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Economia brasileira
contemporânea
Presidente
Rodrigo Galindo
Conselho Acadêmico
Dieter S. S. Paiva
Camila Cardoso Rotella
Emanuel Santana
Alberto S. Santana
Regina Cláudia da Silva Fiorin
Cristiane Lisandra Danna
Danielly Nunes Andrade Noé
Parecerista
Francisco Oscar Diniz Junqueira Filho
Mirna Ivonne Gaya Scandiffio
Editoração
Emanuel Santana
Cristiane Lisandra Danna
André Augusto de Andrade Ramos
Adilson Braga Fontes
Diogo Ribeiro Garcia
eGTB Editora
ISBN 978-85-8482-459-5
CDD 338.981
2016
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Bons estudos!
Objetivos de aprendizagem:
Introdução à unidade
Esta primeira unidade está dividida em três seções. Na primeira, faremos uma
breve revisão da economia cafeeira até o plano de metas. Na sequência, vamos
compreender a crise econômica da década de 1960, o Programa de Ação Econômica
do Governo (PAEG) e o modo como as reformas institucionais foram feitas no Brasil
na década de 1960 para solucionar a crise econômica. Ainda na segunda seção,
veremos o período conhecido como milagre econômico, no qual o país cresceu
consideravelmente. Para finalizar o capítulo, na terceira seção discutiremos como
o nosso país cresceu tanto em termos de produção como em termos de dívida
externa. Preparado(a)?
Seção 1
1
Os escravos eram tratados como mercadoria/produto.
Fonte: Delfim Netto (1966 apud GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011).
Podemos perceber que, entre 1851 e 1906, três ciclos completos de preço
ocorrem, com períodos de ascensão e outros de queda. Segundo Gremaud,
Vasconcellos e Toneto Júnior (2011), as oscilações se devem a duas condições:
o lado da demanda e o lado da oferta. O primeiro está relacionado aos ciclos da
economia mundial, que refletem na demanda. Por outro lado, mudanças climáticas,
como geadas e pragas, fazem reduzir a oferta, e o investimento em novos cafezais
aumenta a oferta. Porém, é importante observar que a diferença entre plantar pés de
café e colhê-los era de quatro anos, o que explica, também, as oscilações de preços.
Certamente você deve ter ficado confuso com a afirmação anterior. Veja a
explicação: quando os preços estavam altos, novos investimentos eram feitos,
porém, somente após quatro anos, ocorreria o retorno desse investimento. Então,
durante esse período, o aumento do preço pode ter sido causado por outro motivo,
como aumento da demanda, e não pelo aumento da oferta.
Quatro anos depois de o investimento ter sido feito, então, a oferta de café
aumentava. Se a oferta estivesse mais alta do que a demanda, o preço do café reduzia.
Caso contrário, se a demanda fosse mais alta do que oferta, o preço aumentava. E o
mercado do café funcionava dessa forma!
Voltando ao Gráfico 1.1, percebe-se que o primeiro ciclo vai de 1851 a 1871; o
segundo, de 1872 a 1886; e o terceiro, de 1887 a 1906. Como saber disso? Volte ao
Gráfico 1.1 e veja que, dentro de cada um dos três períodos citados acima, temos
aumento e redução do preço do café, e, no início de cada período, o aumento do
preço é muito significativo, ou seja, o preço fica bem mais alto.
Para que não houvesse essa redução de preços, o governo utilizou dois
mecanismos de proteção de preços do café no mercado internacional, que foram
a desvalorização cambial e a política de valorização do café. Porém, ambos os
O segundo problema é que uma desvalorização cambial fazia com que todos
os produtos importados ficassem mais caros, e a base de consumo da população
brasileira era de produtos importados. Esse fato gerava inflação e toda a população
era prejudicada. Esse prejuízo social foi chamado por Celso Furtado de socialização
das perdas já que, para proteger um grupo restrito da sociedade brasileira da época,
toda a sociedade era prejudicada.
Figura 1.1 | Celso Furtado Celso Furtado foi um dos mais importantes
e influentes intelectuais da nossa história.
Autor de dezenas de livros, ensaios
e teses, contribuiu de forma decisiva
para a interpretação das barreiras ao
desenvolvimento no Brasil e na América
Latina.
Celso Furtado se destacou como um
dos primeiros autores no pós-guerra
Fonte: <http://www.criaticidades. a tratar a realidade latino-americana a
com.br/noticias/celso-furtado-
aimportancia-do-intelectual- partir de suas especificidades sociais e
nacultura-do-pais/>. Acesso em: 17 econômicas. Ele enxergava o fenômeno do
jun. 2016.
No entanto, o preço do café não oscilava entre a safra e a entressafra, razão pela
qual, então, não era possível vender o estoque do produto futuramente. Portanto,
a compra de estoques só fez aumentar ainda mais o problema, pois, quanto mais
o governo adquiria café, mais os produtores produziam, uma vez que conseguiam
manter sua renda. Ou seja, a política implementada acabou incentivando ainda mais
a produção.
que sem querer, ao aumento da produção do café brasileiro agravou ainda mais as
condições do mercado internacional.
Como afirma Furtado, era totalmente impossível obter crédito no exterior para
financiar a retenção de novos estoques, pois o mercado internacional de capitais
se encontrava em profunda depressão e o crédito do governo desaparecera com a
evaporação das reservas.
a demanda pelo café, fez com que os preços do produto reduzissem ainda mais e
reverteu os fluxos de capital.
Atenção
A maneira com que o governo do Brasil, que na era Getúlio Vargas encarou
a crise, foi chamado por Furtado como deslocamento do centro dinâmico da
economia brasileira, no qual o elemento essencial na determinação do nível de
renda deixa de ser a demanda externa, como antes da década de 1930, e passa a ser
atividades voltadas ao mercado interno, como consumo e investimento doméstico
(GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011). O deslocamento citado
pode ser visto no Gráfico 1.2
Analisando o Gráfico 1.2 podemos perceber que o setor industrial aumenta sua
participação na economia brasileira de, aproximadamente, 22% para 37%, enquanto
a participação da agricultura é reduzida de 52% para 48%, aproximadamente. Esses
dados confirmam que, entre 1928 e 1945, houve troca entre a agricultura e indústria
na geração de valor adicionado.
