostentam plantas modernas, em que hé grandes investimentos em tecnologia, pois esse é um fator necessario para sobreviver num mercado competitivo, assim como a qualidade da mao de obra. De acordo com organismos internacionais, hé aproximadamente 850 milhées de desempregados, tendo em vista que algumas profissées foram superadas e extintas, além do fato de que o crescimento constante de tecnologias provoca manutencdo das relacées de trabalho no mercado em todo o mundo. Tal nivel de desemprego é sem precedentes na histéria. Os investimentos em tecnologia so um grande fator para a deterioracéo dos beneficios trabalhistas, constitucionalmente garantidos, acentuando a condig&o de hipossuficiente dos operdrios das modernas e sofisiticadas fébricas em todo o mundo. Comentarios: QP II- ItI- Iv- No primeiro item, ha extrapolacéo. O texto néo menciona nada sobre automagao nem sobre rotatividade de trabalho; embora seja possivel fazer essas associagées & luz do tema “desemprego” isso foi além do que estava escrito no texto. Essas informagées nao esto contidas. Houve reduo drastica da abrangéncia do tema. O autor fala do desemprego em todo o mundo; a assertiva somente menciona o Brasil, tornando o universo da discussdo muito restrito. Esse “ao contrério do que possa parecer” é opini&o do examinador levemente embutida no item. O texto nao diz claramente que as fabricas parecem menos modernas. Pelo contrério, diz que até as fabricas em paises de terceiro mundo esto sofisticadas; entao poderiamos até entender um sentido concessivo de que no é esperado que essas fabricas sejam modernas, mas isso é diferente de dizer que “néo parecem” modernas. também foi acrescentada uma outra opiniéo: que “a qualidade da mao de obra é téo importante quanto a tecnologia”. Essas opiniées séo compartilhadas por muitas pessoas, entao o candidato pode se identificar e marcar o item como certo. Contudo, nao constam no texto escrito. item € quase todo igual ao texto original, mas no finalzinho traz uma informacio oposta: “o crescimento constante de tecnologias provoca manutengdo das relacées de trabalho”. Nao ha manutencdo, hé mudangas constantes, nas palavras do autor, hd “alteracdes”. Também contradiz o texto a parte: “Tal nivel de desemprego é sem precedentes na histéria”. Isso ndo & verdade, pois também houve desemprego alto apés a crise de 29, conforme 0 texto. O tema do texto é 0 aumento do desemprego. Esta assertiva menciona indiretamente a tecnologia, mas foca em outro tema: “direitos trabalhistas”. Embora remotamente relacionados, houve fuga ao objeto principal do texto. Dessa forma, observamos que, embora todas as alternativas tragam palavras muito EE Prof. Felipe Luccas Rosas \www.concurselresanidoaangeiros °™-br 43 de 119 LT = Felipe Luccas Rosas semelhantes as do texto, todos os itens est&o errados. Gabarito EEEEE Viram, pessoal? E assim que a banca trabalha para te enganar. Muda pequenas partes do texto, subtraindo ou acrescentando informagdes com o propésito de mudar o sentido da assertiva. ERROS DE INTERPRETACAO TEXTUAL Extrapolar o texto lido Reduzir ou restringir 0 texto lido Acrescentar opiniao nao indicada pelo autor Contradizer o texto lido Evadir ou tangenciar o tema 27. (FCC / TRT 242 REGIAO / Técnico Judiciario / 2017) Aspectos Culturais de Mato Grosso do Sul A cultura de Mato Grosso do Sul é 0 conjunto de manifestagées artistico-culturais desenvolvidas pela populac&o sul-mato-grossense muito influenciada pela cultura paraguaia. Essa cultura estadual retrata, também, uma mistura de varias outras contribuig6es das muitas migragées ocorridas em seu territério. Oartesanato, uma das mais ricas expressées culturais de um povo, no Mato Grosso do Sul, evidencia crengas, habitos, tradigdes e demais referéncias culturais do Estado. E produzido com matérias primas da prépria regio e manifesta a criatividade e a identidade do povo sul-mato-grossense por meio de trabalhos em madeira, ceramica, fibras, osso, chifre, sementes, etc. As pecas em geral trazem a tona temas referentes ao Pantanal e as populacées indigenas, sao feitas nas cores da paisagem regional e, além da fauna e da flora, podem retratar tipos humanos e costumes da regiao. Depreende-se corretamente do texto que a cultura de Mato Grosso do Sul é a) formada principalmente pela influéncia da cultura de vérios povos migrantes e também pela influéncia secundédria da cultura paraguaia. b) formada néo apenas pela influéncia da cultura paraguaia, mas também pela influéncia da cultura dos povos que migraram para essa regido. a Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 44 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros c) muito influenciada pela cultura paraguaia, mas também o é pela cultura de povos de outros paises sul-americanos. d) fortemente influenciada pela cultura de nacdes sul-americanas, mas o é também pela cultura de povos de outras regides do Brasi e) reflexo de uma forte influéncia da cultura paraguaia, e a cultura de outras regides nao a influenciou de forma relevante. Comentarios: No primeiro paragrafo temos: Primeiro lugar: A cultura de Mato Grosso do Sul é 0 conjunto de manifestacées artistico- culturais desenvolvidas pela populag3o sul-mato-grossense muito influenciada pela cultura paraguaia Segundo lugar: Essa cultura estadual retrata, também, uma mistura de vérias outras contribuigées das muitas migracées ocorridas em seu territério. Portanto, a influéncia paraguaia é primdria, maior do que a das outras migracées. a) Incorreta. Houve inversdo, a influéncia paraguaia é priméria. b) Correta. Houve influéncia paraguaia e também de outras culturas. c) Incorreta. Houve extrapolacéo, pois em nenhum momento se falou de nacdes sul- americanas, apenas de falou de “outras contribuigées das muitas migragdes ocorridas”. d) Incorreta. Em nenhum momento se falou especificamente de nagées sul-americanas nem de outras regiées do Brasil. e) Incorreta. Aqui ha contradig&o total. O texto diz exatamente o contrario: outras culturas, além da paraguaia, também influenciaram a formacdo cultural do Mato Grosso do Sul. Gabarito letra B. 28. (CESPE / DPU / 2016) No Brasil, pode-se considerar marco da histéria da Assisténcia juridica, ou justica gratuita, a prépria colonizac&o do pais, ainda no século XVI. O surgimento de lides provenientes das intimeras formas de relagao juridica entao existentes — e 0 chamamento da jurisdigéo para resolver essas contendas — jé dava inicio a situagdes em que constantemente as partes se viam impossibilitadas de arcar com os possiveis custos judiciais das demandas. A partir de entéo, a chamada assisténcia judiciéria praticamente evoluiu junto com o direito patric. Sua importéncia atravessou os séculos, e ela passou a ser garantida nas cartas constitucionais. No século XX, 0 texto constitucional de 1934, no capitulo II, "Dos direitos e das garantias individuais”, em seu art. 113, fez mengdo a essa protecéio, ao prever que “A Unido e os estados concederdo aos necessitados assisténcia judiciaria, criando para esse efeito drgdos especiais e assegurando a isengéo de emolumentos, custas, taxas e selos”. Por sua vez, a Constituic¢éo de 1946 previu, no mesmo capitulo que a de 1934, em seu art. 141, § 35, que "O poder publico, na forma que a lei estabelecer, concederd assisténcia judiciéria aos necessitados”. A lei extravagante veio em 1950, materializada na Lei n.