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Sobras do Passado

Hoje fui assombrado pelo passado. Havia tanto tempo que não recebia esta visita. Desta
vez foi bem mais real. Pude vê-la, sentir seu cheiro e ouvir sua voz. Com sorriso na cara
me cumprimenta, puxa uma cadeira e se senta a minha frente. Na mesa está minha
maquina de escrever e diversos rascunhos de um escritor que nunca saiu do papel e uma
garrafa de Jack Daniels.
Ela puxa um cigarro.
- Não vai ascender pra mim? - ela pergunta.
- Fogo perto de você costuma ser inflamável.
- Me esqueci de que não se arrisca. Tem medo de se queimar. - ela gargalha e ascende o
próprio cigarro. Ela levanta e pega dois copos. Esta de calcinha, camisa regata branca
agarrada deixando suas tatuagens a mostra e descalça. Serve uma dose para mim
enquanto me fita e outra pra ela.
- Vamos brindar. - Ela ergue seu copo.
Ergo meu copo e bebo em apenas uma golada. Ela apenas observa.
Aquele gosto amargo vem a minha boca, um gosto de coisa velha, mofada, antiga. Ela
percebe minha cara e sorri.
- Ruim não é? Este é o gosto do passado, que fica amargo e não o deixa mais se mover,
seguir.
Tento me mover em vão. Estou paralisado.
- Você não sabe como agir ou seguir. Apenas reagir e ficar paralisado com medo. Como
um veneno mortal para a alma - ela fala enquanto se levanta e anda na minha direção. -
Quanto mais o passado se aproxima do presente com mais medo e paralisado você fica.
- CHEGAAA - com um grito e muita forca me levanto jogando a mesa no chão. Os
papéis se espalham.
Caiu de joelhos em cima deles.
Ela vem pisando em alguns na minha direção.
- É isso que faz com seus sonhos? Os espalha pelo caminho e deixa que pisem neles?
- Chega. Você não é real, é apenas uma ilusão criada pela minha cabeça - falo com os
olhos fechados tentando me tirar dali.
- A é? Apenas uma ilusão? - ela traga seu cigarro e solta sua fumaça enquanto o apaga
nas minhas costas me queimando e pressionando com a mão fala ao meu ouvido - Então
porque ainda DOI? Porque ainda te deixa com MEDO?

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