Gráfico 1.3 | Evolução do produto real na década de 1930 – Brasil versus EUA
III. Produção interna do que antes era importado: com a proteção à indústria
nacional, os investimentos naqueles setores protegidos aumentavam e, assim, o
que antes era importado passou, então, a ser produzido internamente. Com isso,
houve aumento da renda nacional e da demanda agregada, já que empregos eram
gerados.
Extrangulamento
externo
Fonte: A autora.
Atenção
O caso brasileiro se aproxima mais da segunda forma, embora não tenha sido
exatamente um setor depois do outro o que aconteceu na industrialização brasileira.
A ideia do processo de substituição de importações foi caracterizada, segundo
Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2011), pela “construção nacional”, ou
seja, fazer com que o país alcançasse o desenvolvimento e a autonomia através
da industrialização, para, assim, superar as restrições externas e a tendência à
especialização de produtos primários para exportação.
Atenção
Atenção
Para ilustrar as mudanças trazidas pelo Plano de Metas, vamos analisar a taxa de
crescimento da produção industrial de alguns setores específicos entre 1955 e 1962.
Seção 2
I. Déficit público: para reduzir o déficit público, houve redução dos gastos e
ampliação das receitas. Para isso, foi feita uma reforma tributária e aumento das
tarifas públicas. O impacto dessa medida foi redução do déficit de 4,2% do PIB em
1963 para 1,1% em 1966.
III. Política salarial: a taxa de desemprego foi considerada baixa e, para conter o
salário alto (desemprego baixo, salário alto e vice e versa), foi lançada a Circular 10
de 1965, na qual eram decididos os reajustes de salários. A consequência foi redução
do salário real.
O impacto das medidas citadas acima foi a redução da taxa de inflação de 91,8%
em 1964 para 22% em 1968; no entanto, o crescimento econômico retraiu no
mesmo período.
Como podemos ver, o PIB cresceu de 9,8% em 1968 para 14% em 1973, e o
principal responsável pelo crescimento foi o setor industrial, isso porque as reformas
institucionais que foram feitas pelo PAEG e a recessão econômica do período anterior
geraram capacidade ociosa no setor industrial e as condições necessárias para a
retomada da demanda. Além disso, a economia mundial cresceu consideravelmente.
A retomada do crescimento econômico, por sua vez, deveria ser feita via
investimentos em setores diversificados, com menor participação do Estado. Assim,
os principais resultados do período foram:
II. Aumento do investimento das empresas estatais, como Petrobrás e Vale do Rio
Doce (atual Vale), e criação de 231 novas empresas públicas.
Seção 3
Como podemos ver na Tabela 1.4, o objetivo do governo ao lançar o II PND não foi
atingido. De fato, no período analisado, houve aumento do crescimento econômico,
mas a níveis mais baixos do que nos anos anteriores.
Atenção
Referências
A DÉCADA PERDIDA
Objetivos de aprendizagem:
50 A década perdida
U2
Introdução à unidade
Assim, podemos dizer que a década de 1970 foi bastante movimentada, razão
pela qual o País inicia os anos 1980 com a economia em uma situação bastante
complexa. Para se ter uma ideia, a década que vamos estudar nesta unidade, a de
1980, é conhecida como década perdida, uma vez que tínhamos altas taxas de
inflação e desemprego, baixo crescimento econômico, nossa dívida externa estava
altíssima e houve diversos planos de estabilização da economia.
A década perdida 51
U2
52 A década perdida
U2
Seção 1
A década perdida 53
U2
1. Ajuste fiscal.
7. Desregulamentação.
54 A década perdida
U2
A década perdida 55
U2
56 A década perdida
U2
Seção 2
A década perdida 57
U2
Para saber mais sobre o Pacto Social e a Inflação, leia o texto “Inflação e
o Pacto Social” do autor Luiz Carlos Bresser Pereira, disponível no link:
<http://bresserpereira.org.br/view.asp?cod=3115>. Acesso em: 7 mar.
2016.
d) Reforma monetária: defendido por André Lara Resende e Pérsio Arida da PUC/
Rio, tinha como solução introduzir uma moeda indexada que circularia paralelamente
à moeda oficial (cruzeiro, no caso).
58 A década perdida
U2
Diante da inflação intensa que diversos países sofreram a partir do final dos anos
1970, a política do choque heterodoxo foi aplicada em vários casos, destacando-se
a Argentina, Israel, Bolívia e Brasil.
A década perdida 59
U2
60 A década perdida
U2
Seção 3
A cada novo plano econômico novas características lhe eram incorporadas, uma
vez que cada um dos planos objetivava tentar não cometer os mesmos erros do
plano anterior. No entanto, praticamente todos os planos tinham um ponto em
comum, que era o diagnóstico da inflação como inercial e, portanto, utilizavam o
mesmo instrumento: o congelamento de preços.
A década perdida 61
U2
Nesta seção vamos discutir três dos seis planos de estabilização econômica da
segunda metade da década de 1985, que são os planos Cruzado, Bresser e Verão.
Os planos Collor serão discutidos na próxima seção. Vamos lá?
62 A década perdida
U2
III. Ativos financeiros: substituição da ORTN pela OTN com valores congelados
por 12 meses; para contratos pós-fixados, os juros acima da correção monetária
viraram juros nominais e foram proibidos de serem indexados com prazo menor do
que um ano; a poupança passou a ter correção trimestral; para contratos pré-fixados,
foi introduzida a tablita, que era uma tabela de conversão com desvalorização diária
de 0,45%.
VI. Gatilho salarial para reajuste dos salários: toda vez que a inflação chegasse a
20%, os salários seriam reajustados.
VII. Taxa de câmbio: a taxa de câmbio foi fixada no nível no dia 27/02/1986.
VIII. Aluguéis: valores médios dos aluguéis foram recompostos via fatores
multiplicativos com base em relações média-pico.
