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Estádios e Fases Do Desenvolvimento
Estádios e Fases Do Desenvolvimento
Em todos os estádios existe uma interacção entre o sujeito e o mundo, feita através da assimilação e da
acomodação. Estes dois mecanismos possibilitam a construção das novas estruturas ou esquemas. Inicialmente são
esquemas de acção que quando interiorizados se transformam em esquemas operatórios.
O desenvolvimento pode explicar-se através de diferentes factores, como a hereditariedade, a maturação
interna, que não actua sozinha e por isso é um factor insignificante. O segundo factor é a experiência física, a acção
dos objectos. A lógica da criança em especial, advém das acções exercidas sobre os objectos. O terceiro factor prende-
se com a educação, que no entanto, por si só é insuficiente, sendo necessária a assimilação por parte da criança. O
quarto factor é a equilibração, ou seja, o equilíbrio entre os três factores anteriores.
O desenvolvimento da inteligência faz-se pelo intercâmbio constante entre a criança e o meio. Piaget distingue
quatro estádios de desenvolvimento.
Estádio da inteligência sensório-motora: desde o nascimento até aos 2 anos. Neste estádio a
criança não se distingue dos objectos que a rodeiam, nem compreende as relações entre os objectos
independentemente dela. Em vez de palavras e conceitos, a criança serve-se de percepções e movimentos organizados
em esquemas de acção. Na presença de um objecto novo, a criança procura compreendê-lo pelo uso, sacudindo-o por
exemplo. Durante estes 2 anos, ao nível da acção, a criança constrói noções fundamentais para o desenvolvimento
ulterior, como a noção de objecto permanente e a de causalidade.
Se taparmos com um lenço um objecto do interesse do bebé, este não afasta o obstáculo para lhe chegar, pois
ao desaparecer do seu campo perceptivo, o objecto deixou de existir para ele. No fim deste período, já compreende a
permanência do objecto, mesmo quando é escondido em sítios diferentes.
Aos 18 meses, o bebé já é capaz de chegar aos objectos que quer, isto é, já é capaz de ralações objectivas de
causalidade, na medida em que se serve de meios apropriados para alcançar os seus fins. Trata-se de uma causalidade
egocêntrica, ligada à acção própria, caracterizada pela ausência de relações objectivas entre o meio e o fim a atingir.
Estádio das representações pré-operatórias: dos 2 aos 7 anos. A entrada neste estádio é marcada pelo
aparecimento da função semiótica ou simbólica, que assinala o início do pensamento. A função simbólica é a capacidade
de criar símbolos para substituir ou representar os objectos e de lidar mentalmente com eles. A linguagem , a imagem
mental e o jogo simbólico são manifestações da função simbólica. A linguagem permite à criança comunicar com os
outros, contudo, neste período a criança é muito egocêntrica, pelo que o diálogo é inexistente, mesmo quando brinca
com outras crianças, pois fala para si sem se interessar pelas respostas dos outros. A este propósito, devemos falar de
monólogo colectivo, em vez de diálogo. O jogo simbólico também é marcado pelo egocentrismo, pois a criança torna o
real no real dos seus desejos, transformando os objectos naquilo que quer. A esta capacidade da criança chamamos
realismo.
A emissão de palavras significa que a criança já possui imagens mentais. Piaget fala a este respeito de pré-
conceitos, na medida em que a criança, não dispondo ainda de esquemas de generalização, é incapaz de distinguir com
nitidez “todos” de “alguns”. Neste período, os esquemas de acção são substituídos por esquemas de representação,
assinalando o início da inteligência representativa ou pensamento. Nesta altura, a criança manifesta curiosidade por
aquilo que a rodeia, mas interpreta as coisas sempre em função de si, o que torna o pensamento incipiente e altamente
egocêntrico.
O pensamento que começa neste período apresenta as seguintes características: o antropomorfismo, que se
refere à visão animista ou antropomórfica da criança, característica deste período, a criança concebe as coisas como
vivas e dotadas de intenção e sentimentos, à semelhança do que se possa com os seres humanos.
