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CAPÍTULO 13 – CRITÉRIO MUNICÍPIOS MINERADORES

ICMS Solidário 2016


Ana Carolina Pinheiro Euclydes
Consultora da Gerência-Geral de Consultoria Temática. Gerência de Acompanhamento e Avaliação de
Políticas Públicas – ALMG.

Mariana Navarro Paolucci


Consultora da Gerência-Geral de Consultoria Temática. Gerência de Acompanhamento e Avaliação de
Políticas Públicas – ALMG.

1 DESCRIÇÃO DO CRITÉRIO

A Lei 12.040, de 19951 – determinou que um percentual2 da parcela do ICMS destina-


do aos municípios deveria ser distribuído conforme o critério Municípios Mineradores. A
própria Constituição do Estado, no § 2º do art. 253, determina que a lei que estabelecer
o critério de rateio da parte disponível do ICMS, reservará percentual específico para
os municípios considerados mineradores – sem, no entanto, definir critérios para a
classificação desses municípios.

Atualmente, essa distribuição é feita com base na percentagem média do Imposto Único
sobre Minerais – IUM – recebido pelos municípios mineradores em 1988, determinada de
acordo com índice elaborado pela Secretaria de Estado da Fazenda de Minas Gerais – SEF.

O IUM foi criado pela Constituição Federal de 19673, tendo sido regulamentado pelo
Decreto-Lei n° 1.038, de 19694. Com a promulgação da Constituição da República de
19885, esse imposto deixou de vigorar.

Como forma de compensação aos municípios que o recebiam, o Estado de Minas Ge-
rais instituiu o repasse de valores do ICMS a municípios mineradores desde antes da
edição da Lei nº 12.040, em 1995. Isso porque a Lei nº 9.758, de 19896, previu que,

1 MINAS GERAIS. Lei nº 12.040, de 28 de dezembro de 1995. Dispõe sobre a distribuição da parcela de receita do produto da arrecadação do
ICMS pertencente aos municípios, de que trata o inciso II do parágrafo único do artigo 158 da Constituição Federal, e dá outras providências.
(Art. 1º, inc. V.) (A Lei nº 12.040, de 28/12/1995 foi revogada pelo art. 6º da Lei nº 13.803, de 27/12/2000.)
2 Esse percentual seria de 1,50000% em 1996, 0,75000% em 1997 e 0,11000% a partir de 1998.
3 BRASIL. Constituição (1967.) Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para
Assuntos Jurídicos, s.d.
4 BRASIL. Decreto-Lei nº 1.038, de 21 de outubro de 1969. Estabelece normas relativas do Imposto Único sobre Minerais e dá outras
providências.
5 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Belo Horizonte: Assembleia Legislativa de Minas Gerais,
2012.
6 MINAS GERAIS. Lei nº 9.758, de 10 de fevereiro de 1989. Altera a Lei nº 6.763, de 26 de dezembro de 1975, e dá outras providências.

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até que se desse a regulamentação da distribuição do ICMS aos municípios, deveria ser
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garantido aos municípios valor idêntico àquele que era percebido por esses entes federa-
tivos a título de IUM. Meses depois, a Lei nº 9.934, de 19897, determinou que, a partir de
1º de março de 1989, seria devido aos municípios mineradores o valor atualizado, equiv-
alente ao percentual médio do IUM, por eles recebido em 1988. Esse valor correspondia
a 5,61% do valor total do ICMS devido aos municípios e era repassado quinzenalmente.

A Lei nº 12.040, de 1995, alterou o percentual para 1,5% e previu que ele diminuiria
progressivamente até atingir 0,11 em 1998. Com o advento da Lei nº 18.030, de
20098, ficou definido que o percentual da parcela do ICMS a ser repassada com base
no critério Municípios Mineradores, a partir de 2011, seria reduzido para 0,01% do total
do ICMS repassado pelo Estado aos municípios por critérios que não o VAF.

2 ANÁLISE DA ADERÊNCIA DOS MUNICÍPIOS AO CRITÉRIO

Em consequência da natureza do critério, o número de municípios que dele se benefi-


ciam é fixo e soma 370, o que corresponde a 43,37% dos municípios do Estado.

2.1 Análise da distribuição de recursos financeiros do critério

Inicialmente, cabe dizer que todas as regiões de planejamento são contempladas com
distribuição de recursos com base no critério Municípios Mineradores e que a impos-
sibilidade de acréscimo ou retirada de municípios impede qualquer alteração da distri-
buição dos valores entre as regiões d.mento ao longo dos anos.

