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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 785.360 - DF (2005/0163514-5)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI


RECORRENTE : MARCOS ANTÔNIO GOUVEIA GUEDES
ADVOGADO : RONEI RIBEIRO DOS SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : MÁRCIO ANTÔNIO CARLOS MACHADO
ADVOGADO : DILSON FURTADO DE ALMEIDA E OUTRO(S)
EMENTA

Direito processual civil. Embargos à execução. Ausência de contraditório


reconhecida. Anulação do processo após a juntada do documento não contraditado.
Afastamento da multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC.
- Se à parte não é conferida oportunidade de se pronunciar a respeito de
documento relevante para o julgamento da demanda, é nulo o processo, por
desrespeito ao indeclinável contraditório.
- Não se pode impedir o acesso às vias recursais legalmente previstas,
notadamente quando a parte tem a obrigação de esgotá-las para ter facultado
o ingresso de sua pretensão junto à Corte Superior, sob pena de ter cerceado
o seu direito de defesa.
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido, apenas para
afastar a multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da TERCEIRA


TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas
constantes dos autos, por unanimidade, conhecer em parte do recurso especial e, nessa parte,
dar-lhe provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Massami
Uyeda e Sidnei Beneti votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 16 de outubro de 2008.(data do julgamento).

MINISTRA NANCY ANDRIGHI


Relatora

Documento: 828504 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/10/2008 Página 1 de 8
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RECURSO ESPECIAL Nº 785.360 - DF (2005/0163514-5)

RECORRENTE : MARCOS ANTÔNIO GOUVEIA GUEDES


ADVOGADO : RONEI RIBEIRO DOS SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : MÁRCIO ANTÔNIO CARLOS MACHADO
ADVOGADO : DILSON FURTADO DE ALMEIDA E OUTRO(S)
Relatora: MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RELATÓRIO

Recurso especial interposto por MARCOS ANTÔNIO GOUVEIA


GUEDES, com fundamento nas alíneas “a” e “c” do permissivo constitucional,
contra acórdão proferido pelo TJ/DFT.
Ação: embargos à execução de título de crédito – cheque, emitido
para pagamento em moeda estrangeira –, opostos por MÁRCIO ANTÔNIO
CARLOS MACHADO, ora recorrido.
Sentença: o i. Juiz julgou improcedentes os embargos à execução.
Acórdão: o TJ/DFT reformou a sentença para julgar procedentes os
embargos à execução e, por conseqüência, extinguir a execução, por nulidade do
título executivo, liberando os bens penhorados.
Embargos de declaração: rejeitados.
Acórdão do STJ: o recurso especial interposto pelo ora recorrente
foi parcialmente conhecido e, nessa parte, provido, “a fim de devolver os autos
ao Tribunal de origem para que, afastado o óbice da preclusão, aprecie a
questão consistente na ausência de contraditório sobre o documento de fl. 204”
(fl. 377).
Acórdão do TJ/DFT: acolheu os embargos de declaração, com
atribuição de efeitos modificativos, “para declarar nulos os atos praticados nos
presentes autos posteriormente à juntada do documento de fl. 204, sobre o qual
as partes deverão ter a oportunidade de manifestação, nos termos do artigo 398
do Código de Processo Civil” (fl. 443).
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Decisão nos embargos declaratórios: o i. Des. Rel. negou
seguimento ao recurso, nos termos do art. 557, caput , do CPC (fls. 457/460).
Acórdão no agravo nos embargos de declaração: o TJ/DFT
negou provimento ao recurso, com aplicação de multa de 5% do valor que
embasa a execução, nos termos do art. 557, § 2º, do CPC, ao entendimento de
que “havendo a Corte Nacional, em julgamento do Recurso Especial,
reconhecido haver ocorrido falha procedimental na fase de instrução
processual, é inevitável que ocorra o retrocesso, com a nulidade dos atos
praticados posteriormente ao momento em que se deu o descumprimento da
norma instrumental” (fl. 474).
Recurso especial: interposto sob alegação de ofensa aos arts. 128,
244, 250, 398, 460, 557, §§ 1º e 2º, do CPC, além de divergência jurisprudencial.
Contra-razões: às fls. 540/541.
Admissibilidade recursal: às fls. 543/544.
É o relatório.

