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IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE

10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB

MODELO DE BLOCO DA MINA GALO BRANCO, EQUADOR - RIO GRANDE


DO NORTE

Deyvine Henrique Ramos Silva1 Marinésio Pinheiro de Lima2


1
Graduando, Dep. de Eng. de Minas – DEMINAS, Uni. Fed. de Pernambuco - UFPE/MEC
2
Eng. de minas, M.Sc., Dep. de Eng. de Minas – DEMINAS, Uni. Fed. de Pernambuco - UFPE/MEC
Deyvine_h@hotmail.com

RESUMO

O dimensionamento dos limites do corpo do minério de Caulim, do município Equador, Rio Grande
do Norte, teve como objetivo a definição do modelo de blocos com auxílio do software Datamine
Studio 3, o que nos possibilitou determinar o melhor método de lavra a ser utilizado. Os dados dos
limites de comprimento e largura do corpo foram obtidos com o auxílio de GPS de precisão
chegando a 420 metros e 70 metros, respectivamente, característica de um corpo tabular e
alongado. Já os dados de profundidade foram obtidos em campo através de observações de poços
feitos por antigos garimpos, tendo em vista o baixo custo do projeto, observando em média 30
metros, com o solo variando de 3 a 18 metros. Os teores, definido neste trabalho como
rendimento, foram obtidos por meio de amostras tomadas no local e variou entre 5 e 30 %.

PALAVRAS-CHAVE: Limites, Blocos, Minério.

ABSTRACT

The sizing of the Kaolin mineral deposits boundaries of the municipality of Equador, Rio Grande do
Norte, aimed to determine the block model with the aid of the Datamine Studio 3 software, which
allowed us to define the best mining method to be used. The data limits of length and width were
obtained with the aid of precision GPS reaching 420 meters and 70 meters respectively,
characteristics of a tabular and elongated deposit. The depth data were obtained in the field
through the observations of pits made by previous miners, in view of the low cost of the project,
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observing an average of 30 meters, with soil ranging from 3 to 18 meters. The contents defined in
this study as yield, were obtained from samples taken on site and varied between 5 and 30%.

KEY WORDS: Boundaries, Blocks, Mineral

1. INTRODUÇÃO

Corpos minerais são acumulações de matéria mineral natural, limitadas por todos os lados e
confinadas a um elemento (ou elementos) estrutural. Os limites dos corpos minerais podem ser
naturais, tecnológicos ou econômicos (Sad; Valente, 2007). O conhecimento desses limites nos
permite definir, o que podemos chamar da primeira fase de um empreendimento mineiro, o
modelo de blocos, porém este não é definitivo, podendo ser modificado por motivos econômicos
ou tecnológicos.
As jazidas minerais, até os anos 1960, eram representadas por secções contínuas. Por volta do fim
dessa mesma década, técnicos das minas de pórfiros de cobre do sudoeste norte-americano
(Arizona, Novo México e Utah) decidiram dividir os depósitos em termos de blocos com dimensões
com largura e comprimento de 50 metros e altura variando 10 a 13 metros, com isso, eles
avaliavam cada bloco individualmente de acordo com os atributos de interesse (Girodo, 2006).
Com a utilização do modelo de blocos deixaram de usar o modelo tradicional, permitindo uma
revolução na área de planejamento de mina, tornando-se imprescindível como ferramenta para
todo engenheiro de minas. Com o desenvolvimento de modelos matemáticos específicos e o uso
de computadores, possibilita uma atualização rápida dos planos de lavra, como também permite a
abordagem de um grande número de parâmetros por meio de análises econômico-financeiras de
sensibilidade.
A altura dos blocos corresponde normalmente à altura das futuras bancadas da
exploração. Por seu turno, a localização/posicionamento dos blocos dentro do modelo depende
de uma série de fatores, tais como, os contatos geológicos entre minério e estéril; interfaces entre
tipos de mineralizações; zonas de teores elevados e baixos, etc. (HUSTRULID & KUCHTA, 2006).
Segundo Gama (1986), o conceito de bloco tridimensional tem sido essencial para o
tratamento computacional, visto que este constitui, simultaneamente, uma unidade de
informação (que se pode armazenar, recuperar, atualizar, mapear, etc.) e um volume a ser
escavado (que possui teor, valor econômico e posição espacial claramente definidos na jazida),
permitindo, desse modo, uma conceituação apropriada à seleção da alternativa mais lucrativa.
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2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS

No início dos anos 60, baseado nas observações de Krige, o engenheiro de minas G.
Matheron (1963, 1971) desenvolveu a teoria das variáveis regionalizadas, ou seja, das variáveis
com condicionamento espacial. Ela foi definida como uma função espacial numérica, variando de
um local para outro, apresentando continuidade aparente e cuja variação não pode ser
representada por uma função matemática simples (LANDIM, 2006).
Segundo Burrough (1987 apud Camargo et. al, 1998) a teoria das variáveis regionalizadas
implica que a variação de uma variável pode ser expressa pela soma de três componentes: i) uma
componente estrutural, associada a um valor médio constante ou a uma tendência constante; ii)
uma componente aleatória, espacialmente correlacionada; e iii) um ruído aleatório ou erro
residual.
Se x representa uma posição em uma, duas ou três dimensões, então o valor da variável Z
em x, é dado por:
(01)

Em que é uma função determinística que descreve a componente estrutural em ;

é um termo estocástico, que varia localmente e depende espacialmente de ;e é um

ruído aleatório não correlacionado, com distribuição normal com média zero e variância . Sendo

assim, a teoria das variáveis regionalizadas, base teórica da geoestatística, pode ser vista como um
grande ramo da estatística espacial (CRESSIE, 1993), que estuda a relação de uma variável
regionalizada com ela mesma numa outra posição.

2.1 Krigagem

Segundo Landim (2006), Krigagem é uma técnica de estimativa de valores de variáveis


distribuídas no espaço ou no tempo, a partir de valores adjacentes enquanto considerados como
interdependentes pelo semivariograma. De acordo com o autor, trata-se em último caso de um
método de estimativas por médias móveis. O termo Krigagem, do francês krigeage, foi cunhado
pela escola francesa de geoestatística em homenagem ao engenheiro de minas sul-africano e
pioneiro na aplicação de técnicas estatísticas na avaliação de reservas Daniel G. Krige. Abrange
uma família de algoritmos conhecidos, entre outros, como krigagem simples, krigagem da média,
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krigagem ordinária e krigagem universal (Yamamoto; Landim, 2013). Esse método é o mais
avançado de estimação e refere-se ao modo de ponderar as diversas amostras disponíveis,
atribuindo pesos maiores a amostras mais próximas e pesos menores a amostras mais distantes. O
sistema de krigagem fundamenta-se na ideia de que quanto maios a covariância entre uma
amostra xi (em que i = 1, 2, 3, (...) n) e o local que está sendo estimado, x 0, mais essa amostra deve
contribuir para a estimativa. O sistema de krigagem considera, assim, tanto a distância entre as
amostras quanto o seu agrupamento.
O uso do semivariograma para a estimativa por krigagem não exige que os dados tenham
distribuição normal, mas a presença de distribuições assimétricas, com muitos valores anômalos,
deve ser considerada, pois a krigagem é um estimador linear (LANDIM, 2006).

3. ESTUDO DE CASO

O estudo desse artigo se baseou nos dados na mina de Caulim do Projeto Galo Branco,
localizado no município do Equador, Rio Grande do Norte. Serão apresentados neste tópico o
banco de dados, bem como os resultados obtidos através da técnica de modelamento geológico e
estimativa dos recursos.

3.1 Banco de dados

O banco de dados foi gerado a partir da observação de poços (40 furos) feitos por antigos
garimpos, amostras recolhidas e pelo conhecimento prévio da geologia local. Neste trabalho
iremos trabalhar teor como rendimento pois fica mais prático.
Tabela 1 - Banco de dados
BHID FROM TO Rendimento % Litologia X Y Z
PC1 0 4.2 0 Solo 754201.3810 9231900.1236 672.8525
PC1 4.2 30 25.0 Caulim - - -
PC2 0 4.2 0 Solo 754192.2745 9231907.3282 672.5775
PC2 4.2 30 26.0 Caulim - - -
...
PC59 0 2.7 0 Solo 754453.6676 9232015.8725 677.0515
PC59 2.7 30 28 Caulim - - -
PC60 0 2.8 0 Solo 754442.1503 9232009.6650 677.4515
PC60 2.8 30 28 caulim - - -
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Sendo: BHID – identificação do furo;


From/To – início e fim, respectivamente, do trecho identificado;
Rendimento – teor por trecho;
Litologia – tipo de material;
X, Y e Z – Coordenadas em UTM.

3.2 Resultados obtidos

Para a confecção do modelo de bloco da mina foi utilizado como ferramenta o software
Datamine Studio 3, com o banco de dados geramos outras três tabelas (assay, collar e geology)
que são necessárias para introdução dos dados no software:

Tabela 2 – Tabela assay


BHID FROM TO RENDIM

Tabela 3 – Tabela collar


BHID XCOLLAR YCOLLAR ZCOLLAR

Observação: nos campos xcollar, ycollar e zcollar preenche com as coordenadas dos furos.