IX. Política monetária: a oferta de moeda deveria ser igual a demanda por
moeda, e a taxa de juros foi a variável escolhida para verificar o grau de liquidez
da economia. O impacto foi a monetização excessiva da economia, reduzindo-se
consideravelmente a taxa de juros. Para você ter uma ideia disso, em março de 1986
o estoque de moeda aumentou em 80%.
Inicialmente, o impacto das medidas do plano cruzado surtiu efeito. A população ficou
animada com o “término” da inflação. Porém, esse entusiasmo durou poucos meses
porque os efeitos não foram duradouros, conforme podemos observar no Quadro 2.1.
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov.
17,79 14,98 5,52 -0,58 0,32 0,53 0,63 1,33 1,09 1,39 2,46
A década perdida 63
U2
Analisando o Quadro 2.1, verifica-se que, assim que o Plano Cruzado foi lançado,
a taxa de inflação reduziu de 14,98% em fevereiro para 5,51% em março, e em abril,
houve deflação. Porém, no mês de maio, a taxa de inflação voltou a subir e, a cada
mês, se tornou mais alta. Essa volta à inflação pode ser explicada pelas seguintes
razões:
64 A década perdida
U2
aumento das tarifas e dos impostos indiretos. Segundo Souza (2009), as principais
medidas do plano foram:
II. Aumento de certos preços administrados como, por exemplo, 60% para
combustível, 35% para telefonia e serviços postais e 60% para energia elétrica.
Conforme podemos ver no Quadro 2.2, o Plano Cruzado II foi lançado em final
de novembro de 1986, quando a taxa de inflação era de 2,46%. No mês seguinte, a
taxa de inflação passou para 7,56% e, com o passar do tempo, só foi aumentando,
chegando a 25,88% em junho de 1987, sete meses após o lançamento do plano.
A década perdida 65
U2
Porém, o Plano Cruzado deixou algumas lições como, por exemplo, a necessidade
do controle da demanda após a estabilização, a necessidade de choques neutros no
sentido distributivo, impossibilidade de manter o congelamento de preços por muito
tempo, entre outras.
66 A década perdida
U2
V. Congelamento de aluguéis.
VI. Contratos pós-fixados não foram alterados, ao passo que, para os contratos
pré-fixados, foi introduzida a chamada tablita com desvalorização de 15% ao mês.
VIII. Políticas monetária e fiscal com taxa real de juros para evitar a especulação
com estoques e o consumo.
O plano Bresser não conseguiu conter a inflação por muito tempo e, assim como
o plano Cruzado, somente inicialmente surtiu efeito. Os impactos do plano foram a
recuperação da balança comercial e a queda significativa da produção industrial. No
entanto, ele não conseguiu conter a aceleração inflacionária conforme podemos
verificar no Quadro 2.3.
Como pode ser verificado no Quadro 2.3, o Plano Bresser foi criado quando
a taxa de inflação estava em 25,88% ao mês. Após sua implementação, a taxa de
inflação reduziu consideravelmente para 9,33% em julho e 4,5% em agosto. Porém,
a partir de setembro de 1987, ela voltou a aumentar.
A década perdida 67
U2
O impacto da política feijão com arroz foi a contenção da inflação para menos do
que 20% ao mês no primeiro semestre, mas, no segundo semestre, a inflação voltou
a subir em razão da recomposição das tarifas públicas. Para agravar mais ainda a
situação, as contas da União estavam desequilibradas, pois a Constituição de 1988
aumentou as transferências da União para estados e municípios, sem repassar as
obrigações. Além disso, o custo da mão de obra aumentava, o que só fazia aumentar
a inflação, que chegou a 28,8% em dezembro de 1988.
No dia 14 de janeiro de 1989, o Plano Verão foi lançado, tendo sido mais um
plano com elementos heterodoxos e ortodoxos. Os elementos ortodoxos tinham
como objetivo conter a demanda, pela diminuição dos gastos públicos e da elevação
das taxas de juros. Os elementos heterodoxos, por sua vez, visavam promover a
desindexação da economia; para isso, os preços, novamente, foram congelados.
Porém, desta vez os preços foram congelados após o aumento dos diversos preços
administrados, e a data de comparação dos índices de preços foram alteradas para o
dia 15 de janeiro de 1989. Além dos elementos citados acima, outras medidas foram
tomadas:
I. Reforma monetária: a moeda cruzado foi trocada pelo cruzado novo e três
zeros foram cortados; assim, NCz$ 1,00= CZ$ 1.000,00.
II. Salários foram convertidos pela média dos últimos doze meses mais a aplicação
da Unidade Referencial de Preços (URP) de janeiro.
O Plano Verão foi curto e o governo não fez nenhum ajuste fiscal, o que fez com
que os déficits públicos continuassem elevados e crescentes. Em termos políticos,
a negociação com o Congresso para aprovar cinco anos de mandato do presidente
impediu quaisquer medidas mais severas e, em 1989, aconteceria a primeira eleição
direta para presidente após o golpe militar, motivo pelo qual nenhuma medida
impopular seria aceita. O impacto foi o aumento da inflação para 80% ao mês no
último mês do governo.
68 A década perdida
U2
Como podemos ver no Quadro 2.4, os planos Cruzado, Bresser e Verão eram
muito parecidos. Todos adotaram o instrumento heterodoxo de combate à inflação,
que é o congelamento de preços. O que variou foi o tempo desse congelamento.
Outro ponto é a indexação da economia, que permaneceu em todos os planos.
Por último, o resultado foi o mesmo: inicialmente a inflação foi reduzida, mas logo
depois voltou a aumentar.
A década perdida 69
U2
70 A década perdida
U2
Seção 4
Atenção
A década perdida 71
U2
Agora convido você a entender um pouco mais sobre os dois anos de mandato
do Collor e o seu plano de combate à inflação. Vamos lá?
72 A década perdida
U2
III. Reduzir a dívida pública (os títulos seriam aceitos como moeda de privatização).
A década perdida 73
U2
3,3 bilhões foram transferidos para o setor privado como pagamento de parte da
dívida.
