Você está na página 1de 13

ISBNBTS-MSI72-34-4

DADOS IMTEnMCIOlUIS K cxnooaAçJb)lU pubucaçAo


ANDÉUCA HACOUA Cltt-I/7Q67

Monteiro. Alacandre -i-. y


Trteubçte dá ecolni^ diglói:'«tesaflos m
SoSos I saraivaK- < internacional a .novn. perspectivas /-AJexarabs Mon^ Renato /
Faria. Ricardo Matto. Slo Paulo;Sandvi Educação, 2018.
Av. das Naçdas Unidas, 7,221,1!andar, Setor B
Pintieiros-sao Paulo-SP- CEP 05425-902
1. nreNo irlMário 2. kitemet- Lagnliçao 3. Cocnárc» ataW-
nico: hnostos•Lagisi^ 4. TribuMÇSo t'Madoa L Tluto 11,4
I0»«Mni7í75
De2>a6a,dasBhàs18h
Sumário
mnr.Ê0lkinatnln.com,^/etaaÈo
iaO40S CtXr 34.336.2:004 73aS ^

Diretoria axacuttva Rávia Atves Bravin índca para caltfoQQ sistantebco:


DIrfloria editorial Itenata Pascual MQíler I.DhBjtDHMttfo; Economia Digital 34:336.2.-004.738.5
Gerência edttoriil Roberto Navarro

Coesidlorta acadinfea lAirilo Angei Dias dos Santos

".1 Ediçlo Eveãne Gonçalves DenanI(coord.)


Bnma Glmenez Boani
í

Produção eiBtorial Ana Cristina Garcia (coord.)


Canina Mlhoko Massanhí

S Arte 6 digitai Mônica Land (coord.)


Apresentação ii
Claudirene de Moura Santos Slva
Fernanda Matajs Parte i
Gidherme H. M. Salvador Tributação e os desafios da economia digital no Brasil
Tiago Dela Rosa Data de fechamento da ediçfto: 10-7-2tn8
Verônica PIvisan Reis
...IA Seção A - Aspectos relacionados à tributação direta local e internacional
.1: "-li-
Ptanejaiiieiito e procttset Clarissa BorascN Maria (coord.) Dúvidas? Acesse www.edítorasafafva.comJN/dirBito
Jtdiana Fernáno Estabelecimento piermanente: l^islação tributária brasileira e desafios na economia
4'
I Kem Priscila Pinto Nenhuma parle desta publicação poderá ser repnxhizida por digital
friarfüa ConMro
qualquer meio ou forma sem a pr^ autorização da Editora
Saraiva. A violação dos díreitos autorais é crime estabelecido
/úãâ Francisco Bianco c Fabiana Carsoni Alves Fernandes da Silva 16
Fernando Penteado na Lei n. 9.61(VW e punido pelo art 184 do Código Penal
IWnica Gonçalves Dias A tributação de IRRF na importação de cloud computing no Brasil e as soluções
Tafiana dos Sar^ Romão a 605010 CAE 627157 analisadas na Ação 1 do BEPS
João Dãcio Rolim e Danieía Silveira Lara 37
Neves profetee Fernando Alves

Projeto gráfico Guilherme H. M. Sahrador As operações internacionais envolvendo software e o imposto de renda
DIegramaçio Muiraquíâ Editoração Gráfica Gustavo Lian Haddad c Vinícius Nogueira 57
i fr Revisão Albertina Pereira Leite Piva
C i.
P ca Capa Tiago Dtò Rosa Qualificação de operações envolvendo software no Brasil à luz dos tratados contra a
|1 Produção gráfiee MarfiRampim bítributação: visão da OCDE e a prática brasileira
Sérgio Luiz Pereira Lopes Rodrigo Maito da Sibeira t Antonio Carlos de Almeida Amendola 84
Impressão e acabamento EGB EcBtora Gráhca Bemanfi Ltoa

11 Com a cabeça nas nuvens e os pés no chão? A tributação internacional da renda no


ambiente de cloud computing
Luís Fldvio Neto c Giãcomo Paro 98
Tributação da Economia Digitai Sumário

Os princípios da tributação no Estado da fonte e no Estado da residência e os impactos O paradigma da «x>nomia digital e os novos conceitos de serviço e mercadoria—reflexos
da economia digitai no Brasil e no mundo na tributação
Maüiem Bertholo Pwonez 116 Carlos Augusto Daniel Neto e Leonardo Ogassawara de Araújo Brurtco 322

Potenciais impaaos tributários do CPC 47 nos n^óáos voltados à economia digjitai ICMS sobre sojtwair. evolução do conceito constitucional de mercadorias em &ce da
EUdie Palma Bifano e Bruno Fajmztajn 134 inovação tecnológica
Carlos Otávio Ferreira de Almeida e Lucas Betnlacqua 339
Questões controversas relacionadas à contabilizado de negócios na economia atual e
os seus possíveis reflexos tributários Tributação da economia digital e os conflitos de competência entre ICMS e ISS
Maurício Barros 358
Bárbara Melo Carneiro e Fernando Daniel de Moura Fonseca 158
Operações de cloud computing {SaaSt laaS,PaaS etc): ICMS vs. ISS
Desafios da tributação doméstica de operações com software na era da economia digital
Rodriffj de Freitas e Bruno Akio Oyamada 376
Paulo César Teixeira Duarte Filho eArthur Pereira Muniz Barreto............................ 173
A Tributação pelo ISS e pelo ICMS das operações com software
Preços de transferência e a criação de valor distribuição de software no Brasil João Victor Gtudes Santos e Camila Caçador Xavier 397
Alexandre Siciliano Borges t Igor Scarano Brandão 193
O ISS e a exportação de serviços: conceito de resultado e o princípio do destino nas
A economia digital e as regras brasileiras de preços de transferência: os problemas na atividades voltadas à economia digital
aplicado dos métodos aos serviços, intangíveis e direitos Femarula Ramos Pazello 411
Diego Marchant 205
Jogando com o conceito de valor aduaneiro: um estudo sobre a valoração aduaneira
Transferências cross-border de direitos de uso sobre software de prateleira: aquisição de na importação de jogos eletrônicos
mercadoria ou licenciamento? Tributação na fonte e dedutibílidade de despesas Carlos Eduardo de Arruda Navarro eJoão Vitor Kanujrt Xavier da Silveira 430
Carlos CometScharftteineJuliana Vargas Saüouti,. 214 Aspectos tributários do download de sojtware-. equívocos comuns e implicações
Tratamento jurídico-tributário do doumload de software no Brasil decorrentes da edição do Convênio CONFAZ n. 181/2015
Matheus Carneiro Assunção 227
Matheus Augusto Ferraz Rector e Raphael de Campos Martins 447
Aspectos da tributação sobre o consumo no cloud computing
Aspectos da tributação decorrente da importação do cloud computing no Brasil
Sérgo Papini de Mendonça Uchôa Filho e íris Cintra Basjlio, 462
Henrique Munia e Erbolato e Lucas Di Francesco Veiga 235
Seção C - Tributação de produtos ou negócios selecionados
Seção B - Aspectos relacionados à tributação sobre o consumo
ICMS sobre a divulgação de material publicitário na intemet por prove(k>r
Internet das Coisas à luz do ICMS e do ISS: entre mercadoria, prestação de serviço Heleno Taveira Torres 480
de comunicação e serviço de valor adicionado
Luís Eduardo Schoueri c Guilherme Galdino 245 Tributa^ de atividades de streamingáe áudio e vídeo: guerra fiscal entre ISS e ICMS
Alberto Macedo 504
A Lei Complementar n. 157/2016 à luz da Constituição F^ieral:aspectos relacionados
à retroativídadc e aos campos de incidência do ICMS e do ISS na atividade de difusão O alcance da imunidade tributária sobre os livros digitais e seus acessórios
de vídeos, áudio e textos pela intemet Marcos Neder c Ludane Pimentel. 522
José Eduardo Soares de Melo 269 laaS,PaaS,SaaSe os reflexos tributários da cloud computirig desenvolvida no exterior
Determinação dos limites de incidência do ICMS na modalidade ''comunicação" e Luciana Rosanova Galhardo e Pedro Augusto do AmaralAbujamra Asseis 533
do ISS nas atividades de veiculação de textos/imagens e divulgação de publicidade na Tributação de negócios desenvolvidos por meio de aplicativos associados aos serviços
intemet de transporte
Roberto BiavaJúnior 283 Rodrigo Brunelli Machado e Nathalia Xavier da Silveira de Mello Brandão 544
E'Commercr. aspeaos tributários sob a perspectiva brasileira Tributação da atividade de armazenamento digital de dados
Adma FeÜcia Barbosa Murro Nogueira 302 Hugo de Brito Machado Segundo c Raquel Cavalcanti Ramos Machado 556

