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SÉRGIO HEUKO
CURITIBA
2014
SÉRGIO HEUKO
CURITIBA
2014
Agradecimentos
O presente trabalho busca fazer uma análise das charges sobre Vargas desenhadas
por Alceu Chichorro. Para isso foi feito uma breve história das caricaturas nos jornais
e seu poder de comunicação com o leitor. Na primeira parte abordamos a utilização
das imagens na História. Num segundo momento analisamos a frequência com que
as charges contendo a figura de Vargas eram publicadas no jornal O Dia. Em
seguida analisamos as charges políticas e econômicas sobre Getúlio Vargas
publicadas no jornal e desenhados por Alceu Chichorro entre os anos de 1929 e
1954. Chichorro trabalhou no jornal por mais de 35 anos ilustrando, escrevendo
crônicas e colunas. Procuramos mostrar como a figura do chefe do Executivo
Nacional era retratada em Curitiba.
This study aims to analyze the cartoons drawn by Alceu Chichorro about Vargas. In
order to do this, we done a brief history of the cartoons in the newspapers and their
power of communicating with the reader. In the first part we discuss the use of
images in history. Secondly we analyze the frequency with which the cartoons
containing the figure of Vargas were published in the newspaper O Dia. Then we
analyze the economic and political cartoons about Getulio Vargas published in the
newspaper and drawn by Alceu Chichorro between the years 1929 and 1954.
Chichorro worked at the newspaper for more than 35 years illustrating and, writting.
We intend to show how the figure of the head of the National Executive was
portrayed in Curitiba.
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 8
2 IMAGENS, HISTÓRIA E JORNAIS ........................................................................... 13
2.1 AS IMAGENS NA HISTÓRIA E NA HISTORIOGRAFIA ......................................... 13
2.2 CHARGE, CARTOON E CARICATURA: AS IMAGENS NA IMPRENSA ................ 14
3 FUMAÇA E ALCEU CHICHORRO ............................................................................ 20
3. 1 ALCEU CHICHORRO E O DIA .............................................................................. 20
3.2 CHICO FUMAÇA POR ELOY ................................................................................. 22
4 FUMAÇA E VARGAS NA HISTÓRIA DO BRASIL ................................................... 25
4.1 DA CAMPANHA AO DIP (1929 -1938):VARGAS CONTRACENA COM FUMAÇA 25
4.2 O DIP E O “RETIRO” EM SÃO BORJA (1939 -1948) ............................................. 44
4.3 DA VOLTA NOS BRAÇOS DO POVO AO SUICÍDIO (1949 -1954) ........................ 49
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 62
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 63
8
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho busca mostrar como a figura de Getúlio Vargas foi retratada
por Alceu Chichorro nas páginas do diário curitibano O Dia. A periodização abarca o
ano de 1929, com o início da campanha eleitoral para presidente, até 1954, ano do
suicídio de Vargas. Este trabalho busca analisar a representação Vargas ao longo
do tempo, especialmente nos momentos políticos mais importantes da história do
Brasil. Com esse objetivo, foi preciso entender os fatos relevantes que permeavam a
política nacional no primeiro quartel do século XX e como foram vistos por
Chichorro. Num primeiro momento, foi feita uma identificação das imagens e uma
organização das charges por ano e por acontecimentos políticos relevantes. Numa
segunda fase, a análise dos desenhos propriamente ditos.
1
Vários filmes e minisséries lançados a partir dos anos de 1980, biográficos ou não, resgatam a
memória de Vargas. Dentre as produções podemos citar Revolução de 30, de Sylvio Back (1980), a
minissérie Agosto, Globo (1993), O país dos tenentes, João Batista de Andrade (1987) e,
recentemente lançado o filme dirigido por João Jardim, Getulio (2014).
2
FLORES, Elio Chaves. Representações cômicas da República no contexto do getulismo. UFP. Rev.
Bras. Hist. vol.21 no. 40 São Paulo, 2014.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882001000100007.
