Você está na página 1de 60

CAPÍTULO III

GEOLOGIA E MINERALIZAÇÕES DE Fe-Cu-Au


DO ALVO GT46 (IGARAPÉ CINZENTO),
CARAJÁS

MARIA DA GLÓRIA DA SILVA


JOÃO BATISTA GUIMARÃES TEIXEIRA
MÁRCIO MARTINS PIMENTEL
PAULO MARCOS VASCONCELOS
ANSELMO ARIELO
WASHINGTON DE JESUS SANT’ANNA DA FRANCA ROCHA
SUMÁRIO

CAPÍTULO III
PROJETO CARACTERIZAÇÃO DE DISTRITOS
MINEIROS DA AMAZÔNIA

GEOLOGIA E MINERALIZAÇÕES DE Fe-Cu-Au DO ALVO GT46


(IGARAPÉ CINZENTO), CARAJÁS

RESUMO ...................................................................................................................................................................................... 97
ABSTRACT ................................................................................................................................................................................. 97

I. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 98

II. CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL ....................................................................................... 100


Geologia do Setor Nordeste da Província Mineral de Carajás ......................................................................... 100
Embasamento Arqueano ............................................................................................................................................. 100
Seqüências Supracrastais Arqueanas ......................................................................................................................... 100
Complexos Máfico-ultramáficos Direfenciados Arqueanos ....................................................................................... 103
Granitos Sin e Tardi-colisionais Arqueanos ............................................................................................................... 103
Intrusivas Básicas e Intermediárias Arqueanas.......................................................................................................... 103
Granitos Anorogênicos Paleoproterozóicos ............................................................................................................... 103
Diques Básicos Neoproterozóicos ............................................................................................................................. 104

III. GEOLOGIA DO ALVO GT-46.......................................................................................................... 104


Petrografia ....................................................................................................................................................... 104
Rochas Anfibolíticas ................................................................................................................................................... 104
Rochas Graníticas ....................................................................................................................................................... 107
Rochas Gnáissicas a Sillimanita e Granada (granito deformado e hidrotermalizado) ................................................. 109
Soleiras e Diques Doleríticos ...................................................................................................................................... 109
Formações Ferríferas ................................................................................................................................................... 109
Discussão ................................................................................................................................................................... 109
Litogeoquímica .................................................................................................................................................. 112
Rochas Anfibolíticas com Textura Reliquiar ............................................................................................................... 112
Rochas Anfibolíticas sem Textura Reliquiar ............................................................................................................... 114
Rochas Graníticas ....................................................................................................................................................... 115
Diques Máficos .......................................................................................................................................................... 120
Química Mineral ................................................................................................................................................ 123
Química Mineral de Anfibólios ................................................................................................................................... 123
Química Mineral Feldspatos ....................................................................................................................................... 126
Química Mineral Granada ............................................................................................................................................ 126
Química Mineral de Clinopiroxênio ............................................................................................................................. 127
Outros Minerais Presentes nas Rochas do Alvo GT-46 ............................................................................................. 127
Metamorfismo ................................................................................................................................................... 127
Mineralização .................................................................................................................................................... 128
Estudo de Inclusões Fluidas .............................................................................................................................. 130
Microtermometria e Composição de Inclusões Fluidas .............................................................................................. 132
Discussão ................................................................................................................................................................... 134
Geocronologia .................................................................................................................................................... 136

IV. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES ....................................................................................................... 140


Depósitos de Fe-Cu-Au da Província Carajás .................................................................................................. 140
Evolução Geotectônica e Metalogenética da Província Carajás ...................................................................... 143
Síntese dos Principais Resultados Obtidos no Alvo GT-46 ............................................................................... 144
Orientação para Trabalhos de Prospecção Regional ........................................................................................ 147

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................. 148

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 148


Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

GEOLOGIA E MINERALIZAÇÕES DE Fe-Cu-Au DO ALVO GT46


(IGARAPÉ CINZENTO), CARAJÁS

Maria da Glória da Silva1,6, João Batista Guimarães Teixeira1, Márcio Martins Pimentel2, Paulo Marcos
Vasconcelos3, Anselmo Arielo4, Washington de Jesus Sant’Anna da Franca Rocha5.

1
Universidade Federal da Bahia (UFBA) – Salvador, BA. gloria@ufba.br
2
Universidade de Brasília (UnB) – Brasília, DF. jbt@ufba.br
3
Universidade de Queensland – Brisbane, Austrália. arielo@tethysmining.mn
4
Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Carajás, PA. wrocha.br@gmail.com
5
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) – Feira de Santana, BA. marcio@unb.br
6
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) – Salvador, BA. paulo@earth.uq.edu.au

RESUMO ABSTRACT

O Alvo GT46/Igarapé Cinzento situa-se no setor noroeste da The GT46/Igarapé Cinzento target lies in the northwestern sector
Serra dos Carajás, dentro da seqüência meta-vulcanossedimentar of the Serra dos Carajás, within the metavolcanosedimentary sequence
arqueana do Grupo Grão Pará. Neste Alvo foram descritas rochas of the Grão Pará Group. In this target, arc related volcanic and plutonic
plutônicas e vulcânicas toleíticas de arco vulcânico, sedimentos tholeiitic rocks have been described, associated with BIF-type volcanic
vulcano-exalativos do tipo BIF e granitóides cálcio-alcalinos, também exhalative sediments and with calc-alkaline granitoids, also presenting
com assinatura de arco. O conjunto foi afetado por deformação arc signature. The whole sequence has been affected by brittle-ductile
heterogênea em regime rúptil-dúctil, acompanhada de metamorfismo heterogeneous deformation, accompanied by amphibolite facies
dinamotermal da fácies anfibolito. dynamothermal metamorphism.
As mineralização, do tipo Fe-Cu-Au, consistem em sulfetos de The Fe-Cu-Au mineralizations consist of copper sulfides
cobre (calcopirita, bornita, covelita e calcocita) com magnetita associada, (chalcopyrite, bornite, covellite and chalcocite), with associated
encaixadas nos anfibolitos mais intensamente deformados e em planos magnetite, hosted by the more intensely deformed amphibolites, and
de fraturas dos granitos arqueanos. Metassomatismo ferro-potássico in fractures of Archean granites. Fe-K metasomatism of the host
das rochas encaixantes foi produzido pelo fluido mineralizante. rocks has been produced by mineralizing fluids. Fluid inclusion and S
Estudos de inclusões fluidas e de isótopos de S e O indicam que os and O isotopic studies indicate a magmatic-hydrothermal solution of
fluidos mineralizantes eram de natureza magmático-hidrotermal, de probable granitic derivation.
provável derivação granítica. After interpretation of the previous data set together with
A partir da interpretação de todos os dados de trabalhos anteriores information gathered in the present research, it has been characterized
e da presente pesquisa, ficou caracterizado que o depósito de Fe-Cu- that the GT46 Fe-Cu-Au deposit is Paleoproterozoic (~1,8 Ga),
Au do Alvo GT46 é de idade paleoproterozóica (~1,8 Ga), embora although hosted by Archean rocks. Mineralization is tectonically
hospedado em rochas arqueanas. A mineralização é tectônicamente controlled, the ore occurring in foliation planes of rocks deformed
controlada, o minério ocorrendo nos planos de foliação das rochas under brittle-ductile regime.
deformadas em regime rúptil-dúctil. The GT46 deposit lies in the context of NNE-SSW fractures
O depósito do Alvo GT46 situa-se no contexto de falhas e fraturas and faults that cross- cut the EW trending regional structure of
de direção geral NNE-SSW, que cortam transversalmente a estruturação Serra dos Carajás. This crustal fracturing episode took place after
E-W da Serra dos Carajás. Este episódio de fraturamento crustal the last intrusive phase of the Uatumã event (Maloquinha granitic
ocorreu após a última fase intrusiva do evento Uatumã (suite granítica suite, 1840±26 Ma), during the continental breakup of the Crepori
Maloquinha, 1840±26 Ma), durante o breakup continental da fase phase. Other Fe-Cu-Au deposits of the Carajás Province, which
Crepori. Outros depósitos de Fe-Cu-Au da Província Carajás que probably share the same structural control under a mantle plume
provavelmente compartilham do mesmo controle estrutural em regime are the Gameleira and the Sequeirinho, this located within
ambiente de superpluma mantélica são os depósitos Gameleira e o the Sossêgo mine.
depósito Sequeirinho, este localizado na mina do Sossêgo. The identification of all faults and fractures belonging to the
A identificação de todas as falhas e fraturas relacionadas ao sistema brittle-ductile system related with the Crepori phase is
rúptil-dúctil da fase Crepori é recomendada, uma vez que a atividade recommended, ever since the proterozoic hydrothermal activity
hidrotermal proterozóica ao longo destas descontinuidades poderia along these discontinuities might generated primary deposits of
gerar depósitos primários do tipo Sossêgo-Gameleira-GT46. Além the Sossêgo-Gameleira-GT46 type. Moreover, at the upper part
disso, nas partes superiores de depósitos deste tipo, em zonas de of these deposits, in zones of preserved plateau topography, some
platôs topograficamente preservados, poderiam ocorrer depósitos de Igarapé Bahia-type gold deposits may possibly occur, originated
ouro do tipo Igarapé Bahia, originados de processos supergênicos. by supergenic processes

97
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

I. INTRODUÇÃO de São Félix do Xingu, cerca de 100 km do


Núcleo Residencial Carajás (Figura 1). As
O Alvo GT46/Igarapé Cinzento situa-se no coordenadas do ponto central da área de trabalho
extremo NNW da Serra do Carajás, Município são as seguintes:

Figura 1 – Imagem LANDSAT de parte da Serra dos Carajás com a localização do Alvo GT46/Igarapé Cinzento.

Afloramentos rochosos na área de pesquisa são ra- Projeto Aquiri, foram viabilizados com auxílio da des-
ros. Os trabalhos de mapeamento geológico, realizados crição dos testemunhos de 80 furos de sondagem e
no Alvo GT46 pelos geólogos da extinta DOCEGEO resultaram em um mapa geológico na escala original
(Rio Doce Geologia e Mineração S.A.), no âmbito do de 1:5.000 (Figura 2).

98
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 2 – (a) Mapa geológico e (b) seção geológica do Alvo GT46/Igarapé Cinzento, elaborados pela equipe da DOCEGEO
lotada no Projeto Aquiri, com base em interpretações geofísicas, dados de superfície e descrições de testemunhos de sondagem.

99
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

De acordo com o mapa da Figura 2 e com base nos A Figura 3 apresenta as principais associações
estudos petrográficos e litogeoquímicos realizados no litológicas e a compartimentação tectônica da região da
âmbito do presente estudo, com utilização de amostras Serra de Carajás. Ao norte aparecem os granitóides da
selecionadas em 14 furos de sondagem, os seguintes extremidade sudeste do Escudo das Guianas, de idade
litotipos foram caracterizados na área: riaciana. O lado leste é ocupado pelas rochas
• rochas gabróicas, basálticas e basáltico-andesíticas, metassedimentares do Cinturão Araguaia, de idade
com textura original ainda preservada, embora neoproterozóica. No setor sudoeste encontra-se o
mineralogicamente transformadas por processos de Supergrupo Uatumã, de idade paleoproterozóica, consti-
alteração hidrotermal; tuído pelas efusivas continentais das formações Sobreiro
• rochas anfibolíticas fracamente a moderadamente e Iriri, associadas a intrusões graníticas e a rochas
anisotrópicas; sedimentares clásticas do Grupo Paredão e das forma-
• rochas anfibolíticas fortemente foliadas e ricas em ções Gorotire e Triunfo.
biotita; A porção centro-sudeste do mapa é ocupada pelas
• rochas graníticas, em geral isotrópicas, localmen- rochas neoarqueanas que compõem a extremidade su-
te deformadas e foliadas sob regime rúptil-dúctil, deste do Bloco Amazônia Central. Estas foram agrupa-
mostrando diferentes graus de alteração das em quatro domínios principais: (1) terreno de alto grau
hidrotermal; metamórfico, incluindo o Complexo Xingu, composto de
• rochas gnáissicas e xistos ricos em granada e charnoquito, gnaisse e granulito e o Grupo Tapirapé, for-
sillimanita; mado por anfibolito, quartzito, formação ferrífera e xisto
• formações ferríferas bandadas ricas em magnetita ultramáfico; (2) terreno de baixo grau metamórfico, inclu-
e quartzo, com ocorrência de grunerita subordina- indo os greenstone belts do Supergrupo Andorinhas, asso-
da; ciados a grandes intrusões de granodioritos e trondhjemitos
• diques e soleiras doleríticas não deformados, com e parcialmente cobertos pelos sedimentos clásticos do Grupo
textura porfirítica a glomeroporfirítica. Rio Fresco; (3) seqüências meta-vulcanossedimentares,
As principais hospedeiras da mineralização são rochas incluindo os grupos Grão Pará, Salobo-Pojuca, Rio Novo e
anfibolíticas contendo biotita. O minério consiste em Igarapé Bahia; (4) sedimentos siliciclásticos não
sulfetos de cobre, principalmente calcopirita e bornita, metamorfisados da Formação Águas Claras.
sempre associados a magnetita. A mineralização também
ocorre nos planos de deformação rúptil a rúptil-dúctil dos Geologia do Setor Nordeste da Província Mineral
granitóides e nos planos de cisalhamento dos gnaisses de Carajás
contendo sillimanita.
A presente pesquisa teve como objetivo principal a Um mapa compilado para o setor nordeste da região
caracterização metalogenética do conjunto rochas de Carajás é apresentado na Figura 4.
encaixantes + minério presentes no Alvo GT46. Para atin-
gir estes objetivos foram realizados estudos petrográficos, Embasamento Arqueano
litogeoquímicos e de química mineral, com apoio de estu-
dos isotópicos e geocronológicos, cujos resultados serão O embasamento da Província Carajás consiste em
discutidos nas seções a seguir. gnaisses tonalíticos e trondhjemíticos do Complexo Xingu,
gerados no intervalo de 2861 a 2855 Ma (U-Pb, zircão,
II. CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL Machado et al., 1991).