T
Tributação da Economia Dij^tal Sumário

Tributação de marketing digital por meio de websitâsi Caso Google Adworks e o Economia digital e a criação de um IVA para o Brasil
contraponto entre as perspectivas brasileira e internacional Paulo Caliendo 791
Luciana Ibiapina Lim Aguiar 570
Os desafios da tributação indireta do comércio eletrônico: estratégias para a
R^ime jurídico tributário do VolP simplificado da arrecadação tributária em operações B2C
Renato Vilela Faria 588 MisabelAbreu Machado Derzi e César Vale Estanislau 806

Tributação de data center no Brasil Reforma tributária: desafios da evolução da economia digital versus complexidades da
Thais Meira c Andréa Oliveira 606 Federação brasileira
Breves considerações sobre o tratamento legal, contábil e físcal das moedas virtuais José Luís Ribeiro Brazuna 825
Thú^o Rufalco Medaglia e Eric Simões Visini 624 Jogos de realidade virtual e robótica: desafios para a tributação de humanos no mundo
virtual e robôs no mundo teal
IRF e lOF sobre remessas realizadas por empresas de intermediação de pagamento e
regulação do BACEN Victor Polizelli. - 846

Renato Souza Coelho e Gabriel Oura Chiang. 641 Tributação direta vs. tributação indireta na economia digital: reflexões sobre os impactos
A Tributação de SaaSe SaaP no Brasil por ISS ou ICMS:Estudo de Casos de Massively da concentração de tributos sobre o consumo em detrimento da tributação sobre a
Multiplayer Online Games(MMOGs) renda para a praticabilidade e justiça fiscal
Lucas de Lima Carvalho c Rogério Baptista Fedele. 657 Rafael Malheiro e Laura Salviano Almeida da Costa 866

Desafios na tributação dos programas de fidelização A competitividade no mercado global e a tendência à migração para um sistema de
tributação territorial
Jorge N. F LopesJr. e Mariana Monte Alegre de Paiva 677
Ramon Tomazela Santos 881
Tributação das Aplicações Over-The-Top no Brasil: visão geral e análise das atividades
de transmissão de a>nteúdo audiovisual,envio de mensagens e realização de chamadas Impressão 3D e sistema tributário disfundonal
de voz por meio da intemet Flãvio Veitzman 899

Ricardo Augísto Ahes dos Santos 692 Deveres instrumentais na economia distai: o Siscoserv e os limites ao controle do
O Softtvare as a Service(SaaS) e a tributação pelo ISS comércio internacional de serviços
Maria Ângela Lopes Paulino Padilha 711 Caio Augusto Takarto 906

Tributação de sojiware "embarcado" e os conflitos ICMS vs. ISS


Seção B - Economia digital, a Ação 1 do BEPS e a visão da ONU:
Fernanda Sã Freire FigUoulo e Maria Virgínia Fantucci Pillekamp , 727
proposições e críticas
Tributação de n^ócios desenvolvidos por meio de aplicativos associados aos serviços
de hospedagem no Brasil As estruturas de planejamento tributário adotadas pelas empresas de tecnologia, as
Leonardo Agiirm de Andrade. 742 proposições da Ação 1 do BEPS e as iniciativas legislativas dos países ao redor do
mundo
Aspectos fiscais aplicáveis à cessão e disponibilização de dados Ricardo Maitto da Silveira 922
Diego Alves Amaral Batista t Luís Felipe Vieira Rangel. 760
Uma proposta para a modificação da Convenção Modelo da OCDE em &cc da
digitalização da economia
Parte II
Tatiana Falcão 944
Novas perspectivas: políticas fiscais para a tributação dos negócios na
economia digital e das novas tecnologias Operações de Inversão(Inversions)ou Redomidliação Rscal(Reparantin£) na economia
digital
Seção A - Economia digital e formas alternativas de tributação Alexandre Luiz Moraes do Rego Monteiro e Leonardo Freitas de Moraes e Castro 939
Tributação e novas tecnologias: reformular as incidências ou o modo de arrecadar? A aplicação dos acordos de bitributação aos negócios da economia digital: as visões
Um "SIMPLES" informático do Brasil, da OCDE e da ONU sobre software e serviços técnicos
Marco Aurélio Greco. 780 Paulo Victor Vieira da Rocha 979

1
10 Tributação da Economia Digital

Alocação da propriedade intelectual e a tributação dos royaltus no Projeto BEPS: o


combate aos planejamentos tributários "abusivos" e o "nexus approaclf
Reinaldo RavelU Neto t DanielLeib Zugman 1001

Parte III
Direito comparado: a tributação da economia digital sob a m
perspectiva de outros países

Evolução da tributação da economia digital na Alemanha


GerdWilli Rothmann

As disputas de costsharing agreements envolvendo empresas de tecnolo^ nos Estados


1016
Apresentação
Unidos
Rubens Barrionuevo Biselli 1038

^iropean VAT and tbe distai economy


AUksandra Bal 1057

Canada: taxing global digital income in a post-BEPS worid


ArthurJ. Cockfield 1070

Taxation of the digital economy: a U.S.subnational perspective


Waber HeUcrstein 1086
o fenômeno de maior relevância para a economia mundial desde a Revolução Indus
Austrálias Multinational Antí-Avoidance Law (2016): treacing the symptom rather
than the disease
trial atende pelo nome de Economia Digital. A expressão passou a ser utilizada a partir de
MichaelKobetsky 1104 meados da década de 1990 para se referir ãs atividades econômicas desenvolvidas por meio
do uso da tecnologia digital, particularmente as transações realizadas em ambiente virtual.
Taxation ofthe digital economy: Argentina perspective
O rápido desenvolvimento da tecnologia da informação e da comunicação testemu
Guiüermo O. Teijeiro e Juan Manuel Vázquez 1127
nhou o nascimento do clotuí computing, das atividades de transmissão de conteúdo audio
Taxation of the digital economy in France visual pela Internet, da impressão 3D,da nanotecnologia, da internet das coisas, da criação
:• Polina Koumleva Cozais 1151 e utilização das moedas virtuais e do processo de migração para uma economia baseada em
serviços e "funcionalidades".
Taxation ofdigital economy: índia perspective
T. P. Ostwale Mohak Shingala 1165 Nos modelos de negócio surgidos na era da Economia Digital, a ação humana e a
presença física no local onde a atividade é desenvolvida são cada vez menos relevantes. Em
Taxation ofthe digital economy:Japan perspective meio aos efeitos da "economia compartilhada",o processo produtivo passa a ser mais inte
Asatsuma Akiyuki 1179
grado e os intangíveis representam o grande componente de valor das empresas.
Challenges of the tax systems in the digital economy era: México perspective O surgimenro dessa nova economia representa um grande desafio para os sistemas
EliasAelamBitar^VictorDiaz Infante Martinez 1194 tributários atuais, que foram moldados a partir da economia tradicional, tendo como
parâmetros a localização física dos contribuintes (residência), a origem dos rendimentos
(fonte) e já ultrapassada distinção entre "mercadorias" e "serviços".
m É a partir desse contexto que sugiram iniciativas como o Projeto BEPS,encabeçado
pela OCDE e pelos países do G20, que tem como propósito ampliar o debate acerca do
J I tema e rever as regras tributárias em caráter global. Em paralelo, vislumbram-se duas fortes
tendências em matéria de política fiscal: a criação de regras para tributar as atividades
l i
iU
UM

1
Alberto Macedo 505

incidência do ISS, dada a impossibilidade de, no atual ordenamento constitucional tribu


tário, existir a chamada mercadoria virtual^.
>. -?í'j ;
Já a tributação do txmsumo que envolve os serviços de streaming, este sim o objeto do
presente estudo, entxmtra-se no escopo de outro conflito, qual seja, o do ISS com o ICMS-
'yij '^HC;
^làimunicação.
dÍMíSpa í
'■'•Víh;
üií " •■
sb 5Tf! O serviço de cximunicação, cuja intúdência do ICMS é prevista pelo Constituinte
no artigo 155, II, também é um bem imaterial, fazendo parte do universo de serviços
Tributação de atividades de streaming de áudio e vídeo- previstos no texto constitucional tributáveis pelos impostos, composto este universo
guerra fiscal entre ISS e ICMS ainda por; (i) serviços financeiros e securitários (tributáveis pelo lOF, art. 153, V, da
Constituição Federal - CF/88); (ii) serviços de transporte intermunicipal e interestadual
(tributáveis pelo ICMS, an. 155, II, CF/88); e (iii) serviços de qualquer natureza, residuais
Alberto Macec/o"
epi relação aos serviços anteriores, e desde que haja previsão em lista (tributáveis pelo
ISS. an. 156,111, CF/88)1
Assim, o presente estudo pretende se debruçar sobre qual seria, em termos constitu
cionais, o correto enquadramento do serviço de streaming de áudio e vídeo; se se inclui no
conceito de serviço de qualquer natureza, ou no conceito de serviço de comunicação.
Dito de outro modo, pretende-se verificar se é constitucional a recente inserção, na
1. INTRODUÇÃO
lista de serviços anexa à Lei Complementar n. 116, de 31 de julho de 2003, do subirem
Importante aqui, de início, separar os problemas de conflito envolvendo o ISS e o 1.09, assim descrito:
ICMS.
1.09 - Disponibílização, sem cessão definitiva, de conteúdos de áudio, vídeo, imagem
A tributação do consumo^ sobre as operações com software encontra-se no escopo do e texto por meio da intemet, respeitada a imunidade de livros, jornais e periódicos (exceto
conflito do ISS com o ICMS-Mercadoria, dado que envolve a discussão sobre se o licen a distribuição de conteúdos pelas prestadoras de Serviço de Acesso Condicionado, de que
ciamento de software subsumir-se-ia ao conceito de serviço de qualquer natureza ou ao trata a Lei n. 12.485, de 12 de setembro de 2011, sujeita ao ICMS). (Incluído pela Lei
suposto conceito de mercadoria virtual. Em prévio estudo, já pudemos concluir pela Complementar n. 157, de 2016)

