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Emissões globais de CO2 aumentaram em 2017

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE;
Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

A curva de Keeling segue sua tendência inexorável de subida e a concentração de CO2 na


atmosfera deve ultrapassar 410 partes por milhão (ppm) em maio de 2018. O mundo precisava
parar (ou diminuir muito) a queima combustíveis fósseis.

Contudo, as emissões globais de CO2 aumentaram em 2017. O aumento previsto das emissões
de gases de efeito estufa para 2017, após três anos de estabilidade, sugere que as emissões
ainda não atingiram o pico, aumentando a urgência nas negociações climáticas da ONU. O
aumento projetado de 2% nas emissões de 2017 é um péssimo sinal para o futuro do Planeta e
mostra que o Acordo de Paris, de 2015, está longe de cumprir com suas metas.

O objetivo do Acordo de Paris é manter o aumento da temperatura global abaixo de 2 graus


Celsius (se possível abaixo de 1,5º C) em relação aos tempos pré-industriais. Porém, estes
objetivos estão cada vez mais difíceis de serem alcançados.

O país com o maior aumento projetado nas emissões de 2017 - cerca de 3,5% - é a China, onde
o consumo de carvão aumentou, a despeito de todos os investimentos chineses em energias
renováveis. O aumento das emissões chinesas pode ser parcialmente atribuído a um longo
período seco que reduziu a quantidade de água disponível para energia hidrelétrica, o que
significa que mais carvão foi queimado.

A pesquisa do Global Carbon Project mostra que o consumo de carvão nos Estados Unidos
também cresceu ligeiramente em 2017, mas projeta que as emissões globais dos EUA – o
segundo maior poluidor, cairão 0,4%, devido em parte a uma mudança da matriz energética
para gás natural e energia renovável.

As emissões da Índia, enquanto isso, deverão crescer em cerca de 2%, abaixo do crescimento de
mais de 6% durante a última década. Espera-se que as emissões diminuam em 22 países, com
economias crescentes que representam 20% das emissões globais.

De modo geral, as emissões de carbono causadas pelas atividades antrópicas cresceram a uma
taxa anual média de 3,5% desde 2000, mas a um ritmo mais lento de 1,8% entre 2006 e 2015,
de acordo com o Global Carbon Project. Isto mostra que é possível diminuir as emissões e fazer
um desacoplamento relativo.

Contudo, o cenário é preocupante pois só uma redução significativa das emissões poderia evitar
um colapso ambiental. Quanto maior for a procrastinação, maiores serão os esforços requeridos
no futuro, inclusive as “emissões negativas”. Temperaturas acima de 2º C podem desencadear
eventos climáticos desastrosos que podem representar um xeque-mate às pretensões da
civilização.

O último relatório do The International Resource Panel (IRP), da UNEP, “Assessing Global
Resource Use”, mostra que a economia internacional continua devorando recursos naturais em
grande quantidade e que o desacoplamento absoluto é um sonho distante.

O modelo econômico que visa maximizar a acumulação de capital para as empresas e a


maximização do bem-estar (consumista) para a população é incompatível com a
sustentabilidade ambiental e a estabilidade do clima. A geração de riqueza humana ocorre em
função da degradação ecológica e da poluição atmosférica. O atual caminho leva ao precipício.

No dia 13/11/2017, foi publicada uma carta na revista BioScience, assinada por 15.372 cientistas
de 184 países, com o título: "Advertência dos Cientistas à Humanidade: Segundo Aviso". Trata-
se de um verdadeiro alerta para a humanidade que segue um rumo de desenvolvimento
insustentável. O aviso está dado. O ecocídio e o suicídio terão alta probabilidade de ocorrer se
não houver uma mudança global no modelo de produção e consumo e uma redução urgente da
pegada ecológica da humanidade.

Referência:
Advertência dos Cientistas do Mundo à Humanidade: um Segundo Aviso
https://br.sputniknews.com/ciencia_tecnologia/201711149829620-humanidade-ameaca-
terrivel/
Carbon Budget 2017 http://www.globalcarbonproject.org/carbonbudget/17/presentation.htm
UNEP. Assessing Global Resource Use. A systems approach to resource efficiency and
pollution reduction. The International Resource Panel (IRP) United Nations Environment
Programme, 2017 http://www.resourcepanel.org/reports/assessing-global-resource-use

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