O antropomorfismo deste pensamento também se manifesta na noção de causalidade da criança. Em face dos
acontecimentos, a criança pergunta: “o que é?”; “porquê?”. Estas questões não exigem apenas resposta causal, mas
também final, na medida em que ela entende que tudo é orientado para um fim. Apesar de já possuir inteligência
representativa, a causalidade que atribui aos objectos é de natureza finalista.
Nesta fase da vida, os pré-conceitos permitem à criança produzir inferências, que contudo não são do tipo
indutivo nem do tipo dedutivo. O raciocínio da criança procede por vaga analogia associativa. Isto significa que criança
vai recorrer a uma generalização ainda imprecisa e sem controlo. Por exemplo, se a criança vir um tigre na televisão vai
dizer que se trata de um gato, dadas as suas características serem idênticas às de um gato. A este tipo de raciocínio,
Piaget designa raciocínio transductivo.
O raciocínio dedutivo é também próprio desta fase da vida da criança. Se, nesta fase, colocarmos em fila oito
fichas brancas, separadas por pequenos intervalos e pedirmos a uma criança que, com fichas pretas, construa uma fila
igual, veremos que fará uma fila do mesmo comprimento da branca, mas sem se preocupar com a correspondência
termo a termo. Conclui-se assim, que a criança avalia a quantidade pela percepção do espaço ocupado, ou seja, pela
configuração global, sem se deter na análise das relações entre os objectos.
Estádio das operações concretas: dos 7 aos 11 anos. Nesta fase, as estruturas intuitivas transformam-
se num sistema de relações de tipo operatório, o que significa que as acções interiorizadas ou acções mentais que já se
manifestam no período precedente tornam-se agora reversíveis e designam-se por operações.
Piaget realizou várias experiências para estudar a reversibilidade de pensamento, presente nas operações que
as crianças são capazes de efectuar neste estádio.
- a conservação: se deitarmos em 2 copos iguais a mesma quantidade de água e se fizermos notar a
uma criança de 4 ou 5 anos que o líquido se encontra ao mesmo nível nos 2 copos, ela admiti-lo-á
imediatamente.
Porém, se, em seguida, transvasarmos o líquido de um dos copos para um recipiente mais estreito e mais alto e
lhe perguntarmos qual é o que contém mais água, ela apontará para o recipiente alto e estreito. Isto significa que a
criança no estádio anteriormente referido ainda não atingiu o nível operatório, uma vez que não é capaz de regressar
mentalmente ao ponto inicial. As suas “operações” não possuem ainda a reversibilidade.
Quando uma criança atinge o pensamento operatório, afirmará sem reservas que a quantidade de líquido não se
alterou pelo facto de ter sido mudado de um vaso para o outro. Poderá mesmo servir-se de argumentos para justificar a
sua resposta. São três os tipos de argumentos a que pode recorrer: o da identidade, o da reversibilidade e o da
compensação. Identidadeé a mesma água porque não se pôs nem se tirou nenhuma./ Reversibilidadeé a
mesma água porque, se se voltasse a deitar no copo pequeno, ficava como dantes./ Compensaçãoé a mesma água
porque este copo é mais alto mas também é mais estreito.
Quando uma criança justifica de uma destas formas, significa que já está de posse do esquema da conservação
da quantidade. Ainda neste período, adquirirá a conservação de peso, de volume, etc.
- a classificação: se colocarmos uma criança, ainda em estádio pré-operatório , perante brinquedos ou figuras
de animais , em que haja oito cães “caniche”, dois cães “terrier” e três gatos e lhe pedirmos para fazer colecções de
animais, ela fará três grupos simples, um de “terriers”, outro de cães “caniches” e outro de gatos. A criança já tem assim
a noção de inclusão em classes. A confusão entre “todos” e “alguns”, característica dos períodos anteriores, tende,
portanto, a desaparecer nesta fase. Contudo, as estruturações lógicas apresentam ainda algumas limitações. As
operações são concretas, recaindo directamente sobre os objectos e situações actuais, não sendo ainda capaz de
raciocinar sobre situações hipotéticas.
