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Revista Quadrimestral do UNIPÊ

Centro Universitário de João Pessoa

ASSEMBLÉIA GERAL DO IPÊ


Clemilde Torres Pereira da Silva
Flávio Colaço Chaves
José Loureiro Lopes
José Trigueiro do Vale
Manuel Batista de Medeiros
Marcos Augusto Trindade
REITOR
José Loureiro Lopes
PRÓ-REITORA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO
Vera Lúcia Azevedo de Medeiros
PRÓ-REITORA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
Maria do Céo Costa de Oliveira
PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO
Reginaldo Moura Brasil
EDITOR
José Octávio de Arruda Mello
EDITOR ASSISTENTE
Milton Tavares de Melo Júnior
SECRETÁRIO E REVISOR DE LINGUAGEM
Marcelo Amaro da Silva
EDITOR IMPRESSOR
Nelson Farias de Sousa
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA , DIAGRAMAÇÃO E CAPA
Ermira Limeira Ferreira e Magna Coeli S. C. de Oliveira
ASSISTENTES DA SECRETARIA
Lucinete Freire de Queiroz
Marília Loureiro Lopes
Kátia Vânia Vasconcelos Souto Maior
Magna Coeli Soares Cavalcante de Oliveira
CONSELHO EDITORIAL
José Loureiro Lopes - UNIPÊ/PB
José Octávio de Arruda Mello - UEPB/UNIPÊ/PB
Afonso Antônio - Universidade Campo do Rio Claro
Dietmar Pfeiffer - Universidade de Münster/Alemanha
Elisa Médici Pizão Yoshida - PUCCAMP
Flamarion Tavares - UNIPÊ/PB
Flávio Colaço Chaves – UNIPÊ/PB
Geraldina Porto Witter – UMC/UNICASTELO-USP
Haydée Fizsbein Wertzner - USP
José Sebastião Witter - USP
Maria Antônia Alonso de Andrade - UNIPÊ
Maria do Céo Costa de Oliveira - UNIPÊ/PB
Otávio Machado Lopes de Mendonça - UFPB
Patrícia de Medeiros Loureiro Lopes – UNIPÊ/UFPB
Paulo Andriola - UNIPÊ/PB
Steniel Ferreira Patrício – UNIPÊ
REVISTA DO
Tânia Martinez - UFESP
Teófilo Otoni Torronteghy - UFSanta Maria
Wolf Dietrich Heckendorff - UFPB/PB
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REDAÇÃO
Marcelo Amaro da Silva
ISSN 1414-3194
Revista do UNIPÊ, Bloco B, 1º andar, Sala 208
BR 230 - Km 22 - Bairro Água Fria
Cep.: 58053-000 / Caixa Postal: 318
João Pessoa - Paraíba - Brasil
Email:. revista@unipe.br

Tiragem desta edição: 1.500 exemplares


Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca do UNIPÊ

R454 REVISTA DO UNIPÊ, ano XIII, nº 2, 2009.


p. 143
Quadrimestral
ISSN 1414-3194
CDU 574(05)
61(05)

1. Ciênicas Biológicas 2. Ciências da Saúde


I. Título
SUMÁRIO

EDITORIAL 70 Perfil da clientela adolescente encaminhada


à Clínica Escola de Psicologia do UNIPÊ
TEMAS ESPECIAIS Margarete Vicente Mendes
Edvânia Guedes Araújo
09 A crise econômica mundial e os reflexos Tatiana de Cássia Nakano
brasileiros 78 Análise antropométrica e dispêndio
Nelson Rosas Ribeiro energético durante uma sessão de
10 A crise financeira e o agronegócio capoeira
Joaquim Osterne Carneiro Juliano Almeida Rocha do Amaral
12 Obama e os Estados Unidos em face do mundo Pedro Henrique Marques de Lucena
José Octávio de Arruda Mello Luciano Meireles de Pontes
87 Proposta pedagógica problematizadora
ARTIGOS âncora para a formação de agentes de
17 Audiometria em trabalhadores do setor saúde
industrial Karla Fernandes de Albuquerque
Ana Cristina Montenegro Maria do Socorro Silva
Arllene Dayana V. da Silva Kátia Vânia V. Souto Maior
Azuíla da Silva Sousa 95 Taxa de infiltração d’água com aplicação
Doriella Sobreira de C. Gouveia de diferentes doses de nitrogênio
Luzia Kelly Formiga Araújo Francisco J. R. da Paixão
Mariselma de Vasconcelos Cavalcante Antônio R. S. de Andrade
Rachel Limeira de Alencar Carlos A. V. de Azevedo
Simone Gomes de Lima Ticiana L. Costa
28 Procedimentos pediátricos frente à hipótese Luciana Façanha Marques
diagnóstica de deficiência auditiva José Dantas Neto
Adriana Ferreira Potiguara 102 Psicomotricidade: um passo para vencer
Cassandra Ribeiro Dantas as dificuldades de aprendizagem
Lyana Maria Fernandes Soares Eliane Dutra Fernandes
Manuella de Macedo Costa 116 A moda inscrita no corpo: estética camp e
36 Avaliação do estresse postural através identidades queers
do método Rula Margarete Almeida Nepomuceno
Camila Carolina B. da Costa Querino 123 Cultura de moda: imbricações entre o
Isabelle Caroline V. de Farias material e o imaterial
Marisete de Lourdes V. C. Sobrinha Gabriela Maroja Jales
Juliana da Costa Santos
46 Condições ergonômicas em clínicas RESENHAS
cirúrgico-odontológicas 131 Santa Rita – Patrimônio histórico e
Andréa Carla B. da Costa Santos cultural da Paraíba
Celso Luiz Pereira Rodrigues Martha Falcão de Carvalho M. Santana
53 Benefícios do tratamento fisioterapêutico no 134 Um canal entre o cinema e a televisão
pós-operatório da revascularização do Alexandre Menezes Cavalcante Santos
miocárdio
Marcos Valério Rocha de Oliveira 135 INFORMAÇÕES
Ana Cristina da N. M. Torres - UNIPÊ e Linha D’água em Natal
Bertran Gonçalves Coutinho - Mostra estadual e homenagem
62 Estresse: um breve panorama - Erundina na Semana do Psicólogo
Juan Carlos Viñas Cortez - Cinquenta anos de teatro
Mateus Bezerra Lima - UNIPÊ lidera movimento editorial
Rafaela Guedes da Nóbrega - Homenagem a Conselheiros Fundadores

142 Normas para apresentação de trabalhos na


Revista do UNIPÊ
EDITORIAL

Uma revista acadêmica deve caracterizar-se não apenas pelo conteúdo, mas pela
atualidade.
Sem fugir à regra, Revista do UNIPÊ reserva os Temas Especiais da presente edição,
situada no campo de Ciências Biológicas e da Saúde, ao principal acontecimento do mundo
nestes dias de 2009. Trata-se da crise do capitalismo que, originária dos Estados Unidos,
repercute sobre todo mundo, inclusive o Brasil.
Dir-se-á que, em alguns países, o reflexo é mais profundo que em outros, mas todos
o sentem. Esta a razão dos miniestudos que abrem a presente edição, a cargo do economista
Nelson Rosas Ribeiro, agrônomo Joaquim Osterne Carneiro, e nosso editor, José Octávio
de Arruda Mello.
Cada um desses situa-se na perspectiva de uma angulação. Enquanto Nelson Rosas,
com a autoridade de especialista no tema, focaliza a crise econômica mundial, no sentido
mais amplo, o executivo Joaquim Osterne, também historiador, dos quadros do IHGP, detém-
se sobre reflexos da chamada “desaceleração sistêmica” no campo dos agronegócios. A
José Octávio compete analisar a problemática mundial, do ponto de vista de seu principal
ator que são os Estados Unidos da presidência Barach Obama.
Situando-se no segmento de Biológicas e da Saúde, esta edição do Ano XIII, nº 02,
2009, enfileira questões da maior relevância da área, como audiometria, deficiência auditiva,
estresse, ergonomia em clínica cirúgico-odontológica e revascularização do miocárdio. Outras
produções discutem a clínica de Psicologia do UNIPÊ, Análise Antropométrica e Dispêndio
Energético durante uma sessão de Capoeira, formação dos agentes de saúde e infiltração
d‘água.
Trata-se de temas mobilizados por importantes setores do UNIPÊ, como a
Coordenação de Pesquisa, confiada à Dra. Maria Antonia Alonso de Andrade, e
Departamentos de Enfermagem, Fisioterapia, Odontologia, Pedagogia e Psicologia, a cargo
dos respectivos coordenadores.
A estes acresçam-se oportuno insight da professora especialista Eliane Dutra
Fernandes sobre psicomotricidade e dois artigos do curso de Design de Moda do UNIPÊ, a
cargo das professoras mestras Margarete Almeida Nepomuceno e Gabriela Maroja Jales.
Versando sobre nova dimensão do corpo - o que se ajusta à moda - este número de Ciências
Biológicas assinala a estréia em Revista do UNIPÊ de um dos mais novos cursos do Centro
Universitário de João Pessoa.
Ao tempo em que as informações reafirmam o compromisso do conjunto dessa
instituição com a cultura regional, a seção de resenhas valoriza-se com nomes da melhor
categoria – a historiadora Martha Falcão e o jovem cineasta Alexandre Menezes Santos.
Uma nova roupagem de capa e feição gráfica é o que singulariza mais esta realização
do reitorado José Loureiro Lopes; também à disposição dos interessados pelo site:
www.revista@unipe.br.

Flávio Colaço Chaves


Diretor de Patrimônio e Finanças
TEMAS ESPECIAIS
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Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.
A CRISE ECONÔMICA MUNDIAL E OS REFLEXOS 9
BRASILEIROS

Nelson Rosas Ribeiro/UFPB-PROGEB

A divulgação das estatísticas do quarto trimestre de 2008 causou espanto geral nas
autoridades do governo. Os dados são aterradores. O Produto Interno Bruto (PIB) do país
caiu 3,6%, o que significa que, no quarto trimestre do ano passado o país produziu 3,6%
menos do que no trimestre anterior. Esta queda foi a maior desde 1996. A produção industrial
caiu 7,4%. Só não foi pior porque a agropecuária só caiu 0,5%. Constata o IBGE que todos
os setores tiveram uma redução da produção. Considere-se que nos três trimestres anteriores
a economia vinha crescendo aceleradamente o que fez que a taxa anual, para todo o ano de
2008, ficasse em 5,1%, apesar do tombo do final do ano.
Todos se mostraram surpreendidos. Onde está a blindagem dos países em
desenvolvimento? E os BRICs? Onde estão os sólidos fundamentos macroeconômicos e as
reservas do país? Ninguém sabia que o desastre estava em marcha?
Eu sabia, juntamente com todos os leitores que acompanham as análises publicadas
em nossa coluna de Contraponto. E não temos bola de cristal.
Há uma exceção. Desta vez o Presidente Lula sabia. O decrescimento “já era esperado
pela equipe econômica”, disse ele. E por que não avisaram? E por que mentiram e enganaram
a população? Diante da dura realidade, quem falava em crescimento de 5% em 2009, agora
baixou a mira para “próximo de zero” e, mesmo assim, ainda contando vantagem: “Mesmo
que ele (o PIB) seja próximo de zero o Brasil será um dos poucos países do mundo, dos
emergentes e dos grandes, que não terá uma recessão”.
Por outro lado, a Ministra Dilma foi obrigada a reconhecer que “o impacto foi violento”
e que o primeiro semestre de 2009 será difícil. O otimista Ministro Mantega finalmente
reconheceu que está “difícil atingir a meta de 4%, mas acredita que o país crescerá mais de
1,5%, como pensa o mercado e que o primeiro trimestre deste ano já será de recuperação.
O Ministro Paulo Bernardo tem outra opinião e considera que o trimestre pode ainda ser
negativo o que enquadraria o país na definição de “recessão técnica”, o famoso decreto de
que já falamos em análises anteriores.
Mais otimista está o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
Marcio Porchman. Para ele, em 2009, não haverá recessão e mesmo, o primeiro trimestre
do ano, dificilmente será negativo. Ele justifica sua posição alegando que o mau resultado
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

observado foi conseqüência de “fatores pontuais” e do efeito retardado da alta taxa de juros
e que estes fatores agora não existem mais. Bela teoria econômica a que inspira a declaração
do presidente do Ipea e que norteia a atividade de acessória econômica do Instituto. Em
pouco tempo ela será posta à prova.
Os dados que continuam a ser divulgados não apóiam estas conclusões otimistas.
Em 5 meses, de outubro a fevereiro, a indústria de São Paulo demitiu 237 mil trabalhadores,
o que nos coloca no nível de fevereiro de 2007. Só em fevereiro desapareceram 43 mil
empregos. O seguro-desemprego bateu recordes de requerimento em janeiro, e de
pagamentos, em fevereiro. Nos dois meses o volume de pagamentos foi 25% maior que no
mesmo período do ano passado. O número de horas pagas, em janeiro, caiu 1,8%, em
10 relação a dezembro. No mesmo período, a ocupação na indústria reduziu-se 1,3%, o pior
desempenho desde o começo da série histórica. O faturamento da indústria caiu pelo terceiro
mês consecutivo. Em comparação com dezembro, a queda foi de 4,3%. Uma pesquisa feita
pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 80% dos empresários consideram
que a situação pioraria no primeiro trimestre deste ano. Para todo o ano, o gerente-executivo
da unidade de política econômica da CNI pensa que “A tendência é que o crescimento do
PIB fique próximo de zero”.
No resto do mundo, a situação continua a se deteriorar. A Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE) considera que todos os países, desenvolvidos e
em desenvolvimento, estão sofrendo uma forte desaceleração e inclui o Brasil na lista. O
desemprego nos EUA atingiu 8,1%, o maior nível em 25 anos. Entre dezembro e fevereiro
desapareceram, no país, 4,4 milhões de empregos. Estima-se que as famílias americanas já
perderam US$ 16,5 trilhões o que corresponde a um PIB dos EUA. Em 2009, o Banco
Mundial prevê que serão atirados no desemprego; na América Latina, 6 milhões de pessoas.
Continuamos em direção ao fundo do poço. Só não vê quem é cego ou charlatão.

Contato com o autor:


Rua Helena Freire, 553 – Altiplano – João Pessoa/PB
Cep: 58046-190

A CRISE FINANCEIRA E O AGRONEGÓCIO

Joaquim Osterne Carneiro/ IHGP-ALAN

Analistas e economistas estão convencidos que a atual crise financeira mundial se


originou do descaso do Federal Reserve e, porque não dizer, do Governo dos Estados
Unidos da América do Norte, como um todo, que se viu sem condições de frear a atuação
dos grandes bancos, das empresas e das agencias hipotecárias daquele país. Nessas condições,
as garantias imobiliárias foram superavaliadas pelos bancos credores, quando uma avaliação
mais realista demonstra que as garantias oferecidas não cobrem 60% do total da carteira
americana de créditos imobiliários, ou seja, o denominado subprime imobiliário. O resultado
dessa situação teve um efeito dominó, contribuindo para a quebradeira de bancos, corretoras
e financeiras, determinando o surgimento da recessão econômica que alcançou todo o sistema
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

financeiro mundial. De outra parte, a crise contou também com a participação dos países da
Comunidade Européia, da China e dos países árabes – detentores de grandes reservas em
dólares que destinaram suas aplicações em depósitos remunerados a títulos do tesouro
americano – e gradativamente tende, agora, a se instalar no Brasil, influenciando negativamente
nossa taxa de crescimento e pouco a pouco alcançando distintos setores da economia, inclusive
o agronegócio.
Falando sobre a agronegócio brasileiro, o Ministro da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, Reinhold Stephanes, em um trabalho intitulado “O Agronegócio em Tempo
de Crise” (Valor Econômico de 11/02/2009), lembrou inicialmente com muita propriedade
que, além de se sujeitar às intempéries climáticas que periodicamente acontecem, “a agricultura
tem que driblar efeitos de crises financeiras. Foi assim ao longo das décadas de 1980 e 1990,
com o congelamento de preços, inflação e sucessivos planos econômicos. E agora não é 11
diferente. Enquanto o país acumula recordes nas safras de grãos, surge a crise financeira
mundial ameaçando o plantio e a comercialização. Apesar do quadro de dificuldades e de
previsões pessimistas de algumas autoridades e mesmo de especialistas, até o momento o
agronegócio brasileiro tem reagido positivamente. Isso se deve ao dinamismo do setor, que
sendo a base econômica de mais de quatro mil municípios, proporciona o superávit da balança
comercial e ainda financia o déficit dos demais setores da nossa economia”.
Ao mesmo tempo, informações da Agência CNA – Confederação de Agricultura e
Pecuária do Brasil - mostram que, em 2008, o nosso país colheu 143,8 milhões de toneladas,
ou 9,2% a mais que a safra do ano anterior que igualmente já fora recorde; obteve um
recorde no faturamento bruto, cujo Valor Bruto da Agropecuária foi da ordem de R$ 298,6
bilhões; ocorreu um recorde nos preços dos fertilizantes, que dispararam na dianteira do
aumento dos custos de produção; as matérias primas destinadas à produção de fertilizantes
aumentaram 136,6% em relação à safra anterior; e aconteceu um recorde no endividamento,
que foi de R$ 75 bilhões. Convém lembrar que a produção rural responde por mais de 35%
das exportações brasileiras.
Segundo o trabalho “2009 Traz Incertezas após um 2008 de Extremos” da Agência
CNA, de 05/01/2009, “cabe lembrar, ainda, a disparada de preços dos alimentos, aumento
da renda, demanda aquecida e estoques em baixa conjugaram o verbo que todos os países
temiam em suas economias: retorno da inflação. A pressão inflacionária latente trouxe de
volta antigos debates econômicos, como vantagens comparativas na produção de alimentos
e energia, o neomalthusianismo frente à oferta de alimentos e crescimento da população,
mas, principalmente, a cessão de terras para a produção de bioenergia. Para o produtor
brasileiro, somam-se ainda temas como a publicação do Decreto 6.514, de 2008, que trata
dos crimes ambientais e a escassez de credito púbico e privado. Esses talvez tenham sido os
temas que mais trouxeram preocupação ao produtor rural. Restrições ambientais para tomada
de crédito, elevação dos custos financeiros, aumento do grau de risco das operações rurais e
escassez de crédito para o financiamento da safra. O cenário agravou-se com a lentidão da
resolução do passivo do setor e a pouca abrangência de um longo processo de renegociação
que resultou na maior medida provisória já publicada, a MP 432, convertida na Lei 11.775,
de 2008. Frustrando parlamentares e produtores rurais, a Lei 11.775 foi incapaz de solucionar
o elevado grau de endividamento de curto prazo nas regiões produtoras”.
O maior impacto da crise financeira atual diz respeito à queda generalizada de preços
no mercado das commodities agrícolas, em virtude da diminuição das compras futuras e o
aumento verificado no custo de carregamento de estoques. Mesmo assim, a área plantada
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

em nosso país foi equivalente à do ano anterior, havendo uma estimativa de queda na produção
da ordem de 8%, o que corresponde a retornar ao nível da penúltima safra, sendo necessário
destacar que esse recuo é resultante da diminuição da utilização de fertilizantes e de tecnologia.
O problema para 2009 é sem dúvida preocupante e, segundo Reinhold Stephanes,
no trabalho anteriormente citado, “O contexto que deixa apreensivos governo e setor rural,
indica que o atual modelo de crédito agrícola está esgotado, sendo preciso adotar medidas
que perpassem as crises e blindem a agricultura. Para isso, devemos rever as políticas de
garantia de preços e do seguro agrícola. Vale lembrar que a ultima reestruturação das dividas
do setor ocorreu, em junho, sob perspectivas extremamente otimistas, com mercado e preço
aquecidos. E esse cenário não se concretizou. Regularizar a situação do produtor junto ao
agente financeiro permite que ele volte a ser adimplente e consiga ter acesso ao crédito. A
12 divida rural se acumula há mais de 20 anos com constantes renegociações. E esta divida
surgia normalmente por duas questões principais: climáticas e de mercado. No caso de
problemas como clima, a baixa cobertura do seguro nos últimos anos acabou endividando o
produtor. Já a questão de mercado ocorre quando o produtor planta com preço bom, mas
depois o preço cai e ele não consegue cobrir o custo do plantio. Temos que encontrar um
novo caminho, um novo modelo. Um grupo de especialistas estuda o assunto, reunindo o
Ministério da Agricultura, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Federação
dos Bancos, Banco do Brasil e Ministério da Fazenda”.
Diante do exposto, o governo e as lideranças da agropecuária brasileira terão de agir
o mais rapidamente possível, levando em consideração que nos próximos 10 anos há uma
previsão de crescimento da demanda no mundo da ordem de 50%, e o Brasil dispõe de
todas as condições – terras agricultáveis e tecnologia – para não só garantir o abastecimento
interno, como também ampliar ainda mais as exportações de produtos oriundos do agronegócio,
que atualmente alcançam mais de 180 países.

Contato com o autor:


Rua Profª. Maria Sales, 140 – apt. 701 – Residencial Atlântico – Tambaú - João Pessoa/PB
CEP: 58039-130

OBAMA E OS ESTADOS UNIDOS EM FACE DO MUNDO

José Octávio de Arruda Mello / UNIPÊ-UEPB

Quando da crise brasileira de outubro de 1977, em que o presidente Geisel,


neutralizando a ofensiva repressiva do ministro Sílvio Frota, nomeou o novo ministro do
Exército, General Fernando Bethlem, o comentarista Carlos Castelo Branco, do Jornal do
Brasil, teve uma expressão lapidar: “sai o candidato e fica o sistema”.
Ocorre-me perguntar o mesmo, na transição norteamericana de George Bush para
Barack Obama. Temperando as esperanças semeadas pelo novo Chefe de Governo
norteamericano, sobreveio dúvida que manifestei ao amigo Chico Pereira Júnior: terá
permanecido o sistema?
“Não é o caso”, porém. Desde que, ainda na primeira metade do século XIX, o
reformador presidente Andrew Jackson, general defensor de Nova Orleans, na Segunda
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Guerra da Independência dos Estados Unidos, introduziu o chamado “spoil system” (sistema
de espólio), o presidencialismo norteamericano capacitou-se a mudança em profundidade,
todas as vezes em que, no topo, a chefia de Governo se altera.
Ao contrário do Brasil, em que a radical mudança dos quadros governamentais
inviabiliza os primeiros anos da administração federal, estadual ou municipal, nos EE.UU. os
escalões médios e da base, constituídos por funcionários de carreira, permanecem, mas “a
cúpula política e direcional é toda alterada”. Assim, abrindo-se a mudanças, “o sistema não
permanece”.
Nisso uma diferença com a Inglaterra onde mudam apenas os ministros,
“permanecendo a estrutura de comando”. Nas conferências de pós-guerra, posteriores aos
encontros de Yalta e Potsdam, os soviéticos estranharam que, após a vitória trabalhista de
julho de 1945, a delegação britânica permanecesse a mesma, com a única mudança do 13
ministro das Relações Exteriores, agora Ernest Bevin.
Como resultado, a orientação anticomunista de Churchill, formalizada no famoso
discurso de Fulton, prevaleceu em toda linha, fomentando a Guerra Fria. Na Grã Bretanha,
travado pelo antisovietismo do “Foreign Office”, o Labour Party não foi capaz de estender
ao exterior as formulações do Wellfare State, internamente processadas, sob a liderança de
Aneurin Bevan.
Algo bem diverso processa-se nos “States”. Com Obama, “chegou equipe inteiramente
nova”, a começar pelo Departamento de Estado, onde a pragmática Ellery Clinton esposa do
ex-presidente Bill Clinton, e candidata derrotada nas prévias do Partido Democrata, substitui
a empedernida Condolezza Rice. No nevrálgico setor de meio ambiente, a presença de
ambientalista, recrutado aos altos quadros universitários, indica a possibilidade de as fontes
de energia limpa substituírem, progressivamente, a combustão de petróleo, gás e carvão que,
no primeiro mandato, Bush pretendeu estender até o santuário do Alaska.
Dentro desse quadro, é fácil verificar que os democratas de Barach Obama não são
a mesma coisa dos republicanos de George Bush. Apesar de autores como Pitrim A. Sorokin,
em As Tendências Básicas de Nossa Época (1966) apontarem para convergência entre
republicanos e democratas e até, no plano externo, para soviéticos e americanos,
crescentemente aproximados, os dois grande partidos dos Estados Unidos têm-se distinguido,
progressivamente.

***

Uma das expectativas favoráveis à possível renovação empreendida pelo presidente


norteamericano Barach Obama consiste em que, nas últimas décadas, republicanos e
democratas afastaram-se, em torno da montagem de diversificados sistemas de poder.
O final dos anos sessenta acentuou a dicotomia.
Os republicanos apareceram com Nixon – cujo chefe de Departamento de Estado,
Henry Kiessinger, oficializou as ditaduras latinoamericanas do cone sul – Ronald Reagan –
que chegou a invadir a ilha de Granada – e, enfim, George Bush.
A política deste consistiu em recorrer à força para, nas palavras do cientista político
francês Gilles Kepel, “coibir o desenvolvimento autônomo do mundo árabe, criar uma zona
de segurança dos EUA e um ambiente regional favorável a Israel”. A desastrada invasão do
Iraque, alicerçada em premissas que se revelaram falsas, inseriu-se nesse contexto.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Desde John Kennedy, cujo assessor Walter Liepman buscou substituir, em face dos
soviéticos, o qualificativo de “inimigos” por “adversários”, os democratas evoluíram noutra
direção. Seu ponto mais alto sobreveio com Jimmy Carter cuja esposa, Rosalyn, veio ao
Brasil, em 1978, exigir respeito aos direitos humanos pelo Governo militar do General Geisel.
Embora comprometido pelo escândalo da assistente Monica Levinsky, a presidência Bill
Clynton não se apartou dessa postura
Nesse início de ano de 2009, os Estados Unidos depararam-se com sérios problemas
internos e externos. Internamente, a atual crise do capitalismo terá de ser enfrentada por
“economia de mercado, democrática, e socialmente regulada”. Tal significa, como entendido
pelos economistas nordestinos Nelson-Elivan Rosas Ribeiro, “O regresso a Keynes”. Ora,
essa tradição, que chegou ao Brasil com a era Vargas, é democrata, por mergulhar raízes no
New Deal de Franklin Roosevelt, em 1932.
O problema externo é mais delicado, em razão das “repercussões internas”. Nesse
particular, Obama sabe que o peso econômico e eleitoral da comunidade judaica americana
o impede afastar-se de Israel, no Oriente Médio. Mas isso não significa apoiar, irrestritamente,
o judaísmo, em sua crescente agressividade.
A questão se complica ante a fraqueza da chamada Autoridade Palestina, remanescente
do antigo Fatah, e espremida entre os extremistas do Hamas e do Hesbolah. Obama contudo,
já acenou para entendimentos com o Irã cuja presumível ameaça lastreia o militarismo
israelense.
O chamado “eixo do mal” torna-se, pois, coisa do passado, por corresponder à pior
tradição puritana da cultura norteamericana. O que é democrático, por ajustar-se à História
da Suprema Corte, das presidências Marshall e Warren, é a questão dos prisioneiros de
Guantánamo, objeto das primeiras iniciativas do novo Presidente.
Temos assim em Obama, como “negro de ascendência islâmica”, providências iniciais
que bem se encaixam. Em uma das melhores páginas do segundo tomo de Um Estudo
Crítico de História (2001), Hélio Jaguaribe sustentou que a nova ordem mundial,
necessariamente multipolar, “não pode e não deve” ser antiamericana, por respeitar os
“legítimos interesses”, inclusive militares, dos EE.UU.
Essa combinação entre legitimidade interna e “pax universalis” é o que se espera do
presidente Barach Obama. Nesse contexto, a “pax” americana, imposta pelos tanques e
canhões, deve ser substituída por paz mundial, construída pela diplomacia. Nisso se inclui
descompressão em face do regime comunista de Cuba que todos aplaudiremos quando chegar.

Contato com o autor:


email: joseoctavioamello@bol.com.br
ARTIGOS
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Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.
AUDIOMETRIA EM TRABALHADORES DO SETOR 17
INDUSTRIAL

Ana Cristina Montenegro/UNICAMP/UNIPÊ/UFPE


Arllene Dayana V. da Silva/UNIPÊ
Azuíla da Silva Sousa/UNIPÊ
Doriella Sobreira de C. Gouveia/UNIPÊ
Luiza Kelly Formiga Araújo/UNIPÊ
Mariselma de Vasconcelos Cavalcante/UNIPÊ
Rachel Limeira de Alencar/UNIPÊ
Simone Gomes de Lima/FIBRASA-PB

RESUMO

O objetivo deste estudo é demonstrar a importância da audiometria em trabalhadores


de uma indústria, antes de uma transferência de setor de trabalho. Para tal mensuração, foi
utilizada uma amostra de 15 trabalhadores, que foram submetidos à aplicação de um
questionário e a uma nova audiometria, a fim de que os dados fossem comparados com as
suas audiometrias de admissão na indústria. Através dos resultados obtidos, foi constatado
que, a maioria dos funcionários (53,3%) não apresenta nenhum problema de rebaixamento
do limiar auditivo, embora uma parcela dos funcionários (46,7%) apresente diminuição da
acuidade auditiva, sendo a maior incidência no ouvido esquerdo, porém, a tendência é o
surgimento de futuras perdas auditivas.
Palavras-chave: Ruído ocupacional, perda auditiva, susceptividade individual.

AUDIOMETRY FINDINGS IN WORKERS OF


INDUSTRIAL COMPANY

ABSTRACT
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

The aim of this study was to demonstrate the importance of audiometry in workers of
an industry, before the transference of a working section. A sample of 15 workers was used
in order to achieve such an analysis. The workers were submitted to the application of a
questionnaire and a new audiometry so that the results could be compared with their admission
audiometries in the industry. Through the obtained results, it was verified that most of the
employees (53,3%) do not have any problem of lowering of the auditory threshold, although
a portion of the employees (46,7%) presents decrease of the auditory sharpness, being the
largest incidence in the left ear. Hence, there may occur the appearance of future auditory
losses.
Key-words: Occupational noise, hearing loss, Occupational audiometry.
18 Introdução

A audição é o sentido que põe os seres humanos em contato entre sí e com a natureza,
pois é por meio dela que ocorre a percepção do som. A identificação precoce da perda
auditiva induzida por ruído (PAIR) em trabalhadores de indústrias é atualmente um novo
campo da audiologia ocupacional, cuja vantagem principal é a conservação da integridade
auditiva desses trabalhadores.
O ruído é um dos agentes nocivos à saúde dos trabalhadores, constituindo a maior
causa de perda auditiva ocupacional. A dose de exposição ao ruído pode ocasionar mudanças
temporárias de limiar, que é a fadiga auditiva; o trauma acústico, que é uma perda auditiva
súbita, ou uma mudança permanente de limiar, chamada de PAIR, alteração esta decorrente
de exposição prolongada (por mais de oito horas diárias) a intensos níveis de ruído (maior
que 85dB), causando assim perda auditiva sensorioneural, irreversível, quase sempre bilateral,
progressiva, atingindo no seu início freqüências agudas.
A PAIR advém do acúmulo de exposições a ruídos contínuos ou intermitentes, que
são repetidos constantemente, por um período de muitos anos e, em sua maioria, depende da
susceptibilidade individual.
Para evitar esta perda auditiva, os trabalhadores que ficam expostos a intensos níveis
de pressão sonora diariamente devem fazer uso de equipamento de proteção individual (EPI).
No caso, esse equipamento é o protetor auricular. Para a legislação trabalhista, o empregador
é obrigado a fornecer, instruir, treinar, fiscalizar e repor os EPI’s danificados, sendo de
responsabilidade do trabalhador usá-lo e conservá-lo.
No caso específico da FIBRASA, indústria que fabrica tapete e fibra de Sisal,
localizada no município de Bayeux, Estado da Paraíba, os dois setores que não estão expostos
a ruídos são: Revisão e Escritório. Os demais setores são: Mecânica, Fiação, Tecelagem
(que contém espuladeiras e teares), Emborrachamento, Laboratório Químico, Armazém (onde
fica a estiva e os operadores de empilhadeiras), Batimento e Caldeira. Na referida indústria,
todos os funcionários, trabalhando ou não em setor com exposição de ruído, são obrigados
a passarem por uma avaliação audiológica, ou seja, audiometria de admissão.
Este trabalho enfoca o estabelecimento de uma perda auditiva em trabalhadores que
são transferidos de setor de trabalho sem, no entanto, submeterem-se a uma nova audiometria,
pois se o novo setor for de maior ruído, o indivíduo corre o risco de adquirir perda em sua
audição (cada aumento de 3 dB na intensidade do ruído requer um tempo de exposição
reduzido pela metade). Será abordado com mais ênfase o ruído como o agente causador da
perda, sendo considerado também outros fatores ocupacionais que podem contribuir nesta
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

alteração.
Nos últimos anos, os empresários brasileiros vêm enfrentando problemas com o
aumento progressivo de ações indenizatórias cíveis e trabalhistas causadas por perdas auditivas
ocupacionais. Portanto, com base nos resultados obtidos na pesquisa será traçado o perfil
audiológico dos trabalhadores da indústria que foram submetidos à mudança de setor de
trabalho, sem realização de uma nova audiometria, verificando assim a presença de perda
auditiva, ou não, devido à mudança de setor. Evitando, desta forma, que o problema se
agrave, melhorando a qualidade de vida e produtividade do trabalhador e diminuindo o risco
de indenizações para o setor industrial.
A audição é definida como a percepção de certa classe de estímulos vibratórios que 19
captados pelo ouvido, vão impressionar a área cerebral correspondente, tomando então o
indivíduo consciência deles (SEBASTIAN, 1998, p.30).
A audição humana se processa graças à ação do chamado “aparelho auditivo”, ou
seja, um conjunto de estruturas com funções diferentes e complementares que resultam na
capacidade de uma pessoa perceber e entender um som (MENEZES; PAULINO apud
SALIBA, 2001, p.67).
Com o passar do tempo, a acuidade auditiva pode diminuir em decorrência de
doenças, exposição ao ruído, uso indiscriminado de medicamentos, estresse, predisposição
genética, além de fatores nutricionais, dando lugar às perdas auditivas induzidas por ruído e
contribuindo para acelerar a presbiacusia em nossa sociedade, bombardeada pela poluição
sonora (RUSSO apud LICHITIG; CARVALLO, 1997, p.41)
O ruído é o fenômeno físico vibratório com características indefinidas de variações
de pressão (no caso ar) em função da frequência, isto é, para uma dada freqüência podem
existir, em forma aleatória através do tempo, variações de diferentes pressões (SALIBA,
2001, p.16).
Para o autor supracitado, o ruído pode ser ainda classificado em três tipos específicos:
ruído contínuo, ruído intermitente e ruído de impacto ou impulsivo. Do ponto de vista técnico,
ruído contínuo é aquele cujo NPS (nível de pressão sonora) varia 3dB durante um período
longo (mais de 15 minutos) de observação, como por exemplo: o ruído dentro de uma
tecelagem. Já o ruído intermitente é aquele cujo NPS varia até 3dB em períodos curtos
(menor que 15 minutos e superior a 0,2 segundos). A NR-15 ( Norma Regulamentadora 15,
da portaria 3214 ) define ruído de impacto como picos de energia acústica de duração
inferior a 1 segundo, a intervalos superiores a 1 segundo.
A NR-15 estabeleceu que o Limite de Tolerância é a intensidade máxima ou mínima
relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará danos à
saúde do trabalhador durante a sua vida laboral (SALIBA, 2001, p.35).
Saliba (2001) descreve que, para a ACGIH (American Conference of
Governamental Industrial Higienists), os limites de exposição ao ruído referem-se aos
níveis de pressão sonora e aos tempos de exposição que representam as condições sob as
quais se acredita que a maioria dos trabalhadores possa estar exposta repetidamente, sem
sofrer efeitos adversos à sua capacidade de ouvir e de entender uma conversação normal. A
ACGIH estabelece ainda que o limite de tolerância para o ruído não protege todos os
trabalhadores dos efeitos adversos da exposição ao ruído.
A dose de ruído é uma variante do nível equivalente, com o tempo de medição em
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

8h, que é (ou deveria ser) a jornada diária máxima de trabalho considerado para definição
dos limites de tolerância (SANTOS; MATOS, 1997, p.12).
Para Santos e Okamoto (1997), os estudos referentes aos efeitos extra-auditivos da
exposição a ruído auditivo possuem evidências crescentes de sua nocividade, especialmente
na produção de alterações neuropsíquicas, tais como insônia, cefaléia e irritabilidade. Outros
desses principais efeitos são: alterações cardiocirculatórias, alterações gastrointestinais, efeitos
na habilidade e alterações na visão.
Segundo Saliba (2001), os efeitos auditivos podem ser divididos em traumas acústicos,
efeitos transitórios e efeitos permanentes. A perda auditiva permanente tem sido conhecida
popularmente como “PAIR” (perda auditiva induzida por ruído).
20 A PAIR é uma condição específica com sintomas estabelecidos e achados objetivos,
e algumas de suas características principais são descritas a seguir:
- A perda auditiva é irreversível, neurossensorial e predominantemente coclear.
- O portador deve ter história prolongada de exposição a níveis de ruído elevados(>85
dB (A)/8horas/ dia), suficientes para causar uma perda no nível e configuração observados
nos testes audiológicos.
- A perda auditiva deve ter se desenvolvido gradualmente num período de, geralmente,
seis a 10 anos de exposição.
- A perda auditiva deve ter se iniciado nas altas freqüências audiométricas (ordem
características de 6,4,8,3,2 ou 4,6,8,3,2 kHz) e ser equivalente nos dois ouvidos.
- Os resultados dos testes e reconhecimento de fala devem ser consistentes com os
resultados da audiometria tonal.
- A perda auditiva deve estabilizar-se, quando a exposição a ruído for eliminada.
(LEMASTERS; MORATA apud COSTA, et al. 2001, p.3).
A perda auditiva permanente devido ao ruído é descrita como ocorrendo
primeiramente entre 3.000 e 6.000 Hz (altas freqüências), sobretudo em 4.000 Hz, em função
da própria anatomia e da própria dinâmica de funcionamento do aparelho auditivo humano.
(SALIBA, 2001,p.72).
A Lei orgânica da saúde nº 8.080, de setembro de 1990, no seu artigo 6º conceitua
a saúde do trabalhador como

um conjunto de atividades que se destina, através das ações de


vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e
proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa a
recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos
aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho e descreve
o elenco a serem desenvolvidas. (BERNARDI, JUNIOR apud
BERNARDI, 2003, p.17)

O Programa de Conservação Auditiva (PCA) é um conjunto de ações coordenadas


que tem por objetivo prevenir ou estabilizar as perdas auditivas ocupacionais. Por se tratar
de um conjunto de ações coordenadas, o PCA é um processo contínuo e dinâmico de
implantação de rotinas nas empresas. Portanto, enquanto existirem riscos para a audição
presentes nos processos produtivos, há a necessidade de se buscar sua redução ou eliminação.
(BERNARDI, JUNIOR apud BERNARDI, 2003, p.49).
Para os autores supracitados, os principais objetivos do PCA são: melhorar a qualidade
de vida do trabalhador, evitando a surdez e reduzindo os efeitos extra-auditivos causados
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

pela exposição a níveis de pressão sonora elevados e outros agentes de risco para a audição;
identificar empregados com patologias de orelhas e audição não relacionadas ao trabalho,
encaminhado-os para tratamento adequado; diagnosticar precocemente os casos de Perdas
Auditivas Ocupacionais, estabelecendo medidas eficazes, preservando a saúde dos
trabalhadores; adequar à empresa às exigências legais.
Com relação ao controle do ruído, Okamoto e Santos (1999) dividiram a intervenção
em três níveis: intervenção na fonte sonora, intervenção sobre a propagação (trajetória) e
intervenção sobre o trabalhador.
Segundo Saliba (2001), as medidas na fonte e na trajetória deverão ser prioritárias
quando viáveis tecnicamente. Não sendo possível, a controle do ruído na fonte e na trajetória,
deve-se, como último recurso, adotar medidas de controle no trabalhador como complemento 21
às medidas anteriores, ou quando não forem elas suficientes para corrigir o problema. Dentro
do controle no homem, está o uso do EPI (equipamento de proteção individual).
Devemos ressaltar que a simples utilização do EPI não implica a eliminação do risco
de o trabalhador vir a sofrer diminuição da capacidade auditiva. Os protetores auriculares,
para serem eficazes, deverão ser usados de forma correta e obedecer aos requisitos mínimos
de qualidade representada pela capacidade de atenuação, que deverá ser devidamente testada
por órgão competente. O uso constante do protetor é importante para garantir a eficácia da
proteção (SALIBA, 2001, p.83). O autor afirma ainda, que os protetores auriculares deverão
ser capazes de reduzir a intensidade do ruído abaixo do limites de tolerância.
As atividades seguidas fazem parte do trabalho do fonoaudiólogo dentro da equipe
de saúde da empresa:
- organização dos exames para subsidiar o diagnóstico médico;
- análise do panorama epidemiológico de perdas auditivas e estabelecimento de
prioridades para projetos de melhorias ambientais;
- a elaboração de tabelas de indicação de protetores;
- controle de seu uso por parte dos trabalhadores;
- elaboração de campanhas de saúde auditiva, palestras e treinamentos periódicos
para a correta utilização dos protetores e sensibilização dos trabalhadores para a
prevenção dos riscos para a audição.
- veiculação constante de informações relacionadas às ações de prevenção das perdas
auditivas por meio de todos os recursos de mídia disponíveis na empresa (boletins
periódicos, jornais, cartazes, internet, etc.).
- participação juntamente com a equipe de engenharia de segurança da elaboração
de propostas e desenvolvimento de projetos de melhorias ambientais e medidas
administrativas para a redução da exposição.
- Adequação do PCA da empresa a todas as exigências legais por meio da
documentação e registro adequado de todas as ações realizadas. (BERNARDI;
JUNIOR apud BERNARDI, 2003, p.25).
A avaliação audiométrica dos trabalhadores ainda é a maneira mais efetiva de
determinar o sucesso de um Programa de Controle Auditivo (PCA) em relação à prevenção
da perda auditiva induzida por níveis de pressão elevados. Com a comparação anual dos
resultados audiométricos pode-se detectar mudanças ou reforços nas intervenções propostas
pelo PCA, pois, deste modo encontra-se as áreas em que a proteção auditiva (coletiva e/ ou
individual) tenha falhas. (SANTOS apud BERNARDI, 2003, p.99).
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Segundo a autora acima citada, através da audiometria é possível determinar o limiar


mínimo de audição, explorar o campo auditivo por meio de provas e identificar possíveis
perdas auditivas. Sendo assim, a avaliação audiométrica deve ser realizada dentro de critérios
rigorosos, para que os dados obtidos sejam confiáveis, e para que métodos adequados de
comparação de resultados sejam aplicados.
Os audiogramas básicos são obtidos quando o PCA está sendo implantado no
processo de admissão do trabalhador. O teste é realizado com 12 horas de repouso auditivo,
para afastar as alterações temporárias de limiar. Por outro lado, os audiogramas de
monitoramento devem ser obtidos pelo menos anualmente, e os testes são realizados no final
do turno de trabalho, de maneira que as alterações temporárias na audição, devidas a controle
22 insuficiente de ruídos ou uso inadequado de protetores auditivos, não passem despercebidos
(SANTOS apud BERNARDI, 2003, p.99).
A autora supracitada afirma ainda: os resultados do audiograma de monitoramento
devem ser comparados imediatamente com o audiograma básico, para verificar alguma
alteração. Segundo esta padronização para confirmação dos achados dos audiogramas de
monitoramento, é sugerido que o exame seja repetido quando houver uma alteração de limiar
de 15 dB ou mais nas frequências testadas em qualquer um dos ouvidos (audiograma de
testes novos). Se a alteração de limiar persistir, o teste deve ser realizado novamente dentro
de 30 dias e o trabalhador deverá estar em repouso auditivo de 12 horas. Este será, portanto,
o audiograma de confirmação. Se no mesmo, houver indicação de alterações de limiares
permanentes, será solicitada uma revisão da etiologia da perda e serão tomados todos os
procedimentos adequados.