A Província Mineral de Carajás localiza-se na porção Seqüências Supracrustais Arqueanas


sudeste do Cráton Amazônico, mais precisamente na ex-
tremidade sudeste do Bloco Amazônia Central (Figura 3). O embasamento é recoberto em inconformidade pe-
O arcabouço geológico da Serra de Carajás, particu- las seguintes seqüências vulcanossedimentares:
larmente de seu setor nordeste, que compreende as ser- • Grupo Salobo-Pojuca (DOCEGEO, 1988), forte-
ras Norte, Sul e Leste, foi descrito pela primeira vez pe- mente deformado e constituído de anfibolito, for-
los geólogos da US Steel Co. e da Companhia Vale do mação ferrífera e quartzito, com idades U-Pb em
Rio Doce, durante os estudos de viabilidade para a ope- zircão no intervalo de 2761 a 2732 Ma (Machado
ração de lavra do minério de ferro (Tolbert et al., 1971; et al., 1991).
Rezende e Barbosa, 1972). Mais tarde, algumas sínteses • Grupo Grão Pará (Rezende e Barbosa, 1972), divi-
sobre a geologia de Carajás foram publicadas (p. ex. dido em três sub-unidades, da base para o topo: (1)
Hirata et al., 1982; DOCEGEO, 1988, entre outros). Formação Parauapebas (Meireles et al., 1984),

100
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 3 – Mapa geológico regional da Província Mineral de Carajás. Compilado e interpretado a partir dos dados da Carta
Geológica do Brasil ao Milionésimo – GIS Brasil (CPRM, 2004).

101
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

Figura 4 – Mapa geológico regional do setor nordeste da Província Mineral de Carajás. Compilado e interpretado a partir
dos dados da Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo GIS Brasil (CPRM, 2004). Interpretação estrutural com base em
Veneziani et al. (2004).

102
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

composta por derrames de composição intermedi- neoarqueanas é comprovada pelo complexo máfico-
ária, com textura vesicular e porfirítica, intercala- ultramáfico de Luanga, com idade de cristalização em
dos com brechas aglomeráticas, rochas vulcânicas torno de 2763±6 Ma, obtida pelo métodoU-Pb em zircão
félsicas, arenito e conglomerado. Os derrames in- extraído de diferenciado gabróico (Machado et al. 1991).
termediários têm composição andesito-basáltica,
apresentando fácies metamórfica xisto verde bai- Granitos Sin e Tardi-colisionais Arqueanos
xo (Teixeira e Eggler, 1994). As rochas félsicas Várias intrusões de granitóides ocorreram em associ-
são derrames riolíticos brechados que cristalizaram ação com os processos geotectônicos arqueanos. Intrusões
há 2759±2 Ma (U-Pb, zircão, Machado et al., sin-colisionais são compostas principalmente por
1991; Trendall et al. 1998); (2) Formação Carajás monzogranitos calcialcalinos, que se apresentam alonga-
(Beisiegel et al., 1973), que consiste em seqüência dos paralelamente à foliação regional E-W, a exemplo do
espessa de rochas químicas metassedimentares. A
Granito Estrela, com idade de 2763±7 Ma (U-Pb, zircão,
seção basal é formada por depósitos dolomíticos
Barros et. al., 2001) e do Granito Plaquê, com idade de
(Teixeira e Eggler, 1994), que gradam, lateral e
2736±24 Ma (U-Pb, zircão, Avelar et al., 1999). Intrusões
verticalmente, para formação ferrífera jaspilítica,
arqueanas tardi-colisionais são constituídas de hornblenda-
com espessura variando entre 200 e 300 metros
piroxênio monzogranitos e granitos peralcalinos
(Meirelles, 1996; Lindenmayer et al., 2001a; Ma-
metaluminosos, exemplo do Granito Salobo, com idade de
cambira e Schrank, 2002). A formação ferrífera
2573±2 Ma (U-Pb, zircão, Machado et al., 1991), do Gra-
bandada constitui o protominério para alguns dos
nito Itacaiunas, com idade 2560±37 Ma (Pb-Pb, zircão,
maiores depósitos de minério hematítico do mundo,
Souza et al., 1996).
comparáveis aos grandes depósitos da Província de
Hamersley, Austrália e do Distrito de Krivoy Rog, Intrusivas Básicas e Intermediárias Arqueanas
Ucrânia (Dalstra e Guedes, 2004). A idade mínima
de deposição da Formação Carajás foi de 2740±8 Soleiras básicas a intermediárias que intrudem as ro-
Ma, com base em idade U-Pb em zircão extraído de chas do Grupo Grão Pará foram descritas por Tolbert et
uma soleira quartzo-diorítica (Trendall et al., 1998). al. (1971). Soleiras de quartzo-diorito hidrotermalmente
• Seqüência Paleovulcânica Superior (Beisiegel et al., alteradas foram estudadas por Ferreira Filho (1984) na
1973), composta de rochas metavulcaniclásticas e mina de ouro Igarapé Bahia, por Teixeira (1994) na mina
metassedimentares, intercaladas com metabasal- de Ferro N4 e por Lindenmayer et al. (1995) no depósito
to. A seqüência paleovulcânica superior é correla- de ferro S11. Soleiras gabróicas de filiação toleítica
cionável com o Grupo Igarapé Bahia, abaixo des- intrudiram os sedimentos da Formação Águas Claras há
crito. cerca de 2708±34 Ma (U-Pb, zircão, Mougeot, 1996).
• Grupo Igarapé Bahia, constituído por rochas
Granitos Anorogênicos Paleoproterozóicos
metavulcânicas máficas, metapiroclásticas e
metassedimentares, incluindo formações ferríferas Pelo menos três séries de granitos do tipo “A” com
bandadas (DOCEGEO, 1988). Resultados de aná- textura rapakivi intrudiram o Cráton Amazônico durante
lises de isótopos de chumbo (Galarza et al. 2001; o Paleoproterozóico (Dall’Agnol et al., 2005). Na região
Tallarico et al., 2004) indicaram idades de 2745±1 da Serra de Carajás estas suites são representadas, res-
Ma para rochas metavulcânicas e de 2747±1 Ma pectivamente, pelos granitos Jamon, Velho Guilherme,
para rochas metapiroclásticas. Carajás, Cigano e Pojuca. O Granito Carajás, localizado
• Formação Águas Claras (Araújo et al., 1988), com- entre a Serra Norte e a Serra Sul, corta as rochas dos
posta de pelitos e arenitos marinhos plataformais grupos Grão Pará e Igarapé Bahia e também os sedi-
na seção inferior, superpostos por arenitos litorâ- mentos da Formação Águas Claras. Sua principal facies
neos e fluviais (Nogueira e Truckenbrodt, 1994). consiste em uma rocha de granulação grossa, geralmente
Idade mínima de 2645±12 Ma foi atribuída para porfirítica, com fenocristais de K-feldspato pertítico, que
esta formação com base em análise isotópica de atingem dimensão de 3 cm, imersos em matriz de quart-
zircão coletado em intrusões de composição zo, plagioclásio, biotita e com traços de anfibólio. O
gabróica (Dias et al., 1996; Trendall et al., 1998). plagioclásio encontra-se parcialmente alterado para
Complexos Máfico-ultramáficos Diferenciados epidoto e as texturas rapakivi são comuns (Wirth, 1986).
Arqueanos As idades de cristalização de alguns destes granitos são:
Cigano 1883±2 Ma, Carajás 1880±2 Ma e Pojuca 1874±2
A ocorrência de plutonismo máfico-ultramáfico con- Ma (U-Pb, zircão, Machado et al., 1991).
temporâneo ao vulcanismo das seqüências supracrustais

103
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

Diques Básicos Neoproterozóicos sentando percentual volumétrico entre 50 e 60% da ro-


cha. Os grãos de anfibólio encontram-se incipientemente
As rochas intrusivas mais jovens encontradas na Pro- substituídos por biotita, mais raramente por epidoto e, por
víncia Carajás são diques de diabásio, normalmente encai- vezes, observa-se a presença de bordas substituídas por
xados em fraturas de direção NS. A idade destas intrusões, anfibólio fibroso; (ii) plagioclásio em grãos anédricos, ge-
determinada pelo método Rb-Sr, ficou estabelecida em torno minados, límpidos, com composição variando entre ande-
de 553±32 Ma (Cordani et al., 1984). sina e labradorita, com leves manchas de saussuritiza-
ção. Plagioclásio ocorre também em grãos finos intersti-
III. GEOLOGIA DO ALVO GT-46 ciais, quase totalmente substituídos por sericita, carbona-
to e epidoto, constituindo entre 20% e 30% da rocha; (iii)
Petrografia
quartzo em grãos finos, intersticiais, com extinção ondu-
Todo estudo petrográfico das rochas do Alvo GT46 latória moderada (variando de 5 a 10% em volume da
foi realizado a partir de amostras coletadas em testemu- rocha); (iv) traços de apatita e finos grãos de magnetita
nhos de sondagem, tendo em vista a impossibilidade de disseminados; (v) biotita, de substituição do anfibólio, em
amostragem de terreno, face à presença de espesso manto geral com manchas de substituição por clorita. A presen-
de intemperismo na área. Em decorrência da lateritização, ça de hornblenda aponta para metamorfismo da fácies
não foi possível a realização de trabalhos de mapeamento anfibolito, com posterior re-equilíbrio na fácies xisto ver-
no Alvo, uma vez que os poucos afloramentos existentes de e desenvolvimento de clorita e epidoto.
mostram-se fortemente saprolitizados. Os anfibolitos do tipo 2 (figuras 5c e 5d) constituem
Foram selecionados dezessete furos de sondagem re- rochas de coloração verde escura, granulação média a
alizados pela CVRD no Alvo GT46, os quais atravessam grossa, estrutura fortemente anisotrópica. Microscopica-
as diferentes unidades litológicas: FD46/12, FD46/19, mente observa-se a presença de: (i) biotita verde e anfi-
FD46/22, FD46/35, FD46/36, FD46/39, FD46/41, FD46/ bólio fibroso, do tipo cummingtonita, desenvolvido a partir
53, FD46/56, FD46/64 FD46/70, FD46/71, FD46/72, FD46/ da hornblenda. É comum a presença de restos de horn-
74, FD46/75, FD46/76 e FD46/77. Os furos foram des- blenda envoltos pelo anfibólio fibroso. A biotita ocorre
critos e amostrados, resultando na seleção e coleta de em palhetas largas e orientadas (textura granolepidoblás-
264 amostras de rochas e minério para fins de investiga- tica), parcialmente cloritizada, com halos de pleocroísmo
ção, envolvendo petrografia, geologia e geocronologia devido à presença de inúmeras inclusões finas de allani-
isotópica, litogeoquímica, química mineral e estudo de in- ta; (ii) quartzo instersticial ou formando arranjo grano-
clusões fluidas. blástico (orientação moderada) e com extinção ondulató-
Dentre as amostras coletadas, 153 foram selecionadas ria. Observa-se também quartzo formando vênulas mili-
para estudos petrográficos, permitindo o reconhecimento métricas, associado ao carbonato (Figura 5e); (iii) restos
das seguintes rochas na área do Alvo GT46: de plagioclásio, quase totalmente sericitizado e carbona-
tizado; (iv) carbonato em vênulas ou intersticial; (v) cris-
Rochas Anfibolíticas tais euédricos de granulação fina a média de turmalina
De um modo geral, essas são as rochas que predomi- verde a verde azulada (chorlita). Em alguns furos de son-
nam na área, podendo-se distinguir alguns tipos distintos dagem foram observados porfiroblastos anomalamente
de anfibolitos: Tipo 1: anfibolitos anisotrópicos, modera- desenvolvidos de turmalina, alguns medindo cerca de 3
damente a fortemente foliados, pobres em micas; Tipo 2: centímetros (figuras 5f e 6a); (vi) finos grãos subédricos
anfibolitos anisotrópicos, fortemente foliados e ricos em de allanita e apatita (Figura 6b).
micas (geralmente mineralizados); Tipo 3: anfibolitos Essas rochas são fortemente magnéticas, devido à
anisotrópicos, fortemente foliados, micáceos, ricos em presença marcante de magnetita inequigranular (fina a
granada (em geral, mineralizados); e Tipo 4: anfibolitos média), anédrica, fomando em geral massas intersticiais,
fracamente foliados a isotrópicos, com texturas ígneas que envolvem os silicatos. Além de magnetita, observa-
(primárias) preservadas, ocorrendo sob a forma de pods se também nessas rochas a presença de ilmenita e sulfetos,
em meio aos anfibolitos foliados. com destaque para calcopirita, bornita, covelita e calcocita.
Os anfibolitos do tipo 1 (figuras 5a e 6b), que são os As feições mineralógicas e texturais da rocha são suges-
predominantes na área, exibem coloração verde escura, tivas de que seja produto da interação da rocha gabróica
granulação fina a média e são fortemente anisotrópicos. com fluidos hidrotermais ricos em H2O, potássio, boro,
Essas rochas são constituídas, do ponto de vista minera- sílica, terras-raras, zircônio, metais (Fe, Cu, Mo, Sb, Au,
lógico, por (i) anfibólio do tipo hornblenda, em grãos su- dentre outros) e com baixo conteúdo de CO2.
bédricos orientados (textura granonematoblástica) repre- A presença de anfibólio do tipo cummingtonita apon-
ta para metamorfismo de grau médio (fácies anfibolito)

104
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

Figura 5 – (a) Anfibolito de cor verde escura, granulação média, foliado, com venulações de quartzo. (b) Fotomicrografia
(LP, 25×) de anfibolito tipo 1, com anfibólio orientado e plagioclásio levemente saussurizado. (c) Anfibolito hidrotermalizado,
rico em biotita. Presença comum de magnetita e de venulações de sulfetos de cobre, com destaque para calcopirita. (d)
Fotomicrografia (LP, 25×) de anfibolito do tipo 2, com a presença marcante de biotita verde na rocha e venulação incipente
de magnetita e sulfetos. (e) Anfibolito fortemente hidrotermalizado, rico em biotita e venulações de quartzo. Presença de
sulfetos de cobre (predomínio de calcopirita) e magnetita. (f) Porfiroblastos centimétricos de turmalina em anfibolito forte-
mente hidrotermalizado.

