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Notas de Aula:

Funções de uma variável complexa:

Introdução:

Motivação para construção dos números complexos:

Dada a equação algébrica

x2  1  0 (1)

Não existe número real que a satisfaça. Portanto, foi necessário definir um novo tipo de número
que satisfizesse a equação.

Definição: (K.F.Gauss). Denomina-se imaginário puro ao número, i, que satisfaz

i  1 (2)

De modo que, por definição i é solução de (1), uma vez que

i 2  1 (3)

Considerando a equação do 2º grau genérica

ax2  bx  c  0 a, b, c 

com b2  4ac  0 , tem-se que as suas raízes são dadas por números com a seguinte estrutura:

b b2  4ac b 4ac  b 2 b 4ac  b 2


x     1.   i
2a 2a 2a 2a 2a 2a

b 4ac  b 2
sendo que os números  e são reais.
2a 2a

Definição: Denomina-se número complexo a todo número, z, com a seguinte estrutura

z  a  ib

onde a, b  ,sendo a denominada parte real e b parte imaginária de z. Notação:

Re[ z]  a , Im[ z]  b .

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Álgebra dos números complexos:

Definição:  {z  a  ib : a, b  , i  1} é o conjunto dos números complexos.

Operações:

- Adição: (a  ib)  (c  id )  (a  c)  i(b  d ) ; elemento neutro: 0  0  i0

- Inverso aditivo: (a  ib)  (c  id )  (a  c)  i(b  d )

- Multiplicação: (a  ib)(c  id )  (ac  bd )  i(ad  bc) ;elemento neutro: 1  1  i0

- Inverso multiplicativo: z  a  ib  0 , ! z 1  c  id  tq: zz 1  1 .

1  ac  bd  1 , (1)
De fato, zz  1  i 0   .Como z  0  a  0 ou b  0 .
bc  ad  0 , (2)

 a b 
  a  b  0 ,e tem-se que
2 2
O sistema possui uma única solução, pois det 
b a 

a b a b
c , d  2  z 1  2 i 2 .
a b
2 2
a b 2
a b 2
a  b2

- Divisão: z1 , z2  , z1  a1  ib1 , z2  a2  ib2 , z2  0 ,tem-se que

z1 a b a a bb (a b  a b )
 z1 z21  (a1  ib1 )( 2 2 2  i 2 2 2 )  1 22 12 2  i 2 12 12 2
z2 a2  b2 a2  b2 a2  b2 a2  b2

Propriedades Algébricas:

O conjunto possui uma estrutura algébrica de corpo comutativo. De fato, possui as


seguintes propriedades:

Adição:

(i) z1  z2  z2  z1 comutatividade

(ii) z1  ( z2  z3 )  ( z1  z2 )  z3 associatividade

(iii) z  0  z elemento neutro

(iv) z  ( z )  0 elemento inverso

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Multiplicação:

(v) z1 z2  z2 z1 comutatividade

(vi) z1 ( z2 z3 )  ( z1 z2 ) z3 associatividade

(vii) z.1  z elemento neutro

(viii) zz 1  1 , z  0 elemento inverso

(ix) z1 ( z2  z3 )  z1 z2  z1 z3 distributividade

Representação Geométrica

A idéia de representar os números complexos como pontos do plano cartesiano 2 , se deve, ao


que parece, ao suíço Argand (1755-1803). Entretanto, foi Gauss (1777-1855) quem
generalizou seu uso através da bijeção:

z  x  iy   P  ( x, y)  2

OBS: Com esta bijeção obteve-se que  2


como espaço vetorial real. 