Mestre e Doutor em Direito Econômico, Financeiro e Tributírio pela USP. MBA em Gestão Pública Nesse sentido, cf.: MACEDO, Alberto. ISS versus ICMS-Mercadoria: Licenciamento de Software
Tributária pela Fundação Dom Cabral - FDC. Professor de Direito Tributírio no Insper, FGV, e a Impossibilidade do Avanço do Conceito Constitucional de Mercadoria Como Bem Imaterial.
R^Ptesenrante de São Paulo na Câmara Técnica Permanente da In: MACEDO, Alberto; AGUIRREZÁBAL, Rafael; PINTO, Sérgio Luiz de Moraes; ARAÚJO,
^RMF. Assessor Especial da Secretaria Municipal da Fazenda de São Paulo. Ex-Subsecretírio da Wilson José de (Coords.). Gestão Tributária Municipal e Tributos Municipais. São Paulo: Quartier
Receita Municipal de São Paulo. Ex-Presidente do Conselho Municipal de Tributos de São Paulo. Latin, 201,7. v. 6 p. 57-99; MACEDO, Alberto. Licenciamento de Software e Software as a Servi-
Aqui, definiremos tributação sobre o consumo aquela limitada aos impostos ISS, ICMS, IPI e lOF. ce (SaaS). A Impossibilidade do Avanço do Conceito Constitucional de Mercadoria como Bem
Não entram nessa classe as contribuições sociais PIS/PASEP (Contribuição para os Programas de Imaterial e suas Implicações na Incidência do ISS, do ICMS e dos Tributos Federais. In: PISCI-
Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público) e COFINS (Contribuição TELLI, Tathiane; VASCONCELOS, Roberto (Coords.). Tributação de Bens Digitais. São Paulo,
Social para o Financiamento da Seguridade Social). Isso porque, em que pese as referidas FGV-SP, 2017, no prelo; MACEDO, Alberto. Licenciamento de software não pode ser considerado
contribuições possuírem efeitos econômicos similares aos impostos sobre consumo, a materialidade mercadoria virtual. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2017-dcz-13/albcrto-macedo-stf-
dessas contribuições se distancia iuridicamcntc das matcrialidades daqueles impostos, na medida cm
que, em termos jurídicos, essas contribuições não incidem sobre a circulado de bens e serviços, desvirtuar-conceito-mercadoria>. Acesso em: 15 dez. 2017.
mas sim sobre a receita bruta decorrente da circulação de bens e serviços. Para maiores detalhes, cf. Não há uma residualidade de serviços não tributáveis no universo das atividades de produção
MACEDO, Alberto. ISS, ICMS-Mercadoria e o Caso "Embalagens" (ADI-MC 4.389 DF) - A e circulação de bens c serviços. Nesse sentido, cf. MACEDO, Alberto. ISS — O conceito eco
institucionalização, pelo STF, de Critérios que não são Constitucionais. In: MACEDO, Alberto; nômico de serviços já foi juridicizado há tempos também pelo direito privado. In: MACEDO,
iSTRO, Leonardo Freitas de Moraes e (Coords.). Tributação Indireta Empresarial. Indústria, Alberto et al. XII CNET — Direito Tributário e os Novos Horizontes do Processo. São Paulo:
Comércio e Serviços. São Paulo: Quartier Latin, 2016. p. 809-846. Noeses, 2015. p- 1-79-

IuULau.!

1
506 Tributação da Economia Digita! Alberto Macedo 507

2. O CONCEITO CONSTITUCIONAL DE SERVIÇO DE COMUNICAÇÃO


Por sua vez, descreve o artigo 61 o conceito de Serviço de Valor Adicionado-SVA;
Na medida em que nossa missão aqui tem como uma das tarefas delimitar o concei Art. 61. Serviço de valor adicionado é a atividade que acrescenta, a um serviço de tele
to constitucional de serviço de comunicação para fins de tributação pelo ICMS (ICMS- comunicações que lhe dá suporte e com o qual não se confunde, novas utilidades relacionadas
-Comunicação), nada mais correto do que partir do dispositivo constitucional que nos ao acesso, armazenamento,apresentação, movimentado ou recuperação de informações.
apresenta sua materialidade: § la Serviço de valor adicionado não constitui serviço de telecomunicações,
classificando-se seu provedor como usuário do serviço de telecomunicações que lhe dá su
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: [...] porte, com os direitos e deveres inerentes a essa condição.
II - operações [...] sobre prestações de serviços de [...] comunicação, ainda que [...] §2a É assegurado aos interessados o uso das redes de serviços de telecomtmicações para
as prestações se iniciem no exterior (...)(Redação dada pela Emenda Constitucional n 3 prestação de serviços de valor adicionado, cabendo à Agência, para assegurar esse direito,
de 1993.) ■' regular os condicionamentos, assim como o relacionamento entre aqueles e as prestadoras
Posta a materialidade, debrucemo-nos sobre o texto constitucional para investigarmos de serviço de telecomunicações.
outros enunciados desse texto que nos ajudem na demarcação da fronteira desse conceito, Veremos, mais adiante, a semelhança entre o Serviço de Valor Adicionado e um
de serviço de comunicação, para fins de tributação pelo ICMS-Comunicação. conceito que está cada vez mais sedimentado no mercado, o Serviço Over The Top -
Não temos aqui a pretensão de construir um apanhado histórico normativo do con Serviço 011'.
ceito constimcional de serviço de comunicação no Brasil anterior à Constituição de 1988. O artigo 21 da Constituição de 1988, por sua vez, previu, com a redação dada pela
Nesse sentido, André Mendes Moreira cumpriu com mestria essa incumbência'. EC n. 8, de 15 de agosto de 1995, que compete à União:
Apenas cabe registrar que esse conceito se alinha com o de serviço de telecomunicação XI - explorar, diretamente ou mediante autorizai^o, concessão ou permissão, os ser
presente no artigo 60 — bem como com o do que não é serviço de telecomunicação, e sim viços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização do? serviÇP$i
Serviço de Valor Adicionado(SVA), presente no artigo 61 -ambos da Lei n. 9.472, de 16 rAstrAn df "in órgão regulador e outros aspectos institucionais.(Grifo nosso.)
de julho de 1997, conhecida como Lei Getal de Telecomunicações(LGT). Esse conceito
seguiu a orientação histórica não só nacional, presente no Código Brasileiro de Telecomu O grifo destaca o fundamento de validade constitucional do que se costumou chamar
nicações (Lei n. 4.117, de 27-8-1962), mas internacional, presente nas normas da União de "privatização das empresas de telecomunicações"(regulamentado por meio da supraci
Internacional das Telecomumcações(UIT)e do Convênio Internacional de Telecomuni tada LGT),já que antes(conforme a redação original do referido inciso) a rede pública de
cações de Nairobi (Kenia, 1982)'.
telecomunicações deveria ser explorada pela União, diretamente ou mechante concessão a
empresas sob controle acionário estatal.
Prevê o referido artigo 60:
Já o artigo 22 diz:
Art. 60. Serviço de telecomunicações é o conjunto de atividades que possibilita a Art. 22. Compete ptivativamente à União legislar sobre; [...]
oferta de telecomunicação.
rv-águas,energia,informática, telecomunicações e radiodifusSo;[••.]•(Grifos nossos.)
5 1—Iclecomunicaçao é a transmissão, emissão ou recepção, por fio,radioeletricidade,
meios ópticos ou qualquer outro processo eletrom^nético, de símbolos, caracteres, sinais, Com relação a rádio (radiodifusão sonora) e aTV (radiodifusão de sons e im^ens),
escritos, imagens,sons ou informações de qualquer natureza. no Brasil, diferentemente de alguns países, esses serviços são considerados serviços de tele-
§ 2a Estação de telecomimícações é o conjunto de equipamentos ou aparelhos, dispo comimicação.
sitivos e demais meios necessários à realização de telecomunicação, seus acessórios e perifé
ricos, e, quando for o caso, as instalações que os abrigam e complementam,inclusive termi A Lei n. 4.117/62 é clara em tratar os serviços de radiodifusão sonora (rádio), e de
nais portáteis. sons e imagens (televisão), como espécie do serviço de telecomimicaçao. Seguem alguns
dispositivos a respeito:
Art.6s Quanto aos fins a que se destinam, as telecomtmicações assim se classificam: (...)
d) serviço de tadiodifiisão, destinado a ser recebido direta e'livremente pelo público
MOREIRA, André Mendes. A Tributação dot Serviços de Comunicação. 2. ed. São Paulo- Noeses, em geral, compreendendo radiodifusão sonora e televisão; (...). ,
2016. p. 177-178.
Idem. Art. 32. Os serviços de radiodifusão, nos quais se compreendem os de televisão, serão
executados diretamente pela União ou através de concessão, autorização ou permissão.

