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REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

Sabe-se que todas as normas instituídas no Brasil devem atender os


princípios da nossa Constituição Federal que prima pelo exercício de um Estado
Democrático de Direito, principalmente no que concerne a dignidade da pessoa
humana. Não obstante o Direito Penal tem como principal objetivo resguardar esse
princípio constitucional através de exigências formais e materiais, ou seja, a lei que
tipifica um crime deve considerar os princípios constitucionais.

A história da evolução humana nos demonstra que paralelo ao


desenvolvimento socioeconômico de uma nação surgem as ocorrências
degradantes que ferem a dignidade da pessoa humana, como o aumento da
pobreza e da fome, a degradação de sistemas de saúde, entre outros como a
elevação da violência em todas as suas ordens, moral, física, psicológica e etc.
Neste momento vemos mais uma vez a importância da aplicação do Direito Penal,
posto isto temos hoje no âmbito legislativo uma demanda que busca a redução da
maioridade penal, onde atualmente conforme Art. 27 do Código Penal é adquirida a
partir dos dezoito anos o que é garantido pela CF/88 em seu Art. 228, dentre as
propostas de redução temos as hipóteses de redução para 16 e para 14 anos.

Os defensores dessas propostas de redução da maioridade tem como


questionamentos 1. A aplicabilidade obsoleta do atual CPB que alcançava jovens à
época de sua publicação com imaturidade e consciência plena diferentes dos jovens
atuais; 2. Que atual maioridade penal gera a cultura de impunidade e 3. De que esta
não está eficaz na resolução dos problemas criminais, no caso. É fato que temos um
aumento dos crimes praticados por menores, ou pelo menos uma repercussão
maior, o que não significa dizer que esta proposta de redução resolverá um
problema antigo em nossa sociedade.

Como defensores da manutenção da imputabilidade penal a partir dos dezoito


anos temos a considerar os seguintes pontos:

1. A estrutura socioeconômica do país, e aqui devemos citar valores de


família, educação, saúde, emprego e renda, onde a realidade e a oferta
desses requisitos mínimos para garantir uma vida plena ao cidadão,
digamos até no mundo, é precária e ineficaz. Hoje vemos que muitos
destes jovens vem de famílias desestruturadas tanto em afeto e valores
como em situação econômica;
2. A ineficácia do Sistema Penitenciário brasileiro, onde a estrutura física
não comporta a demanda e a estrutura de ressocialização dos presos
não acontece, as ações e normas que visam reintegrar estes menores
deliquentes não existem de fato, neste caso o Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA, que é muito criticado, pois é de caráter protetivo,
mas não uma proteção do menor como infrator, mas da garantia de este
menor viva a sua infância e adolescência junto a sua família, com
educação e saúde de qualidade e civicamente pronto para ser inserido
no mercado de trabalho quando estiver apto a exercer seus direitos e
obrigações, como estabelece o Art. 4ª do ECA, que prevê ser dever de
todos, Família, Sociedade ou Poder Público, assegurar os direitos
fundamentais das crianças e dos adolescentes, sendo esta uma
prioridade vital e essencial;
3. É fato que o atual Código Penal não sofreu nem uma reformulação
desde que promulgada a Constituição Federal de 1988, mas isso não
significa dizer que a imaturidade do jovem antes era maior que nos dias
de hoje, o que se percebe é que à época da instituição do nosso Código
Penal, as famílias eram mais preocupadas no coibir atitudes imaturas de
suas crianças e adolescentes, o que podemos dizer é que hoje temos
mais meios de comunicação e de informação, o que não garante
absorção benéfica por parte destes menores;
4. A incidência de crimes cometidos por menor de 18 anos corresponde,
atualmente a apenas 10% da totalidade, ou seja, o problema da
criminalidade não está tão somente na ação destes inimputáveis.
5. E por fim a crença de que esta proposta de redução da maioridade
penal, está sendo utilizada como uma resposta imediata à sociedade
que apela por justiça, quando da grande repercussão dada pela mídia
nacional aos crimes cometidos por menores, o que significa dizer que
estes tipos de crimes são irrelevantes para a manutenção da segurança
jurídica.
Estas são as principais questões que nos fazem crer que as propostas de
redução da maioridade penal não terão a eficácia plena no que concerne a manter
um Estado Democrático de Direito, que prima pelo bem estar de seus cidadãos em
todas as formas, conforme predispõe o Art. 3ª da CF/88, incisos I à IV (Constituem
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: Construir uma sociedade
livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a
marginalização (grifo nosso) e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação). Acreditamos sim na efetiva
aplicabilidade da lei e das políticas sociais que nossa nação já possui instituídas.
REFERÊNCIAS

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – parte geral. 14ª Ed. São Paulo:
Saraiva, 2010.

GONÇALVES, Antonio Baptista. Inimputabilidade e não impunidade. DireitoNet,


São Paulo. 21 set. 2004. Disponível em: <
http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/1735/Inimputabilidade-e-nao-impunidade>.
Acesso em: 25 de março de 2011.

HORA NETO, João. A maioridade civil e o ECA. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n.
127, 10 nov. 2003. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/4455>. Acesso
em: 28 de março de 2011.

SOUZA, Arivaldo Santos de. Redução da maioridade civil, Direito Penal e


Processual Penal. Revista Jus Vigilantibus, 4 jun. 2004. Disponível em:
<http://jusvi.com/artigos/808>. Acesso em 24 de março de 2011.

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