Definição: (Complexo Conjugado):

z  a  ib  z  a  ib
Propriedades de z :

(P1) z  z  2a

(P2) zz  a 2  b2

(P3) z1  z2  z1  z2

(P4) z1 z2  z1 z2

(P5) ( z1 / z2 )  z1 / z2 , z2  0

(P6) z1  z2  z1  z2

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Definição: Dado z  x  iy o módulo de z é dado pelo comprimento de z interpretado como
2
vetor do :

z  x2  y 2

Propriedades de z :

(P1) z1  z2  z1  z2

(P2) z  zz
2

(P3) Re[ z ]  z

(P4) Im[ z ]  z

(P5) z  z

(P6) z  0  z  0

z
(P7) z 1  2
, z  0
z

Forma Polar de um número complexo

Definição: Denomina-se argumento de um número complexo, z  x  iy , e denota-se por arg


z, ao ângulo  que o vetor OP , P  ( x, y) , faz com o semi-eixo positivo-x.


 x  r cos  , y  r sen 

z  x  iy  P  ( x, y )  (r ,  ) :  r  z  x 2  y 2
 y
  arctg
 x

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OBS: Existe uma infinidade (enumerável) de valores de  ( k  0  2k , k  ) para os

quais (r , ) descreve o mesmo ponto P. De modo que, z  x  iy , possui uma infinidade de


argumentos todos diferindo entre si de um múltiplo de 2 . Porém, z possuirá apenas um
argumento,  0 , satisfazendo 0  0  2 . Este argumento  0 será denominado argumento
principal de z e denotado por Arg z. 

OBS: 1) z   {0} ,Arg z = 0.

2) Arg 0 não é definido.

3) Arg z = Arg z . ■

Definição: Forma Polar: Todo z  x  iy possui a seguinte representação

z  r (cos0  i sen 0 )

Propriedades:

(P1)  z  r (cos  i sen  )  r (cos(   )  i sen(   ))

(P2)

z1 z2  r1 (cos 1  i sen 1 )r (cos  2  i sen  2 )


 r1r2 [(cos 1 cos  2  sen 1 sen  2 )  i(sen 1 cos  2  sen  2 cos 1 )]
 r1r2 [cos(1   2 )  i sen(1   2 )]

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(P3) z  r (cos n  i sen n ) , n  1, 2,... (Fórmula de De Moivre)
n n

(P4) z  r (cos   i sen  ) , z  0 .


1 1

(P5) z  r (cos n  i sen  ) , z  0 .


n n

z1 r1
(P6) z2  0,  [cos(1   2 )  i sen(1   2 )] .
z2 r2

Fórmula de Euler

Sabemos pelo Cálculo Diferencial as seguintes representações em séries de Taylor:


xn x 2 x3
ex    1 x   
n 0 n! 2! 3!

(1) n 2 n x2 x4 x6
cos x   x  1   
n  0 (2n)! 2! 4! 6!

(1) n 2 n 1 x3 x5 x 7
sen x   x  x   
n  0 (2n  1)! 3! 5! 7!

De modo que, procedendo formalmente obtém-se para y  que


(iy ) n 
(iy ) 2 k  (iy ) 2 k 1  2k 2k
i y  2 k 1 2 k 1
i y 
(i 2 ) k y 2 k  (i 2 ) k iy 2 k 1
eiy        
n 0 n ! k  0 (2k )! k  0 (2k  1)! k  0 (2 k )! k  0 (2 k  1)! k  0 (2 k )! k  0 (2 k  1)!

(1) k 2 k 
(1) k
 y  i y 2 k 1  cos y  i sen y
k  0 (2k )! k  0 (2 k  1)!

Aplicando a forma polar, obtemos z  0 a representação

z  r (cos   i sen  )  rei

Propriedades:

(P1) z  rei

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(P2) z1 z2  r1r2ei (1 2 )

z1 r1 i (1 2 )
(P3)  e
z2 r2

n in
(P4) z  r e ,n
n

 
i i (  2 k )

(P5) i  e e ,k 
2 2

Função de uma variável complexa

Regiões do plano complexo

O plano complexo pode ser decomposto em regiões limitadas por curvas fechadas ou
prolongadas ao infinito. Para se definir uma região se utiliza uma ou várias desigualdades.