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RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI


RECORRENTE : MARCOS ANTÔNIO GOUVEIA GUEDES
ADVOGADO : RONEI RIBEIRO DOS SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : MÁRCIO ANTÔNIO CARLOS MACHADO
ADVOGADO : DILSON FURTADO DE ALMEIDA E OUTRO(S)

VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relatora):

A matéria controvertida consiste, essencialmente, em definir se, ao


manifestar-se a respeito de ausência de contraditório – conforme determinação
desta Corte em sede de recurso especial – é conferido ao Tribunal de origem
anular todos os atos praticados em primeiro grau de jurisdição após a juntada do
documento em relação ao qual não houve a contradita.

- Da violação aos arts. 128, 244, 250, 398, 460, do CPC.


Alega o recorrente que não assiste razão alguma ao Tribunal de
origem em anular a sentença que julgara improcedentes os embargos à execução,
sem que tenha sido formulada tal pretensão ou alegado o prejuízo decorrente da
ausência de contraditório.
Além do mais, entende que, suprida a ausência do contraditório com
a determinação de manifestação das partes a respeito do documento à fl. 204, não
há porquê nulificar os atos processuais praticados após a juntada deste. Tal
nulificação, portanto, caracterizaria reformatio in pejus e julgamento extra petita .
Explicite-se, de início, que não se encontra em debate, neste
momento recursal, a aplicação – ou não – do art. 398 do CPC. Este já foi
aplicado, quando do reconhecimento de sua violação, por força do acórdão desta
Corte no REsp 347.275/DF, publicado no DJ de 18/11/2002, em que foi
determinada a devolução dos autos ao Tribunal de origem para que, afastado o
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óbice da preclusão, fosse apreciada “a questão consistente na ausência de
contraditório sobre o documento de fl. 204” (fl. 377).
Dessa forma, a análise da tese recursal limita-se aos temas contidos
nos arts. 128, 244, 250 e 460, do CPC, em relação aos quais houve o devido
prequestionamento, ressaltando-se que sobre as respectivas matérias jurídicas não
se alegou dissídio jurisprudencial.
Por elucidativa do transcurso processual até aqui trilhado na hipótese
em julgamento, do acórdão ora impugnado extrai-se a seguinte fundamentação:

(fls. 477/478) – “Ainda que tenha alcançado êxito no


julgamento dos primeiros Embargos de Declaração que interpôs
contra o aresto que julgou a Apelação Cível daquele que é
apontado como Devedor, por obra do julgamento proferido pela
Corte Nacional, insiste em submeter ao Colegiado teses jurídicas
infundadas.
A parte que alegou haver ocorrido ofensa ao disposto
no artigo 398 do Código de Processo Civil, relativamente ao
documento encontrado à folha número 204, foi o próprio
Recorrente, o qual agora entende que tal pronunciamento do E.
Superior Tribunal de Justiça implica no ganho de causa por ele.
O equívoco é patente, pois a questão é de natureza
procedimental e como tal deverá sofrer correção com o retrocesso
do procedimento até a fase em que se deu o erro na aplicação da
norma processual. Esse é o comando que deriva da interpretação
que fez a E. Corte Nacional, sendo que os dispositivos legais
invocados pelo Recorrente não guardam pertinência com o tema
em debate.
(...)
O ora Recorrente, na verdade, deixa transparecer que
não consegue distinguir da questão de mérito o aspecto
procedimental de haver ocorrido ofensa ao disposto no artigo 398
do Código de Processo Civil, pois assevera que a Corte Nacional,
no aresto proferido nestes autos, não permite que seja cassada a
sentença de Primeiro Grau de Jurisdição. Esse engano do
Recorrente, ainda que lhe traga conforto íntimo, dificulta a
prestação jurisdicional e revela, com clareza solar, o caos
processual que rege a composição de litígio neste 'país do futuro',
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cujo 'futuro' cada vez se mostra mais distante.”