Estádio das operações formais: dos 11 aos 15 anos. Ao contrário do anterior estádio, durante a
adolescência desenvolve-se a inteligência formal, que significa a entrada num domínio novo que é o do pensamento
puro. Assim, nesta fase, o adolescente é capaz de raciocinar sobre hipóteses abstractas, ou seja, proposições
enunciadas verbalmente, ou através de outros símbolos, a partir dos quais se efectuam os encadeamentos típicos da
lógica formal.
Desta forma, o adolescente já é capaz de raciocinar dedutivamente a partir de hipóteses, mas também é capaz
de formular hipóteses para resolver um problema, as quais compara de forma sistemática na experiência, até encontrar a
solução explicativa mais adequada. Ao mesmo tempo, surge também a possibilidade de compreender princípios
abstractos, demonstrando uma grande abertura a conceitos científicos e filosóficos a que não demonstrava qualquer
interesse em fases anteriores.
Esta nova capacidade para pensar abstractamente leva o adolescente a fazer da sua própria reflexão um objecto
sobre o qual pode reflectir. Esta atitude reflexiva é imbuída de um novo egocentrismo intelectual que se manifesta na
convicção de que o seu pensamento está apto a resolver todos os problemas e de que se as suas ideias são
indubitavelmente as melhores. O jovem actua como se os outros e o mundo tivessem que se organizar em função dos
seus pontos de vista, que apresenta e defende por via lógico- argumentativa. Nesta fase, o adolescente é capaz de se
colocar na perspectiva do outro, atingindo um novo equilíbrio eu- mundo.
Desta forma, o conceito de crise é, segundo Erikson fundamental para a construção da personalidade, que
se desenvolve em função da resolução de crises sucessivas. De acordo com a forma como a crise for resolvida,
a pessoa situar-se-á mais ou menos adequadamente no contexto social.
As crises psicológicas que permitem ao indivíduo adquirir sentimentos, como confiança em si próprio,
autonomia, iniciativa, ou, ao invés, falta de confiança, sentimentos de inferioridade e culpabilidade, surgem ao
longo da vida, distribuídas por 8 idades, em cada uma das quais aparecem virtudes específicas.
Erikson emprega o termo virtude com o significado de uma aquisição positiva que ocorre quando a
resolução da crise é favorável. Esta aquisição constitui um ganho psicológico emocional e social que se
pode traduzir por um valor, por uma característica de personalidade, por uma competência, por uma qualidade
pessoal ou por um sentimento.
1ª idade Bebé: vai desde o nascimento até aos 18 meses. O conflito típico desta
idade é: Confiança vs. Desconfiança.
Durante este período, o relacionamento com a mãe é da maior importância. Se a mãe alimenta bem o filho,
se o aconchega e acarinha, brinca e fala ternamente com ele, o bebé desenvolve o sentimento de que o
ambiente é agradável e seguro, criando uma atitude básica de confiança e face ao mundo.
Contudo, se pelo contrário, o comportamento da mãe não satisfaz o bebé, este desenvolve medos e
suspeitas que contribuem para a formação de uma atitude negativa de desconfiança.
A virtude desenvolvida durante este período é a esperança. Esta fase corresponde ao estádio oral da
teoria de Freud.
2ª idade criança de tenra idade: situa-se desde os 18 meses até aos 3 anos. O
conflito típico desta idade é a Autonomia vs. Vergonha e dúvida. Nesta fase, as crianças sentem ainda
necessidade de protecção, mas simultaneamente, gostam de experimentar. Por isso, sentem-se bem sempre
que podem exercitar as suas capacidades motoras: correr, puxar, empurrar, segurar, largar são actividades que
treinam e procuram desenvolver.
Se os pais encorajarem a criança a exercitar estas habilidades, ela desenvolve o controlo dos seus
músculos, o que contribui para o domínio do seu próprio corpo e do ambiente que a rodeia. Desta forma, a
criança ganha autonomia.