2) Havia dificuldade em avaliar os ativos das estatais, após anos de alta inflação.
Além dos fatores citados acima, a inflação alta e persistente acabou virando
prioridade, e as privatizações foram deixadas em segundo plano.
74 A década perdida
U2
Assim, a possibilidade de mudança levava a reações que não eram a favor das
políticas, o que as tornavam inviáveis; ou seja, a possibilidade rápida da monetização
das aplicações financeiras levava ao aumento da demanda de bens de consumo, de
ativos reais e de risco, razão pela qual a inflação aumentava. Outra consequência
era a desvalorização cambial em razão do aumento da demanda por produtos
importados.
Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2011) explicam que a “fuga” dos ativos
financeiros em função da queda na taxa de juros nominal é causa por:
III. Inflação alta: os preços variam e fazem com que a correção monetária
funcione como um hedge.
A década perdida 75
U2
Para que os fatos citados acima não ocorressem e para que se evitasse a
especulação, era necessário que o governo mantivesse a taxa de juros alta e estável.
Para isso, e dada a situação do país naquele momento, o instrumento com o qual o
governo contava eram as operações de mercado aberto ou open market.
76 A década perdida
U2
II. Reforma fiscal: os objetivos da reforma fiscal eram promover ajuste fiscal em
10% do PIB, eliminar um déficit projetado de 8% do PIB e gerar um superávit de 2%.
Para atingir o objetivo, o ajuste seria feito via redução do custo de rolagem da dívida
pública, suspensão dos subsídios, incentivos fiscais e isenções, ampliação da base
tributária, tributação das grandes fortunas, proibição de cheques ao portador e IOF
alto sobre o estoque de ativos financeiros.
VI. Contratos e ativos financeiros: não houve alteração nas regras de indexação.
II. Relaxamento no controle de preços e salários a partir de maio, o que levou, junto
com a liquidez, ao aumento da inflação.
A década perdida 77
U2
IV. Não implantação da proposta de demissão dos funcionários públicos, uma vez
que ela não tinha apoio do Congresso.
78 A década perdida
U2
Seção 5
Do ponto de vista externo, em razão das altas taxas de juros e com uma política
cambial definida na manutenção da taxa de câmbio real, combinadas com a
abertura financeira e com um cenário de desaquecimento internacional, promoveu-
se a entrada de capital externo no Brasil e, consequentemente, houve elevação das
reservas (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2011).
O impacto negativo foi o aumento da dívida pública, uma vez que a entrada
de recursos externos pressionava a expansão monetária e, para que não houvesse
valorização cambial, eram lançados títulos públicos no mercado.
A década perdida 79
U2
80 A década perdida
U2
A década perdida 81
U2
82 A década perdida
U2
Referências
A década perdida 83
Unidade 3
O PLANO REAL E
A ESTABILIZAÇÃO
MACROECONÔMICA
Andréia Moreira da Fonseca Boechat
Objetivos de aprendizagem:
Nesta unidade você será levado a entender as fases da implantação do Plano
Real, assim como os motivos que fizeram com que esse plano atingisse o objetivo
e conseguisse estabilizar a economia. Além disso, você vai compreender não só
a forma como as crises financeiras internacionais afetaram a economia brasileira,
mas também a crise cambial, que fez com que o Brasil sentisse necessidade da
adoção do sistema de metas de inflação.
Introdução à unidade
Nos anos 2000, houve uma grande mudança política no Brasil, quando um
presidente considerado de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, assume a presidência
e governa o país por dois mandatos seguidos, e elege, em 2010, sua sucessora,
Dilma Rousseff. Apesar da mudança política, durantes muitos anos a estabilização
econômica foi mantida, mas outros problemas nunca foram superados.
Com base no exposto, esta unidade de estudo foi dividida em três seções. Na
primeira, discutiremos o Plano Real e a maneira como este foi criado, conseguindo
estabilizar a economia. Na segunda seção, entenderemos as crises financeiras
que afetaram a economia brasileira, com foco para as crises na Argentina, na
Rússia, na Ásia e no México. Na terceira seção veremos a solução encontrada pelo
governo brasileiro para amenizar os danos causados pelas crises internacionais na
economia brasileira, a crise cambial e o sistema de metas de inflação, que perdura
até os dias atuais.
Vamos lá?
Seção 1
Assim como o Plano Cruzado, o Plano Real diagnosticou a inflação como inercial.
Certamente você deve estar se perguntando: qual foi a diferença então? Por que o
Plano Real deu certo e o Plano Cruzado não? A grande diferença está na solução
dessa inflação inercial.
Atenção
Este novo plano, o Real, não poderia cometer os mesmos erros dos planos
anteriores. Portanto:
II. Diferentemente, também, dos planos anteriores, o Plano Real não optou pelo
congelamento de preços como defendido pela proposta heterodoxa, tendo escolhido
a substituição gradual da moeda, conforme a proposta conhecida por Larida.
Dentro desse novo contexto, o Plano Real foi implementado em três fases,
conforme descreve a Figura 3.2.
Figura 3.2 | Fases da implantação do Plano Real
1ª fase: ajuste fiscal – a primeira fase do novo plano iniciou-se em junho de 1993
e terminou em março de 1994, tendo sido chamada de ajuste fiscal. Ela teve como
objetivo solucionar o desequilíbrio orçamentário e evitar as pressões inflacionárias
geradas a partir desse desequilíbrio. O governo então fez um ajuste fiscal que consistiu
em:
• Elaboração de uma proposta orçamentária para 1994 com base em uma previsão
realista da receita.
• Tratamento mais rígido com os bancos estaduais e com as dívidas dos estados e
municípios.
Para saber quanto valia a Unidade Real de Valor (URV) por dia, acesse o
link <http://www.idealsoftwares.com.br/indices/urv.html>. Acesso em:
26 abr. 2016.