Material e método

O presente estudo foi realizado no segundo semestre de 2004, em uma indústria de


tapete e sisal (FIBRASA) localizada na cidade de Bayeux, no estado da Paraíba.
A população estudada constou de 15 funcionários, sendo 11 do sexo masculino e 04
do sexo feminino, com a faixa etária variando de 20 a 40 anos.
Primeiramente, relacionaram-se os indivíduos que foram transferidos de um setor
que não tinha ruído ou que a presença deste era mínima, para o setor de Tecelagem (maior
ruído), onde a medição foi realizada com um decibelímetro, modelo MFL 1325 made in
Brasil, fabricado pela Minipa, onde se constatou que o ruído presente neste setor variava
entre as intensidades de 85 e 100dB, sendo esta medição realizada pela engenheira de
segurança do trabalho. Em seguida, foi realizado um questionário com o objetivo de coletar
informações sobre a história clínica dos funcionários. Posteriormente, foi realizada a
meatoscopia (visualização do meato acústico externo). Após a anamnese e a meatoscopia, o
individuo era submetido à audiometria, cujas respostas foram registradas graficamente na
folha do audiograma. O exame foi realizado em cabine acústica com um audiômetro com a
devida calibração acústica , realizada em 21 / 06 / 2004, da marca Midimate, modelo 622,
fabricado pela Madsen Eletronics, encontrando-se dentro dos critérios de padronização do
Conselho Federal de Fonoaudiologia. A técnica empregada para o exame foi de Hood. A
classificação adotada foi a de Davis e Silverman (1970): onde é considerada audição normal
(0 – 25dB); grau leve (26 – 40dB); moderado (41 – 70dB); grau severo (71– 90dB); grau
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

profundo (91 ...).


No começo, foi realizado apenas audiometria por via aérea nas frequências de 500 a
8.000Hz. Se fosse detectado qualquer comprometimento a partir de 30dB (entre 500 e
4.000Hz) a audiometria seria, então, realizada por via óssea.
Quando era verificada uma perda auditiva, mesmo isolada em algumas frequências, o
individuo seria orientado a procurar um médico otorrinolaringologista para avaliação
audiológica completa.
Resultados 23

Os resultados estão demonstrados nas tabelas 1,2,3 e 4, que estão de acordo com
as respostas dos funcionários ao questionário aplicado. As tabelas 5,6 e7 estão relacionadas
aos resultados dos audiogramas atuais de admissão.

Tabela 1- Distribuição de funcionários da indústria FIBRASA, segundo o setor de origem,


João Pessoa, 2004.

SETOR n %
Preparação 3 20,0
Revisão 7 46,6
Embalagem 1 6,7
Tinturaria 1 6,7
Fiação 2 13,3
Limpeza 1 6,7
TOTAL 15 100,0

Tabela 2 – Distribuição de funcionários, de acordo com a quantidade de horas trabalhadas


diariamente nos três turnos na FIBRASA, João Pessoa, 2004.

QUANT. DE HORAS n %
0-4 - -
5-8 14 93,3
9 - 12 1 6,7
13 - 16 - -
TOTAL 15 100,0

Tabela 3 - Distribuição de funcionários que utilizam o protetor auricular, segundo o tipo,


João Pessoa, 2004.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

n*
TIPO %
MUITAS VEZES
Plug 13 86,7
Concha 2 13,3
Conjugado - -
TOTAL 15 100,0
* Não se obteve nenhuma resposta em relação às frequências de algumas vezes e poucas vezes.
24 Tabela 4 - Distribuição de funcionários da FIBRASA, segundo queixas auditivas apresentadas,
João Pessoa, 2004.

QUEIXA n* %
Cefaléia 7 29,2
Tontura 1 4,2
Insônia 1 4,2
Otalgia 1 4,2
Zumbido 1 4,2
Irritabilidade 2 8,3
Diminuição de audição 2 8,3
Prurido 2 8,3
Nenhuma 7 29,2
TOTAL 24 100,0
* No questionário realizado, um trabalhador respondeu que tinha dois tipos de queixas (Cefaléia e
Prurido); outro respondeu que tinha Cefaléia e Irritabilidade, e um funcionário respondeu que possuia
todas as queixas já perguntadas.

Tabela 5 – Distribuição de funcionários, segundo o estado auditivo, João Pessoa, 2004.

ESTADO AUDITIVO* n %
OE normal e OD deficitário 1 6,6
OD normal e OE deficitário 4 26,7
Ambos os ouvidos normais 6 40,0
Ambos os ouvidos deficitários 4 26,7
TOTAL 15 100,0
* Considera-se OE como Ouvido Esquerdo e OD como Ouvido Direito.

Tabela 6 – Distribuição de funcionários, segundo a diminuição auditiva nas frequências


relacionadas à PAIR, na orelha esquerda, João Pessoa, 2004.
FREQUÊNCIA(KHz) N %
3 1 6,7
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

4 - -
6 2 13,3
3e4 - -
3e6 3 20,0
4e6 1 6,7
3, 4 e 6 - -
Nenhuma 8 53,3
TOTAL 15 100,0
OBS.: Com relação à orelha direita, apenas um funcionário apresentou déficit nas 25
freqüências de 3, 4 e 6 KHz.

Tabela 7 – Distribuição de funcionários, segundo o rebaixamento da intensidade em decibéis


nas frequências da PAIR, no ouvido esquerdo, nos três turnos diários da FIBRASA, João
Pessoa,
2004.

REBAIXAMENTO(dB)*
FREQUÊNCIA TOTAL
5 10 15
n % n % N % n %
3 1 16,7 - - 1 100 2 25
4 - - - - - - - -
6 2 33,3 1 100 - - 3 37,5
3e4 - - - - - - - -
3e6 2 33,3 - - - - 2 25
4e6 1 16,7 - - - - 1 12,5
3, 4 e 6 - - - - - - - -
TOTAL 6 100 1 100 1 100 8 100
* Um funcionário teve um rebaixamento de 15 dB na frequência de 3KHz e de 5dB na frequência de 6KHz.
Seis funcionários não apresentaram rebaixamento nestas frequências da PAIR e os outros dois não
apresentaram rebaixamento em nenhuma frequência no novo exame realizado.

Discussão dos resultados

Na tabela 1, observa-se que a maioria dos funcionários (46,7%) advinda do setor de


“revisão” (setor com ausência de ruído) sendo estes, posteriormente, transferidos para o
setor de “tecelagem”, que é um dos setores de maior ruído. Seria, portanto necessária a
realização de uma nova audiometria com estes trabalhadores, antes da mudança efetiva de
setor, conforme relata (SANTOS, apud BERNARDI 2003).
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

De acordo com a tabela 2, percebe-se que grande parte do percentual dos funcionários
(93,3%) trabalha em um período de 5 a 8 horas diárias, estando assim, dentro dos padrões
permitidos de exposição ao ruído, o que está em consonância com Matos e Santos (1997).
Diante da tabela 3, constata-se que houve unanimidade quanto ao uso do protetor
auricular durante toda a jornada de trabalho. Fator este importante para garantir a eficácia da
proteção, segundo afirma (SALIBA, 2001).
Segundo a tabela 4, dos funcionários que apresentaram queixas auditivas, as de maior
incidência são cefaléia (29,2%) e irritabilidade (8,3%), sendo classificados por Okamoto e
Santos (1997) como queixas extra auditivas. Constatou-se ainda uma relevante incidência
(8,3%) de diminuição da audição.
26 Na tabela 5, observa-se que 60% dos indivíduos entrevistados apresentam um déficit
auditivo em um, ou ambos os ouvidos, embora todos façam uso do EPI, conforme a tabela 3,
e estejam dentro do limite de tolerância citado por (SALIBA, 2001).
Verifica-se na tabela 6, que sete funcionários apresentam diminuição auditiva nas
frequências entre 3 e 6 KHz, na orelha esquerda, estando condizente com a afirmação de
Saliba (2001) na qual o mesmo, descreve que as primeiras frequências auditivas atingidas
são as mais altas (3, 4 e 6 KHz).
De acordo com a tabela 7, 37,5% dos funcionários possuem um rebaixamento de 5
ou 10 dB na frequência de 6 KHz e 25% apresentam rebaixamento de 5 ou 15 dB apenas na
frequência de 3 KHz e 25% possuem rebaixamento de 5 dB na frequência de 3 e 6 KHz,
embora todos façam uso de EPI (constatado na tabela 3). Tais índices de rebaixamento
auditivos são condizentes com a afirmação de (SALIBA, 2001).

Considerações finais

Diante de todas as informações apresentadas, observou-se que há a necessidade da


realização de uma nova audiometria em trabalhadores que são submetidos à mudança de
setor dentro de uma indústria, como na FIBRASA. Por exemplo, o uso do equipamento de
proteção individual durante uma jornada de trabalho de 8 horas diárias não é totalmente
eficaz na prevenção de rebaixamentos auditivos ou de possíveis perdas auditivas induzidas
por ruído (PAIR). Portanto, o que justifica tal afirmativa é o fato de 60% dos funcionários
avaliados possuírem déficits de audição; em pelo menos uma das orelhas.
Um percentual considerável dos trabalhadores transferidos para o setor mais ruidoso
da FIBRASA (tecelagem), teve como setor de origem a revisão, setor este, que não possui
ruído algum. Portanto, seria de extrema importância, a realização de uma nova audiometria
nesses funcionários, para que se pudesse averiguar com precisão, se os mesmos estavam
aptos a trabalhar em um setor com tão altos níveis de ruído.
Na realização de novas audiometrias na amostra pesquisada, pode-se verificar
rebaixamento dos limiares auditivos, com características de PAIR(por atingir principalmente
as freqüências de 3, 4 e 6 kHz) em cerca de 46,7% dos trabalhadores. Através dos dados
coletados, foi possível constatar também as principais queixas extra-auditivas, tais como
cefaléia e irritabilidade, bem como as queixas auditivas, ambas relacionadas à exposição ao
ruído.
Esta pesquisa possibilitou perceber a importância do profissional fonoaudiólogo na
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

participação da equipe multidisciplinar da referida indústria, uma vez que o mesmo realiza
exames audiométricos periódicos que compõem um conjunto de ações preventivas em favor
da saúde audiológica e qualidade de vida dos funcionários.

Referências

BERNARDI, Alice P. A. Audiologia ocupacional. São Paulo: Pulso, 2003.

CARVALLO, Renata M. M. LICHIIG, Ida. Audição: Abordagens atuais. São Paulo: Pró-
Fono, 1997.
COSTA, Everaldo A.; et al. Perda Auditiva Induzida pelo Ruído. Rio de Janeiro: Revinter, 27
2001, v. 2..

MATOS, Marcos P.; et al. A. Ruído, riscos e prevenção. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1999.

SALIBA, Tuffi M. Manual prático de avaliação e controle do ruído. 2. ed. São Paulo:
LTR, 2001.

Recebido: 22.03.2005
Avaliado: 10.09.2007

Contato com o autor:


email: leninha_yana@hotmail.com

Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.


28 PROCEDIMENTOS PEDIÁTRICOS FRENTE À HIPÓTESE
DIAGNÓSTICA DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Adriana Ferreira Potiguara/UNIPÊ


Cassandra Ribeiro Dantas/UNIPÊ
Lyana Maria Fernandes Soares/UNIPÊ
Manuella de Macedo Costa/UNIPÊ

RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi identificar e investigar os procedimentos clínicos adotados


pelos médicos pediatras da cidade de João Pessoa, diante de sintomas auditivos e por
conseguinte, aponta os procedimentos mais utilizados por estes especialistas. Foi utilizada em
entrevista semi-estruturada com 10% dos pediatras atuantes na capital. Para se obter os
resultados, os pediatras investigam a audição dos pacientes entre 0 e 6 meses, e depois
encaminharam para os especialistas quando a mãe queixa-se da audição do seu filho, criança
considerada de alto risco para audição e suspeitas durante a avaliação de rotina. Constatou-
se que esse encaminhamento refere-se, na maioria dos casos, ao profissional
otorrinolaringologista (43,5%), estando o encaminhamento ao fonoaudiólogo em segundo
lugar, porém com uma porcentagem de 33,5%.
Palavras-chave: Audição, pacientes, pediatras.

PEDIATRIC PROCEDURES BEFORE THE DIAGNOSTICAL


HYPOTHESIS OF HEARING HANDICAP

ABSTRACT

This research aimed at identifying and investigataing the clinical procedures adopted
by the pediatric physicians in the city of João Pessoa before hearing symptoms and as a result,
to show the procedures mosly used by these experts. A semi-structured intérview was
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

accomplished with 10% percent of the activist pediatricians of the city. In order to obtain the
result of zero to six-month-old babies, the pedriatricians assessed the patients´ hearing ability
and then they sent these assessments to experts when the mothers complained about their
babies´ audition, particularly when the child was considered at high risk in terms of hearing
during assessment routine. It was observed that such an assessement was firstly carried out
by 43% of the otorhinolaryngologist and then 33,5% of the phonoaudiologist.
Key-words: Hearing, patients, pediatricians
Introdução 29

A audição desempenha um papel tão fundamental para a educação normal e o


desenvolvimento global da criança, que sua falta pode ser devastadora. Ela é necessária para
a aquisição da linguagem e da fala, para o reconhecimento dos sons, para a identificação dos
objetos e eventos, e para a interiorização de conceitos.
Sendo o pediatra um dos primeiros profissionais a entrarem em contato com o neonato,
é importante que o mesmo esteja ciente sobre o desenvolvimento da função auditiva e linguagem
da criança. E, suspeitando de qualquer irregularidade no desenvolvimento dessas funções,
encaminhe a criança para avaliação audiológica, pois a identificação e confirmação precoce
da perda auditiva irão promover um melhor desenvolvimento da linguagem.
Devido à importância do pediatra e sua colaboração na intervenção precoce em
crianças com possíveis alterações auditivas, surgiu o interesse em realizar uma pesquisa sobre
os procedimentos utilizados por estes especialistas diante destas alterações. O objetivo geral
é investigar os procedimentos clínicos adotados pelos médicos pediatras da cidade de João
Pessoa diante da hipótese diagnóstica da Deficiência Auditiva. Os objetivos específicos são
identificar os procedimentos pediátricos adotados diante de sintomas auditivos e apontar
quais os procedimentos mais utilizados por estes médicos frente à hipótese diagnóstica de
deficiência auditiva.

Desenvolvimento do sistema auditivo

Segundo Northern e Downs (1989), a compreensão do desenvolvimento embriológico


do ouvido ajuda o médico em seu diagnóstico e o audiologista em seu plano de identificação
e tratamento precoces da perda auditiva. Portanto, quando se tem conhecimento do esquema
de desenvolvimento pré-natal, tornam-se mais fáceis a suspeita de surdez, seu diagnóstico e
tratamento. As principais transformações no desenvolvimento do ouvido ocorrem no útero
da mãe, primeiramente como embrião e posteriormente como feto, entretanto o
desenvolvimento da estrutura auditiva não cessa nem está totalmente completo na hora do
nascimento.

Intervenção precoce da deficiência auditiva


Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

De acordo com Azevedo (1997), a integridade anatomofisiológica tanto na porção


periférica quanto central do Sistema Auditivo compõe um pré-requisito para a aquisição e
desenvolvimento normal da linguagem. O período considerado crítico para o desenvolvimento
das habilidades auditiva e de linguagem são os primeiros anos de vida, pois é durante este
período que ocorre o processo de maturação do sistema auditivo central e a estimulação
neste primeiro ano é decisivo para o desenvolvimento da linguagem.
A avaliação comportamental da audição no primeiro ano de vida pode proporcionar
informações importantes sobre o Sistema Auditivo tornando possível, concomitantemente à
avaliação eletrofisiológica, o diagnóstico precoce dos distúrbios da audição, sendo estes,
tanto de acuidade auditiva quanto de processamento auditivo central. Portanto, o diagnóstico
30 realizado durante o primeiro ano de vida possibilita a intervenção médica e/ou fonoaudiológica,
ainda no período crítico de maturação e plasticidade funcional do Sistema Nervoso Central,
admitindo um prognóstico mais propício relacionado ao desenvolvimento global da criança.
Em relação ao período entre a suspeita da deficiência auditiva pelos familiares e o
diagnóstico audiológico, Azevedo (1997) relata que este ainda permanece muito longo. Apesar
da suspeita da perda auditiva ocorrer durante o primeiro ano de vida, na maioria das vezes o
diagnóstico ocorre apenas entre o segundo e o terceiro ano de vida e a intervenção
fonoaudiológica após o terceiro ano, perdendo-se assim o período crítico de estimulação.
Logo, a implementação de programas de identificação precoce dos distúrbios a audição
através de avaliações subjetivas e acompanhamento audiológico, possibilita a identificação
das alterações auditivas e intervenção fonoaudiológico ainda no primeiro ano de vida.

Avaliação audiológica em crianças

Rabinovich (1997) afirma que a avaliação da audição na criança é um desafio a


audiologia clínica, devido às características próprias de cada criança. Assim sendo, muita das
técnicas empregadas na medida da audição em adultos não se aplicam às crianças,
principalmente àquelas com atraso no desenvolvimento da linguagem e de fala.
De acordo com Russo e Santos (1994), é importante lembrar que cada criança vive
e age individualmente, ou seja, crianças da mesma idade cronológica não necessariamente
possuem o mesmo nível de desenvolvimento cognitivo, motor e de linguagem. Portanto, a
generalização torna-se perigosa e deve ser evitada no processo de avaliação audiológica.
Uma técnica pode funcionar para determinada criança e não para outra, embora ambas
tenham a mesma idade.

O papel do pediatra diante da deficiência auditiva

Segundo Lichtig (1997), os primeiros profissionais a entrarem em contato com o


recém-nascido são os pediatras e neonatologistas e, através da identificação dos bebês de
alto-risco para a deficiência auditiva, poderão, portanto, auxiliar na detecção precoce da
surdez.
É importante que o pediatra que vem acompanhando a criança durante os primeiros
anos de vida, esteja informado e atento sobre o desenvolvimento de sua função auditiva, bem
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

como a linguagem. Suspeitando de qualquer anormalidade no desenvolvimento dessas duas


funções, o pediatra deverá encaminhar a criança para uma avaliação audiológica, pois a
identificação da perda auditiva na população neonatal e a confirmação da perda auditiva nos
primeiros anos de vida levarão a intervenção precoce, propiciando o desenvolvimento da
linguagem e o encaminhamento médico nos casos de otite média.
Lichtig (1997) relata ainda que os pais em geral suspeitam que seus filhos têm
problemas na audição quando estes se tornam mais visíveis, por volta do 10º mês de vida.
Northern & Downs (1989) referem que os pediatras dão pouca credibilidade aos pais diante
das suspeitas de problemas auditivos e enfatizam que esses especialistas deveriam encaminhar
à avaliação audiológica assim que possível, dando mais crédito às habilidades desses pais em
detectarem desordens auditivas nos seus filhos.
Materiais e métodos 31

Para este estudo foi aplicado um questionário semi-estruturado contendo sete


perguntas a 10% da população dos pediatras atuantes na cidade de João Pessoa - PB,
correspondendo a uma amostra de 21 sujeitos.
O questionário abordava sobre questões, tais como: idade em que o pediatra realiza
a investigação auditiva das crianças; situação na qual encaminha uma criança para avaliação
de audição com especialista; conduta do pediatra quando a mãe apresenta queixa quanto à
audição da criança ou atraso de fala; opinião em relação à idade que a criança deve ser
encaminhada para avaliação auditiva; fatores considerados de risco para audição; bem como
dados biodemográficos.
A aplicação dos questionários foi feita individualmente nos consultórios. Antes de
responder as questões, os participantes assinavam um termo de consentimento livre e
esclarecido, no qual informava sobre o caráter confidencial e sigiloso de suas respostas.
O método utilizado para a análise dos dados é o descritivo; pois, segundo Andrade
(2001) os achados clínicos são observados, registrados, analisados, classificados e
interpretados sem a intervenção do pesquisador.

Resultados

Os resultados expostos correspondem à analise descritiva das variáveis envolvidas


na pesquisa, cujo objetivo final foi investigar os procedimentos adotados pelos médicos
pediatras diante da hipótese diagnóstica de Deficiência Auditiva.
Os dados biodemográficos analisados foram: sexo, idade e tempo de atuação. Em
relação ao “sexo”, os dados revelaram que 90,5% dos pediatras são do sexo feminino e
9,5% do sexo masculino. Quanto ao tempo de atuação em pediatria , 14,2% têm 10 anos;
9,5% têm 14 anos; 9,5% têm 15 anos; 4,7% têm 17 anos; 4,7 têm 19 anos; 19% têm 25
anos; 14,2% têm 26 anos; 4,7% têm 28 anos ; 4,7% têm 30 anos; 4,7% têm 31 anos e 9,5%
não responderam. Portanto, os dados mostram que são profissionais com experiência, já que
todos os especialistas têm mais de 10 anos de experiência.
Inicialmente foi questionado aos pediatras se os mesmos investigam a audição dos
pacientes e, em caso afirmativo, em que período avaliam. 100% das respostas foram
afirmativas e, em relação à idade, a Tabela 1 expõe tais resultados.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Tabela 1 – Número de respostas dos pediatras referente à idade em que realizam a investigação
auditiva das crianças. João Pessoa, PB – 2004.
Idade (meses) n(*) %
0–6 20 74,0
6 – 12 4 14,8
12 – 24 1 3,7
24 – 36 1 3,7
Mais de 36 1 3,7
Total 27 100,0
FONTE: Direta
* Alguns pediatras assinalaram mais de uma alternativa.
32 Conforme é observado na Tabela 1, 74% dos pediatras entrevistados investigam a
audição dos seus pacientes entre 0 e 6 meses de nascido, 14,8% entre 6 e 12 meses e apenas
11,1% para as demais idades.

Tabela 2 – Número de respostas dos pediatras referente à situação da qual encaminham


uma criança para avaliação de audição com especialista. João Pessoa, PB – 2004.

Situação em que encaminha n(*) %


Quando a mãe vem com queixa 15 30,6
Quando a criança é de alto risco para audição 16 32,6
Quando suspeita de alguma alteração durante a
avaliação de rotina 17 34,6
Não respondeu 1 2,0
Total 49 100,0
FONTE: Direta
* Alguns pediatras assinalaram mais de uma alternativa.

A Tabela 2 mostra que 34,6% dos especialistas encaminham quando suspeitam de


alguma alteração durante avaliação de rotina, 32,6% quando a criança é de alto risco para
audição e 30,6% quando a mãe vem com queixa. Conforme já mencionado, vale ressaltar
que a maioria dos profissionais assinalou três alternativas.

Tabela 3 – Número de respostas dos pediatras referente à conduta quando a mãe apresenta
queixa quanto à audição da criança ou atraso de fala. João Pessoa, PB – 2004.

Conduta n(*) %
Realiza algum teste 2 6,5
Encaminha para um fonoaudiólogo 9 30,0
Encaminha para exame audiológico 6 20,0
Encaminha para o otorrinolaringologista 13 43,5
Outros - -
Total 30 100,0
FONTE: Direta
* Alguns pediatras assinalaram mais de uma alternativa.

De acordo com a Tabela 3, 43,5% dos pediatras encaminham seus pacientes ao


otorrinolaringologista”; 33,5% encaminham para o fonoaudiólogo; 16,5% encaminham para
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

exames audiológico e 6,5% realizam algum teste, como por exemplo: a emissão de sons
fortes e o comportamento auditivo da criança. Os exames audiológicos citados foram:
Audiometria tonal, Audiometria de Tronco Encefálico (BERA), Emissões Otoacústicas e
Audiometria comportamental.
Tabela 4 – Número de respostas dos pediatras referente à conduta especial com bebês de 33
“alto risco” pra audição. João Pessoa - PB, 2004.
Conduta especial N %
Sim 20 95,0
Não 1 5,0
Total 21 100,0
FONTE: Direta

Como mostra a Tabela 4, 95% dos pediatras adotam uma conduta especial para as
crianças que apresentam fatores de alto risco para audição.os pediatras adotam uma conduta
especial para as crianças que apresentam fatores de alto risco para audição.

Tabela 5 – Número de respostas dos pediatras referente à idade em que os pediatras adotam
conduta especial com crianças de “alto risco” para audição.
Idade (meses) N %
0–6 19 95
6 – 12 1 5
12 – 24 - -
24 – 36 - -
Mais de 36 - -
Total 20 100,0
FONTE: Direta

Na Tabela 5, observa-se que os 95% dos pediatras que adotam conduta especial
com estas crianças, realizam-se em um período desde o nascimento até os 6 meses de idade.

Discussão

De acordo com os resultados desse estudo pode-se afirmar que a maioria dos pediatras
que participaram da pesquisa, investiga a audição da criança entre 0-6 meses de vida. Estes
achados corroboram com os do Comitê Brasileiro Sobre Perdas Auditivas na Infância
(CBPAI), descritos na resolução 01/99, que afirma que todas as crianças devem ser avaliadas
no nascimento ou no máximo até os três meses de idade.
Em relação à situação em que o especialista encaminha a criança com suspeita de
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

diminuição auditiva, os resultados obtidos coincidem com os de Barros et al (2002).


Constatou-se, então, que 38% (maioria) dos profissionais de uma cidade do interior de São
Paulo encaminham seus pacientes para especialistas na área da audição, nas seguintes situações:
quando suspeitam de alguma alteração durante a avaliação de rotina, quando a criança possui
fatores de alto risco para audição e/ou quando a mãe refere queixa da audição do seu filho.
No tocante à conduta tomada diante da queixa materna em relação à audição da
criança ou atraso de fala da mesma, pode-se afirmar que os dados deste estudo discordam
com os de Northern e Downs (1989), os quais afirmam que os pediatras dão pouca
confiabilidade aos pais diante de suspeitas de alterações auditivas e alegam que esses médicos
deveriam encaminhar à avaliação audiológica assim que possível.
34 Azevedo (1997) revela que crianças consideradas de risco para distúrbios auditivos
devem ser submetidas a uma avaliação no início da vida, como um acompanhamento
audiológico. Esta afirmação concorda com os resultados observados na presente pesquisa.

Considerações Finais

Qualquer grau de privação do sentido da audição na infância poderá acarretar sérios


prejuízos na aquisição da fala e da linguagem, afetando o aprendizado e o desenvolvimento
social e emocional da criança. Portanto, por serem os primeiros profissionais a entrarem em
contato com as crianças, os pediatras possuem papel fundamental na detecção precoce de
alterações auditivas.
Diante da pesquisa realizada, conclui-se que, atualmente os pediatras vêm
demonstrando a preocupação em avaliar a audição dos seus pacientes ainda no primeiro ano
de vida, assim como encaminhar as crianças que chegam ao seu consultório com queixas
auditivas ou atraso de linguagem a profissionais especializados na área, contribuindo assim,
para o diagnóstico precoce da deficiência auditiva. Portanto, a detecção e o tratamento
precoces das perdas auditivas vêm se tornando, nos últimos anos, aspectos de grande
importância da prática pediátrica.

Referências

ANDRADE, Margarida Maria de. Introdução à metodologia do trabalho científico. 5


ed. São Paulo: Atlas, 2001.

AZEVEDO, Marisa Frasson de. Avaliação Audiológica no Primeiro Ano de Vida. In:
LOPES FILHO, Otacílio. Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo: Roca, 1997.

BARROS, Ana Carolina Tasso et al. Conhecimento e conduta de pediatras frente à


deficiência auditiva. Departamento de Fonoaudiologia da Universidade do Oeste Paulista
– UNOESTE. Presidente Pudente-SP, 2002.

CBPAI (Comitê Brasileio sobre Perdas Auditivas na Infância). Recomendação 01/99.


Conselho Federal de Fonoaudiologia, mai/jun, 2000.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

LICHTIG, Ida; CARVALLO, Renata Mota Mamede. Audição: Abordagens Atuais.


Carapicuíba, SP: Pró-fono, 1997.

NORTHERN, Jerry L.; DOWNS, Marion P. Audição em Crianças. São Paulo: Manole,
1989.

RABINOVICH, Kátia. Avaliação da Audição na Criança. In: LOPES FILHO, Otacílio.


Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo: Roca, 1997.
RUSSO, Iêda C. Pacheco; SANTOS, Teresa M. Momensohn dos. Audiologia Infantil. 4 35
ed. São Paulo: Cortez, 1994.

Recebido: 21.11.2007
Avaliado: 14.04.2009

Contato com o autor:


email: adriana_potiguara@hotmail.com

Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.


36 AVALIAÇÃO DO ESTRESSE POSTURAL ATRAVÉS DO
MÉTODO RULA

Camila Carolina B. da Costa Querino/UNIPÊ


Isabelle Caroline V. de Farias/UNIPÊ
Marisete de Lourdes V. C. Sobrinha/UNIPÊ
Juliana da Costa Santos/UNIPÊ

RESUMO

O objetivo deste estudo é avaliar o estresse postural em acadêmicos de Fisioterapia,


do Centro Universitário João Pessoa – UNIPÊ, levando em consideração que os
fisioterapeutas, dentre os profissionais da área de saúde, apresentam uma grande probabilidade
de desenvolver distúrbios posturais. Para realização desta pesquisa, foi feito um levantamento
bibliográfico e entrevistas individuais. Também foi utilizada uma câmera fotográfica para
registrar as posturas comprometedoras realizadas pelos estudantes pesquisados, sendo
analisadas através do método RULA. Mediante os resultados obtidos e analisados, foi possível
evidenciar que os pesquisados adotam posturas comprometedoras, destacando as sentadas,
em pé e transferência, obtendo escore de 7/7, de acordo com RULA. Foram enunciadas
recomendações para uma melhor consciência corporal refletindo uma melhor postura durante
os atendimentos, uma vez que o estresse postural pode desencadear riscos à saúde.
Palavras-chave: Ergonomia, riscos, recomendações.

EVALUATION OF INAPPROPRIATE BODY POSTURES


THROUGH THE RULA METHOD

ABSTRACT

This study aims at evaluating inappropriate postures of students of physiotherapy at


the Centro Universitário João Pessoa – UNIPÊ, considering that the Physiotherapists, amongst
the professionals, are mostly inclined to develop posture disorders. In order to accomplish
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

this research, a bibliographic survey and some individual interviews were necessary. A camera
was also used to record the compromising postures by the students and then they were
analyzed by the RULA method. Based on the results it was possible to show that the
students perform compromising postures, highlighting the seated, standing and transference
postures, scoring 7/7, according to the RULA method. Hence, some recommendations have
been made in order to improve awareness about the body during the treatment, once it may
be a risk to health.
Key-words: Ergonomics, risks, recommendations.
Introdução 37

A postura é definida habitualmente como o arranjo relativo das partes do corpo.


Para tanto, a boa postura é o estado de equilíbrio muscular e esquelético que protege as
estruturas de sustentação do corpo contra as lesões ou as deformidades progressivas,
independentemente da atitude, nas quais essas estruturas estão trabalhando ou repousando.
Na postura precária, há uma relação defeituosa das várias partes do corpo que produzem
uma maior sobrecarga nas estruturas de sustentação, na qual existe um equilíbrio menos
eficiente do corpo sobre sua base de apoio (HALL, 2001).
Como se sabe, o fisioterapeuta possui como principal instrumento de trabalho o
corpo e que, para executar sua atividade, precisa realizar um grande esforço físico em
decorrência, muitas vezes, da incapacidade funcional do paciente.
Assim, o objetivo dessa investigação é avaliar o estresse postural dos acadêmicos de
fisioterapia durante o atendimento da disciplina “Fisioterapia aplicada a geriatria” através do
método de evolução da carga física: RULA.

Referencial teórico sobre estresse postural

Segundo Azzolini (2006), toda atividade requer um esforço tanto físico como psíquico,
com intensidades que variam segundo a pessoa e a tarefa a ser realizada. Em muitas ocasiões,
o ser humano vai muito além de seus limites, principalmente durante a sua atividade laboral,
mas quando os esforços ultrapassam a capacidade, surgem a sobrecarga, a fadiga e o desgaste
pessoal. Diante disto, pode-se dizer que o estresse postural é produzido por um esforço
excessivo, pelas posturas estáticas e pelos movimentos repetitivos.
No que diz respeito à postura, Tribastone (2001) relata que existem três componentes
estruturais da postura, a dizer: postura mecânica, neurofisiológica e psicomotora. O autor
afirma que o principal fator da postura é o tônus muscular, que não é somente a base da
acomodação postural, mas também a expressão das emoções e dos movimentos ou atitudes.
Magee (2002) diz que a o estresse postural pode ser o resultado do efeito acumulativo
de repetidos pequenos estresses anormais durante um curto período de tempo. Esses estresses
crônicos podem resultar nos mesmos problemas que ocorrem quando um intenso estresse
súbito (agudo) é aplicado ao corpo.
De acordo com Kisner e Colby (2005), os movimentos repetitivos amplos também
requerem que os músculos respondam para controlar a atividade. Se a sobrecarga biomecânica
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

exceder as capacidades de suporte dos tecidos, ocorrerá colapso, e assim desenvolvendo


síndromes de uso excessivo com inflamação e dor que afetarão a função sem que haja lesão
aparente.
O esforço tende sempre a perturbar as conexões sinápticas e a destruir o equilíbrio,
obrigando o indivíduo a atuar num equilíbrio mecanicamente mais cansativo, tornando-se
necessário realizar uma avaliação do estresse postural num local de trabalho (TRIBASTONE,
2001). Mas, apesar da rara ocorrência, principalmente devido ao tempo requerido para a
contínua coletas de dados quantitativas posturais, têm sido desenvolvidos vários sistemas de
análise de posturas, entre eles o método RULA, que contribui na avaliação dos diversos
fatores que interagem nas atividades do trabalho e causam estresse (HELFENSTEIN, 2006).
38 Atividade do fisioterapeuta

A fisioterapia é uma atividade regulamentada pelo Decreto-Lei nº 938/69, de 13 de


outubro de 1969. O fisioterapeuta, em suas funções, realiza atividades de sobrecarga em seu
sistema músculo-esquelético, tais como: deambulação e transporte de pacientes dependentes,
técnicas manuais que exigem força muscular, posicionamento inadequado e desconfortável
no atendimento a seus pacientes, movimentos repetitivos, e postura em pé ou sentado por
tempo prolongado. Os fatores pessoais no trabalho também influenciam na postura adotada
pelo fisioterapeuta como trabalhar próximo ou no limite físico já com sinais de fadiga, dar
continuidade às atividades, mesmo com dor na musculatura postural e treinamento inadequado
sobre a prevenção dos distúrbios posturais (PERES, 2002).
São poucas as referências sobre as consequências de má postura e movimentos
antifisiológicos durante a atividade desses profissionais. Molumphy (1985) estudou quase
quatrocentos fisioterapeutas norte-americanos e identificou a incidência de 29% de lombalgia
relacionada à atividade desenvolvida no trabalho, durante as idades de 21 e 30 anos e que
cerca de 18% dos profissionais pesquisados mudaram de área de atuação. Isto foi atribuído
aos fatores de risco relacionados ao tipo de atividade profissional.