Exemplo:

z r z r r1  z  r2

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Re( z )  x0 Im( z )  y0 1  Arg z  2

Exercício: determine a região dada por Re(1/ z )  12 .

Definição: Um conjunto S  é limitado se R  0 tal que:

z  R , z  S .

Definição: Denomina-se disco de centro z0 e raio r  0 ao conjunto

Dr ( z0 )  {z  : z  z0  r} .

Noções Topológicas

Definição: Denomina-se vizinhança de um ponto z0 a todo conjunto V ( z0 ) que contem um


disco Dr ( z0 ) .

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Definição: Um ponto z0 é ponto interior de um conjunto S se existir uma vizinhança V ( z0 )
0

totalmente contida em S. Notação: S  {z  S : z é ponto interior de S} .

Definição: Um ponto z0 é ponto exterior a um conjunto S se existir uma vizinhança V ( z0 ) tq:


V ( z0 ) S   .

Definição: Um ponto z0 é um ponto da fronteira de S se não é nem ponto interior nem ponto

exterior de S. Notação: S  {z  : z é ponto da fronteira de S}.

Definição: Um ponto z0  S é um ponto isolado de S se existe uma vizinhança V ( z0 ) tq:


V ( z0 )  (S  {z0 })   .

Definição: Um ponto z0 é um ponto de acumulação de um conjunto S se toda vizinhança de


V ( z0 ) contém um número infinito de pontos de S. Notação:

S   {z  : z é ponto de acumulação de S} .

Definições básicas:

(i) Um conjunto é aberto se possui apenas pontos interiores.

(ii) Se S  {z  : z  S} for um conjunto aberto então S é dito ser fechado.


c

(iii) Um conjunto é dito ser conexo se qualquer par de pontos pertencentes a ele pode ser unido
por uma poligonal inteiramente contida no conjunto.

(iv) Um domínio é um conjunto aberto e conexo.

(v) Uma região é um domínio com fronteira.

(vi) Um conjunto é simplesmente conexo se toda curva fechada contida nele contém em seu
interior somente pontos interiores ao conjunto.

Definição: Diz-se que uma função de uma variável complexa w  f ( z ) está definida em um
domínio D se a cada ponto z  D corresponde um único (função univalente) ou vários valores
(função multivalente) de w .

Exemplo: (função univalente)

f:  :z w  f ( z)  z 2

Tem-se que

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z 2  ( x  iy)2  ( x  iy)( x  iy)  x2  y 2  i(2 xy)  w  x 2  y 2  i(2xy) .

De modo que,

f
z  x  iy  w  u  iv

onde

u  u( x, y)  x 2  y 2 , v  v( x, y)  2 xy

Definição: A cada função complexa f : D  : z  x  iy w  u  iv estão associadas


duas funções u e v, a valores reais, de duas variáveis reais x e y, denominadas;

u  u( x, y)  Re f ( z) e v  v( x, y)  Im f ( z) .

Exemplo: (função multivalente) A cada número complexo z  0 estão associados n números


n
complexos, as raízes n-ésimas de z, dadas por z.
Elas são as soluções da equação

wn  z
Utilizando a representação polar, tem-se que

z  r (cos   i sen  )
w   (cos   i sen  )

Utilizando a Fórmula de De Moivre obtém-se que

 n (cos n  i sen n )  r (cos  i sen n )

Então, necessariamente

 n cos n  r cos e  n sen n  r sen  .

Estas equações são satisfeitas se

n  r , n    2k ,k  .

De modo que,

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  2k   2k
w  n z  n r (cos  i sen )
n n

Esta fórmula produz n raízes distintas somente quando k  0,1, 2, , n 1 .