10
Rodrigues Tavares, que, em sua tese Desenhando a Revolução3, utilizou como fonte
as charges de Getúlio publicadas na imprensa comunista. Alguns elementos que
constroem a figura de um Vargas opressivo surgem nesses desenhos, como o
chicote, o charuto e a espora – símbolos de um brutal tratamento destinado aos
trabalhadores e seu distanciamento aristocrático.
3
TAVARES, Rodrigo Rodrigues. Desenhando a Revolução: a luta de imagens na imprensa comunista
(1945-1964).284 páginas. Tese (História Social). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009.
4
SODRE, Nelson Werneck. A História da Imprensa no Brasil. São Paulo: INTERCOM; Porto Alegre.
EDIPUCRS. 2011, p. 439
5
QUELUZ, Marilda L. Olho da Rua: Humor visual em Curitiba (1907-1911). Dissertação de Mestrado.
Curso de Pós-graduação em História. Setor de Ciências Humanas e Artes. Curitiba. UFPR. 1996.
6
Factos da actualidade:charges e caricaturas em Curitiba (1900-1950). Disponível em:
<http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br/noticias/charges-e-caricaturas-curitibanas-em-
exposicao-na-casa-romario-martins>
11
7
SILVA, Marcos. Caricata República: Zé Povo e o Brasil. São Paulo: Marco Zero, 1990.
8
FLORES, Elio Chaves. Representações cômicas da República no contexto do getulismo. UFP. Rev.
Bras. Hist. vol.21 no. 40 São Paulo, 2014.
2014http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882001000100007.
9
MAUAD, Ana Maria. “Através da imagem: fotografia e história –Interfaces” Tempo. Vol 1 n2. Rio de
Janeiro, UFF, dezembro, 1996. p.93 apud FLORES, Elio Chaves. Representações cômicas da
República no contexto do getulismo. UFP. Rev. Bras. Hist.vol.21 n. 40 São Paulo, 2014.
12
10
PROPP, Vladímir. Comicidade e Riso. São Paulo: Ática, 1992, p. 133.
11
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Jango e o Golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed.
2006. p. 24.
12
MANGUEL, Alberto. Lendo imagens: uma história de amor e ódio. São Paulo. Companhia das
Letras. 2001, p. 32.
13
PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais. São Paulo. Perspectiva, 2004. p. 59
13
14
KNAUSS, Paulo. O desafio de fazer História com imagens: arte e cultura visual. In: ArtCultura,
Uberlândia, v.8, n.12, pag.98. jan-jun.2006.
15
MAGGIONI, Fabiano. A charge jornalística: estratégias de imagem em enunciações de humor
icônonico. Dissertação de mestrado. UFSM. Santa Maria. 2011.
16
KNAUSS, Paulo. O desafio de fazer História com imagens: arte e cultura visual. In: ArtCultura,
Uberlândia, v.8, n.12, pag.98. jan-jun.2006.
17
MANGUEL, Alberto. Lendo imagens: uma história de amor e ódio. São Paulo. Companhia das
Letras. 2001. p. 44.
18
KNAUSS, Paulo. O desafio de fazer História com imagens: arte e cultura visual. In: ArtCultura,
Uberlândia, v.8, n.12, pag.99. jan-jun.2006.
14
O historiador deve estar atento ao contexto em que ela foi produzida, observar seus
códigos subjetivos e fazer uma leitura do contexto social. As imagens são produtos
de uma sociedade, feita intencionalmente e para o público ver. Conforme afirma
Sandra Jatahy Pesavento.
19
PESAVENTO, Sandra J. História & história cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2003, (Coleção
História &. Reflexões), p. 86.
20
Diário do estado do Rio Grande do Norte. Entrevista com Claudio Oliveira. Ano 1. Edição 07. Junho
de 2005.
15
21
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Jango e o Golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed.
2006. p. 15.
22
Idem, p. 15.