No entanto, se a criança for impedida de usar as suas capacidades ou se lhe é exigido que use essas
capacidades precocemente, a criança desenvolve sentimentos negativos, como a vergonha e a dúvida.
A boa resolução entre aquilo que a criança quer e o que os outros exigem dela, resulta na sua força de
vontade, virtude própria desta idade. Este período aproxima-se do estádio anal da teoria de Freud.
3ª idade criança em idade pré-escolar: dos 3 aos 6 anos. O conflito próprio desta
fase é Iniciativa vs. Sentimento de culpa.
O desejo de experimentar mantém-se e amplia-se com a aquisição de novas capacidades intelectuais, como
o pensamento e a linguagem, que usa como outras formas de explorar a realidade. Com elas toma iniciativas,
idealiza façanhas, realiza tarefas e exibe-se.
Se os pais compreendem e aceitam o jogo activo das crianças, estas sentem que o seu sentido de iniciativa
é valorizado. Porém, se os pais se impacientam e consideram disparatadas as suas perguntas, brincadeiras e
actividades, as crianças sentem-se culpadas e inseguras, evitando agir de acordo com os seus próprios desejos.
A virtude própria deste período é a tenacidade, desenvolvida quando o conflito é resolvido de forma
positiva. Este período aproxima-se do estádio fálico da teoria de Freud.
4ª idade criança em idade escolar: dos 6 aos 12 anos. O conflito próprio desta
idade é Diligência vs. Sentimento de inferioridade. A criança franqueia o universo da escola, onde se espera
que faça grandes aprendizagens, a nível académico e social. Sonha com o sucesso, desenvolvendo esquemas
cognitivos para se tornar excelente nas tarefas desempenhadas.
Quando as crianças se sentem menos capazes do que os seus pares, sentem-se inferiores. No entanto, se
se sentirem bem sucedidas e acreditarem nas suas capacidades e no seu valor pessoal, empenham-se
comprazer no trabalho, desenvolvendo a diligência.
A virtude desenvolvida nesta fase é a competência ou perícia. Este período aproxima-se do estádio
de latência da teoria de Freud.
5ª idade adolescente: dos 12 aos 20 anos. O conflito próprio desta idade é
Identidade vs. Confusão. Nesta idade, o adolescente apercebe-se da sua singularidade como pessoa,
adquirindo a noção de que é um ser único, com identidade própria, mas inserido num meio social onde tem
vários papéis a desempenhar, pelo que o adolescente vai ter de integrar diversas auto- imagens: jovem, amigo,
estudante, seguidor, líder,, trabalhador, homem ou mulher numa única imagem e é a partir dela que escolhe uma
carreira profissional e um estilo de vida. Se nos períodos anteriores conseguiram obter confiança básica,
autonomia, iniciativa e diligência, os adolescentes constróem mais facilmente a sua identidade. Se pelo
contrário, manifestam dificuldades em saber o que são, o que querem, que opções fazer e que papel
desempenhar, vivem situações difíceis de confusão e indecisão.
A virtude desenvolvida nesta fase é a lealdade (para com si próprio) ou fidelidade. Este período
aproxima-se ao estádio genital da teoria de Freud.
6ª idade jovem adulto: dos 20 aos 35 anos. O conflito típico desta idade é
Intimidade vs. Isolamento. Nesta fase, o jovem adulto já está preparado para estabelecer laços sociais
caracterizados pelo bem-estar, amizade, partilha e confiança.
A intimidade requer que o sentimento de identidade pessoal facilite o relacionamento com outrem numa base
de compromissos, alteração de hábitos e, mesmo, de aceitação de sacrifícios.
As dificuldades em estabelecer relacionamentos íntimos contribuem para que as pessoas se fechem em si
mesmas e permaneçam no isolamento. As virtudes desenvolvidas nesta idade são o amor e a afiliação (querer
sentir-se querido).
7 a idade adulto: dos 35 anos aos 65 anos. O conflito típico desta idade é
Generatividade vs. Estagnação. O termo generatividade foi criado por Erikson e designa o comprometimento
do adulto em relação ao futuro e à nova geração. A afirmação pessoal do adulto é desenvolvida através das
preocupações com os jovem , o seu bem-estar e o desejo de contribuir para um mundo melhor.