Definição: f : D  , D domínio, possui um limite em z0  D se existe um número L com


a seguinte propriedade:

  0,    ( , z0 )  0 : z  D,0  z  z0    f ( z)  L  

Neste caso denota-se lim f ( z )  L


z  z0

OBS: Para a existência do limite de f(z) quando z  z0 não é necessário que f esteja definida
em z0 , ou seja, que z0  D . ■

Teorema: Seja f : D  , D domínio, e z0  x0  iy0  . Se z0  D , então L  a  ib


satisfaz

lim f ( z )  L
z  z0

Se só se

lim Re f ( z )  a , lim f ( z)  b
( x , y )( x0 , y0 ) ( x , y ) ( x0 , y0 )

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Definição: (Continuidade em um ponto). Sejam f : D  , e z0  D . Diz-se que f(z) é
contínua em z0 se:

lim f ( z )  f ( z0 )
z  z0

Por extrapolação, diz-se que f(z) é contínua em D se é contínua em todo ponto de D.

Teorema: Hipótese: f : D  e z0  x0  iy0  D .

Tese: f(z) é contínua em z0 se só se u( x, y)  Re f ( z) e v( x, y)  Im f ( z)

são contínuas em ( x0 , y0 ) .

Exemplo: f :  :z f ( z)  x  i( x2  y3 ) é contínua em .

Exemplo: f : D  :z f ( z)  e1/( x1)  i cos xy

é contínua em D se D  {z  : Re( z )  1} ou D  {z  : Re( z )  1} . f(z) é descontínua na

reta Re( z )  1  {( x, y)  : x  1} .
2

Propriedades: Dados f , g : D  , z0  , tal que lim f ( z )  L e lim g ( z )  M :


z  z0 z  z0

(P1) lim[ f ( z )   g ( z )]   L   M ,  ,   .
z  z0

(P2) lim f ( z ) g ( z )  LM
z  z0

f ( z) L
(P3) lim  (se M  0 )
z  z0 g ( z) M

Derivação e Funções Analíticas

A definição da derivada de uma função complexa num ponto z0 é análoga ao caso real.
Entretanto, existem, conforme será visto, diferenças fundamentais ente funções a valores reais e
funções a valores complexos em relação a derivação.

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Definição: Seja D um domínio, z0  D e f : D  . A derivada de f(z) em z0 é dada pelo
limite

f ( z0  z )  f ( z0 )
lim
z 0 z

onde z  z  z0 . Se este limite existe dizemos que f(z) é derivável em z0 e denotamos esse
limite por

df
f ( z0 ) ou ( z0 )
dz

Diz-se que f(z) é derivável em D se ela for derivável em todo ponto de D.

OBS: A existência do limite acima deve independer de como z  z  z0 tende a zero em ,


ou seja, de como z tende a z0 em .

Exemplo: f :  :z f ( z)  z 2 .

Tem-se que z0 

f ( z0  z )  f ( z0 ) ( z0  z )2  z02 2 z0 z  (z ) 2
   2 z0  z
z z z

Logo,

f ( z0 )  lim(2 z0  z )  2 z0 .
z 0

 f ( z )  z é derivável apenas em z0  0 . É exatamente o caso


2
Exemplo: f : :z
oposto ao caso real!

Tem-se que z0  0

f ( z0  z )  f ( z0 ) z0  z  z0
2 2
( z  z )( z0  z )  z0 z0
  0
z z z
( z  z )( z0  z )  z0 z0 z0 z  z0 z  z z
 0 
z z
 z 
 z0    z0  z
 z 

Tomando z  r   {0} e fazendo z  0 , obtém-se que

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f ( z0  z )  f ( z0 )  r 
lim  lim  z0    z0  r   z0  z0
z 0 z r 0
  r  