Atenção
Atenção
Para conhecer mais sobre o Plano Real e a âncora cambial, leia o artigo
intitulado “Plano Real e a âncora cambial” da autora Maria Luiza Falcão
Porém, para que fosse possível o mecanismo da âncora cambial, era necessário
haver reservas cambiais, o que era o caso do Brasil. Então, toda vez que ocorressem
ataques especulativos ao real, o governo injetaria moeda (dólar) no mercado, não
deixando que o real desvalorizasse.
São vários os fatores que explicam o aumento da demanda, entre eles o aumento
do poder aquisitivo da classe de baixa renda, a recomposição dos mecanismos de
crédito - pois com a economia estável a incerteza reduziu, tendo sido possível prever
a taxa de juros nominal futura -, o aumento do número de empréstimos (mesmo
com a taxa de juros alta) e o aumento dos investimentos das empresas. Com a
demanda maior, a atividade econômica foi expandida, principalmente nos setores
de bens de consumo duráveis e bens de capital.
Outra consequência do Plano Real está relacionada à taxa de câmbio, uma vez
que, ao estabilizar a economia utilizando-se o câmbio, no Brasil, assim como em
todos os países que adotaram essa estratégia, a moeda nacional sofreu uma grande
valorização em razão da inflação residual não repassada à taxa de câmbio. Para os
bens importáveis/exportáveis, não há problema, já que, com a concorrência, os
preços não aumentam.
Por sua vez, para os bens que não são negociáveis no mercado internacional,
como o setor de serviços, os preços continuam aumentando, uma vez que, com o
crescimento econômico, em conjunto com a estabilização, os salários reais sobem
e, como não há concorrência internacional, os custos são repassados aos preços.
Essa situação pode ser vista na Tabela 3.3, que demonstra a variação percentual
de alguns itens entre agosto de 1994, mês seguinte ao do lançamento do Plano Real,
e janeiro de 1997.
Tabela 3.2 | Taxa de inflação anual entre 1995 e 1998
Item Variação no preço
Equipamentos eletrônicos 11,25%
Roupas de cama, mesa e banho 18,12%
Gêneros alimentícios 20,93%
Roupas 29,01%
Material escolar 36,41%
Medicamentos 39,36%
Alimentação fora do domicílio 48,14%
Médicos e dentistas 92,46%
Educação – cursos formais 132,13%
Aluguel 198,12%
Analisando a Tabela 3.4, pode-se ver que havia, no Brasil, superávit comercial em
1993 e 1994. No entanto, no ano seguinte ao do lançamento do Plano Real, 1995, o
País passou a ter déficit de 3.466 milhões de dólares. Esse déficit só foi aumentando
com o passar dos anos. Qual é o maior problema do déficit na balança comercial?
Os superávits na balança comercial financiavam os déficits da balança de serviços e,
assim, conseguíamos ter um saldo equilibrado na conta Transações Correntes.
Porém, com déficits na balança comercial, o Brasil voltou a ter saldos negativos
em transações correntes, sendo esses saldos financiados pelas reservas cambiais
e/ou por recursos externos. No curto prazo, não há grandes problemas, mas, no
longo prazo, a dívida externa vai aumentando, a qual, em algum momento, deverá
ser paga.
Factoring
Também conhecida como fomento mercantil ou comercial, a factoring
é uma modalidade de empresa que presta basicamente dois tipos de
serviços: assessoria no gerenciamento da área de contas a receber e a
troca de títulos a receber, tais como duplicatas, promissórias ou cheques
pré-datados, por dinheiro à vista, dando às empresas que detinham o
crédito a possibilidade de antecipar o recebimento e alimentar seu caixa.
É claro que as factoring não cobrem o valor integral dos títulos. Elas
descontam juros e taxas pelo adiantamento, que variam de 80% a 50%
do valor de face.
Fonte: adaptado de Wolffenbüttel (2006).
Resumindo, o Plano Real atingiu seu objetivo principal, que era o combate à
inflação, porém dois outros problemas macroeconômicos foram agravados, que
foram:
b) Crise fiscal: o déficit público nominal foi de 7% do PIB entre 1995 e 1998.
Certamente você deve estar se perguntando: o que a inflação inercial tem a ver
com a redução imediata dos preços e o aumento deles logo depois do lançamento?!
Porém, poucos meses depois, o congelamento não fazia mais efeito e os agentes,
em função do passado e das expectativas futuras (negativas, é claro), aumentavam
os preços e a taxa de inflação, então, voltava a subir até o lançamento de um novo
plano de estabilização econômica.
Seção 2
Antes de estudar cada uma das crises citadas, no entanto, vamos compreender
o que são crises financeiras internacionais. Uma crise financeira acontece quando
uma ou algumas situações fazem com que instituições ou ativos financeiros se
desvalorizem repetidamente.
Com a crise no México, ficou claro que as contas externas não poderiam mais ser
deterioradas, ou seja, apesar de o objetivo principal ser a estabilização da economia,
a situação externa não poderia ficar de lado, caso contrário poderíamos passar por
uma crise cambial. Nesse momento, Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2011)
afirmam que o Plano Real passou para uma segunda fase.
A solução encontrada pelo governo FHC em março de 1995 foi ampliar o controle
da demanda interna ainda mais para evitar a perda das reservas. Para isso, a equipe
econômica optou, entre outras medidas, por restrição do crédito, elevação da taxa
de juros para atrair capital estrangeiro, desvalorização em 6% da taxa de câmbio e
alargamento das bandas de flutuações.
Canuto (2000) aponta duas características da crise que foram responsáveis pela
forte saída de capital: a acentuada desvalorização da moeda dos países envolvidos e
a queda nos preços dos ativos em mercados acionários. Para se ter uma noção da
evasão de capital, em 1996, US$ 93 bilhões entraram nos países asiáticos, ao passo
que, em 1997, US$ 12 bilhões saíram.
Atenção
Com o fim da União Soviética, em 1991, a Rússia realizou inúmeras medidas para
se encaixar no modelo capitalista ocidental, tais como privatização e redução do
papel do Estado na economia, tendo de controlar a inflação. Ao realizar privatizações,
o governo russo abriu a economia aos investimentos externos, e as exportações, em
sua maioria commodities, entre elas o petróleo, tiveram o preço consideravelmente
reduzido.