IIíTlTlfliiiinifiiirmfimiiim
508 Tributação da Economia Digital Alberto Macedo 509

A Lei n. 9.472/97 revogou parcialmente a Lei n. 4.117/62, mas não os seus preceitos serviços de telecomunicações, para conferir-lhe a imunidade prevista na alteração do § 3®
relativos à radiodifusão (art. 215,1). do artigo 155. CF/88».
Então, podemos concluir que,de longa data, está arraigado em nosso ordenamento, Ê seguindo essa linha que a LGT,em seu artigo 61,acima transcrito, defittiu serviço
inclusive com incorporação constitucional desse conceito, que os serviços de radiodifusão de valor adicionado (SVA).
sonora e de sons e imagens fazem parte do conceito maior de serviço de telecomunicações, Em síntese, o conceito constitucional de serviço de comunicação abarca os serviços
em que pese a separação regulatória, mantendo-se os de radiodifusão regulados pela Lei n.
de telecomunicação, abrangidos aí a telefonia, o rádio, a televisão e a TV por assinatura.
4.117/62 e os demais serviços de telecomunicações regulados pela Lei n. 9.472/97.
A Constituição de 1988 já refletia essa conceituação em seu artigo 22, no qual a se
paração dos âmbitos de competência "telecomunicações" e "radiodifusão" não infirma o
2.1. Serviço de comunicação não se confunde com serviços de informática exposto acima,sendo apenas uma relação de gênero e espécie,respectivamente,entre ambas.
prestados pela internet
E a defimção do conceito de SVA'fazendo parte do conceito presente no bojo do
Diferentemente da regulamentação internacional a que se submete o setor de tele campo "informática"(no art. 22,IV,da Constituição) no âmbito da internet, aliada ao fato
comunicações, o setor de internet não possui um padrão regulatório internacional, de não se caracterizar como serviço de telecomunicação e de radiodifusão,fàz-nos concluir
tendo se desenvolvido de forma livre, sem a existência de um organismo internacional pela impossibilidade de o streamingàe áudio e vídeo ser tributado pelo ICMS.
que o controle.
Esse fato é relevante para entender a distinção semântica entre o termo "informática" 3. ALGUNS SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO
e os termos "telecomunicações" e "radiodifusão", presentes no inciso IV do artigo 22 da
Constituição de 1988, acima transcrito.
3.1. Serviço de Acesso Condicionado (SeAC)- TV por Assinatura
Essa distinção, evidenciada no supracitado dispositivo, entre "informática" e "teleco
municações", e obviamente entre seus respectivos serviços, revela-se constimcionalizada,
É esse serviço que foi expressamente excluído da incidência do ISS no subitem 1.09
demonstrando que para o direito pátrio prevaleceu a existência de r^mes jurídicos distin da lista de serviços, dado que se trata de serviço de telecomunicação, regulamentado pela
tos para essas acepções. ANATEL,assim como os demais serviços de radiodifusão.
Reforça esse argumento o fato de que não havia como, em 1988, conferir um A TV por Assinatura é uma espéae de serviço de comunicação. Hoje é regulada pela Lei
conceito de serviço de comunicação que abarcasse a internet, tendo em vista que na n. 12.485,de 12 de setembro de 2011,que dispõe sobre a comunicação audiovisual de acesso
quela época, de promulgação da Constituição vigente, não havia como o constituinte condicionado, trazendo a definição do conceito de Serviço de Acesso Condicionado (SeAC):
originário ter conhecimento dos detalhes da dinâmica comunicativa da rede mundial
Art. 22(...) XXlll - Serviço de Acesso Condicionado:serviço de telecomunicações de
internet. Isso porque, exatamente naquele ano, a internet se constituía, com a integra interesse coletivo prestado no regime privado, cuja recepção é condicionada à contiatação
ção de redes mundiais ao NSFNet {Network Science Foundatiorí), surgido em 1986 no remuneiada por assinantes e destinado à distribuição de conteúdos audiovisuais na forma de
meio acadêmico norte- americano, em decorrência, entre outros motivos, da necessi pacotes,de canais nas modalidades avulsa de programação e avulsa de conteúdo programado
dade de criação de um critério lógico padronizado de transporte de informações pelas e de canais de distribuição obrigatória, por meio de tecnologias, processos, meios eletrônicos
redes daquele país (e posteriormente pelas redes do mundo todo), cujos estudos se e protocolos de comunicação quaisquer.
iniciaram em 1977^.
Além disso, se o constituinte derivado quisesse "consertar" textualmente a acepção O SeAC unificou as regras para serviços semelhantes, que eram diferenciados por
semântica dessa materialidade, após cinco anos da vigência da Constituição de 1988, não tecnologia, e, entre outros serviços, prevê a transmissão de conteúdo nacional na TV paga
falaria, em 1993(pelo advento da Emenda Constitucional n. 3)— quando os conhecimen
tos sobre a dinâmica da rede mundial internet já estavam bem mais alcançáveis (afinal,
naqueles cinco anos, no ramo da informática, uma grande evolução no setor ocorreu)— em BOTELHO, Fernando Neto. Tributação do serviço de provimento da internet. In: TÔRRES,
Heleno Taveira (Coord.). Direito Tributário das Telecomunicações. São Paulo: lOB Thompson —
ABETEL, 2004. p. 561-589-
Previamente, o conceito de SVA havia sido trazido pela Lei n. 9.295, ^e 19-7-1996, definido da
Esse critério lógico é hoje o protocolo TCP/IP (Transmission Control ProtocoUInternet Protocot). Cf. seguinte forma: "Art.lO. (...). Parágrafo único. Serviço de Valor Adicionado é a atividade
BOTELHO, Fernanclo Neto. Tributação do serviço de provimento da internet. In: TÕRRES, caracterizada pelo acréscimo de recursos a um serviço de telecomunicações que lhe dá suporte,
Heleno Taveira (Coord.). Direito Trihutãrio das Telecomunicações, São Paulo: lOB Thompson - criando novas utilidades relacionadas ao acesso, armazenamento, apresentação, movimentação e
ABETEL, 2004. p. 561-589. recuperação de informações, não caracterizando exploração de serviço de telecomunicações".

IIIIIIIUUllIlllllllllILIllllllllllllllll
Alberto Macedo 511
510 Tributação da Eafnotnia Digital