° 1.060, que especifica normas para a concessao de assisténcia judiciaria aos necessitados. No art. 4.° dessa lel, Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 45 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT havia meng&o ao “rendimento ou vencimento que percebe e os encargos préprios e os da familia” e constava a exigéncia de atestado de pobreza, expedido pela autoridade policial ou pelo prefeito municipal. Foi o art. 1.2, § 2.2, da Lei n.° 5.478/1968 que criou a simples afirmac&o (da pobreza), ratificado pela Lei n.? 7.510/1986, que deu nova redacao a dispositivos da Lei n.° 1060/1950. Em 1988, a Carta Cidad& ampliou 0 escopo da assisténcia judiciéria ao empregar o termo assisténcia juridica integral e gratuita, que é mais abrangente e que abarca o termo usado anteriormente, restrito apenas 4 assisténcia de demanda judicial ja proposta ou a ser interposta. O termo atual também engloba atos juridicos extrajudiciais, aconselhamento juridico, patrocinio da causa, além de ages coletivas e mediacao. Hoje, portanto, alguém que se vé incapaz de arcar com os custos que uma lide judicial impée, mas necessita da imediata prestagao jurisdicional, pode, mediante ‘simples afirmativa, postular as benesses dessa prerrogativa, garantida pela Constituic&o Federal vigente. No que se refere as ideias e informacies do texto, julgue os itens a seguir. Infere-se do texto que a Lei n.° 1.060/1950 ainda esté em vigéncia, embora tenha passado por algumas alteracées. Comentarios: Nao esté explicito no texto que essa lei ainda esta em vigor, mas ha pistas que indicam isso, vejam: “A lei extravagante veio em 1950, materializada na Lei n.° 1.060, que especifica normas para a concessdo de assisténcia judicidria aos necessitados”. Sabemos da nossa experiéncia que, em geral, uma lei permanece vigente até ser revogada. A lei foi criada e néo ha nada no texto sugerindo que foi revogada, apenas alterada, conforme o trecho seguinte: “Foi o art. 1.9, § 2.9, da Lei n.° 5.478/1968 que criou a simples afirmac&o (da pobreza), ratificado pela Lei n.° 7.510/1986, que deu nova redacao a dispositivos da Lei n.° 1.060/1950.”. Item correto. 29. (CESPE / DPU / 2016) Utilizar o texto da questao 28. © autor do texto visa convencer o leitor acerca da necessidade de que se tratem como iguais os desiguais, por meio da prestacao jurisdicional gratuita. Comentarios: Pessoal. Esse é caso tipico de extrapolagdo, em que o leitor projeta em sua leitura algo da sua vivéncia pessoal, mas que nao encontra fundamento em parte nenhuma do texto. A banca sabe que o candidato vai associar esse tema da justica gratuita ao tema constitucional da hipossuficiéncia, do tratamento isonémico entre os desiguais e outras questées conexas. Porém, isso n&o esté no texto. Apenas se fala de uma evolucdo histérica do direito assisténcia judicidria gratuita aos necessitados nos dispositivos legais e constitucionais. Nao se entra no mérito da igualdade. Além disso, 0 texto & predominantemente expositivo, nao esté clara a intencdo de convencer de nada. Questo incorreta. 30. (CESPE / DPU / 2016) Utilizar o texto da questao 28. Sem prejuizo do sentido e da correc&o gramatical do texto, o primeiro periodo Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 46 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT poderia ser reescrito da seguinte forma: a prépria colonizagao do Brasil, ainda no século XVI, pode ser considerada marco da histéria da assisténcia juridica, ou justica gratuita, no pais. Comentarios: Vamos comparar: No Brasil, pode-se considerar marco da histéria da Assisténcia juridica[...] a prépria colonizacéo do pais, ainda no século XVI. a prépria colonizag&o do Brasil, ainda no século XVI, pode ser considerada marco da histéria da assisténcia juridica, ou justiga gratuita, no pais. E uma paréfrase (reescritura perfeita), apenas mudando a posig&o do sujeito. Questaéo correta. 31. (CESPE / DPU / 2016) Utilizar o texto da questao 28. Depreende-se do texto que, de acordo com a Constituigéo Federal de 1988, é proibido pessoa possuidora de bens requerer o direito a assisténcia juridica integral e gratuita. Comentarios: O enunciado “Depreende-se” € pista para o aluno saber que é uma questdo de inferéncia, ou seja, a resposta nao estar explicita numa mera reescritura. Vamos buscar 0 trecho que se refere a constituiggo de 1988: “Em 1988, a Carta Cidad& ampliou o escopo da assisténcia judiciéria ao empregar o termo assisténcia juridica integral e gratuita, que é mais abrangente e que abarca o termo usado anteriormente...” Me digam agora onde esté alguma referéncia implicita ou explicita a bens. Em lugar nenhum. Essa seria uma extrapolago, tentativa de induzir a pensar que quem tem bens é rico e nao necesita da assisténcia judicidria. Isso seria um raciocinio pessoal, fora do texto. Até porque ter bens no significa nao ser necessitado. Alguém pode ter um carro e nao poder pagar um advogado ou custas. O proprio texto desmente essa possivel premissa: “— ja dava inicio a situagdes em que constantemente as partes se viam impossibilitadas de arcar com os possiveis custos judiciais das demandas.” Reforga-se, nao ha no texto qualquer pista que sustente essa correspondéncia: parte impossibilitada de arcar com os possiveis custos judiciais=pessoa néo possuidora de bens. Item errado. 32. (CESPE / DPU / 2016) Utilizar o texto da questao 28. Conclui-se do texto que, ao prever a substituigéo do atestado de pobreza pela simples afirmativa da pessoa de que ela ndo pode arcar com os custos judiciais da demanda, a lei teria buscado uma forma de tornar mais acessivel ao necessitado 0 exercicio de seu direito. Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 47 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT Comentarios: Vejamos a parte que indica que a substitui¢&o do atestado por uma afirmativa da pessoa ou 0 acesso @ assisténcia gratuita: No art. 4.