Nota-se que o recorrente encontra-se renitente com a anulação dos


atos processuais praticados após a juntada do documento por ele não
contraditado, ante a incidência da regra processual prevista no art. 398 do CPC.
Remói-se com a nulidade processual inegavelmente por ele
provocada.
O mesmo documento que, segundo argumentação por ele deduzida e
acolhida em julgamento anterior, serviu para cassar o acórdão então recorrido,
deixaria de ter a importância por ele mesmo imprimida, para manter decisão de
primeiro grau de jurisdição, sob a inusitada alegação de que não formulou pedido
de anulação do julgamento, tampouco suscitou existência de prejuízo decorrente
da ausência do contraditório.
Ora, se à parte não é conferida oportunidade de se pronunciar a
respeito de documento relevante para o julgamento da demanda, a toda evidência
é nulo o processo, por desrespeito ao indeclinável contraditório. Assim entende o
STJ, como figura no seguinte julgado:

“PROCESSUAL CIVIL. JUNTADA DE NOVOS


DOCUMENTOS. SENTENÇA PROLATADA SEM ABERTURA DE
VISTA. AFRONTA AO ART. 398, DO CPC.
- Se a parte não teve oportunidade de se pronunciar
sobre documento relevante para o julgamento da causa, é nulo o
processo, por ofensa ao Art. 398, do CPC.” (AgRg no REsp
729.281/SP, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS,
TERCEIRA TURMA, julgado em 01.03.2007, DJ 19.03.2007 p.
326)

Ressalte-se que, se não houvesse prejuízo, não haveria, por


conseguinte, o reconhecimento da violação ao art. 398 do CPC, tampouco a
cassação do acórdão proferido em apelação, o que colocaria o recorrente no

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mesmo pé em que por ora se encontra.
Não há, portanto, violação aos arts. 128, 244, 250 e 460, do CPC,
dispositivos esses, além do mais, que não se destinam a impugnar as razões
contidas no acórdão recorrido, o que redunda no reconhecimento de que
deficiente a fundamentação do recurso especial.

- Da violação ao art. 557, §§ 1º e 2º, do CPC e do dissídio.


Defende o recorrente a inaplicabilidade da multa prevista no art. 557,
§ 2º, do CPC, por entender absolutamente ausente interesse seu de procrastinar a
demanda, até mesmo por ser ele o credor e não o devedor da execução. Alude
que, ao interpor o agravo previsto no art. 557, § 1º, do CPC, o fez com objetivo
de exaurir as vias recursais, pressuposto para interposição do presente recurso.
Muito embora a proliferação de recursos a aportarem neste Tribunal,
é certo que não se pode impedir o acesso às vias recursais legalmente previstas,
notadamente quando a parte tem a obrigação de esgotá-las para ter facultado o
ingresso de sua pretensão junto à Corte Superior, sob pena de ter cerceado o seu
direito de defesa.
Dessa forma, deve ser afastada a multa aplicada.

Forte em tais razões, CONHEÇO PARCIALMENTE do recurso


especial e, nessa parte, DOU-LHE PROVIMENTO, tão-somente para afastar a
multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC.

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ERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2005/0163514-5 REsp 785360 / DF

Números Origem: 20050070019152 5041398

PAUTA: 02/09/2008 JULGADO: 16/10/2008

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro SIDNEI BENETI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. FRANCISCO DIAS TEIXEIRA
Secretária
Bela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : MARCOS ANTÔNIO GOUVEIA GUEDES
ADVOGADO : RONEI RIBEIRO DOS SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : MÁRCIO ANTÔNIO CARLOS MACHADO
ADVOGADO : DILSON FURTADO DE ALMEIDA E OUTRO(S)

ASSUNTO: Comercial - Títulos de Crédito - Cheque

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso especial e, nessa parte,
deu-lhe provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Massami
Uyeda e Sidnei Beneti votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Brasília, 16 de outubro de 2008

SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO


Secretária

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