durante o horário nobre. Ele concentra os seguintes serviços: (i) serviço TV a cabo; (ii) vídeos e áudio, de forma iriestriu e simidtânea, para os Assinantes, na forma e condições
previstas na r^idamentação desses serviços.
serviço de Distribuição de Sinais Multiponto Multicanais(MMDS — MultichannelMulti-
point Distrihution Servicè)-, (iii) serviço de Distribuição de Sinais de Televisão e de Áudio § 22 Na presução do SCM não é permitida a oferta de serviço com as características
por Assinatura Via Satélite(DTH — Direct-To-Homi)\ e (iv) Serviço Especial de TV por do Serviço Telefônico Fbto Comutado destinado ao uso do público em geral (STFC), em
Assinatura(TVA).
especial o encanúnhamento de tráfego telefônico por meio da rede de SCM simultaneamen
te originado e terminado nas redes do STFC.
No serviço deTV a cabo há um transporte, por meio físico (fibra ótica e cabo coaxial), § 32 Na prestação do SCM é permitida a implementação da fim^o de mobilidade
de sinais de áudio e/ou de vídeo para assinantes. Essa definição do conceito de TV a cabo, restrita nas condições previstas na regtdamentação específica de uso de radiofreqüência.
que estava positivada na conhecida Lei do Cabo (Lei n. 8.977, de 6-1-1995),em seu arti
go 22,foi revogada pela Lei n. 12.485/2011. Exemplos desse serviço no mercado são NET, O fato de a prestadora de SCM poder prestar serviço de provimento à internet {caput
SAT a CABO,Via Cabo, Cabo Telecom, Cabovisão. do an. 32) não quer dizer que o conceito de serviço de comunicação abranja, a partir de
O serviço MMDS é um serviço de TV por assinatura cujos sinais, recebidos em pon então,o de SVA,mas apenas que tal prestadora pode prestar tanto serviço de comunicação
tos determinados numa área de prestação,são transmitidos por meio de &ixas de microon quanto serviço de valor adicionado'".
das. Exemplos de empresas que prestam esse serviço são TVA, GVT, Lig TV, Mais TV, O § 12 do supracitado artigo 32 também marca a diferenciação entre o SCM e TV
SMTV,Super I, Super TV,TV Show. por Assinatura e Serviço de Acesso Condicionado, pois a transmissão de sinais de áudio e
O serviço DTH se vale de antenas parabólicas para a transmissão de sinais de áudio vídeo pela prestadora de SCM somente pode se dar de maneira eventual, mediante contra
e/ou vídeo aos seus assinantes. Exemplos: SKY,Oi TV,Embratel. to ou pagamento por evento, como no caso do sistema "payper vietv"'^.
No SeAC há uma relação jurídica onerosa,em que a empresa que fornece esse serviço Como o SCM não pode set prestado de forma aberta a todos, mas somente para as-
cobra por ele do assinante. Sendo um serviço de comunicação,é tributável pielo ICMS. sitiantes, também não se confunde com o serviço de radiodifusão, dado que a radiodifusão
é um serviço aberto a todos, independentemente de contrattção'^.
Dada a sua característica de serviço de comunicação, corroborada pela existência de
3.2. Serviço de Comunicação Multimídia(SCM)
ampla legislação regulatória, requerendo inclusive autorização pata funcionamento, não se
O SCM está sujeito à seguinte legislação: Resolução Anatel n. 272,de 9 de agosto de caracteriza como Serviço de Valor Adicionado, o qual não requer autorização, concessão
2001 (Ri^ulamento do serviço de Comunicação Multimídia, revogado pela Resolução ou permissão para funcionamento.
Anatel n.614,de 28-5-2013); Resolução Anatel n.328,de 29 de janeiro de 2003(Aprova
Em síntese, o conceito constitucional de serviço de comunicação coincide com o de
os modelos de Termo de Autorização para Exploração do Serviço de Comunicação Multi telecomunicação, abrangidos aí a telefonia, o ládio, a televisão e a TV por assinatura,sen
mídia, de interesse coletivo, também revogados pela Resolução Anatel n. 614/2013); Re
do esses serviços regulados pela ANATEL,sob a égide: (i) da Lei n. 12.485, de 12 de se
solução n. 295, de 19 de abril de 2002(Destinar faixas de freqüências para uso do serviço
tembro de 2011 (serviço de acesso condicionado); (ii) da Lei n. 9.472/97 (Lei Geral de
de Comunicação Multimídia — SCM e do Serviço Telefônico Fixo Comutado Destinado Telecomunicações); e (iii) da Lei n. 4.117/62 (serviços de radiodifusão sonora e de sons e
ao Uso do Público em Geral — STFC); Decreto n.7.175, de 13 de maio de 2010 (Institui
imagens).
o Programa Nacional de Banda Larga-PNBL);e Resolução Anatel n. 574,28 de outubro
de 2011 (Regulamento de Gestão da Qualidade do Serviço de Comunicação Multimídia Se há alguma elasticidade semântica(sem alteração do texto constitucional) do con
(RGQ-SCM). ceito de serviço de comunicação que possa ser feita, ela não passa dos limites do conceito
de telecomimicação,em que a radiodifusão sonora e a de sons e unagens são espécies, não
O atual Regulamento do Serviço de Comunicação Multimídia(Anexo I à Resolução
Anatel n. 614/2013), define o conceito de Serviço de Comunicação Multimídia(SCM):
Art. 3® O SCM é um serviço fixo de telecomunicações de interesse coletivo, prestado MOREIRA, Andrá Mendes; ESTANISIAU. César Vale. ISSQN x ICMS: a tribuuçSo do serviço
cm âmbito nacional e internacional, no regime privado, que possibilita a oferta de capaa- dc comunicação multimídia (SCM). In; PINTO, Scrgio Luiz dc Moraes; MACEDO, Alberto;
dade de transmissão, emissão c recepção de informações mídtimídia, permitindo inclusive ARAÚJO, Wilson José dc (Orgs.). Gestão tributária municipal e tributos municipais. 1. cd. São
Paulo: Quarticr Latin, 2014. v. 4, p. 67-81.
o provimento de conexão à internet, utilizando quaisquer meios,a Assinantes dentro de uma MOREIRA. André Mendes; ESTANISLAU, César Vale. ISSQN x ICMS: a tributação do serviço
Area de Prestação de Serviço. dc comunicação multimídia (SCM). In: PINTO, Scrgio Luiz de Moraes; MACEDO, Alberto;
§ 12A prestação do SCM não admite a transmissão,emissão e recepção de informações ARAÚJO, Wilson José dc (Orgs.). Gestão tributária municipal e tributos municipais. 1. cd. São
de qualquer natureza que possam configurar a prestação de serviços de radiodiíúsão, de te Paulo: Quarticr Latín, 2014. v. 4, p. 67-81.
Idcm.
levisão por assinatura ou de acesso condicionado, assim como o fornecimento de sinais de
512 Tributação da Economia Digital Alberto Macedo 513

alcançando, portanto, os serviços prestados por intermédio da internet, como veremos Segunda implicação: refete-se ao modo de entrega do serviço e, dessa forma, não diz
adiante. jjjda sobre a natureza do serviço em si.
Terceira implicação: o conceito de Serviço OTT não impede que tais serviços sejam
4. SERVIÇOS OVER THE TOP(OTT) qualificados como de comimicação eletrônica, o que aconteceria, por exemplo, num ser
A expressão Over The Top(OTT), originalmente, veio como jar^o do setor de TV viço de VoIP que se iniciasse ou terminasse no Serviço de Telefonia Pública(PATS — Pu-
via internet, porque,visualmente,seu decodificador tinha a aparência de uma caixinha que blicly Available Telephone Sentice).
quase sempre ficava em cima dos televisores, sendo os serviços mais conhecidos no Brasil Quarta implicação: alguns Serviços OTT podem potencialmente competir com ser
Netflix, iTunes e YouTube, concorrendo diretamente com a TV por Assinatura". Hoje o viços de comimicação eletrônica(ECS)(como serviços de voz OTT e serviços de e-mails,
conceito é outro. enquanto outros, não(como Uber e Airbnb).
O BEREC {fiody ofEuropean Regulators jbr Electronic Communications), grupo de Propõe o BEREC também uma taxonomia dos Serviços OTT tendo como critérios
reguladores de Telecom da Europa, no documento intitulado Report on OTT Services'* se o serviço OTT "se qualifica como lun ECS"ou "se potencialmente compete com ECS".
divulgado em fevereiro de 2016, propõe uma definição do conceito de serviço OTT,qual A defirúção do cxjnceito de ECS (Electronic Communications Service), por sua vez, adveio
seja, um "conteúdo, serviço ou aplicação que é provido para o usuário final da Internet da Diretiva 2002/21/CE do Parlamento Europeu e do Conselho", conforme transcrito a
pública". Incluindo nessa definição que o que é provido pode ser também conteúdo, ser
viço ou aplicação, significa que qualquer coisa provida na internet pública é um serviço
OTT.Afirma o documento, ainda, que esse provimento geralmente ocorre sem o envolvi "'Serviço de comunicações eletrônicas', o serviço oferecido em geral medianre remu
mento do provedor de acesso à internet no controle ou distribuição do serviço" neração, que consiste total ou principalmente no envio de sinais através de redes de comu
Nesse sentido,exemplos de serviços OTT seriam:serviços de voz providos na internet, nicações eletrônicas, incluindo os serviços de telecomuiúcações e os serviços de transmissão
conteúdo baseado na Web (sites de notícias, mídia social etc.), ferramentas de busca, ser em redes utilizadas para a radiodifusão, excliúndo os serviços que prestem ou exerçam
controlo editorial sobre conteúdos transmitidos através de redes e serviços de comunicações
viços de hospedagem, serviços de e-mail, serviços de mensageria instantânea, conteúdo de
eletrônicas; excluem-se igualmente os serviços da sociedade da informação, tal como defini
vídeo e multimídia etc.".
dos no ardgo Ia da Diretiva 98/34/CE que não consistam total ou principalmente no envio
Geralmente,os serviços OTT são prestados por companhias focadas na produção do de sinais através de redes de comunicações eletrônicas".
conteúdo veiculado, e não no provimento de acesso ã internet.
Recentemente, a ANATEL tem se posicionado no sentido de que só irá interferir no Essa taxonomia classifica os Serviços OTT em OTT-0, OTT-1 e O Tl-2. Serviços
relacionamento entre as empresas de internet que prestam Serviço OTT e as empresas de OTT-0 seriam serviços de comunicação,enquanto serviços OTT-1 e OTT-2seriam outros
Telecom quando for chamada ou na análise caso a caso, apesar de defender que se deve serviços:
utilizar a taxonomia adotada pelo BEREC". OTT-0: serviço OTT que se qualifica como um ECS (exemplos: OTT de voz com
O documento do BEREC lista quatro implicações dessa definição de serviço OTT. possibilidade de &zer chamadas para PATS);
Primeira: os serviços OTT referem-se a conteúdo que usualmente se origina de tuna ter OTT-1:serviço OTT que não é um ECS mas potencialmente compete com um ECS
ceira parte (o provedor de OTT), não sendo oferecido pelo provedor de acesso à internet (OTT de voz e mensageria instantânea);
ao qual o usuário final está conectado. Isso não impede que o provedor de acesso à internet
OTT-2: outros serviços OTT (exemplo: comércio eletrônico, streaming de vídeo e de
ofereça seu próprio serviço OTT ou fiiça parcerias com provedores de serviços OTT". áudio).

