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A LÓGICA E OS ARGUMENTOS

A lógica é a disciplina da filosofia que estuda a distinção entre argumentos


válidos e inválidos. Dedica-se ao estudo das leis, princípios e regras a que devem
obedecer o pensamento e o discurso para serem válidos.

Todos os seres racionais têm a capacidade de raciocinar e de argumentar, mas


nem todos o fazem de modo correto, pois na base dos argumentos estão convicções,
crenças, ideias, opiniões e informações, ou seja, aquilo em que cada um acredita.
Quanto a essas crenças existem bastantes discordâncias – não há uma verdade única.

No entanto, há crenças que são comummente partilhadas, e que nos levam a


discordar de conclusões que as contradigam. Além disso, podemos aceitar ou rejeitar
a validade de uma forma de raciocínio sem que isso implique aceitar ou rejeitar o seu
conteúdo.

A lógica formal analisa a validade dos argumentos dedutivos. A lógica


informal estuda a validade dos argumentos não dedutivos.

Um argumento é um conjunto de proposições devidamente articuladas: a


conclusão/tese e as premissas – devem defender, sustentar ou justificar a conclusão.
O argumento é caraterizado pelo nexo lógico entre as premissas e a conclusão.

O raciocínio ou inferência é uma operação mental através da qual chegamos a


uma conclusão partindo de determinadas razões (efetua a transição lógica entre
proposições), que está subjacente a um argumento.

No discurso usam-se expressões que indicam a presença de premissas e


conclusões:

 Premissa – porque…; pois…; admitindo que…; pressupondo que…;


considerando que…; partindo do princípio que…; sabendo que…;
dado que…; uma vez que…; devido a…; como…; ora…; em virtude
de…
 Conclusão – logo…; então…; por conseguinte…; portanto…; por
isso…; consequentemente…; segue-se que…; infere-se que…;
conclui-se que…; é por essa razão que…; daí que…; assim…; isso
prova que…

Os argumentos onde uma ou mais proposições são subentendidas (por


omissão) designam-se por entimemas. São mais comuns no discurso do quotidiano.
AS PROPOSIÇÕES E OS CONCEITOS/TERMOS

O argumento é composto por frases, mas nem todas as frases expressam


proposições – apenas as declarativas, pois podem ser consideradas verdadeiras ou
falsas.

A proposição é o pensamento ou conteúdo, verdadeiro ou falso, expresso por


uma frase declarativa. Uma proposição pode ser expressa por frases declarativas
diferentes. As proposições podem ser:

 Simples
 Categóricas – afirmam ou negam sem restrições nem condições.
 Compostas (complexas)
 Condicionais – afirmam ou negam sob determinadas condições.
 Disjuntivas – afirmam ou negam em forma de alternativas que
se excluem (disjunção exclusiva), ou não (disjunção inclusiva).

Uma proposição relaciona pelo menos dois termos. O termo é a expressão


verbal do conceito. Um termo pode ser constituído por mais do que uma palavra,
desde que expresse um único conceito.

O conceito constitui o elemento básico do pensamento e é a representação


intelectual de determinada realidade. Pode dizer respeito a uma classe de objetos ou
a uma realidade singular, no entanto alguns autores defendem que só o podem ser
consideradas noções ou ideias gerais. Um conceito pode ser expresso por termos
diferentes e o mesmo vocábulo pode exprimir diferentes conceitos, sendo que neste
caso se terá de falar em termos diferentes.

O juízo é a operação mental que permite relacionar conceitos e está


subjacente à formação de proposições.

A VERDADE E A VALIDADE – ARGUMENTOS DEDUTIVOS E NÃO DEDUTIVOS


A verdade e a falsidade ocorrem ao nível das proposições, e aplicam-se apenas
à matéria ou conteúdo das proposições – se estas estão, ou não, de acordo com a
realidade.

A validade e a invalidade referem-se aos argumentos – baseiam-se em se as


premissas apoiam, ou não, a conclusão. A validade traduz a relação entre os valores
de verdade das premissas e da conclusão – acontece de forma diferente nos
argumentos dedutivos e não dedutivos.

Nos argumentos dedutivos, a validade depende apenas da sua forma lógica – é


válido quando as premissas dão apoio absoluto e completo à conclusão – e não temos
de saber a verdade das proposições. Podem ser designados por argumentos sólidos os
argumentos válidos constituídos por proposições verdadeiras (onde é impossível a
conclusão ser falsa).

Nestes argumentos, basta trocar a ordem pela qual surgem as proposições para
que estas deixam de garantir a verdade da conclusão. Sendo assim, a forma lógica – o
modo como são encadeadas as proposições e dispostos os termos – pode fazer toda a
diferença.

FORMA LÓGICA – A  B; C  A; C  B

Nestes argumentos, quem aceitar as premissas é logicamente obrigado a


aceitar a conclusão.

Nos argumentos não dedutivos, a verdade das premissas sugere apenas a


plausibilidade da conclusão ou a probabilidade de ser verdadeira. As premissas dão
apenas suporte parcial à conclusão – fornecem razões a seu favor, que não a tornam
necessariamente verdadeira. Um argumento não dedutivo diz-se válido quando é
improvável que as suas premissas sejam verdadeiras, mas a conclusão falsa.

Os argumentos indutivos são um exemplo de argumentos não dedutivos, que


nos conduzem a conclusões que não derivam necessariamente das premissas. Se as
premissas não fornecerem fortes razões que conduzam à verdade da conclusão, o
argumento é inválido – argumento fraco. Caso forneça fortes razões, é válido –
argumento forte.