Da análise da distribuição de recursos financeiros observa-se que:


• de 2000 a 2012, o valor distribuído com base nesse critério vinha em crescimento
leve e contínuo – com exceção dos anos de 2002 e 2003, nos quais houve uma
ligeira queda – até 2011, quando passou a surtir efeito a alteração perpetrada pela
Lei do ICMS Solidário, que determinou a redução do percentual destinado ao critério
de 0,11% para 0,01%. Tal redução levou a uma queda de 90,46% do valor recebido
pelos municípios por meio do critério Municípios Mineradores. Em 2010, foram dis-
tribuídos R$7.092.894,29, enquanto em 2011 apenas R$676.647,53 foram repas-
sados aos mesmos municípios;
• a Região Central é a que mais recebe recursos, concentrando 76,99% do total dis-
tribuído, seguida da Região Sul de Minas, com 6,35%. As outras oito regiões de
planejamento respondem, somadas, por apenas 16,66% dos recursos distribuídos
pelo critério. A Região Rio Doce é a que menos recebe – 0,45% do total destinado às
dez regiões de planejamento do Estado.

7 MINAS GERAIS. Lei nº 9.934, de 24 de julho de 1989. Dá nova redação ao artigo 8º da Lei nº 9.758, de 10 de fevereiro de 1989, e dá outras
providências.
8 MINAS GERAIS. Lei nº 18.030, de 12 de janeiro de 2009. Dispõe sobre a distribuição da parcela da receita do produto da arrecadação do
ICMS pertencente aos Municípios.

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• dos 370 municípios que recebem repasses pelo critério Municípios Mineradores, a

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maioria – 249 – está localizada acima da linha mediana. Por sua vez, menos da
metade – 121 municípios – está localizada abaixo da linha mediana;
• os municípios localizados acima da linha mediana recebem 38,17 vezes mais do que
aqueles localizados abaixo da linha mediana.

A análise dos dados mostra que o critério não contribui para reduzir a desigualdade da
distribuição do ICMS almejada pela legislação que regulamenta essa distribuição, uma
vez que contempla, em sua grande maioria, municípios posicionados acima da linha
mediana de apropriação média de receita de ICMS.

2.2 Análise da aderência do critério à política pública

O critério Municípios Mineradores foi criado com o objetivo de compensar os municípios


que recebiam recursos oriundos do IUM e que deixaram de recebê-lo por causa da
extinção do tributo em 1988. Conforme relatado anteriormente, desde a instituição do
repasse de valores do ICMS sob esse argumento, o percentual destinado a ele diminuiu
consideravelmente devido à instituição da Compensação Financeira pela Exploração de
Recursos Minerais – CFEM –, que vem atender ao mesmo objeto do critério.

No entanto, conforme mencionado, a Constituição do Estado determina que seja reser-


vado percentual específico para os municípios considerados mineradores quando do
estabelecimento de critérios de rateio do ICMS. Dessa forma, e não havendo alteração
do texto constitucional, há de se considerar os municípios mineradores no repasse da
parcela do ICMS regulada por lei.

No que se refere à CFEM, a Constituição da República, no § 1º do art. 20, assegura aos


estados, ao Distrito Federal, aos municípios e a órgãos da administração direta da União
participação no resultado da exploração mineral ou compensação financeira por essa
exploração. A CFEM é devida por toda e qualquer pessoa física ou jurídica que explora
substâncias minerais para fins de aproveitamento econômico. O valor a ser pago é
calculado sobre o valor do faturamento líquido, obtido por ocasião da venda do produto
mineral. As alíquotas aplicadas sobre o faturamento líquido para obtenção do valor da
CFEM variam de acordo com a substância mineral.

Do total arrecadado com a CFEM, 65% vão para o município produtor com o objetivo
de serem aplicados em projetos que, direta ou indiretamente, revertam em benefício da
comunidade local, na forma de melhoria da infraestrutura, da qualidade ambiental, da
saúde e da educação, sendo vedado o seu uso para pagamento de dívida ou do quadro
permanente de pessoal.

Há que se destacar que muitos municípios que hoje têm suas economias fortemente re-
lacionadas às atividades extrativas minerais não tinham essas características em 1988

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– ano-base para o cálculo do ICMS pelo critério Municípios Mineradores –, o que torna
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o critério defasado quanto a esse aspecto. Além disso, conforme dito anteriormente, a
CFEM é responsável por compensar os municípios pela exploração mineral em seus
territórios e seus valores são bem superiores aos distribuídos pelo critério Municípios
Mineradores.