Acompanhando o conceito proposto pelo BEREC,entendemos que os streaming de


Disponível cm: <http://www.mundocligital.net.br/lndex.php/noticias/tciccomunicacocs/5628-o- áudio e de vídeo não são serviços de comunicação, para fins de incidência do ICMS,até
-quc-c-ott>. Acesso cm: 15 dez. 2017. porque estão no conceito legal nacional de Serviço de Valor Adicionado e, ainda, no Ser
Disponível cm: <http://bcrcc.curopa.cti/cng/documcnt_rcgistcr/subjcct_mattcr/bcrcc/downIoad/0 viço de Valor Adicionado que não concorre com o setor de telefonia.
/5751-bcrcc-rcport-on-ott-scrviccs_D.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2017.
Idem.
A segtúr, discorremos sobre alguns serviços OTT.
Idem.
Disponível em: <http://www.telesintcse.com.br/brasil-qucr-regular-relacao-ott-e-tele<x>m-caso-caso>.
Disponível em: <http://berec.europa.eu/eng/documcnt_register/subject_matter/berec/download Disponível cm: <http://cur-lex.europa.cu/lcgal-contcnt/PT/TXT/PDF/?urí=CELEX:32002L0021fiC
/0/5751-berec-report-on-ott-services_0.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2017. fTom=cn>. Acesso em: 15 dez. 2017.
514 Tributação da Economia Digital Alberio Macedo 515

4.1. O que é o Serviço de Streamin^ : , Pagos: Netflix"; Looke" (plataforma brasileira concorrente do Netflbc, antigo Net-
Stnaming é uma tecnologia de transmissão de áudio e/ou vídeo pela Internet, a qujJ t Jdovies, que entregava DVDs em casa); Amazon Prime Vídeo"; Oldflix"(de filmes clás-
permite que a transmissão de áudio e vídeo seja realizada sem a necessidade de se íàzer o j;|jjjos retrô de cinema e TV);Spotify"; iTunes Store^'; Deezer".
doumload de todo o conteúdo a ser transmitido antes de se ouvir a música ou assistir ao
vídeo™. Trata-se de lun Serviço OTT. i.1.2. Televisão por Protocolo de Internet(IPTV-Internet Protocol TV)
A transmissão do conteúdo é feita de modo contínuo,enquanto a pessoa está ouvíq. A IPTV utiliza uma tecnologia que permite a transmissão de sinais deTV via intemet,
do/assistindo. Usa-se,assim, um sistema de buffe^^, havendo armazenamento do conteúdo •useja, via protocolo IP, mas tecnicamente funciona também como um streaming.
aos poucos e a transmissão,sua reprodução, para quem está ouvindo/assistindo,conseguin- ;(V O grande diferencial de uma IPTV em relação a um canal de TV que se pode sim-
do-se assim equilibrar o download do conteúdo e a exibição dele, por exemplo, para que l^éimente assistir ao vivo pelo navegador de Internet(WebTV)é que, no caso da IPTV,o
todo o conteúdo seja exibido sem cortes,seja ele strtamingàe áudio ou streaming Ae vídeo.
linal da TV via internet é distribuído em redes próprias, enquanto numa WebTV a distri-
O player (uma aplicação que executa o áudio ou vídeo) do dispositivo (penonal jjpiçSn do sinal se dá na vastidão da intemet.
computer, smartphone, tablete etc.) do usuário do serviço de streaming inicia a execução
do arquivo de música ou vídeo, mas continua coletando os pacotes de arquivo, que vão -•ji Esse diferencial, de ter tuna rede dedicada ao seu stream de vídeo, garante à IPTV
sendo baixados pelo streaming(pacotes de reserva). Assim,ainda que haja eventuais peque q;3Ís performance e entr^ de imagem e som de alta qualidade, enquanto na WebTV o
nos atrasos na obtenção de pacotes, o conteúdo é visualizado de forma contínua, sem í ib^l está sujeito a oscilações, variações de velocidade da rede, travamentos e sobrecargas
atrasos, dada a capacidade de o player interpretar o fluxo de arquivos. D® site.
.SI' A IPTV é uma alternativa à TV por Assinatura pois permite consumo sob demanda,
4.1.1. Tipos e Exemplos de Serviços de Streaming
tkl que se assiste ao que se deseja na hora em que se quer,inclusive com a possibilidade de
Há os serviços de streaming âe vídeo gramitos(em regra, remunerados por anúncios), 'pãvar programas para ver posteriormente. Garante-se, assim, aos usuários da IPTV não
os atrelados ou empacotados (relacionados a canais de TV por assinatura) e os pagos (por apenas qualidade de som e imagem, mas também recursos extras em interatividade.
assinatura). Seguem alguns exemplos no mercado. i> Ao contrário da WebTV, na IPTV não há a necessidade de um computador para
Gratuitos: Crackle™ (de filmes gratuitos, com anúncios); Viki™ (com enfoque em fi^cionar. A IPTV está associada ao consumo principalmente em aparelhos de TV e set-
filmes de produção asiática; também na versão por assinatura); TED™ {Technology; Enter- dkp-boxes, embota seja possível acessar sinais de TV do tipo em computadores e outros
tainment; Desi^. aparelhos com software de IPTV.Alguns aplicativos de IPTV conhecidos são Kodi(XBMC),
Atrelados: Sony Play^'; TNT Go™; Fox Play^'; HBO Go™. ^(çe Stream, Wiseplay e Perfect Player^'.
Também oferecidos como grande novidade bundled são os serviços de streaming de A principal diferença entre a IPTV e os serviços de streaming é que, nestes últimos
áudio Spotify e de vídeo Hulu (concorrente do Netflix) oferecidos num pacote {Spoti^ não há uso de tun canal dedicado, sendo baseados em plataformas multiuso, como com
Premiumfor Students, now with Hultt)^. putadores, SmartTVs, videogames, celulares, tablets etc. Assim, a qualidade de imagem e
wdio dos serviços de streaming depende da rede à qual eles estão conectados.
Disponível cm; <http;//www.sitchosting.com.br/strcaming>.
Os custos com infiaestrutura dos serviços de streaming em geral são muito baixos,
Buffèring: Funcionalictade usada por players de áudio e vídeo para armazenar temporariamente usando-se, muitas vezes, um sistema totalmente on-demand.Além do baixo custo, apresen
porções do conteúdo que está sendo acessado via streaming. com objetivo de antecipar seu doumload tam grande versatilidade. Mas uma dificuldade é a falta de garantia de qualidade de imagem
e bizendo com que a experiência do usuário seja fluida e sem interrupções/pausas. Glossário de ^iíúdio que é encontrada na TV.
Marketing Digital lAB Brasil. Disponível em: <http://iabbrasil.com.br/>. Acesso em: 15 dez. 2017.
Disponível em: <hnps://www.ctackle.com.bt>. Acesso em: 15 dez. 2017.
Disponível em: <https://www.viki.com>. Acesso em: 15 dez. 2017.
Disponível em: <https://www.ted.com/talks>. Acesso em: 15 dez. 2017. Disponível cm: <https://www.nctflix.com/br>. Acesso cm: 15 dez. 2017.
Disponível em: <https://br.canalsony.com/especiais/episodios-completos-canal-sony>. Acesso em: 15 Disponível cm: <https://www.looke.com.br>. Acesso em: 15 dez. 2017.
dez. 2017. Disponível cm: <https://www.amazon.com.br/b?nodc=16067150011>. Acesso cm: 15 dez. 2017.
Disponível em: <http://www.tntgo.tv.br>. Acesso cm: 15 dez. 2017. Disponível cm: <https://www.oldflix.com.br>. Acesso cm: 15 dez. 2017.
Disponível em: <https://fbxplay.com>. Acesso em: 15 dez. 2017. Disponível em: <https://www.spotify.com/br>. Acesso em: 15 dez. 2017.
Disponível em: <https://hr.hbomax.tv/hbogo>. Acesso em: 15 dez. 2017. Disponível em: <https://www.apple.com/br/itunes>. Acesso em: 15 dez. 2017.
Disponível em: <https://www.hulu.com/press/spotiiy-and-hulu-unveil-first-of-its-kind-premiuai- Disponível em: <https://www.deezer.com/br>. Acesso em: 15 dez. 2017.
entettainment-stteaming-bundle-spotiíy-premium-for-students-now-with-hulu-launches-today- Disponível em: <https://www.techtudo.com.br/noticias/2017/ll/o-que-e-ipiv.ghtml>. Acesso em:
nationwidc-hundled-ofrerings-targeted-at-broader-matket>. Acesso em: 15 dez. 2017. 15 dez. 2017.
516 Tributação da Economia Digital Alberto Macedo 517