A paridade do rublo com o dólar e a queda nas receitas oriundas das exportações
fizeram com que a dívida aumentasse. Sem dinheiro para pagar a dívida, o presidente
russo Boris Yeltsin declarou moratória. Essa medida aumentou a desconfiança dos
investidores internacionais.
A Rússia então fez um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para
pagamento da dívida. Com isso, houve troca de rublos por dólares no país e os
dólares eram enviados ao exterior; o resultado interno foi o aumento do desemprego.
Para reverter a situação, o governo russo desvalorizou a moeda com o objetivo de
os investidores retornarem ao país.
A conjuntura favorável apresentada acima fez com que, dez anos após a crise,
a Rússia se transformasse em uma das dez maiores economias do mundo, com
reservas internacionais de, aproximadamente, US$ 584,4 bilhões, redução do
desemprego e aumento da renda nacional.
1998. Vamos analisar a tabela 3.5 que mostra a evolução das reservas internacionais
brasileiras entre 1997 a 2002.
Com o modelo currency board adotado, o país voltou a crescer, assim como a
dívida externa pública, já que era preciso financiar essa paridade.
Currency board
Para o leigo, o termo soa esquisito, mas realmente não existe tradução
definitiva para o português. Alguns traduzem como Caixa de Conversão
ou Agência de Conversão, outros traduzem como Conselho da Moeda.
O princípio de operação de um Currency Board é bastante simples e,
quando obedecido ortodoxamente, muito eficaz. O Currency Board é o
arranjo que se implementa quando se quer adotar uma genuína "âncora
cambial", o que faz com que a moeda de um país se torne um mero
substituto de uma moeda estrangeira. A única função de um Currency
Board é trocar moeda nacional (que ele próprio emite) por moeda
estrangeira, e vice-versa, a uma taxa fixa.
No caso específico da Argentina, o Banco Central convertido em
Currency Board tinha a função de trocar, sem custo e sem demora,
1 peso por 1 dólar e 1 dólar por 1 peso. Para cada dólar que entrasse
no país, o Currency Board emitiria um peso argentino em troca desse
dólar. A operação inversa ocorreria no caso de uma saída de dólar (peso
argentino seria entregue ao Currency Board que, em troca, enviaria o
dólar para o destinatário estrangeiro).
Fonte: <http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1562>. Acesso em: 26
abr. 2016.
A Argentina sofreu forte impacto das crises mexicana e asiática, que reduziram
consideravelmente os investimentos. Para piorar a situação Argentina, a política
cambial brasileira em 1999, quando o Real foi desvalorizado, tornou as exportações
argentinas caras. Com redução da receita e a paridade rígida do peso com o dólar,
a Argentina não tinha como pagar as altas dívidas externas e declarou moratória em
2001.
Seção 3
Porém, não foi isso o que ocorreu com o Brasil, uma vez que o setor público
ofereceu hedge1 aos agentes para minimizar o risco cambial. As proteções cambiais
oferecidas foram:
1
Ver na Unidade 2 a explicação de hedge.
Com a saída do presidente do Banco Central, Gustavo Franco, que era contra
a desvalorização cambial, e com a entrada de Francisco Lopes, que era a favor da
desvalorização, inicialmente o câmbio sofreu uma leve desvalorização, mas, como
os recursos continuavam saindo do país, o mercado solicitou uma desvalorização
maior.
A taxa de câmbio desvalorizada poderia trazer a inflação de volta, como foi o caso
do México e dos países asiáticos, mas, para evitar que isso novamente acontecesse,
o governo adotou uma política monetária restritiva. Na gestão de Armínio Fraga,
portanto, foi criado o Comitê de Política Monetária (COPOM), que estipulou uma
meta de 45% ao ano para a taxa de juros SELIC para conter a saída de recursos e
reduzir a especulação na taxa de câmbio.
Então, com a mudança do regime cambial em julho de 1999, foi adotado o sistema
Assim, pelo sistema de metas para a inflação, a função básica do Banco Central e,
portanto, da política monetária, é cumprir a meta definida pelo Conselho Monetário
Nacional e, para isso, seria utilizada a taxa de juros.
Você lembra qual é a relação da taxa de juros com a taxa de inflação? A taxa de
juros impacta a demanda e, consequentemente, os preços e a inflação. Assim, é de
se esperar que, se a inflação estiver acima da meta do governo, eleve-se a taxa de
juros e, com isso, reduzam-se a demanda e os preços também, fazendo com que a
inflação seja reduzida.
Gráfico 3.3 | Histórico das metas para inflação – Taxas efetivas no Brasil
Depois de toda nossa discussão sobre metas de inflação, você deve estar
perguntando: qual é o índice de preços que o Banco Central escolhe para
acompanhar a inflação no Brasil?
Segundo o próprio Banco Central (2016), a meta para a inflação foi definida em
termos da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),
calculado pelo IBGE. O IPCA é índice de preços ao consumidor, diferentemente de
outros índices, como os de preços no atacado e gerais. A escolha do índice de preços
ao consumidor é frequente na maioria dos regimes de metas para a inflação, pois é
a medida mais adequada para avaliar a evolução do poder aquisitivo da população.
a) Inflação de demanda.
b) Inflação de custos.
c) Inflação de oferta.
d) Inflação inercial.
e) Inflação presente.
a) IGP-10.
b) IGP-DI.
c) IPCA.
d) IPC.
e) IGP- M.
Referências
Objetivos de aprendizagem:
Nesta unidade vamos explorar o Plano Real no contexto de mudança do
governo PSDB para o governo PT e os impactos sobre a economia brasileira.
Iniciaremos nossa discussão, na Seção 1, falando um pouco sobre as
mudanças que o governo Lula trouxe para a economia brasileira e, também,
os pontos que não foram alterados. Na sequência, estudaremos as três
principais políticas macroeconômicas, a fiscal e a monetária, na Seção 2, e,
na Seção 3, a política externa do governo Lula. Além disso, na terceira seção
também veremos como se deu a transição de governo Lula para Dilma. E,
para finalizar nossa unidade, na Seção 4 entenderemos o que é o Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC), sua importância e seus resultados no
governo Lula, além de discutir a economia durante o governo Dilma.