Método Rula

De acordo com McAtammey e Corlett (1993), RULA é um método de estudo para


investigar lesões de membros superiores relacionadas com o trabalho, e foi desenvolvido
para ser usado em investigações ergonômicas de postos de trabalho onde existe a possibilidade
de desenvolvimento de lesões por esforços repetitivos em membros superiores. Tem como
princípio enquadrar as posturas de acordo com as angulações entre os membros e o corpo,
obtendo-se escores que definem o nível de ação a ser seguido (MOSER et al, 2006).
Seu desenvolvimento ocorre em três fases: 1) método de gravação da postura de
trabalho, 2) aplicação de um sistema de escore e 3) aplicação de uma escala de níveis de
ação. Cada fase é explicada a seguir, conforme (MCATAMMEY, CORLETT, 1993).

a) Método para gravação da postura de trabalho

O corpo foi dividido em dois grupos, A e B. O grupo A inclui os braços, antebra-


ços, e punhos, enquanto o grupo B inclui o pescoço, tronco e pernas. Cada parte do
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

corpo é dividida em seções e recebe número 1, se o risco de lesão for o menor possível, o
número aumenta com o aumento do risco. Os níveis de postura de ambas as partes do
corpo são avaliados através de escores, a partir da posição do membro observado.

b) Aplicação de um sistema de escore

O escore para uso dos músculos e força foi desenvolvido para incluir no estudo
carregamentos adicionais no corpo causados por trabalho excessivamente estático, movimentos
repetidos, necessidade de força ou carregamentos externos durante o trabalho. Os escores
para uso dos músculos e escores de força são indicados a seguir.
Escore para atividade muscular dos grupos A e B: 39
· 1 se a postura é predominantemente estática por mais de 1 min;
· 1 se a postura se repete por mais de 4 vezes por min.
Escore de força para os grupos A e B:
· 0 se não existe resistência, ou carga inferior a 2 kgf, e intermitente;
· se a carga está entre 2 a 10 kgf e é intermitente;
· 2 se a carga está entre 2 a 10 kgf, e é estática ou repetitiva (4 vezes/min);
· 3 se a carga é superior a 10 kgf, estático ou repetitivo;
· 3 é choque ou força aplicada com rapidez.

c) Aplicação de uma escala de níveis de ação

Para se obter o escore final é necessário a união do resultado dos escores do primeiro
nível com o do segundo nível de cada grupo. Exemplo: Escore A + uso dos músculos e
escore de força para o grupo A = Escore C; Escore B + uso dos músculos e escore de força
para o grupo B = Escore D. Neste passo o escore C e D são transformados no escore final,
que mostra a magnitude das providências a serem tomadas e a prioridade para subsequentes
investigações. O escore final vária de 1 a 7, e para cada escore final há um nível de ação.

CATEGORIAS DE AÇÕES – RULA


ESCORE INDICAÇÕES
1e 2 Postura aceitável, desde que não mantida por longos períodos.
3e 4 Investigações mais profundas são necessárias e mudanças podem ser
requeridas
5e 6 Investigações e mudanças requeridas logo
7 ou mais Investigações e mudanças requeridas imediatamente
Quadro 1: Escores e indicações do método RULA

· 1 ou 2 - Esta postura é considerada aceitável se não for mantida ou repetida por


longos períodos;
· 3 ou 4 – postura de trabalhos que apresentam atividades repetitivas, carregamento
estático ou necessidade de uso de força;
· 5 ou 6 - postura de trabalho com movimentos repetitivos e/ou atividade muscular
estática e necessita do uso de força;
· 7 - postura de trabalho ocorre próxima ou no fim de curso, com movimentos
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

onde a repetitividade e a força são necessárias.

Metodologia

Este estudo pode ser caracterizado como uma pesquisa de caráter descritivo e
exploratório, que segundo Alvão e Monte (2003), o pesquisador procura conhecer e interpretar
a realidade, sem nela interferir para modificá-la. E quanto aos meios, esta pesquisa corresponde
a um estudo de caso.
O universo da pesquisa foi composto por 22 acadêmicos de fisioterapia, que atuam
na Clínica Escola de Fisioterapia do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ; Entretanto,
40 a amostra foi representada por 15 acadêmicos, caracterizando 68,2% do total da população.
Quanto aos instrumentos da pesquisa, foram utilizadas para coleta de dados, uma câmera
fotográfica para capturar posturas adotadas pelos pesquisados, assim como a aplicação de
um questionário, através da técnica de entrevista, com questões objetivas e subjetivas sobre
estresse postural e a atividade realizada.
Previamente a coleta de dados, foi obtida uma autorização, para realização do estudo
através de um termo de consentimento livre e esclarecido, baseado na resolução 196/96.
Essas informações foram coletadas no período de 03/05/06 à 05/05/06, no horário das 9:30
às 12:00h, que corresponde ao horário de atendimento.
Referentes à análise dos dados obtidos, foram coletadas 55 fotos em relação à
biomecânica postural adotada pelos acadêmicos, mas a amostra foi composta por apenas 20
fotografias. Estas fotografias foram avaliadas através do método RULA. Já as informações
obtidas no questionário foram analisadas de forma qualitativa e quantitativa, através de medidas
descritivas simples.

Resultados e discussão

Caracterização de Indivíduos

Os acadêmicos pesquisados (15) correspondem aos alunos do sétimo período de


fisioterapia do Unipê que foram entrevistados durante o atendimento da disciplina fisioterapia
aplicada à geriatria, que é realizado duas vezes por semana, das 9:30 as 12:00 horas. Estes
alunos são divididos em duplas que atendem em média 2 a 3 pacientes, com um tempo
variando entre 30 min e 1h e 20 min para cada paciente dependendo da patologia apresentada.
Verificou-se que a população dos acadêmicos entrevistados de fisioterapia, era
composta por 14 mulheres e 1 homem, com a faixa etária entre 20 e 42 anos de idade.

Avaliação do estresse postural

As amostras selecionadas foram divididas em 4 grupos de postura: sentada, em pé,


ajoelhada, e transferência. Na figura 1, foi observado que a postura mais utilizada pelos
acadêmicos foi à sentada com a média de 55%.
55%
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

60%

50%
Frequência média

40% Sentada
25%
Em pé
30%
Ajoelhada
10% 10%
20% Transferência

10%

0%
1 Fonte: Dados da pesquisa

Figura 1: Posturas dos acadêmicos de fisioterapia


Dul e Weerdmeester (2000) citam que, embora a posição sentada seja melhor que a 41
em pé, deve-se evitar longos períodos sentados e que a posição sentada muitas vezes exige
um acompanhamento visual. A maioria dos alunos realizam tais posturas por tempos
prolongados e repetitivos tanto no trabalho como nas atividades de vida diária, com isso, não
percebem que passam tempo demais em uma mesma posição e que precisam intercalar as
atividades.
Como mostra a figura 2, na posição sentada, segundo o método RULA, o escore
mais frequente foi de 7/7. Foi comprovado que as posturas adquiridas eram de alto risco
para se obter um estresse postural. Também foram analisados nesta postura as tarefas realizadas
de forma mais inadequada pelos acadêmicos de fisioterapia, sendo elas: as orientações aos
pacientes, as atividades terapêuticas manuais que exigem força muscular, a atualização do
prontuário.

60% 54,5%

50%
Escore 0/1
Frequência média

40% Escore1/2
Escore 6/6
30%
Escore6/7
20% Escore7/6
9,1% 9,1% 9,1% 9,1% 9,1% Escore 7/7
10%

0%
1
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 2: Escore referente à postura sentada

A postura sentada gera várias alterações nas estruturas músculo-esqueléticas da coluna


lombar. Caso o indivíduo sentado realize posturas incorretas por longo período, as alterações
serão potencializadas. Daí, a pressão intradiscal aumenta para mais de 70%. Este fato pode
predispor o indivíduo a maiores índices de desconfortos gerais, tais como dor, sensação de
peso e formigamento em diferentes partes do corpo e, principalmente, a processos
degenerativos, como a hérnia de disco (COURY, 1994).
Conforme mostra a figura 3, o escore da posição em pé mais frequente foi de 7/7.
Mas, percebeu-se, também, que houve uma predominância dos escores 5/5 e 6/6. Nestes
escores, a postura de trabalho está fora da zona de movimentos. O operador executa
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

movimentos repetitivos e/ou atividade muscular estática e necessita do uso de força. Na


postura em pé, as funções que mais comprometeram a saúde da amostra foram na preparação
do ambiente para o atendimento, utilizando-se técnicas manuais que necessitam força, no
manuseio de recursos terapêuticos e na feição da a pressão arterial.
42

Figura 3- Escore referente à postura em pé

Esta postura é altamente fatigante, pois exige grande trabalho estático da musculatura
envolvida. A posição em pé provoca fadiga nas costas e pernas. Um estresse adicional pode
aparecer quando a cabeça e o tronco ficam inclinados, provocando dores no pescoço e nas
costas (DUL e WEERDMEESTER, 2000).
De acordo com a figura 4, os escores foram 6/6 e 6/7. Pode-se ainda constatar que
o escore de 6/7 ressalta uma predominância da sobrecarga em um dos lados do corpo,
sendo maior no lado esquerdo. Mas, para ambos os escores, devem ser realizadas orientações
quanto às posturas adequadas e evitar movimentos repetitivos. Nas tarefas aplicadas pelos
acadêmicos na postura ajoelhada, verificou-se uma sobrecarga na coluna. Elas foram realizadas
no tatame alto como: a aplicação de técnicas manuais que exigem força muscular.

Figura 4- Escore referente a postura ajoelhada


Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

O joelho é muito propenso a lesões devido a sua mobilidade e a variedade de tensões


à qual é submetido.
Pode-se constatar na figura 5, que o escore foi de 7/7. Neste, a postura de trabalho
ocorre próxima ou no fim de curso, com uso de movimentos repetitivos e de força.
43

Figura 5: Escore referente à transferência

O processo de transferência de pacientes é um dos movimentos que mais impõem


cargas na coluna vertebral, assim aumentando acentuadamente a pressão intra discal e exigindo
esforço muscular excessivo. Portanto, essa postura diária prolongada pode ser um fator
incriminante na dor lombar.
De acordo com os dados obtidos pelo questionário, 80% da amostra sente dores na
coluna, principalmente na região lombar, com uma intensidade variando entre leve a moderada.
Constatou-se também que a dor era desencadeada principalmente pelos movimentos de
flexão de tronco, transferências de paciente, suporte de peso e agachamentos. E todos os
entrevistado relataram que, após o atendimento, o cansaço muscular era de uma escala de
regular a péssimo.
Estes dados corroboram com o que foi apresentado por Helfenstein e Feldman (2006),
no qual afirma-se que a flexão do tronco e as inclinações laterais ou rotações da coluna
aumentam o estresse mecânico na musculatura para-vertebral e nos discos intervertebrais; a
flexão prolongada pode ocasionar níveis importantes de fadiga como também as posturas
12 0%
estáticas e demorada do tronco,100%como a inclinação anterior prolongada pode ocasionar o
10 0%
F requ ên cia m é di

risco de dor lombar.


8 0%
Os 20% restantes relataram que não sentem dores na coluna durante ou após o
atendimento,6 0%mas não justificam que estaEparte
sc o re 7 /71 0 0%
da população não tenha ou venha apresentar
4 0%
doenças relacionadas a postura, pois o limiar de dor para cada individuo é pessoal.
2 0%

0%
1
Considerações finais Dados: Fontes da pesquisa

Neste trabalho o registro comportamental das posturas assumidas permite avaliar a


Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

sobrecarga imposta sobre os tecidos osteomioarticulares, através de movimentos e posturas


assumidas durante o atendimento, que vão impor riscos à saúde, sendo comprovado pelo
método Rula.
Um dos fatores que leva a adoção de posturas inadequadas, está contido no seu
posto de trabalho que não está ergonomicamente correto para realização das atividades. Um
outro fator seria a não preocupação do terapeuta quanto aos cuidados necessários para
realização de suas tarefas.
A necessidade de realizar este estudo partiu da observação das más posturas adotadas
pelos fisioterapeutas durante as atividades de atendimento na clínica escola. Dessa maneira,
visou-se estimulá-los à responsabilidade de adquirir uma consciência postural, e assim se
prevenindo contra patologias.
44 Referências

A mecânica da nossa coluna vertebral. Disponível em: http: www.drgilberto.com/rpg.html.


Acesso em: 22/05/2006.

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Florianópolis, UFSC, 2002.

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Acesso em: 22/05/2006.

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postural. São Paulo: Manole, 2001.

Recebido: 30.04.2007
Avaliado: 14.03.2009

Contato com o autor:


email: jullycs.fisio@gmail.com

Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.


46 CONDIÇÕES ERGONÔMICAS EM CLÍNICAS CIRÚRGICO-
ODONTOLÓGICAS

Andréa Carla B. da Costa Santos/UNIPÊ


Celso Luiz Pereira Rodrigues/UFPB

RESUMO

O objetivo deste trabalho é fazer uma análise ergonômica das condições de trabalho
do cirurgião dentista, no setor de endodontia, na Universidade Federal da Paraíba, visando
verificar os problemas deste posto que possam causar danos ao trabalhador. Foi identificada,
como problema principal, a disposição dos equipamentos, somada à inadequação da bandeja,
o que levava o profissional a adotar posturas inadequadas com sobrecarga na coluna vertebral.
Juntamente a estes fatores, as condições termoambientais insuficientes dificultavam o
desenvolvimento das atividades destes profissionais. Desse modo, cogita-se a necessidade
de tentar melhorar as condições de trabalho através de mudanças no layout, nas condições
ambientais e no processo de atendimento.
Palavras-chave: Ergonomia, segurança no trabalho, endodontia.

ERGONOMIC CONDITIONS OF SURGICAL DENTAL CLINICS

ABSTRACT

This work aims at analyzing the ergonomic conditions of the working place of a surgeon
dentist, working with endodentistry, at Universidade Federal da Paraíba so as to pinpoint the
problems that may cause demage to workers. The arrangement of equipment was identified
as a main problem added to the inadequacy of trays, which used to lead the professional to
inappropriate body posture, thus, stressing the spinal column. Moreover, inappropriate thermo-
environmental conditions hindered the development of activities. Hence, the improvement of
the working conditions through layout changes, is being observed in the environmental
conditions and in the working process.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Key-words: Ergonomy, workplace safety, endodentistry.


Introdução 47

A ergonomia é um campo de aplicação interdisciplinar da ciência que tenta solucionar


problemas no relacionamento do homem e o trabalho, equipamento e/ou ambiente, utilizando
conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia, garantindo a segurança, satisfação e o
bem-estar do trabalhador, podendo, com isto, melhorar a sua eficiência no trabalho (IIDA,
1995).
A análise do trabalho proposta pela ergonomia contribuirá para trazer uma descrição
da atividade de trabalho, uma visão sobre a situação de trabalho, que põe em relação a
atividade, a produção e a saúde (GUÉRIN, 2001).
O enfoque ergonômico tende a desenvolver postos de trabalho que reduzam as
exigências biomecânicas, procurando colocar o trabalhador em uma boa postura, fazer com
que os objetos se situem dentro dos alcances dos movimentos corporais e que haja facilidade
na percepção de informações (IIDA, 1995).
É necessário que, antes de projetar ou realizar melhorias num posto de trabalho, seja
feita uma análise detalhada da tarefa e do ambiente de trabalho para que certos parâmetros
do sistema sejam definidos, sem que torne difícil ou oneroso introduzir modificações corretivas.
Dentre as diversas especializações do Cirurgião Dentista está a Endodontia, a qual
lida com o tratamento de canais dentários. Tal atividade pode ser considerada como de alto
risco devido aos instrumentos odontológicos entrarem em contato direto com a corrente
sangüínea durante o tratamento. Além de aumentar o risco de contaminação do profissional,
também existe a adoção de posturas inadequadas, principalmente a flexão anterior e rotação
de tronco, que impõem sobrecarga ao sistema músculo esquelético podendo ser causa de
várias patologias. Portanto, cabe ao profissional conhecer tais riscos e desta forma proteger-
se desses riscos a fim de melhorar sua eficiência e produtividade.
Neste estudo, faz-se uma análise ergonômica do posto de trabalho de cirurgiões
dentistas, na Clínica de Endodontia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal
da Paraíba. Ali, os profissionais atendem em um único ambiente de trabalho, ressaltando que
a inadequação de cada posto poderá influenciar na eficiência do atendimento da organização
como um todo.
Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo ergonômico
da disposição do posto de trabalho do cirurgião dentista para verificar os principais problemas
que influenciam a realização de suas atividades.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Caracterização da seção

Como já foi mencionado, a unidade odontológica escolhida para a realização da a


análise ergonômica foi a Clínica de Endodontia do Centro de Ciências da Saúde da
Universidade Federal da Paraíba. Essa clínica tem como serviço principal o tratamento
endodôntico de pacientes maiores de 12 anos, que ocorre atendendo através de marcação
de consultas prévias.
O atendimento é realizado por 12 alunos formados em odontologia que ficam sob a
orientação de quatro professores com pós-graduação na área. A realização ocorre apenas
aos sábados, das 08:00 às 12:00 e das 14:00 às 18:00 horas. A média de atendimentos por
turno é de 12 pacientes, isto é um paciente para cada aluno.
48 A sala aonde as atividades são desenvolvidas é composta por 16 equipos
odontológicos da marca Dabi Atlante. Cada equipo odontológico consta dos seguintes
equipamentos:
· Uma cadeira para o paciente, cujo encosto e altura da cadeira podem ser
controlados por meio de dispositivos elétricos. Embaixo do assento encontra-se um dispositivo
para ativar os aparelhos de alta e baixa rotação. O estofamento do encosto e do assento é
liso e na cor azul claro;
· Uma bandeja móvel para colocação dos materiais e instrumentais, com três
articulações fazendo-a ficar acima do paciente, e, que os materiais e instrumentais fiquem
mais próximo do aluno. Também conta com encaixes para os instrumentos de alta e baixa
rotação, e para a seringa tríplice (dispositivo de ar/água);
· Um aparelho de iluminação com duas articulações e braço móvel. Cada
articulação trabalha com duas lâmpadas de 40w A iluminação é direcionada apenas ao campo
de trabalho, que representa a boca do paciente;
· Uma unidade auxiliar, formada por uma cuspideira e um encaixe para o sugador
de fluidos, com dispositivos manuais para ligar e desligar;
· Um mocho com encosto para o aluno, cujo estofamento é de um material liso e
na cor azul.
Esses equipos estão dispostos em dois grupos, cada um com oito componentes, ao
redor de bancadas em cimento, como ilustra a figura 1.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Figura 1. Disposição dos equipos odontológicos


Fonte: Pesquisa de campo
Descrição da tarefa 49

O tratamento endodôntico geralmente envolve algumas etapas que se estendem desde


o diagnóstico, até o fechamento permanente do elemento dentário.
Na primeira etapa, é feito um diagnóstico, através de raios X, para comprovar a
necessidade de realização do canal dentário;
Na segunda etapa, ocorre o acesso, o qual consiste na abertura do dente utilizando o
aparelho de alta rotação, broca, para ter acesso ao canal dentário;
Na terceira etapa, que é o Isolamento do campo, promove-se um isolamento absoluto
do campo operatório fazendo uso do arco de Yang, de um lençol de borracha e um grampo
que é fixado ao dente, para evitar contaminação bacteriana do canal e prevenir que o paciente
engula algum material que esteja sendo utilizado durante o tratamento;
Na quarta etapa, Odontometria, toma-se conhecimento do tamanho das raízes do
elemento dentário, através da utilização de uma lima. Nesta etapa também é feito um raio X
com a mesma finalidade;
Na quinta etapa, Instrumentação, prepara-se o conduto. Nesta fase é removido o
tecido pulpar de dentro dos condutos e feito uma irrigação de hipoclorito de sódio a 1%;
Na sexta etapa, a Conometria, colocam-se cones na raiz principal do dente, sendo
realizado um raio X para verificar se os cones que foram colocados estão na altura correta.
Esses cones são introduzidos na raiz dentária com base na odontometria;
Na sétima etapa, a Obturação, veda-se o dente de forma hermética, sem nenhum
espaço, utilizando uma forma de cimento – cianoprex. Após a vedação é realizado o quarto
raio X, para verificar se está tudo correto.
Na oitava etapa, a Restauração, é feito o fechamento final do elemento dentário
através do uso de amalgama ou de resina fotopolimerizada.
Para a conclusão do canal são necessários, em média, duas a três sessões de
tratamento. Cada sessão pode durar mais de duas horas, dependendo do grau de dificuldade
do dente. Desta forma, o profissional pode precisar escutar o máximo possível o tempo de
duração da sessão para o bem estar do paciente como do próprio profissional.
O profissional cirurgião dentista, durante as sessões de tratamento, permanece com
o corpo quase estático, com atenção fixa na boca do paciente e nos instrumentos que serão
utilizados para a execução das atividades.
Mesmo passando a maior parte do tempo sentado sobre o mocho, com as pernas
apoiadas no solo, durante a realização do canal, o profissional necessita de adotar algumas
posturas, tais como flexão anterior e rotação do tronco, membros superiores em posições de
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

contração isométricas ao utilizar a broca, seringa, lima e outros utensílios que exijam movimentos
finos e precisos. Portanto, ressaltando assim, o profissional que está exposto a sobrecarga
física pode ser levado ao estresse e a problemas posturais, além da diminuição de sua
produtividade.

Metodologia

A avaliação ergonômica do posto de trabalho do cirurgião dentista foi realizada


juntamente com a identificação dos principais problemas que afetam a saúde e segurança dos
50 profissionais. O processo de trabalho foi feito através de observações diretas, registros
fotográficos e entrevistas informais aos profissionais.
Fazendo uso da observação direta, pode-se compreender o desenvolvimento das
atividades do profissional em cada fase do tratamento e verificar as dificuldades durante o
processo, constatadas pelas entrevistas informais. Os registros fotográficos serviram como
recursos visuais para ilustrar o arranjo físico do posto de trabalho.
Após a identificação dos problemas de layout, foi feita uma análise qualitativa dos
mesmos, com base na literatura e queixas dos profissionais.

Análise do posto de trabalho

A análise do posto de trabalho do cirurgião dentista evidenciou alguns problemas


decorrentes do layout, pela disposição inadequada dos equipamentos que associadas às más
condições térmicas e adoções de posturas inadequadas prejudicam a realização das atividades.
A seguir, serão descritos esses problemas e suas influências no processo de trabalho.
Os profissionais encontram-se dispostos em uma bancada auxiliara. Contudo,
precisam de deslocamento tanto para recolher o material da sala de esterilização, realizar
tomadas radiográficas ou para revelar os filmes, e recolher outros materiais e as substâncias
necessárias de uso comum para o tratamento. A disposição dos equipos favorece a ocorrência
de acidentes e durante esse trajeto, o profissional, corre o risco de bater em outro profissional
que pode estar realizando uma atividade minuciosa e causar um acidente. Assim esse espaço
reduzido para a circulação, além, de precipitar um acidente pode causar demora no processo
do tratamento, como ilustra a figura 2.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Figura 2. Área de circulação dos profissionais.


Fonte: Pesquisa de campo
O tamanho da bandeja para a quantidade de material necessário para o tratamento é 51
insuficiente, predispondo a ocorrência de acidentes; como queda de materiais e instrumental,
contaminação por contato com agentes biológicos, cortes entre outros. A ocorrência de
acidentes acertava-se devido bandeja situar-se por cima do paciente, e ter que ser movida
para o mesmo sair da cadeira, o qual precisa se deslocar várias vezes para realizar exames
radiográficos.
A disposição inadequada do equipo limita os movimentos dos profissionais que têm
de fazer rotações e flexão de troco e pescoço favorecendo o aparecimento de dores na
coluna que podem ser intensificadas pelo tempo prolongado da sessão de tratamento. Além
das dores na coluna, foi relatado, pelos profissionais, dores nos membros superiores devido
a alguns movimentos realizados de forma estática e repetitiva, necessários para o
desenvolvimento do tratamento. As condições térmicas do ambiente, também constituíram
uma das queixas frequentes dos profissionais, os quais muitas das vezes não utilizavam os
equipamentos de proteção individual, como máscaras, óculos, gorros devido ao calor.
A partir de visitas realizadas na Clínica de Endodontia, realizou-se um levantamento
dos riscos a que os profissionais estão expostos, e verificou-se que as condições gerais de
trabalho daquele ambiente apresentam características de não conformidade que comprometem
a eficiência dos serviços prestados e a saúde e segurança dos mesmos.
Os principais riscos encontrados, corroborando, com os achados de Sousa (2002),
foram:
1. Biológicos – caracterizaram-se pelo contato constante com microorganismos
presentes na saliva e no sangue. A contaminação do profissional pode ocorrer através da
inalação dos aerossóis exalados durante o procedimento, do contato direto com material
contaminado proveniente da pele e mucosas ou por meio de acidentes com material pérfuro-
cortantes;
2. Físicos – presença de temperaturas desconfortáveis pela falta de um ambiente
climatizado; ruído provocado pelos equipamentos e pelas pessoas, alunos e pacientes que
circulam no mesmo ambiente de tratamento, levando a desconcentração do profissional e
quebra do ritmo de trabalho; exposição do profissional a radiação proveniente dos raios X
devido a falta de dispositivo de proteção efetiva para a realização dos exames radiográficos;
3. Químicos - representados pelas substâncias germicidas que são utilizadas durante
o tratamento e podem levar a irritação da mucosa nasal e ocular. Existe ainda o risco decorrente
do manuseio da amalgama utilizada na etapa de restauração;
4. Mecânicos – pode ocorrer cortes pelo uso de material pérfuro-cortantes; colisão
pelo espaço reduzido da sala de tratamento e disposição dos equipos;
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

5. Ergonômicos - adoção de posturas inadequadas como flexão anterior e rotação


do tronco para a execução das atividades. Esta situação pode ser agravada pela má disposição
dos equipamentos, sendo necessário algumas vezes, o profissional se deslocar para fazer uso
de materiais ou equipamentos que estejam fora da sua área de alcance. Os movimentos de
preensão fina, necessários na utilização dos materiais tais como pinças, lima, cones, juntamente
com posturas isométricas dos membros superiores, na utilização equipamentos, como o
instrumento de alta rotação, bastante utilizados no desenrolar da atividade, podem agravar a
sobrecarga imposta a esses profissionais.
Avaliando os fatores encontrados no posto de trabalho do cirurgião-dentista pode-
se identificar que esses fatores não prejudicam apenas a saúde e segurança desses profissionais,
mas que supõe-se que pode levar a uma queda na produtividade e na qualidade do atendimento.
52 Discussão

Após a análise do posto de trabalho, pode-se observar que os principais problemas


que afetam a saúde e segurança dos profissionais estavam relacionados com a disposição
inadequada dos equipamentos em especial a proximidade dos equipos, predispondo a
acidentes de trabalho gerados por riscos mecânicos, e a não adequação da bandeja para
este tipo de tratamento, podendo levar a acidentes tanto do profissional quanto do paciente.
Esses problemas podem ser agravados pelo tipo de tratamento, que exige do
profissional uma alta carga de trabalho impondo posturas inadequadas, mesmo na posição
sentada; tensão excessiva devido a especificidade da atividade, na qual são desempenhados
movimentos fino de alta precisão, e ritmo intenso da atividade onde o profissional se movimenta
bastante para a aquisição dos materiais e realização dos exames radiográficos.
Apesar do profissional trabalhar em sua maior parte na posição sentada, poder-se-ia
pensar que não haveria uma sobrecarga grande sobre a coluna vertebral. Entretanto, do
ponto de vista biomecânico, a postura sentada representa grandes agressões à coluna. A
carga no terceiro disco intervertebral lombar aumenta em torno de 145% na posição sentada
com o tronco ereto, sendo que se o tronco estiver com leve flexão essa carga sobe para,
aproximadamente 190% (BARBOSA, 2002). Isso nos faz perceber que as posturas adotadas
durante as atividades do cirurgião dentista levam a uma sobrecarga da coluna precipitando o
aparecimento de processos dolorosos
Além desses problemas, estão presentes também aqueles referentes às condições
térmicas inadequadas, onde, no local estudado, a ventilação natural não era suficiente para
deixar o ambiente agradável. Essa sensação térmica desagradável fez com que os profissionais
não utilizassem os equipamentos de proteção individual favorecendo a ocorrência de acidentes,
além de tornar a prestação de serviços menos eficiente.
A partir desta constatação deve-se tentar melhorar as condições de trabalho e/ou de
segurança, através de mudanças no layout, nas condições ambientais e no processo de
atendimento.

Referências

BARBOSA L G. Fisioterapia Preventiva nos Distúrbios Osteomusculares Relacionados


ao Trabalho – DORTs. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

GUÉRIN F. et al. Compreender o Trabalho para Transformá-lo. São Paulo: ABDR, 2001.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

IIDA I. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blücher, 1995.

SOUSA, C.L.S. et al. Estudo ergonômico do posto de trabalho do cirurgião dentista:


avaliação de um grupo de clínicas populares no Rio de Janeiro. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE ERGONOMIA, 12, 2002, Recife. Anais...Pernambuco, 2002. 1 CD-
ROM.

Recebido: 09.05.2007
Avaliado: 03.02.2009
Contato com o autor
email: celsorodr@bol.com.br
BENEFÍCIOS DO TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO NO 53
PÓS-OPERATÓRIO DA REVASCULARIZAÇÃO DO
MIOCÁRDIO

Marcos Valério Rocha de Oliveira/UES-CG/PB


Ana Cristina da Nóbrega Marinho Torres/UES-CG/PB
Bertram Gonçalves Coutinho/UES-CG/PB

RESUMO

Este artigo tem como objetivo abordar a importância da fisioterapia no tratamento de


pacientes submetidos à cirurgia cardíaca de revascularização do miocárdio. Para tanto, foram
utilizados livros, artigos, monografias e teses. Os resultados mostraram que a reabilitação
cardíaca apresenta objetivos profiláticos e terapêuticos, visando reduzir o impacto físico e
psicossocial das condições incapacitantes e limitantes que acomete o indivíduo, objetivando,
assim restaurar e aumentar a sua capacidade funcional. Conclui-se que a Fisioterapia atua,
reduzindo os efeitos deletérios decorrentes do evento cardíaco, prevenindo um subsequente
reinfarto, reduzindo custos com a saúde e, acima de tudo, melhorando a qualidade de vida
destes pacientes.
Palavras-chave: Infarto agudo, cirurgia, pacientes.

BENEFITS OF PHYSIOTHERAPY IN THE POSTOPERATIVE


MYOCARDIAL REVASCULARIZATION

ABSTRACT

This article aims at approaching the importance of the physiotherapy in the treatment
of patients submitted to myocardial revascularization surgery. For so much, some books,
articles, monographies end theses were used, serving as theorectical backgrounds. The results
shown that the cardiac rehabil, tation presents prophylactic and therapeutical goals in orderto
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

reduce the physical and psychosocial impact of the disabling and limiting conditions in individuals
and thus to restore and to increase its functional capacity. It is concluded that the Phisiotherapy
reduces the decurrent deleterious effect of the cardiac by eventing, preventsg subsequent
reinfarction, reduces costs with the health and, above all, improves the quality of life of these
patients.
Key-words: Stroke, surgery, patients.
54 Introdução

As doenças cardiovasculares constituem um grave problema de saúde pública no


Brasil. “Em 2000, ocorreram 260.555 mortes decorrentes de causas cardiovasculares, o
que corresponde a mais de 31% do total ocorrido no ano. Entre estas, o Infarto Agudo do
Miocárdio constitui um dos principais fatores etiológicos” (BOAS; PERONDINI et al., 2005).
Conforme estudos realizados pelo Instituto do Coração no ano de 2005, em cinco
capitais do país, a mortalidade hospitalar por Infarto do Miocárdio diminuiu consideravelmente,
situando-se ao redor de 8 a 10%. A redução de tais índices deve-se aos avanços tecnológicos
que têm propiciado meios para a reabilitação cardiovascular através da correção cirúrgica
(INCOR, 2005).
No final dos anos 60, realizou-se a Revascularização do Miocárdio (RM), utilizando
um segmento da veia safena interposta entre aorta ascendente e artéria coronária, cuja técnica
foi publicada em 1969. Em 1964, em Leningrado, foi realizada a primeira revascularização
miocárdica por Koselov, na qual uma ponte de artéria mamária foi implantada para a artéria
coronária descendente anterior (FAVALORO et al, 2002).
Com os avanços em cuidados pré-operatórios, das técnicas cirúrgicas, dos materiais
e métodos de circulação extracorpórea (CEC), dos métodos de proteção miocárdica, da
anestesia e dos cuidados intensivos pós-operatórios, houve diminuição da morbimortalidade
da Revasculação do Miocárdio, o que ocasionou a indicação cirúrgica em grupos de pacientes
cada vez mais complexos. Isso demonstra que a padronização da técnica e a melhora clínica
precoce rapidamente contribuíram para que as intervenções cirúrgicas propiciassem o aumento
da expectativa de vida dos pacientes. Este fenômeno foi observado, tanto nos países
industrializados quanto nos países em desenvolvimento (VERRI, 2000; ALFIERI, 2002).
Contudo, mesmo com a modernização das técnicas, as complicações pós-operatórias
continuaram retardando o processo de recuperação do paciente. Tais alterações surgem
devido à imobilização imposta pelo processo cirúrgico, anestesia, circulação extra-corpórea,
entre outros, levando a uma diminuição da complacência pulmonar, aumento da resistência
das vias aéreas, abolição dos suspiros e diminuição da mobilidade diafragmática - tudo isso
resultando na redução da ventilação e da expansibilidade das áreas mais inferiores dos pulmões
(BUFFOLO; GOMES, 2001).
Tentando minimizar os efeitos do pós-operatório, surge, somente nos últimos anos, a
Fisioterapia Cardiovascular, que passou a ser vista como peça indispensável no atendimento
ao paciente cardiopata, aonde o fisioterapeuta vem agindo nas diversas etapas do tratamento.
A Fisioterapia Cardiovascular ou Reabilitação Cardíaca (RC) pode ser definida como uma
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

soma de intervenções que asseguram a melhora das condições físicas, psicológicas e sociais
daqueles pacientes com doenças cardiovasculares pós-agudas e crônicas, podendo, por
seus próprios esforços, preservar e recuperar suas funções na sociedade e, através de um
comportamento saudável, minimizar ou reverter a progressão da doença (RICARDO;
ARAÚJO, 2006).
Centrado nestes estudos, o presente estudo pretende abordar a importância da
fisioterapia no tratamento de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca de revascularização do
miocárdio, os quais necessitam de acompanhamento fisioterapêutico tanto no pré, quanto no
pós-operatório, visando uma melhor reabilitação do paciente (SONES; SHIREY, 2001).
A Fisioterapia no pós-operatório da revasculação do miocárdio 55

A Reabilitação Cardíaca (RC) pode ser definida como uma soma de intervenções
que asseguram a melhora das condições físicas, psicológicas e sociais daqueles pacientes
com doenças cardiovasculares pós-agudas e crônicas, podendo, por seus próprios esforços,
preservar e recuperar suas funções na sociedade e, através de um comportamento saudável,
minimizar ou reverter a progressão da doença (RICARDO;ARAÚJO, 2006).
Os objetivos da RC são atenuar os efeitos deletérios decorrentes de um evento
cardíaco, prevenir um subsequente reinfarto e rehospitalização, redução de custos com a
saúde, atuar sobre os fatores de risco modificáveis associados às doenças cardiovasculares,
melhorar a qualidade de vida destes pacientes e reduzir as taxas de mortalidade.
A RC é indicada para pacientes que receberam um diagnóstico de infarto agudo do
miocárdio ou foram submetidos à revascularização miocárdica ou transplante cardíaco e,
ainda, para aqueles com angina crônica estável e insuficiência cardíaca crônica (GUIMARÃES,
2004).
Dentre as fases da Reabilitação Cardíaca, a fase I compreende a parte inicial do
programa; sendo, estão, a fase hospitalar aguda. O indivíduo internado que sofreu cirurgia
cardiovascular, inicia a programação de reabilitação física tão logo seu quadro clínico seja
considerado estável, passando por estágios que evoluem de acordo com a sua recuperação,
até a sua alta hospitalar. Esta fase tem como objetivos evitar os efeitos negativos do repouso
prolongado no leito, como os fenômenos tromboembólicos, evitar posturas antálgicas, estimular
o retorno mais breve às atividades físicas cotidianas, manter a capacidade funcional, desenvolver
a confiança do paciente, diminuir o impacto psicológico (como ansiedade e depressão), evitar
complicações pulmonares, maximizar a oportunidade da alta precoce e fornecer as bases de
um programa domiciliar (AZEVEDO, 1999; GONÇALVES et al., 2005).
Alguns autores relatam que a atividade física permanente por meio da fisioterapia tem
grande importância na terapêutica dos pacientes, devendo ser iniciada precocemente, se
possível, ainda na fase hospitalar, dando prosseguimento pós-alta hospitalar, o que propicia
retorno ao estilo de vida anterior melhor qualidade de vida (TANIGUCHI; PINHEIRO,
2000).
Para Umeda (2005), os exercícios aeróbios melhoram a aptidão cardiovascular e
aumentam a autoconfiança quando praticados por um período prolongado, promovendo
adaptações morfológicas e funcionais no que diz respeito ao sistema cardiovascular e ao
sistema muscular.
Atualmente, diversos programas de reabilitação cardíaca vêm sendo desenvolvidos
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

com o propósito de propiciar aos pacientes um retorno mais precoce às atividades diárias e
com melhor qualidade de vida, objetivando a prática regular dos exercícios físicos com
segurança e baixos custos (BOTELHO, 2006).
O mecanismo básico das complicações pulmonares no pós-operatório de cirurgias
cardíacas está relacionado à diminuição insuflação pulmonar decorrente de uma respiração
mais superficial, com diminuição da frequência e da amplitude dos suspiros inspiratórios;
permanência prolongada em um mesmo decúbito; disfunção diafragmática temporária de
magnitude variável; alterações do clearance mucocilliar e a insuficiência do mecanismo da
tosse que leva o paciente a complicações pulmonares mais graves tais como: atelectasias,
pneumonias, derrame pleural, insuficiência respiratória, lesão do nervo frênico e mediastinite
(AMIB, 2002).
56 Nestes casos, a fisioterapia deverá aperfeiçoar a oxigenação, melhorar a ventilação e
diminuir o trabalho respiratório. Tudo isso é associado a uma terapêutica medicamentosa
adequada para que a congestão pulmonar e ansiedade diminuam, proporcionado assim, uma
melhor reabilitação do paciente (BOTELHO, 2006).
A reabilitação cardíaca apresenta objetivos profiláticos e terapêuticos, visando reduzir
o impacto físico e psicossocial das condições incapacitantes e limitantes que acometem o
indivíduo, objetivando, assim restaurar e aumentar a sua capacidade funcional, de modo que
se obtenha considerável melhora na qualidade de vidas e do prognóstico. (BUCHLER et al,
1996).
Moraes et al. (2005), afirma que o tratamento fisioterapêutico na fase hospitalar
baseia-se em procedimentos simples, como exercícios metabólicos de extremidades, para
diminuir o edema e aumentar a circulação; técnicas de tosse efetiva para eliminar obstruções
respiratórias e manter os pulmões limpos; exercícios ativos para manter a amplitude de
movimento e elasticidade mecânica dos músculos envolvidos; treino de marcha em superfície
plana e com degraus, entre outras atividades, uma vez que a mobilização precoce dos pacientes
após cirurgia cardíaca demonstra reduzir os efeitos prejudiciais do repouso prolongado no
leito, aumenta a autoconfiança do paciente e diminui o custo e a permanência hospitalar.
A fisioterapia motora tem grande significado para o desenvolvimento da capacidade
respiratória, procurando evitar atelectasias em áreas pulmonares inferiores e sendo importante
na prevenção de processos vasculares venosos, particularmente tromboembolismo e
tromboflebites entre outros, sobretudo por alterações venosas no membro inferior (AMIB,
2002).
Para Braunwald (1999), a mobilização precoce reduz os efeitos prejudiciais do
repouso no leito e maximiza a velocidade em que as atividades habituais podem ser
reassumidas. Atualmente, novas técnicas terapêuticas permitem que a maioria dos pacientes
tenha alta hospitalar precocemente após infarto e revascularização do miocárdio sem perda
da capacidade funcional.
Foi realizado um estudo no Instituto do Coração (INCOR), onde os pacientes
submetidos a transplante cardíaco, iniciavam no programa de reabilitação até a alta hospitalar.
Após isso, os pacientes foram orientados a realizar caminhada com duração de quarenta a
sessenta minutos, com freqüência de quatro a cinco vezes na semana. Após seis meses esses
pacientes foram submetidos à reavaliação, e assim encaminhados para um programa de
condicionamento regular. Concluíram nesse estudo, que a atividade física regular tem papel
importante na terapêutica dos transplantados, devendo ser iniciada precocemente, se possível,
ainda na fase hospitalar, dando prosseguimento após-alta hospitalar, para que possam retornar
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

a um estilo de vida normal, próximo do que tinham antes da doença, permitindo um convívio
social satisfatório, com retorno a uma vida ativa e produtiva (GONÇALVES, 2006).
Araújo et al. (2004) relatam em seus arquivos que o crescente reconhecimento do
papel benéfico do exercício físico regular leva à maior demanda de programas de exercício
supervisionado nas cidades brasileiras de grande e médio porte. No entanto, deve-se aumentar
a oferta de serviços especializados capazes de proporcionar um atendimento de qualidade
aos pacientes. A prescrição do exercício deve basear-se tanto em dados objetivos de um
teste de esforço máximo limitado a sintomas, como em dados subjetivos relacionados com
estado clínico, resposta ao exercício entre outros.
O trabalho aeróbio não apenas melhora a aptidão cardiovascular como também
aumenta a autoconfiança e a sensação de bem-estar. Mesmo com o alívio dos sintomas, os
pacientes tornam-se inseguros com relação às suas limitações, e temerosos de que reapareçam 57
os sintomas. Efeitos extremamente benéficos do exercício aeróbio, sob esse aspecto,
representam a contribuição isolada mais importante da reabilitação nos pacientes submetidos
à revascularização (BRAUNWALD, 1999).