105
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

Figura 6 – (a) Presença de porfiroblastos centimétricos de turmalina em anfibolito hidrotermalizado, rico em anfibólio
fibroso e biotita verde (LP, 25×). (b) Fotomicrografia (LP, 50×) de anfibolito fortemente hidrotermalizado, com cristais de
allanita imersos em massa de anfibólio fibroso. (c) Anfibolito rico em biotita no qual se destacam porfiroblastos de granada,
medindo até 1,5 cm de diâmetro. Observa-se comumente nessas rochas a presença de venulações de quartzo. (d) Rocha
anfibolítica granadífera. Observar a morfologia em snowball dos porfiroblastos de granada. (e) Detalhe de pod de rocha
anfibolítica não deformada, com textura reliquiar, encontrada em meio aos anfibolitos deformados. (f) Fotomicrografia (N×,
25×) de rocha gabro-diorítica, não foliada, com textura subofítica reliquiar.

106
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

em que o anfibólio cummingtonítico pode ser o resulta- e albita/carslbad, associadas a anfibólio. Em apenas uma
do da quebra do componente tschermakítico da amostra foram encontrados restos de clinopiroxênio; (ii)
hornblenda. rochas de natureza vulcânica, por vezes porfiríticas, de
Os anfibolitos do tipo 3 (figuras 6c e 6d) são muito composição basáltica a basáltico-andesítica (figuras 7a,
similares, tanto textural quanto mineralogicamente, aos 7b e 7c), de granulação fina, com textura subofítica cons-
anfibolitos do tipo 2, com destaque para a presença de tituída por ripas de plagioclásio (fortemente saussuritizado)
cristais porfiroblásticos de granada de até 1,5 cm de diâ- e anfibólio fibroso.
metro, perfazendo de 5 até 50% do volume da rocha. As relações de contato desses anfibolitos com os de-
Tais porfiroblastos possuem formato subédrico a anédri- mais anfibolitos descritos na área, em especial com os
co, com aspecto poiquiloblástico devido à presença de anfibolitos do tipo 1, são transicionais (Figura 7d), obser-
inúmeras inclusões de quartzo, biotita e magnetita. Em vando-se aumento progressivo da deformação, transfor-
geral os porfiroblastos de granada mostram-se levemen- mando a rocha gabróica original em anfibolito foliado. Esse
te cloritizados nas fraturas e nas bordas. Os cristais de fato, aliado às suas características microscópicas (textu-
granada aparecem achatados, orientados ao longo do pla- ra e composição mineralógica), não deixa dúvidas de que
no de foliação da rocha e também sob a forma de cristais seja essa rocha o protólito da maioria dos anfibolitos pre-
subédricos, com tendência ao arredondamenteo, desen- sentes na área. Por terem sido menos deformadas, essas
volvendo feições do tipo snowball que revelam cresci- rochas foram igualmente menos intensamente afetadas
mento sintectônico. pelas transformações hidrotermais, permitindo, assim, que
Na descrição dos testemunhos de sondagem observa- seja reconhecida sua natureza original.
se que o desenvolvimento de granada se dá quando o
anfibolito está nas proximidades de apófises graníticas, Rochas Graníticas
sugerindo que o crescimento desse mineral tenha resulta-
do do aumento localizado de temperatura provocado pela Apófises de rochas graníticas intrudem os anfibolitos
colocação dos granitóides. Além do desenvolvimento de e demais rochas do Alvo GT46 (Figura 7e), provocando
granada, nas zonas proximais dos granitos observa-se tam- efeitos metamórficos termais e metassomáticos nessas
bém: o desenvolvimento mais intenso de biotita, a partir rochas. Nos testemunhos de sondagem foram observa-
de hornblenda, revelando o aporte de fluidos potássicos dos três tipos petrograficamente distintos de granitos:
(metassomatismo); a maior presença de carbonato (de- Granitos isotrópicos a levemente anisotrópicos, de co-
senvolvido a partir de plagioclásio), apontando para mai- loração rósea a avermelhada, de composição álcali-
or aporte de CO2; e a presença mais marcante de allanita, feldspato granítica e granítica, granulação grossa a
revelando maior participação de elementos ETR nos flui- porfirítica, com textura milonítica incipiente (figuras 7f e
dos. 8a). O principal constituinte mineralógico dessas rochas é
A paragênese granada-anfibólio revela metamorfismo felspato alcalino do tipo microclínio pertítico (45 a 55%),
de fácies anfibolito e as texturas observadas são indicativas geminado, por vezes porfiroclástico, com extinção
de que essa rocha resulta da transformação dos anfibolitos ondulatória, bordas microgranuladas (textura mortar) e le-
do tipo 1, sob a ação de evento metamórfico. ves manchas de alteração para sericita. Plagioclásio (5 a
Os anfibolitos do tipo 4 são mais raros, ocorrendo ape- 25%) em grãos subédricos a anédricos, com maclas difusas
nas em alguns trechos dos testemunhos de sondagem sob de geminação albita e manchas de alteração para sericita.
a forma de pods centimétricos a métricos. Essas rochas Quartzo (25 a 35%) ocorre em grãos finos a médios, com
distingem-se pela preservação da sua textura ígnea origi- extinção ondulatória, formando arranjos em mosaico.
nal, muito embora tenham sido também submetidas à ação Granitóides de coloração cinza-esbranquiçada a leve-
pervasiva de fluidos hidrotermais. mente rosada, granulação média a grossa, por vezes porfi-
Dois diferentes tipos composicionais de pods foram ríticos, ricos em plagioclásio, de composição quartzo-mon-
observados nos testemunhos de sondagem: (i) rochas de zonítica, com anisotropismo muito fraco (Figura 8b). Ao
natureza plutônica e subvulcânica, de composição origi- microscópio observa-se textura porfiroclástica, constituída
nalmente gabróica a gabro-diorítica (figuras 6e e 6f). As de plagioclásio do tipo oligoclásio (40 a 50% do volume
rochas subvulcânicas são em geral porfiríticas, com da rocha), levemente saussuritizado, com textura mortar
fenocristais centimétricos de plagioclásio andesínico (par- e extinção ondulatória leve a moderada. Ainda se obser-
cialmente saussuritizados), geminados, imersos em ma- vam maclas de geminação albita no plagioclásio. O felds-
triz de granulação fina a média, com textura subofítica, pato alcalino (40 a 45%) é do tipo microclínio pertítico,
constituída de andesina e anfibólio. As rochas plutônicas em grãos anédricos geminados, levemente sericitizados,
exibem textura subofítica de granulação média, com ri- com extinção ondulatória leve e bordas por vezes mi-
pas de plagioclásio andesínico, geminado segundo albita crogranuladas. Quartzo (15 a 20%) ocorre em grãos

107
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

Figura 7 – (a) Aspecto macroscópico de pod de rocha basáltico-andesítica não deformada. (b) Fotomicrografia da rocha
basáltico-andesítica não deformada (N×, 50×), com textura intergranular preservada, embora os minerais estejam afetados
pela alteração hidrotermal. (c) Fotomicrografia (N×, 50×) de rocha basáltico-andesítica porfirítica, não deformada,
hidrotermalizada. Destaque para um fenocristal de Cpx substituído por anfibólio, numa massa de fundo com textura intersetal.
(d) Zona de transição entre anfibolito foliado e não foliado. (e) Apófises de granitóide róseo, de composição quartzo-
sienítica, cortando a rocha anfibolítica. Observar a invasão de material granítico nos planos de foliação do anfibolito. (f)
Granito róseo, quartzo-sienítico, granulação média a grossa, levemente foliado.

108
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

médios com tendência ao estiramento e, em geral, com imersas em meio a cristais de clinopiroxênio, parcial a
extinção ondulatória. Observa-se a presença de biotita totalmente uralitizados e cloritizados. Observa-se a pre-
marrom (cerca de 5%) e traços de zirconita e turmalina sença de cristais esqueletais de ilmenita, parcialmente
verde escura. Finos veios de quartzo cortam a rocha. leucoxenizados. Trata-se de rocha intrusiva rasa, de com-
Granitóide branco-acinzentado, de composição quart- posição gabróica (diabásio porfirítico).
zo-monzonítica, localmente enriquecido em turmalina preta, Os corpos intrusivos mais espessos desenvolvem bor-
acompanhado de intensa geração de veios de quartzo, das de resfriamento centimétricas, no contato com as ro-
encontrando-se turmalina tanto no granito quanto nos veios chas encaixantes. Parte dessas rochas, apesar de tardias e
(Figura 8c). Trata-se da mesma rocha anteriormente des- não deformadas, foram submetidas a eventos de transfor-
crita só que com percentual muito elevado de turmalina e mação hidrotermal, com anfibolitização e cloritização par-
de veios de quartzo, denotando intensa participação de cial de piroxênio e leve saussuritização de plagioclásio.
fluidos hidrotermais, ricos em voláteis.
Todos os granitos acima relacionados foram afetados Formações Ferríferas
por deformação rúptil-dúctil leve a moderada e exibem As formações ferríferas ocorrem intercaladas no
alteração hidrotermal dominantemente fissural, embora pacote anfibolítico. Essas rochas possuem bandamento
pervasiva. Além dos granitóides, são também observadas centimétrico (2 a 5 cm de espessura) muito expressivo,
intrusões pegmatíticas nos testemunhos de sondagem, com cosntituído pela presença de bandas claras ricas em
composição muito similar à do granitóide róseo (Figura quartzo, alternadas com bandas escuras ricas em
8d). magnetita (Figura 9c). O bandamento é regular e podem
ser observadas feições deformacionais na rocha
Rochas Gnáissicas a Sillimanita e Granada (granito (dobramentos), por meio da geometria do bandamento.
deformado e hidrotermalizado) Nas proximidades das intrusões graníticas as formações
ferríferas desenvolvem mineralogia metamórfica de
Essas rochas não exibem relações claras de contato
contato, com o aparecimento de anfibólio grunerítico,
com os demais granitóides do Alvo GT46, nem com os
claramente desenvolvido às expensas da reação da
anfibolitos. Trata-se de rocha com foliação muito bem
magnetita com o quartzo.
desenvolvida e bandamento gnáissico, constituída por ar-
ranjo granoblástico de microclínio e quartzo, ambos bem Discussão
orientados e com extinção ondulatória. Nessa massa
quartzo-feldspática encontram-se cristais finos, alonga- Com base nas observações de campo e estudos
dos, fortemente orientados de sillimanita, por vezes for- petrográficos das rochas do Alvo GT46/Cinzento, as se-
mando bandas e porfirobastos orientados de granada guintes conclusões podem ser alcançadas:
poiquiloblástica (Figura 8e). As características texturais • A deformação no âmbito do Alvo GT46 é hetero-
e mineralógicas dessas rochas são sugestivas de que o gênea, com rochas altamente cisalhadas e
protólito tenha sido o granitóide quartzo-monzonítico aci- milonitizadas envolvendo pods com texturas pri-
ma descrito, submetido a deformação e metamorfismo márias ainda preservadas.
de grau médio a alto. • O estudo dos pods revela protólitos ígneos
plutônicos (gabróicos/dioríticos) e vulcânicos
Soleiras e Diques Doleríticos (basaltos e basaltos andesíticos). Além destas ro-
chas ígneas, ocorrem sedimentos vulcanoquímicos
Estas rochas intrudem os anfibolitos e se destacam do tipo BIF.
pela coloração escura, pela textura afanítica, porfirítica e • Processos de deformação, metamorfismo e alte-
glomeroporfirítica (figuras 8f e 9a), pela ausência total de ração hidrotermal afetaram, de forma pervasiva,
deformação e por cortarem a foliação dos anfibolitos, todas as rochas. Todas foram transformadas, com
evidenciando seu caráter tardio na história tectono-de- o desenvolvimento de minerais da fácies anfibolito
formacional da área. e posterior re-equilíbrio, incipiente e localizado, para
Os fenocristais e aglomerados de fenocristais são de a fácies xisto verde. Os processos hidrotermais
plagioclásio, de formato ripiforme, centimétricos, imersos atuaram com maior intensidade nas rochas mais
em matriz afanítica de coloração verde escura (Figura deformadas.
9b). Ao microscópio observa-se a presença de fenocris- • Presença de atividade granítica intrusiva nas ro-
tais, em geral zonados de Ca-plagioclásio do tipo labrado- chas supracitadas, com apófises invadindo os pla-
rita, geminados albita/carlsbad, límpidos a levemente su- nos de xistosidade e veios de pegmatitos diversos.
assuritizados. A massa de fundo tem composição basálti- • A atividade granítica tem composição variando
ca, com textura intergranular. Finas ripas de plagioclásio desde monzogranítica até quartzo sienítica.