Introdução à unidade
Vimos nesses quase 150 anos (iniciamos nossa discussão no século XIX) que
a economia brasileira passou por períodos de expansão e por momentos de
retração, causados por inúmeros motivos, desde instabilidade política interna até
especulações oriundas de crises financeiras internacionais. E todos esses fatos
tiveram impactos diretos na economia brasileira e fizeram com que chegássemos
até aqui da maneira que estamos.
Vamos lá?!
Seção 1
Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_In%C3%A1cio_Lula_da_Silva#/media/File:Lula_-_foto_
oficial05012007_edit.jpg>. Acesso em: 21 mar. 2016.
O Ministério da Fazenda
É o órgão responsável por planejar, formular e executar as políticas
econômicas nacionais. Todos os assuntos relacionados à administração
dos recursos públicos estão sob sua responsabilidade, assim como as
regras de condução e fiscalização de operações de crédito, arrecadação
tributária federal, preços e tarifas públicas, seguros, consórcio e
previdência privada.
As negociações econômicas e financeiras com governos, organismos
multilaterais e agências governamentais também são atribuições do
Ministério da Fazenda, assim como toda a fiscalização e controle do
comércio exterior. O órgão também propõe a realização de estudos e
pesquisas para acompanhamento da conjuntura econômica.
Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/economia-e-
emprego/2009/11/ministerio-da-fazenda>. Acesso em: 2 abr. 2016.
Os principais pontos do governo Lula são apresentados por Souza (2009) como:
Vamos entender o que significa políticas sociais? Segundo Vianna (2002), política
social é um conceito que a literatura especializada não define precisamente. No
entanto, no geral, a política social é entendida como modalidade de política pública
e, assim, como ação de governo com objetivos específicos.
Seção 2
Veja um resumo da situação: com a taxa de juros praticada nos últimos anos
do governo Fernando Henrique Cardoso, com baixo crescimento econômico, e
o valor da dívida, o superávit primário que o governo prometia (3,75% do PIB) não
era suficiente para estabilizar a dívida. Então, o governo Lula deveria gerar superávit
maior do que o prometido pelo governo anterior, sem deixar de lado a estabilidade
de preços e o regime de metas de inflação.
a) Elevação da meta de superávit primário para 4,25% do PIB: esta meta foi
colocada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
Vamos analisar a Gráfico 4.1 que demonstra a evolução da meta da taxa SELIC
entre 2000 e 2006.
Gráfico 4.1 | Evolução da meta da taxa SELIC (%) entre 2000 e 2006
Fonte: Vasconcelos, Gremaud e Toneto Júnior (2009) apud Banco Central do Brasil (2011).
Ao verificar o Gráfico 4.1, é possível perceber que, até 2003, a meta anunciada
pelo COPOM da taxa SELIC só aumentava, tendo reduzido ao final de 2003 e 2004,
quando voltou a subir.
Outra melhora feita pelo primeiro governo Lula ocorreu em relação ao perfil
da dívida pública, quando foram praticamente eliminados os títulos acoplados
com o dólar, tendo havido redução dos títulos conectados a SELIC e aumento da
participação dos títulos prefixados e dos títulos indexados pelos índices de preços.
No superávit nominal, por sua vez, entra o pagamento da dívida. Por exemplo, se
o governo pagou todas as suas contas, incluindo os juros com a dívida e, mesmo
assim, tem saldo positivo, dizemos que houve superávit nominal. Caso contrário,
déficit nominal.
Analisando o Gráfico 4.4, pode-se perceber que a dívida pública foi reduzida até
2008, tendo aumentado em 2009, voltando a ser reduzida nos anos seguintes. Esse
fato pode ser explicado pelo comprometimento do governo com as metas fiscais.
e) Aumento do crédito.
Em 2008, a economia mundial passou por uma crise econômica, com a falência
do banco de investimento americano Lehman Brothers, o que fez reduzir a liquidez
no mercado financeiro internacional e aumentou a desconfiança do sistema
bancário mundial.
Seção 3
Fonte: BRASIL, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Estatística do Comércio Exterior. Disponível em
http://www.desenvolvimento.gov.br//sitio/interna/interna.php?area=5&menu=5294. Acesso em: 27 maio. 2016.
Com isso, os indicadores que mostram a situação externa do Brasil – tais como
transações correntes/PIB; dívida externa/exportações; reservas internacionais –
melhoraram significativamente, o que fez com que o risco-país fosse reduzido.
Vamos entender a evolução de algumas dessas variáveis?
Como podemos ver no Gráfico 4.7, a razão entre dívida externa e reservas cambiais
(linha de cima, azul) reduziu ao longo dos anos, o que significa que nossa dívida
pública foi reduzida de 557,1% das reservas em 2002 para 81,6% em 2012; diferente
da razão entre dívida externa e exportações, que reduziu até 2008 e aumentou nos
anos seguintes. Apesar desse aumento nos últimos anos, a relação dívida externa/
exportações apresentou decréscimo de 349% para 125% entre 2002 e 2012.
Gráfico 4.8 | Relação entre dívida líquida do setor público e as reservas internacionais
Ao analisar o Gráfico 4.8, pode-se ver que a dívida líquida do setor público em
relação ao PIB foi um pouco reduzida entre 2004 e 2012. Por sua vez, as reservas
internacionais aumentaram em relação ao PIB em virtude da atuação do Banco
Central no mercado de câmbio.
Agora vamos analisar a evolução das reservas cambiais brasileira sem relacionar
uma outra variável, conforme se pode ver no Gráfico 4.9.