Recursos Fisioterápicos no pós-operatório

Visando alcançar os objetivos citados acima, as seguintes técnicas fisioterápicas


podem ser aplicadas.

Terapia de higiene brônquica

- Drenagem postural: consiste no alinhamento dos brônquios segmentares com a


gravidade, para que a energia mecânica possa auxiliar as secreções acumuladas em um
segmento pulmonar periférico a moverem-se em direção a um brônquio central, podendo ser
então removidas pela tosse ou aspiração (SCANLAN;MYSLINSKI, 2000).
- Tosse: No pós-operatório de RM, Jimenez (1992) ressalta que a tosse será parte
imprescindível no tratamento, mesmo provocando movimentação do tórax e dor, no intuito
de propiciar a liberação da via de acesso do fluxo aéreo, contando que a secreção já se
encontre em zona tussígena.
- Huffing: consiste em uma expiração forçada com a glote aberta com o objetivo de
auxiliar a eliminação de secreções com menor alteração da pressão pleural e menor
probabilidade de colapso bronquiolar; utilizado assim como uma alternativa em pacientes
que apresentam tosse ineficaz. (REGAN et al, 1994; SCANLAN; MYSLINSKI, 2000).
- Inalação: pode-se associar com medicações que influenciam na depuração mucociliar
pela estimulação da atividade ciliar, broncodilatação ou alteração da viscosidade do muco
(TANIGUCHI; PINHEIRO, 2000).

Terapia de expansão

- Inspiração em tempos: consiste em inspiração nasal suave curta, interrompida por


curtos períodos de apnéia pós-inspiratória e programada para 2, 3, 4 ou 6 tempos repetitivos
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

e, em seguida, expirar suavemente por via oral até o nível de repouso (AZEVEDO, 1999).
- Sustentação Máxima Inspiratória (SMI): consiste em uma inspiração nasal suave
e uniforme até atingir a capacidade inspiratória máxima, seguindo-se por um período de
apnéia (3 a 10s). A expiração oral é lenta, contínua e sem esforço, até atingir o volume de
reserva expiratório máximo (AZEVEDO, 1996).
- Pressão de Suporte (SP): é o fornecimento de níveis predeterminados de pressão
positiva apenas na fase inspiratória, de forma constante, na via aérea do paciente, associado
à pressão positiva expiratória final (PEEP). Pode ser usada em VM convencional ou como
ventilação não-invasiva (BARBAS et al., 1994).
- Respiração por Pressão Positiva Intermitente (RPPI): é a manutenção da pressão
positiva dentro das vias aéreas durante toda a inspiração, de forma intermitente (TANIGUCHI
58 e PINHEIRO, 2000). No pós-operatório é o acessório de escolha quando o paciente é
incapaz de aumentar seu volume corrente adequadamente durante o tratamento e apresentando
dificuldade em expectoração. Nesses pacientes o uso da RPPI pode ser associado com
manobras de expansão pulmonar (WEBBER et al., 2002).
- Inspirometria de incentivo: A manobra básica de inspirometria de incentivo é a
inspiração máxima sustentada (SMI) e podem ser utilizados dispositivos orientados pelo
volume ou pelo fluxo. Os dispositivos a volume são mais fisiológicos e quantificam de forma
direta o volume inspirado. Já os dispositivos a fluxo quantificam apenas indiretamente o volume
inspirando, podendo ainda gerar fluxo turbulento inicial, e quanto mais elevado for o fluxo
durante a inspiração, maior a turbulência e, conseqüentemente, maior o trabalho respiratório
(AZEVEDO, 1996; TANIGUCHI;PINHEIRO, 2000; WILKINS; SCANLAN, 2000).
- Manobra de pressão negativa (MPN): esta manobra facilita uma contração mais
forte dos músculos da região alongada, provocando um maior esforço inspiratório. A eficácia
dessas manobras exige excelente coordenação paciente-terapêuta. Deve-se fazer uma
compressão para conscientizar o deslocamento do fluxo e uma rápida descompressão com a
mão, em concha, como que formando um “vácuo” (JIMENEZ, 1992; TANIGUCHI;
PINHEIRO, 2000).
- Direcionamento de fluxo: O fisioterapeuta deve periodicamente bloquear um
hemitórax (ou parte de um hemitórax) visando o aumento de fluxo contra lateral, desde que
não se produza um ciclo inspiratório mais rápido. O bloqueio é realizado com o objetivo de
expandir o pulmão contralateral. Esta técnica exige cautela no caso de uma esternotomia
mediana para não provocar dor e desequilíbrio na incisão (JIMENEZ, 1992; TANIGUCHI;
PINHEIRO, 2000).

Procedimentos fisioterapêuticos no pós-operatório

Paciente na Terapia Intensiva

Apesar da grande variedade de doenças cardíacas tratadas cirurgicamente, o pós-


operatório, realizado na terapia intensiva, obedece a princípios comuns. O manejo inicial
desses pacientes no período pós-operatório prende-se mais à correção das anomalias
produzidas pela anestesia, pela CEC e pela cirurgia propriamente dita do que às cardiopatias
subjacentes, tendo em vista a prevenção ou reversão das possíveis complicações do pós-
operatório de cirurgia cardíaca (SENRA et al., 1998).
O fisioterapeuta, juntamente com o restante da equipe paramédica e o médico
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

intensivista recebe o paciente vindo em pós-operatório imediato do centro cirúrgico


freqüentemente entubado, necessitando de ventilação mecânica (VM), em vista do coma
anestésico. O fisioterapeuta ou outro membro da equipe devidamente qualificado regula os
parâmetros da VM, tendo em vista os dados do paciente e de sua cirurgia. O paciente deve
ser a todo tempo bem monitorizado (SENRA et al., 1998).
Com técnicas respiratórias de higiene brônquica, pressão positiva nas vias aéreas,
inspirometria de incentivo, manobras reexpansivas, o fisioterapeuta segue acompanhando o
paciente na UTI, melhorando sua condição pulmonar e evitando ou revertendo possíveis
complicações pulmonares.
Paciente na Unidade de Interação Hospitalar (UIH) 59

Saindo da UTI, o paciente segue para a unidade de interação, onde requer cuidados
de fisioterapia respiratória que visam continuar o tratamento iniciado na UTI. É importante
observar as condições do paciente pós-alta da UTI na unidade de internação: estado geral,
quadro respiratório e exames complementares (SENRA et al., 1998).
Várias condutas poderão ser realizadas na enfermaria, observando sempre as
condições do paciente. A intensidade dos exercícios varia de acordo com a quantidade de
oxigênio consumida pelo miocárdio.

Considerações finais

Com as informações obtidas por meio desta revisão bibliográfica conclui-se que a
Revascularização do Miocárdio (RM) é uma intervenção complexa que pode envolver diversas
terapias, incluindo aconselhamento nutricional, acompanhamento psicológico, orientação
quanto aos fatores de risco e à administração de drogas. Contudo, grande parte do sucesso
dos programas de RM é devida à terapia baseada no exercício físico, sendo esta considerada
a estratégia central destes programas.
Diante do exposto, é necessário que continuem sendo desenvolvidas pesquisas nesta
área da fisioterapia, bem como o desenvolvimento de protocolos, de projetos e de programas
de Reabilitação Cardíaca, para que assim possa-se melhorar ainda mais a recuperação física
e psicossocial do paciente.

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Recebido:22.07.2008
Avaliado: 02.06.2009

Contato com o autor:


email: anacrnm@hotmail.com
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.
62 ESTRESSE: UM BREVE PANORAMA

Juan Carlos Viñas Cortez/UFPB


Mateus Bezerra Lima/UFPB
Rafaela Guedes da Nóbrega/UFPB

RESUMO

O objetivo do presente trabalho é fornecer um panorama bastante breve sobre estresse


e que possa servir de entrada à compreensão do tema abordado. Atualmente o estresse é
reconhecido como um dos riscos mais sérios ao bem estar Psicossocial dos indivíduos.
Transformações nos processos de produção e no estilo de vida da contemporaneidade,
pautados na competitividade e demanda crescente por excelência, colocam os trabalhadores
em um estado de contínua tensão, que traz consequências negativas à sociedade como um
todo. Supõe-se que o estresse sempre esteve presente na sociedade, ao longo da história.
Daí questiona-se então, o que de diferente pode ser notado na sociedade atual, na qual o
estresse passou de função orgânica adaptativa à doença crônica. É notável a fragmentação
dos materiais teóricos sobre o estresse, principalmente relacionados a seus diversos conceitos
e evolução histórica.
Palavras-chave: Doença crônica, qualidade de vida, trabalho.

STRESS: A BRIEF OVERVIEW

ABSTRACT

The objective of this paper is to bring a brief overview about stress which may serve
as a comprehensive device for the theme. As it is known, stress is recognized as one of the
most serious threats to the individual´s psychological and social well being. Transformations in
the production processes and in the contemporary lifestyle are based in competition and
developing demand above all place the workers in a state of continuous tension, that brings
negative consequences to society. The hypothesis that stress has always been present in
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

society is raised through history. The difference noticed in society is questioned in which stress
changed from organic adaptive function to chronic disease. The fragmentation of study materials
about stress is evident and many of them are related to the diverse concepts and historic
evolution.
Key-words: Chronic disease, life quality, work.
Apresentação 63

A idéia de concepção do presente trabalho surgiu da necessidade de disponibilizar


um material conciso, mas ao mesmo tempo abrangente, sobre a questão do estresse, tão
debatida tanto nos meios acadêmicos como na sociedade em geral nos dias de hoje.
Nota-se facilmente a fragmentação das informações apresentadas em grande parte
dos artigos científicos que tratam de tal temática, inclusive com informações algumas vezes
bastante conflitantes.
Logo, tornou-se necessária a elaboração do presente material, que certamente está
bastante longe de se constituir em um texto base, ou encerrar a discussão de um tema tão rico
e abrangente como o estudo do estresse. A meta é apresentar um texto claro, organizado
cronológica e tematicamente e que possa servir de porta de entrada ao compreendimento do
tema abordado.
Tem-se como base traçar uma linha que possa apresentar de uma maneira sistemática
e através de uma perspectiva integrativa, as diferentes visões e a evolução histórica dos
estudos sobre o estresse.
Para isso, faca-se inicialmente em uma breve revisão histórica do termo, em seguida
exploram-se diferentes conceitos e modelos teóricos que subjazem o estudo de tal tema e
finalmente contextualiza-se a situação do estresse atualmente, propondo sugestões que visem
à melhoria da qualidade de vida dos indivíduos expostos cotidianamente a tal fator insalubre.

Introdução

É bastante plausível cogitar a possibilidade, levando-se em consideração a situação


de vida do trabalhador típico da contemporaneidade, que o ambiente de trabalho,
impulsionado pelos avanços vertiginosos das tecnologias de informação e a sempre crescente
demanda por excelência, tanto qualitativa, quanto quantitativamente, tenha acompanhado
tais mudanças com mais velocidade do que a capacidade adaptativa dos trabalhadores.
Os profissionais encontram-se atualmente sob uma forma de tensão contínua, que
não se restringe apenas a seus ambientes de trabalho, mas expande-se à vida cotidiana em
geral, (BALLONE, 2002).
O stress é reconhecido como um dos riscos mais sérios ao bem-estar psicossocial
do indivíduo. Conforme afirmam Bateman & Strasser (1983) Pellentier (1984), e que de 50
a 80% de todas as doenças têm fundo psicossomático, ou estão relacionadas a altos níveis
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

de estresse.
Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde, os chamados transtornos
mentais menores acometem cerca de 30% dos trabalhadores e os transtornos mentais graves,
cerca de 5 a 10%. No Brasil, segundo dados do INSS, referentes apenas aos trabalhadores
com registro formal, os transtornos mentais ocupam a 3ª posição entre as causas de concessão
de benefício previdenciário como auxílio doença, afastamento do trabalho por mais de quinze
dias e aposentadorias por invalidez, (MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, 2001).
São notáveis as influências que os intensos processos de “modernização”, observados
nos dias de hoje, ocasionam nos ambientes laborais, repercutindo nos modos e condições de
trabalho, relações de produção e capacidade de resistência e adaptação dos trabalhadores a
essa nova carga de demandas. (COSTA, 2000).
64 Alevato (2003) afirma que atualmente enfrentamos, nesses tempos de globalização
imposta e crise - inclusive pela redefinição do binômio empregabilidade/sobrevivência - um
aumento significativo da quantidade de pessoas padecendo de alguma forma de sofrimento
psíquico em decorrência de fatores estressores.
As mudanças ocorrem continuamente na vida e os organismos devem estar preparados
para se adaptar a elas o mais rapidamente possível a fim de garantir a sobrevivência. O
estresse funciona como um mecanismo de adaptação, necessário para estimular o organismo
e melhorar sua atuação diante de circunstâncias novas.
Em hipótese, o estresse sempre esteve presente na sociedade, ao longo da história.
O ser humano sempre se defrontou com situações problemáticas que eram consideradas
como superiores à suas capacidades de resolução. Questiona-se, então, o que de diferente
pode ser notado na sociedade atual, na qual o estresse passou de função orgânica adaptativa
à doença crônica.

Histórico

O termo estresse tem origem da palavra latina stringere que significa provocar tensão,
(PAVÓN, 2004). Pode-se dizer que a palavra estresse foi utilizada pela primeira vez com
sentido técnico no século XIV, para referir-se à dificuldade, lutas, adversidades.
No início dos anos de 1900, a idéia de trabalhadores como pessoas portadoras de
necessidades complexas, que necessitavam serem levadas em conta, para que tais indivíduos
pudessem ter um desempenho adequado e satisfatório no trabalho, não era evidente, (WOOD,
1995).
Com o advento das revoluções burguesas e todo o contexto histórico que levou a
profundas modificações nos modelos de produção, culminando na sociedade industrial, é de
extrema importância salientar o impacto de tais mudanças na vida dos trabalhadores, e a
repercussão, vivenciada ainda hoje, de tal transformação.
A partir das pesquisas de Frederick Winslow Taylor, toda uma nova forma de pensar
o processo de produção e sua organização se desenvolveu: o taylorismo. Sua obra “The
Principles of Scientific Management” é um marco no pensamento analítico do trabalho, visando
uma completa reestruturação de tal processo, com o objetivo de alcançar produtividade sem
precedentes. O conjunto de princípios de organização do trabalho desenvolvido por Taylor
marca ainda hoje a gestão das empresas.
F. W. Taylor propôs um método de análise do trabalho que permitiu decompor as
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

tarefas em movimentos elementares e recompô-las, depois, de uma maneira mais adaptada.


Taylor lançava aí os fundamentos da organização científica do trabalho, (SILVA,
SACOMANO e MENEGUETTI, [s.d.]).
Henry Ford, baseado nos trabalhos de Taylor, também acrescentou diversas mudanças
ao sistema produtivo da época, conseguindo redução drástica de custos e do aumento da
produção e da qualidade final do produto. O conceito central da produção em massa estaria
na completa e consistente intercambiabilidade das peças e na simplicidade de montagem. Em
1908, quando do lançamento do Ford modelo T, a montagem do automóvel demorava doze
horas e vinte minutos, já na década de 20 este tempo estava em uma hora e vinte minutos,
(SILVA, SACOMANO e MENEGUETTI, [s.d.]).
Fixo em seu posto de trabalho, o trabalhador passou a constituir-se em apenas mais 65
um componente das máquinas. Segundo Ford, suas ações deveriam ser feitas de forma
mecânica e automática, sem intervenção de sua mente, tornando-se assim, mais um elemento
harmonioso do sistema de linha de montagem.
É evidente que tais revoluções trouxe diversos problemas de saúde relacionados ao
estresse nas formas de organização do trabalho, exigindo do operário apenas sua força de
trabalho muscular, em tarefas extremamente simples e repetitivas, sem nenhuma necessidade
de reflexão ou participação ativa no processo de produção.
Foi nesse contexto produtivo que, em 1936, Hans Selye, fisiologista e pesquisador
austríaco, que trabalhava em Montreal, no Canadá, empregou como terminologia médica,
pela primeira vez, a palavra inglesa stress. Aqui tal termo é originado da física e utilizado para
definir o desgaste de materiais submetidos a excessos de peso, calor ou radiação e para
caracterizar qualquer agente ou estímulo, nocivo ou benéfico, capaz de desencadear no
organismo mecanismos neuroendócrinos de adaptação, (JACQUES, 2003).
Em 1950, Selye publicou a obra na qual expôs de modo completo a síndrome geral
de adaptação, sob o título: “Physiology and Pathology of Exposure to Stress, Montreal,
1950”, (REZENDE, 2002).
O fisiologista Hans Selye descreveu a síndrome geral de adaptação (GAS) através
da qual as observações iniciais sobre reações infecciosas conduziram à descoberta de que o
estresse pode conduzir à infecção, à doença e à morte. Há, portanto, três estágios que foram
descobertos, a dizer: alarme, resistência e exaustão. (LORETE, 2006)
O estresse psicológico é uma aplicação do conceito para além da dimensão biológica
e é definido por Lazarus e Folkman (1984) como uma relação entre a pessoa e o ambiente
que é avaliado como prejudicial ao seu bem-estar. Os autores chamam a atenção para a
importância da avaliação cognitiva da situação (o fator estressor) que determina por que e
quando esta situação é estressora e para o esforço de enfrentamento, ou seja, a mudança
cognitiva e comportamental diante do estressor.

Conceituação

Selye (1956) caracterizou o estresse, ou síndrome de adaptação geral, como um


desgaste devido à inadaptação prolongada do indivíduo às exigências do ambiente. Dois
aspectos são importantes ao estresse: 1) ele pode ser provocado por vários fatores, causando
manifestações diversas; e 2) a dependência da capacidade de resposta e da percepção de
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

cada indivíduo, (MARQUES, MORAIS e COSTA, 2003).


De acordo com essa concepção, Selye (1956) fez uma diferenciação do estresse em
positivo e negativo. O positivo, também chamado de eustresse, é caracterizado por uma
resposta produtiva do organismo ao estimulo, é o estresse da realização, uma parte natural
da superação eficaz dos obstáculos da vida. O estresse negativo, também chamado de
distresse, é uma reposta negativa que pode causar danos ao organismo, (MARQUES et al,
2003). Selye (1956) ordenou o distresse em fases e Lipp (1995) pesquisou os sintomas
característicos de casa fase e em determinados períodos de tempo, (NAKAYAMA e
BITENCOURT, [s.d.]).
O conceito de estresse de Lazarus (1966) é um dos mais conhecidos na área de
ciências humanas. Este teórico propõe que o estresse deve ser tratado como um organismo
66 de compreensão de amplo alcance e de grande importância para a adaptação humana e
animal. Com isso, o estresse pode ser compreendido não como uma variável, mas como uma
síntese consistindo de muitas variáveis e processos. (NAKAYAMA e BITENCOURT, s.d.)
Nos anos 70, a literatura sobre o estresse foi marcada pela abordagem de estresse
no trabalho e as repercussões sobre a saúde mental do indivíduo, com base somente nas
demandas das tarefas. As pesquisas sobre o estresse foram fortemente influenciadas pelos
psicólogos clínicos que se fundamentaram no modelo proposto por Selye, no qual sugere-se
que o estresse se constitui da relação demanda versus capacidades do indivíduo, (ARAÚJO,
2003).
Cox (1978) definiu estresse ocupacional como a percepção do desequilíbrio entre as
demandas no trabalho e sua habilidade e/ou possibilidade para respondê-las. O fator mais
importante é a divergência entre a percepção dessas demandas, e a condição do trabalhador
para enfrentá-las. Como consequência disto, o estresse é caracterizado pelas emoções
negativas, sensação de mal-estar e desconforto geral vivenciados. Esse tipo de estresse pode
ainda ser definido como um conjunto de perturbações psicológicas ou sofrimento psíquico,
ligado às experiências de trabalho (LAVILLE e TEIGER, 1975; DEJOURS, 1984, SMITH
e STEPHENS, 1996, citados por NAKAYAMA e BITENCOURT, 2008).
Os fatores desencadeadores de estresse podem ser detectados como: medo de
fracassar, cansaço físico e emocional, viagens, prazos fatais etc. Ainda, por apoio inadequado
das pessoas que cercam os trabalhadores, sensação de ser mal interpretado ou não apreciado,
orientação ou gerenciamento inadequado de seus superiores. Igualmente por ambientes de
trabalho altamente competitivos, não reconhecimento do trabalho executado ou falta de
compreensão clara de como conduzir-se no ambiente. (NAKAYAMA e BITENCOURT,
[s.d.], p.4.
A OIT/OMS, através de um comitê composto por membros destas duas organizações,
define que os fatores estressantes do trabalho compreendem aquelas interações entre o
trabalho, seu meio ambiente, a administração e sistemas de produção, a satisfação no trabalho
e as condições da organização perante esta satisfação, as capacidades do empregado, suas
necessidades, sua cultura, as relações interpessoais e sua situação pessoal fora do ambiente
de trabalho. Todos estes fatores podem influenciar na saúde, no rendimento e na satisfação
laboral, (COSTA, [s.d.])
De acordo com Rocha (2005) é preciso que o trabalhador tenha controle sobre suas
condições de saúde e para que isto ocorra, se faz necessário que ele tenha suas necessidades
básicas, tanto no trabalho quanto no que este oferece na sua vida privada, atendidas. Com
isto, o trabalho deve oferecer uma alimentação saudável, moradia adequada, meio de
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

transporte, saúde e educação eficientes, diretos básicos à condição humana.


Para Sivieri, (1994) citado Rocha, (2005, p. 11), “A moderna organização capitalista
do processo de trabalho iniciou a era das doenças provocadas pela grande exigência de
adaptação do homem ao trabalho, um reflexo do esforço que o trabalhador emprega para
adaptar-se a esta situação anormal”.
As exigências no mundo capitalista comprometem o ritmo físico e psicológico do
trabalhador, causando doenças laborais, devido à cobrança excessiva, com o objetivo de
superar a capacidade de adaptação profissional.
A carga excessiva de trabalho, bem como a instabilidade no emprego e a acirrada
competição no ambiente produtivo, acarretam um aumento de estresse no trabalhador. Para
Rocha (2005), a pressão a que o empregado é submetido com o objetivo de buscar lucro e
aumentar a competição no mercado e a eficácia e a manutenção do emprego, acabam por 67
causar um sofrimento psíquico no trabalhador que se sente apavorado com a possibilidade
de fracasso, devido ao desgaste físico e mental.
Esse sofrimento é observado com clareza quando a atividade profissional não é mais
motivo de prazer, bem estar, satisfação, de sentir-se útil. Estes sentimentos dão lugar à dor,
sofrimento e cansaço. As condições de trabalho inadequadas, baixa remuneração, prejudicam
o bem-estar e a satisfação no ambiente de trabalho. Os sintomas psíquicos estão relacionados
à diminuição da concentração, memória, confusão, ansiedade, depressão, frustração, medo
e impaciência, (ROCHA, 2005).
É possível, assim, constatar que os fatores geradores de riscos à saúde e ao sofrimento
psíquico estão aumentando devido às exigências impostas aos profissionais. Outro fator que
pode ser considerado estressante é a perda do emprego o que ocasiona dificuldades financeiras,
e acaba refletindo a identidade social do individuo. Devido ao desemprego, sua identidade
pessoal e auto-estima também são abaladas.
Segundo França e Rodrigues, (1997) citados por Rocha, (2005) os indivíduos que
apresentam um grau elevado de ansiedade, se “acostumaram” a lidar com o estresse no
trabalho usando este como meio de descarga e tensão. Esse tipo de trabalhador é chamado
de workaholic, isto é, “viciado no trabalho”, e são muito valorizados no ambiente empresarial
e pela sociedade tecnológica, visto que são pessoas com alto rendimento profissional.
Goleman, (1997, p.98) afirma que o desgaste físico e emocional aos quais as pessoas
passam nas relações com o ambiente de trabalho são fatores muito significativos na
determinação de transtornos de saúde relacionados ao estresse, como é o caso das
depressões, ansiedade, transtorno de pânico, fobias e doenças psicogênicas.
Segundo Santos, [s.d.], o manejo do estresse no ambiente de trabalho deve ter
como principal objetivo, a melhoria da qualidade de vida, e isso deve estar assegurado na
política de qualidade e recursos humanos da empresa, e identificado em sua visão e missão.
Um programa de gestão do estresse no trabalho deve ser sempre encarado com muita
responsabilidade e comprometimento de todos os níveis de liderança da empresa.
De acordo com o exposto, pode-se perceber que é de suma importância o estudo
do estresse no trabalho bem como dos seus eventos/estímulos desencadeadores para que
haja um modelo de intervenção frente a esse mal, com o objetivo de melhorar a qualidade de
vida e satisfação no trabalho e aumentar o desempenho do empregado, como também de sua
motivação para exercer sua função.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Estresse e qualidade de vida no trabalho

Martins, [s.d.], p. 257, delimita o conceito de qualidade de vida no trabalho como


sendo “o grau em que os membros duma organização são capazes de satisfazer as necessidades
pessoais, através de suas experiências no contexto organizacional”.
Sendo assim, retoma-se a idéia dos trabalhadores exposta por Wood (1995), como
sendo indivíduos portadores de necessidades pessoais complexas, que têm de ser levadas
em conta pela organização, tendo por objetivo preenchê-las na medida do possível, para que
assim seja efetivada a existência de uma satisfatória qualidade de vida no trabalho.
68 Referências

ALEVATO, H. Relação entre a formação da liderança e os fatores socioambientais de


risco à saúde no trabalho . Boletim Técnico do SENAC, v. 29, n. 1, p. 02-15, 2003.

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Recebido: 01.03.2009
Avaliado: 17.04.2009

Contato com o autor:


email: cortez.juancarlos@gmail.com

Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.


70 PERFIL DA CLIENTELA ADOLESCENTE ENCAMINHADA À
CLÍNICA ESCOLA DE PSICOLOGIA DO UNIPÊ

Margarete Vicente Mendes/UNIPÊ


Edvânia Guedes Araújo/UNIPÊ
Tatiana de Cássia Nakano/UNIPÊ

RESUMO

O objetivo deste trabalho é identificar quais os principais motivos que levam o


adolescente ao tratamento psicológico. Todas as fichas de triagens de adolescentes entre 10
e 20 anos, durante o período de janeiro de 2005 a julho de 2006, foram analisadas, em um
total de 89. Os resultados indicaram que a população adolescente era predominantemente
do gênero feminino, concentrando-se na faixa dos 18 anos; escolaridade de Ensino
Fundamental Incompleto, cujas queixas mais comuns eram relacionadas à característica de
personalidade não adequada. A principal fonte de encaminhamento proveio da própria família.
Concluiu-se, então, que existe uma necessidade de trabalho multidisciplinar ao adolescente,
uma vez que a adolescência é um momento de crise no qual o jovem está definindo a sua
identidade, surgindo a necessidade de um facilitador, podendo ser a terapia.
Palavras-chave: Saúde mental, adolescência, tratamento psicológico.

PROFILE OF THE ADOLESCENT PATIENT SENT TO THE


CLÍNICA ESCOLA DE PSICOLOGIA DO UNIPÊ

ABSTRACT

This work aims at identifying the main reasons that have led the teenagers to a
psychological treatment. All the files for selecting the adolescents with the ages between 10
and 20 years, from January of 2005 to July of 2006, were analyzed by totalizing 89 informants.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

The results have predominantly indicated that all the adolescents consisted of females with an
average age of eighteen, with incomplete basic education, and whose most common complaints
were related to an inadequate personality feature. The main source for guiding the psychological
research emerged from the family. It was thus concluded that there was a necessity of
multidisciplinary work for the adolescent; since the adolescence is a crisis moment, in which
the young is defining its identity, appearing some times the necessity of a facility, being able to
be the therapy.
Key-words: Mental health, adolescence, psychological treatment
Introdução 71

A modernização e o progresso alteram a experiência familiar e individual do ser humano.


Nesta mudança encontra-se o adolescente em meio aos conflitos relacionados à própria
identidade. É nesta fase que surgem os primeiros confrontos familiares; os desejos e expectativas
tornam-se mais claros, deixando o adolescente confuso, frente às escolhas que a vida lhes
impõe.
Acredita-se, porém, ser natural a busca por uma orientação psicológica. Neste
processo, o objetivo do terapeuta é auxiliar o adolescente a compreender sua situação
específica de vida, incluindos aspectos pessoais, familiares e sociais. Segundo Ferreira, Silva,
Farias e Silvares (2002), a Organização Mundial de Saúde (OMS), considera adolescente o
indivíduo que se encontra na segunda década de vida, ou seja, dos dez aos vinte anos
incompletos.
Ainda, segundo as autoras, estudos sobre adolescência destacam quatro mitos sobre
esta etapa do desenvolvimento: que a adolescência seja um período de instabilidade emocional;
que os problemas que aparecem sejam próprios da idade e resolvidos com o amadurecimento;
que a necessidade dos jovens de separar-se de seus pais resulte em conflitos internos e
hostilidades; e que exista invariável abismo entre gerações. Estes mitos permitem que os
adultos expliquem comportamentos inconvenientes dos jovens. Tal pensamento dificulta a
realização de um diagnóstico diferencial, sobre os verdadeiros sinais e sintomas da patologia
que podem estar sendo desenvolvidos na adolescência.
Para Granã (1994), o desenvolvimento e a psicoterapia do adolescente fluem em
leito próprio, mas são mageados pela família durante um lento processo de transição. Ribeiro
(1986) considera a psicoterapia, como um processo no qual o cliente vai descobrindo um
modo mais fecundo de lidar consigo, e com o mundo, revitalizando suas potencialidades
desorganizadas e descobrindo os recursos próprios de sua personalidade.
De acordo com Cordioli (1998), o adolescente, nesta etapa da vida atravessa
constantes modificações de um corpo infantil para um corpo adulto, do auto-erotismo para a
heterossexualidade, além de enfrentar identificações transitórias e um imenso trabalho do
ego. Todo este processo exige uma atenta compreensão no campo psicoterápico. Na opinião
de Knobel e Aberastury (1986), o adolescente, frente a tantas mudanças físicas e psíquicas,
apresenta algumas dificuldades, entendendo como é anormal a ausência de inquietação ou do
chamado “turbilhão” nesta fase.
De acordo com Contini, Koller e Barros (2002), a adolescência é um momento
crucial na vida do homem e constitui a etapa decisiva de um processo de desprendimento.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Para Osóri (1992), a adolescência é uma etapa na qual culmina todo o processo de maturação
biopsicossocial do indivíduo. Assim sendo, é de suma importância que se busque entender a
adolescência; procurando abstrair-se de uma visão determinista, que trace um perfil
estereotipado do adolescente.
Diante o exposto, o objetivo da presente pesquisa foi traçar um perfil dos adolescentes
encaminhados à Clínica-Escola de Psicologia do UNIPÊ.
72 Método / Participantes

A pesquisa, aqui realizada envolveu a coleta de informações constantes nas fichas de


triagem dos pacientes adolescentes atendidos na Clínica Escola de Psicologia da UNIPÊ.
Por ser do tipo documental, esta pesquisa não envolve de forma direta os participantes.
Assim, 89 adolescentes preencheram os requisitos e foram selecionados para compor a
amostra, sendo 53 do sexo feminino e 36 do sexo masculino.

Instrumento

Com a finalidade de realizar um levantamento de dados constantes nas fichas de


triagem dos adolescentes atendidos na Clinica Escola de Psicologia do UNIPÊ, principalmente
aqueles que se referem às queixas e o motivo do encaminhamento dos adolescentes até a
clínica, foi desenvolvida uma ficha de coleta de dados. Este formulário apresentou um roteiro
dividido em duas partes: uma concernente aos dados sociodemográficos e a outra às queixas
trazidas à entrevista psicológica e à forma do encaminhamento. Buscam-se também,
informações sobre: sexo, idade, escolaridade, motivo da consulta e forma de encaminhamento
à instituição.

Procedimento

Antes da coleta dos dados, foi solicitada permissão à coordenação da Clínica de


Psicologia do Centro Universitário de João Pessoa-UNIPÊ permissão para a realização da
pesquisa de levantamento dos dados, a serem realizados a partir das fichas de triagem dos
pacientes. Após a obtenção da autorização, as pesquisadoras deram início à coleta de dados.
Todas as fichas de triagem, realizadas no período de janeiro de 2005 a julho de
2006, foram visualizadas pelas pesquisadoras, de forma a separar aquelas que se referiam
aos adolescentes com idade entre 10 e 20 anos (um dos critérios de inclusão propostos na
pesquisa). Dentro dessa população situaram-se aqueles que podem ter sido atendidos uma
única vez ou terem sido acompanhados em atendimento psicoterápico ou psicopedagógico.
Os dados relativos ao sexo, idade, escolaridade e forma de encaminhamento à
instituiçã, foram analisados em relação à frequência e percentagem. Já os dados relativos ao
motivo da consulta (queixa) foram analisados em função da análise de conteúdo a partir da
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

criação de categorias de análise. Tais categorias estão divididas em: Comportamentos


indesejados (agressividade, uso de drogas, pegar objetos alheios, rebeldia, irritabilidade,
tentativa de suicídio, automutilação, exibição, autoritarismo, negativismo, indisciplina, mentir);
sintomas físicos (estresses, insônia, desmaios, falta de memória, obesidade); transtornos
psicológicos (depressão, ansiedade, TOC, anorexia, complexo de inferioridade, síndrome
do pânico, baixa auto-estima); dificuldade de relacionamentos (isolamento, separação dos
pais, problemas de relacionamento afetivo, familiar, habilidade social, anti-social); dificuldades
escolares (dificuldade de aprendizagem, desinteresse, queixa escolar); características de
personalidade (hiperatividade, dispersa, perturbação, tristeza, apatia, perfeccionismo, timidez,
insegurança, nervosismo, curiosidade, afetividade, emotivo, medos, agitação, inibição); outros
(rejeição da gravidez, verificação psicológica, conhecimento na área, paralisia cerebral); sem
respostas.
Resultados 73

A presente investigação considerou a população inscrita para receber atendimento


psicológico durante o período de Janeiro de 2005 a Julho de 2006. O atendimento ocorreu
em período integral, por alunos estagiários que colheram as informações básicas sobre o
paciente e o motivo da consulta.
Após o levantamento dos dados, foi possível constatar um predomínio do sexo feminino
com 59,56% dos adolescentes atendidos, enquanto que 40,44% eram do sexo masculino.
Com relação à faixa etária, houve maior concentração de adolescentes com idade de
18 anos (13,49%), seguindo-se igualmente com a idade de 11 e 19 anos (12,36%) e a idade
de 20 anos (11,24%). As faixas etárias descritas somam um percentual de 49,45%,
caracterizando uma procura maior por atendimento a adolescentes na fase inicial da
adolescência e no final desta; momento este em que o adolescente enfrenta problemas de
ordem emocional ou comportamental. A menor frequência foi de adolescentes de 12 anos
(4,49%).
Os dados coletados revelam que a maior parte dos clientes possui Ensino Fundamental
Incompleto (42,70%). Seguidos pelo nível de Ensino Superior Incompleto (23,60%), tais
dados apontam para a grande busca por alunos do UNIPÊ. Pode-se supor que, por se tratar
de uma população mais esclarecida, considere a qualidade desse serviço e o procure mais. A
menor frequência foi do Ensino Fundamental Completo (3,37%). As fichas sem este tipo de
informação representaram 7,86% da frequência.
Os próximos dados investigados referiam-se à forma de encaminhamento para terapia,
apresentados na Tabela 1.

Tabela 1
Distribuição de frequência conforme a origem do encaminhamento

Encaminhamento F %
Família 22 23,65
Busca espontânea 15 16,13
Professor/Escola 9 9,68
Amigo 8 8,61
Médico 7 7,53
Psicólogo 7 7,53
Curso de Psicologia 5 5,38
Clínica de Fono - UNIPÊ 3 3,22
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Conselho Tutelar 2 2,15


FUNAD 2 2,15
Sem resposta 13 13,97
Total 93 100

Conforme podem ser visualizados, quanto à forma de encaminhamento, os dados


revelam que a maior parte dos clientes foram encaminhados por familiares (23,65%); seguidos
pelas buscas espontâneas, denominadas de vontade própria, representando 16,13% dos
casos. Os encaminhamentos de profissionais de saúde foram responsáveis por 18,28%
(somados os realizados por médicos, psicólogos e pelas clínicas da própria instituição). Os
encaminhamentos feitos por outras instituições, como escolas, foram de 9,68%, Conselho
74 Tutelar, 2,15% e Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência – FUNAD, 2,15%.
Os não formais representamos 5,38% que relataram terem procurado a clínica por cursarem
Psicologia e 8,38% encaminhados por amigos. As fichas que não possuíam dados sobre a
forma de encaminhamento, somaram 13,79%. Quatro fichas apresentaram mais de uma forma
de encaminhamento; resultando assim, em um maior número de respostas em relação ao
número de clientes.
O próximo dado investigado referiu-se ao motivo da consulta (queixa), que está
fornecido na Tabela 2.

Tabela 2
Distribuição de frequência conforme o motivo da consulta (queixa)
Motivo da Consulta F %
Caract. Personalidade 42 28,57
Comp. Indesejado 31 21,09
Transt. Psicológico 20 13,61
Dificuldades escolares 17 11,57
Dific. Relacionamento 15 10,20
Sintomas físicos 11 7,48
Outros 9 6,12
Sem resposta 2 1,36
Total 147 100

Quanto ao motivo da consulta, observou-se que a maior parte das queixas relacionou-
se a alguma “Característica de Personalidade”, totalizando 28,57% das queixas. A segunda
queixa mais frequente relacionou-se à categoria “Comportamentos Indesejados”, somando
21,09% dos casos. A terceira categoria de queixas apresentadas foi relativa aos Transtornos
Psicológicos, somando 13,61% das queixas, seguido por: dificuldade escolar, com 11,57%.
dificuldade de relacionamento, com 10,20%, sintomas físicos, com 7,48%, outros com 6,12%,
e sem resposta 1,36%. Algumas fichas de triagem apresentaram mais de uma queixa, resultando
num maior número de respostas em relação ao número de clientes.