No ano de 2012, a CFEM rendeu aos municípios mineiros a quantia de R$


974.548.269,60, valor 1.495 vezes maior do que o distribuído por meio do critério Mu-
nicípios Mineradores, que foi de R$ 651.761,36. Em 2012, 370 municípios obtiveram
receitas de ICMS com base no critério Municípios Mineradores, enquanto 434 recebe-
ram recursos oriundos da CFEM, havendo uma interseção de 269, que receberam por
ambas as fontes.

Assim, tem-se que 101 municípios recebem recursos do ICMS por conta da produção
minerária, mas não abrigam mais esse tipo de atividade em seu território, uma vez que
não fizeram jus ao recebimento de valores oriundos da CFEM no ano de 2012. Em ou-
tras palavras, quase 30% dos municípios aptos ao recebimento de recursos do critério
Municípios Mineradores não mais se enquadram na classificação de “municípios mine-
radores” e não deveriam continuar sendo compensados pela perda de recursos do IUM.

Cabe acrescentar que a produção mineral gera, ainda, repasse aos municípios por
meio do VAF proveniente da indústria extrativa mineral. De acordo com a FJP, em 2009,
467 municípios do Estado recebiam repasses de ICMS decorrentes do VAF da indús-
tria extrativa mineral. Dessa forma, os municípios que recebem repasses do critério
Municípios Mineradores e que ainda abrigam atividade de produção mineral em seus
territórios já fazem jus ao recebimento de repasses de ICMS com base no VAF.

A progressiva redução do percentual destinado ao critério aponta para o reconheci-


mento de que ele não mais atende aos propósitos que ensejaram sua inclusão na Lei
nº 12.040, de 1995. Ele não contribui para reduzir a desigualdade da distribuição do
ICMS e privilegia municípios que não possuem atividade mineral e, consequentemente,
não precisariam mais ser compensados com a perda de recursos do IUM. Com relação
aos municípios que ainda possuem atividade mineral, conforme foi dito, esses fazem
jus ao recebimento da CFEM. Diante do comando constitucional que determina que os
municípios mineradores sejam contemplados no rateio do ICMS, o critério em análise
poderia passar por uma revisão de seus parâmetros, mas não deveria ser excluído. As-
sim, apenas uma emenda à Constituição que revogasse o § 2º do art. 253 seria capaz
de permitir que os municípios mineradores não fossem contemplados no rateio da parte
disponível do ICMS.

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REFERÊNCIAS

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BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Belo
Horizonte: Assembleia Legislativa de Minas Gerais, 2012. Disponível em: <http://www.
almg.gov.br/consulte/legislacao/Downloads/pdfs/ConstituicaoFederal.pdf>. Acesso em:
14 ago. 2015.

BRASIL. Decreto-Lei nº 1.038, de 21 de outubro de 1969. Estabelece normas rela-


tivas do Imposto Único sobre Minerais e dá outras providências. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/Del1038.htm>. Acesso em: 14
ago. 2015.

MINAS GERAIS. Lei nº 9.758, de 10 de fevereiro de 1989. Altera a Lei nº 6.763, de


26 de dezembro de 1975, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.almg.
gov.br/consulte/legislacao/completa/completa.html?tipo=LEI&num=9758&comp=&a-
no=1989>. Acesso em: 14 ago. 2015.

MINAS GERAIS. Lei nº 9.934, de 24 de julho de 1989. Dá nova redação ao artigo 8º da Lei
nº 9.758, de 10 de fevereiro de 1989, e dá outras providências. Disponível em: <http://
www.almg.gov.br/consulte/legislacao/completa/completa.html?tipo=LEI&num=9934&-
comp=&ano=1989>. Acesso em: 14 ago. 2015.

MINAS GERAIS. Lei nº 12.040, de 28 de dezembro de 1995. Dispõe sobre a distribuição


da parcela de receita do produto da arrecadação do ICMS pertencente aos municípios, de
que trata o inciso II do parágrafo único do artigo 158 da Constituição Federal, e dá outras
providências. (Art. 1º, inc. V.) (A Lei nº 12.040, de 28/12/1995 foi revogada pelo art. 6º
da Lei nº 13.803, de 27/12/2000.) Disponível em: <https://www.almg.gov.br/consulte/
legislacao/completa/completa.html?tipo=LEI&num=12040&comp=&ano=1995.>.
Acesso em: 14 ago. 2015.

MINAS GERAIS. Lei nº 18.030, de 12 de janeiro de 2009. Dispõe sobre a distribuição


da parcela da receita do produto da arrecadação do ICMS pertencente aos municípios.
Disponível em: <https://www.almg.gov.br/consulte/legislacao/completa/completa.ht-
ml?tipo=LEI&num=18030&comp=&ano=2009>. Acesso em: 14 ago. 2015.

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