23
MORAES, Cleide Pires. RODRIGUES, Marlon Leal. O discurso das charges dos jornais. Estudos
em Análise do Discurso. Universidade Estadual do Mato grosso do Sul. Dezembro de 2008 –
Março.de.2009.http://www.http://www.discursividade.cepad.net.br/EDICOES/02/arquivos2/Cleide%20
Pires%20de%20Moraes%20e%20Marlon%20Leal%20Rodrigues.pdf
16
24
SODRE, Nelson Werneck. A História da Imprensa no Brasil. São Paulo: INTERCOM; Porto Alegre.
EDIPUCRS. 2011, p. 53.
25
Idem, 269.
26
Idem.
27
Honoré Daumier. Caricaturista, chargista, pintor e ilustrador francês, que viveu no século XIX. Foi
preso quando publicou a charge “Gargantua” criticando o rei e foi condenado a seis meses de prisão,
dos qual passou 2 meses em um prisão estadual e 4 meses num sanatório, pois o rei queria mostrar
que só um insano poderia satirizá-lo.
17
28
APUD, Revista Latino-Americana de História Vol. 2, nº. 7 – Setembro de 2013 – Edição Especial.
PPGH-Unisinos. <disponível em: http://projeto.unisinos.br/rla/index.php/rla/article/viewFile/352/252>.
Acesso em 28/04/2014
29
GAWRYSZEWSKI, Alberto. Os traços na imprensa comunista carioca.( Versão modificada do
trabalho de conclusão do Pós-doutorado em História da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Rio
de Janeiro. Fevereiro de 2004, p.8
30
Idem, p.8
31
FUCHS, Eduardo. apud GAWRYSZEWSKI, op. cit. p.8. Gawryszewski omite a fonte da citação de
Eduardo Fuchs.
32
A litografia foi descoberta no final do século XVIII por Alois Senefelder Trata-se de um método de
impressão a partir de um imagem desenhada sobre uma base sólida conhecida como pedra
litográfica, esta pedra é em geral calcário. A impressão da imagem é feita por meio de uma prensa
que desliza sobre o papel.
18
33
LAGO, Pedro Corrêa do. Caricaturistas brasileiros, 1836-1999. Rio de Janeiro. Sextantes
Artes.1999, p.11.
34
O Rio na Caricatura. Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro. 1965.< Disponível em:
http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon693341.pdf>. Acesso em 25/03/2014
35
LAGO, Pedro Corrêa do. Caricaturistas brasileiros, 1836-1999. Rio de Janeiro. Sextantes
Artes.1999, p.12.
36
http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia
&cd_verbete=322&cd_idioma=28555.
19
em terras tupiniquins o personagem Zé Povo que foi utilizado no Brasil por diversos
caricaturistas como J. Carlos (1884-1950), Raul Pederneiras (1874-1953) e K-Lixto
(1887-1957), para construírem um discurso crítico e político do sistema social da
classe média carioca da Primeira República. O personagem foi editado nas mais
importantes publicações desde 1902, como O Malho, Fon-Fon e a revista Careta.
Seguindo a linha de críticas sociais e políticas, surge em 1925 o
personagem Juca Pato, do cartunista Belmonte (1896-1947), que encarnava as
aspirações e decepções da classe média paulistana. Publicado no jornal Folha da
Manhã, atual Folha de S. Paulo, foi ferrenho crítico da Aliança Liberal e o jornal foi
empastelado37 quando os revolucionários chegaram ao poder. Outro personagem
que retratava as amarguras e mazelas do povo brasileiro foi o Amigo da Onça,
criado pelo chargista Péricles de Andrade Maranhão (1924-1961). Com acidez e
sadismo, o Amigo da Onça coloca seus interlocutores nas mais embaraçosas
situações. A produção de charges no país ainda é tributária de nomes como Ziraldo
(1932), Henfil (1944-1988), Glauco (1957-2010), Laerte (1951), Angeli (1956), entre
outros.
37
Empastelar. Amontoar confusamente caracteres tipográficos. Destruir, depredar ou inutilizar um
jornal por motivos políticos ou pessoais.
20
38
http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=6&uf=00.