Discussão
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

O Perfil da clientela levantado ao final desta pesquisa revela que a Clínica Escola de
Psicologia do UNIPÊ recebeu, no período de janeiro de 2005 a julho de 2006, um total de
89 adolescentes que, em sua maioria, eram do sexo feminino (59,56%), dados que concordam
com os obtidos em pesquisa de Peres, Santos e Coelho (2004). De acordo com os referidos
autores, pode-se pensar que tais achados refletem os condicionamentos socioculturais
moldados pelas relações de gênero, uma vez que, durante o processo de socialização, há
uma construção de gênero, que modela as características psicológicas mais associadas a
cada sexo e determina que as mulheres devem externalizar suas emoções, ao passo que os
homens devem ocultar seus sentimentos e aflições psíquicas.
Quanto à idade de encaminhamento, observou-se uma prevalência para o início e o
final da adolescência. No que tange o início da adolescência, tais dados corroboram com a
literatura, que afirma ser este o período em que há uma diminuição da auto-estima, aumento 75
de conflitos familiares, problemas escolares, consequentemente, de maior necessidade de
apoio psicológico segundo Ferreira et al (2002). Quanto ao final da adolescência, segundo
Peres, Santos e Coelho (2004), pode ser que esse fenômeno em parte deva-se ao fato de ser
o período de transição entre o final da adolescência e o início da vida adulta, fase marcada
por incertezas e crises existenciais, que podem culminar com a eclosão e/ou aceitação de
conflitos psicológicos.
Quanto à escolaridade, foi constatado que a maioria dos adolescentes tinha como
nível de escolaridade o Ensino Fundamental Incompleto, nível baixo perante a média de
idade dos informados. Tal fato faz pensar na necessidade de um trabalho em parceria, entre
a clínica e as escolas, por ser esta um ambiente específico e propício para implementação de
programas de ensino-aprendizagem.
O segundo índice mais frequente de escolaridade foi o Ensino Superior Incompleto.
Poder-se especular que uma parcela considerável desses adolescentes refere-se a aluno da
própria instituição, que visualiza o serviço como um importante recurso auxiliar para formação
profissional da área; sobretudo, para os interessados em atuar futuramente no âmbito clínico.
Com relação ao processo de encaminhamento e, segundo Ferreira et al (2002),
diversos estudos identificam o médico como a principal fonte de encaminhamento aos serviços
de Psicologia. Conforme as investigações feitas, isso está em desacordo com esta pesquisa,
em que o maior índice de encaminhamento foi realizado pela família. Tais dados podem ser
explicados pelo fato dos pais perceberem a adolescência como o estágio mais difícil da
paternidade e da maternidade, em virtude da perda de controle sobre o adolescente e o
medo em relação à sua segurança. Segundo Papalia e Olds (2000), os adolescentes sentem-
se mais felizes, livres e motivados quando estão com os amigos, em contraste com a família,
na qual a atmosfera tende a ser mais monótona e séria.
Os resultados deste trabalho concordam com os achados de Louzada (2003), nos
quais observou-se um grande índice de procura espontânea; que em nossa pesquisa ocupou
o segundo lugar (16,13% dos casos). Tal fato pode ser explicado, em virtude da quantidade
considerável de alunos de Psicologia entre os usuários da clínica-escola da UNIPÊ, que
possivelmente possuem uma visão menos preconceituosa acerca dos objetivos do processo
psicoterapêutico, buscando-o com menos resistência e mais naturalidade do que os
adolescentes de uma forma geral.
Característica de personalidade faz parte da ementa de queixas mais frequentes.
Assim, deve-se considerar que o psicólogo é um profissional, com uma visão integral do ser
humano, tem maior possibilidade de perceber comportamentos desviantes e atuar
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

precocemente, quando não preventivamente, servindo de ponte entre o cliente e outros


profissionais.
A segunda queixa mais frequente refere-se aos comportamentos indesejados,
concordando com estudos de Ferreira et al (2002), no qual esse tipo de queixa também se
mostrou presente. Segundo Sacareno, Asioli e Gianni (1994), para se alcançar o
aperfeiçoamento dos serviços de saúde mental, conforme apontado pela Organização Mundial
de Saúde (OMS), faz-se necessária uma atitude epidemiológica que não se limite a uma
aplicasão meticulosa de técnicas, devendo, assim, ser considerada uma intervenção permanente.
Os achados desta pesquisa revelaram a presença de transtornos psicológicos, indicando a
necessidade de haver, no setor, um profissional com conhecimento sobre o assunto. As
76 dificuldades escolares apareceram no quarto lugar, o que difere dos achados efetuado por
Ferreira, et al (2002) que aponta as dificuldades escolares como a principal queixa.

Considerações finais

Conclui-se que este tipo de pesquisa, pode auxiliar na elaboração de metas e


adequação do serviço, para um atendimento mais eficiente. Uma perspectiva de trabalhos
possíveis a partir dos resultados aqui apresentados, refere-se à elaboração e execução de
novas propostas de atuação clínica, através da implantação de experiências práticas na Clínica-
escola, que visem um atendimento adaptado às características de sua clientela adolescente,
agora já melhor identificada.
O atendimento ao adolescente possui características específicas que não devem ser
ignoradas, especialmente do ponto de vista psicológico. Daí a importância de haver
profissionais de psicologia atuando em equipes que atendem adolescentes. Visto que um
trabalho interdisciplinar constitui-se em um modelo eficiente para o seguimento da pessoa em
desenvolvimento, privilegia a prevenção e permite o diagnóstico precoce, proporcionando
um desenvolvimento harmônico.

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Recebido: 13.03.2009
Avaliado: 14.04.2009

Contato com o autor:


email: mendes.margarete@ig.com.br

Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.


78 ANÁLISE ANTROPOMÉTRICA E DISPÊNDIO ENERGÉTICO
DURANTE UMA SESSÃO DE CAPOEIRA

Juliano Almeida Rocha do Amaral/UNIPÊ


Pedro Henrique Marques de Lucena/UNIPÊ
Luciano Meireles de Pontes/UNIPÊ/SANNY

RESUMO

O objetivo do estudo foi verificar o dispêndio energético durante uma sessão de


capoeira com quatro sujeitos em fase de aquecimento e alongamerno dos membros superiores
e inferiores. As variáveis analisadas foram: massa corporal, estatura, água corporal e percentual
de gordura através de uma balança de bioimpedância modelo Tanita. A frequência cardíaca
foi utilizada para a estimativa do gasto energético através de monitores digitais da marca
POLAR A5. Para a análise dos dados, foi utilizado o SPSS 16.0. Os sujeitos iniciaram o
treinamento com uma média de FC em repouso de 71,2±6,8bpm, massa corporal 60,7±8,1kg
e %G 16,1%±2,5%. Na parte principal do treinamento a FC média alcançou 176±23,5bpm
estabelecendo-se em 158±11,3bpm durante toda a sessão. A avaliação pós-treinamento
apresentou as seguintes modificações: massa corporal=60,3±7,6kg, %G=15,7%±2,4% e
perda de água corporal de 0,4±0,2L. O gasto energético estimado durante a sessão foi
687±171,7kcal. Uma única sessão de capoeira apresentou um dispêndio energético compatível
a uma atividade física com características moderadas e vigorosas, proporcionado uma perda
calórica satisfatória.
Palavras-chave: Dança brasileira, gasto energético, condicionamento físico.

ANTHROPOMETRIC ANALYSIS OF ENERGY EXPENDITURE


DURING A CAPOEIRA EVENT

ABSTRACT

This study ained at evaluating the energy expenditure during session of capoeira with
four subjects doing exercises for warming and stretching their limbs. The analyzed variables
were: body mass, height, body water and fat percentage by a bioimpedance scale of Tanita
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

brand. The heart rate was used to estimate the energy expenditure through digital monitors
(POLAR A5 brand). The SPSS 16.0 was used for the analysis of data. They have revealed
that the subjects started the training with an average of HR at rest of 71.2±6.8 bpm, body
mass 60.7±8.1 kg and %F 16.1%±2.5%. The training in the main part of the HR average
reached 176±23.5 bpm, setting in 158±11.3 bpm during the entire session. The post-training
evaluation showed the following changes: body mass=60.3±7.6 kg, %G=15.7%±2.4% and
loss of body water of 0.4±0.2 L. The estimated energy expenditure during the session was
687±171.7 kcal. It is thus concluded that the single session of capoeira showed energy
expenditure consistent to moderate and strong physical activity, and provided a satisfactory
caloric loss.
Key-words: Brazilian dance, energy expenditure, physical condition.
Introdução 79

A capoeira é uma modalidade de característica dinâmica que reúne atividade física


exigente junto com aspectos artísticos e musicais. Em sua essência, a capoeira alia movimentos
de força, coordenação, destreza e equilíbrio dinâmico; Além de se caracterizar por um vigoroso
exercício cardiovascular, já que ativa em sua predominância o metabolismo aeróbio.
O exercício da capoeira exige participação dos grandes músculos corporais, uma
particular coordenação motora com movimentos bem delineados e bastante rigorosos, como
saltos mortais para frente e para trás.
Com tantas vantagens, a capoeira tem tudo para realizar uma futura revolução no
campo da atividade física. Estudiosos como Cobra (2005) descrevem que somente a vigorosa
atividade de desempenho cardiovascular seria o bastante para fazer desse esporte uma das
atividades físicas mais significativas. Por ter sido trazida pelos escravos africanos e ter assolado
primeiramente a região nordeste, possui um lado cultural muito significativo (COBRA, 2005).
Analisando a literatura da área do esporte, observa-se que o desenvolvimento
da capoeira é complexo e vem em constante evolução. Na atualidade especula-se se a
Capoeira é uma luta ou uma dança, por exemplo; pois, conforme alguns autores, esta atividade
abrange diversas áreas do desenvolvimento sócio-cultural. Gonçalves (1997) relata sobre a
capoeira:

“...Se historicamente começou como uma luta de defesa, hoje deve


ser entendida como uma atividade esportiva e folclórica, em que o
caráter educativo deve predominar. Sendo assim recomenda-se
investigações de caráter educativo sobre a capoeira, pois ainda
existem várias lacunas na discussão sobre tal temática”.

Sobre o perfil dos praticantes de capoeira, observa-se que qualquer indivíduo pode
praticar esta atividade, por ser um esporte que pode ser praticado em qualquer idade, por
qualquer pessoa, em qualquer situação; pois, pela sua própria forma de ser, acaba se encaixando
no nível de intensidade e exigência tanto cardiovascular como muscular localizado, no nível
que lhe for possível, de acordo com suas condições especificas, independente do seu preparo
físico, orgânico ou muscular.
Atualmente, muitas academias de exercício físico estão utilizando a capoeira em suas
atividades esportivas. Em sua característica, esta modalidade apresenta-se como um exercício
de luta que possui um extrato filosófico muito importante na formação de crianças e jovens
tornando-se, por si só, uma atividade extremamente educacional. Além disso, parece ser
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

relevante pensar na capoeira como uma atividade física que propicia um melhor
condicionamento da aptidão física e um gasto energético compatível às outras atividades
físicas com predominância aeróbicas e anaeróbicas e que são sugeridas para o emagrecimento
devido às altas demandas energéticas despendidas.
Alguns pesquisadores da ciência da avaliação física esclarecem que a demanda
energética equivalente ao trabalho muscular refere-se a toda participação energética relacionada
às contrações musculares voluntárias, associadas, portanto, às atividades físicas, sendo a
capoeira uma atividade que se enquadra nesta perspectiva como uma modalidade esportiva
de condicionamento físico.
Neste contexto, considerando que publicações que abordem sobre temas relacionados
à capoeira e sua prescrição, ainda são necessários devido à inexistência de artigos originais
80 na literatura nacional. Por acreditar que a realização do treinamento de uma sessão de capoeira,
sob orientação adequada, com ênfase em parâmetros científicos, terá relação consistente
com o aumento do gasto energético e, consequentemente, a longo prazo, na melhora do
condicionamento físico e melhora da composição corporal, a questão norteadora que objetivou
a produção desse estudo foi qual o dispêndio energético durante uma sessão de treinamento
de capoeira. Desta forma, o presente estudo objetivou verificar o dispêndio energético durante
uma sessão de treinamento de capoeira.

Material e métodos

Caracterização do estudo

O presente estudo apresenta um modelo quase experimental; descritivo de caráter


exploratório e abordagem quantitativa. Este tipo de ensaio delimita-se a uma pesquisa quase
experimental, quando o delineamento experimental não é possível e caracteriza-se pelo estudo
de casos ou grupos de casos sem necessariamente um grupo controle, com a presença de
uma variável ou fenômeno a ser estudado (THOMAS, NELSON e SILVERMAN, 2007).

Amostra

Participaram da amostra quatro voluntários com idades entre 13 e 32 anos (média de


19,0±8,7anos), praticantes de capoeira. Os critérios de inclusão na pesquisa foram: ser do
sexo masculino, apresentar condições clínicas e físicas satisfatórias para a prática regular de
atividade física diagnosticada por profissional da área médica, ter tempo mínimo de prática
no esporte de seis meses.

Variáveis e instrumentos utilizados no estudo

As variáveis que foram observadas foram: massa corporal, estatura, porcentagem de


gordura, frequência cardíaca e gasto energético.

Idade: foi considerada a idade em anos completos auto referida pelos capoeiristas.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Massa Corporal e estatura: Para a medida da massa corporal, foi utilizada uma balança
digital modelo Tanita, com divisão de 100g e capacidade máxima de 150 kg. Os avaliados
posicionaram-se em pé, com afastamento lateral dos pés, ereto e com o olhar fixo à frente.
Para a estatura, foi utilizado um estadiômetro da marca Sanny com precisão de 0,1cm e
campo de uso até 2,20m. A medida foi realizada com o cursor em ângulo de 90° em relação
à escala, sendo a estatura medida com o avaliado colocado na posição ortostática com os
pés unidos, procurando por em contato com o instrumento de medida as superfícies posteriores
do calcanhar, cintura pélvica, cintura escapular e região occipital, ficando por alguns instantes
em apnéia respiratória e com a cabeça em posição paralela ao solo.
Porcentagem de gordura e água corporal: a mensuração da gordura corpórea relativa à 81
massa e a água corporal foram estimadas pré e pós-treino através do método de balança do
tipo bioimpedância bipolar modelo Tanita. Tendo em vista algumas peculiaridades deste
método, alguns cuidados foram tomados visando minimizar algumas fontes de erros. Assim,
os sujeitos foram previamente orientados a não comerem ou beberem por 4 horas antes dos
testes.

Frequência cardíaca: para a monitorização da frequência cardíaca de repouso e frequência


cardíaca, durante toda a sessão de capoeira, foram utilizados monitores de frequência cardíaca
modelo Polar A5. A frequência de repouso foi monitorada após os sujeitos terem relaxado
em decúbito dorsal sobre um colchonete durante 5 minutos.

Dispêndio energético: foi estimado através de monitores de frequência cardíaca modelo


Polar A5. Para a estimativa do gasto calóricos (kcal), os dados referentes à massa corporal,
estatura e data de nascimento dos capoeiristas foram cadastrados previamente nos monitores.

Equipamentos utilizados para a sessão de Capoeira: Foi utilizada uma sala com dimensões
apropriadas para atividades com capoeira, ginástica e dança, com temperatura ambiente
próxima de 22 graus. Foram utilizados durante o treinamento colchonetes, bastão e aparelho
de som com DVD, apropriados para uma sessão de capoeira.

Protocolo experimental

Após a autorização do responsável da academia de ginástica e musculação, onde


ocorreu a realização do presente estudo e consentimento por escrito dos selecionadas para
participação na pesquisa, foi colocada em prática a coleta de dados que contou com avaliação
antropométrica e a participação em uma sessão experimental de treinamento de capoeira. O
protocolo experimental desta pesquisa submeteu sujeitos à participação em uma única sessão
de capoeira, com duração de 50 minutos e intensidade estipulada em aproximadamente 60 a
85% da frequência cardíaca de reserva, sob a orientação de um Mestre de Capoeira graduando
em Licenciatura Plena em Educação Física. O treinamento foi ministrado no horário da noite,
numa sala apropriada para a prática de esportes de luta, ginástica e dança. O treinamento
considerou os níveis atuais de aptidão física e o tempo de prática dos capoeiristas e caracterizou-
se por atividades que tornassem o treino moderado/vigoroso visando atingir o maior gasto
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

energético possível dos pesquisados, e consistiu da seguinte metodologia: O protocolo de


treinamento seguiu a estrutura proposta por Mestre Manoel dos Reis Machado “Mestre
Bimba”, respeitando os princípios do treinamento desportivo preconizados pelo Colégio
Americano de Medicina do Esporte (ACSM, 2003).

Parte inicial: a sessão foi iniciada com o aquecimento, afim de elevar a temperatura corporal,
facilitando a mobilidade e visando tornar as articulações mais resistentes à pressão e à força.
Foram realizados movimentos na região das vértebras do pescoço (cervical) em seguida nos
ombros, cotovelos, punhos e quadril. Foram realizados movimentos circulares nos dois
sentidos, descendo para os joelhos e tornozelos. Na sequência foi iniciado um alongamento
82 básico dos membros superiores, região lombar e membros inferiores para então começar um
aquecimento em forma de corrida, com variações de direções e sentidos, sendo realizada
uma corrida de costas em zig zag e com elevação dos joelhos e calcanhar atrás (calcanhar no
glúteo). O tempo da parte inicial totalizou 10 minutos.

Parte principal do treinamento: Logo após o aquecimento, os sujeitos iniciaram uma “ginga”,
em dupla e realizando movimentações típicas da capoeira. Dando continuidade ao treinamento,
os capoeiristas executaram oito variações referentes à primeira sequência pedagógica
desenvolvida para a prática da capoeira proposta por “Mestre bimba” criador da capoeira
regional. Esta sequência foi fundamentada nos principais movimentos de ataque e defesa da
capoeira e suas nuances. As sequências foram sendo modificadas ao longo da sessão de
treinamento, visando variar o treinamento e alterar a complexidade dos movimentos de forma
evolutiva. Nesta fase do treino, ocorreram pausas entre as sequências para a realização de
exercícios abdominais e flexão de braço, visando o fortalecimento muscular. Concluindo a
fase principal em duplas, os capoeiristas realizaram movimentos de ataque e defesa (esquivas)
da capoeira com diversos contra-ataques como o “martelo” e a “vingativa” de forma bem
dinâmica semelhante ao “jogo da capoeira” propriamente dito. O tempo da parte principal
totalizou 35 minutos

Parte final: Esta etapa caracterizou-se com a volta à calma, sendo realizada em círculo com
os capoeiristas de frente para o interior do círculo e sentados. Foram feitos alongamentos de
membros inferiores e região do tronco. O tempo da fase final totalizou 5 minutos.

Análise dos dados: Após serem tabulados, os dados foram analisados pelo método descritivo
para valores de média, desvio padrão (DP) e percentuais (frequência), e método inferencial
por meio do “t” de Student para grupos dependentes para a verificação de diferenças
significativas pré e pós-teste. Para tanto, optou-se pelo uso do software Statistical Package
for the Social Sciences (SPSS) versão 16.0 for Windows.

Resultados

Na Tabela 1, estão expostos em valores descritivos das variáveis: idade, tempo de


prática da Capoeira, valores da FC nas diversas etapas da sessão de treinamento e o gasto
energético estimado nos atletas investigados. Observa-se que, em média, os capoeiristas são
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

jovens e apresentam-se experientes na prática da capoeira. A FC variou nas diversas fases


da sessão de capoeira com maior pico na fase principal do treinamento. Em relação à estimativa
do dispêndio de energia, foi observado um gasto calórico compatível a outras atividades
físicas moderadas e vigorosas (687,0 kcal). Também foram estimadas as perdas do peso 83
corporal total e água corporal.
Tabela 1 – Distribuição dos valores de média, desvio padrão, mínimo e máximo das variáveis.

Variáveis n Média DP Mínimo Máximo

Idade (anos) 04 19 8,7 13 32


Tempo de prática da Capoeira (anos) 04 3,7 5,5 0,8 12
FC Max. (bpm) 04 201 8,7 188 207
FC repouso (bpm) 04 71,2 6,8 63 79
FC fase de aquecimento (bpm) 04 153 12,3 135 163
FC fase principal do treino (bpm) 04 176 23,5 153 201
FC média do treino (bpm) 04 158 11,3 146 172
Kcal / treino (gasto calórico) 04 687,0 171,7 452,0 864,0
Perda de peso corporal durante treino (kg) 04 0,625 0,22 0,400 0,900
Perda de água corporal durante o treino (L) 04 0,4 0,2 0,2 0,7

A Tabela 2 apresenta os valores pré e pós-teste das variáveis: massa corporal, estatura,
%G e CAB. Estatisticamente não foram observadas diferenças significativas (p>0,05).

Tabela 2 – Variáveis analisadas durante o pré e pós-teste (n=04).

Teste
Variáveis analisadas Média ± DP “t”
Pré-teste Pós-teste Dif.* p**
Massa corporal (kg) 60,7±8,1 60,3±7,6 0,4 0,92
Estatura (m) 1,67±0,05 – – –
% de gordura (%) 16,1±2,5 15,7±2,4 0,4 0,72
CAB (cm) 75,5±0,04 74,8±0,05 0,7 0,75
*Diferença (Dif.) = pré-teste – pós-teste;
**p<0,05 (valor significativo).

Discussão
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Conceitualmente, o treinamento desportivo refere-se um conjunto de atividades


sistemáticas e controladas, visando o aperfeiçoamento do organismo, com o enriquecimento
de um repertório de habilidades e o aumento da capacidade funcional. De acordo com as
diversas definições sobre a temática, o “treinamento está relacionado a um programa de
exercícios físicos destinados a desenvolver um atleta ou um desportista para um determinado
evento ou condição física ou mental (VERJOSHANSKY, 1990). Desta forma, o aumento na
perícia do desempenho e nas capacidades energéticas é igualmente importante”. O treinamento
físico consiste em atividades que buscam desenvolver o praticante tanto fisicamente como
psicologicamente, visando uma melhor eficiência e economia energética durante a prática.
Como já foi dito anteriormente, o presente estudo teve o intuito de verificar o dispêndio
84 energético durante uma sessão de treinamento de capoeira. Em uma perspectiva mais
abrangente, a proposta deste estudo foi investigar a capoeira como uma atividade física que
pode proporcionar um dispêndio de energia satisfatório, melhorando o condicionamento físico
e a composição corporal; sendo, estão, mais uma atividade do enorme leque da Ciência do
Esporte a ser sugerida para os indivíduos de diversas características, faixa etária e níveis de
aptidão e, desta forma, adaptá-la a cada situação biológica e objetivos propostos. Ainda
frisando a respeito do treinamento desportivo, foi planejado de acordo com as necessidades
e objetivos buscados pelos praticantes e de acordo com a metodologia do treinador/instrutor,
sendo a partir deste binômio, montada a estrutura e o conjunto de atividades que devem ser
executadas.
Poucos estudiosos já publicaram a respeito da capoeira e suas peculiaridades como
modalidade física e esportiva. Santos e Barros (1998) descreveram sobre a capoeira treinada
nas academias e destacaram que esta prática tem como objetivo o treinamento físico para
uma melhoria na performance durante o jogo de capoeira. De certa maneira, a presente
pesquisa seguiu esta linha de pensamento, visando um contexto mais ampliado na tentativa de
propor a capoeira como uma atividade que propicia uma melhora além performance do jogo,
mas também potencializando o condicionamento físico relacionado à saúde.
Considerando as premissas básicas para a iniciação de qualquer atividade física,
nesse estudo, foram respeitados os preceitos básicos do treinamento desportivo preconizados
pelo ACSM (2003), sendo realizada uma sessão de capoeira característica; no caso desse
estudo foi seguida a estrutura proposta por Mestre Manoel dos Reis Machado, conhecido
“Mestre Bimba”.
Analisando os resultados referentes à variabilidade da frequência cardíaca, foi
observado que os capoeiristas iniciaram com uma frequência de repouso em média de
71,2±6,8bpm condizente ao perfil jovem dos pesquisados, no final do aquecimento
153±12,3bpm (76,1% da FC máx.) e no final da parte principal do treino onde atividades de
moderada e alta intensidade foram realizadas e obtiveram 176±23,5bpm (87,0% da FC
máx). A FC média referente a toda a sessão de treinamento foi 158±11,2bpm (78,6% da FC
máx.) com um dos casos apresentando 172 bpm (85,5% da FC máx.). Conforme visto, o
treinamento apresentou uma característica predominantemente moderada ao grupo de
capoeiristas, o que provocou um gasto energético compatível a outras atividades físicas já
investigadas.
A relevância de se estudar o gasto energético no exercício está relacionado à clarificação
dos diversos tipos de atividades já que estes perfis ainda precisam ser explorados e o potencial
das modalidades esportivas na queima calórica. Sobre isso, o ACSM (2001) pontua que a
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

quantidade de energia despendida em diferentes atividades varia com a intensidade e com o


tipo de exercício. Entretanto, há variações individuais devido às diferenças no nível de atividade,
idade, sexo, tamanho, massa corporal e composição corporal que justificam a existência de
vários métodos para a medição e a estimativa do gasto energético do exercício. Para a
medição do gasto energético, utiliza-se normalmente a calorimetria indireta pela medida do
consumo de oxigênio, mas tal método depende de procedimentos dispendiosos que restringem
sua utilização, quase que exclusivamente, a ambientes laboratoriais e situações de pesquisa.
Nas situações de campo, em que é pouco viável a medição do gasto energético por métodos
mais sofisticados, autores como Dutra et al. (2007), esclarecem que outros métodos podem
ser usados como, por exemplo, os monitores de frequência cardíaca, instrumento que foi
utilizado nos capoeiristas aqui estudados. Neste caso, a medição da freqüência cardíaca tem
sido amplamente utilizada como meio para estimar o gasto energético da atividade física, 85
devido a praticidade, principalmente com a popularização dos cardiofrequencímetros e devido
à forte correlação que tem com o gasto energético durante exercício dinâmico que envolva
grandes massas musculares (STRATH et al., 2000).
Em relação às perdas corporais de massa corporal e água corporal, foi possível
estimar tais variações a partir da utilização da balança de bioimpedância sendo subtraído os
valores mensurados antes da participação dos sujeitos na sessão de capoeira e após o esforço
físico (termino da sessão) que teve a duração total de 50 minutos. A composição corporal foi
monitorada seguindo o mesmo procedimento. Os resultados estatísticos não foram
considerados significantes haja vista os valores não terem sido inferiores a probabilidade
estabelecida (p<0,05). Entretanto, exaltam-se os valores encontrados do ponto de vista
experimental, já que foi encontrada uma tendência satisfatória que corrobora com a questão
que norteou o estudo, que evidencia a capoeira como uma atividade física eficiente quando
praticada em uma intensidade moderada e intensa. Sobre o valor matemático, atribui-se o
insucesso da significância dos dados a única sessão que contemplou esta pesquisa, pois
acredita-se que se o protocolo de estudo tivesse contemplado mais sessões de treinamento
por um período mais longo, certamente alterações na composição corporal poderiam ter
sido observadas. No entanto, o protocolo de uma única sessão foi viável para a produção da
pesquisa e levantou evidência para a realização de novos estudos.
Apesar das limitações terem sido reconhecidas pelos autores como o método de
estimação da composição corporal, as variáveis intervenientes podem ter causado vieses de
medição. Acredita-se que a tentativa da realização deste estudo quase experimental é de
muita importância, principalmente no que diz respeito ao levantamento da hipótese de que
uma atividade física como a capoeira pode, a médio e longo prazo, servir de ferramenta para
indivíduos de diversas características no intuito de popularizar a prática da capoeira,
desmistificando alguns mitos e conceitos rotulados à capoeira ao longo da história.

Conclusão

Uma única sessão de capoeira apresentou um dispêndio energético compatível a


uma atividade física com características moderadas e vigorosas, proporcionado uma perda
calórica satisfatória. Nesta perspectiva, sugere-se uma maior divulgação da capoeira como
prática esportiva visando a melhora do condicionamento físico, além das suas características
já conhecidas como de luta, dança e lazer.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

De fato, existem algumas limitações metodológicas no presente estudo. Devido ao


número reduzido da amostra que caracteriza a pesquisa como uma série de casos, a falta de
um grupo controle sem a participação no protocolo quase experimental, além do estudo ter
enquadrado apenas uma única sessão de treinamento. Entretanto, sugere-se a produção de
novos estudos, principalmente devido às tais limitações, além da complexidade e relevância
do fenômeno investigado.
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Recebido: 16.04.2009
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Avaliado: 26.06.2009

Contato com o autor:


email: julianocoiote@bol.com.br
PROPOSTA PEDAGÓGICA PROBLEMATIZADORA ÂNCORA 87
PARA A FORMAÇÃO DE AGENTES DE SAÚDE

Karla Fernandes de Albuquerque/UNIPÊ


Maria do Socorro Silva/UFPB
Kátia Vânia V. Souto Maior/UNIPÊ

RESUMO

O objetivo deste trabalho é apresentar uma proposta educativa libertadora que sirva
de respaldo na formação dos Agentes Comunitários de Saúde, privilegiando a integração
entre a teoria e a prática, assim como o entendimento do processo saúde/doença, orientado
a partir de uma abordagem metodológica: a problematização, levando-os a conhecer, analisar,
refletir e superar as dificuldades em todo seu caminhar. Entende-se que a formação educacional
bem alicerçada é âncora para o exercício seguro da profissão dos que pretendem transformar
realidades. Nesse sentido, espera-se desenvolver uma consciência crítica/reflexiva nos órgãos
formadores, no tocante a formação do ACS e este é argumento que justifica o caráter
estratégico e decisivo no desenvolvimento e realização do SUS.
Palavras-chave: Educação, abordagem metodológica, dificuldades .

A PROBLEMATIZING TEACHING PROPOSAL FOR THE


FORMATION OF HEALTH AGENTS

ABSTRACT

This work aims at presenting a liberating teaching proposal to serve as a support


in the formation of the Community Health Agents by conceding integration between theory
and practice, as well as the understanding of the health/illness process, which is guided based
on the a methodological approach: the problematization, which takes them to know, analyze,
contemplate and overcome the difficulties in their work. It is thus understood that the
accurate educational formation is an anchor for the safe performance of the profession of
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

those who intend to transform realities. In that sense, a critical/reflexive conscience is hoped
to grow in the formation organs, concerning the formation of the ACS, and this is a discussion
that justifies the strategic and decisive feature in the development and accomplishment of
SUS.
Key-words: Education, methodological approach, difficulties.
88 Introdução

Em meados dos anos 90, um trabalho foi realizado com um grupo de ACS (Agente
Comunitário de Saúde) no município de Pombal, que contou com a experiência de enfermeiras
do PSF (Programa Saúde da Família) da cidade de João Pessoa proporcionando meios para
analisar, por vários anos, o dia-a-dia do ACS, seu trabalho e atribuições. Na sua práxis,
foram observados dificuldades e limitações em desempenhar algumas atividades, o que tem
sido preocupante, haja vista, que se tem acompanhado estes profissionais desde a implantação
do PACS (Programa de Agentes Comunitário de Saúde) em 1991 e do PSF em 1994.
Durante toda essa jornada de avaliação das atividades do ACS em campo, surgiu
uma indagação: a formação destes profissionais teve embasamento metodológico e técnico
científico para respaldá-los no cumprimento de tarefas que exigem conhecimentos específicos?
A exemplo de: busca ativas de pacientes sintomáticos respiratórios: Programa de tuberculose,
detecção e acompanhamento dos pacientes com doenças crônicas degenerativas: Hiperdia e
tantos outros que o Ministério da Saúde apresenta.
Diante desta problemática, pensou-se numa proposta educativa que contribuísse com
a formação dos Agentes Comunitários de Saúde, visto que esse processo formativo parece
estar ancorado em fatores pedagógicos, assim como em suas respectivas metodologias e
meios. Acredita-se que a partir daí, modificar-se-ão as atitudes, e definir-se-ão perfis para os
profissionais se adequarem a determinados contextos. Um projeto piloto, foi iniciado em
equipe em 2006 em um PSF do município e João Pessoa. O referido projeto será objeto de
estudo de estudos de pós graduação através da expansão do mesmo em outras unidades do
PSF de João Pessoa com o sentido de endossar a proposta.
O objetivo é trabalhar a formação do ACS para uma melhor atuação junto ao usuário,
família e comunidade, desenvolvendo habilidades e competência técnica, metódica,
comunicativa, social, política e ética, contribuindo com o processo ensino-aprendizagem destes
profissionais em consonância com os princípios do SUS (Sistema Único de Saúde), cujos
resultados devem ser observados através da potencialização das ações e de uma assistência
de qualidade individual e coletiva, através da utilização de uma abordagem metodológica
problematizadora.
Freire (1997) diz que a metodologia problematizadora traz um modelo de processo
ensino aprendizagem que ocorre numa relação entre dois elementos: um sujeito que aprende
e um objeto que é aprendido, levando-se em conta os padrões culturais dos elementos
envolvidos no processo. É preciso assumir a responsabilidade de educar para a vida, de
entender que o educando não é mais visto como um objeto, mas considerado com a riqueza
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

de suas experiências, a partir de uma honesta abordagem de sua gênese, de sua origem, uma
vez que o trabalho como direito social, exige um pensar especifico e especializado, para
obtenção de resultados eficazes, que contemplem o atendimento das necessidades dos
usuários.

Agente Comunitário de Saúde: dados gerais

Elo entre a comunidade e serviço de saúde, esteio da consolidação do SUS (Sistema


Único de Saúde), passaram a fazer parte deste contexto por meio do PACS (Programa de
Agente Comunitário de Saúde) implantado no Ceará, em 1987, com recursos próprios e
vinculados à Secretaria de Saúde do Estado. Tal experiência tem sido analisada em vários 89
trabalhos monográficos como o de MINAYO (1990) e SILVA (1997), que serviram de
modelo ao Ministério da Saúde, que ampliou a iniciativa para os demais estados brasileiros,
uma vez que o trabalho desenvolvido pelo ACS reduziu consideravelmente o índice de
mortalidade infantil, lhes valendo um prêmio do Fundo das Nações Unidas para a Infância –
UNICEF, no ano de 1993.
Com o surgimento do Programa Saúde da Família PSF (1994) constituído por equipes
multiprofissionais, os ACSs foram inseridos como elo fundamental nas ações desenvolvidas e
na interface com a assistência social, educação e meio ambiente tornando-se evidente o seu
papel e sua valorização profissional.
Essa estratégia contribui para que as atribuições e as responsabilidades apontadas
para a atenção básica possam ser executadas e assumidas de uma forma inovadora, com
efetiva mudança na organização dos serviços de saúde (BRASIL ,2000).
As equipes de Saúde da Família que trabalham tem como função promover o conceito
de saúde como direito à cidadania, humanização do atendimento à saúde, consultas médicas
e de enfermagem, prevenir doenças e identificar fatores de riscos, visitas domiciliares e reuniões
com a comunidade (BRASIL ,1998).
A publicação do Decreto Federal nº. 3.189/99, foram fixadas as diretrizes para o
exercício da atividade do ACS; posteriormente, foi elaborado o Projeto de Lei Federal n.
10.507, de 10 de julho de 2002 que criou a “Profissão de Agente Comunitário de Saúde”
(BRASIL,2002 ).
Desta forma, deve o agente comunitário de saúde inserir-se num processo contínuo
de profissionalização para melhorar a capacidade da população de cuidar da sua própria
saúde, transmitir informações e promover a ligação entre a comunidade e os serviços de
saúde locais (BRASIL , 1994).
À possibilidade de um delineamento das práticas dos agentes comunitários e suas
formas de interação com a comunidade é ímpar, visto que os agentes realizam ações básicas,
incorporam mudanças e constroem condições de existência.
Ao realizar suas atividades, o agente passa a ser a extensão dos serviços de saúde à
comunidade e um agente polivalente das “necessidades comunitária”.

Pedagogia Problematizadora: Método do Arco

Esta abordagem fundamenta-se em bases epistemológicas, onde o homem conhece


Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

o mundo e interage com o seu meio, transformando-o reciprocamente.


A metodologia fundamenta-se no princípio de que a aprendizagem não é alcançada
de forma instantânea e nem por domínio de informações técnicas, pelo contrário, requer um
processo de aproximação necessário e cada vez mais amplo ao conhecimento.
A problematização encontra nas formulações de Paulo Freire um sentido de inserção
crítica na realidade para dela retirar os elementos que conferirão significado e direção às
aprendizagens. No movimento ação-reflexão-ação, são elaborados os conhecimentos,
considerando a rede de determinantes contextuais, as implicações pessoais e as interações
entre os diferentes sujeitos que aprendem e ensinam.
Com base nesta concepção educativa, decidiu-se pela “Pedagogia da
Problematização” para nortear a formação do ACS. Essa pedagogia não separa a
90 transformação individual da transformação social, pela qual ela deve desenvolver-se em situação
grupal.
O diagrama a seguir ajudará a representar a Pedagogia Problematizadora, cujo autor
Charles Maguerez o chamou de Método do Arco, (fig 01), visto por Bordanave e Pereira
(1991) como um esquema que corresponde a uma alternativa metodológica, fundamentada
na pedagogia, compatível ao tema em estudo que serve para melhor discernimento e
visualização das etapas sequenciais.

Fig.1. Método do Arco

Fonte: DIAZ-BORDANAVE. J. Alguns fatores pedagógicos. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Coordenação
Geral de Desenvolvimento de Recursos Humanos para SUS. Capacitação pedagógica para instrutor/
supervisor da área de saúde. Brasília, 1994.

Essa opção estratégica para formação do ACS surgiu para subsidiar na


compreensão de que a educação precisa ser uma prática mediadora de transformação capaz
de provocar a convergência entre a transformação individual e a transformação social,
reconhecendo que é preciso instrumentalizar o ACS para ampliar sua capacidade de reflexão
sobre sua prática cotidiana, e, sobre ela ser capaz de agir, transformando a realidade fato que
torna mais gratificante a utilização da pedagogia problematizadora nestas práticas educativas.

Público Alvo
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Agentes Comunitários de Saúde que fazem parte do Programa Saúde da Família, na


região nordeste do Brasil, em particular, no estado da Paraíba tendo como projeto piloto um
PSF localizado na cidade de João Pessoa – PB.

Período de Execução e Carga Horária

A proposta educativa foi desenvolvida inicialmente nos meses de Fevereiro e Março/


2006, contando com uma carga horária de 40 horas semanais distribuídas em 5 dias, 8 horas
diurnas sendo 4 horas por turno. Vale salientar que, a cada dois meses, o grupo trabalhou um 91
programa do Ministério da Saúde e paralelamente discutiram-se questões éticas e legais
inerentes a um bom desempenho profissional.
As etapas estavam ancoradas no Método do Arco de Maguerez, citado por
Bordenave e Pereira (1991), conforme descrição a seguir:

Observação da realidade

Neste primeiro momento o grupo observou a realidade (área de abrangência da


USF), a partir daí os alunos revelam suas percepções pessoais, efetuando assim uma primeira
“leitura sincrética” ou ingênua da realidade. Os participantes expressaram seus sentimentos,
dúvidas, atitudes, inquietudes, com relação ao tema proposto, os quais foram colocados em
lâminas e analisadas pelo grupo, relacionando-os sempre com as ações/práticas que o ACS
deve desenvolver no seu cotidiano.

Pontos chave

O facilitador fez uma análise do conhecimento que o grupo tem sobre as ações/
atribuições do ACS preconizadas pelo Ministério da Saúde; estratégia de uma prática
resolutiva, elencando causas e determinantes contextuais que tem dificultado sua atuação.
Para tanto, a discussão poderá ter como guia:

Estratégia Saúde da Família.

O Conceito Chave é o instrumento maior dos facilitadores. É ele que possibilita todo
o desenvolvimento do trabalho educativo, pois é em sua direção que se conduz todo o processo
de caminhar do grupo de aprendizes.