109
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

Figura 8 – (a) Fácies porfirítica de granito róseo. (b) Granito cinzento, isotrópico a levemente foliado, invadindo anfibolito.
(c) Granitóide cinzento, rico em turmalina preta (schorlita). (d) Detalhe de pegmatito de granitóde róseo invadindo a rocha
anfibolítica foliada. Observar o desenvolvimento de molibdenita na zona de contato. (e) Fotomicrografia (LP, 50×) de
granitóide cinzento, milonitizado, fortemente foliado, com desenvolvimento de sillimanita e granada. (f) Aspecto macroscópico
de dique de diabásio porfirítico a plagioclásio.

110
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

(a) (b)

(c)

Figura 9 – (a) Aspecto macroscópico das bordas de dique de


diabásio porfirítico a plagioclásio. A textura afanítica,
homogênea, revela tratar-se de margem resfriada. (b)
Fotomicrografia (N × , 100 × ) de diabásio porfirítico.
Fenocristais de plagioclásio em massa basáltica de fundo.
(c) Formação ferrífera bandada (BIF), fácies óxido, dobrada.

• Desenvolvimento de auréolas de metamorfismo de • Nos anfibolitos mais intensamente mineralizados


contato, ricas em granada, nas rochas anfibolíticas observa-se a transformação parcial ou total de
próximas aos granitos. anfibólio (do tipo hornblenda) em Fe-anfibólio do
• Os cristais de granada são em geral porfirobásticos, tipo cummingtonita.
com formato tabular ou com estrutura rotacional • Fluidos hidrotermais tardios promoveram localmen-
(snowball) apontando para geração controlada pelo te o re-equilíbrio das paragêneses metamórficas da
calor e pelo movimento da colocação do granito. fácies anfibolito para a fácies xisto verde, com as
• A presença, nessas auréolas termais, de veios de seguintes reações:
quartzo ricos em granada (com ou sem turmalina (a) transformação de anfibólio do tipo hornblenda
associada), aponta para a participação de fases flui- em actinolita ou em clorita;
das no processo de crescimento de granada. (b) cloritização incipiente de granada e biotita;
• Registro de granitóide rico em granada e sillimanita, (c) saussuritização de plagioclásio;
resultante da deformação e metamorfismo das ro- (d) silicificação, sericitização, carbonatização e ge-
chas graníticas. O granitóide encontra-se no eixo ração de albita nos granitos.
de zona de cisalhamento. • Presença de rocha não deformada, de composição
• As rochas anfibolíticas resultaram de evento gabróica, formando soleiras e diques de colocação
metamórfico com temperaturas da fácies anfibolito, tardia, com margens resfriadas e núcleos
o qual transformou protólitos ígneos de natureza porfiríticos em matriz afanítica a fanerítica muito
plutônica (gabros/dioritos), vulcânica (basaltos, fina. Soleiras e diques orientam-se aproximadamen-
basaltos andesíticos) e vulcano-exalativas (BIF). te na direção NS.
• Nas formações ferríferas o efeito desse evento é
marcado pelo desenvolvimento de grunerita como
resultado da reação quartzo + magnetita.

111
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

Litogeoquímica • A composição mineralógica normativa (CIPW)


revela supersaturação em sílica, com quartzo e
Tomando como base os estudos petrográficos realiza-
hiperstênio normativos, e ausência de olivina
dos nas amostras representativas das diferentes rochas
normativa (Figura 10c).
do Alvo GT46 (vide seção sobre a Petrografia das ro-
• O magma-fonte tem afinidade toleítica, conforme
chas e do minério), foram selecionadas 63 amostras para
pode ser observado tanto no diagrama AFM (Figu-
estudos litogeoquímicos.
ra 10d) quanto no diagrama catiônico de Jensen
As amostras foram enviadas para o Laboratório ACME,
(Figura 10e).
em Goiânia, onde foram submetidas a britagem e moagem
• No que diz respeito aos elementos traço de com-
abaixo de 250#. Posteriormente, sofreram digestão multi-
portamento compatível, observa-se crescimento
ácida como parte dos procedimentos analíticos.
contínuo dos valores de Ni e Cr, paralelamente a
Os óxidos dos elementos maiores (SiO2, TiO2, Al2O3,
MgO, evidenciando o fracionamento ocorrido na
Fe2O3, FeO, Cr2O3, MnO, MgO, CaO, Na2O, K2O, P2O5)
evolução do magma (figuras 11a e 11b).
foram analisados por ICP-ES, enquanto os elementos- Quanto aos elementos terras raras, observa-se padrão
traço (K, Ba, Rb, Sr, Cs, Li, Ga, Ta, Nb, Hf, Zr, Ti, Y, Th, plano no diagrama rocha/condrito (Figura 12a), com enri-
U, Cr, Ni, Co, Sc, V, Cu, Pb, Zn, Bi, Cd, In, Sn, W, Mo, F, quecimento da ordem de 10× condrito. As razões (La/
Cl, Br, I, B, Be, Ru, Rh, Pd, Ag, Re, Os, Ir, Pt, Au, Hg, S, Sm)cn e (Gd/Yb)cn situam-se em torno de 1. Situação
As, Se, Sb, Te, La, Ce, Pr, Nd, Sm, Eu, Gd, Tb, Dy, Ho, similar é observada no diagrama rocha/manto primitivo
Er, Tm, Yb, Lu) foram analisados por ICP-MS. Os dados (Figura 12b), no qual as rochas configuram padrão igual-
foram organizados e tratados em planilhas Excel e no mente plano, com enriquecimento levemente inferior a
software MINPET, versão 2.02. 10× manto primitivo.
Considerando que essas rochas são as menos defor-
Rochas Anfibolíticas com Textura Reliquiar madas e menos modificadas pelos processos secundários
que afetaram a área, seu quimismo poderia eventualmen-
Como descrito na seção de Petrografia, em meio aos te revelar seu ambiente geodinâmico de formação. Des-
anfibolitos foliados e hidrotermalizados do Alvo GT46, sa forma, foram construídos alguns diagramas, utilizan-
ocorrem pods de rochas menos deformadas nas quais do-se preferencialmente elementos de baixa mobilidade
ainda é possível observar a presença de texturas pri- geoquímica, na tentativa de estabelecer discussão sobre
márias reliquiares (ofítica/subofítica). Essas rochas esse tema.
gradam, por deformação, para as rochas anfibolíticas co- Nos diagramas das figuras 12c e (d) (Nb/Yb versus
muns da área e, em consequência disso, são aqui inter- Th/Yb) e 13a (Ta/Yb versus Th/Yb) observa-se que as
pretadas como protólitos dos anfibolitos. rochas gabróicas com textura reliquiar do Alvo GT46
Muito embora tenham sido localmente preservadas da plotam no campo referente a rochas geradas em ambien-
deformação, estas rochas mostram-se, tanto na observa- tes de subducção, mais especificamente em arcos de
ção macroscópica quanto microscópica, afetadas pelos ilha, muito embora nas proximidades do campo de plote
processos metamórfico-metassomáticos que atingiram a de rochas geradas em margens continentais ativas. No
área como um todo. Indiscutivelmente, a foliação incipiente diagrama da Figura 13b (Ti/1000 versus V) e no dia-
tornou-as menos vulneráveis às transformações decor- grama TiO2 × MnO*10 × P2O5*10 (Figura 13c) obser-
rentes da interação com os fluidos metamórfico- va-se, mais uma vez, que as rochas plotam no campo
hidrotermais em comparação com os demais anfibolitos. destinado a rochas geradas em ambientes de
Dessa forma, admite-se que a composição química des- subducção, muito embora nesses diagramas o campo
sas rochas, com texturas originais preservadas, seja a mais de plote mostre superposição com ambientes do tipo
próxima possível da composição química original. extensionais (bacias oceânicas). Entretanto, no diagra-
Na população de amostras enviadas para análise quí- ma da Figura 13d (Zr versus Zr/Y) as rochas com tex-
mica de rocha total, foram selecionadas 10 amostras des- tura reliquiar plotam exclusivamente no campo das ro-
sas rochas. O tratamento litogeoquímico dos dados reve- chas de arcos magmáticos.
la as seguintes características: Quando observamos o comportamento dos elementos
• São rochas de natureza subalcalina, de composi- traço, vemos, mais uma vez, que as características de
ção equivalente à basáltica, muito embora do pon- rochas de ambiente de subducção estão presentes. No
to de vista textural elas sejam plutônicas e spider-diagrama rocha/MORB (Figura 13e) observa-se
subvulcânicas (gabróicas a gabro-dioríticas e forte enriquecimento dos elementos incompatíveis mais
basáltico-andesíticas – figuras 10a e 10b). móveis, característica comum a rochas de ambientes de

112
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

(a) (b)

(c) (d)

(e) Figura 10 – (a) Rochas anfibolíticas com textura reliquiar


no diagrama TAS. Linha divisória entre os campos alcalino e
subalcalino de acordo com Kuno (1968). (b) Rochas
anfibolíticas com textura reliquiar, no diagrama
classificatório Nb/Y versus Zr/(TiO 2*10-4). (c) Diagrama
baseado nos percentuais normativos de Q, Ol e Hy (Thompson
1984), mostrando a supersaturação em sílica (Q + Hy
normativos) das rochas gabróicas do Alvo GT46. (d) Rochas
anfibolíticas com textura reliquiar no diagrama AFM. Cam-
pos de acordo com Kuno (1968). (e) Campo de concentração
das rochas gabróicas do Alvo GT46 no diagrama catiônico
de Jensen (1976).

113
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

Figura 11 – (a) Diagrama MgO × Ni. (b) Diagrama MgO × Cr das rochas anfibolíticas com textura reliquiar.

subducção. No spider-diagrama rocha/manto primitivo de apatita, turmalina e allanita; (g) presença marcante de
(Figura 13f) observa-se as anomalias negativas de Nb e sulfetos de cobre, com predomínio de calcopirita, com
de Zr, típicas de rochas geradas em ambientes de bornita secundária e traços de covelita, calcocita e mais
subducção. raramente molibdenita. Magnetita é mineral comumente
presente na paragênese sulfetada.
Rochas Anfibolíticas sem Textura Reliquiar Comparado ao das rochas anfibolíticas com texturas
reliquiares, anteriormente descritas, o quimismo dessas
Os anfibolitos mais comuns na área do Alvo GT46 são rochas revela as transformações decorrentes da sua maior
rochas de textura granonematoblástica, constituídas de interação com os fluidos hidrotermais. Tais transforma-
anfibólios prismáticos do tipo hornblenda e plagioclásio, ções, confirmadas tanto pela química de rocha total quan-
com quantidades variáveis de biotita. Nessas rochas ob- to pela química mineral, já tinham sido previstas desde a
serva-se a presença de ilmenita como mineral acessório descrição petrográfica das rochas, com destaque para:
e substituições retrometamórficas de anfibólio e biotita (i) aporte de potássio (metassomatismo potássico) evi-
para clorita e de plagioclásio para saussurita. Os sulfetos denciado petrograficamente pelo desenvolvimento de bi-
de cobre (calcopirita e bornita) nesses anfibolitos ocor- otita, sericita e pela substituição parcial a total de plagi-
rem em quantidades subordinadas (traços) e, localmente, oclásio cálcico por feldspato alcalino; (ii) lixiviação de
com concentrações da ordem de até 5%, principalmente cálcio e aporte de sódio com a albitização de plagioclá-
em fraturas. sio; (iii) aporte de elementos terras raras leves, denun-
Os processos metamórfico-metassomáticos e ciado pelo desenvolvimento de allanita em hidrotermali-
deformacionais transformaram, em diferentes graus de tos; (iv) aporte de boro, denunciado pelo desenvolvimento
intensidade, esses anfibolitos comuns em rochas com di- de turmalina; e (v) aporte de ferro, evidenciado pelo de-
ferentes aspectos texturais e mineralógicos. Ocorrem senvolvimento de ferro anfibólio (anfibólio cumingtoníti-
desde rochas em que ainda se reconhece o protólito até co) na zona mais fortemente hidrotermalizada (e minera-
rochas totalmente transformadas, as quais têm sido con- lizada).
vencionalmente denominadas de hidrotermalitos na área O trend de metassomatismo férrico e potássico, acom-
de trabalho. panhado de lixiviação de cálcio, pode ser visto nos dia-
Dentre as principais transformações hidrotermais ob- gramas das figuras 14a a 14e nos quais se observa que os
servadas destacam-se: (a) substituição de hornblenda por anfibolitos com texturas reliquiares são os mais pobres
anfibólio fibroso e acicular (anfibólio actinolítico); (b) subs- em potássio e os mais ricos em cálcio. À medida que
tituição de hornblenda por clorita e/ou carbonato; (c) subs- esses anfibolitos vão se transformando naqueles denomi-
tituição de hornblenda por epidoto; (d) desenvolvimento nados de hidrotermalitos, observa-se aumento dos teores
de ferro-anfibólio fibroso cummingtonítico; (e) desenvol- de potássio e de ferro, acompanhado de descréscimo sig-
vimento de porfiroblastos de granada; (f) aparecimento nificativo nos valores de cálcio.