39
BOIA, Wilson. Alceu Chichorro. Curitiba. Secretaria de Estado da Cultura. 1988, p. 38.
40
Idem, p. 20.
21
41
CHEVALLIER, Jean. Dicionário de símbolos: (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras,
cores, números)/ Jean Chevalier, Alain Gheerbrant, com a colaboração de André Barbault...[et al.];
coordenação Carlos Sussekind; tradução Vera da Costa e Silva... [et al.]. – 10ª ed.-Rio de Janeiro.
José Olympio, 1996, p.886.
42
BOIA, Wilson. Alceu Chichorro. Curitiba. Secretaria de Estado da Cultura. 1988, p. 17.
43
Idem, p. 21.
22
O primeiro calunga criado por Alceu teve vida efêmera, Tancredo, surgido
em 1925 teve apenas onze meses de duração. No ano seguinte surge Minervino,
com uma vida mais breve ainda, apenas cinqüenta e três dias. No dia 23 de maio de
1926 surge o personagem que iria acompanhar Chichorro por trinta e cinco anos,
Chico Fumaça. Solteiro convicto, Fumaça era do “tipo gorducho, baixinho e
44
http://redarterj.com/revistas-digitais/.
45
BOIA, Wilson. Alceu Chichorro. Curitiba. Secretaria de Estado da Cultura. 1988, p. 50.
46
Idem p. 61
23
barrigudo. Cara redonda, nariz redondo”.47 Tem como companheiro seu cão Totó e
sua tia Dona Marcolina. Chichorro comentava que “Chico Fumaça é um boneco.
Boneco-caricatura. Boneco que discute, que comenta, que ironiza, que trata todos
48
os assuntos nacionais e estrangeiros” . Nas caricaturas aqui analisadas o
personagem Chico Fumaça está presente, juntamente com seu inseparável Totó,
algumas vezes observando a situação, em outras interagindo com Vargas.
Socialmente o personagem Chico Fumaça pode ser identificado como um indivíduo
de profissão liberal devido, pois não utiliza um uniforme característico de alguma
profissão. Embora Fumaça tenha exercido diversas profissões nas charges,
inclusive a de jornalista, quando entrevista Vargas em São Borja (figura 17) com um
bloco nas mãos coletando informações, podemos sugerir que Fumaça era a
personificação do próprio Chichorro.
Além de desenhar os calungas, Chichorro fazia propaganda de casas
comerciais de Curitiba utilizando seus personagens e, ainda assim, sempre
alfinetava a situação financeira que vivia a população. Louvre, Loteria do Paraná,
Casa Abdo e Casas Pernambucanas foram alguns estabelecimentos comerciais
retratados em suas charges e tiras.
As posições ideológicas de Alceu Chichorro lhe custariam vários desterros
da capital paranaense, como em 1924, que ao se posicionar do lado do lado da
revolução tenentista, teve de fugir para Guaratuba até as coisas esfriarem e a crise
passar. Em 1930, após a vitória da Revolução em outubro
47
BOIA, Wilson. Alceu Chichorro. Curitiba. Secretaria de Estado da Cultura. 1988, p. 40-41.
48
Idem, p.41.
49
Idem, p. 52.
24
50
BOIA, Wilson. Alceu Chichorro. Curitiba. Secretaria de Estado da Cultura. 1988, p.52.
25
Muitas das críticas mais contundentes contra Vargas se formam por meio
das charges. Segundo Motta, “consta que Getúlio Vargas gostava de ser informado
sobre as piadas inventadas pelos cariocas a seu respeito, pois assim, podia medir
sua popularidade”53. Utilizando de ironia, características pessoais, gestos físicos e
hábitos, os chargistas não poupavam o chefe da nação.
51
LIMA, Herman. História da caricatura no Brasil. V.1. Rio de Janeiro: Jose Olympio, 1963. P.293.
52
GOMES, Ângela de Castro. Autoritarismo e corporativismo no Brasil: O legado Vargas. In: Pedro
Paulo Zahluth Bastos/ Pedro Cesar Dutra Fonseca. A era Vargas: desenvolvimentismo, economia e
sociedade.São Paulo. Editora Unesp. 2012, p.91.