Teorização

Nesta etapa, foi realizada uma exposição de forma sucinta de cada Programa
desenvolvido no PSF, assim como as ações e atribuições do ACS nos respectivos programas,
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de maneira que as dúvidas e perguntas fossem direcionadas ao facilitador, aproveitando todas


as formas de expressão dos participantes, de modo que o fio condutor da discussão estivesse
voltado aos questionamentos e as respostas fossem simples, direta com a co-participação do
grupo.

Hipóteses

O papel dos facilitadores neste momento é de extrema importância, no sentido de


conduzir os passos das discussões anteriores, já agora melhor elaborados. A riqueza das
trocas ocorridas nesta fase tende a proporcionar, tanto ao grupo como aos facilitadores, um
92 momento de aprendizado mútuo ainda maior. Todos devem discutir a fim de formular conceitos
e opiniões e montar estratégias de ação para resolver as problemáticas pertinentes à atuação
do profissional.

Aplicação da Realidade

Almeja-se que os participantes após conclusão do curso, estejam preparados para


atuar nas equipes multiprofissionais do PACS/PSF estreitando as relações e criando vínculos
entre as equipes, as famílias, e a comunidade atendendo as políticas do SUS, firmando-se,
portanto como elo indissociável entre o PSF e a Comunidade.

Avaliação

A avaliação que se deseja para educação profissional na área de saúde tem


compromisso com a educação democrática, que, segundo Bordenave e Pereira (1991), [...]
parte da base que, em um mundo de mudanças rápidas, o importante não são os conhecimentos
ou as idéias, nem os comportamentos corretos e fáceis que se espera, mas sim o aumento da
capacidade do aluno – participante e agente da transformação social – para detectar os
problemas e buscar para eles soluções originais e criativas. Por esta razão, a capacidade que
se deseja desenvolver é a de fazer perguntas relevantes em qualquer situação, para entendê-
las e ser capaz de resolvê-las adequadamente [...].
Partindo deste pressuposto, a avaliação da referida proposta seguirá os princípios
preconizados pela tendência pedagógica ((BRASIL 2003 d), a qual consiste em: reflexão:
deve ser uma ação investigativa e reflexiva; Cooperação: ato coletivo e consensual do qual
participam os envolvidos direta e indiretamente, na ação educativa; continuidade: acompanha
toda a ação pedagógica, identificando o estágio em que se encontra a execução do plano;
integração: é parte integrante da ação educativa, com a qual mantém uma relação dialética:
ela é produto e fator da ação pedagógica; abrangência: atinge todos os componentes da ação
pedagógica, além de estimar o desenvolvimento do aluno, inclui também, o ambiente, os
meios, o professor e sua prática pedagógica, o aluno e seu compromisso com a aprendizagem;
versatilidade: deve se basear em inúmeras aferições, em vários tipos de dados, processando-
se em diferentes momentos.
Associando aos princípios acima citados, utilizam-se três tipos de avaliação no
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processo educativo em pauta: a avaliação diagnóstica, avaliação formativa, a avaliação somativa,


que representam o sumário, a globalização da avaliação formativa e os objetivos alcançados
pelo facilitador.
Enfim, nesta proposta, a avaliação é contínua e permeia todas as fases do “arco”, o
que possibilitará aos facilitadores efetuar modificações, permitindo assim, o desenvolvimento
de atitudes de reflexão nos integrantes do grupo.
Considerações Finais 93

Quando se fala sobre Educação em Saúde, deve-se considerar que a função dos
profissionais da área é contribuir para desenvolver junto à população, a consciência da
necessidade de melhoria da qualidade de vida, para que em conjunto, possam buscar soluções
dentro de um amplo universo de ações.
O agente comunitário de saúde tem no cenário do sistema de saúde do país, um
papel privilegiado, pois é visto pelas autoridades sanitárias como uma espécie de “salvador
da pátria” uma vez que o seu cotidiano demonstra que ele é o trabalhador em saúde que mais
convive com os problemas sociais da comunidade a qual pertence.
Examinar os processos de formação dessa categoria no campo da saúde, é favorecer
a saúde e a coletividade como um todo, é criar um espaço de diálogo entre profissionais da
área da saúde contribuindo para a produção de novos conhecimentos, é analisar as políticas
públicas que envolvem trabalho-educação-saúde em suas implicações teóricas para a formação
de profissionais, problematizando os conceitos de cuidado, de integralidade, e de
democratização da saúde. Desta forma, acredita-se, ser a problematização a opção
pedagógica mais viável frente às situações freqüentemente evidenciadas no que se refere às
dificuldades dos ACSs, quando são “colocados” no papel de educadores da comunidade,
A participação é uma necessidade fundamental do ser humano e através dela, os
indivíduos podem desenvolver uma “consciência crítica”. Mas para que isto aconteça, é mister
a aplicação de formas de abordagem facilitadoras, sendo este o fator que determinou esta
proposta educativa,utilizando o Método do Arco que adequa-se de modo singular ao trabalho
de Educação Profissional, particularmente para formação dos Agentes Comunitários de Saúde.

Referências

BORDANAVE, J. D; PEREIRA, A. M. Estratégias de ensino aprendizado. 20 ed.


Petrópolis: Vozes, 1991.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde.


Políticas de Educação e Desenvolvimento para o SUS: Caminhos para Educação
Permanente em Saúde. Brasília, 1994.

BRASIL. Ministério da Saúde Normas Técnicas do SUS. Diário Oficial da República


Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Federativa do Brasil. Brasília, DF, Poder Executivo, 06 de novembro 1998.

BRASIL. Ministério da saúde. Formação Pedagógica em Educação Profissional:


enfermagem: Núcleo Contextual: educação/trabalho/profissão. Módulo 4. NETO, J. S.
L. do (Coord) et. al., 2. ed. rev e ampliada. Brasília: Ministério da Saúde. 2000.

BRASIL. Ministério da Saúde. Formação Pedagógica em Educação Profissional:


enfermagem: Núcleo Contextual: proposta pedagógica: avaliando a ação. Módulo 8.
94 PROVENJANDO, M. E. (Coord.). MAULIN, N. M. 2. ed. rev ampliada. Brasília: Ministério
da Saúde, 2002.

CARNEIRO, Mª B. Programa Saúde da Família: modelo alternativo para saúde


coletiva. In: FRANÇA, I. S. X de. (Org.). Os ditos e não ditos em saúde coletiva. João
Pessoa: Idéia, 2001.

DIAZ-BORDANAVE. J. Alguns fatores pedagógicos. In: BRASIL. Ministério da Saúde.


Coordenação Geral de Desenvolvimento de Recursos Humanos para SUS. Capacitação
pedagógica para Instrutor/supervisor da área de saúde. Brasília, 1994.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio


de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

MINAYO, M. C.; D’ELIA, J. C.; SVITONE, E. Programa Agente de Saúde do Ceará.


Estudo de Caso. Brasília: UNICEF, 1990. 60p.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Lei no 10.507, de 10 de julho de 2002. Cria a profissão de


agente comunitário de saúde e dá outras providências. Brasília: Ministério da Saúde,
2002.
_______. Normas e diretrizes do programa de agentes comunitários de saúde. PACS,
Portaria no 1886/GM. Anexo um. Brasília: Ministério da Saúde, 1997.

Recebido: 27.12.2008
Avaliado: 05.05.2009

Contato com o autor:


email: karlaalbuq@hotmail.com
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.
TAXA DE INFILTRAÇÃO D’ÁGUA COM APLICAÇÃO DE 95
DIFERENTES DOSES DE NITROGÊNIO

Francisco Jardel R. da Paixão/DEAg/CCT/UFCG


Antônio R. S. de Andrade/DEAg/CCT/UFCG
Carlos A. V. de Azevedo/DEAg/CCT/UFCG
Ticiana L. Costa/CENTC/FATEC
Luciana Façanha Marques/CENTC/FATEC
José Dantas Neto/DEAg/CCT/UFCG

RESUMO

O objetivo deste trabalho é avaliar as alterações na taxa de infiltração e a condutividade


hidráulica de água no solo, submetido às doses de nitrogênio na presença de fontes de adubação
orgânica e verificar se as modificações nestas duas propriedades alcançaram níveis
considerados críticos ao desenvolvimento das culturas. Para tanto, conduziu-se um experimento
em blocos casualizados, em um esquema fatorial adicional [(4 x 2) + 1] com 4 repetições. Os
tratamentos constituíram de quatro doses de nitrogênio [D20, D40, D60 e D80 Kg N. ha-1],
duas fontes de adubação orgânica (torta de mamona – T1 e torta de algodão – T2 t ha-1) e
uma testemunha (solo natural, sem adubo). As medições da taxas de infiltração e da
condutividade hidráulica saturada foram realizadas em campo através de infiltômetro de anel
para quatro profundidades. Os resultados mostraram que a aplicação dos tratamentos doses
de nitrogênio não proporcionaram efeitos significativos ao nível de 5% de probabilidade para
os valores da VIB. Os tratamentos com adubação orgânica testados revelaram diferença
significativa, proporcionando à diminuição da VIB, indicando assim sensibilidade à adubação
com o tratamento torta de algodão (T2). Não houve diferenças significativas para as interações
doses de nitrogênio e fontes de adubação orgânica. Porém, observa-se que houve diferença
significativa entre os tratamentos e a testemunha.
Palavras-chave: Solo, propriedades hidráulicas, irrigação.

WATER INFILTRATION RATE WITH THE APPLICATION


OF DIFFERENT NITROGEN DOSES
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

ABSTRACT

This work aims at assessing the alterations in the infiltration rate and in the hydraulic
conductivity of water in the soil, submitted to the nitrogen doses in the presence of manuring
organic sources as well as at verifying whether the modifications in these two properties
reached the levels considered as critical to the development of the cultures. For so much, an
experiment in random blocks was accomplished, in an additional factorial outline [(4 x 2) + 1]
with 4 repetitions. The treatments consisted of four doses of nitrogen [D20, D40, D60 and
96 D80 Kg N. have-1]; two sources of organic manuring (castor oil plant - T1 and cotton - T2
t ha-1) and a witness (natural soil, without fertilizer). The measurements of the infiltration rates
and the saturated hydraulic conductivity were accomplished in field through ring infiltrometer
for four depths. The results showed that the application of the treatments doses of nitrogen
did not provide significant effects at the level of 5% of probability for the values of VIB. The
treatments with organic manuring tested revealed significant differences, providing decreasing
of the VIB by indicating this sensibility to the manuring with the cotton treatment (T2). There
were not significant differences for the interactions doses of nitrogen and sources of organic
manuring. Nevertheless, there has been significant difference between the treatments and the
witness.
Key-word: Soil, hydraulic properties, irrigation.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.
Introdução 97

A matéria orgânica é um importante componente da fertilidade do solo e seus benefícios


sobre as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo melhoram suas características e
aumentam a produtividade das culturas. A matéria orgânica do solo é constituída basicamente
por restos vegetais e animais em distintos estados de decomposição e na forma de húmus,
sendo o segundo, o resultado final da decomposição, sendo o humos o material efetivamente
capaz de modificar as características do solo. Embora seja importante, a matéria orgânica do
solo constitui-se em uma pequena fração sólida variando de menos de 1% nos solos arenosos
pobres em matéria orgânica à 20%, para solos orgânicos (MELLO et al., 1989).
A prática da adubação orgânica, além de fornecer nutrientes para as plantas,
proporciona melhoria. Nas propriedades físicas e hídricas do solo: aumenta a porosidade,
facilita a infiltração e melhora a capacidade de retenção de água, bem como na condutividade
hidráulica próxima a saturação; diminui a suscetibilidade à erosão, melhora a drenagem e
dificulta as variações de temperatura, além de favorecer o controle biológico de pragas e
doenças, devido à maior população microbiana (AYRS & WESTCOT, 1991).
A matéria orgânica é capaz de fornecer diversos nutrientes essenciais para o
crescimento e desenvolvimento das plantas, tais como: nitrogênio, fósforo, enxofre e
micronutrientes. Tem com principal função o fornecimento desses nutrientes na correção de
toxidez, melhorador e condicionador das características fisico-químicas e biológicas das plantas.
A matéria orgânica também atua diretamente na biologia do solo, constituindo uma fonte de
energia e de nutrientes para os organismos que participam de seu ciclo biológico.
O nitrogênio é um dos elementos mais importantes de todo ecossistema (SAINJU et
al., 1999). O nitrogênio é essencial ao crescimento e à produção das plantas cultivado sendo,
na maioria dos casos, o elemento que mais causa acentuados problemas de deficiência
nutricional.

Material e métodos

O experimento foi conduzido na área experimental da Empresa Estadual de Pesquisas


Agropecuárias – EMEPA, localizada no município de Lagoa Seca-PB. A área experimental
escolhida para o estudo, cultivada com gergelim com irrigação por aspersão, tem uma área
de 5.074 m2, sendo a unidade experimental com de 1.386 m2.
A unidade experimental foi dividia em nove parcelas por bloco, sendo que a área de
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

cada parcela representará os tratamentos (total de 9 tratamento por bloco), totalizando uma
área de 14m2 (4m x 3,5m). No centro de cada uma destas parcelas, foram aplicados os
tratamentos e realizados as determinações da taxa de infiltração da condutividade hidráulica
do solo saturado e demais propriedades físicas e hídricas do solo (figura 1).
98

Figura 1: Croqui da área experimental (a) e Diagrama Esquemático da área experimental (b)

A taxa de infiltração de água no solo e a condutividade hidráulica do solo saturado


(KS) na unidade experimental foram determinadas noventa dias após a colheita do gergelim
que havia sido plantado na área através de medidas de infiltração de água no solo pelo
método do cilindro infiltrômetro, conforme a metodologia descrita por Libardi (1995), pois
permitirá a computar a condutividade hidráulica investigando a velocidade final de infiltração
(Vf) dos testes realizados na unidade experimental.
Foram utilizados quatro tratamentos de adubação nitrogenada (via adubação orgânica),
dois tratamentos de matéria orgânica e uma testemunha para avaliar as alterações na taxa de
infiltração e a condutividade hidráulica de água no solo. Quanto à fonte de nitrogênio, foram
os adubos orgânicos com os valores de 20 (D20), 40 (D40), 60 (D60) e 80(D80) equivalentes
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

aos níveis de nitrogênio em Kg de N ha-1. Com relação às fontes de matéria orgânica, foram
utilizados dois tratamentos compostos, a dizer: torta de mamona (T1) e torta de algodão
(T2).
O experimento seguiu um delineamento em blocos casualizados em esquema fatorial
[(4 x 2) +1] mais um tratamento adicional com quatro repetições perfazendo um total de
nove parcelas por bloco.
Também foi incluída uma testemunha como tratamento, sem adubo. As combinações
dos tratamentos das doses e fontes de nitrogênio foram arranjadas considerando o tratamento
torta de mamona (T1) em combinação com 20 kg N ha-1, denominado de T1D20. As demais
combinações seguiram o mesmo padrão.
Resultados e discussões 99

Pode-se observar que, no início do processo, a taxa de infiltração foi relativamente


rápida para os tratamentos das quatro doses de nitrogênio [20 (D20), 40 (D40), 60 (D60) e
80 (D80) Kg N. ha-1], duas fontes de adubação orgânica (torta de mamona – T1 e torta de
algodão – T2) e uma testemunha (solo natural, sem adubo) que decresce até um valor
aproximadamente constante.
O comportamento da distribuição da taxa de infiltração após 180 min é semelhante.
Observa-se que a aplicação dos tratamentos doses de nitrogênio (D) não proporcionaram
diferenças efetivamente significativas nos valores da VIB. Para os tratamentos testados com
adubação orgânica (A), houve diferença estatística, proporcionando à diminuição da VIB,
indicando assim sensibilidade à adubação com o tratamento torta de algodão (T2). Verifica-
se também que não houve diferenças significativas para as interações D x A, indicando não
existir uma dependência entre os efeitos de pelo menos uns dos níveis dos fatores ‘doses de
nitrogênio’ e ‘fontes de adubação orgânica’. Porém, observa-se que houve diferença
significativa entre os tratamentos e a testemunha (fator adicional).

Tabela 1 - Valores médios da velocidade de infiltração básica de água no solo (VIB), submetido
às diferentes doses de nitrogênio e fontes de adubação orgânica

Doses de Velocidade de infiltração básica (VIB) – cm/h -1


nitrogênio (D) Fontes de adubação orgânica (A) – t/há -1
Kg/há -1 Torta de mamona Torta de algodão M édias
(T1) (T2)
20 2,74 aA 2,16 bA 2,45 A
40 2,40 aA 2,60 aA 2,50 A
60 2,83 aA 1,43 bB 2,13 A
80 2,08 aA 1,73 bA 1,91 A
Médias 2,51 A 1,98 A 2,24
Médias seguidas da mesma letra, minúscula na linha e maiúscula na coluna, não diferem estatisticamente
entre si, pelo teste de tukey a 5% de probabilidade. D.M.S.: 1,02 p/ o fator A e 1,10 p/ o fator D, nas
interações.

Os resultados da análise comparativa das médias pelo teste Tukey, revelam que,
para as diferentes doses de nitrogênio (D) dentro de cada tratamento com adubação (A),
somente o tratamento de dose 40 Kg.ha-1 obtido na presença do tratamento T2 mostrou
diferença significativa (p < 0,05) para os valores da VIB, sendo o menor valor 1,43 cm.h-1.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Esses resultados da VIB, com aplicação da torta de algodão, podem está refletindo o fato de
existir um aumento de teor na matéria orgânica e, consequentemente, tem-se uma melhor
capacidade de retenção de água no solo e de infiltração, bem como na condutividade hidráulica
saturada pelo aumento da porosidade total e diminuição da densidade em solo arenoso
(BARBOSA et al., 2002). Observa-se também que não houve diferenças estatísticas entre
os valores da VIB submetidos ao tratamento T1 em relação a qualquer uma das doses de
nitrogênio em análise, tendo os maiores valores da VIB (2,74 e 2,83 cm.h-1) para as doses de
20 e 60 Kg.ha-1, respectivamente.
Com base na Figura 2, observa-se que somente as combinações do fator torta de
algodão (T2) e dose 60 Kg.ha-1 (T2 D60) tiveram influência significativa na alteração da VIB
100 em relação à testemunha. Apesar de não haver diferença significativa (p < 0,05) com as
demais combinações de tratamento, observa-se que o valor da VIB no solo diminuiu a partir
da dose 60 Kgh-1, combinado com a torta de algodão.

Observou-se que os valores de VIB (Figura 2) tiveram altos coeficientes de


determinação (R2) com o ajuste da equação de forma polinomial de 3o grau, com valores
altos e baixos para os intervalos das doses entre 20 a 40 e 40 a 80Kg.h-1, respectivamente,
na presença do tratamento T2 e a situação inversa ocorreu na presença do tratamento T2.
Também, foi observado que os valores médios da VIB foram mais altos na presença do
tratamento T1.

Considerações finais

Observou-se que as diferentes doses de nitrogênio (D) dentro de cada tratamento de


adubação orgânica (A), somente o tratamento de dose 40 Kgha-1 na presença do tratamento
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

T2 apresentou diferença estatística ao nível de 5% de probabilidade para os valores médios


da VIB e que, para o tratamento T1, não houve influência significativa em relação aos valores
médios da VIB na presença de qualquer uma das doses de nitrogênio em estudo. Não existe
dependência entre os efeitos de alguns desses fatores em estudo. Somente a combinação do
fator torta de algodão (T2) e dose 60 Kg.ha-1 (T2D60) tiveram influência significativa na
alteração da VIB em relação à testemunha
Referências 101

AYRS, R.S & WESTCOT, D.W. A qualidade da Água na Agricultura. Tradução: H, R,


Gheyi e J. R, Medeiros. Campina Grande, PB. UFPB/PRAI/CCT. 218p. Tradução de Water
Quality for Agriculture. FAO, Rome, 1985, 1991.

BARBOSA, G. M. C.; TAVARES FILHO, J.; FONSECA, I. C. B. Condutividade


hidráulica saturada e não Saturada de um latossolo vermelho eutrofico tratado com
lodo de esgoto. Ver. Brás. de Ciências do solo, Viçosa, MG: p. 403-407, 2004.

LIBARDI, P.L. Dinâmica da Água no Solo. Piracicaba – ESALQ, 1995, 497p.

MELLO. F. A. F; et al. Fertilidade do Solo. 3. ed. Piracicaba-SP: Nobel, 1989. 400p.

SAINJU, U. M.et al. Soil nitratenitogen under tomato follwing tillage, cover cropping,
and fertilization. Journal of Enviromental Quality, Madison, v.28, n.6, p. 1837-1844,
1999.

Recebido: 05.06.2007
Avaliado: 28.12.2008

Contato com o autor:


email: jardel.paixao@gmail.com

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102 PSICOMOTRICIDADE: UM PASSO PARA VENCER
AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Eliane Dutra Fernandes/FUNAD

RESUMO

Psicomotricidade e aprendizagem são um tema vasto, amplo e complexo, notadamente


quando se adentra nas dificuldades de aprendizagem. Este trabalho enfoca a psicomotricidade
dentro de uma ótica que a coloca como um passo para vencer as dificuldades de aprendizagem.
Depois de dar algumas definições de Psicomotricidade, apontar seus elementos básicos, e,
após repassar algumas definições de dificuldades de aprendizagem e outras noções inerentes
a essas dificuldades, passa-se à descrição de alguns procedimentos e exercícios mediante os
quais o educador pode favorecer a atuação da psicomotricidade no sentido de vencer as
dificuldades de aprendizagem.
Palavras-chave: Educação, linguagem, reeducação infantil.

PAYCOMOTRICIDADE: UM PAS GAGNER LES DIFFICULTÉS


D’APPRENTISSAGE

RÉSUMÉ

Psycomotricité et apprentissage est um thèmme vaste et complexe, notoirement, quand


se projecte dans les difficultés de l´apprentissage. Et celui-ci est l´objectif de notre travail, de
détacher la psycomotricité comme une perspective de vaincre les difficultés d´apprentissage.
Ce travail c´est um travail de coin theorique et son importance se rencontre en réveiller dans
les éducateurs stratégies de recevoir les enfants qui presentent quelque diffculté d´apprentissage.
Mots-clef: Éducation d’enfant, langue, reeducation.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.
Introdução 103

O tema aqui tratado é de grande importância, uma vez que a maioria das crianças
que têm dificuldades de aprendizagens na escola, tem dificuldades na percepção espacial, na
lateralidade, na leitura, na escrita, na aritmética, e muitas apresentam letras irregulares e pouco
legíveis, sendo isso uma preocupação freqüente de todo educador que se depara com crianças
nessas condições.
Ao tratarmos da matéria, investigamos, sobretudo, quais contribuições a
psicomotricidade como ciência oferece a essas crianças.
Por outro lado, para a criança que não possui dificuldades na aprendizagem, a
educação psicomotora em muito facilitará o seu desenvolvimento e aprendizagem, através da
educação física sistemática e ordenada, valendo salientar que a criança que tem problemas
no seu desenvolvimento e aprendizagem necessita, muitas vezes, de uma reeducação
psicomotora, ou seja, um trabalho voltado à provocação, readaptação, substituição ou
complementação, tendo em vista possíveis funções prejudicadas.
Observe-se, ainda, que a psicomotricidade, muitas vezes, é interpretada de forma
errônea, pois muitos acreditam que o objeto de estudo da psicomotricidade seja apenas o
movimento, cada vez mais perfeito, como um fim em si mesmo. Dentro dessa compreensão
muitos professores estimulam seus alunos a treinamentos intensivos, sem perceberem que
estão desenvolvendo gestos automáticos e mecânicos. (OLIVEIRA,1996 p.176).
A criança, quando entra na escola, necessita ter um desenvolvimento neuro-psicomotor
que envolva a independência do ombro, braços e dedos e as funções psicológicas na sua
integridade. Assim, a criança consegue fixar a atenção, ter domínio do próprio corpo, favorecida
portanto pela educação psicomotora.
Este trabalho tem um olhar psicopedagógico, no qual a preocupação maior é a
aprendizagem humana, e a sua vinculação de um trabalho a uma outra área específica de
conhecimento, qual seja, a psicomotricidade.

A Psicomotricidade frente às dificuldades de aprendizagem

Ao enfocar a questão da psicomotricidade frente às dificuldades de aprendizagem,


não se pode deixar de enfatizar o processo de desenvolvimento e crescimento da criança,
que pode ser global, integrado e interdependente.
Para que uma criança tenha uma aprendizagem satisfatória, é necessário que seu
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desenvolvimento psicomotor seja harmonioso, em que a motricidade apresente-se como


reação global e os fenômenos motores e os psicológicos se entrelacem.
Para Vigotsky (1995), o desenvolvimento do sujeito humano se dá a partir das
constantes interações com o meio social em que vive e as formas psicológicas mais sofisticadas
que emergem da vida social. Necessário e importante é que a criança tenha um ambiente
adequado para o seu desenvolvimento.
A criança pequenina depende de outros para a sua sobrevivência, e, nesse período,
já inicia uma relação muito intensa com a sua mãe. Segundo FONSECA (1995) a criança,
nos seus primeiros anos de vida, quando ainda está pouco diferenciada nas diversas áreas de
seu desenvolvimento, terá manifestações orgânicas e psicossomáticas diante de problemas
enfrentados nas suas relações, especialmente com a mãe e em função de suas condições de
104 vida. O autor afirma que a origem do problema de aprendizagem pode estar relacionada com
o modelo de relação vincular que cada criança estabelece e que foi desenvolvido e articulado
com a sua mãe, num determinado contexto familiar. Esse modelo tende a ser reproduzido na
escola.
NASCIMENTO e MACHADO (1986) descrevem o processo de desenvolvimento
da criança, revelando que, aos doze meses, essa criança já usa de 4 a 5 palavras, já é capaz
de ficar de pé, locomover-se apoiado; aos dezoito meses, já empurra uma bola com o pé vira
duas ou três páginas de um livro de cada vez tem marcha ligeira e corrida dura constrói torres
de 3 cubos e domina cerca de trinta palavras. Aos 24 meses corre sem cair, sobe escadas
sozinha, usa o pronome possessivo meu, acompanhado de um substantivo, chuta a bola,
emite círculos na escrita e faz frases de três palavras. Aos sessenta meses (5 anos), a criança
já se equilibra na ponta dos pés, arma quebra-cabeça, coloreia dentro do limite, escova os
dentes, penteia-se e lava o rosto, saltita sem dificuldade. Aos setenta e dois meses (6 anos),
a criança já é capaz de desenhar livremente com leve pressão sobre o lápis, escreve e reconhece
letras de imprensa, às vezes inverte na cópia, e já domina de 1000 a 1200 palavras.
Geralmente quando a criança, em idade de estudar, entra para a escola, é que se
percebe se ela possui algum problema de ordem psicomotora ou de dificuldade de
aprendizagem.
Segundo MEUR (1991), em uma criança cujo esquema corporal é mal constituído,
nota-se que ela não coordena bem os movimentos. Percebe-se atraso ao se despir, tem letra
feia, a leitura expressiva não é harmoniosa ou não segue o ritmo da leitura ou então pára no
meio da palavra. Este comentário do autor leva à compreensão do quanto é importante o
desenvolvimento psicomotor do individuo e sua relação com a aprendizagem.

Definições de Psicomotricidade

As definições de psicomotricidade seguem a um caminho de esperança, na questão


da pesquisa e de soluções a problemas nas crianças com dificuldades de aprendizagem, pela
força com que se exprimem os seus defensores e pelas possibilidades que elas sugerem.
Vejamos o que dizem.
Psicomotricidade é a relação entre o pensamento e a ação, envolvendo a emoção.
Como ciência da educação, procura educar o movimento, ao mesmo tempo em que desenvolve
as funções da inteligência. (NASCIMENTO e MACHADO, 1986).
Entende-se que um acompanhamento a uma criança ou jovem em que prevaleça
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essa concepção, haverá maior possibilidade de conhecê-la de uma forma integral. Assim
sendo, diz-se que um trabalho, que nasce com clareza, possibilitará encará-lo com efeitos
positivos.

“a psicomotricidade é uma ciência encruzilhada ou, mais


exatamente, é uma técnica em que se cruzam múltiplos pontos de
vista, a qual utiliza as aquisições de numerosas ciências construídas
(biologia, psicologia, psicanálise, sociologia e lingüística)”. E
diz mais que a psicomotricidade é uma terapia que se dispõe a
desenvolver as faculdades expressivas do indivíduo, aludindo à
expressão “terapia psicomotriz”. (COSTE, 1981, p. 9)
Como ciência, a psicomotricidade tem por estudo o homem, através do seu corpo 105
em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo.

Elementos básicos da Psicomotricidade

Nos currículos de educação infantil e nas séries iniciais da educação fundamental


destacam-se componentes importantes da psicomotricidade, a dizer esquema corporal,
lateralidade, estrutura espacial, orientação temporal e pré-escrita. Esses são os elementos
básicos da psicomotricidade, discutidos a seguir.

Esquema corporal - Para ALVES, “o esquema corporal não é um conceito inicial


ou uma entidade biológica ou física, mas o resultado e a condição da justa relação entre o
indivíduo e o próprio ambiente. É um elemento básico indispensável à formação da
personalidade da criança. É a representação global, científica e diferenciada que a criança
tem de seu próprio corpo”.
Quando se diz “Esta criança está bem à vontade”, estende-se que ela domina bem o
seu corpo e sabe como utilizá-lo. Isso ajuda no seu bem estar, facilitando também as suas
relações interpessoais.

Lateralidade - A dominância lateral é definida durante o crescimento da criança.


Isto quer dizer que a dominância se dá pelo lado mais forte, mais ágil da pessoa, que pode ser
tanto o lado esquerdo como o direito.
Ao se falar em direita e esquerda, não se deve confundir com lateralidade. Enquanto
a lateralidade é a dominância de um lado em relação ao outro em nível de força e de precisão,
o conhecimento direita e esquerda decorre da noção de dominância lateral. Esse conhecimento
torna-se mais fácil de apreensão quando a lateralidade é mais acentuada e homogênea.
(MEUR,1991)
Quando a lateralidade é homogênea a criança é destra ou canhota do olho, da mão e
do pé. Quando tem a lateralidade cruzada, ela é destra da mão e do olho, e canhota do pé;
sendo ambidestra, a criança é tão forte e destra do lado esquerdo quanto do lado direito.
(MEUR, 1991).
Quando há contrariedade na dominância lateral, alguns problemas podem ocorrer,
tais como: dificuldade no equilíbrio, em coordenar seus movimentos, dificuldade na grafia, na
estruturação espacial, podendo ocasionar na criança, reações ou insucesso, oposição, de
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fobia escolar, que afetam todo o afetivo da criança ocasionando dificuldades gerais na
aprendizagem. ( ALVES, AVM, p.8 s/d).

Estruturação espacial - Para M. Tasset, (apud Meur, 1991. p. 13) a estruturação


espacial é “a orientação, a estruturação do mundo exterior, referindo-se primeiro ao seu
referencial e depois a outros objetos ou pessoas em posição estática ou em movimento”.
Isso explica que a criança deve se situar no espaço, saber onde está, onde estão os
objetos, uns em relação aos outros e em relação a ela própria, assim também como ela pode
se organizar no espaço que a ela é disponível.
106 Problemas na criança, de estruturação espacial, podem levar a dificuldades na
discriminação visual, na capacidade de orientar-se e, ainda, levar a confundir n e u, ou e on,
b e p, 6 e 9, durante a sua aprendizagem escolar.
Através do conhecimento e domínio espacial a criança começa a entender e aprender
comandos como, ir para frente, ir para trás, para frente, para direita.

Orientação temporal - Segundo MEUR (1991), a estruturação temporal, apresenta-


se como a capacidade que a pessoa tem de situar-se em função de sucessão de
acontecimentos, como: antes, após, durante; e da duração dos intervalos, como: noções de
tempo longo, curto, de ritmo regular, irregular; noções de cadências rápidas e lentas (diferença
entre correr e andar); de renovação cíclica de certos períodos; dias da semana, os meses, as
estações, do caráter irreversível do tempo; o que já passou e não pode mais reviver.
É importante que a criança, desde cedo, seja estimulada com atividades que a levem
a perceber o tempo. Na realidade a ação do homem está sempre vinculada ao tempo. O dia-
a-dia mostra formas interessantes para a compreensão dessa relação, por exemplo: a hora
de ir para a escola, das refeições, os dias feriados. Essa relação ajuda a criança adquirir as
noções de duração e rapidez e aprender a organizar-se.

Pré-escrita - A estruturação espacial e orientação temporal, são pontos importantes


que fundamentam a escrita, juntamente com o domínio do gesto. No exercício da escrita,
precisa-se que se escreva horizontalmente da esquerda para a direita, e que se adquiram as
noções de cima para baixo. (MEUR,1991).
Importante que se trabalhe na criança exercícios que a levem ao preparo para a
escrita, e que lhe sejam dadas oportunidades de realizar exercícios espontâneos, que
possibilitarão o domínio com o lápis.
Neste ponto, vistos os elementos básicos da psicomotricidade e já que a proposta é
considerá-la como um passo para vencer as dificuldades foram dadas algumas de suas
definições.

Sobre as dificuldades de aprendizagem

A literatura especializada mostra que são vários os conceitos em relação à dificuldade


de aprendizagem. São utilizados termos como distúrbios de aprendizagem, distúrbios
psiconeurogênicos de aprendizagem, disfunção cerebral mínima, dislexia e outros, dificultando
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em muito o entendimento na classificação e na avaliação de crianças com problemas na


aprendizagem.
Dentre as muitas definições de dificuldades de aprendizagem a que reúne maior
consenso por investigadores no assunto e relevantes instituições cientificas, é a do National
Joint Committee of Learning Disabilities – NJCLD, 1988, que diz:

“Dificuldades de aprendizagem (DA) é um termo geral que se refere


a um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por
dificuldades significativas na aquisição e utilização da
compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do raciocínio
matemático. Tais desordens, consideradas intrínsecas ao indivíduo,
presumindo-se que sejam devidas a uma disfunção do sistema
nervoso central, podem ocorrer durante toda a vida. Problemas 107
na auto-regulação do comportamento e na percepção social
podem existir com as DA. Apesar de as DA ocorrerem com outras
deficiências (por exemplo, deficiência sensorial, deficiência mental,
distúrbios sócio-emocionais) ou com influências extrínsecas, (por
exemplo, diferenças culturais, insuficiente ou inapropriada
instrução, etc.) elas não são resultado dessas condições.” (Apud
Fonseca, 1995, p.)

Kirk, (Illinois Test of Psycholinguistic Abilities), define dificuldade de aprendizagem


considerando um atraso, uma desordem ou imaturidade em um ou mais processos, incluindo
a linguagem falada, a leitura, a caligrafia ou a aritmética, como resultado possivelmente de
uma disfunção cerebral e/ou distúrbios de comportamento, e não dependentes de uma
deficiência mental, de uma privação cultural ou de um conjunto de fatores psicológicos (apud
Fonseca,1995, p. 194).
Myklebust, (Auditory Disorders,1964; Pyschology of Deafness,1972; Progress in
Learning Disabilities, 1975, 1976, 1977, 1978) define-a como “desordens psiconeurológicas
de aprendizagem reconhecendo os déficits na aprendizagem em qualquer idade e que são
desvios no sistema nervoso central (SNC), essencialmente causados e não devidas ou
provocadas por privação sensorial, deficiência mental ou por fatores psicogenéticos” (Apud
Fonseca, 1995, p. 194).
Um relatótio da National Advisory Committee on Handicaped Children ( 1968) explica:

“Uma criança com DA é uma criança com aptidões mentais,


adequados processos sensoriais, estabilidade emocional, que tem
um limitado número de deficiências específicas, nos processos
perceptivos, integrativos ou expressivos que impedem a eficiência
de aprendizagem. Estão também incluídas crianças que tenham
disfunções do sistema nervoso central, que são expressas
fundamentalmente por uma privação na eficiência da
aprendizagem” (apud Fonseca, 1995, p. 194)

Releva notar que as crianças com dificuldade de aprendizagem exibem igualmente


uma ou mais desordens nos processos psicológicos básicos e que estes, estão envolvidos na
compreensão e na utilização da linguagem escrita e falada.
As dificuldades podem ser manifestadas por desordens: na recepção da linguagem e
compreensão, no pensamento, na expressão oral, na leitura, na escrita, na ortografia ou na
aritmética. Tais dificuldades incluem deficiências perceptivas (handicaps), lesões cerebrais,
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dislexia, afasia evolutiva, etc. Estas dificuldades não incluem problemas de aprendizagem que
são principalmente resultantes de deficiência visual, auditiva ou motora, debilidade mental,
distúrbios emocionais ou desvantagens sócio-culturais (Report da National Advasory
Commitee on Handicaped Children (1968) (Apud Fonseca, 1995).
Na maioria dos casos a dificuldade de aprendizagem normalmente envolve a questão
perceptivo-motora e outras como dificuldades de orientação espacial e sucessão temporal e
psicomotora, que impedem a ligação entre os elementos constituintes da linguagem e as formas
concretas de expressão que as simbolizam. É vista, portanto, como sendo a dificuldade de
aprendizagem uma irregularidade biopsicossocial do desenvolvimento global e dialético da
criança.
108 Não obstante, o caráter rápido dessas considerações, faz-se importante introduzir a
definição de dislexia, denominada como dificuldades especificas de aprendizagem, segundo
SELIKOWITZ (2001) por considerá-la importante na investigação da pessoa que apresenta
dificuldades na sua aprendizagem, especificamente na leitura. Define o autor como dificuldade
especifica de aprendizagem:

“Uma condição inesperada e inexplicável, que ocorre em uma


criança de inteligência média ou superior, caracterizada por um
atraso significativo em uma ou mais áreas de aprendizagem.
(Selikowitz, 2001, p.4)

SELIKOWITZ (2001) diz que esse termo “dificuldade específica de aprendizagem”,


para que tenha algum significado, deve ser utilizado somente com crianças que tenham
consideráveis dificuldades para aprender, que estejam fora da média. Ao falar em média, a
questão já passa a avaliação e diagnóstico da criança, sobre o que nesse trabalho não vamos
nos deter.
Em relação às dificuldades especificas de aprendizagem, são várias as teorias
que as explicam, e que são bastantes relevantes para um estudo mais aprofundado, no caso
dislexia. São elas: teorias sobre causa subjacente, que englobam, fatores genéticos e
ambientais; teorias sobre lesão cerebral, malformação, disfunção e maturação,
compreendendo as teorias da lesão cerebral indetectável, da malformação mínima, da disfunção
cerebral mínima e a teoria da lenta progressão maturacional; teoria da falha da dominância
cerebral e teoria do déficit no processamento de informações.