114
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 12 – (a) Diagrama rocha/condrito e (b) diagrama rocha/manto primitivo das rochas anfibolíticas com textura reliquiar.
(c) Diagrama Nb/Yb versus Th/Yb, modificado de Pearce e Peate (1995), mostrando o campo de plote de rochas de ambiente
de arco e as de outros ambientes; (d) comportamento dos anfibolitos com textura reliquiar do Alvo GT46 no diagrama da
figura (c). Legenda: BON (boninitos), LOTI (toleítos de arcos de ilha pobres em Ti), IAT (toleítos de arco de ilha), CAB
(basaltos cálcio-alcalinos), BABB (basaltos de bacias de back-arc), E/N-MORB (basaltos MORB dos tipos E e N), NEB
(basaltos de ilhas oceânicas ricos em Nb), DM (manto depletado).

Sódio, por sua vez, apresenta comportamento diferen- leves, decorrente do processo metamórfico-
ciado, com teores elevados nos anfibolitos ricos em metassomático que se reflete na mineralogia da rocha
allanita, revelando o metassomatismo sódico sofrido por pelo desenvolvimento de allanita. As rochas mais forte-
essas rochas. À medida que se aproxima a zona mente hidrotermalizadas exibem constante anomalia ne-
mineralizada, observa-se diminuição drástica dos teores gativa de Eu, revelando o papel lixiviador de cálcio exer-
de Na e aumento significativo de potássio e ferro. cido pelo fluido.
Os resultados litogeoquímicos de elementos-traço das A exemplo das rochas menos deformadas e menos
rochas mostram que as amostras menos intensamente hidrotermalizadas, os hidrotermalitos, quando normalizados
hidrotermalizadas exibem comportamento muito similar em relação ao manto primitivo ou a MORB, em diagrama
ao observado em anfibolitos com texturas reliquiares pre- do tipo spider (figuras 15b e 15c), exibem características
servadas. Entretanto, nos chamados hidrotermalitos, típicas de rochas geradas em ambientes de subducção
especialmente naqueles em que se observa a presença tais como forte anomalia negativa de Nb e anomalias ne-
marcante de allanita hidrotermal, o padrão de terras ra- gativas mais discretas dos demais elementos de alto campo
ras muda significativamente. No diagrama rocha/condrito de força (HSFE).
dessas rochas (Figura 15a) observa-se forte enriqueci-
mento em terras raras leves com razões (La/Sm)cn mui- Rochas Graníticas
to superiores a 1, muito embora o espectro de terras ra- Como descrito na seção sobre Petrografia, foram ob-
ras pesadas mantenha-se similar ao das rochas menos servados diferentes tipos composicionais de granitos na
hidrotermalizadas (razões (Ga/Yb)cn em torno de 1). Tal área do Alvo GT46: os granitos róseos de composição
comportamento revela aporte de elementos terras raras álcali feldspato granítica e granítica, os granitóides cin-

115
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

(a) (c)

(b) (d)

(e) (f)

Figura 13 – (a) Diagrama Ta/Yb versus Th/Yb, modificado de Pearce (1982), mostrando a natureza toleítica de arco insular
das rochas gabróicas do Alvo GT46. Simbologia: campo redondo (arco insular), seta (margem continental ativa). Legenda:
Th (toleítos), CA (cálcio-alcalinas), MORB (basaltos de cadeia meso-oceânica), WPB (basaltos intra-placa). (b) Diagrama
Ti/1000 versus V (Shervais, 1982) das rochas anfibolíticas com textura reliquiar, mostrando a natureza transicional Arco-
MORB. (c) Rochas anfibolíticas com textura reliquiar no diagrama TiO2 – MnO*10 – P2O5*10 (Mullen, 1983). (d) Diagrama
binário Zr versus Zr/Y das rochas anfibolíticas com textura reliquiar. (e) Spider-diagrama rocha-MORB mostrando o enrique-
cimento das rochas gabróicas do Alvo GT46 em elementos mais móveis. (f) Diagrama rocha/manto primitivo das rochas
anfibolíticas com textura reliquiar mostrando as anomalias negativas de Nb e Zr.

116
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

( ) ( )

( ) ( )

Legenda:
( )
• Anfibolitos com textura reliquiar (quadrados);
• Anfibolitos comuns (diamantes);
• Anfibolitos com allanita e turmalina (triângulos);
• Anfibolitos granadíferos fortemente mineralizados (semi-
círculos).
As setas indicam o trend de alteração.

Figura 14 – (a) Diagrama Zr/Ti versus K2O. (b) Diagrama Zr/Ti versus Na2O. (c) Diagrama Zr/Ti versus CaO. (d) diagrama
CaO versus K2O/(K2O+Na2O). (e) Diagrama FeOT versus K2O.

117
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

zentos de composição quartzo-monzonítica a granítica, os Plotadas no diagrama SiO2 versus (Na2O + K2O), as
granitóides cinzentos ricos em turmalina e os granitóides análises químicas de rocha total revelaram natureza sub-
cinzentos milonitizados, com crescimento de sillimanita e alcalina para os granitos (Figura 16a). No diagrama de
granada. Peacock (1931), observa-se que essas rochas se classifi-
O objetivo do estudo litogeoquímico dessas rochas foi cam como cálcicas (Figura 16b) e, no diagrama AFM
verificar a tipologia, as relações de cogeneticidade entre (Irvine e Baragar 1971), essas rochas descrevem a parte
os diferentes tipos composicionais, a assinatura geoquímica evoluída de um trend cálcio-alcalino (Figura 16c). A re-
e o provável ambiente geotectônico de formação. presentação dos granitos do Alvo GT46 foi muito prejudi-

( ) ( )

( )

Figura 15 – (a) Diagrama rocha/condrito. (b) Diagrama do


tipo “spider” rocha/manto primitivo. Símbolos: anfibolitos
hidrotermalizados, ricos em allanita (triângulo lilás) e
anfibolitos granadíferos (semi-círculos azuis). (c) Diagrama
do tipo “spider” rocha/MORB. Todos relativos a anfibolitos
hidrotermalizados ricos em allanita (triângulos) e anfibolitos
granadíferos (semi-círculos).

cada pela ausência de afloramentos e pela escassez de O spider-diagrama desses granitos, normalizado em
material nos testemunhos de sondagem. Os dados aqui relação a MORB, mostra também características que
discutidos foram obtidos basicamente em amostras de permitem compará-los com granitóides cálcio-alcalinos de
apófises desses granitóides. arcos continentais (figuras 17b). Vale a pena ressaltar a
Nos diagramas de discriminação de ambiente anomalia negativa de Nb exibida por essas rochas, típica
geotectônico de formação (Pearce et al. 1984) os de magmas gerados em ambientes de subducção. Diante
granitóides do Alvo GT46 plotam no campo dos granitóides dessas evidências, tudo parece apontar para ambiente do
sin-colisionais de arcos vulcânicos (figura 16d). tipo arco para a geração dos granitóides do Alvo GT46.
A assinatura de arco se repete no diagrama ternário No que diz respeito aos granitóides deformados, mo-
Hf-(Rb/10)-(Ta*3) (Figura 17a, Harris et al. 1986), no deradamente a fortemente milonitizados, com o desen-
qual as rochas graníticas do Alvo GT46 caem no campo volvimento de granada e sillimanita, presentes no Alvo
dos granitóides de arcos vulcânicos. GT46, a questão que se coloca é quanto à relação de

118
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

( )
( )

( )

( ) ( )

Figura 16 – Diagrama das rochas graníticas do Alvo GT46. (a) TAS (Total de álcalis versus SiO2). (b) Peacock (1931). (c)
AFM. (d) Pearce et al. (1984), Rb versus (Y+Nb). (e) Pearce et al. (1984), Nb versus Y. Símbolos: Granitos róseos (em preto),
granitóides cinzentos (em cinza).

119
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

Figura 17 – (a) Rochas graníticas do Alvo GT46 no diagrama Hf-(Rb/10)-(Ta*3), proposto por Harris et al. (1986). (b)
Comparação do padrão desenvolvido pelas rochas graníticas do Alvo GT46 em diagrama do tipo spider normalizado em
relação ao MORB (em azul), com o padrão desenvolvido no mesmo diagrama por granitóides e rochas vulcânicas cálcio-
alcalinas de diferentes segmentos da Cadeia Andina (Winter, 2001). Siglas: NVZ (Northern Volcanic Zone), CVZ (Central
Volcanic Zone), SVZ (Southern Volcanic Zone). (c) Diagrama rocha/condrito comparativo do padrão de ETR dos granitos
róseos (círculos) e dos granitóides granadíferos (losangos). (d) Diagrama do tipo “spider”, normalizado em relação a MORB,
incluindo os granitóides granadíferos (losangos) e os demais granitóides do Alvo GT46. Observar que todos descrevem o
mesmo padrão.

co-geneticidade dessas rochas com os demais grani- Diques Máficos


tóides da área.
Com o objetivo de responder essa questão, foram cons- Como descrito na seção de Petrografia, vários diques
truídos alguns diagramas litogeoquímicos (figuras 17c e máficos, isotrópicos (não afetados pela deformação) fo-
17d), cujos padrões revelam forte similaridade entre es- ram observados, cortando as diferentes rochas do Alvo
sas rochas e os demais granitóides, permitindo que se con- GT46. Essas rochas exibem, comumente, textura
clua que os granitóides granadíferos com sillimanita pos- porfirítica e mais raramente glomeroporfirítica, com cris-
sam ser decorrentes de transformações metamórfico-de- tais de Ca-plagioclásio, imersos em massa afanítica de
formacionais dos granitóides cinzentos e róseos. fundo, de composição basáltica. Observou-se ao micros-
cópio que a massa de fundo encontra-se hidrotermalmente

120
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 18 – (a) Diques máficos do Alvo GT46 no diagrama


TAS (Total de álcalis versus sílica) com a curva proposta por
Irvine e Baragar (1971). (b) Diques máficos do Alvo GT46
no diagrama Nb/Y versus Zr/(TiO 2*0.001). (c) Amostras
de diques máficos do Alvo GT46 no diagrama AFM (Kuno
1968).

transformada, com geração de clorita e epidoto a partir • padrão no diagrama do tipo spider, normalizado em
de piroxênio e saussuritização leve dos fenocristais de relação a MORB (figura 20), igualmente similar
plagioclásio. aos padrões obtidos em outros basaltos de ambien-
Devido à presença constante de fenocristais, optou- te intraplaca continental;
se pelas amostras de natureza mais afanítica, pobres em • plote no campo WPB (within plate basalts) no
fenocristais, e pelas amostras das bordas resfriadas dos diagrama binário Zr versus Zr/Ti e nos diagramas
diques, para fins de estudos litogeoquímicos. As análises ternários Zr/4 × (2Nb) × Y e Zr × (Ti/100) × 3Y, tal
químicas de rocha total revelaram magma-fonte de natu- como exemplificado nas figuras 21a e 21b.
reza sub-alcalina (figuras 18a e 18b) e assinatura toleítica A geração desses diques parece ter sido o último evento
(Figura 18c). magmático da região, posterior à geração e deformação
Do ponto de vista da ambiência geotectônica de forma- da seqüência metavulcano-sedimentar e, também, à ge-
ção, as evidências são favoráveis a magmatismo basáltico ração e colocação dos granitóides. São, portanto, as ro-
de ambiente intra-placa continental, a exemplo de: chas intrusivas mais jovens encontradas na Província
• padrão de ETR, normalizado a condrito, extrema- Carajás, normalmente encaixadas em fraturas de direção
mente similar aos de diques basálticos de ambien- NS. A idade de intrusões similares e provavelmente crono-
tes intraplaca continentais de outras partes do mun- correlatas, foi determinada pelo método Rb-Sr, tendo sido
do (figura 19); obtida a idade de 553±32 Ma (Cordani et al., 1984).

121
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

(a) (c)

(b) (d)

Figura 19 – Padrão rocha/condrito dos diques máficos do Figura 20 – Padrão definido pelos diques máficos do Alvo GT46,
Alvo GT46 (a), comparado ao padrão de rochas similares em no diagrama do tipo spider normalizado em relação a MORB
outras partes do mundo (b). Fonte da figura 63b: Winter (a), comparado ao padrão obtido em rochas similares de ou-
(2001). tras partes do mundo (b). Fonte da figura 64b: Winter (2001).

Figura 21 – (a) Diques máficos do Alvo GT46 no campo dos basaltos de ambientes intraplacas, no diagrama Zr versus Zr/Y
(Pearce e Norry 1979). (b) Diques máficos do Alvo GT46 no campo dos basaltos de ambientes intraplacas, no diagrama
ternário Zr – (Ti/100) – Zr/Y, proposto por Pearce e Cann (1973).