Gráfico 4.9 | Evolução das reservas cambiais brasileiras (US$ bilhões)
Legenda: Ouro = ouro / AUD = dólar australiano / CAD = dólar canadense / GBP = libra
esterlina / JPY = Iene japonês / EUR – euro / US$ = dólar
Por último, vamos analisar o risco-país. Para isso, no entanto, primeiro vamos
entender o conceito. Segundo o Banco Central (2015), risco-país é um conceito que
expressa o risco de crédito que os investidores estrangeiros estão enfrentando ao
investir no país, ou seja, é um indicador diário que mostra o risco de se investir no
Brasil, por exemplo. Assim, quanto menor for o risco-país, mais investimentos teremos.
Fonte: Banco Central do Brasil. Relatório da inflação. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/?RI>. Acesso em: 27 maio 2016.
Analisando o Gráfico 4.12, pode-se ver que o risco-país teve redução até 2006,
aumentando consideravelmente entre 2007 e 2008, quando voltou a ser reduzido,
voltando a aumentar somente em 2013.
Seção 4
A ideia era de que, para fazer obras e melhorar a infraestrutura, seria necessário
haver mão de obra e então, novos empregos seriam gerados e haveria aumento da
renda nacional. Além disso, haveria aumento dos investimentos públicos e privados.
Com isso, o Brasil voltaria a crescer.
De acordo com Kupfer (2007), o principal ponto positivo do PAC é o fato de ser
voltado para o que o autor chamou de economia real, uma vez que o PAC procurou
alterar a essência da política econômica sempre voltada para preservação das contas
públicas. Assim, o Estado voltaria a ser o indutor do desenvolvimento econômico
por meio de obras públicas e melhorias em infraestruturas.
Para isso, quando o PAC foi criado, foi reduzido o superávit primário em 0,5%
para que esse valor fosse investido nas obras de infraestrutura. O valor total a ser
investido era de R$ 503,9 bilhões até 2010.
Apesar de o PAC ter sido capaz de fazer com que o país voltasse a crescer, o
efeito poderia ser outro. Segundo Kupfer (2007), se o PAC não conseguisse aumentar
o investimento privado no país, a economia dificilmente conseguiria crescer. Além
disso, de acordo com o autor, se a indústria não fosse capaz de ofertar a demanda que
surgiria, haveria aumento das importações, fazendo com que a balança comercial
voltasse a ser deficitária.
Para que o programa desse certo, ele foi dividido em fases. A primeira fase teve
início em 2007 e terminou em 2010; a segunda teve início em 2011 e permanece
até os dias atuais.
3. Política externa: fazer com que o Brasil se torne atrativo para investimentos
estrangeiros.
A partir das dimensões citadas, Mereb e Zilberman (2013) apontam três grandes
conjuntos de medidas implementadas durante a primeira fase do PAC, que são:
• Foi encaminhada a PEC 233/2008 (ainda não aprovada), que visa unificar alguns
tributos federais e reduzir/simplificar a legislação do ICMS. Além disso, visa à redução
da tributação sobre a folha de pagamentos e bens considerados essenciais.
Fonte: BRASIL. Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). 2016. Disponível em: <http://www.pac.gov.br/>. Acesso em:
29 abr. 2016.
Analisando o Gráfico 4.13, vemos duas linhas, a azul, que mostra o crescimento
econômico real/efetivo no período entre 1998 e 2010, e a vermelha pontilhada, que
mostra a proposta de crescimento econômico no PAC a partir do seu lançamento.
Podemos ver que o país cresceu mais do que o pensado/previsto pelo PAC, em dois
momentos: no ano do seu lançamento, 2007 e em 2010; e cresceu menos do que
projetado em 2008 e 2009.
Fonte: BRASIL. Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). 2016. Disponível em: <http://www.pac.gov.br/>. Acesso em:
29 abr. 2016.
Agora vamos analisar a taxa de investimento da primeira fase no PAC. Para isso,
analisaremos o Gráfico 4.15.
Fonte: BRASIL. Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). 2016. Disponível em: <http://www.pac.gov.br/>. Acesso em:
29 abr. 2016.
Analisando o Gráfico 4.15 percebe-se que, com exceção do ano de 2009, a taxa
de investimento aumentou consideravelmente após a criação do PAC, passando de
16,4 em 2006 para 19,1 no ano seguinte ao da criação do PAC e para 19,0 em 2010.
Por sua vez, a taxa de investimento público em relação ao Produto Interno Bruto
(PIB) é apresentada no gráfico 4.16.
Fonte: BRASIL. Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). 2016. Disponível em: <http://www.pac.gov.br/>. Acesso em:
29 abr. 2016.
Fonte: BRASIL. Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). 2016. Disponível em: <http://www.pac.gov.br/>. Acesso em:
29 abr. 2016.
Fonte: BRASIL. Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). 2016. Disponível em: <http://www.pac.gov.br/>. Acesso em:
29 abr. 2016.
Seção 5
Em 2014, depois de uma eleição disputadíssima, Dilma Rousseff foi reeleita e o Brasil
entrou em crise política e econômica, com rejeição de parte da população e recessão
econômica. Como afirmam Pinto et al. (2016), a crise econômica e política persiste sem
sinais de reversão, em decorrência da imobilidade política e econômica do governo e
com os desdobramentos políticos e empresariais da “Operação Lava Jato”.
O governo utilizou o aumento da taxa Selic para tentar reduzir a inflação. Percebe-
se que, a partir de 2014, a Selic tendeu à alta, mas sem sucesso de combater a
inflação, que continuou aumentando. A taxa de câmbio Real/Dólar, uma vez que
o Real sofreu forte desvalorização, passou de R$4,00, duas vezes mais do que em
2011, no início do governo.
Para tentar solucionar esses problemas, o governo tomou medidas de ajuste fiscal,
que foram feitas pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy que, sem muito sucesso,
pediu demissão e foi substituído em dezembro de 2015 por Nelson Barbosa.
Para conhecer mais sobre a taxa de câmbio no Brasil, leia o texto “Estudos
sobre a taxa de câmbio no Brasil”, organizado por Toneto Júnior no ano
de 2013. O texto está disponível no link: <http://www.fiesp.com.br/
arquivodownload/?id=139236>. Acesso em: 3 abr. 2016.
Referências