° dessa lei, havia meng&o ao e constava a exigéncia de atestado de pobreza, expedido pela autoridade policial ou pelo prefeito municipal. Foi o art. 1.°, § 2.°, da Lei n.° 5.478/1968 que criou a simples afirmacao (da pobreza), ratificado pela Lei n.° 7.510/1986, que deu nova redaco a dispositivos da Lei n.° 1060/1950. Vejam que era um documento que deveria incluir encargos de varias pessoas e ser expedido pela policia ou pelo prefeito. Imaginem o trabalho que dava rs... De fato, a lei buscou deixar mais acessivel 0 beneficio. Questo correta. 33. (FCC / TRT 24 REGIAO / Técnico Judi / 2017) Instituig6es financeiras reconhecem que é cada vez mais dificil detectar se uma transag&o é fraudulenta ou verdadeira Os bancos e as empresas que efetuam pagamentos tém dificuldades de controlar as fraudes financeiras on-line no atual cendrio tecnolégico conectado e complexo. Mais de um terco (38%) das organizacées reconhece que é cada vez mais dificil detectar se uma transagao é fraudulenta ou verdadeira, revela pesquisa realizada por instituigées renomadas. O estudo revela que o indice de fraudes on-line acompanha 0 aumento do nimero de transagées on-line, e 50% das organizagées de servicos financeiros pesquisadas acreditam que hd um crescimento das fraudes financeiras eletrénicas. Esse avango, juntamente com o crescimento massivo dos pagamentos eletrénicos combinado ‘20s novos avancos tecnoldgicos e as mudangas nas demandas corporativas, tem forgado, nos Ultimos anos, muitas delas a melhorar a eficiéncia de seus processos de negécios. De acordo com os resultados, cerca de metade das organizacées que atuam no campo de pagamentos eletrénicos usa solucdes ndo especializadas que, segundo as estatisticas, ndo sdo confidvels contra fraude e apresentam uma grande porcentagem de falsos positivos. O uso incorreto dos sistemas de seguranca também pode acarretar 0 bloquelo de transa¢des. Também vale notar que 0 desvio de pagamentos pode causar perda de clientes e, em ultima instancia, uma reducéo nos lucros. Conclui-se que a fraude nao € 0 Unico obstéculo a ser superado: as instituigdes financeiras precisam também reduzir 0 ndmero de alarmes falsos em seus sistemas a fim de fornecer o melhor atendimento possivel ao cliente. Infere-se corretamente do texto que a) esté cada vez mais facil, no atual cendrio tecnolégico, verificar se uma transagao on-line é falsa ou verdadeira. b) bem mais da metade das organizacées atuantes no campo de pagamentos eletrénicos usa solugdes nao especializadas. c) as instituigées financeiras precisam acabar nao sé com as fraudes no sistema on-line, mas também com os alarmes falsos. Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 48 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT d) 0 Unico obstaculo a ser superado ainda pelas instituigées financeiras, no atual cenério tecnolégico, sdo os alarmes falsos e) 0 uso de sistemas de seguranca especializados pode provocar o bloqueio de transacdes, mas sem perda da clientela. Comentarios: © enunciado diz “infere-se”. Ent&o, temos que estar prontos para procurar uma informagao sugerida pelo texto, mas que nao esteja absolutamente clara e literal. Contudo, muitas vezes as questdes de inferéncia sao literais. a) Incorreta. Ocorre justamente o contrario: Mais de um terco (38%) das organizagées reconhece que é cada vez mais dificil detectar se uma transacao fraudulenta ou verdadeira b) Incorreta. A expressao original é "cerca de metade”, o que é bem diferente de “bem mais da metade”. c) Correta. Isso esta bem visivel no texto, conforme inferimos da expressdo “nao é 0 nico”: Conclui-se que a fraude nao é 0 Unico obstaculo a ser superado: as institui¢des financeiras precisam também reduzir 0 numero de alarmes falsos em seus sistemas a fim de fornecer o melhor atendimento possivel ao cliente. d) Incorreta. Hé dois obstaculos: fraudes e alarmes falsos. e) Incorreta. Outra contradig&o evidente no texto: uso incorreto dos sistemas de seguranca também pode acarretar o bloqueio de transagées. Também vale notar que 0 desvio de pagamentos pode causar perda de clientes e, em Ultima instancia, uma redugao nos lucros. Gabarito letra C. 34. (CONSULPLAN / CFESS / 2017) Histéria de bem-te-vi Com estas florestas de arranha-céus que vao crescendo, muita gente pensa que passarinho é coisa de jardim zoolégico; e outras até acham que seja apenas antiguidade de museu. Certamente chegaremos |4; mas por enquanto ainda existem bairros afortunados onde haja uma casa, casa que tenha um quintal, quintal que tenha uma arvore. Bom seré que essa érvore seja a mangueira. Pois nesse vasto palacio verde podem morar muitos passarinhos. Os velhos cronistas desta terra encantaram-se com canindés e araras, tuins e sabids, maracands e "querejuds todos azuis de cor finissima...”. Nés esquecemos tudo: quando um poeta fala num passaro, o leitor pensa que é leitura... Mas hé um passarinho chamado bem-te-vi. Creio que ele esté para acabar. E é pena, pols com esse nome que tem - e que é a sua propria voz - devia estar em todas as reparticées e outros lugares, numa elegante gaiola, para no momento oportuno anunciar a sua presenga. Seria um sobressalto providencial e sob forma t&o Inocente e agradével que ninguém se aborreceria. O que leva a crer no desaparecimento do bem-te-vi séo as mudangas que comeco a observar na sua voz. O ano passado, aqui nas mangueiras dos meus simpéticos Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 49 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT vizinhos, apareceu um bem-te-vi caprichoso, muito moderno, que se recusava a articular as trés silabas tradicionais do seu nome, limitando-se a gritar: “...te-vil ...te-vi", com a maior irreveréncia gramatical. Como dizem que as ultimas geragdes andam muito rebeldes e novidadeiras, achei natural que também os passarinhos estivessem contagiados pelo novo estilo humano. Logo a seguir, 0 mesmo passarinho, ou seu filho ou seu irm&o - como posso saber, com a folhagem cerrada da mangueira? ~ animou-se a uma audacia maior. Nao quis saber das duas silabas, e comecou a gritar apenas daqui, dali, invisivel e brincalhéo: "...vi! ...vil...” 0 que me pareceu divertido, nesta era do twist. O tempo passou, 0 bem-te-vi deve ter viajado, talvez seja cosmonauta, talvez tenha voado com o seu team de futebol - que se nao ha de pensar de bem-te-vis assim progressistas, que rompem com o canto da familia e mudam o leme dos seus brasées? Talvez tenha sido atacado por esses crioulos fortes que agora saem do mato de repente e disparam sem razéo nenhuma no primeiro individuo que encontram. Mas hoje ouvi um bem-te-vi cantar. E cantava assim: “Bem-bem-bem...te -vi!” Pensei: "E uma nova escola poética que se eleva da mangueiral...” Depois, 0 passarinho mudou. E fez: “Bem-te-te-te...vi!” Tornei a refletir: “Deve estar estudando a sua cartilha... Estaré soletrando...” E 0 passarinho: “Bem-bem- bem...te-te-te... vi-vi-vi!l” Os ornitélogos devem saber se isso 6 caso comum ou raro. Eu jamais tinha ouvido uma coisa assim! Mas as criangas, que sabem mais do que eu, e véo diretas aos assuntos, ouviram, pensaram e disseram: “Que engracado! Um bem-te-vi gago!” (E: talvez nao seja mesmo exotismo, mas apenas gagueira...) (MEIRELES, Cecilia. 