Algumas características de crianças com dificuldades de aprendizagem

Aqui, é imperioso consertar sobre o conhecimento de algumas características da


criança com dificuldades de aprendizagem. Tal criança caracteriza-se por uma inteligência
normal, por adequada acuidade sensorial, tanto no campo auditivo, como no visual,
percebendo-se nela ajustamento emocional e perfil motor adequado. Como diz Fonseca
(1988 ou 1985?), não possui inferioridade intelectual global, deficiência visual, auditiva, e
seus sistemas sensoriais encontram-se intactos. Não se evidenciam perturbações emocionais
severas, nem apresenta motricidade disfuncional.
São citadas como principais características as dificuldades nos processos simbólicos
entendidos como fala, leitura, escrita, aritmética etc. Também uma discrepância no seu potencial
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de aprendizagem e uma diversidade de comportamentos que podem ou não ser provocados


por disfunção psiconeurológica. Freqüentemente apresenta dificuldades no processo de
informação, tanto no nível receptivo como no integrativo e expressivo.
Não se pode deixar de citar os sintomas de uma criança disléxica, segundo IANHEZ
e NICO (2002), que dizem apresentar o disléxico: desempenho inconstante, demora na
aquisição da leitura e escrita, lentidão nas tarefas de leitura e escrita, mas não nas orais;
dificuldade com os sons das palavras e concentração; escrita incorreta, com troca, omissões,
junções e aglutinações de fonemas; dificuldade em associar o som ao símbolo, dificuldade
com rimas (sons iguais no final das palavras) e aliteração (sons iguais no inicio das palavras),
discrepância entre as realizações acadêmicas, as habilidades lingüísticas e o potencial cognitivo;
dificuldade em associações, como associar os rótulos aos seus produtos, dificuldade para
organização seqüencial, as letras do alfabeto, os meses do ano, tabuada etc.; dificuldade em 109
organizar-se no tempo (hora), no espaço (antes e depois) e direção (direita e esquerda);
dificuldade em memorizar números de telefone, mensagens, fazer anotações, ou efetuar alguma
tarefa que sobrecarregue a memória imediata; dificuldade em organizar suas tarefas, dificuldades
com cálculos mentais, desconforto ao tomar notas e/ou escrever, persistência no mesmo
erro, mesmo contando com ajuda profissional. Estas podem se manifestar de forma isolada
ou combinada, conforme cada disléxico.
Dificuldades específicas de aprendizagem, para SELIKOWITZ 2001, devem,
rigorosamente falando, ser denominadas de idiopáticas especificas de aprendizagem, o que
quer dizer que sua causa é desconhecida.

Problemas Psicomotores - São inúmeros os trabalhos e estudos em torno das


crianças com dificuldades de aprendizagem, realizados, entre outros, por Ajurriaguerra,
Kephort, Benton, Getman, Frosting, Luria.
A maioria das crianças com dificuldades de aprendizagem, mesmo apresentando
bom controle postural e boa coordenação de movimentos, apresenta um perfil psicomotor
dispráxico. É dito que nessas crianças os movimentos são exagerados (dismétricos), rígidos
e descontrolados (não seguem uma seqüência espaço-temporal organizada).
O tronco, em relação aos membros inferiores pode evidenciar da mesma forma um
grau de extensibilidade exíguo, o que compromete o controle postural e o desenvolvimento
das aquisições de locomoção.
Notam-se nas crianças com dificuldades de aprendizagem paratonias (dificuldades
de relaxamento voluntário), disdiadococinesias (dificuldades em realizar, subseqüentemente,
movimentos alternados e opostos – bater com a mão esquerda e mexer com a mão direita),
sincinesias (movimentos imitativos, parasitas e desnecessários da boca, língua e face ou de
membros contralaterais).
A organização motora da criança com dificuldades de aprendizagem apresenta-se
com algumas anomalias de base, que são a tonicidade, postura, equilibração e locomoção, o
que afeta a organização psicomotora, representada por lateralização, imagem do corpo e
estruturação espaço-temporal.
Percebe-se a necessidade, segundo Fonseca, de uma observação precoce do
problema motor e da psicomotricidade em crianças com dificuldades de aprendizagem, o
que segundo ele, pode-se constituir um meio para identificar a tempo as dificuldades, estas
que a escola tem holisticamente de compensar e enriquecer, o que oportunizará maximizar os
potenciais de aprendizagem dessas crianças.
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Problemas cognitivos - As análises em relação aos processos cognitivos mais


complexos constatam o envolvimento das aprendizagens simbólicas, como a leitura, a escrita
e o cálculo.
Uma das atividades cognitivas que necessita de significações de símbolos visuais é a
leitura, ou seja, a conversão dos símbolos em significações. Isso só ocorre através da
experiência vivida e interiorizada pelo indivíduo. A interiorização de letras e palavras impressas,
a partir de aquisições cognitivas básicas, em muitas crianças com dificuldades de aprendizagem
se encontram fragilmente consolidadas e reestruturadas.
110 Compreende a leitura uma dupla atividade simbólica, em que os símbolos escritos
(grafemas) se transformam em equivalentes falados (fonemas) e que substanciam a linguagem,
quando apreendidos anteriormente e fixados em experiências representativas.
A leitura, portanto, coloca em processo uma aprendizagem e igualmente um duplo
sistema simbólico, onde um variado número de aquisições cognitivas são ainda pouco
conhecidas ou até mesmo ignoradas.
O primeiro sistema simbólico, a linguagem falada, onde armazenam-se as experiências,
significações, informações, conhecimentos e outros, não é o que a leitura utiliza inicialmente.
A leitura utiliza um sistema de um sistema (2º sistema simbólico) que possibilita traduzir um
equivalente visual em um equivalente auditivo, com isso transfere a informação em processo
sensorial para outro, até que seja compreendida significativamente. Esse processo onde se
dá a transferência, grafema-fonema, consta de uma operação complexa, vista como o segredo
do acesso à significação através da leitura. Para que se tenha uma compreensão, a visão
serve-se inicialmente da experiência anterior auditiva, para adquirir significações, desenvolvidas
estas no seu próprio sistema (intra sensorialmente). Daí a leitura surge como um sistema
simbólico secundário, segundo FONSECA (1995), alicerçado no primeiro sistema simbólico
que se refere a linguagem falada, (receptiva expressiva), que depende da linguagem anterior.
Existe a leitura oral como expressão verbal exata da linguagem escrita. Diferentemente
da leitura silenciosa, em que a expressão verbal não tem envolvimento, a leitura oral tanto
envolve uma percepção e uma memória visual apropriadas, que, aparece no leitor
experimentado, a uma velocidade de centésimos de segundo; vista em uma relação sinal-
som, inequívoca de grafético-fonemas, necessários à produção verbal, como também de
uma relação fonema-monema, necessária para a fluência e produção oral.
A palavra escrita e sua relação com o sistema simbólico de significação, para Fonseca,
é uma operação cognitiva que envolve processos neuropsicológicos específicos, entendida
como: codificação e decodificação, percepção e memória, transdução e tradução de uns
sistemas em outros, etc.
Diferenciam-se, dentre esses processos cognitivos, os de conteúdo (não
verbal e verbal) processos sensoriais (auditivo-visuais, tátil-quinestésicos, quer sejam intra-
sensoriais, inter-sensoriais e integrativos) e processos de hierarquização da aprendizagem
(percepção, imagem, simbolização e conceituação). (FONSECA, 1995, p. 272)

Contribuições da psicomotricidade nas dificuldades de aprendizagem


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É comum verificar que enquanto alguns alunos se movimentam com muita destreza,
participam de brincadeiras, correm e em sala de aula não apresentam qualquer problema de
aprendizagem, outros mostram-se diferentes, embora tenham inteligência normal. Esses são
desastrados, têm movimentos lentos, não conseguem pegar no lápis, possuem postura relaxada,
falta de concentração, de entender ordem e de assimilar muitos conceitos. (OLIVEIRA,
1996)
Ajuriaguerra (apud Oliveira, 1996) afirma ser um erro estudar a psicomotricidade
apenas por um prisma do plano motor, sem estar acompanhada de um mental:

“É pela motricidade e pela visão que a criança descobre o mundo


dos objetos e é manipulando-os que ela descobre o mundo; porém
esta descoberta a partir dos objetos só será verdadeiramente 111
frutífera quando a criança for capaz de segurar e de largar, quando
ela tiver adquirido a noção de distância entre ela e o objeto que
ela manipula, quando o objeto não fizer mais parte de sua simples
atividade corporal indiferenciada”. (apud Oliveira, 1996, p.177/
178)

A contribuição dada pela psicomotricidade ao individuo, proporciona algumas


condições de aprendizagem. Segundo OLIVEIRA (1996, p.176) “a psicomotricidade propõe-
se permitir ao homem sentir-se bem na sua pele, permitir que assuma como realidade corporal,
possibilitando-lhe a livre expressão do ser”.
Na obra de NASCIMENTO (1986, p. 1), encontramos que “sem o suporte
psicomotor o pensamento não poderá ter acesso a símbolos e à abstração”. Complementamos
com o pensamento de Freire ao dizer “que o acesso a símbolos significa acesso à representação
mental das ações. A criança imagina, reflete, raciocina, conferindo esta construção com um
saber fazer físico e mental”.
A ocorrência da adaptação da inteligência ao meio ambiente, requer do indivíduo
primeiramente uma manipulação adequada de objetos que estão ao seu redor (OLIVEIRA,
1996 – p. 177).
A mesma autora, avança quando diz que quando uma criança percebe os estímulos
do meio, através de seus sentidos, de seus sentimentos e sensações, e age sobre o mundo e
sobre os objetos que o constituem, através do movimento corporal, ela está ampliando,
experienciando e desenvolvendo suas funções intelectivas. Porém, afirma que para que a
psicomotricidade se desenvolva, é preciso que a criança tenha uma inteligência suficiente
para levá-la ao desejo de experienciar, comparar, classificar e distinguir os objetos.
Segundo OLIVEIRA (1996), a psicomotricidade, tem a preocupação com o
movimento, porém como um meio, um suporte que ajuda a criança a adquirir o conhecimento
do mundo. É através do seu corpo, do sentar, da manipulação dos materiais que estão a sua
volta, que ela tem a oportunidade de descobrir-se.
A educação do movimento de que Le Boulch (apud Oliveira, 1996) fala, é entendida
como um meio para o alcance de aprendizagens mais elaboradas.
Em relação a educação de movimento, Freire (apud Oliveira, 1996), considera
necessária sua aprendizagem na escola, através de uma educação sistemática e cada vez
mais coordenada. Coloca que alguns professores têm a visão da psicomotricidade como
uma educação para o movimento, entendendo que as habilidades motoras têm um fim em si
mesmas. Sendo assim, se deixa de analisar o movimento com todas as características o que
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a torna em relação às aprendizagens escolares desprovida de qualquer significação.


A organização do corpo é o ponto de partida para que a criança descubra as variadas
possibilidades de agir. Este agir da criança recebe influências dos aspectos psicológicos,
psicomotores, emocionais, cognitivos e sociais.

Sugestões de atividades como base para o atendimento psicomotor global, com vista
a uma boa aprendizagem

É necessário despertar nos educadores novas idéias para reformulação de suas práticas
pedagógicas e, assim, trabalhar melhor com a diversidade. Partindo dessa premissa e de
112 nossas experiências nos contatos com professores e outros profissionais da educação,
introduzimos neste trabalho sugestões de atividades que de certo modo abrirão espaço na
investigação de como se dá a aprendizagem nas crianças que apresentam dificuldades de
aprendizagem, considerando o seu desenvolvimento psicomotor, o estilo de aprendizagem
dessas crianças, e o que representarão exercícios desse estilo, na aprendizagem.
Dentre os itens selecionados, iniciaremos com a linguagem oral, pelo seu vínculo com
a leitura e a escrita o que também, para os avaliadores, é um indício importante, que pode se
revelar sob a forma de atraso. Para NASCIMENTO (1986), é de suma importância para
a linguagem o desenvolvimento harmonioso da psicomotricidade.
Apresentamos, de forma bastante suscinta, alguns exercícios, que podem ser aplicados
por qualquer educador, e que estão inseridos em forma de tópicos no livro Psicomotricidade
e Aprendizagem de Lúcia Schueler e Terezinha do Nascimento Machado e que aqui, por
precariedade de espaço, não é possível apresentar de maneira descritiva.

Linguagem - Os exercícios voltados à linguagem podem ser iniciados com a


execução de ordens simples e ordens complexas. O educador primeiramente dá ordens
para a criança, mandando que ela abra a porta, apague a luz, apanhe os óculos e depois dá
ordens mais complexas envolvendo duas ações, a exemplo de: abra a porta e traga a chave.
Um outro exercício que muito ajudará a criança é o de fazer com que ela nomeie as partes do
corpo, os objetos e as pessoas que a cercam. Uma outra atividade é através de música com
letra que fale das partes do corpo, incentivando a criança a acompanhá-la cantando. Também
útil é a identificação das pessoas que estão na sala de aula, assim como a identificação da
utilidade das coisas.

Esquema corporal - Sugerem-se exercícios que trabalhem a consciência e a educação


da respiração. Nossa experiência mostra que na medida em que o educador trabalha o
controle respiratório, vai melhorando a concentração da criança, o controle de seus movimentos
e exercitando o relaxamento. Outro exercício proveitoso para o desenvolvimento do esquema
corporal é o de fazer bolhas de sabão soprando em um canudo. Igualmente útil é o exercício
de inspirar e expirar, inclusive com a emissão de sons.
O exercício do movimento do corpo ajuda a criança a ter consciência das
partes do corpo e o educador ou interventor pode proceder com vários exercícios, tais
como, andar de joelhos, andar de joelhos para a frente e para trás, rolar livremente. Para dar
o conhecimento da cabeça, pescoço, tronco, dos membros superiores e inferiores, o educador
inicia pedindo para a criança sentar no chão, com as costas apoiadas na parede e dá ordens
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

para que ela vire a cabeça para um lado, para o outro, voltando em seguida a posição inicial.
Um outro exercício é feito de pé. O educador neste momento pede para que a criança olhe
para cima, para baixo e depois volte à posição inicial.

Relacões espaço–temporais - Já vimos que é através do movimento que a criança


vai adquirindo a noção de espaço. A estruturação espaço-temporal, segundo COSTE (1981),
é um indicador importante para uma boa adaptação do individuo. Ela possibilita ao individuo
movimentar-se no espaço e reconhecer-se, como também concatenar e dar sequências aos
seus gestos, localizar as partes do corpo e situá-las no espaço. Em relação ao tempo, ele é
simultaneamente, duração, ordem e sucessão, o que mostra a necessidade da integração
desses três níveis, como descreve COSTE (1981).
Os exercícios sugeridos envolvem o andar, o pular, o jogar e outros relacionados à 113
questão espacial e temporal. Alguns exercícios o educador realiza fazendo a criança utilizar
o seu próprio corpo. Andar para frente, para trás e depois parar. Fazer também a criança
andar para trás, parar, andar para um lado e depois para o outro. Também, jogar a bola para
frente, para a direita, para cima, recebendo-a com as duas mãos.
Os exercícios direcionados às relações espaço-temporais, que não se esgotam nos
que foram acima lembrados, devem-se voltar, variadamente, para os sentidos de ritmo,
velocidade, duração, intervalo e distância.

Coordenação viso-motora - Os exercícios de coordenação viso–motora, são


também essenciais, visando à orientação da criança no espaço e tempo. Sugerem-se exercícios
de educação da vista, educação das mãos, educação do equilíbrio, exercícios de coordenação
motora com ritmo etc. Podem ser utilizados vários objetos, inclusive a música, no caso da
coordenação motora com ritmo.

Funções Intelectuais - Os exercícios destinados a essa área trabalharão, sobretudo,


a atenção dirigida, o desenvolvimento da percepção útil, o alargamento da memória visual e
o incremento à associação de idéias.

Relaxamento - Para favorecer o relaxamento da cabeça, pescoço, das mãos e


dedos, valem exercícios que façam a criança movimentar a cabeça, para frente e para trás,
ora para a direita, ora para a esquerda, contrair e descontrair os ombros, contrair e descontrair
o abdome; fazer exercícios com as mãos, utilizando uma bolinha, apertar a bolinha, soltando-
a em seguida; flexionar os dedos, falange sobre falange, diversas vezes.

Preparação para a escrita, a leitura e o cálculo - Também as mãos e os dedos


podem ser utilizados para oportunizar o melhor exercício da escrita. Exercícios preparatórios
da leitura podem estar associados ao desenvolvimento auditivo, com o uso dos olhos fechados,
com utilização do silêncio, dramatização de histórias, emprego de cartões diversos contendo
palavras com determinadas sílabas, assim como cartões que tenham, por exemplo, frutas de
vários tamanhos, cores diferentes, figuras escondidas etc. Para o desenvolvimento do cálculo,
utilizar exercícios em que se faça uso de coleção de pedrinhas, folhas, chapinhas, botões.
organizar conjuntos, pedindo que a criança aponte onde há mais ou menos elementos.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Conclusão

Ao nos referirmos às contribuições que a psicomotricidade oferece às crianças com


dificuldades de aprendizagem, apresentamos alguns pontos altos que reforçam o assunto em
foco, a saber: ao falarmos em desenvolvimento marcamos fortemente a importância da criança
desde o seu nascimento, nos movimentos espontâneos que ela já produz. O domínio do
corpo a criança vai adquirindo no seu dia a dia, partindo para a elaboração do seu esquema
corporal, elemento esse a que todos os outros princípios da psicomotricidade estão vinculados
intimamente.
114 MEUR (1991) afirma que uma criança cujo esquema corporal é mal constituído não
coordena bem os movimentos, pelo que nela se nota atraso no se despir, feiúra na sua grafia
e dificuldades na leitura.
Entendemos que se a psicomotricidade tem influência no desenvolvimento da
inteligência do individuo, naturalmente a reeducação, a estimulação e a atenção dada nesse
campo psicomotor, em muito fortalecerão e trarão efeitos positivos no desempenho acadêmico
da criança.
Em relação ao que aqui estudamos, uma criança com dificuldades de aprendizagem
e na concepção a que aderimos, tem sua inteligência normal ou na média ou, até mesmo,
superior, mas precisa de ajuda ou de um trabalho de mediação por parte dos educadores,
assim como de uma avaliação no campo da psicomotricidade, mesmo não existindo problemas
motores.
Acreditamos que se esta criança for bastante estimulada, no que diz respeito ao
conhecimento que terá dela mesma, na oportunidade de maior envolvimento com as pessoas
que a cercam e o mundo que a rodeia, essa criança terá chances cada vez mais, de se sentir
apta, segura e com capacidade de enfrentar certas dificuldades. Para isso a psicomotricidade
mostra espaço, através da construção pela criança do seu esquema corporal e outras noções
nesse campo.
Concluímos, portanto, que as crianças com dificuldades de aprendizagem devem ser
avaliadas no seu campo psicomotor, para ver, por exemplo, como ela se define, considerando
a idade, no campo do esquema corporal, na lateralidade e espaço temporal.
Sabemos serem muitos os fatores que podem interferir nas dificuldades de
aprendizagem da criança, principalmente no processo de leitura, englobando a escrita e
cálculos. Dentre os vários fatores, os psicomotores que compreendem a maturidade global,
o desenvolvimento psicológico, a organização cerebral da motricidade, a consciência da
imagem do corpo, da estabilização; da lateralidade, da orientação no espaço e no tempo, o
funcionamento dos órgãos da linguagem, articulada à coordenação dos movimentos, à visão
e audição. São esses e outros, que dirão as possibilidades de aprendizagem dessa criança.
A nossa hipótese de que o aprofundamento de estudos na área da psicomotricidade,
proporcionará entendimentos claros na forma de orientar pedagogicamente crianças com
dificuldades de aprendizagem, é reforçada quando referenciais teóricos de estudiosos de
renome explicam o desenvolvimento psicomotor e sua relação com o desenvolvimento geral
da criança.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Referências

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Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Alexandre S. filho, Copyright- 2001- Livraria e Editora Revinter.

Recebido: 22.09.2009
Avaliado: 30.09.2009
116 A MODA INSCRITA NO CORPO: ESTÉTICA CAMP E
IDENTIDADES QUEERS

Margarete Almeida Nepomuceno/UNIPÊ

RESUMO

Este trabalho tem intenção de trazer à discussão os mecanismos de artifícios na


construção da aparência dos que fazem o universo queer, utilizando a moda como dispositivo
social, meio de manipulação e materialização cultural de suas identidades. A performance de
gênero produz uma estética camp baseada na paródia, na afetação e deboche da própria
encenação dos corpos-identidades. A moda pode ser considerada então como agenciamento
de gênero, que se metamorfoseia na multiplicidade do masculino e feminino, instaurando
novas conexões e sentidos na pele que se veste.
Palavras-chave: Identidades culturais, gênero, sexualidade.

FASHION INSCRIBED IN THE BODY: CAMP AESTHETIC


AND THE QUEER IDENTITIES

ABSTRACT

The aim of this study is to introduce a discussion of the artificial construction mechanisms
for those who make the queer universe, by taking fashion as a social gadget, a manipulative
tool and cultural materialization of their identities. The gender performance produces a camp
aesthetic based upon parodia, jeer ofs the own encenation of body-identities. Fashion can be
considered thus as a gender agency that changes itself in male and female multiplicities, creating
new links and meanings in the fashionable skin.
Key-words: Cultural identities, gender, sexualities.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.
Introdução: quando o azul e o rosa escapam.... 117

Este trabalho tem a intenção de discutir a performatização dos corpos na fabricação


de gênero através do dispositivo social moda, experenciado nas identidades queers,
conceituadas aqui como os estranhos raros ou esquisitos. Queers também são entendidos
como os sujeitos de sexualidade desviantes e ambíguas - homossexuais, bissexuais, transexuais,
travestis, drags ou ainda, identidades do universo múltiplo das experiências de margem revelado
em comportamentos transgressores, desestabilizando “verdades” sobre as políticas
determinantes do corpo, do gênero e das subjetividades.
As incertezas e instabilidades, o fluxo e a descontinuidade são as forças compulsoras
que darão gás para que a Teoria Queer, norteadora desse artigo, seja capaz de fornecer
abstratos metodológicos de como pensar, refletir e abrir espaço para visibilizar territórios
sinuosos dos que estão à margem das posições cristalizadas de gênero. O pensamento
dicotômico não responde mais à explosão de identidades múltiplas, instáveis e multifacetadas
em territórios das sexualidades e dos gêneros. Ser homo ou hetero, ser homem ou mulher, ser
feminino ou masculino, ter pênis ou vagina, todos estes elementos que sedimentam a “verdade”
biologizante do gênero, do desejo e do corpo, parecem não mais corresponder à mesma
velocidade com que escapam estas tentativas de conceituação e normatização do binarismo
de análise teórica de gênero.
Na nudez da criança que nasce, através do sexo que se carrega no corpo, é instaurada
uma determinação ou direção de nossa sexualidade e gênero. Quando se nomeia o recém-
nascido como menino ou menina, se instaura ali uma invocação performativa que produz uma
decisão social sobre o corpo e assim, todo um processo que o irá defini-lo como masculino
ou feminino. Estas características físicas e biológicas serão marcadas pela diferença, produzindo
significados culturais estruturadas na performance que determina o gênero.
Roupas azuis para os meninos e rosas para as meninas são uma decisão cromática
que até hoje, determina territórios sociais normalizadores de gênero. Florzinhas e bordadinhos,
saias, laçarotes, brincos e vestidos são do enxoval feminino, enquanto os meninos ficam
sempre as opções: calças, shorts, macacões, muitas estampas de carrinhos e bichinhos. Nesta
escolha aparentemente inofensiva e repetida secularmente na história do vestuário, há todo
um investimento discursivo e social que produz nesta segunda pele a determinação de que o
sexo biológico seja sempre considerado como dado imutável, a-histórico e binário,
determinando o gênero masculino e feminino, assim como os padrões de comportamentos
sociais, gestuais e performáticos que estes corpos-identidades deverão seguir durante toda
sua vida. As mulheres à representação da delicadeza e o homem à virilidade, passividade e
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

ação, um jogo de dualidade que marca toda a trajetória de papéis sociais.


De acordo com Lipovetsky (1989), o surgimento da moda tem relação direta com o
dispositivo de controle dos corpos de homens e mulheres, reforçando o binarismo de gênero:

A moda no sentido estrito quase não aparece antes da metade do


século XIV. Data que se impõe, em primeiro lugar, essencialmente
em razão do aparecimento de um tipo de vestuário radicalmente
novo, nitidamente diferenciado segundo os sexos: curto e ajustado
para o homem, longo e justo para a mulher. (LIPOVETSKY, 1989)
118 A mesma moda que vai ser utilizada como dispositivo de controle também subverte-
se e encontra linhas de fugas nas identidades voláteis. Na cartografia do tempo, sempre
existiram os que fogem as regras, os que brincam no jogo da ambigüidade dos gêneros, da
fluidez dos corpos que os separam. Como no caso dos corpos-vestuários masculinos, que
nem sempre foram pautados pela rigidez de suas vestes, como nos afirma Lima (2009):

A noção de masculino mais recente se pauta numa estética


minimalista, que rejeita o frívolo ou desnecessário adicional dos
acessórios, da maquiagem e das colorações diversas, embora na
historicamente - em específico quando o vestuário emanava o poder
de quem o utilizava, por exemplo, no século XVIII - a roupa
masculina era tão ou mais pomposa que a feminina. Em muitos
registros da história podemos ver que se utilizava de artifícios
como preenchimentos sob as meias para engrossar as pernas,
acolchoados no tórax e ombro na época Gótica e no Renascimento
inglês a roupa para os homens era extremamente bem trabalhada.O
enxugamento da aparência masculina frente à feminina é algo
recente, cujas origens – ao menos nas camadas mais privilegiadas
da sociedade – têm relação com a mudança nas suas tarefas diárias,
quando de fato o homem precisa sair para trabalhar. Uma vez
findados os privilégios da corte, a sua vestimenta se simplifica e se
aproxima da estrutura de terno que conhecemos hoje.

Para Lipovestsky (1989), a moda de cem anos repousava na oposição acentuada


dos sexos, oposição do parecer duplicada por um sistema de produção onde a criação para
a mulher e para o homem não obedecia aos mesmos imperativos. Nem com a maturação da
modernidade, as diferenças de gênero na moda permanecessem longe de uma
homogeneização, mas de uma sutil e terrível diferença. Homens e mulheres estariam então
condenados a desempenhar indefinitivamente no vestuário-identitário os papéis masculino e
feminino. Prefiro, aqui, defender que as subjetividades queers são uma brecha na sólida
pedra da modernidade. Na perspectiva deleuziana, a moda pode ser considerada então
como agenciamento, que se metamorfoseia, muda suas propriedades à medida que expande
suas conexões, uma dobra, múltipla, nômade, dialógica e socialmente construída. Homens de
saiotes ou mulheres de gravatas pelas ruas descentradas de um vasto território que a toda
hora se re/constrói, com suas permanências modernas e seus fluxos pós-modernos.

Desenvolvimento: a estética da transgressão na performance de gêneros


Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

A proposta aqui não é discutir uma moda andrógina, unissexo, mas antes, trazer à
discussão os mecanismos de artifícios na construção da aparência dos que fazem o universo
queer, utilizando a moda como meio de manipulação e materialização cultural de suas
identidades, a exemplo dos travestis, transexuais, crossdress, drags e até mesmo elementos
de tribos urbanas como as contemporâneos emos.
A performance de gênero dos ex-cêntricos queers fazem uso da segunda pele -
instituída pelos vestuário e artifícios corporais - propondo uma estética camp, conceituada
pelo uso da afetação, artifício, exagero, deboche, paródia de si , presentes na composição ou
montagem destes corpos Paetês, brilhos, glitters, purpurinas, muita maquiagem, cores berrantes,
neons, silicones, perucas, saltos altos e adereços são compreendidos aqui como construto 119
social e político de uma escolha, de um devir permanente de identidades que se exteriorizam
na própria pele, des/construindo sentidos normalizadores dos corpos ditos como masculinos
e femininos.
É através da modelagem do corpo e da performance do vestuário, que estas
identidades interpretam as transgressões das fronteiras de gênero marcada não pelo desejo
de aparência (parecer ser o oposto do que não se quer ser), mas pela espetacularização da
aparecência. (desejo de aparecer), desejo de evidência de uma corporalidade e de um
gênero construído. As ruas estão cheias de personagens “montados” desafiando a ordem
estruturante dos gêneros. A ambigüidade questiona as diferenças, incomoda as conhecidas
metanarrativas sobre o que é ser mulher ou homem, ao mesmo tempo em que provoca,
fascina e seduz.
No cinema, uma poderosa janela do artefato cultural de nosso cotidiano, podemos
também conferir uma produção marcada pela estética camp, como na produção de filmes
como Priscilla, Rainha do Deserto; Transamérica, Café da Manhã em Plutão, entre outros
que se situam entre o kitsh e a cultura pop, numa clara referência de resistência a padronização
que se impõe a diferença. Plumas, cores e muito brilho, a estética da alegria em contraposição
ao ressentimento. Aqui não há já se encontram espaço para o queer que se normatiza, sem
trejeitos, sem desmunhecação, higiênico em sua postura padronizada, a estética camp pede
passagem para a farsa, o travestismo que atravessa fronteiras:

A palavra camp é um termo que pode ser traduzido por “fechação”


e significa uma aceitação - por parte dos gays - do universo
estereotipado criado pela sociedade homofóbica, mas de maneira
invertida: buscando valorizar o jargão “homossexual”, os gays
devolvem à camada bem comportada da sociedade uma
transfiguração do grotesco, transformando o estigma do jargão
homofóbico em linguagem e ação libertárias. Se concordarmos
com Jung, para quem existem os “tipos psicológicos” (ou os
“estados psicológicos”) “introvertidos e extrovertidos”, a estética
do grotesco, performatizada pelas drag queens, estaria
evidenciando a porção extrovertida do temperamento homoerótico.
Nessa direção, as piadas, as caricaturas, o exagero na gestualidade
e as espetacularizada, teriam o objetivo de transformar a realidade
difícil de ser vivida numa simulação da vida como obra de arte.
Por um lado, essa estratégia libera uma dimensão da vivência
homoerótica que estivera recalcada historicamente, portanto,
consiste numa ação afirmativa que contempla os gays, lésbicas,
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

travestis e transsexuais como eles são, falam e agem em suas


vivências diárias; por outro lado, ratifica os procedimentos de
exclusão, porque retrata os gays sempre efeminados, fúteis,
promíscuos, espalhafatosos. (PAIVA, 2009)

O Café da Manhã em Plutão, por exemplo, começa com o personagem Patrick


“Kitten” Braden (Cillian Murphy) passeando pelas ruas e conduzindo um carrinho de bebê.
Sua performance camp já revela o que veio, vestida em um grande casaco de peles, chapéu
rosa e saia em brilhante, sem sair do salto, responde ironicamente as provações dos
trabalhadores de uma obra de construção: “inocentes peões, tesudos filhos da terra” , um
prenúncio da sua história, que opta “pela via da teatralidade, quando, apesar da solidão, para
120 além da dor maior da exclusão, da raiva e do ressentimento, se pode falar ainda em alegria,
em felicidade” (LOPES, 2008). No país de Carmem Miranda, o camp é uma mentira que se
atreve a dizer a verdade, como comenta Susan Sontag.
É como se através da “performance” dos queers fosse desnaturalizada a coerência
entre sexo e gênero, ao mesmo tempo que é revelado “a farsa” de uma identidade primária
sobre a qual molda-se o que se entende por masculino e feminino. Este seria o sentido da
paródia, que desconstrói o “natural” do “falso” através da ilusão que demonstra ter a aparência.
O travesti, o transexual, os transformistas e as drags brincam com a distinção entre a anatomia
do performista e o desejo do gênero que se deseja performatizar. Para Butler, a “verdade
interna” do gênero não passa de um ato performático inscrito na superfície do corpo. “Então,
parece que os gêneros não p ser nem verdadeiros nem falsos, mas somente produzidos como
efeitos da verdade de um discurso sobre a identidade primária estável”. (BUTLER, 2003, p.
195)
Este “efeito de verdade” a qual propõe Butler nada mais é do que um investimento na
estilística de si, na qual a moda é o dispositivo social que provoca o desejo desta
performatização. Ao mesmo tempo em que a moda normaliza valores e crenças e cristaliza
padrões de gênero, ela própria é feita de uma matéria instável, volátil e perene, “caracterizada
por uma temporalidade particularmente breve, por reviravoltas mais ou menos fantasiosas,
podendo, por isso, afetar esferas muito diversas da vida coletiva”. (LIPOVETSKY, 1989, p.
24) De acordo com o sociólogo francês, a moda instaura a quebra da tradição e do mimetismo
coletivo na ordem das aparências, o que acaba em resultar em uma lógica constitutiva do
universo das aparências, onde há a expressão da liberdade dos sujeitos e na individuação da
estética.
A escolha estética do gênero vivenciada pelos queers instaura a moda como
maquinariado desejo. Esta transgressão do corpo e da performance, seja na feitura de seios
e curvas, ou no vestuário do excesso, permite a potencialidade criadora, positiva, baseada na
afirmação da diferença. Para Deleuze e Guatarri (1976) o desejo é ponto de afirmação,
ultrapassando os conceitos de falta e negatividade, mas instaurador de uma vida que gera,
que transforma, que produz instâncias autônomas e autoprodutoras.
A aparência dos queers nada mais é do que escolha devir de suas identidades
construídas, é na pele que se encontra o mais autêntico de si. Segundo afirma Garcia e
Miranda :

[...] moda é o conjunto atualizável dos modos de visibilidade que


seres humanos assumem em se vestir com o intuito de gerenciar a
aparência, mantendo-a ou alterando-a de seus próprios corpos,
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

dos adornos adicionados a eles e da atitude que integram ambos


pela gestualidade, de forma a produzir sentido e assim interagir
com o outro. (GARCIA e MIRANDA, 2005, p. 18)

Um gênero ambíguo, onde feminino e masculino se descolocam, se misturam e se


borram, rompendo fronteiras do normal e instituído, faz dos queers uma materialidade plástica,
onde o corpo é uma matéria-prima possível de redefinição, de odem modelamento, um objeto
transitório, manipulável, remanejável, onde se exibe uma identidade escolhida. Adaptando a
idéia de Le Breton, antropólogo francês, analiso então a moda neste processo como uma
prótese em busca de uma encenação provisória, garantindo um vestígio significativo de si
mesmo(BRETON, 2003, p. 29). De acordo com poeta francês Paul Valéry, “a pele é o mais
profundo”, sendo assim, a subjetividade destas identidades são o esforço constante de se 121
colocar na exterioridade, a partir da montagem do seu vestuário performático, a superfície
que indicará a sua interioridade.

(in)Conclusão:

O desejo é antes de tudo um ato revolucionário, já dizia Gilles Deleuze. O desejo


move corpos e gêneros a labirintos sinuosos de contemplação de si, criador da própria espécie.
Natureza e maquinaria redesenham novos modelos para além das equações fixas e
determinantes do que é ser homem e mulher na sociedade ocidental capitalista. Consumimos
antropofagicamente nossos sexos, nossas carnes, nossos silícios, chips de um admirável novo
mundo.
Com esta provocadora reflexão, não pretendo concluir pensamentos, mas gerar novos
questionamentos acerca do nosso corpo, do nosso gênero e do nosso desejo. Bem como
trazer luz e brilho a estes desenhos de corpos-identidades que se refazem através de um
estética que performatiza o próprio espelho. A moda, este segunda pele, se faz tão primeira
quanto à nudez aparente. O grito da criança já foi dado: “o rei está nu!”, mesmo assim nos re/
fazemos através de mantos simbólicos que nos re/cria e liberta para sermos fundição de
sentidos, ora nunca vistos, ora nunca vestidos.
Os queers reiventam a própria pele, bordam silicones, modelam os ossos, pontilham
novos traçados para os gestos, cortam os sexos, costuram outros, colorem a fina plasticidade.
Fazem gêneros, criam modas. E saem nas passarelas subvertendo a ordem da criação e
tornam-se criadores e criaturas de suas próprias vestes.

Referências

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Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 2003. 240p.

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Recebido: 22.09.2009
Avaliado: 30.09.2009
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.
CULTURA DE MODA: IMBRICAÇÕES ENTRE O 123
MATERIAL E O IMATERIAL

Gabriela Maroja Jales/UNIPÊ/CNPQ

RESUMO

Este artigo pretende mostrar de forma sucinta, mas, reveladora os resultados de uma
pesquisa bibliográfica e etnográfica empreendida na cidade de João Pessoa, com o propósito
de analisar a relação entre a cultura de consumo e a moda local. O trabalho consiste em
entrevistas com consumidores, estilistas e designers locais, das quais foi feita uma análise do
discurso dos atores sociais, utilizando como pano de fundo metodológico a teoria das
Representações Sociais.
Palavras-chave: Estilistas, representações sociais, consumo.