122
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Química Mineral Considerando a classificação de Leake et al. (1997),


os anfibólios das rochas menos hidrotermalizadas perten-
Com base nos estudos petrográficos, foram cem ao grupo dos anfibólios cálcicos, enquanto aqueles
selecionadas amostras para análises de química mine- dos hidrotermalitos pertencem ao grupo Mg-Fe-Mn-Li,
ral, visando o melhor entendimento das transformações como ilustrado a seguir (Figura 22).
metamórfico-hidrotermais e, eventualmente, a defini- Considerando a atual nomenclatura de anfibólios
ção das condições de T e P atuantes durante o (Leake et al. 1997), os anfibólios cálcicos, monoclínicos,
metamorfismo. possuem as seguintes características gerais: (Ca + Na)B
As análises foram realizadas no Laboratório de ≥ 1,0; 1,5 ≥ NaB ≥ 0,50; CaB ≥ 1,50. Nos anfibolitos do
Microssonda Eletrônica da Universidade de São Paulo, Alvo GT46 foram encontrados dois grupos de anfibólios
utilizando equipamento de fabricação JEOL. Durante cálcicos: (a) um grupo em que CaB ≥ 1,50; (Na + K)A <
as análises foi utilizada aceleração de 15 kV, a cor- 0,50; CaA < 0,50 (figuras 23 e 24); (b) outro grupo no
rente foi mantida em 20 nA e o diâmetro do feixe foi qual CaB ≥ 1,50; (Na + K)A ≥ 0,50; Ti < 0,50 (figuras 25
l µm para todos os minerais, com exceção de e 26). Ao primeiro grupo pertencem Fe-tschermakita,
plagioclásio, para o qual utilizou-se feixe com diâme- Fe-hornblenda, Mg-hornblenda, Fe-actinolita e actinolita.
tro de 5 µm e tempo de exposição de 10 s. A calibragem No segundo grupo estão Fe-edenita e Fe-pargasita. Na
foi feita utilizando-se padrões tanto naturais quanto Tabela 1 os anfibólios presentes nas rochas do Alvo GT46
sintéticos. estão agrupados de acordo com essa nova nomenclatu-
Os minerais analisados foram: anfibólio, plagioclásio, ra.
mica (biotita), granada, turmalina, espinélio (magnetita),
allanita e clinopiroxênio.

Química Mineral de Anfibólios

Na Tabela 1 encontram-se os valores da composi-


ção química obtida para os anfibólios presentes nas ro-
chas anfibolíticas do Alvo GT46. A fórmula padrão dos
anfibólios AB2VIC5IVT8O22(OH)2 foi calculada com base
em 23 átomos de O, considerando que os halógenos
não foram quantificados na análise. Quanto ao ferro, o
cálculo da quantidade catiônica de Fe 3+ foi feito ado-
tando-se a média dos cálculos de ferro férrico mínimo Figura 22 – Diagrama (Na + Ca)B vs. Na (B) discriminante
(15eNK) e máximo (13CNK), tal como proposto por dos quatro grandes grupos de anfibólios (Leake 1978).
Schumacher (1991). Anfibólios cálcicos em azul e do tipo Fe-Mg-Mn-Li em
No estudo petrográfico observou-se que nas rochas magenta.
plutônicas e vulcânicas menos hidrotermalizadas e com
texturas reliquiares, os anfibólios são de cor verde a
verde-azulada. Em geral os núcleos são mais verdes a Tabela 1 – Diferentes grupos de anfibólios cálcicos encon-
as bordas com tonalidade verde azulada. Esses trados nas rochas do Alvo GT46.
anfibólios foram descritos petrograficamente como do
tipo hornblenda (os núcleos) e como actinolita/ferro- Anfibólios Cálcicos do Grupo 1
actinolita (as bordas). Fe-Tschermakita Fe-Hornblenda
Nas rochas onde o grau de transformação hidrotermal
Actinolita Mg-Hornblenda
foi mais intenso (hidrotermalitos), os anfibólios são dras-
ticamente distintos, em geral de coloração verde clara a Fe-Actinolita
incolor, por vezes com maclas polissintéticas de geminação, Anfibólios Cálcicos do Grupo 2
ou seja, com feições típicas de Fe-anfibólios do tipo
grunerita-cummingtonita. Fe-Edenita Fe-Pargasita
As análises de química mineral confirmaram e deta-
lharam as observações petrográficas, tendo sido indivi-
dualizados dois grupos distintos de anfibólios, de acordo
com a natureza da rocha portadora.

123
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

Figura 23 – Diagrama classificatório de anfibólios cálcicos com (Ca + Na)B ≥ 1,0; 1,50 > NaB > 0,50; CaB ≥ 1,50 (Leake et
al. 1997).

Figura 24 – Anfibólios dos anfibolitos do Alvo GT46 no diagrama classificatório de Leake et al. (1997). Núcleos em azul e
bordas em magenta.

Figura 25 – Diagrama de Leake et al. (1997) classificatório de anfibólios cálcicos com CaB ≥ 1,5; (Na + K)A ≥ 0,50; Ti <0,50.

Vale à pena observar que a composição dos nú- Petrografia) são distintos em relação aos anfibólios dos
cleos varia entre Mg e Fe-hornblendas e que as bor- anfibolitos comuns da área, mostrando-se em geral in-
das são predominantemente actinolíticas e Fe- colores a verde claros, com maclas de geminação e
actinolíticas. aspecto fibroso. A química mineral revelou que esses
Nas rochas anfibolíticas mais intensamente afeta- minerais pertencem ao grupo dos Mg-Fe-Mn-Li
das pela ação de fluidos hidrotermais (hidrotermalitos), anfibólios e que têm composição cummingtonítica (fi-
os anfibólios (conforme descrito na seção de guras 27 e 28).

124
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 26 – Anfibólios cálcicos do grupo 2, presentes nas


rochas anfibolíticas do Alvo GT46. Núcleos em azul e bordas
em magenta.

O crescimento de Fe-anfibólios nas bordas dos


Figura 27. Diagrama de Leake et al. (1997) classificatório
anfibólios cálcicos é mais uma das evidências de que es-
de ferro anfibólios, pertencentes ao Grupo Mg-Fe-Mn-Li (Ca
ses anfibolitos sofreram aporte de fluidos ricos em ferro + NaB) < 1,0; (Mg, Fe2+, Mn, Mi)B ≥ 0; Li < 1,0.
(metassomatismo férrico). É justamente nesses anfibolitos
ricos em cummingtonita que se encontram as maiores
concentrações de magnetita.
A interação das rochas com os fluidos hidrotermais
tardios (pós-metamórficos), parece ter sido também res-
ponsável pela transformação das bordas dos anfibólios
do tipo hornblenda em anfibólios de mais baixas condi-
ções de P e T (anfibólios actinolíticos), além do desenvol-
vimento de clorita e de epidoto nas rochas, ou seja, do
desenvolvimento de paragêneses da fácies xisto verde
superimpostas a paragêneses da fácies anfibolito. Essas Figura 28. Ferro – anfibólios monoclínicos, presentes em
transformações podem ser exemplificadas pela reação bordas de anfibólios cálcicos de anfibolitos fortemente
abaixo: hidrotermalizados do Alvo GT46.

25Ca2MF3Al4Si6O22(OH)2 + 44H2O ó
hornblenda tschermakítica fluido

Ca2MF5Si8O22(OH)2 + 7MF10Al4Si6O20(OH)16 + 28SiO3 + 22Ca2Al3Si3O12(OH)


actinolita clorita quartzo Al-epidoto

Uma das evidências mais convincentes de que as


bordas dos anfibólios foram re-equilibradas em condi-
ções de P e T mais baixas é o comportamento observa-
do no diagrama Al4 versus (Na+K)A (Figura 29). Con-
siderando que os conteúdos de Al Total quanto de Al4
dos anfibólios aumentam com a elevação das condições
de temperatura e pressão durante o metamorfismo
(Kostyuk e Sobolev, 1969) e que (Na+K) na posição A
(álcalis edeníticos) também aumentam com o grau
metamórfico (Engel e Engel, 1962; Kostyuk e Sobolev,
1969; Bard, 1970), o comportamento dos núcleos e bor-
das dos anfibólios do Alvo GT46, observado na Figura Figura 29 – Variação de Al4 versus (Na + K)A nos anfibólios
29, associado à presença de clorita e epidoto nas ro- cálcicos de rochas anfibolíticas do Alvo GT46. Núcleos (azul);
chas, pode ser interpretado como evidência de re-equi- bordas (magenta).
líbrio dessas rochas para a fácies xisto verde em res-
posta à interação com fluidos mais frios.

125
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

Observadas as razões Al4 versus (Na+K)A dos


anfibólios, fica claro que os núcleos dos anfibólios cálcicos
se formaram em condições mais elevadas de P e T, quan-
do comparados aos anfibólios cálcicos presentes nas bor-
das. Esse fato parece sinalizar com a existência de duas
gerações de anfibólios nas rochas anfibolíticas do Alvo
GT46: (i) anfibólios exclusivamente cálcicos de primeira
geração, atualmente nos núcleos, gerados em regimes de
mais altas condições de T; e (ii) anfibólios de segunda
geração, pertencentes ao grupo dos anfibólios cálcicos e Figura 30 – Variação de Al4 versus (Al6+Ti+Fe3) mostrando
também ao grupo dos Fe-Mg-Mn-Li anfibólios, formando que os anfibólios foram gerados sob regime de baixa pressão
grãos individualizados ou desenvolvidos nas bordas dos
Ca-anfibólios, claramente substituindo-os. Esses anfibólios
de segunda geração parecem ter sido formados em res-
posta à interação dos anfibólios de primeira geração com
fluidos hidrotermais tardios.
De acordo com Leake (1965), a razão Al 4 /
(Al6+Ti+Fe3+) reflete as condições de pressão nas quais os
anfibólios foram gerados. De acordo com esse princípio,
os anfibólios do Alvo GT46, tanto os de primeira geração
quanto os de segunda geração cristalizaram em condições
de pressão baixa a moderada, inferior a 4 kb (Figura 30).
Em resumo, os anfibólios dos anfibolitos do Alvo GT46
possuem teores significativos de cloro e de flúor, apon-
tando para fluidos hidrotermais de alta salinidade. Os nú-
cleos dos anfibólios cálcicos analisados mostraram com-
posições variando entre ferro-tschermakita, ferro-
hornblenda e ferro-pargasita, enquanto as bordas mos-
traram composições variando entre Fe-edenita, actinolita
e Fe-actinolita.
Os anfibólios do grupo Mg-Fe-Mn, presentes nos
hidrotermalitos, são de composição cummingtonítica e nas
formações ferríferas são gruneríticos. Figura 31 – Diagrama Ab-Or-Na mostrando as variações
composicionais dos diferentes feldspatos presentes nas ro-
Química Mineral Feldspatos chas do Alvo GT46.

A análise de plagioclásio das rochas máficas que fo- Química Mineral Granada
ram menos afetadas pela ação dos fluidos hidrotermais
revela composições variando de andesina An33Ab66Or1.0 Foram analisadas grãos de granada presentes nos
(na porção central dos grãos) a oligoclásio anfibolitos, nos veios de quartzo mineralizados e nos gra-
An15.8Ab83.8Or0.4 (nas bordas) (Figura 31). nitos. Os resultados foram muito homogêneos, com a gra-
Nos hidrotermalitos, observa-se o desenvolvimento de nada em geral muito rica em moléculas de almandina
albita límpida An6.6Ab92.6Or0.8 nas bordas dos grãos. Nos (90,85 a 80,60 mol%) e pobre em moléculas de grossulária
diques de diabásio, o plagioclásio é de composição cálcica, (0,5 a 5,5 mol%), piropo (2,2 a 9,6 mol%) e espessartina
labradorítico, com teores de anortita variando muito pou- (1,9 a 10,8 mol%).
co em torno de 66% e teores de albita variando em torno As razões Fe/Mg da granada são muito distintas (Ta-
de 34%. bela 2). O pequeno espectro de variação observado em
Como descrito na Petrografia, nas rochas em que granada dos veios e dos granitos revela sistema essen-
houve aporte de fluidos metassomáticos, ricos em po- cialmente dominado pelo fluido. Entretanto, em granada
tássio, observou-se a presença de feldspato alcalino, rico dos anfibolitos observa-se largo espectro de variação da
em molécula de ortoclásio, conforme representado na razão, apontando para sistema controlado pela rocha.
Figura 31.