53
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Jango e o Golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed.
2006, p.17.
26
primeiras imagens veiculadas no jornal O Dia datam do ano de 1929, quando ele era
o candidato da Aliança Liberal para presidente da República, e as últimas imagens
são de 1954, pouco antes do suicídio do presidente.
“As bandeiras pró Júlio Prestes, continuam a receber adhesões dos próprios mineiros.
FIGURA 2 - AS BANDEIRAS
presa em sua cintura e com andar altivo, ereto. Chico Fumaça e Totó olham para
Vargas simpaticamente apontando e observando a bandeira a meio-mastro e
parecem fazer uma saudação. Fumaça como espectador simboliza o povo diante de
uma realidade consumada, não há apoio suficiente para Vargas ser eleito e o
resultado está selado. Um efeito considerado importante é o local onde ocorre a
charge, delimitado por uma figura geométrica, o círculo, indicando que o local é
restrito, fechado, não há espaço para outros candidatos.
Legenda: Não sejas trouxas Getúlio Avança na fructa e toma-a Primeiro que o Júlio a coma-a Porque
“Deus” protege o Júlio.
FIGURA 3 - A TENTAÇÃO
Mesmo com uma plataforma de governo que atendia aos anseios dos mais
variados grupos, a Aliança Liberal foi derrotada nas urnas pelo paulista Júlio
Prestes. As denúncias de fraude ganharam a imprensa, mas estava sendo tramado
nos bastidores um golpe que impedisse o recém eleito presidente de tomar posse.
Osvaldo Aranha, Virgílio de Melo Franco, João Neves da Fontoura, juntamente com
os tenentes Juarez Távora e João Alberto conspiravam para a tomada do poder.
O assassinato do candidato derrotado à vice-presidência, João Pessoa, por
motivos privados, foi o estopim da Revolução de 1930. Sob a liderança do civil
Getúlio Vargas e sob a chefia militar do tenente-coronel Pedro Aurélio de Góis
Monteiro, o movimento armado teve início no Rio Grande do Sul e a 3 de outubro de
1930 chegou vitorioso a capital federal.
55
TUCCI CARNEIRO, Maria Luiza, e KOSSOY, Boris, A Imprensa Confiscada pelo DEOPS 1924-
1954. Arquivo Público de São Paulo / Ateliê Editorial/ Imprensa Oficial, São Paulo, 2003, p.37.
56
VARGAS, Getúlio. Diário volume 1. São Paulo. Siciliano; Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.
1995. p.19.
57
Dicionário Caldas Aulete. 2ª Ed. Editora Delta. Rio de Janeiro. 1964.
32
62
“Sorri Fonseca”...cutucou.
61
CHEVALLIER, Jean. Dicionário de símbolos: (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras,
cores, números)/ Jean Chevalier, Alain Gheerbrant, com a colaboração de André Barbault...[et al.];
coordenação Carlos Sussekind; tradução Vera da Costa e Silva... [et al.]. – 10ª ed.-Rio de Janeiro.
José Olympio, 1996.
62
NETO, Lira. Getúlio 1930-1945. Do governo provisório a ditadura do Estado Novo. 1ª Ed. São
Paulo. Cia das letras, 2013, p.42.
36
63
Barrete frígio: é uma espécie de touca ou carapuça usada originalmente pelos moradores da Frígia
(região da Ásia Menor). Durante o século XVIII, ele ganhou a significação de liberdade durante a
guerra de Independência dos Estados Unidos da América. Foi utilizada também pelos republicanos
franceses que tomaram Bastilha que culminou com a instalação da primeira república francesa em
1793.