No entanto, se em vez de desenvolver actividades que considera produtivas e úteis aos outros, o adulto se
preocupa apenas consigo próprio, a sua vida caracteriza-se pela estagnação.
As virtudes adquiridas neste estádio são a produção e a ajuda aos outros.
8 a idade Idoso: dos 65 anos em diante. O conflito típico deste período é a
Integridade vs. Desespero. Esta fase coincide com a entrada na reforma, em que a pessoa se empenha em
reflectir, fazendo um balanço da sua vida.
Quando a pessoa se sente satisfeita por considerar que a sua vida teve mérito, surge o sentimento de
integridade. Nas situações em que a pessoa se apercebe de que nada que fez que tivesse sentido e de que já é
demasiado tarde para começar de novo, surge o desespero.
A principal virtude adquirida neta idade é a sabedoria.
A adolescência
Por adolescência entende-se a etapa da vida que se estende da infância à idade adulta. Inicia-se com a
puberdade, ou seja, com os primeiros sinais de maturação sexual, o que, em termos de idade, varia conforme os
sexos, o clima, o meio e a cultura.
O fim é muito mais difícil de identificar, uma vez que ser adulto é essencialmente um estado de espírito e não
uma mera condição de crescimento do corpo.
A adolescência é esta época longa de transição entre a infância e a idade adulta. Os adolescentes estão a
afirmar a sua independência, tarefa por vezes penosa e pouco apoiada pelos pais, que os vêem a deixar de se
comportar como crianças cumpridoras e obedientes e a não se comportarem ainda como adultos responsáveis. Esta
atitude paterna encontra paralelo no modo de sentir paradoxal do filho, que se acha demasiado velho para ser
tratado como criança e demasiado novo para assumir os deveres e um adulto.
Este período da vida não pode ser caracterizado em termos absolutos. Assim, se queremos caracterizar a
singularidade da adolescência, temos que considerar, desde já, que essa singularidade reside, exactamente, na sua
pluralidade.
Um dos factores que mais contribuem para fazer da adolescência um conceito plural advém da vivência
particular que cada jovem faz das diversas e profundas transformações que ocorrem em si ao longo deste período.
A entrada em funcionamento dos mecanismos hormonais determina o crescimento rápido do corpo e o
desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários. As alterações de cariz psicológico são sinal de que os jovens
estão, sob o ponto de vista orgânico, aptos para a função reprodutora.
Simultaneamente, os jovens desenvolvem uma nova forma de pensar. As operações formais conferem-lhe a
capacidade de efectuar uma descolagem mental do concretamente vivido para a esfera do abstractamente
imaginado.
O pensamento do adolescente é caracterizado pelo seu egocentrismo, levando-o a crer que as experiências por
que passa sã tão suas e únicas que muito dificilmente alguém as poderá entender. O adolescente sente-se muitas
vezes incompreendido, mesmo sentindo que as pessoas se preocupam consigo.
Uma outra forma de egocentrismo dos primeiros anos da adolescência consiste em os jovens, apesar de bem
informados sobre os perigos que assolam as pessoas, negarem psicologicamente a hipótese de eles próprios serem
vítimas desses perigos. Este sentimento de invulnerabilidade incentiva-os à aventura, expondo-os a riscos que
muitas vezes têm consequências dramáticas e irreversíveis.
Á medida que, progressivamente, atinge uma maior maturidade intelectual, o adolescente torna-se sensível a
novas questões, interessando-se por explorar domínios até então inacessíveis, pelo que se sente impelido a
aprofundar o conhecimento de si e do mundo. Neste percurso, o jovem reavalia as suas convicções, até então
inquestionáveis. O carácter absoluto dos valores que aceitava do adulto é agora relativizado, ao passar pelo seu
pensamento autónomo.