126
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Essas granadas são em geral muito pobres em cálcio Tabela 2 – Variação da razão Fe:Mg em granada de
e, apesar dos valores serem em geral baixos, observa-se anfibolitos, granitos e veios de quartzo.
que os núcleos são levemente mais ricos em cálcio e mais
pobres em magnésio, em relação às bordas (Figura 32), Tipo de Rocha Razão Fe:Mg
revelando essas granadas foram geradas sob temperatu-
ras inferiores a 650oC. Anfibolitos 25,4 a 35,8
Granitos 14,2 a 17,3
Química Mineral de Clinopiroxênio
Veios de quartzo 9,2 a 10,3
Análises de química mineral foram realizadas em
clinopiroxênio presente nos diques máficos tardios, não
deformados, de composição basáltica. O resultado corro-
bora a identificação petrográfica, tendo sido revelada
composição augítica, conforme ilustrado no diagrama
ternário da Figura 33.
Outros Minerais Presentes nas Rochas do Alvo GT46
Os estudos de química mineral lograram também iden-
tificar alguns minerais-traço em amostras do Alvo GT46,
os quais não foram adequadamente visualizados no estu-
do petrográfico, com destaque para:
• parisita Ca(Nd, Ce, La)2(CO3)3F2
• xenotima (YPO4) Figura 32 – Diagrama XMg versus XCa em granada mostrando
• thorita (Th, U)SiO4 que os núcleos (em azul) são mais ricos em Ca e mais pobres
• larsenita (PbZnSiO4) em Mg que as bordas (em magenta)
• cassiterita (SnO2)

Metamorfismo

As observações macroscópicas e o estudo petrográfico


e de química mineral sinalizam com um evento
metamórfico principal, de natureza dinamotermal, tendo
afetado a seqüência plutono-vulcano-sedimentar no Alvo
GT46. Esse evento teria sido responsável pelas transfor-
mações mineralógicas e texturais das rochas máficas e
dos sedimentos vulcano-exalativos, com a geração de
paragêneses metamórficas da fácies anfibolito
(anfibólio+Ca-plagioclásio nas rochas de natureza
gabróica/basáltica e quartzo+grunerita nas formações
ferríferas). Concomitantemente a esse evento, teriam sido
desenvolvidas estruturas (fabric) xistosas e gnáissicas
hoje observadas nas rochas, com a predominância de tex-
turas granonematoblásticas. A deformação não foi ho-
mogênea, tendo em vista a preservação de zonas não Figura 33 – Piroxênio de diques máficos do Alvo GT46, no
deformadas, com texturas relíquias dos protólitos ígneos. diagrama ternário classificatório com base nos percentuais
O desenvolvimento de porfiroblastos de granada nas de En, Wo e Fs.
rochas anfibolíticas, nas proximidades das apófises de
rochas graníticas, permite supor que o crescimento des- concomitantemente à deformação e à colocação de mas-
ses cristais se deu em função do aporte de calor e da sas graníticas na seqüência plutono-vulcano-sedimentar.
movimentação da intrusão das massas graníticas. Essa Com o objetivo de quantificar as condições de tempe-
hipótese é corroborada pelas feições texturais observa- ratura que atuaram nesse evento metamórfico, foram uti-
das em granada, as quais apontam para crescimento lizados dois pares geotermométricos: o par anfibólio-
sintectônico, ou seja, o metamorfismo ocorreu plagioclásio, e o par anfibólio-granada.

127
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

O geotermômetro anfibólio-plagioclásio (Blundy e As principais transformações nas rochas decorrentes


Holland 1990, Holland e Blundy 1994), tem como base o desse evento são:
conteúdo de Al4 de anfibólios cálcicos coexistentes com • substituição parcial a total de anfibólio por biotita;
plagioclásio em rochas saturadas em sílica, visto que, tan- • substituição parcial a total de plagioclásio por K-
to em sistemas naturais quanto experimentais, o conteú- feldspato;
do de Al dos anfibólios varia significativamente com a • desenvolvimento de K-feldspato intersticial;
temperatura. • lixiviação de cálcio de plagioclásio;
O uso do geotermômetro nas rochas do Alvo GT46 foi • aporte de ferro, com desenvolvimento de Fe-
feito tomando por base os núcleos dos anfibólios cálcicos anfibólios;
(representantes do primeiro e principal evento • aporte de ETRL, evidenciado pelo desenvolvimen-
metamórfico) e o núcleo do plagioclásio. Os resultados to de mineralogia acessória, com destaque para a
obtidos pelo método geotermométrico revelaram tem- presença marcante de allanita;
peraturas variando entre 513º e 530ºC, ou seja, tem- • entrada de boro no sistema, evidenciada pelo de-
peraturas da fácies anfibolito de metamorfismo. Como senvolvimento de cristais de turmalina do tipo
discutido na seção de Química Mineral, a relação Al4 chorlita.
versus (Al6+Fe3+Ti) aponta para condições de pres- O metassomatismo de ferro teve como conseqüência
são inferiores a 4 kb atuantes durante o evento a geração de Ca-anfibólios ricos em ferro (Fe-hornblenda,
metamórfico,. Fe-tschermakita, Fe-edenita) e também de anfibólio do
Outro geotermômetro usado foi o proposto por grupo Fe-Mg-Mn-Li (cummingtonita), além do desenvol-
Graham e Powell (1984), com base no par anfibólio- vimento expressivo de magnetita nas rochas anfibolíticas,
granada. Este geotermômetro baseia-se nas reações de principalmente nas mais fortemente hidrotermalizadas, e
troca de Fe e Mg entre granada e anfibólio através da da geração de veios e bolsões de quartzo-magnetita.
seguinte relação: As relações texturais rocha-minério nas amostras
mineralizadas não deixam dúvidas de que a mineralização
foi trazida por esse fluido sendo, portanto, sua geração
posterior ao evento metamórfico dinamotermal. A asso-
ciação do minério com os anfibolitos ricos em Fe-
onde KD é calculado a partir dos parâmetros XMg e XFe anfibólios, em silicatos ricos em K (principalmente biotita)
da granada e do anfibólio, respectivamente, através da e em minerais acessórios ricos em ETRL (allanita) revela
razão: que os fluidos responsáveis pelo metasomatismo ferro-
potássico foram também responsáveis pela mineralização
formada pela associação de sulfetos de cobre, óxidos de
ferro e ouro (Cu-Fe-Au).

O uso do geotermômetro nos anfibolitos granadíferos Mineralização


do Alvo GT46 se justifica com base na observação de A observação de vários testemunhos de sondagem
que a granada cresceu durante o evento metamórfico mineralizados do Alvo GT46, não deixa dúvidas quanto à
principal (sin-deformacional), concomitantemente aos associação intrínseca do minério com zonas de deforma-
anfibólios cálcicos. Os cálculos efetuados revelam tem- ção rúptil-dúctil nas rochas anfibolíticas e de deformação
peraturas da ordem 520ºC, ou seja, temperaturas da fácies rúptil a rúptil-dúctil nas rochas graníticas. A maior parte
anfibolito de metamorfismo, muito similares às encontra- da mineralização se encontra em anfibolitos fortemente
das com base no geotermômetro de Holland e Blundy orientados, seja com textura granonematoblástica impressa
(1994). pelos cristais de anfibólio, seja com textura
Além do evento metamórfico principal, aqui denomi- granolepidoblástica impressa pelo desenvolvimento expres-
nado de M1, observa-se, por meio dos estudos sivo de biotita, às vezes constituindo o mineral essencial
petrográficos, a existência de um segundo evento trans- da encaixante imediata da mineralização.
formador da mineralogia das rochas, de natureza essen- O minério ocorre quase sempre em morfologia
cialmente metamórfico-metassomática. O segundo evento
venular (figuras 34a e b) nos anfibolitos foliados e a sua
(M2) atingiu as rochas do Alvo GT46 de forma heterogê-
concentração aumenta à medida que o anfibolito (com
nea, tendo sido mais intenso nas rochas previamente
ou sem granada) se transforma, por ação dos fluidos
cisalhadas e, consequentemente, mais susceptíveis à
hidrotermais, em rocha rica em biotita + Fe-anfibólio
interação fluido-rocha.
(cummingtonita) + magnetita ± K-feldspato ± allanita ±

128
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

turmalina. Nas rochas altamente hidrotermalizadas concentrada de forma anômala, associada a sulfetos, só
(hidrotermalitos), o minério aparece preenchendo os pla- são encontradas nos anfibolitos foliados e fortemente
nos de foliação da rocha, freqüentemente acompanha- hidrotermalizados. De maneira geral, os anfibolitos com
do de veios de quartzo (figuras 34c e d), e penetrando os textura relíquia não se encontram mineralizados.
planos de clivagem dos cristais de anfibólio (Figura 35a). Além dos anfibolitos, os granitos róseos estão tam-
O minério ocorre também maciço, associado a uma mas- bém por vezes mineralizados, com finas vênulas de sulfetos
sa de magnetita na qual o sulfeto forma vênulas e bolsões de cobre (figuras 35c e d).
(Figura 35b). Essas zonas onde a magnetita se encontra

Figura 34 – (a) Vênulas de sulfetos de cobre (predomínio de calcopirita) na rocha anfibolítica. (b) Vênulas de quartzo e
sulfetos de cobre, com magnetita associada, na rocha anfibolítica fortemente hidrotermalizada. (c) Veio de quartzo com
sulfetos de cobre associados na rocha anfibolítica. (d) Veio de quartzo mineralizado na rocha anfibolítica granadífera. Notar
a presença de ‘ilhas de anfibolito granadífero’ em meio à massa quartzosa

A mineralogia do minério consiste em calcopirita (sul- sença de “ilhas” de magnetita em meio à massa sulfetada
feto predominante), bornita e, secundariamente, covelita (Figura 36a).
e calcocita. Os sulfetos estão constantemente acompa- Os sulfetos ocorrem nos interstícios da trama silicáti-
nhados de magnetita, em grãos anédricos, subédricos e ca, preenchendo planos de foliação e também invadindo
raramente euédricos, de tamanho fino a médio. As rela- planos de clivagem de anfibólio e mica.
ções texturais entre magnetita e sulfetos mostram, clara- Entre os sulfetos, as relações texturais apontam cal-
mente, que magnetita é a fase mais precoce, tendo sido copirita como a fase precoce, sucedida por bornita e, pos-
posteriormente envolvida pelos sulfetos. É comum a pre- teriormente, por calcocita e covelita (figuras 36b a d).

129
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

(a) (b)

Figura 35 – (a) Fotomicrografia mostrando calcopirita invadindo os planos de clivagem de anfibólio. Luz refletida, 250×.
(b) Minério maciço, constituído por massa de magnetita com vênulas e bolsões de sulfetos de cobre. (c) Veio de magnetita com
sulfeto de cobre no granito róseo (d) Veio de sulfeto de cobre, com magnetita subordinada, em granito róseo.

Traços de sulfeto de molibdênio (molibdenita) são Estudo de Inclusões Fluidas


observados nas rochas anfibolíticas foliadas, estirado nos
planos de foliação da rocha, sugerindo que seja anterior Visando definir a natureza da fonte dos fluidos que
ou concomitante à deformação. Molibdenita ocorre tam- transportaram as mineralizações de Cu-Fe-Au do Alvo
bém formando pequenas massas irregulares no anfibolito GT46, foram selecionadas algumas amostras representa-
e na própria rocha granítica. A presença de molibdenita, tivas das diferentes situações observadas nos testemu-
sob a forma pequenas massas na rocha anfibolítica, está nhos de sondagem mineralizados do Alvo GT46. As aná-
intrinsecamente relacionada à proximidade de injeções lises de IF foram realizadas pelo Dr. Kazuo Fuzikawa e
pegmatíticas de composição granítica (Figura 37), suge- colaboradores, no Laboratório de Inclusões Fluidas do
rindo que o pegmatito tenha trazido o sulfeto para as en- Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear
caixantes. (CDTN), em Belo Horizonte.
As relações texturais do minério com as rochas As amostras coletadas representam:
encaixantes apontam para colocação pós-metamórfica da • veios de quartzo diretamente relacionados aos gra-
mineralização. O fluido portador do minério teria apro- nitos;
veitado canais pré-existentes de percolação (zonas mais • veios de quartzo da zona granítica pegmatoidal;
intensamente cisalhadas) e, dessa forma, estaria explicada • veios de quartzo mineralizados, encaixados nos
a associação espacial que se observa: minério + rochas anfibolitos próximo ao contacto com granitos;
anfibolíticas fortemente orientadas ou minério + planos • veios de quartzo mineralizados, ricos em magnetita;
de fraturamento em rochas graníticas. • amostras da zona externa ao minério onde apare-

130
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 36 – (a) Ilhas de magnetita circundadas por sulfetos de cobre. (b) Bornita cortando calcopirita. (c) Bornita envolven-
do magnetita. (d) Fino veio de covelita cortando bornita. Fotos em luz refletida, com aumento de 250×.

cem bolsões de quartzo englobando granada e maiores podem ultrapassar 10 µm, porém a maioria se
anfibólio; encontra em tamanhos menores que essa dimensão. Ocor-
• veios de quartzo com biotita e sulfetos; e rem também IF monofásicas claras, de aspecto sujo, com
• amostras da zona de brechação hidrotermal. relevo baixo, de contornos e formas irregulares (amos-
O estudo do material mostrou uma população variada tras 01 e 60), com dimensões que podem atingir várias
de inclusões fluidas que, em função do número de fases dezenas de µm.
presentes, puderam ser agrupadas em 5 tipos diferentes, Tipo 2: São IF bifásicas, constituídas por líquido e va-
cujas características são descritas a seguir. por, alongadas, amendoadas ou circulares (as de menor
Tipo 1: São IF monofásicas, escuras, com relevo pro- tamanho), contornos regulares a irregulares, retos ou ar-
nunciado, alongadas ou não, de contornos arredondados, redondados, podendo mostrar distribuição alinhada. A fase
freqüentemente, em distribuição planar (Figura 38a). As de vapor representa de 5 a 10% da superfície da inclu-