38
Esse fato político foi bem explorado pela imprensa( figura 9). Chichorro, em
maio de 1937, retratou Getúlio como um líder divino. Na charge O Sermão da
Montanha, ele aparece com a tábua das leis na mão. Aqui notamos a discrepância
entre o título da charge e sua representação iconográfica. O Sermão da Montanha
foi um longo discurso de Cristo no qual ele profere lições de comportamento e
moral que norteiam a conduta cristã. Iconograficamente a imagem de Vargas nos
remete a outro personagem bíblico, Moisés, que libertou os judeus do cativeiro no
Egito e guiou o povo por quarenta anos até chegar a Terra Prometida na qual ele
não pode entrar. Ainda de acordo com a Bíblia, foi Moisés quem recebeu das mãos
64
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12ª Ed. 1ª reimpr. São Paulo. Edusp. 2006,p.361.
65
Idem, 361.
66
CHAGAS, Carlos. O Brasil sem retoque: 1808-1964: a História contada por jornais e jornalistas.
Vol. 1. 2ª Ed. Rio de Janeiro. Record. 2005, p. 390.
67
NETO, Lira. Getúlio: do governo provisório a ditadura do Estado Novo 1930-1945.1ª Ed. São
Paulo. Cia das Letras. 2013, p.288.
39
68
MANGUEL, Alberto. Lendo imagens: uma história de amor e ódio. Tradução de Rubens Figueiredo,
Rosaura Eichemberg, Claudia Strauch. São Paulo. Cia das Letras. 2001, p. 71.
69
O discurso de Vargas pode ser acessado através do site
http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/getulio-vargas/discursos-
1/1937/02.pdf/download.
70
NETO, Lira. Getúlio 1930-1945. Do governo provisório a ditadura do Estado Novo. 1ª Ed. São
Paulo. Cia das Letras, 2013. p.289.
40
71
intoxicação totalitária...” . Foi neste período que o trocadilho ou jogo de palavras
serviu “como válvula de escape para as frustrações democráticas” 72.
71
CHAGAS, Carlos. O Brasil sem retoque: 1808-1964: a História contada por jornais e jornalistas.
Vol. 1. 2ª Ed. Rio de Janeiro. Record. 2005, p. 431.
72
Idem, p. 431.
41
“Mussoline, ao receber os jogadores italianos, declarou que se orgulhava deles, por terem conquistado a
‘Cópa do Mundo’, no campeonato internacional de foot ball” (dos jornais)
-Então você acha que não éra vantagem os nossos jogadores, conquistarem a ‘Cópa do Mundo’,
Fumaça?
- Eo (sic) queria que V. Exa. Mandasse tirar aquélas(sic) estatuas(sic) nuas do jardim da Quinta da Bôa Vista, que
constitue(sic) um crime, no inverno!...
FIGURA 11 - UM CRIME
Legenda:- Meus parabéns, doutor Getúlio, o Estado Forte está sendo respeitado:
- Porque Fumaça?
FIGURA 12 - A OPÇÃO
As figuras 10, 11 e 12, utilizam notícias dos jornais como mote para fazer
humor e, eventualmente, criticar sutilmente o Estado Novo, maneira eficaz de driblar
os problemas com a ditadura.
73
DANTAS, Regina Maria Macedo, A casa do imperador: Do Paço de São Cristóvão ao Museu
Nacional. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-graduação em Memória Social. Rio de Janeiro.
UFRJ. 2007.
45
Ano jan fev mar Abr mai jun Jul ago set out nov dez
1929 04 01
1930 01 01
1931 01 01
1932 01 02
1933 01 03 01
1934 03 01 01
1935 01 02 01 01
1936 01 01 02 01
1937 01 01 08 03 03 03 01 01
1938 02 01 02 01 01
74
GOMES, Ângela de Castro. Autoritarismo e corporativismo no Brasil: O legado Vargas. In: Pedro
Paulo Zahluth Bastos/ Pedro Cesar Dutra Fonseca. A era Vargas: desenvolvimentismo, economia e
sociedade. São Paulo. Editora Unesp. 2012, p.91.