Por outro lado, tomando z  ir , r   {0} e fazendo z  0 , obtém-se que

f ( z0  z )  f ( z0 )   ir  
lim  lim  z0    z0  ir   z0  z0
z 0 z r 0
  ir  

OBS: z0  z0  z0  z0  z0  0 .■

De modo que, não existe f ( z0 ) , z0  0 . Já para z0  0 , tem-se que

z
2
f (0  z )  f (0) z z
f (0)  lim  lim  lim  lim z  0
z 0 z z  0 z z  0 z z 0

OBS: De modo que, uma função complexa pode ser contínua em todos os pontos e não ser
derivável em nenhum ponto ou apenas um ponto. Já a recíproca é verdadeira, se f ( z ) for
derivável em um ponto z0 então ela é contínua em z0 , uma vez que

f ( z0  z )  f ( z0 )  z
 f ( z0  z)  f ( z0 )  0. f ( z )  0 , qdo. z  0 .
z
0

Portanto,

lim f ( z )  f ( z0 ) . ■
z  z0

Propriedades: Sejam f , g : D  deriváveis em z0  D .

d
(P1) ( f ( z )   g ( z )) z  z   f ( z0 )   g ( z0 ) ,  ,   .
dz 0

d
(P2) ( f ( z ) g ( z )) z  z  f ( z0 ) g ( z0 )  f ( z0 ) g ( z0 ) .
dz 0

d  f ( z)  f ( z0 ) g ( z0 )  f ( z0 ) g ( z0 )
(P3)    , se g ( z0 )  0 .
dz  g ( z )  z  z g ( z0 ) 2
0

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Definição: Uma função f : D  diz-se analítica em z0  D se existe r  0 tal que o disco

Dr ( z0 ) está contido em D e f ( z ) é derivável em todo ponto de Dr ( z0 ) .

OBS: Apesar da expressão “analítica em z0 ” sugerir uma propriedade de f ( z ) em apenas


pontual, na verdade é uma propriedade local, pois envolve uma vizinhança de z0 . No exemplo

f ( z )  z temos uma função derivável apenas em z0  0 , de modo que não pode ser analítica
2

em z0  0 . ■

Seja f : D  : z  x  iy f ( z )  u  iv . Vejamos as condições necessárias e suficientes

sobre u ( x, y) e v( x, y ) que garantam que f ( z ) seja derivável em z0  D .

Teorema: (Condições Necessárias)

Hipótese: Sejam f : D  e z0  D , tal que f é derivável em z0 .

Tese:

(i) u ( x, y) e v( x, y) possuem derivadas parciais de 1ª ordem em ( x , y ) .


0 0

(ii) As derivadas parciais de u e v no ponto ( x0 , y0 ) satisfazem as equações de Cauchy-


Riemann:

u v u v
 e 
x y y x

Prova:

Como existe f ( z0 ) , então necessariamente

f ( z0  z )  f ( z0 )
f ( z0 )  lim
z 0 z

Com o limite existindo independentemente de como z  0 . Então, fazendo z  r  0


através de valores reais, tem-se que

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[u ( x0  r , y0 )  iv( x0  r , y0 )]  [u ( x0 , y0 )  iv( x0 , y0 )]
f ( z0 )  lim
r 0 r
 u ( x  r , y0 )  u ( x0 , y0 ) v( x0  r , y0 )  v( x0 , y0 ) 
 lim  0 i 
r 0
 r r 
u v
 ( x0 , y0 )  i ( x0 , y0 )
x x

Por outro lado, fazendo z  ir  0 , obtem-se que

[u ( x0 , y0  r )  iv( x0 , y0  r )]  [u ( x0 , y0 )  iv( x0 , y0 )]
f ( z0 )  lim
ir 0 ir
 u ( x , y  r )  u ( x0 , y0 )   v( x0 , y0  r )  v( x0 , y0 ) 
 lim  0 0 i 
r 0
 ir   ir 
1 u v v u
 ( x0 , y0 )  ( x0 , y0 )  ( x0 , y0 )  i ( x0 , y0 )
i y y y y