1901-1964 - Escolha 0 seu sonho: (crénicas) - 26? ed. - Rio de Janeiro: Record, 2005.) De acordo com o texto, 0 processo de exting&o do bem-te-vi pode ser observado 2) pela modificago do jeito de cantar dessa ave. b) pela proliferagéo exarcebada de arranha-céus nas cidades. ¢) pela preferéncia dos velhos cronistas por aves mais exéticas. d) pela necessidade da existéncia de outras espécies de arvores.. Comentarios: A prépria esséncia do pdssaro é seu nome, que decorre de sua voz, de seu m. Ent&o, ao parar de cantar como costuma cantar, o passaro corre risco de extingdo. A autora deixa isso explicito nos seguintes trechos: ‘Mas hé um passarinho chamado bem-te-vi. Creio que ele esta para acabar. E pena, pois com esse nome que tem ~ e que é a sua propria voz - devia estar em todas as repartices e outros lugares, numa elegante gaiola, para no momento oportuno anunciar a sua presenca. Seria um sobressalto providencial e sob forma tao inocente e agradavel que ninguém se aborreceria. © que leva a crer no desaparecimento do bem-te-vi so as mudancas que comego a observar na sua voz Gabarito letra A. EE CTE eee en Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 50 de 119 35. (CONSULPLAN / CFESS / 2017) “Mas hoje ouvi um bem-te-vi cantar. E cantava assim: ‘Bem-bem-bem...te-vil’ Pensei: 'E uma nova escola poética que se eleva da mangueiral...” (8°§) A narradora pensa ser uma nova escola poética porque o cantar do passarinho a) é triste, enfadonho, monétono. b) ressoa, agora, mais alto e mais longe. ¢) é feito de uma forma distinta da usual. d) é compartilhado por outros passarinhos. Comentarios: O canto esperado do passaro é‘bem-te-vi", canto que dé nome ao passaro. A narradora diz isso porque o passaro comeca a cantar repetindo as silabas, de forma diferente do habitual. Gabarito letra C. 36. (FCC / COPERGAS / ADMINISTRADOR / 2016) A velhinha contrabandista Todos os dias uma velhinha atravessava a ponte entre dois paises, de bicicleta e carregando uma bolsa. E todos os dias era revistada pelos guardas da fronteira, @ procura de contrabando. Os guardas tinham certeza que a velhinha era contrabandista, mas revistavam a velhinha, revistavam a sua bolsa e nunca encontravam nada. Todos os dias a mesma coisa: nada. Até que um dia um dos guardas decidiu seguir a velhinha, para flagré-la vendendo a muamba, ficar sabendo o que ela contrabandeava e, principalmente, como. E seguiu a velhinha até o seu prospero comércio de bicicletas e bolsas. Como todas as fabulas, esta traz uma ligéo, sé nos cabendo descobrir qual. Significa que quem se concentra no mal aparentemente disfarcado descuida do mal disfarcado de aparente, ou que muita atengéo ao detalhe atrapalha a percepc&o do todo, ou que o hdbito de sé pensar o dbvio é a pior forma de distracao. Os dois paragrafos que compéem o texto constituem-se, respectivamente, de uma a) tese exposta de modo categérico e sua demonstragao factual. b) narrativa de sentido intrigante e sua elucidag&o aberta em hipéteses. c) narrativa de propésito moral e sua contestacao no confronto com outro fato. d) fabula de sentido enigmatico e a busca inutil de seu esclarecimento. e) fébula formulada como hipétese e a confirmaco cabal de seu sentido. Comentarios: Pessoal, essa quest&o causa muita dtivida. Era preciso ir direto no que se tem certeza e no ficar “sonhando” com as alternativas nebulosas. © enunciado diz “dois pardgrafos, respectivamente”, ou seja, 0 primeiro pardgrafo corresponde a primeira metade do enunciado. O segundo corresponde @ segunda metade. EE LT Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 51 de 119 O primeiro parégrafo, sem duvidas, é uma narrativa: conta uma histéria, com enredo, personagens (“velhinha”; “guardas da fronteira”), sequéncia cronolégica de acdes (verbos no pretérito "seguiu”, “decidiu”); presenca de expressdes adverbiais de tempo (“todos os dias”; “até que”). A resposta, portanto, seria a letra c ou a letra b. Se vocé parar para pensar, a narrativa deixa o leitor curioso para saber o que esta sendo contrabandeado. E “intrigante”. Ja melhorou muito, certo? 0 problema da letra C é a segunda metade: nao ha “sua contestacdo no confronto com outro fato”. A narrativa nao é “contestada”, é reafirmada. Nao ha esse “confronto” com outro fate, sequer podemos dizer que ha outro fato. A segunda parte é uma confirmagao da moral da fabula: “Como todas as fabulas, esta traz uma licdo”. Confronto haveria se a segunda parte desmentisse ou desafiasse a premissa da primeira parte. O que ocorre é uma constatacdo: assim como ocorre na parte 1 (guardas foram enganados pela velhinha varias vezes), ocorre na parte 2 (outras “fabulas” hipotéticas em que "sé pensar o dbvio é a pior forma de distrac&o”). As duas metades se alinham, no se confrontam. A “elucidagao aberta em hipéteses” se refere ao esclarecimento ("significa que”) da moral da histéria, do “erro” dos guardas, dividida (aberta) em alternativas (hipéteses): 1) quem se concentra no mal aparentemente disfarcado descuida do mal disfarcado de aparente, 2) ou que muita atengao ao detalhe atrapalha a percepcao do todo, 3) ou que o habito de sé pensar o ébvio é a pior forma de distracao. Dessa forma, o gabarito é a letra B. 37. (FCC / Técnico Judiciario / TRT 232 REGIAO / 2016) Atengo: Para responder a questdo, considere o texto abaixo. O que é assinatura digital? A assinatura digital é uma modalidade de assinatura eletrénica, resultado de uma operacéo matemética que utiliza algoritmos de criptografia assimétrica e permite aferir, com seguranca, a origem e a integridade do documento. A assinatura digital fica de tal modo vinculada ao documento eletrénico “subscrito” que, ante a menor alteracdo neste, a assinatura se torna invdlida. A técnica permite ndo so verificar a autoria do documento, como estabelece também uma “imutabilidade légica” de seu contetido, pois qualquer alteragéo do