Tabela 4 – Tabela geology


BHID FROM TO LITO

Para gerar a topografia do local foi utilizado uma GPS de precisão, tomando as coordenadas,
em UTM, dos furos e mais alguns pontos auxiliares:
Tabela 5 – Tabela da topografia
BHID XCOLLAR YCOLLAR ZCOLLAR

Após inserir todas as tabelas no software obtivemos os seguintes resultados:


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Figura 1 – Localização dos furos na topografia local; identificação do rendimento de cada furo.

O próximo passo foi gerar as seções perpendiculares delimitando o corpo de minério e o


solo, separadamente:

Figura 2 – Seções perpendiculares do solo (vermelho) e minério (verde).


Utilizando a ferramenta Make DTM e cria as wireframes do corpo de minério:

Figura 3 – Wireframe do corpo de minério.


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Utilizando a ferramenta Define and fill wireframe gerou o modelo de blocos para o solo e o
corpo de minério:

420 m
30 m

Figura 4 – Modelo de Bloco do corpo de minério de Caulim e do solo.

Aplicando o rendimento (teor) ao modelo de bloco do minério obtemos o seguinte resultado:

Figura 5 – Modelo de bloco com seu respectivo rendimento.

Observa-se que o corpo de minério é tabular e alongado, com rendimento variando entre 0 e 30
%, com média de 22,4%. De posse desses resultados já pode-se identificar o melhor local para a
instalação da mina (círculos marcados na figura).
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3.3 Estimativa de recursos

Utilizando a ferramenta de cálculo do volume do modelo de bloco comparando com a


wireframe obtivemos o seguinte resultado:
Tabela 6 – Resumo do cálculo da estimativa dos recursos.
Volume do modelo de bloco (m³) 615.359,30
Volume da wireframe (m³) 640.789,10
Diferença de volume (m³) 25.429,80
Discrepância (vol. Bloco/ vol. Wireframe) 4,1%
Densidade do Caulim (g/cm3) 2,60
Tonelada de caulim (Ton) 1.599.934,18

Tabela 7 - Cálculo dos volumes e do rendimento médio por categoria.


Categoria Massa (m³) Rendimento médio (%)
[0,5] 0 0
[5,10] 274.50,7 7.834,0
[10,15] 113.476,2 13.175,0
[15,20] 191.321,9 17.397,0
[20,25] 178.630,8 22.344,0
[25,30] 104.232,4 27.000,0
[30,35] 0 0
TOTAL 615.359,3 19.250,0

4. CONCLUSÃO

A construção do modelo de blocos da mina e a estimativa dos recursos de minério se


mostram essenciais no planejamento técnico/econômico, sendo a base sobre a qual serão
estabelecidos os estudos de viabilidade econômica que se seguem. As atividades seguintes,
localização da cava, sentido de avanço da lavra, localização da planta de beneficiamento e de
construções de apoio, dependem desses prévios conhecimentos adquiridos.
Esse estudo buscou apresentar o método utilizado para obtenção do modelo de blocos,
ilustrando, através de uma aplicação prática, na mina de caulim, em Rio Grande do Norte.
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5. AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao CETEM, a UFCG, UFPE e CAE Mining pela utilização do software
DATAMINING Studio 3, para realização deste trabalho acadêmico.

6. BIBLIOGRAFIA

BURROUGH, P. A. Principles of geographical information systems for land resources assessment.


Oxford,: Clanderon, 1987. 193 p.

CRESSIE, N. Statistics for spatial data. New York: Wiley, 1993. 900 p.

GAMA, C. D. Metologia de controle de lucro em mineração. Publicação IPT 1661. São Paulo: IPT,
1986, 24p.

GIRODO, A. C. Planejamento da produção mineral: material didático instrucional. Belo Horizonte:


Ietec, 2006.

GIRODO, A. C.; CAMPOS, A. C. A. Curso rápido de geoestatística e planejamento mineiro. Belo


Horizonte: Ietec, 2006.

HUSTRULID, W.; KUCHTA, M. Open pit mine planning & design. 2. Ed. Rev. ampl. Leiden, 2006.
636 p.

LANDIM, P. M. B. Sobre Geoestatística e mapas. Terræ Didática, Rio claro, 2006.

MATHERON, G. Le paramétrage technique des reserves. Technical Report 453. Fontai-nebleau:


Centre de Géostatisque et de Mophologie Mathématique, 1985.

SAD, J. H. G.; VALENTE, J. M. Delineação de depósitos minerais. Belo Horizonte: Rona, 2007. 272
p.

YAMAMOTO, J. K. Avaliação e classificação de reservas minerais. São Paulo: Edsusp: Fafesp, 2001.
226 p.

YAMAMOTO, J. K.; LANDIM, P. M. B. Geoestatística: conceitos e aplicações. São Paulo: Oficina de


Textos, 2013. 215 p.

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