Portanto, existem as derivadas parciais ux , u y , vx , vy em ( x0 , y0 ) . Além disso, pela unicidade do


limite e pela condição de igualdade entre dois números complexos, tem-se que necessariamente

ux ( x0 , y0 )  vy ( x0 , y0 ) e u y ( x0 , y0 )  vx ( x0 , y0 ) ■

OBS: As equações de Cauchy-Riemann são uma conseqüência direta do fato da existência do


limite independer de como z  0 em . Entretanto, elas não são condições suficientes para
garantir que f ( z ) seja derivável em z0 . De fato, a função

f:  :z f ( z)  x  i y

satisfaz

u d  1 , x  0, y  u
 x  e 0
x dx 1, x  0, y  y
v v d  1, y  0, x 
0 e  y 
x y dy 1, y  0, x 

De modo que, ux (0,0)  1  vy (0,0) e u y (0,0)  0  vx (0,0) .Mas, tomando


z  r   {0} , obtém-se que

f (0  r )  f (0) r
f (0)  lim  lim  1 .
r 0 r r 0 r


Logo, não existe f (0) .

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O seguinte resultado fornece condições suficientes para que f seja derivável em z0 .

Teorema: (Condições Suficientes)

Hipóteses:

(H1) f : D  , z0  D tais que u ( x, y) e v( x, y ) possuem derivadas parciais de

ordem contínuas em uma vizinhança de z0 contida em D.

(H2) u ( x, y) e v( x, y ) satisfazem as equações de Cauchy-Riemann em ( x0 , y0 ) .

Tese: f ( z ) é derivável em z0 .

Exemplo: f :  : z  x  iy f ( z)  e x cos y  ie x sen y .

Tem-se que

u( x, y)  e x cos y e v( x, y)  e x sen y

De modo que,

ux  e x cos y , u y  e x sen y
vx  e x sen y , v y  e x cos y

Então, u ( x, y) e v( x, y ) possuem derivadas parciais de 1ª ordem contínuas que satisfazem as


equações de Cauchy-Riemann em todo z0  x0  iy0  . Portanto, f é derivável em todo ponto
de , e tem-se que

f ( z )  ux ( x, y)  ivx ( x, y)  v y ( x, y)  iux ( x, y)  e x cos y  ie x sen y  f ( z ), z  .

Além disso, restringindo f a , ou seja, fazendo y  Im z  0 , obtém-se que

f ( z )  f ( x)  e x , x  .

Esses fatos motivarão a definição da função exponencial complexa.

Agora, seria muito útil se nós também conseguíssemos condições necessárias e suficientes para
que uma função complexa seja analítica em um ponto de seu domínio.

Teorema: (Condições Necessárias)

Hipótese: Seja f : D  tal que f ( z ) é analítica em z0  D .

Tese: u ( x, y) e v( x, y ) possuem derivadas parciais de 1ª ordem contínuas em Dr ( z0 ) ,

Paulo Marcelo Dias de Magalhães - UFOP Página 17


para algum r  0 ,que satisfazem as equações de Cauchy-Riemann em Dr ( z0 ) .

Teorema: (Condições Suficientes)

Hipóteses:

(H1) f : D  com u ( x, y) e v( x, y ) possuindo derivadas parciais de 1ª ordem contínuas em


Dr ( z0 ) , para algum r  0 .

(H2) u ( x, y) e v( x, y ) satisfazem as equações de Cauchy-Riemann em Dr ( z0 ) .

Tese: f ( z ) é analítica em z0 .

OBS: Se as condições acima forem válidas para todo ponto de D diz-se que f ( z ) é analítica em
D. ■

Teorema: (Regra da Cadeia)

Hipóteses:

(H1) g : D  , analítica em D, com g ( D)  E  .

(H2) f : W  , analítica no domínio W, com E  W .

Tese:

(T1) F ( z )  f ( g ( z ))  ( f g )( z) é analítica em D.

(T2) Para cada z  D , tem-se que

F ( z)  f ( g ( z )) g ( z )

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