A análise crítica que o adolescente começa a fazer não significa abandono ou total rejeição de crenças e valores
que trazia na infância. Eles podem, pelo contrário, ser incluídos em lugar de destaque na hierarquia valorativa, que
agora constrói. Só que, assim sendo, eles são pessoalmente assumidos como significativos e já não apenas
respeitados porque impostos pela autoridade do adulto.
Deste modo, o jovem empenha-se fortemente na equacionação de problemas de natureza ético- moral,
assumindo posições teóricas defensoras de ideais.
Em todas as sociedades circulam ideias feitas ou preconceitos acerca da adolescência carecendo de
fundamento, por não traduzirem adequadamente aquilo que se passa na realidade.
Na sociedade ocidental contemporânea, é vulgar associar-se ao conceito de adolescência todo um conjunto de
comportamentos problemáticos e desviantes relacionados com o consumo de droga, actos de vandalismo, violência,
roubo e homicídios, gravidez prematura, suicídio e outros. Á primeira vista, as estatísticas parecem validar a ideia de
que a adolescência é propícia a comportamentos delinquentes e atitudes de desvio, contudo, referem-se a jovens
com comportamentos de desvio, os quais constituem um problema social grave. Porém, como se tratava de estudar
a delinquência juvenil, os psicólogos não tinham como objectivo a observação de jovens com comportamentos
socialmente aceitáveis. A esmagadora maioria dos adolescentes que vivem dentro da normalidade raramente são
estudados e a sua vida quotidiana é praticamente ignorada.
A delinquência juvenil existe e merece que os adultos se preocupem com ela, mas generalizar
indevidamente conduz a preconceitos sociais estigmatizadores.
Estas investigações apoiam em muitos aspectos a ideia de Erik Ekison de que a construção da identidade
pessoal é o acontecimento relevante do jovem nesta etapa da vida.
Para essa construção, o adolescente precisa de contacto com os pais, de conviver com amigos e colegas e
de gastar algum tempo consigo próprio.
Identidade
Quando chega à adolescência, o jovem vive uma série de mudanças: mudanças físicas, hormonais,
cognitivas, sociais, morais, que provocam sentimentos de insegurança.
Durante estas mudanças, o adolescente tem que construir a sua identidade pessoal. Entretanto, o
pensamento abstracto instalado nesta fase dá-lhe o poder de relativizar as coisas, pelo que os adultos deixam
de ser as suas referências irrepreensíveis por que eram tidos na infância. O adolescente ganha a consciência de
que os adultos mentem e roubam. Desta forma, o jovem depara-se com dificuldades acrescidas pela convicção
de que, para se afirmar na sua individualidade, precisa de ser diferente das outras pessoas, mas que só será
reconhecido e socialmente aceite se for como elas.
Entre a infância e a idade adulta, sem pertencer a uma ou a outra, o adolescente, inseguro, debate-se com a
tarefa de construção de si próprio como ser singular e único, tarefa que acarreta uma outra, a construção de um
horizonte significativo, de um futuro em que confie para poder habitar.
Identidade prescrita/outorgada
Em todas as culturas, a partir da puberdade, os indivíduos têm que desempenhar novos papéis e assumir
novas responsabilidades.
Em muitas delas, espera-se que os filhos exerçam funções idênticas às dos pais e se comportem como eles.
Em algumas culturas, os pais podem escolher os parceiros com que os filhos hão-de casar, decidir o ano do
casamento e o comportamento que devem ter antes, durante e depois do casamento.
A identidade prescrita é assim aquela que os jovens são exteriormente direccionados, não questionando,
nem resistindo, pelo contrário, aceitando passivamente os papéis que lhes são prescritos por alguém que detém
autoridade sobre eles. A identidade destes jovens é, portanto, adquirida segundo um plano pré- estabelecido,
sem margem para manifestações de autonomia, sem necessidade de procurar experiências, sem hesitações
nem sobressaltos, sem dificuldades, sem crises. Pelo menos, estes jovens evitam a ansiedade e as incertezas
por que passam os que tentam encontrar-se a si próprios.