documento, como por exemplo a insercéo de mais um espaco entre duas palavras, invalida 2 assinatura. Necessério distinguir assinatura digital da assinatura digitalizada. A assinatura digitalizada & a reproduc&o da assinatura autégrafa como imagem por um equipamento tipo scanner. Ela nao garante a autoria e integridade do documento eletrénico, porquanto no existe uma associagao inequivoca entre o subscritor e o texto digitalizado, uma vez que ela pode ser facilmente copiada e inserida em outro documento. De acordo com o texto, a a) assinatura digitalizada distingue-se da assinatura digital por ser esta menos segura e confidvel que aquela. b) cépia da assinatura digitalizada torna-se dificil porque ela esta subordinada & Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 52 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT autenticac&o da autoria do documento. c) assinatura digital serve ao objetivo de preservar a autenticidade de documentos previamente escaneados. d) alteracéio de um documento com assinatura digital acarreta a invalidaco da assinatura desse documento. e) integridade de um documento com assinatura digital é garantida pela cépia fotografica da assinatura subscrita. Comentarios: Questdo de compreensdo. Consulta direta ao texto. a) assinatura digitalizada distingue-se da assinatura digital por ser esta menos segura e confidvel que aquela. Atenc&o! Contradicéo. E 0 contrério: esta (digital) é mais segura que aquela (digitalizada). Questo incorreta. b) cépia da assinatura digitalizada torna-se dificil porque ela esté subordinada & autenticagao da autoria do documento. Dificil é copiar a assinatura digital, pela presenga do algoritmo que invalida a assinatura se houver qualquer alteragéo no documento. E facil copiar a assinatura digitalizada. Questao incorreta. ©) assinatura digital serve a0 objetivo de preservar a autenticidade de documentos previamente escaneados. A assinatura digital serve para preservar a autenticidade e integridade de documentos digitais. d) alterago de um documento com assinatura digital acarreta a invalidago da assinatura desse documento. Exato. Essa é a func&o da assinatura digital. e) integridade de um documento com assinatura digital é garantida pela cépia fotografica da assinatura subscrita. A integridade é garantida pelo algoritmo que invalida a assinatura se houver alguma alterac&io. Questéio incorreta. Gabarito letra D. 38. (FCC / Técnico Judiciario / TRT 142 REGIAO / 2016) Nos, 0 rio e 0 tempo Fico olhando, Maria, 0 nosso rio, o Madeira da nossa Juventude. Na enchente, em constante inquietude vencendo a cada curva um desafio. Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 53 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros TT Para depois, no decorrer do estio, com a ribanceira em sua plenitude toda plantada pelo brago rude de quem espera o fruto do plantio. Mas 0 tempo, Maria, nos comprova que a cada instante o rio se renova e nds a cada instante envelhecemos. Por certo ele seré sempre crianga 0 seu poente um canto de esperanca na saudade daquilo que vivemos. Percebe-se, no poema, a a) representacao do tempo como algo imutdvel. b) caracterizaco da natureza degradada pelo homem. c) predominancia de uma ambientacao urbana. d) descrig&o do eterno conflito entre homem e mulher. e) expressao de um sentimento nostalgic. Comentarios: © poema traz sim uma atmosfera nostdlgica, pois se menciona a saudade da juventude e 0 envelhecimento, veja: Fico olhando, Maria, 0 nosso rio, o Madeira da nossa Juventude. Mas o tempo, Maria, nos comprova que a cada instante o rio se renova ends a cada instante envelhecemos. Nao se poderia dizer que o tempo é tratado como imutavel, pois, na metafora do poema, 0 rio simboliza o tempo, que “se renova”. Gabarito letra e. 39. (FCC / COPERGAS / ADMINISTRADOR / 2016) Idades e verdades O médico e jornalista Drauzio Varella escreveu outro dia no jornal uma crénica muito instigante. Destaco este trecho: "Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem ‘cabeca de jovem’. E consideré-lo mais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se comporta como crianca de dez. Ainda que maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitacéo das ambiguidades, das diferengas, do contraditério e abre espago para uma diversidade de experiéncias com as quais nem sonhévamos anteriormente.” EE I Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 54 de 119 Tomo a liberdade de adicionar meu comentario de velho: n&o preciso que os jovens acreditem em mim, tampouco estou aberto para receber licdes dos mocinhos. Nossa alternativa: a0 nos defrontarmos com uma quest&o de comum interesse, discutirmos honestamente que sentido ela tem para nds. O que nos uniré nao seréo nossas diferengas, mas o que nos desafia. Deve-se entender que as afirmacées de Drauzio Varella e as do autor do texto mantém entre si a) uma clara relacdo de causa e efeito, na ordem em que s&o expostas. b) uma relag&io de independéncia, uma vez que nao os move uma questéo comum. c) uma interligagéo compulséria, pois ndo se entende uma sem a presenca da outra. d) um carater de alguma complementaridade, dado que a segunda é motivada pela primeira. e) uma relagao de subordinacdo, pois a segunda é uma simples dedugdo da primeira. Comentarios: Ocorre aqui uma intertextualidade (didlogo entre dois textos), por via de uma citag&o (reprodugio literal). Apés fazer a citagdo do texto de Drauzio Varella, o autor escreve: “Tomo a liberdade de adicionar meu comentério”. Seu comentario é uma “adicdo”, um “complemento”, inspirado (motivado) pelo texto citado. As partes so independentes e uma nao decorre da outra, mas ha uma relagéo de continuacéo, de adendo, de concordancia, de complementaridade. Observamos que 0 autor se utiliza de uma técnica consagrada de desenvolvimento do pardgrafo introdutério: a citag&o. Sugere-se a opiniao de alguém relevante, como fonte de inspirac&o a opiniéo (em comum) que vem a seguir. Gabarito letra D. 40. (FCC / ELETROBRAS / TECNICO EM SEGURANGA / 2016) Ofertas do Google Uma das coisas que admiro nas pessoas que sabem muito é o desapego. Elas n&o se contentam em saber — espalham generosamente o que sabem, vivem prontas a ensinar e fazem isso de graga, pelo prazer de ajudar. O conhecimento nao é para ser guardado a ferros, mas dividido — alids, a Unica maneira de multiplicé-lo. Tive a sorte de trabalhar ou conviver com alguns verdadeiros arquivos vivos, gente capaz de responder na lata sobre muitos assuntos além dos de sua érea — entre outros, Otto Maria Carpeaux e Franklin de Oliveira. Uma pergunta a um deles era a garantia de uma aula. Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 55 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT De 15 anos para cd, 0 Google se esforca para substituir as sumidades do conhecimento. E 0 maior banco de dados do mundo e ameaca tornar ociosos os dicionérios, enciclopédias e compéndios — j4 absorvidos por ele, ao alcance de consultas répidas e, melhor ainda, gratis. Ou néo? Posso estar errado, mas tenho visto que, de algum tempo para cd, a0 procurar por qualquer assunto no Google, ele nos cumula de pechinchas comerciais sobre o dito assunto. Se vocé pesquisar “sorvete”, “livro” ou “apartamento”, ele aproveitara para apregoar um irritante varejo desses produtos. O autor faz uma critica a) ao fato de o Google ter feito com que os homens sabios parecessem charlatées. b) & maneira como o Google divulga informagées sem dar crédito aos autores. c) a superficialidade do contetido do Google comparado com os livros tradicionais. d) a falta de variedade de contetido disponivel para pesquisas rapidas no Google. ) divulgagdo de conhecimento no Google aliada a interesses comerciais. Comentarios: Essa questdo ilustra como conhecer a estrutura argumentativa ajuda a interpretar textos. De 15 anos para cé, 0 Google se esforca para substituir as sumidades do conhecimento. E 0 maior banco de dados do mundo e ameaca tornar ociosos os dicionérios, enciclopédias e compéndios — jd absorvidos por ele, ao alcance de consultas rapidas e, melhor ainda, gratis. (introducao com declaracao inicial) Qu no? (indagacao) Posso estar errado, mas tenho visto que, de algum tempo para ca, 20 procurar por qualquer assunto no Google, ele nos cumula de pechinchas comerciais sobre o dito assunto (tese: 0 google embute propaganda comercial nas pesquisas). Se vocé pesquisar “sorvete’, “livro” ou “apartamento”, ele aproveitaré para apregoar um irritante (vocabulério carregado de significado, modalizador, indica critica) varejo desses produtos. (exemplo da tese: 0 google faz propaganda comercial) A banca ja informou que o autor faz uma critica. Identificamos pelas “pistas” do texto e pela estrutura que o “problema do google” é ter viés comercial e oferecer produtos a quem sé esta buscando informacées. Gabarito letra E. 41. (FCC / TRT 142 REGIAO / 2016) Era uma vez. As criangas de hoje parecem nascer jé familiarizadas com todas as engenhocas eletrénicas que estaréo no centro de suas vidas. Jogos, internet, e-mails, musicas, textos, fotos, tudo esté 4 disposic¢éo & qualquer hora do dia e da noite, ao alcance dos dedos. Era de se esperar que um velho recurso para se entreter e ensinar criangas como adultos — contar historias — estivesse vencido, morto e enterrado. Ledo engano. Néo é incomum que meninos abandonem subitamente sua conexéo digital para ouvirem da viva voz de alguém uma historia anunciada pela vetusta entrada do “Era uma vez...". Nas narrativas orais - talvez o mais antigo e proveitoso deleite da nossa civilizag&o - a presenca do narrador faz toda a diferenca. As inflexdes da voz, os Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 56 de 119 LT gestos, os trejeitos faciais, os siléncios estratégicos, o ritmo das palavras - tudo é Vivo, sensivel e vibrante. A conexéo se estabelece diretamente entre pessoas de carne e osso, a situagao é Unica e os momentos decorrem em tempo real e bem marcado. O ouvinte sente que o narrador se interessa por sua escuta, o narrador sabe-se valorizado pela atencéo de quem o ouve, a narrativa os une como num caloroso laco de vozes e de palavras. As histérias cldssicas ganham novo sabor a cada modo de contar, na arte de cada intérprete. Nao é isso, também, o que se busca num teatro? Nas narracées, as palavras suscitam imagens intimas em quem as ouve, e esse ouvinte pode, se quiser, interromper o narrador para esclarecer um detalhe, emitir um juizo ou simplesmente uma interjeigéo. Havendo varios ouvintes, forma-se uma roda viva, uma cadeia de atengées que dé ainda mais corpo a histéria narrada. Nesses momentos, é como se 0 fogo das nossas primitivas cavernas se acendesse, para que em volta dele todos comungéssemos 0 encanto e a magia que esté em contar @ ouvir histérias. Na época da informética, a voz milenar dos narradores parece se fazer atual e eterna. O recurso da progressao de elementos com o fito de dar forca a um argumento & utilizado pelo autor no interior mesmo do seguinte segmento: a) As criangas de hoje parecem nascer ja familiarizadas com todas as engenhocas eletrénicas que estarao no centro de suas vidas. (1° pardgrafo) b) A conexo se estabelece diretamente entre pessoas de carne e osso, a situacio 6 Unica e os momentos decorrem em tempo real e bem marcado. (2° paragrafo) c) Oou d) Nas narragées, as palavras suscitam imagens intimas em quem as ouve (...). (3° pardgrafo) ) Nesses momentos, é como se 0 fogo das nossas primitivas cavernas se acendesse, para que em volta dele todos comungassemos © encanto (...). (3° paragrafo) Comentarios: Essa é uma questo que deve ser resolvida pelo bom senso, néo ha grandes teorias por tras dela. Sabemos que a progresso é o “fio condutor de um texto”. O texto “caminha” na sucessao de informacao nova com informacao que jé foi mencionada no texto, ou seja, vai progredindo nesse movimento novo-velho. autor usa uma sequéncia de argumentos para defender que a arte de contar historias “a moda antiga”, oralmente numa roda, ainda tem sua magia nesse mundo de tecnologia. Observe a progresséio: 1) A conexdo se estabelece diretamente entre pessoas de carne @ osso 2) a situacao é Unica 3) e os momentos decorrem em tempo real e bem marcado. Agora observe os elementos argumentativos anteriores que estao sendo retomados: 1) A conexdo se estabelece diretamente entre pessoas de carne e oss0 (presenca do nnarrador faz toda a diference) 2) @ situag&o & Unica (As infiexdes de voz, os gestos, os treeites faciais, os siléncios estratégices) 3) € os Momentos decorrem em tempo real e bem marcado( ritmo des polavres). ite sente que o narrador se interessa por sua escuta (...). (2° parégrafo) Por fim, para “matar” essa questdo mais facilmente, bastava procurar a opsdo em que EE LT Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 57 de 119 ha uma progress&o (sequéncia: a, b ec). A Unica que traz essa estrutura sequenciada éa letra B. 42. (FCC / Analista Judiciario / TRF 3 REGIAO / 2016) Os Beatles eram um mecanismo de criacdo. A forca propulsora desse mecanismo era a interacéo dialética de John Lennon e Paul McCartney. Dialética é didlogo, embate, discussé0. Mas também jogo permanente. Adigéo e contradigao. Movimento e