FALÁCIAS
As falácias são argumentos que, embora pareçam válidos, são inválidos.
Podem distinguir-se em paralogismos – são cometidas involuntariamente – e em
sofismas – são intencionais.

Podem, também, distinguir-se em falácias formais – decorrem apenas da


forma lógica, resultado do desrespeito pelas regras de inferência válida – e em falácias
informais – são cometidas ao nível dos argumentos não dedutivos, ou e resultam de
argumentos que vão para lá da forma lógica.

LÓGICA SILOGÍSTICA
Há três princípios da lógica clássica (ou silogística) que não devem ser
infringidos:

 Lei da identidade – um objeto é idêntico a si mesmo; a = a, b = b.


Mesmo que a = b, ainda podemos afirmar que a = a e b = b.
 Lei da não-contradição – duas afirmações contraditórias não podem ser
verdadeiras ao mesmo tempo; a = b e a ≠ b não podem ser duas
afirmações verdadeiras ao mesmo tempo.
 Lei do terceiro excluído – em qualquer proposição, ou esta é
verdadeira, ou a sua negação é verdadeira; alguma coisa ou é ou não é,
não há meio-termo; assim, ou a = a ou a ≠ a.

ESTRUTURA DAS PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS

Uma proposição categórica estabelece uma relação de afirmação ou negação


entre termos, que pode ser considerada como verdadeira ou falsa. É constituída por:

 Sujeito – ser ao qual se afirma ou nega o predicado;


 Predicado – o que se afirma ou nega do sujeito;
 Cópula – faz a ligação do sujeito com o predicado – ser ou não ser.

A fórmula que representa esta ligação é – S é P.

São os quantificadores, que podem ser universais ou existenciais, que nos


permite saber se o sujeito é abrangido parcialmente ou na sua totalidade. Aplicam-se
a termos gerais, que possuem:

 Extensão – conjunto de seres abrangidos por um conceito/termo;


 Compreensão (ou intensão) –propriedade ou conjunto de propriedades
que apresentamos ao fornecer a definição do conceito e que
determinam a sua extensão.

Quanto maior for o número de elementos a que o conceito se aplica


(extensão), menor é a quantidade de caraterísticas comuns (compreensão) e vice-
versa.

CLASSIFICAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS


Há quatro tipos de proposições categóricas, tendo em conta a qualidade e a
quantidade.

A qualidade refere-se ao seu caráter afirmativo ou negativo – constata-se na


cópula. Uma proposição é afirmativa quando o seu predicado convém ao sujeito, e
negativa em situação contrária.

A quantidade refere-se à extensão do sujeito. Diz-se universal quando toda a


extensão do sujeito é abrangida pelo predicado. É particular quando apenas uma
parte do sujeito é abrangida, ou seja, refere-se apenas a uma parte dos elementos.

Existem proposições ditas singulares, em que o predicado abrange um único


sujeito, em que o sujeito é um termo singular. Estas proposições são consideradas,
também, universais.

Podem-se distinguir quatro tipos de proposições:

 Tipo A – Universal afirmativa – Todo o S é P.


 Tipo E – Universal negativa – Nenhum S é P.
 Tipo I – Particular afirmativa – Algum S é P.
 Tipo O – Particular negativa – Algum S não é P.

DISTRIBUIÇÃO DOS TERMOS


Um termo diz-se distribuído quando é tomado universalmente, ou seja, em
toda a sua extensão.

Quando o sujeito está distribuído, é precedido por algum vocábulo que


exprima universalidade. Sendo assim, está distribuído nas proposições de tipo A e E,
e não está distribuído nas de tipo I e O, pois são referidos apenas alguns elementos.

Quanto ao predicado, apenas se encontra distribuído nas proposições


negativas, E e O, e nas proposições afirmativas não se encontra distribuído. Isto
porque a extensão do predicado é maior do que o sujeito das proposições, e só uma
parte da sua extensão é abrangida pelo sujeito.

No entanto, no caso das definições verifica-se uma exceção, já que, visto que
são recíprocas, o sujeito e o predicado devem podem trocar de lugar, o que só
acontece se ambos tiverem a mesma extensão. Por exemplo, ‘Todos os seres humanos
são animais racionais.’ é uma definição de ‘ser humano’, então equivale a ‘Todos os
animais racionais são seres humanos.’.

Tipos de Proposições Distribuição do Sujeito Distribuição do Predicado


Tipo A Distribuído Não Distribuído
Tipo E Distribuído Distribuído
Tipo I Não Distribuído Não Distribuído
Tipo O Não Distribuído Distribuído

SILOGISMO CATEGÓRICO REGULAR


Foi criado por Aristóteles, e apresenta uma forma de argumento dedutivo
particular, formado por três proposições categóricas em que, sendo válido, após dadas
as duas premissas, se segue necessariamente a conclusão. Além disso, se for válido,
aceitando as premissas, somos obrigados a aceitar a conclusão. Contém:

 Premissa maior – contém o termo maior – P e o termo médio – M;


 Premissa menor – contém o termo menor – S e o termo médio – M;
 Conclusão – faz a ligação entre o termo maior e o termo menor.

Os termos são classificados de acordo com a sua função nas proposições:

 Termo maior – predicado da conclusão;


 Termo menor – sujeito da conclusão;
 Termo médio – intermediário dos anteriores, que permite a passagem
das premissas à conclusão; aparece nas duas premissas e nunca deve
entrar na conclusão.

Os termos maior e menor são chamados de termos extremos. Sendo assim, o


silogismo é um argumento que, a partir de um antecedente, relaciona dois termos (o
maior e o menor) com um terceiro (o médio), e chega a um consequente que
relaciona esses dois termos entre si.

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