AIPTV não é de ixm Serviço de Comunicação Multimídia(SCM), pois não oferece Dispõe o artigo 146, no que interessa à presente análise:
uma grade linear(como asTVs por Assinatura), e sim vídeo sob demanda,enquadrando-
-se sim como um Serviço de Valor Adicionado, não podendo, nesse âmbito, estarem sub Art. 146. Cabe à lei complementar:
metidas às tegras da ANATEL'®. I — dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Mtmicípios;
4.1.3. As Receitas das Empresas de Streaming II — regular as liimtações constitucionais ao poder de tributar;
As empresas de streaming remuneram-se, em regra, das seguintes formas: (i) por UI-estabelecer normas gerais em matéria de l^islação tributária,especialmente sobre:
assinatura; (ii) transacional, podendo ser (ii.l) por tempo limitado (aluguel ou rentat)-, a)definição de tributos e de suas espécies, bem como,em relação aos impostos discrimi
ou (ii.2) ilimitado (eletronic sell-through - EST ou download to own — DTO);e (iii) por nados nesta Constituição, a dos respectivos latos geradores, bases de cálculo e contribuintes;
publicidade. b)obrigação, lançamento, crédito, prescnção e decadência tributários;
O modelo por assinatura {subscription video on demand — SVoD,no caso de streaming (...).
de vídeos) é aquele em que o provedor cobra um valor fixo e periódico do usuário, inde
pendentemente da quantidade de acessos que este iizer ao conteúdo do catálogo. No que interessa ao presente trabalho, a referida lei complementar apresenta basica
mente a função de estabelecer normas gerais:
No modelo transacional, o usuário paga pela fruição de run conteúdo específico por
tempo limitado ou ilimitado. No ilimitado,eietronicsell-through(EST)ou doivnloadto own i) para prevenir conflitos de competência em matéria tributária, entre a União, os
(DTO),o consumidor paga um valor único pata lazer o download Ao arquivo de mídia para Estados, o Distrito Federal e os Municípios (art. 146,1); e
salvar no disco rígido. Mas o conceito desse modelo cada vez mais abrange a possibilidade ii) para definir feto gerador dos impostos previstos na Constituição (art. 146, III,
de o conteúdo ser usável somente por determinado período de tempo,ou também não ser V).
usável em plataforma concorrente^'. T^ entendimento se coaduna com o que Tércio Sampaio Ferraz Júnior chama de
No modelo por publicidade (ad-suported), o provedor se financia, não dos usuários Federalismo Cooperativo,em que prevalece a colaboração dos entes federativos,conferindo-
do conteúdo que ele fornece, mas sim por meio de anúncios publicitários na plataforma. -se menor força à separação e independência recíproca entre eles, com a principal finalida
Nesse caso,o prestador do serviço de streamingst remunera de outro serviço,do serviço de de de uniformizar as normas gerais, que ele define como toda matéria que extravase o in
inserção de propaganda e publicidade, que ele presta para os anunciantes. teresse circunscrito de tuna unidade da Federação, seja porque é comum (na medida em
A composição dessa receita pode também ser mista,combinando-se os modelos acima
que todos os entes têm o mesmo interesse) seja porque envolve conceituações que, acaso
citados. Por exemplo, parte da receita advinda de publicidade e parte de assinaturas. particularizadas num âmbito autônomo, acarretariam conflitos ou dificuldades no inter
câmbio nacional^',
h
5. PAPEL DA LEI COMPLEMENTAR TRIBUTÁRIA (ART. 146 DA Quanto à alínea a do inciso III do artigo 146, não é possível aceitar a sua literalitla-
CONSTITUIÇÃO FEDERAL)A FIM DE PREVENIR O CONFLITO de na construção das normas jurídicas referentes ao dispositivo. Se assim fosse, haveria
ENTRE SERVIÇO DE QUALQUER NATUREZA E O SERVIÇO DE certa antinomia jurídica, dado que os fatos geradores dos impostos previstos na Constitui-
COMUNICAÇÃO" de 1988 já estão, de certa forma,ainda que de maneira genérica(mais as suas materia-
lidades), previstos nos artigos 153(competência da União), 155(competência dos Estados
à lei complementar tributária prevista no artigo 146 da Constituição Federal de 1988 édo Distrito Federal)e 156(competência dos Municípios). Nesse sentido,Paulo de Barros
se veste como lei complementar nacional, pois ali se apresenta sempre como reguladora de forvalho nos ensina:
normas aplicáveis aos três entes da Federação, indistintamente.
.(i<: Eis aío aplicador do direito novamente atônito!Pensatá:como é excêntrico o legislador
^ Constituição! Demota-se pot delinear, pleno de cuidados, as íaixas de competência da
União,dos Estados,do Distrito Federal e dos Municípios e,de entremeio, torna mdo aqui-
Disponível em: <http://www.convergenciadigital.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserAcávcTe!ii ,tir: ,, supérfluo, na medida em que põe nas mãos do legislador complementar a iniciativa de
plate=site&iníoid=34458&sid=4>. Acesso cm: 15 dez. 2017.
Disponível em: <hrtps://cn.wikipcdia.org/wiki/Electronic_scIl-through>. Acesso cm: 15 dez. 2017. ítij.
Conforme argumentado em MACEDO, Alberto. ISS, ICMS-Mercadoria c o Caso "Embalagens
(ADI-MC 4.389 DF)— A Constitucionallzação, pelo STF,de Critérios que não são Constitucionais. ^ FERRAZ JÚNIOR,Tércio Sampaio. Normas gerais e competência concorrente - uma exegese do
In: MACEDO, Alberto; CASTRO, Leonardo Freitas de Moraes c (Coords.). Tributação ínMrttã ! art.24 da Constituição Federal. Revista Trimestral de Direito Público, São Paulo, Malheiros n 7
Empresarial-, Indústria, Comércio e Serviços. São Paulo: Quarticr Latin, 2016. p. 809-846. mj,,p.l6-20, 1994.
518 Alberto Macedo 519
Tributação da Economia Digitai