sintese. Dois compositores igualmente geniais, mas com inclinacées distintas. Dois lideres cheios de ideias e talento. Um levando o outro a permanentemente se superar. As narrativas mais comuns da trajetéria dos Beatles levam a crer que a parceria Lennon e McCartney aconteceu apenas na fase inicial do conjunto. Trata-se de um engano. Mesmo quando escreviam separados, John e Paul o faziam um para o outro. Pensavam, sentiam e criavam obcecados com a presenga (ou auséncia) do parceiro e rival. Lennon era um purista musical, apegado a suas raizes. Quem embarcou na vanguarda musical dos anos 60 foi Paul McCartney, um perfeccionista dado a experimentos e delirios orquestrais. Em contrapartida, sem o olhar critico de Lennon, sem sua verve, os mais conhecidos padrées de McCartney teriam sofrido perdas poéticas. Lennon sabia reprimir 0 banal e fomentar o sublime. Como a dialética é uma via de mao dupla, também o lado suave de Lennon se nutria da presenca benfazeja de Paul. Gemas preciosas como Julia tem as impressées digitais do parceiro, embora escritas na mais monastica solidéo. Nietzsche atribui cardter dionisiaco aos impulsos rebeldes, subjetivos, irracionais; forcas do transe, que questionam e subvertem a ordem vigente. Em contrapartida, designa como apolineas as tendéncias ordenadoras, objetivas, racionais, solares; forcas do sonho e da profecia, que promovem e aprimoram o ordenamento do mundo. Ao se unirem, tais forcas teriam criado, a seu ver, a mais nobre forma de arte que jamais existiu. Como criadores, tanto o metédico Paul McCartney como o irrequieto John Lennon expressavam a perfeicéo a dualidade proposta por Nietzsche. Lennon punha o mundo abaixo; McCartney construia novos monumentos. Lennon abria mentes; McCartney aquecia coracées. Lennon trazia vigor e energia; McCartney impunha senso estético e coeséo. Quando os Beatles se separaram, essa magia se rompeu. John e Paul se tornaram compositores com altos e baixos. Fizeram coisas boas. Mas raramente se aproximaram da perfeigo alcangada pelo quarteto. Sem a presenga instigante de Lennon, Paul comecou a patinar em letras anédinas. Nao se tornou um compositor ruim. Mas os Beatles faziam melhor. Ironicamente, 0 grande disco dos ex-Beatles acabou sendo o élbum triplo em que George Harrison deglutiu os antigos companheiros de banda, abrindo as comportas de sua produgao represada durante uma década 4 sombra de John e Paul. E foi assim, por estranhos caminhos antropofégicos, que a dialética de Lennon e McCartney brilhou pela dltima vez. E correto depreender do texto: EE LT Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 58 de 119 I. O autor apresenta o contraste entre Apolo e Dionisio, estabelecido por Nietzsche, com propésito de classificar os processos de criacéo de John Lennon e Paul McCartney a luz de tal teoria, processos que seriam, respectivamente, dionisiaco e apolineo. IL. Ao lancar méo do termo “dialética” no ultimo pardgrafo, 0 autor assinala a incongruéncia da atitude dos Beatles ao se separarem, uma vez que tal separagdo ocasionou a derrocada da criacéo musical dos membros da banda. III. O uso do adjetivo “antropofagicos” (ultimo paragrafo) para caracterizar os caminhos seguides por George Harrison esta relacionado a afirmativa anterior de que 0 misico teria “deglutido” os antigos companheiros de banda. Atende ao enunciado o que consta APENAS em a) I. b) Ie lll. c)Iell. d) II. e) Ie lll. comentarios Nesse texto, 0 autor compara as caracteristicas antagénicas de Paul e Lennon para comprovar porque a unido deles gerou resultados téo grandiosos. I. O autor apresenta o contraste entre Apolo e Dionisio, estabelecido por Nietzsche, com 0 propésito de classificar os processos de criag&o de John Lennon e Paul McCartney 4 luz de tal teoria, processos que seriam, respectivamente, dionisiaco e apolineo. Exato: Lennon esta para Dionisio e Paul esta para Apolo. Lennon era a subversdo e Paul, a ordem. Veja os trechos que fazem esse paralelo: .atribui caréter dionisiaco aos impulsos rebeldes, subjetivos, irracionais; forcas do transe, que questionam e subvertem a ordem vigente> irrequieto John Lennon> Lennon punha o mundo abaixo x ..designa como apolineas as tendéncias ordenadoras, objetivas, racionais, que promovem e aprimoram 0 ordenamento do mundo > metédico Paul McCartney> Paul McCartney, um perfeccionista> McCartney construia I. Ao langar mo do termo “dialética” no ultimo parégrafo, o autor assinala a incongruéncia da atitude dos Beatles ao se separarem, uma vez que tal separacéo ocasionou a derrocada da criagéo musical dos membros da banda. Em nenhum momento foi dito que a separag&o foi uma “incongruéncia”, pode procurar I rs... Também néo foi dito que a separacdo foi uma “derrocada”. O examinador incluiu essa opinido para exagerar os pontos em que se sustenta que a separagdo dos dois fez a qualidade do trabalho individual diminuir. Basicamente pegou uma parte verdadeira e acrescentou elementos que nao estavam no texto. Questao incorreta. III. O uso do adjetivo “antropofagicos” (sltimo paragrafo) para caracterizar os caminhos EE LT Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 59 de 119 seguidos por George Harrison esté relacionado 4 afirmativa anterior de que 0 muisico teria “deglutido” os antigos companheiros de banda. Para acertar essa, era preciso saber que antropofagico significa “aquele que se alimenta de seres humanos”. Antropo=homem; fagico=comer. De fato, esse vocabulério esta relacionado ao fato de que George Harrison “deglutiu’(mastigou e engoliu) metaforicamente Paul e John (suas caracteristicas) e essa digestdo se refletiu no resultado de sua producéo. Por isso, o autor diz que foi pela via antropofagica que a dialética dos compositores brilhou pela Ultima vez. Questao correta. Gabarito letra E. 43. (FCC / SEDU-ES / PROFESSOR / 2016) Medo da eternidade Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramatico contato com a eternidade. Quando eu era muito pequena ainda néo tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha nao dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria nao sei quantas balas. Afinal minha irma juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou: — Tome cuidado para ndo perder, porque esta bala nunca se acaba. Dura a vida inteira. — Como nao acaba? - Parei um instante na rua, perplexa. — Nao acaba nunca, e pronto. Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histérias de principes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase ndo podia acreditar no milagre. Eu que, como outras criangas, as vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, sé para fazé-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparéncia to inocente, tornando possivel 0 mundo impossivel do qual eu jé comecara a me dar conta. Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca. - E agora que é que eu fago? — perguntei para néo errar no ritual que certamente deveria haver. — Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e sé depois que passar o gosto vocé come¢a a mastigar. E ai mastiga a vida inteira. A menos que vocé perca, eu jé perdi varios. Perder a eternidade? Nunca. O adocicado do chicle era bonzinho, n&o podia dizer que era étimo. E, ainda perplexa, encaminhévamo-nos para a escola. — Acabou-se o docinho. E agora? — Agora mastigue para sempre. Assustei-me, ndo saberia dizer por qué. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que nao tinha gosto de nada. Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 60 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu néo estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito. Eu no quis confessar que néo estava 4 altura da eternidade. Que sé me dava era aflicéo. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar. Até que n&o suportei mais, e, atravessando 0 porto da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chao de areia. - Olha sé 0 que me aconteceu! - disse eu em fingidos espanto e tristeza. Agora néo posso mastigar mais! A bala acabou! — Jé Ihe disse, repetiu minha irm&, que ela néo acaba nunca. Mas a gente as vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para nao engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Nao fique triste, um dia Ihe dou outro, e esse vocé ndo perderé. Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irma, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caira da boca por acaso. Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim. 06 de junho de 1970 Ainda que se saiba da liberdade com que Clarice Lispector lidava com esse género, pode-se assegurar que Medo da eternidade é uma crénica na medida em que se trata a) de uma dissertacdo filoséfica sobre uma questo fundamental da vida humana, ainda que a escritora acabe se valendo de sua experiéncia pessoal para ilustrar a tese que se dispde a defender. b) de uma visdo subjetiva, pessoal, de um acontecimento do cotidiano imediato, muito embora vivenciado na infancia, que acaba dando margem & reflexdo sobre uma questao capaz de interessar a todos. c) de um texto poético, mesmo que em prosa, em que os acontecimentos vividos no passado ganham uma tonalidade lirica e, em lugar de serem explicitamente narrados, séo dados a conhecer de modo alusivo e sugestivo. d) da rememoraco de um episédio ocorrido na infancia e que é narrado tal como foi vivido, sem deixar transparecer as crencas e convicgdes do adulto que rememora. e) de um texto alegérico, em que a histéria narrada oculta um sentido que vai muito além dela, servindo ‘apenas como veiculo da expressdo de ideias abstratas que os acontecimentos permitem concretizar. Comentarios: Uma questao dessas pode tranquilamente fazer parte uma prova de Auditor ou Analista de tribunal. Nao perca tempo julgando cada uma das opgées, busque logo a resposta que responde estritamente o enunciado. Se vocé leu 0 enunciado com calma, deve ter sublinhado: pode-se assegurar que Medo da eternidade é uma crénica na medida em que se trata Traduzindo: 0 texto € uma crénica porque uma crénica trata de... EE LT Prof. Felipe Luccas Rosas concurseiresuaidoamrgeiros °™-P' 61 de 119 Como vimos, a crénica traz reflexdes (visdio subjetiva) sobre acontecimentos do dia a dia (cotidiano imediato), com uma linguagem pessoal, informal, para aproximar o leitor (interessar a todos). Se aparecer “crénica” no enunciado, pode procurar “cotidiano” entre as opcées, essa é a palavra chave. Gabarito letra b. 44. (FCC / SEDU-ES / PROFESSOR / 2016) A maioria dos paises da América Latina, incluindo o Brasil, sé comegou a montar seu sistema escolar quando em muitas outras nagées do mundo jé existiam universidades bem estruturadas e de qualidade. Mesmo assim, era um privilégio para poucos. Apenas nos anos 1970 e 1980 comecou na América Latina a discusséo sobre a educacéo ser um direito de todos. Mas claramente ainda nos falta a percepg&o moderna de que esse é um fator estratégico para o avanco. Se buscamos uma sociedade ancorada no conhecimento, tudo, absolutamente tudo, deve se voltar para a escola. Em relacio aos modos de organizacao textual, esse texto apresenta, em sequéncia, a a) descrigfo e a narrac&o observadas na recuperacio histérica de fatos, em formas verbais do pretérito; a argumentacéo, apoiada em argumentos de autoridade, em formas verbais do presente. b) descrigo de acontecimentos do passado, por meio de relato histérico, em formas verbais do presente; a narracao, responsavel pela apreciagao do autor, em formas verbais do pretérito. c) narrag&o, em formas verbais do pretérito, fundamentada na descrigéo de acontecimentos histéricos, situados no tempo presente. d) argumentacao, no pretérito, sobre acontecimentos histéricos; a descricéo e a narrac&io de argumentos e de pontos de vista, em formas verbais do presente. e) narragio de fatos historicamente situados, em formas verbais do pretérito; a argumentacao, observada nas opiniées emitidas em formas verbais do presente. Comentarios: Temos aqui uma questo de técnicas de desenvolvimento de pardgrafo, disfarcada em prova de interpretacéio. O enunciado pede uma “sequéncia”, indicando que ha duas partes, uma apés a outra. Vamos jogar uma lupa no texto e procurar os tempos verbais utilizados, como indicio do tipo de texto. A maioria dos paises da América Latina, incluindo 0 Brasil, sé comecou (pretérito perfeito) a montar seu sistema escolar quando em muitas outras nagées do mundo jé existiam (pretérito imperfeito) universidades bem estruturadas e de qualidade. Mesmo assim, era (pretérito imperfeito) um privilégio para poucos. Apenas nos anos 1970 e 1980 comesou (pretérito perfeito) na América Latina a discussao sobre a educaco ser um direito de todos./ Mas (conector adversativo. Indica que 0 que vem apés dele é o mais importante) claramente ainda nos falta(presente) a percepcéo moderna de que esse é (presente) um fator estratégico para o avanco. Se buscamos (presente) uma sociedade ancorada no conhecimento, tudo, absolutamente tudo, deve se voltar (presente) para a escola. © pardgrafo se utiliza de uma alusdo histérica para tracar um paralelo entre o passado e 0 Prof. Felipe Luccas Rosas om.br 62 de 119 \www.concurseiresunidosangeiros LT

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