46
1949 01 04 03 01
1950 01 02 02 01 01 01 03 01 02 01
1951 01 01 01
1952 01 01 01
1953 02 01 01
1954 02 01 02 01 01
FONTE: O AUTOR
O Estado Novo foi um golpe político entre Vargas e Góis Monteiro para a
permanência de Getúlio no poder. Armou-se uma situação de pânico entre as
camadas dominantes para que estes vissem no golpe um movimento de proteção do
Estado contra os inimigos. Se os comunistas já tinham dado o pretexto com a
insurreição de 1935, a farsa do Plano Cohen usou o anticomunismo para justificar o
golpe. O Plano Cohen seria um golpe de tática comunista para a tomada do poder:
previa a mobilização de trabalhadores para uma greve geral, assassinatos de líderes
civis e militares, saques, depredações, incêndio de prédios públicos. Com a crise do
Estado Novo, em 1945, o General Góes Monteiro denunciou que o Plano Cohen era
uma fraude e atribuiu a culpa ao capitão Olímpio Mourão Filho, chefe do serviço
secreto da Ação Integralista Brasileira (AIB).
O DIP era um órgão que tinha como função difundir os ideais do Estado
Novo junto à população e foi criado em 1939. Porém sua abrangência foi muito mais
ampla, regulamentando, proibindo e censurando toda prática jornalística, cultural e
midiática que fosse contrária aos ideais do Estado Novo. De acordo com Ângela de
Castro Gomes neste período o
75
GOMES, Ângela de Castro. A invenção do trabalhismo. São Paulo. Vértice/IUPERJ. 1988, p. 91.
76
Idem, p.232..
48
A juventude dos integrantes das primeiras charges foi substituída por figuras
mais senis, demonstrando que o tempo percorrido abalou a integridade física dos
personagens, mas também mostrando a decadência de suas idéias.
79
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12ª Ed. 1ª reimpr. São Paulo. Edusp. 2006, p.404.
50
A charge traz um relato do momento político que o Brasil vivia, não existindo
um candidato de consenso que estivesse em condições de concorrer às eleições
presidenciais. Getúlio, “a velha raposa dos pampas”80, só observava o desfecho das
indicações à candidatura presidencial.
80
A velha Raposa dos Pampas foi uma expressão cunhada por Assis Chateaubriand para se referir a
Getúlio Vargas. A raposa é símbolo de esperteza e astúcia e a imagem de raposa ficou associada a
imagem política de Vargas devido ao seu modo peculiar de conduzir a política.
NETO, Lira. Getúlio 1930-1945. Do governo provisório a ditadura do Estado Novo. 1ª Ed. São Paulo.
Cia das Letras, 2013.p.23
51
Paulo, que ficou sob intervenção federal no Estado Novo, se referia a Vargas como
um caudilho e o jornal Folha da Manhã quase nunca se referia a Vargas pelo nome
e sim como ex-ditador. Dispondo de uma visão política ampla e a capacidade de
costurar apoios, Getúlio aproximou-se de Ademar para costurar uma aliança
política com o ex-interventor paulista, prometendo retribuir o apoio nas próximas
eleições.
O cenário campesino (figura 14) mostra que Vargas se retirou para seu
exílio em São Borja após ser deposto em 1945. Ele recebe Fumaça do lado externo
da casa e ao fundo notamos um curral mostrando a origem estancieira do
candidato. A construção também pode significar curral eleitoral, expressão utilizada
para indicar a forte influência de um candidato junto aos seus eleitores do campo,
neste caso, os trabalhadores mais humildes com menor poder aquisitivo ou baixa
escolaridade.
FIGURA 14 - DIFERENTE
81
SEVERIANO, Jairo. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras, vol. 1: 1901-1957. São
Paulo. Ed. 34, 1997. p.284.
53
CAUSAS Nº DE GREVES %
Admoestação 7 2,6
Contra o governo - -
82
FERREIRA, Jorge. Os conceitos e seus lugares: trabalhismo, nacional-estatismo e populismo. In:
Pedro Paulo Zahluth Bastos/ Pedro Cesar Dutra Fonseca. A era Vargas: desenvolvimentismo,
economia e sociedade.São Paulo. Editora Unesp. 2012, p. 301.