«çrar os mesmos assuntos, iàzendo-o pelo gênero ou por algumas espécies que lhe aprouvc j46,1, da CF/88,ser fundamento de validade para a criação de lei complementar tributá-
consignar, esquecendo-se de que as eleitas, como as demais espécies, estão contidas no con na que previna conflito de competência tributária.
junto que representa o gênero^^ Alguns doutrinadores^^ entendem ser efetivamente impossível existir conflitos de
De fato, qual sentido haveria em os Estados,o Distrito Federal e os Municípios fica competência, havendo,sim, não mais que aparentes conflitos de competência. Roque An-
rem à mercê de uma lei complementar, por mais que se rotulasse como nacional, para lonio Canazza, por exemplo, afirma que "(...) no plano lógico-jurídico, não há qualquer
poderem exercer suas respectivas competências tributárias, as quais foram outorgadas dire possibilidade de surgirem conflitos de competência tributária entre a União,os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios"^'.
tamente pela Constituição'"? Como ensina Misabel Abreu Machado Detzi;
Isso depende do prisma sob o qual se observa. É claro que se felamos como aplicado-
O federalismo integrativo,já por si centralizador, não pode sufocar,de forma nenhuma, ics do direito (juizes, por exemplo), de situação de complexa análise jurídica sobre se de
a autonomia c a descentralização,enfim,a dissimetria a que se refere Pontes de Miranda,sob terminado feto da vida se enquadra na hipótese de incidência de um imposto ou na de
pena de converter-se o país em verdadeira unidade polítíca**. outro, mas já concluímos a atividade interpretativa decidindo a questão, para nós não
haverá mais conflito de competência algum para o caso, pois nossa decisão interpretativa
Assim, o texto disposto no artigo 146, III, "a", da Constituição Federal, quando so encerrou este conflito.
pesado com o texto constitucional na sua integralidade, não só na forma como foi tecida Mas não é disso que felamos quando afirmamos que existem potenciais conflitos de
a repartição de competências tributárias mas também com os princípios da Federação e da competência tributária. A idéia do conflito de competência surge quando o constituinte,em
autonomia dos Municípios,esmaece-se em sua força literal ensejando a construção de uma que pese ter constituído muitos enunciados vertidos em texto constitucional sobre as hipó
proposição normativa pela qual só é possível admitir à lei complementar definir fato gera teses de incidências tributárias dos impostos, reconhece que esse texto não é suficiente — ain
dor, base de cálculo e contribuinte dos impostos discriminados na Constituição (an. 146, da que após laborioso e esforçado jjercurso gerador de sentido" das normas constitucionais
111,"a")qiumdo tal definição se prestar a prevenir conflitos de competência tributária entre — paia sanar todas as legítimas dúvidas que surgem sobre competência tributária. E essa idéia
os entes da Federação (art. 146,1), ou para regular limitações constitucionais ao poder de foi inclusive positivada pelo constituinte por meio do artigo 146,1,da Constituição, quando
tributar (art. 146,11). expressamente diz que cabe à lei complementar "dispor sobre conflitos de competência,em
Uma valoração mais forte que essa para as normas gerais do artigo 146,111,"a", mais matéria tributária, entre a União,os Estados, o Distrito Federal e os Municípios"".
próxima da litetalidade do emmciado, feriria de mone a autonomia dos Estados e Mimi- Assim, a idéia aqui posta, de existência de potenciais conflitos de competência, está
cípios ao ficarem sobremaneira dependentes da lei complementar para poderem instituir no plano da norma geral e abstrata, e não no plano da aplicação dessa norma".
seus impostos, quebrando a harmonia do Sistema Tributário Nacional^'. Voltando à alínea "a" do inciso 111 do artigo 146, temos que atentar que a expressão
Portanto o emmciado do artigo 146,111, "a", não se apresenta como nexo material "feto gerador" é uma expressão ambígua, a qual pode se referir tanto ao que podemos
fimdante da validade das leis federais, estaduais e municipais instituidoras dos seus respec
tivos impostos^', mas tem tão somente a função de,em conjunto com o disposto no artigo
(ADI-MC 4.389 DF)- A Constitucionalização, pelo STF, de Critérios que não são Constitucionais.
In: MACEDO, Alberto; CASTRO, Leonardo Freitas de Moraes e (Coords.), Tributação Indireta
CARVALHO. Paulo de Barres. Curso de Direito Trihutdrio. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p.2I7. Empresarial-. Indústria, Comércio e Serviços. São Paulo: Quartier Latin, 2016. p. 809-846; e
A única exceção é justamente o ISS, pois a sua instituição por lei ordinária demanda previsão MACEDO,Alberto. ISS — O conceito econômico de serviços jã foi juridicizado há tempos também
expressa de lista de serviços por lei complementar. Essa taxatividade da lisu é uma contraposição à pelo direito privado. In: MACEDO, Albeno et al. XII CNET - Direito Trihutdrio e os Novos
elasticidade e variabilidade do conceito econômico de serviço, juridicizado pela Emenda Constitu Horizontes tio Processo. São Paulo: Noeses, 2015. p. 1-79.
cional n. 18, de ln-I2-1965, e pelas Constituições Federais posteriores. A respeito, cf. MACEDO, Entre outros, JUSTEN FILHO, Marçal. O Imposto Sobre Serviços na Constituição. Coleção Textos
Alberto. ISS - O conceito econômico de serviços já foi juridicizado há tempos também pelo direi de Direito Tributário, v. 10. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1985; OLIVEIRA, Fernando A.
to ptivado. In: XII CNET — Direito Tributário e os Novos Horizontes do Ptocesso. MACEDO, Albino e. Conflitos de Competência entre ICM e ISS. Revista de Direito Trihutdrio, São Paulo,
Albetto et al. São Paulo: Editora Noeses, 2015, p. 1-79. n.I9-20, jan./jun. 1982, p. 161; BAPTISTA, Marcelo Caron. ISS: Do Texto à Norma. São Paulo:
BALEEIRO, Aliomar. Direito Trihutdrio Brasileiro. II. ed. Atualizado por DERZl, Misabel Abreu Quanier Latin, 2005. p. 196.
Machado. São Paulo: Forense, 2008, p, 43. Curso de Direito Constitucional Trihutdrio. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 633.
A jurisprudência entende que a ausência de notma geral editada pela União não impede os Estados CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Trihutdrio, linguagem e método. São Paulo: Noeses, 2008.
e Municípios de exercer sua competência plena, com fulcro no artigo 24,§ 3a, da Constituição de p. I8I-I86.
1988 (AI-AgR I67.777/SP, Rei. Min. Marco Aurélio, j. 4-3-1997). Interpretando o comando, o "dispor", na verdade, dá lugar ao "prevenir".
Salvo o ISS, cuja definição de conceito constitucional pot lei complementar é mandatória. Nes Sobre norma geral abstrata, sua aplicação e processo de positivação do direito, cf. nosso MACEDO,
se sentido, conferir nossos MACEDO, Alberto. ISS, ICMS-Mercadoria e o Caso "Embalagens" Alberto. ITBI — Aspectos Constitucionais e Infiaconstitucionais. São Paulo: Quartier Latin, 2010.

li
520 Tributação da Economia Digital Alberto Macedo 521

chamar de fato gerador in abstracto(o previsto hipoteticamente em lei, denominado hipóte Entre os serviços OTT encontram-se os serviços de streaming de áudio e de vídeo,
se de incidência tributária por Paulo de Barros Carvalho'^), quanto ao feto geradot in concre que se apresentam numa tecnologia de transmissão de áudio e/ou vídeo pela Internet, a
to(o detectado como feto da vida, ocotrido em determinado momento e local, cuja subsun- qual permite que essa transmissão seja realizada sem a necessidade de se fázer o doumload
ç5o à norma — hipótese de incidência tributária — consubstancia a incidência tributária). de tt>do o conteúdo a ser transmitido antes de se ouvir a música ou assistir ao vídeo.
Pois bem, quando o artigo 146, III, "a", da CF/88 diz que cabe à lei complementar Além de a Constituição de 1988 ter incorporado os elementos do conceito de comu
defínir fetos geradores, para prevenir conflitos de competência(aqui já o combinando com nicação acima expostos, incorporou, também,como universo diverso, o conceito de servi
o inciso I do mesmo artigo), considerando-se que esses fetos geradores são as hipóteses de ços informáticos, que estão intrinsecamente ligados aos Serviços de Valor Adicionado, ou
incidência tributária; e que estas, por sua vez, são compostas pot três critérios: õ)critério seja, como serviços distintos daqueles de comunicação.
material; (ii) critério espacial; e (iii) critério temporal, podemos inferir que, se uma lei E corroborando esse entendimento,dada a dificuldade de segregação conceituai, à luz
complementar estiver definindo critério material do ISS com a finalidade de prevenir con da tendência de convergência digital, a Lei Complementar n. 116/2003, no cumprimento
flitos de competência tributária, desde que trabalhando na região de penumbra, na fron de seu papel de prevenir conflitos de competência tributária (art. 146,1,c/c seu inciso III,
teira entre os dois conceitos constitucionais imprecisos, estará assim cumprindo justamen "a ,da CF/88), previu a incidência, pelo ISS,do serviço de streaming de áudio e vídeo no
te o papel que a Constituição lhe conferiu, já que o critério material é parte do todo, hi subitem 1.09 da sua lista de serviços, com a alteração trazida pela Lei Complementar n.
pótese de incidência tributária.
157,de 29 de dezembro de 2016.
Esse mecanismo, de a lei complementar trabalhar como definidora da fronteira con
ceituai entre serviço de qualquer natureza e serviço de comunicação (caso do presente es
tudo), é fundamental para a garantia do Pacto Fedetativo e segurança jurídica do sistema
na medida em que as realidades da vida, quando se íãla nessas duas materialidades, não
apresentam limites tão precisos entre si.
Exemplo claro dessa realidade é justamente o tema objeto do presente ttabalho: o
serviço de valor adicionado, conforme regulado pelo ordenamento, não se confundindo
com serviço de telecomumcação, que, como expusemos aqui, é sinônimo de serviço de
comunicação para fins de incidência do ICMS.
Desta forma, nesse caso, a definição estipulativa trazida pela Lei Complementar n.
157, de 2016,com a inclusão do subitem 1.09 à Lista Anexa de Serviços da Lei Comple
mentar n. 116, de 2003, deve ser inteiramente respeitada. Primeiro, porque a própria
Constituição Federal lhe conferiu essa competência; e segundo porque,como no presente
caso, a lei complementar trabalhou dentro de região de penumbra (insista-se, desenhada
pelo atual regime jurídico do setor). Querer desconsiderar a definição por ela estabelecida
para substituí-la por uma interpretação puramente constitucional que ignote o papel do
artigo 146 da própria Constituição trará cada vez mais insegurança jurídica para o setor.
6. CONCLUSÕES

O conceito constitucional de serviço de comunicação, para fins de incidência do


ICMS,coincide com o dos serviços de telecomunicações, abrangidos nestes os serviços de
telefonia, de tádio (radiodifusão sonora), de televisão (radiodifusão de sons e imagens)c
de TV por assinatura, mas não os Serviços de Valor Adicionado (SVA), que apresentam
grande similaridade com os serviços denominados OTT,serviços Over The Top.

CARVALHO, Paulo de Barres. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva. 2009.

i A

Você também pode gostar