CULTURE AND FASHION: IMBRICATIONS BETWEEN THE MATERIAL


AND THE IMMATERIAL

ABSTRACT

This article aims at explaining briefly, although revealing the results of a literature research
and ethnographic accomplished in the city of Joao Pessoa, in order to examine the relationship
between consumer culture and local fashion. The work consists ofinterviews with consumers,
designers and local designers, from whick a discourse analysis of social actors, on the was
attained using methodological background the theory of Social Representations.
Key-words: Designers, social representations, consumption. Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.
124 Cultura de Moda: imbricações entre o material e o imaterial

Nossa investigação em cultura de moda teve início com a observação e análise de


alguns pressupostos que permeia nossa sociedade e influenciam os hábitos de consumo da
moda criada e fabricada em nossa região. Partimos de uma dúvida, fruto de nossa observação
sistemática: por que os consumidores, os estilistas e designers locais têm uma percepção se
não negativa, pelo menos, menor sobre os produtos da moda regional? Em outras palavras:
por que o produto local é desvalorizado em relação ao produto nacional?
Nosso problema nasceu de um primeiro pressuposto: os produtos da moda local não
gozam do mesmo prestígio dos produtos da moda nacional. Provavelmente as mesmas relações
de dependência econômica e política, que imperam entre as regiões brasileiras, repercutem
na maneira como os habitantes de João Pessoa, sejam consumidores, sejam estilistas/ criadores,
vêem a moda regional. Percebe-se certo grau de rejeição às produções locais, comparadas
à aceitação de produtos ou marcas de grandes fabricantes ou de grande circulação na mídia
televisiva e impressa, especialmente as revistas femininas. Significa dizer que nas relações
cotidianas, o discurso das pessoas privilegia as marcas, as grifes das grandes empresas, os
produtores veiculados nos grandes meios de informação, especialmente a televisão e as revistas
femininas.
No entanto, se pressupomos que as pessoas têm essa visão, manifestada em
comportamentos, ações, falas sobre a moda regional, resta-nos uma pergunta: “como se
chega a expressar essa visão”, ou de outra forma, “por que a moda local ocupa um lugar
menor no universo da moda nacional?”. É aqui que recorremos aos dois suportes teóricos
que delinearam nossa pesquisa de campo: a Teoria das Representações Sociais, formulada
por Serge Moscovici e seguidores, e os conceitos de cultura formulados por autores como
McCraken (2003), Lipovetsky (2004), Caldas (2006), Laraia (1989), Marcuse (2001),
Castilho e Martins (2005), etc.
Resumindo, nossa investigação justifica-se por ser uma tentativa de compreender a
cultura da moda, numa cidade da região nordestina, lidando, portanto, com conceitos gerais
e conceitos particulares. Interessa-nos saber como consumidores e estilistas relacionam-se
com a moda local; como a representam em relação à totalidade e como se comportam frente
a eles. Trata-se de um trabalho que deseja contribuir, de alguma forma, para a compreensão
de um fenômeno tão complexo (pois envolve Economia, Sociologia, Psicologia, Antropologia,
História, Geografia) como a moda, dentro de um quadro de referência emoldurado pela
Teoria das Representações Sociais e por vários conceitos de cultura.
Nossa investigação, fundamentada na teoria das Representações Sociais e na Cultura,
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

ambas aplicadas ao estudo da moda, e de caráter essencialmente qualitativo, tem


necessariamente que trabalhar com a qualidade do discurso, com a subjetividade, pois não
estávamos lidando com meras opiniões, nem com perguntas estereotipadas, mas com um
discurso re/criador de uma realidade, que modifica e é modificado pelo grupo, que constrói
e é construído pela cultura. Nunca é demais ressaltar o caráter dinâmico de uma pesquisa no
campo das Representações Sociais, povoado de imagens, idéias, opiniões, sentimentos, desejos
e assim por diante. Por todas estas razões, entrevistamos por amostragem consumidores,
estilistas e designers que se expressaram sobre a moda regional e de suas respostas, e captamos
como se formam, como se constroem e como se articulam suas relações com esta moda.
Tratando-se de uma investigação em Representações Sociais e de conceitos da cultura, a
pesquisa de campo com utilização de entrevistas assume um caráter de essencialidade. Como
nosso trabalho se insere no quadro teórico de um estudo qualitativo, a interação entre o 125
pesquisador-entrevistador e o sujeito-entrevistado comporta uma dimensão que talvez não
esteja presente em outro tipo de pesquisa. No caso específico da nossa pesquisa, utilizamos
a entrevista semi-estruturada para apreender como se formam, como se constroem as
Representações Sociais de consumidores e estilistas/ designers de moda sobre a moda regional
de João Pessoa. Em pesquisas desta natureza é essencial trabalhar com o discurso e
observação, e para tanto, além da entrevista semi-estruturada, utilizamos a observação
participante e a posterior análise dos discursos dos autores da pesquisa.
Mas, porque utilizar a teoria das representações sociais, e qual a relação com a
cultura, especialmente a cultura de moda?
A teoria das Representações Sociais tem sido ao longo do século XX, especialmente
após 1961 e até nossos dias, largamente utilizada como instrumento de análise nas áreas da
Psicologia, da saúde, da Educação, da Economia, entre outras. Desde o estudo de Serge
Moscovici (1978), sobre a representação social da Psicanálise no seio do público francês, o
corpus teórico deste paradigma mostrou ser uma interessante e útil ferramenta para se
apreender como o conhecimento comum circula no interior dos grupos, e especialmente
como o indivíduo é influenciado pelas verdades deste grupo ao mesmo tempo que o influencia
da maneira constante. Deste modo fica evidenciado o caráter dinâmico, moderno, das
Representações Sociais, em contraponto à concepção estática das Representações Sociais
Coletivas de Durkheim (1989).
Estas representações sobre a moda regional são elaboradas dentro de um mundo da
cultura, nunca fora dele, pois embora traduzam um modo particular de encarar as vestimentas
e acessórios elaborados por estilistas/ designers nordestinos, não podem ser compreendidos
fora da totalidade da maneira como estes concebem a moda no país e é por esta razão que as
representações sociais são captadas por meio principalmente do discurso. Esta prática, isto
é, apreender como as representações sociais são construídas deve-se ao fato de que a
comunicação é um processo cultural e conseqüentemente social. Laraia explicita o que estamos
afirmando: a linguagem humana é um produto da cultura, mas não existiria cultura se o
homem não tivesse a possibilidade de desenvolver um sistema articulado de comunicação
oral. (LARAIA, 1986:53)
No campo da cultura de moda, parece que a moda da roupa nordestina guarda a
saudade da época colonial, da casa grande, da senzala, das mucamas e sinhazinhas (Freyre,
2002). Não se deve inferir com isto que a região não se modernizou, não cresceu
economicamente, mas devemos compreender que isto se deu no conflito entre o moderno e
o arcaico. Até hoje, o vestuário, as peças de roupa da moda nordestina aparecem aos olhos
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

de outros brasileiros como profundamente ligadas ao folclore, ao exótico, ao bizarro. Em


nenhuma área da vida o nordeste é tão intimamente ligado ao passado como nas artes, e
especialmente nas roupas.
A hegemonia da região sudeste sobre a região nordeste, quando se trata de modos e
modas, é antiga e resulta ainda de nossa colonização, sobretudo, da chegada da Corte
Portuguesa ao Brasil, ocasião em que se instalaram no Rio de Janeiro. A Europa nessa época
vivia o processo de modernização das cidades e Paris e Inglaterra ditavam as modas, os
costumes, o consumo. Uma vez instalada aqui, as mulheres nobres portuguesas trazem consigo
todos estes hábitos de consumo, que se espalhava pelo Brasil como pólvora. Por aqui eram
vendidos esquis, lareiras, os mais caros veludos e rendas, botas de frio, casacos pesados,
porcelanas “inglesas” (vindas da Índia), perfumes e cosméticos, enfim, tudo que não era
126 adequado a nosso clima e nem a nossa economia, que via seus produtos locais desvalorizassem-
se e serem exportados por verdadeiras bagatelas, sobretudo o Nordeste, produtor de grandes
riquezas. É nesse aspecto que a historiadora Silvia Hunold Lara diz que “o gosto pelas modas
européias estava ligado à vontade de diferenciar-se e de guardar o selo europeu, da civilização,
era a marca de um complexo de inferioridade inconfesso e inconfessável em relação ao
europeu” (2007). Não é de espantar que grandes estilistas brasileiros do século XX como
Clodovil, Denner, Guilherme Guimarães, Hugo Rocha, ícones da alta-costura brasileira, fossem
meros intérpretes da moda francesa. A única exceção, Zuzu Angel, iniciou sua carreira como
os demais, mas ao perceber o poder da moda e do “DNA” nacional, iniciou um movimento
de brasilidade inédito até então, utilizando a chita, as rendas nordestinas, os bordados com
materiais brasileiros e estampas com símbolos brasileiros em sua fase de moda tropicalista.
Atualmente, a indústria da moda brasileira movimenta anualmente milhões de reais,
seja por meio da indústria têxtil (é o segundo maior fabricante de índigo e o terceiro de malha
do mundo), das semanas de moda (SPFW, Fashion Rio e Minas Trend Preview), ou de
instituições de ensino (é o país que tem maior quantidade de escolas superiores de moda no
mundo, em 2009 eram mais de 100). Porém, ressalte-se que o nordeste, de um modo geral,
está excluído desta “rota” de crescimento. Alguns estados nordestinos conseguem, com
dificuldades, fomentar a moda através de incentivos a parques fabris, concursos de novos
talentos e semanas de moda, a exemplo do Ceará (o pólo de moda mais consolidado do
Nordeste), da Bahia e de Pernambuco. A Paraíba, Estado de riquezas incontáveis no que diz
respeito à produção de matéria-prima têxtil, ainda encontra-se em situação de atraso na
organização e sistematização da cadeia produtiva local quando o assunto é moda, e mesmo
quando se trata da economia em geral, pois agrega poucas indústrias e o comércio encontra-
se em atraso aos demais Estados. Os incentivos fiscais, os patrocínios das iniciativas privadas,
enfim, as atrações para incremento da indústria e comércio ainda são poucas.
Por essas razões, o estudo do cenário de moda local é de suma importância. Analisar
a os costumes e hábitos de consumo que prevalecem hoje em nossa sociedade, ouvir e
captar as representações dos consumidores e produtores sobre a moda e a cultura é o que
nos levou a chegar a resultados concretos e que de alguma forma podem auxiliar na mudança
dos padrões de pensar e consumir a moda paraibana.
A análise dos resultados da pesquisa empreendida por nós, isto é, de todas as falas
dos atores sociais, nos mostraram que não se pode separar moda da cultura de moda. O
discurso dos respondentes é revelador. A moda não é somente um produto industrial, não é
somente um produto para ser comercializado, não está inserida em grandes redes produtoras,
mas também pertence a outra esfera, ou seja, à esfera do simbólico. A roupa, o vestuário,
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

não é um meio que se dispõe para proteger o corpo das intempéries, mas mostra que é acima
de tudo um instrumento de inserção no grupo, um jeito de pertencimento ao social, ao clã,
aos guetos, à família, à empresa, à instituição, às tribos. O vestuário não é apenas um sinal de
luxo, do supérfluo, do efêmero, como bem analisa Lipovetsky (2005, 2006), mas situa-se
dentro de um mundo que não se contenta apenas em resguardar o corpo, mas também,
sobretudo, em exibi-lo, comunicar, transmitir uma mensagem. A aparência, nos ensina Garcia
(2002), finca raízes no cultural, é um símbolo da própria cultura.
Com base nas análises do discurso dos atores de nossa investigação, chegamos às
seguintes conclusões: as representações sociais de estilistas/ designers e consumidores revelam
que a moda está inserida num universo maior, chamado cultura, aceito como um jeito de viver
material e simbólico. Perguntados sobre a cultura de moda local (se existe), alguns respondem:
“Acho que de certa forma, sim... Eu acho que a música, a moda, o artesanato, o teatro 127
e outras manifestações tão trazendo isso à tona”, “Cultura é relacionado muito ao que
é produzido por um povo a nível de arte, de moda...”. Pode-se inferir também da pesquisa,
que predomina (como esperávamos desde a observação participante) a admiração pela moda
nacional/internacional, de grife, mostrada pelos meios de comunicação, sobretudo revistas
femininas e televisão (novelas principalmente): “[...] A moda é aquela moda que elas vêem
na novela, na revista, na Caras, na Cláudia”, “[...]Eles não têm uma Cultura de Moda
voltada para a moda local. As pessoas gostam de usar, ou ter ou se vestir de forma que
é disseminada nas revistas, nos meios de comunicação, ou que as grandes marcas lançam
como tendência”. Podemos afirmar também que constantemente o consumidor confunde a
moda local com o artesanato, e o designer/estilista com o artesão fabricante de matéria-
prima e roupas artesanais, ou seja, reduzem o produto de moda local ao simples produto
têxtil (no caso rendas, crochês, batik...): “[...] na medida em que eu vejo o artesanato
paraibano, uma roupa da Celene que eu gosto, uma roupa da Lúcia que eu gosto, aí eu
consumo, eu consumo porque eu gosto, não porque é paraibano ou deixa de ser
paraibano”, “[...] De artesanato local, uma vez eu comprei uma blusa de renascença.
Eu fui lá em Paris e vi que renascença era caríssimo [risos], aí eu disse: Ôxe, isso é tão
barato lá em João Pessoa! Aí eu fui ao mercado de artesanato e comprei uma
blusinha[...]”. Os atores da pesquisa, isto é, consumidores e estilistas/ designers reclamam
ainda da pouca visibilidade e da ausência de marketing para mostrar a produção de moda
local, ou seja, falam de uma falta de união entre os produtores de moda da região e os órgãos
competentes, refletindo na fraca comercialização de seus produtos: “A gente não tem um
grande evento, não tem ainda faculdade, acho que a faculdade será uma coisa
interessante também... A gente não tem um banco de dados... As pessoas não estão
conectadas... Reunir as pessoas que fazem moda na Paraíba e a gente fazer um material,
em forma de desfiles, fotos de moda”, “[...] as pessoas que moram aqui não conhecem
os estilistas locais... a moda local não está sendo valorizada, nem está sendo divulgada”,
“Eu acho que em 1º lugar, deveria haver um incentivo maior por parte de órgãos como
SEBRAE, da própria Prefeitura, Governo do Estado, que deveria haver um
reconhecimento maior da produção de moda e de roupas, do artesanato local [...].”
As representações sociais dos entrevistados revelam uma forte presença das obras
de artistas e escritores nordestinos, que afirmam nossa predestinação de guardiões de nossa
cultura. Há um espaço de resistência da moda local em relação à moda nacional e hegemônica.
Nada se passa de maneira mecânica e irreversível. Todos, sejam produtores ou consumidores,
reconhecem que a moda local/ regional só pode se desenvolver dentro de uma rede organizada
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

de produção e comercialização, e esta organização só é possível com força, união, marketing


e principalmente, profissionalização.

Referências

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ed. Rio de Janeiro: Senac, 2006.

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DURKHEIM, Emile. Representações Coletivas e Representações Individuais. Revista


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FREYRE, Gilberto. Modos de homem & modas de mulher. 4 ed. Rio de Janeiro: Record,
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______. O império do Efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. Trad.
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______. Representações Sociais: investigações em psicologia social. Trad. Pedrinho A.


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Recebido: 22.09.2009
Avaliado: 30.09.2009

Contato com a autora:


email: gabrielamaroja@yahoo.com.br
RESENHAS
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SANTA RITA – PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DA PARAÍBA 131

SILVA, Siéllysson Francisco da. Santa Rita: A Herança Cristã do Real ao Cumbe.
Idéia Editora, João Pessoa, 2007.

Professor por vocação, legado geneticamente herdado do seu pai, o professor José
Francisco da Silva Filho, que por décadas educou gerações de santaritenses em seu saudoso
Instituto São Francisco de Assis, no bairro Popular, Siéllyson Francisco da Silva, foi aplicado
aluno e pesquisador de Curso de Licencia-tura Plena em História, da Universidade Federal da
Paraíba - UFPB. No penúltimo período de Curso, escolheu como tema de sua monografia
de conclusão: Santa Rita: Patrimônio e História, elaborada sob nossa orientação, recebendo da
Banca Examinadora, Con-ceito A (Distinção), em 2003. Nesse mesmo ano, de 27 de julho a 1°.
de agosto, João Pessoa sediou o XXII Simpósio Nacional de História, promovido pela
Asso-ciação Nacional de História, com a participação de quase dois mil inscritos do Brasil
e exterior, onde na sessão temática História, Memória e Patrimônio, o autor apresentou
brilhante comunicação sobre o traba-lho em elaboração, com o título: Santa Rita: Patrimônio e
História. Utilizando-se de recursos audio-visuais e de diversificada pesquisa iconográfica,
complemen-tada pelo revisionismo historiográfico dos clássicos do período colonial, a
apresentação foi bastante aplau-dida e suscitou caloroso debate. Para o apresentador e
autor, sua comunicação:
“ ...teve como objetivo, fazer a apresentação crítica dos mais importantes patrimônios
históricos da cidade de Santa Rita, segundo núcleo de povoamento mais antigo da Paraíba,
com destaque para o Engenho D’el Rey, ou Tibiri, de 1587, sua senzala apenas descrita no século
XIX, a Capela de São Sebastião, a Capela de São Gonçalo, a de Gargaú, e a Matriz de
Santa Rita de Cássia, ressaltando a omissão do poder pú-blico na preservação e conservação
desses patrimô-nios” (ANPUH, 2003, Caderno de Programação e Resumos, p. 297).
No ano de 2005, ao cursar a Especialização em História do Brasil, na Faculdade
Integrada de Patos, Núcleo de João Pessoa, o trabalho foi enriquecido por mais
aprofundada pesquisa, recebendo a denomi-nação de: Santa Rita: a Herança Cristã do Real ao
Cumbe, optando o autor, mais uma vez, pela História local.
Ao tecer considerações sobre a História local, ressaltando seu significado e
relevância, o saudoso historiador José Honório Rodrigues conceituou-a como a História mais
próxima do cidadão, por vincular-se mais afetivamente ao cidadão e às raízes culturais.
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Simultaneamente, lamentou a precariedade dos arqui-vos municipais e a ausência de uma política


de preser-vação do acervo e da memória dos municípios, de seu património histórico e
cultural.
Ao prefaciar o primeiro livro da Coleção Materiais Didáticos - Uma História de Ingá, da
linha de pesquisa Educação e Sociedade, do Núcleo de Documentação e Informação Histórica
e Regional - NDHIR/UFPB, a professora e historiadora Rosa Maria Godoy Silveira, com precisa
sensibilidade, dividiu a história local em nossa historiografia em dois momentos distintos.
No primeiro momento, a Historiografia apareceu escrita por diletantes, geralmente bacharéis
em direito ou por outros profissionais liberais, desprovidos de quaisquer instrumentos teórico-
metodológicos, presos aos ditames positivistas, preocupados tão somente com os feitos dos grandes
132 personagens e de suas realizações administrativas. Por essa perspectiva, essas histórias locais
são: “factualistas, descritivas, localistas, histórias-crônicas de personagens ilustres da cidade...”
Felizmente para a nossa historiografia, num segundo momento, essas histórias locais
foram substi-tuídas por um outro “fazer histórico”, que se instaurou e passou a privilegiar estudos
de tempos e espaços mais abrangentes, as estruturas mais profundas da sociedade, tais
como relações de poder, relações de produção, movimentos sociais, e cotidiano da cidade, sua
memória, seu patrimônio histórico e cultural, etc. São trabalhos produzidos não por diletantes, mas
por alunos oriundos da graduação, especialização, do mestrado e até mesmo do doutorado.
O estudo de Siéllysson, agora em livro, alinha-se nesse segundo momento, pois é trabalho
acadêmico embasado em séria pesquisa e comprometido, pois, com o resgate da Memória, da
História e da Cidadania. Es-truturado em três capítulos: 1. Século XVI: Santa Rita, Colonização e
Ruínas Históricas; 2. Século XVII: Santa Rita e a Invasão Holandesa; 3. Século XVIII: Santa Rita
e sua Formação, a obra tem como marca registrada além da originalidade, e revisionismo
historiográfico, fundamentado em clássicos como Frei Vicente do Salvador, Elias Herckmans,
Simão Travassos, Horácio de Almeida e Maximiano Machado, dentre outros.
Jacques Le Goff, notável mediavalista francês, da terceira geração da Escola dos Annales,
ao apreender a simbiose entre Memória e História e seu desaguadouro na Cidadania, como
intelectual comprometido com o seu tempo, com muita felicidade, assim se expressou:
“A memória, onde cresce a História, que por sua vez a alimenta, procura salvar o
passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva
sirva para a libertação e não para a servidão dos homens” (HISTÓRIA e MEMÓRIA: 1989, p.
641).
Ao denunciar o estado de abandono e ruína em que jaz o patrimônio histórico e cultural
de nossa amada terra - Santa Rita, o autor não fez apenas um exercício acadêmico, mas uma
ação de cidadania. Cidadania, não na visão tradicional da literatura jurídica brasileira, na sua
maioria vincada do viés positivista e legalista-normativista, que a conceitua como mera relação
legal que se estabelece entre o indivíduo e o país de sua nacionalidade. Por essa
perspectiva, a expressão Cidadania identifica aquele que está na plenitude de seus direitos
políticos, cumprindo os deveres de cidadão.
A Cidadania ressaltada e abraçada neste estudo é a definida por Hannah Arendt,
filósofa alemã, de origem judia e naturalizada norte-americana, em sua monumental obra A
Condição Humana, para quem Cidadania, “é o direito a ter direitos”, nas mais diversas esferas
da vida humana, dentre eles, os direitos culturais, assim assegurados, pelo menos teoricamente,
pela nossa Constituição de 1988, em seu art. 215:
“O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.”


Para nós historiadores “comprometidos com o nosso tempo”, uma política eficaz
e adequada de resgate e de preservação de nosso Patrimônio Histórico e Cultural, que possibilite
o exercício da Cidadania de nosso povo, deve ser efetivada pela ação do Poder Público e da
sociedade civil como um todo, funda-mentada em três significativas áreas: na Educação
Patrimonial, na Pesquisa e Preservação (SANTANA, 2006, p. 17).
Em atendimento a uma Mo-ção do Lions Clube de Santa Rita, em Convenção reali-zada
em Mossoró-RN, em maio de 2004, Santa Rita deu o primeiro passo na busca de uma política de
preservação de seu patri-mônio histórico e cultural, quando o poder público municipal criou o
Conselho do Patrimônio Histórico e Cultural. Porém a iniciativa ficou apenas no papel, pois esse
Conselho jamais foi instalado, e hoje, não temos sequer uma Secretaria de Cultura.
Esperamos e desejamos que, com criatividade, este livro seja bastante utilizado como 133
material didático em nossas escolas, nos cursos sobre Educação Patri-monial, para o professorado
e comunidade geral, bem como temática de simpósios, palestras, seminários e fóruns, envolvendo
a nossa sociedade civil na cons-trução de uma sociedade cidadã.
E para concluir esta análise do estudo produzido por um aluno de ontem e colega de
hoje, gostaria de deixar como reflexão e práxis, aos colegas da educação e para a comunidade
santaritense, sobretudo para os gestores públicos, a síntese da Resolução do Congresso realizado
em São Paulo em 1992, pela Secretaria de Cultura e Departamento do Patrimônio Histórico:
“Compreender o Direito à Memória como dimensão fundamental da Cidadania, implica
reformular as relações entre a preservação e a educação formal (...) Cabe ao ensino e à educação,
integrar em seus currí-culos e programas escolares, formas de incentivar ações concretas
nesta área, incorporando atividades no campo da história oral, de contato com acervos
arquivísticos ou museológicos, e com a paisagem urbana, a vivenciar uma relação democrática
com as diferenças do passado e do presente.”

Profª Martha Falcão de Carvalho M. Santana/UFPB/IHGP

Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.


134 UM CANAL ENTRE O CINEMA E A TELEVISÃO

SANTOS, Alex. Cinema & Televisão: Uma Relação Antropofágica. João Pessoa: A
União, 2002.

Uma instigante revisão crítica ao processo multimídia, a partir de análises das diversas
nuanças da Linguagem e seus recursos tecnológicos audiovisuais, sobretudo da televisão e
do cinema, é o que contempla o livro do advogado, jornalista e professor Alex Santos, da
FAP e Asper/UNIP de S. Paulo, e Assessor de Comunicação & Marketing do CCENN/
UFPB.
Comunicação e Linguagem - Cinema & televisão, uma relação antropofágica,
título do mais recente trabalho do autor de Cinema & Revisionismo e Walfredo Rodriguez
e a Cultura Paraibana, dentre outros, e também premiado nacionalmente pelo documentário
para cinema “Parahyba”(o filme), é resultado de uma pesquisa para Tese de Mestrado
defendida por Alex Santos, em 1999, na Universidade de Brasília, sob orientação do professor
e também cineasta Pedro Jorge de Castro, com quem realizou alguns trabalhos em O Romanço
do Dinossauro, na parceria UFPB-UNB.
Segundo o autor, o livro defende os seguintes pontos: abertura de um canal(novo) de
pesquisa científica, na relação Cinema-Televisão, sob o enfoque amplo da linguagem,dando
ênfase ao que preconiza de apropriação, pela TV, dos recursos linguísticos de dramaturgia,
bem como de paradigmas/ícones já amplamente cristalizados pelo cinema.
Uma questão defendida também no livro diz respeito à tentativa de melhor
compreender o universo construtivo das comunicações audiovisuais, também, nas suas reais
implicações com a imagem virtual do cinema e da TV. Tudo isso, sob um contexto de política
cultural latino-americana, enfatizando o panorama histórico brasileiro/paraibano, em suas teses
reformistas então vivenciadas nos anos 50/60, ainda relacionadas aos atuais meios de produção
de ambos os media.
Reafirma, igualmente, a preocupação em se tentar determinar com clareza, ao nível
da linguagem e do discurso imagético, o que é realmente cinema ou televisão, nas suas
intrínsecas diferenças estruturais e informativas. E, conforme o autor, este tem sido um aspecto
ainda não muito bem elucidado pelos teóricos da comunicação, razão pela qual tenta
aprofundar seu estudo na questão do que chama de “apropriação da arte pela arte”, buscando
vertentes explicativas inclusive nos seus próprios conhecimentos jurídicos. Alex Santos defende
com veemência este ponto, alegando que considera altamente desconfortante e, de certa
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

maneira, enganosa, a proposta de que o cinema foi substituído pela TV no plano da Dramaturgia,
sobretudo, “quando entendemos não ser assim, pois a televisão sempre teve papel singular/
realista, mediático, na forma de conduzir a informação dos fatos enquanto notícia; de certa
maneira, diferentemente da reconstituição (representação) específica desses fatos, um atributo
meramente cinematográfico e, não menos, teatral”, afirma.

Alexandre Menezes Cavalcante Santos/ASPER e FAP/UNIP


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INFORMAÇÕES
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UNIPÊ E LINHA D’ÀGUA EM NATAL 137

Tendo como local o auditório da


Universidade Potiguar, no bairro de Ponta
Negra, em Natal, a Comissão Editorial do
UNIPÊ e as Edições Linha D’Àgua
procederam, a 18 de junho de 2008,
movimentada jornada cultural, constante de
palestras e lançamento de livros.
Na presença do publicista Enélio
Petrovich, procurador Francisco Nunes e
historiadores Marlene Mariz e Luiz Eduardo
Brandão Suassuna (Coquinho), o Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Norte, a Procuradoria Geral do Governo do
Rio Grande de Norte e a Universidade Federal
do vizinho Estado prestigiaram o evento que
contou com a participação do Procurador-
Chefe José Adalberto Targino, ex-Secretário
de Estado, na Paraíba.
Na abertura dos trabalhos, e logo após o lançamento da Revista do UNIPÊ, ano
XIII, nº 1, Série Ciências Humanas e Sociais, o jurista Paulo Lopo Saraiva teceu
considerações acerca de seu estudo A Constituição da Casa Grande e da Senzala (O
Direito Consuetudinário Brasileiro), editado em 2008, pela coleção Autônoma do UNIPÊ.
Segundo Lopo Saraiva, as colocações de Gilberto Freyre, no famoso ensaio, demonstram
que índios e negros tiveram vez no ordenamento jurídico brasileiro do período colonial.
Ao diretor presidente das Edições Linha D’Àgua, economista Heitor Cabral, coube
proceder a apresentação de títulos jurídicos da empresa, entre as quais quarta edição do
consagrado Introdução a Direito, de José Flóscolo da Nóbrega. De acordo com Heitor, a
Linha D’Àgua, a partir daquele momento, colocava sua produção ao alcance da
intelectualidade norteriograndense.
O pronunciamento mais arrebatado da sessão ficou por conta do publicista Roberto
Furtado, apresentando História do Direito e da Política (2008), do historiador paraibano
José Octávio de A. Mello, editor de Revista do UNIPÊ. Advogado de presos políticos na
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

terra potiguar, Furtado, a quem História do Direito é dedicado, recordou passagens dos
chamados “anos de chumbo”, da década de setenta.
No Encerramento dos trabalhos, o historiador Enélio Petrovich, presidente do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, e membro da Academia de Letras dessa
unidade federada, reiterou as históricas ligações culturais entre R. G. do Norte e Paraíba.
138 MOSTRA ESTADUAL E HOMENAGEM

Sob coordenação geral do teatrólogo


Tarcísio Pereira, o período compreendido
entre 22 e 30 de agosto de 2008, registrou,
em João Pessoa, a XIV Mostra Estadual de
Teatro e Dança.Apresentação de peças
teatrais, espetáculos de dança, debates,
oficinas e workshops constituíram
programação em que o público assistiu a,
entre outros, os espetáculos teatrais A
Verdadeira História de Chapeuzinho
Vermelho, Uma Mulher e dois Maridos,
Cordel do Amor Sem Fim, (In) Sônia,
Doidivanas, Sentidos do Imaginário, O Dia
em que a Morte Bateu as Botas, A
Bagaceira e Família é uma Desgraça. As
respectivas encenações estiveram a cargo de
grupos teatrais de João Pessoa, Cajazeiras,
Campina Grande, João Pessoa, Cabedelo,
Alagoa Grande, João Pessoa, Cabedelo e
Areia, registrando-se, igualmente,
intervenções de conjuntos de Lucena e
Várzea Nova.
Os debates e oficinas e workshops versaram sobre “Discutindo Dança”, “Música e
Corpo”, “Bailarinos”, “Estímulo e Consciência”, “Introdução à Cenografia”, “Gestão Cultural”
e “A Importância de Assessoria de Imprensa”. No intervalo de dois desses, o Bar do Teatro
Santa Rosa registrou o lançamento de dois romances de Tarcísio Pereira, intitulados O
Sacrifício dos Anjos e O Homem que Comprou a Rua, viabilizados com recursos do FIC.
Ainda na área teatral, com apoio do Grupo Bigorna e Ramalho Filmes Produção, o
SESC Paraíba homenageou o teatrólogo Fernando Teixeira, com a seqüência Fernando
Teixeira no Cinema. A manifestação constou de filmes interpretados pelo artista, a saber,
Baixio das Bestas, Por 30 Dinheiros, Canta Maria e Árvore da Marcação. Todas as
exibições ocorreram na sede do SESC, exceção de Por 30 Dinheiros, apresentado no
auditório do Liceu Paraibano.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

ERUNDINA NA SEMANA DO PSICÓLOGO

A presença da deputada federal e ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina,


representou o ponto culminante da Semana do Psicólogo do UNIPÊ, empreendido pelo
curso de Psicologia do Centro Universitário de João Pessoa, sob a coordenação geral da
professora Iany Cavalcante de Barros, na derradeira semana de agosto de 2008.
139

Em exposição a que procedeu, no Espaço Cultural do UNIPÊ, a antiga assistente


social da Paróquia de Lourdes sustentou que “A escola não politiza. É preciso reformar o
projeto político-pedagógico atual e inserir a psicologia no ensino médio. A preocupação
consiste em estimular e conscientizar politicamente o cidadão. Esse deve ser um movimento
coletivo e comunitário. Sem essa conscientização, vamos retardar o processo de transformação
social do país”.
As colocações de Erundina foram amplamente debatidas pelos presentes entre os
quais o Reitor do UNIPÊ, José Loureiro Lopes, que expressou a satisfação dos Institutos
Paraibanos do IPÊ em recebê-la. Prestigiada por centenas de professores e estudantes, a
Semana do Psicólogo do UNIPÊ assinalou o lançamento da publicação Resumos de
Monografias de Psicologia – série monografias - 1, coordenada pela professora Iany
Cavalcante de Barros e editada pela Comissão Editorial do UNIPÊ, com a organização da
assessora Kátia Vânia V. Souto Maior.

CINQUENTA ANOS DE TEATRO

Pela intensa atuação nos palcos teatrais e cinema, onde completou nada menos
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

de cinqüenta anos, a atriz paraibana Zezita Matos foi objeto de inúmeras manifestações
em agosto de 2008.
A crítica especializada recordou na trajetória de Zezita os mais de trinta espetáculos
de teatro, entre os quais a peça As Velhas, premiada, há alguns anos, no Festival de Teatro
de Guaramiranga. Sua mais recente intervenção ocorreu com o espetáculo Quebra-Quilos,
encenado a partir de 2007, em João Pessoa e cidades do interior, sob a direção do dramaturgo
paulista Márcio Marciano.
Por iniciativa do assessor cultural Chico Noronha, o SESC de João Pessoa
incorporou-se às homenagens, exibindo filmes que contaram com a publicação de Zezita
Matos, como Menino de Engenho (1965) de Walter Lima Júnior.
140 Na qualidade de integrante do Núcleo de Apoio Pedagógico do UNIPÊ, a chamada
“dama do teatro paraibano” fez sentir, durante as manifestações, que “a arte de educar e a de
representar devem andar juntas, pois não se educa sem a arte”.

UNIPÊ LIDERA MOVIMENTO EDITORIAL

Reafirmando a liderança do
UNIPÊ, no movimento editorial
paraibano e até brasileiro, a profª.
Patrícia Loureiro, coordenadora
adjunta do curso de Odontologia do
UNIPÊ, inseriu dois substanciosos
capítulos no livro Diagnóstico por
Imagem da Face, de autoria do dr.
Marcelo Cavalcante, da Faculdade de
Odontologia da Universidade de São
Paulo (USP).
Intitulados Diagnóstico por
Imagem da Face da Odontologia
Legal e Diagnóstico por Imagem da
Face na Ortodontia e Ortopedia
Facial, os estudos da jovem
especialista em Radiologia e
Imaginologia Odontológica, da
comunidade paraibana, contribuiram
para recomendação da coletânea
resultante de colaboração dos colegas
de Pós-Graduação da USP onde
Patrícia concluiu doutorado.
A 21 de agosto de 2008, a geógrafa Janete Lins Rodriguez dissertou na Academia
Paraibana de Letras sobre o segmento geográfico da Revista do UNIPÊ Ano XII, nº 1 –
2008, Série Ciências Humanas e Sociais, apresentada pelo Reitor José Loureiro Lopes.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

Essa seção da revista condensou abordagens acerca do geógrafo pernambucano Manuel


Correia de Andrade. Na mesma ocasião, o presidente da APL, economista Juarez Farias,
coordenou mesa redonda sobre o estudo Telecomunicações na Paraíba – Resgatando a
História da profª. Antônia Maria Monteiro e contido em idêntica publicação. Na seqüência
da exposição da autora e do empresário Aluisio Monteiro, pronunciaram-se os economistas
Juarez Farias, Heitor Cabral e Antonio Cavalcante Filho.
Em João Pessoa e Campina Grande, o UNIPÊ contribuiu, decisivamente, para o
primeiro aniversário do falecimento do professor e escritor Amaury Vasconcelos que, nos últimos
quarenta anos, se distinguiu como militante cultural dos quadros da APL, IHGP, CEC e GJHR.
O ponto alto das manifestações alusivas ao primeiro aniversário do passamento de 141
Amaury Vasconcelos correu por conta da apresentação da coletânea Apologia do Amor –
Sady e Àgaba (2008) de autoria de Antônio Bemvindo e coordenada pelo filho Amaury.
O Acontecimento ocorreu em dois
tempos, com o primeiro tendo lugar na
Livraria Cultural, de Campina Grande, sob
a responsabilidade da Academia de Letras
local. Ocorreram então pronunciamentos
do escritor Airton Elisiário, presidente
da ALCG e seu colega José Moraes
Lucas, também pertencente ao Grupo José
Honório Rodrigues.
Em João Pessoa, a terceira
edição da novela de Antônio Bemvindo
motivou, a 13 de outubro de 2008, painel
na Fundação Casa de José Américo,
ocasião em que intervieram os teatrólogos
Paulo Vieira, Elpídio Navarro e Anunciada
Fernandes, e o pesquisador Jean Patrício,
do GJHR.

HOMENAGEM A CONSELHEIROS FUNDADORES

Dois conselheiros fundadores do Centro Universitário de João Pessoa-UNIPÊ, e,


nessa condição, integrantes da Assembléia Geral do IPÊ, o monsenhor José Trigueiro do
Vale e o padre casado Manuel Batista de Medeiros, foram alvo de expressivas homenagens
da comunidade paraibana, em novembro e dezembro de 2008.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.
142 A 30 de novembro, o ex-Reitor José Trigueiro do Vale completou sessenta anos de
vida sacerdotal, em razão do que Arquidiocese da Paraíba e UNIPÊ se conjugaram para
série de manifestações, nas Igrejas N. Sa. de Lourdes, de onde foi pároco, desde 1948, e
Centro Social Dom Adauto, por ele também dirigido. Na missa concelebrada da Igreja de
Lourdes, a homilia foi procedida pelo Arcebispo Dom José Maria Pires, que se referiu às
altas qualidades morais e religiosas do homenageado. O pronunciamento do ex-Arcebispo
da Paraíba viu-se convertido em publicação pela coleção Autônoma da Comissão Editorial
do UNIPÊ. No chamado Rito da Prostração, o professor e cientista político Oswaldo Trigueiro
do Valle – irmão de José – referiu-se a este como responsável por “trabalho estável e
ininterrupto que só tivera uma finalidade – esta paróquia”.
Reitor do UNIPÊ, durante dezoito anos, José Trigueiro recebeu seus convidados
com recepção oferecida, em seguida à missa, no Centro Social Dom Adauto.

***
Já o conselheiro e procurador Manuel Batista de Medeiros, também do UNIPÊ, viu-
se contemplado, a 09 de dezembro de 2008, pela Assembléia Legislativa da Paraíba, com a
medalha Epitácio Pessoa, como a mais alta honraria do Poder Legislativo da Paraíba.
Resultante de propositura do deputado João Henrique de Sousa, a comenda teve em
vista a intensa atuação profissional do homenageado como (ex) sacerdote, professor,
advogado, escritor e jornalista profissional.
Primeiro Reitor do IPÊ, quando este ainda se denominava Universidade Autônoma,
e presidente da Academia Paraibana de Letras, durante dois mandatos, o atual Chefe da
Procuradoria Jurídica do UNIPÊ tornou-se, ao longo da trajetória profissional, titular em
letras pela UFPB e metre em Educação pela Universidade Católica do Recife. Bem assim
vigário de São Miguel de Taipu e outras paróquias, inclusive em João Pessoa. Professor do
Liceu Paraibano, Seminário Arquidiocesano, UFPB e UNIPÊ, e ainda Procurador Jurídico
do Estado, onde se aposentou do serviço público.
Jornalista profissional e colaborador de inúmeros jornais paraibanos, dirigiu o
semanário católico A Imprensa e o Rádio Arapuan de João Pessoa. Seu currículo também
assinala o exercício da Secretaria do Interior e Justiça da Paraíba, a condição de Rádio
Amador PR7-BTG e a de colaborador emérito do Exército Nacional, a nível do IV Exército.
Aproveitando a comenda que lhe foi outorgada, o professor Manuel Batista procedeu
o lançamento da coletânea de ensaios Semeando o Outono, preparada pela Editora do
UNIPÊ. O Reitor deste, professor e doutor José Loureiro Lopes, prestigiou, juntamente
com dirigentes, professores, alunos, técnicos e funcionários da instituição, tanto a comenda
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

de Batista de Medeiros quanto o aniversário de ordenação sacerdotal do Monsenhor José


Trigueiro.
NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS NA REVISTA DO 143
UNIPÊ

1. O periódico trimestral Revista do UNIPÊ publica trabalhos inéditos nas áreas


de Ciências Humanas e Sociais, Ciências Jurídicas e Ciências Biológicas e da Saúde, sobre
que versarão seus sucessivos números.

2. Tais publicações, redigidas em português, inglês, francês, alemão, italiano ou


espanhol, deverão encaixar-se em uma das seguintes categorias:
- Artigos – trabalhos originas teóricos de revisão de literatura e relatos de pesquisa
(até 12 laudas).
- Comunicação de pesquisa – relatos originais sucintos de pesquisas realizadas
(até 6 laudas).
- Artigos de Metaciência - Pesquisa de Produção (até 20 páginas).
- Resenhas – apresentação e análise de livros publicados na área (até 4 laudas).
- História – reimpressão ou impressão de trabalhos ou documentos de difícil acesso,
relevantes do temário da Revista – Ciências Humanas e Sociais e Biológicas e da Saúde (até
2 laudas).

3. Para publicação, a matéria deverá ser aprovada por um dos integrantes do Corpo
Editorial da Revista.

4. O trabalho poderá ser aceito sem restrições, com pequenas mudanças, com grandes
alterações ou rejeitado, recebendo os autores cópias anônimas dos pareceres.

5. Os originais deverão ser enviados em três vias impressas em entrelinhamento duplo


(2 espaços, fonte Times New Roman, corpo 12), incluindo figuras e tabelas (em arquivos
separados ou juntos), utilizando qualquer processador de texto conversível para o padrão
Word for Windows , sem utilizar recursos especiais de edição em CD ROM. Este deverá
conter etiqueta com código de acesso ao(s) arquivo(s).

6. Na página de rosto, deverão constar título do artigo, nome(s) do(s) autor(es),


vínculo institucional, titulação do(s) autor(es), endereço completo para correspondência,
telefone, fax e e-mail.
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

7. Na segunda página, devem aparecer os resumos, primeiro em português e em


seguida em inglês; na seqüência: título, resumo (abstract), com texto de até 120 vocábulos e
palavras-chave (key-words) até 3.

8. A numeração das páginas do texto começa na página seguinte, com o nº 1.

9. As abreviações que não tenham sido previamente especificadas no texto não


devem ser usadas, mesmo que de uso corrente.
144 10. Rodapé só será permitido na primeira página, para agradecimentos e atribuições
de crédito.

11. O formato das referências deve seguir as últimas normas da ABNT.

12. Tabelas e figuras devem ser numeradas, seqüencialmente com números arábicos,
seguidos dos títulos. Nas tabelas, o título aparece na parte superior, e nas figuras na parte
inferior, devendo, em ambos os casos, ser bons descritores do conteúdo apresentado. Sempre
que possível, não usar verticais para separar as colunas nas tabelas (usar tabelas
preferencialmente abertas). Indicar no corpo do trabalho ou inserir tabelas e figuras.

Tabela 1 ou Tabela 2

Apresentá-las ou não em arquivos separados do texto (neste caso, indicar o


código de acesso no texto) em CD ROM, assegurar-se da qualidade das figuras e tabelas
(legibilidade, compreensão, não redundantes entre si e com o conteúdo do texto). Aconselha-
se aos autores que sejam parcimoniosos no uso de figuras, e dêem preferência à apresentação
em tabelas.

Endereço da Revista do UNIPÊ


Bloco B, Sala 208, 1º andar, BR 230, KM 22, Água Fria
Cx. Postal 318, CEP 58053-000 – João Pessoa/PB
Fone: (83) 2106-9266
email: www.revista@unipe.br
Revista do UNIPÊ, Ano XIII, nº 2, 2009.

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