83
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12ª Ed. 1ª reimpr. São Paulo. Edusp. 2006, p. 409.
54
Ano Inflação/Variação %
1946 22,6
1947 2,7
1948 8,3
1949 12,2
1950 12,4
1951 11,9
1952 12,9
1953 20,8
FONTE: WANDERLEY GUILHERME DOS SANTOS. QUE BRASIL É ESTE? MANUAL DE INDICADORES POLÍTICOS E
SOCIAIS. RIO DE JANEIRO. UPERJ/VERTICE, 1990, P. 40
Entre os anos de 1953 e 1954 o Brasil foi sacudido por uma forte crise
econômica. A inflação fazia com que os preços dos alimentos subissem diariamente.
A situação dos trabalhadores era de penúria. A emissão de papel moeda
descontrolada e exagerada por parte do governo pressionava ainda mais a inflação.
84
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12ª Ed. 1ª reimpr. São Paulo. Edusp. 2006, p. 410.
55
Na figura 15, vemos que quem tinha dinheiro era só o governo enquanto as
promessas eleitorais de Vargas sobre melhores salários não se concretizaram.
Vargas é desenhado por Chichorro com uma expressão decrépita no meio dos
sacos de dinheiro. O seu sorriso característico ainda permanece em sua face, porém
agora sob um nariz saliente e traços faciais envelhecidos. O diálogo entre os dois
mostra a ironia trazida pelo mar de dinheiro que, contraditoriamente, tem menos
valor por conta da desvalorização.
FIGURA 15 - EXTRA-PROMESSA
O ano de 1954 foi marcado pelo agravamento das finanças brasileiras. Para
conter os ânimos Vargas decidiu reformular o ministério. O ministro do Trabalho
João Goulart foi substituído, mas não sem antes apresentar uma proposta de
aumento de 100% no salário mínimo. Ele abandonava o cargo de ministro como um
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homem que saiu por ceder benefícios aos trabalhadores, espólio que seria
explorado em suas campanhas futuras.
o clima de tensão nos meios políticos. Mesmo sem nunca ter provado a
participação efetiva de Vargas no atentado, a oposição o acusava como o
mandante do crime.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CERRI, Luis Fernando; FERREIRA, Angela Ribeiro. Notas sobre a demanda sociais
de representação e os livros Didáticos de História. IN: (ORG) Margarida Maria Dias
de Oliveira e Maria Inês Sucupira Stamatto. O Livro Didático de História: políticas
educacionais, pesquisa e ensino. Natal. EDUFRN. 2007.
CHAGAS, Carlos. O Brasil sem retoque: 1808-1964: a História contada por jornais
e jornalistas. Vol. 1. 2ª Ed. Rio de Janeiro. Record. 2005.
CONY, Carlos Heitor. Quem matou Vargas: 1954, uma tragédia brasileira. Rio de
Janeiro: Edições Bloch, 1974.
COSTA, Luis Cesar Amad/ MELO, Leonel Itaussu A. de. História do Brasil. São
Paulo. Scipione. 1999.
Diário do estado do Rio Grande do Norte. Entrevista com Claudio Oliveira. Ano 1.
Edição 07. Natal/RN. Junho de 2005.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12ª Ed. 1ª reimpr. São Paulo. Edusp. 2006.
64
LEGIÂO..Dicionário.Online.de.Português..Disponível.em:.<http://www.dicio.com.br/le
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In: ArtCultura, Uberlândia, v.8, n.12, pag.98. jan-jun.2006.
LIMA, Herman. História da caricatura no Brasil. V.1. Rio de Janeiro: Jose Olympio,
1963.
65
MANGUEL, Alberto. Lendo imagens: uma história de amor e ódio. São Paulo.
Companhia das Letras. 2001.
OLIVEIRA, Sandra. “Um modelo para ler imagens”. In: Imagem também se lê. São
Paulo. Rosari. 2006.
VIANNA, Maria Lucia Teixeira Werneck. Getúlio Vargas (1883-1954). [São Paulo]:
Editora Tres, 1974.
FONTES