Apesar de se mostrarem contentes e seguros, os adolescentes com identidade prescrita tendem a ser
dogmáticos quando as suas convicções são postas em causa e a impor papéis Às novas gerações.
Crise de identidade
Contudo, aquilo que é mais próprio das sociedades ocidentais industrializadas é oferecer aos jovens uma
quantidade enorme de escolhas possíveis; no entanto, apesar de parecerem liberais quanto às possibilidades
oferecidas ao jovem para ele exercer a sua autonomia, estas sociedades não deixam de dificultar a afirmação da
identidade ao prolongar-lhe excessivamente o período de dependência em relação aos adultos.
Permanência em casa dos pais, sujeição económica, restrições comportamentais são entraves com que o
jovem se debate quando pretende autonomizar-se, construir a sua identidade pessoal, situando-se assim num
fluxo de forças contrárias que contribuem para que o jovem tenha que passar, segundo Erikson, por uma crise
cuja vivência e resolução é que determinarão a sua personalidade e a sua vida como adulto.
Moratória psicossocial
Ao construir a sua identidade, o jovem não fica imune a sobressaltos, paragens, hesitações e desvios de
percurso. Na realidade, o jovem precisa, muitas vezes, de um período de pausa, afastando-se das pressões e
exigências impostas pelo adulto. Por esta altura, ao jovem interessa-lhe experienciar a vida e as oportunidades
que ela oferece, testando as suas capacidades em simultâneo. Nesta aventura, o jovem quer estar só e tem
como único objectivo encontrar-se.
Erikson designa por moratória psicossocial este “período de latência”, que se caracteriza por ser um período
de compasso de espera em relação aos compromissos adultos. A moratória, segundo Erikson, pode ser um
período de vida boémia ou de devaneios imaginativos, de abnegação ou de extravagâncias.
A moratória pode ser confundida com a difusão da identidade, dado que em ambos os casos, o adolescente
parece andar sem rumo. No entanto, elas distinguem-se nas vivências subjectivas e nos objectivos
prosseguidos.
Na difusão da identidade, o adolescente anda, de facto, sem rumo, mas não faz nada para o remediar. O
que o caracteriza é a fuga às responsabilidades e o entregar-se à fruição imediata do prazer.
Já na moratória, o jovem empenha-se na tarefa de encontrar um sentido para a sua vida; fá-lo sozinho,
recusando caminhar pelas pegadas dos outros. A moratória resume-se portanto a um período de espera que o
jovem responsavelmente concede a si mesmo. É uma espera activa, sendo um período em que o adolescente
se experimenta e se avalia antes de assumir papéis em relação aos quais desconhece se lhe ajustam ou se está
preparado para os desempenhar com eficiência e dignidade.
A formação da identidade depende de diversos factores, como a família, a cultura, a época e experiências
de infância. Vários especialistas se têm dedicado a estudar este período de indefinição que caracteriza a
adolescência. É o caso de Alan Waterman, que insiste na dificuldade de simplificar as regras de jogo típicas
desta fase.
Segundo Waterman, a moratória não se prolonga indefinidamente; a partir dela o jovem pode construir a
sua identidade ou cair na difusão.
Do estado de difusão, o jovem pode aceder a uma moratória ou a uma identidade prescrita.
Da identidade prescrita é possível passar a uma fase de difusão ou de moratória.
Quando o jovem adquire a sua identidade, pode entrar num estado de crise, vivendo um período de
moratória ou de difusão.
Assim, não se pode definir objectivamente o percurso que conduz à construção da identidade pessoal.
O que se sabe, é que a difusão da identidade é sinónimo de défice de auto-estima e incapacidade de
suportar tensões, pelo que uma pessoa com identidade difusa, quando decide alguma coisa, fá-lo sem a reflexão
que seria necessária.
Contrariamente, uma pessoa com identidade sente uma relativa realização individual no que respeita ao
sentimento de auto-estima, à capacidade de suportar tensões e de resistir ao conformismo exagerado.
Resumidamente, identidade significa poder de tomar decisões e mantê-las com relativa consistência.