131
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

Microtermometria e Composição das Inclusões


Fluidas

As IF monofásicas escuras (tipo 1) contêm CO­2 em


estado supercrítico, uma vez que, com o resfriamento,
ocorre a nucleação da fase de vapor, a qual se torna ho-
mogênea novamente a partir de 3ºC. As temperaturas de
homogeneização do CO2 (Th CO2) espalham-se em larga
faixa que vai desde 3ºC até, praticamente, a temperatura
crítica do CO2 (+31,1ºC). Os valores acima da tempera-
tura ambiente (~25ºC) correspondem às IF bifásicas es-
curas (tipo 2), conforme ilustrado no histograma da Figu-
ra 39a.
A dispersão de valores das IF dos tipos 1 e 2
coexistentes aponta para inclusões fluidas que sofreram
Figura 37 – Pequenas massas de molibdenita na rocha
modificações posteriores à sua geração. Assim sendo, só a
anfibolítica, nas proximidades do contato com veio
densidade indicada pelas T mais baixas é significativa, que
pegmatítico granítico.
nesse caso é de 0,90 g/cm3 (ThCO2 = +5,0ºC). A isócora
correspondente (Roedder, 1984) para a T de 340ºC (o
são. As inclusões maiores atingem tamanhos em torno de máximo de aquecimento para as inclusões polifásicas tipo
10 µm. A maioria, no entanto, possui tamanho abaixo des- 4, sem que tivesse sido alcançada a homogeneização total)
se valor (Figura 38b). Ocorrem também IF bifásicas es- indica pressão de 2,5 kb. Esses são os valores mínimos de
curas no mesmo alinhamento das do tipo 1. P e T aos quais essas rochas estiveram submetidas.
Tipo 3: São IF trifásicas, constituídas por líquido, va- O ponto triplo da fase carbônica (temperatura de fu-
por e sólido, que mostram quase sempre hábito cúbico ou são do CO2–TfCO2) forneceu valores muito próximos de
de prisma de secção quadrada. Possuem formatos circu- –57ºC, confirmando que essa fase de CO2 é praticamen-
lares a alongados ou mesmo poligonais. Os contornos são te pura, o que permite o uso direto de seus diagramas.
regulares, muitas vezes retos. A fase de vapor represen- No entanto, há de se considerar que não existem evi-
ta cerca de 5% da superfície da inclusão e a fase sólida dências claras de que as IF carbônicas (tipos 1 e 2 escu-
pode atingir 10%. As inclusões maiores podem ultrapas- ras) e as IF polifásicas (tipo 4) sejam contemporâneas,
sar 10 µm enquanto a maioria situa-se abaixo dessa di- embora ocorram algumas IF do tipo 4 que contêm CO2.
mensão (Figura 38c). As IF monofásicas claras são aquosas, nitidamente,
Tipo 4: São IF polifásicas, constituídas por líquido, va- posteriores e foram aprisionadas muito tardiamente, con-
por e duas a três fases sólidas. Estas são constituídas, forme apontam as seguintes características: são
geralmente por dois cubos de tamanhos diferentes e um monofásicas, com tamanhos maiores que as maiores dos
prisma menor. O prisma pode apresentar forte demais tipos, com contornos irregulares e com distribui-
birefringência. As formas das inclusões são, geralmente, ção planar.
alongadas, embora possam ter formas eqüidimensionais As IF bifásicas (tipo 2) são, provavelmente, fluidos
ou mesmo poligonais. Os contornos são regulares, muitas aprisionados em etapa tardia. Parecem representar mis-
vezes retos. A fase de vapor representa cerca de 10% da tura de IF, contendo fluidos aquosos dessa etapa, com IF
superfície da inclusão, enquanto a área total das fases modificadas contendo fluidos mais precoces e também
sólidas é muito variável, situando-se em faixa de 20 a modificadas por fluidos posteriores. Essa interpretação é
60%. Os tamanhos podem atingir 15 µm, embora haja que permite explicar a ampla dispersão dos valores das
predominância das que se situam em torno de 10 µm ou temperaturas de fusão do gelo (Tfgêlo), desde 0 até –30ºC,
menores (Figura 38d). encontradas no histograma da amostra 60. Esses valores
Tipo 5: São IF trifásicas, todas fluidas (Figura 38e). indicam desde água pura até salmouras com teores de
São inclusões tipicamente aquo-carbônicas. Às vezes NaCl equivalente muito acima de 20% em peso e tam-
podem conter fase(s) sólida(s). As formas variam de bém a presença de outros íons além de Na+. A estreita
alongadas a eqüidimensionais com contornos arredonda- faixa de dispersão da maioria das medidas das tempera-
dos a irregulares. A fase carbônica pode variar de 5 a turas de homogeneização (Th), entre 150º e 190ºC, per-
80% da área da inclusão. Os tamanhos maiores se situ- mite supor que o processo de mistura e modificação das
am em torno de 10 µm, embora a maioria das inclusões IF bifásicas tenha ocorrido em condições, relativamente,
seja menor.

132
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

(a) (b)

(d)
(c)

(e)

Figura 38 – (a) Morfologia e distribuição das inclusões


fluidas do tipo 1. (b) Tipo 2. (c) Tipo 3. (d) Tipo 4. (e) Tipo 5.

estáveis de T e P, conforme ilustra o histograma da Figu- As IF polifásicas (tipo 4) constituem um dos tipos pre-
ra 39b. sentes em todas as amostras e são as predominantes na
As IF do tipo 3 indicam solução aquosa supersaturada, maioria delas. O comportamento dessas IF durante o
com cerca de 35% em peso de NaCl (Roedder, 1984) e resfriamento indica que o cubo maior é de NaCl, uma vez
constituem composição e Th intermediárias entre as IF que forma dihidrato o qual se dissocia muito lentamente
bifásicas (tipo 2) e as polifásicas (tipo 4), conforme ilus- até 0ºC. O cubo menor deve ser de KCl, uma vez que é o
trado no histograma da Figura 39c. primeiro a se dissolver durante o aquecimento. A terceira

133
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

fase sólida, geralmente alongada, permanece inalterada cloreto. A primeira alternativa é reforçada pela presença
tanto durante o resfriamento como no aquecimento. Pela de carbonato na rocha hospedeira e também pela estabi-
sua birrefringência poderia ser carbonato (Ca, Mg?) ou lidade durante a microtermometria (Figura 38d).

(a) (b)

(c) Figura 39 – (a) Histograma de freqüência das temperaturas


de homogeneização de CO2 (ThCO2) das inclusões fluidas do
tipo 1. (b) Histograma de freqüência das temperaturas de
fusão do gelo (Tfgelo) e temperaturas de homogeneização das
inclusões fluidas do tipo 2. (c) Histograma de freqüência das
temperaturas de homogeneização das inclusões fluidas do
tipo 3.

A grande freqüência dessas inclusões em todas peraturas de fusão do gelo (Figura 39b), com faixa
as amostras indica que os fluidos supersaturados extremamente ampla de valores, indicando
foram os predominantes em toda a área amostrada salinidades de zero a >20% em peso de NaCl equi-
(Tabela 3). valente.
As IF aquo-carbônicas (tipo 5) apresentam CO2 com • As IF de CO2 (tipo1), contrariamente às polifásicas
as mesmas características microtermométricas das in- (tipo 4), são quase sempre secundárias e sua exis-
clusões monofásicas escuras (tipo 1), conforme ilustra- tência sugere que um fluido carbônico tenha sido
do na Figura 38e. Sempre que as IF tipo 5 ocorrem numa introduzido mais tardiamente no sistema.
amostra, as IF do tipo 1 também estão presentes. Essa Um resumo dos dados microtermométricos pode ser
associação não parece constituir um grupamento inde- visto na Tabela 4.
pendente, dando a impressão de que as IF aquo-
carbônicas foram formadas pela interação de CO2 so- Discussão
bre inclusões aquosas pré-existentes, tendo inclusive sido
observado uma inclusão polifásica (tipo 4) com CO2 e O estudo de inclusões fluidas, realizado em diferentes
algumas IF trifásicas (tipo 3) também com CO2. No veios de quartzo do Alvo GT46, com destaque para os
aquecimento, essas IF geralmente crepitam antes de veios da zona mineralizada, revelou a existência de cinco
ocorrer homogeneização. tipos de IF, com predominância de inclusões fluidas pri-
A freqüência e a distribuição desses tipos de inclusões márias, polifásicas (L+V+2 a 3 fases sólidas), cujas fa-
nas amostras estudadas apresentam-se resumidas na ses sólidas são cloretos de Na, K e talvez Mg e cujas
Tabela 3. Algumas observações podem ser inferidas: temperaturas de homogeneização são da ordem de 340ºC.
• As inclusões multifásicas (tipo 4), mais salinas, es- Além dessa, outras tipologias aparecem nos veios de
tão presentes em todas as amostras estudadas. quartzo do Alvo GT46, a saber:
• Em sua maioria, as IF dos tipos 2 e 3 podem ser • inclusões trifásicas (L+V+S) com salinidade ele-
resultantes de processos múltiplos de estrangula- vada (35% NaCl) e temperatura de homogenização
mento das IF do tipo 4. A evidência dessa interpre- entre 200º e 300ºC;
tação pode ser concluída do histograma das tem-

134
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Tabela 3 – Freqüência e a distribuição dos diferentes tipos de inclusões obsevadas nas amostras estudadas do Alvo GT46.
Obs.: xx = tipos predominantes de IF.

• inclusões bifásicas aquosas, com salinidade vari- depósitos do tipo Fe-Cu-Au-REE descritos na literatura,
ando desde zero até 20% de NaCl eq. peso, apon- a exemplo de Candelária, no Chile (Ullrich e Clark, 1999),
tando para processos de mistura de fluidos; Olympic Dam, Austrália (Conan-Davies, 1987) e vários
• inclusões monofásicas claras, aquosas, tardias (pós- depósitos do distrito de Cloncurry, Austrália (Adshead et
deformacionais); e al.,1998; Rotherdam et al., 1998; Perring et al.,1999,
• inclusões monofásicas, escuras, tardias (pós- 2000; Baker, 1998).
deformacionais), contendo exclusivamente CO2. A assinatura de IF nos depósitos acima listados tem
A população de inclusões fluidas é compatível com sido observada tanto em inclusões pré- quanto sin-
associação de fluidos quentes e salinos, de derivação mineralização. Alguns autores atribuem essa coexistên-
granítica, os quais teriam sofrido mistura com fluidos fri- cia a um processo de separação de CO 2 do fluido
os, pouco salinos, de possível origem meteórica. Foi ob- hidrotermal original, cuja composição seria H2O-CO2-sais
servado que, com o afastamento do foco da zona (Ettner et al., 1993; Adshead et al., 1998).
mineralizada, as IF tornam-se mais diluídas, podendo esse A separação ocorreria, de acordo com Bowers e
fato ser interpretado como evidência de participação cada Helgeson (1983) e Ettner et al. (1993), em resposta à
vez maior de fluidos não magmáticos com o afastamento diminuição da pressão e da temperatura, durante a as-
do foco principal de descarga hidrotermal. censão dos fluidos, provocando a migração de CO2 para
Considerando que a maior parte das inclusões fluidas a fase vapor e dos sais para a fase líquida. Dessa forma,
estudadas está associada aos veios mineralizados, pode- seriam gerados dois grupos de IF nos minerais de altera-
se então relacionar a origem do minério aos fluidos de ção hidrotermal relacionados ao processo mineralizante,
derivação granítica. a exemplo do que foi descrito nos veios analisados do
A coexistência de dois tipos de IF, hipersalinas e as Alvo GT46.
ricas em CO2 (carbônicas), é um fator comum a vários

135
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

Tabela 4 – Resumo do estudo de IF realizado em amostras da zona mineralizada do Alvo GT46

Geocronologia mineralizados, foram realizadas na Universidade de


Brisbane, Austrália.
Tomando por base as descrições de testemunhos de Os dados Sm-Nd RT obtidos em rochas basálticas e
sondagem, bem como os estudos petrográficos e gabróicas revelaram idade neoarqueana. As amostras ali-
litogeoquímicos, foram selecionadas diferentes amostras nharam-se em isócrona Sm-Nd de 2686 ± 87 Ma, com
de rochas máficas e intermediárias (basaltos, basaltos εNd negativo (-1,8) e MSWD próximo a 1 (0,98), confor-
andesíticos, gabros e gabros dioríticos), de hidrotermalitos me pode ser visualizado na Figura 40a.
(rochas mineralizadas e mais intensamente afetadas pe- Assumindo-se que essas rochas teriam sido origina-
las transformações metassomáticas), do minério, dos di- das em ambiente de tectônica de subducção, conforme
ques máficos, bem como dos diversos tipos de granitos apontam os dados litogeoquímicos, os valores negativos
presentes no Alvo GT46, para estudos geocronológicos. de εNd se justificam, seja pela possibilidade dessas ro-
Ao todo foram realizadas cinquenta e três determinações chas terem sido geradas a partir de manto
Sm-Nd em rocha-total, duas determinações U-Pb em metassomatizado, seja pela possibilidade de contamina-
zircão, quatro determinações Re-Os em molibdenita e duas ção crustal.
determinações Ar-Ar em biotita. Igualmente neoarquenos, embora mais jovens que as
As análises pelos métodos Sm-Nd (rocha total e con- rochas máficas, são os granitóides róseos e cinzentos, os
centrado de minério) e U-Pb (em zircão e monazita), fo- quais se alinham ao longo de isócrona de 2.668 ± 100 Ma,
ram realizadas no Laboratório de Geocronologia da UnB, com εNd negativo (-2,2), conforme ilustrado na Figura
enquanto as análises pelo método Re-Os em molibdenita 40b. Mais uma vez, os valores negativos de εNd estão
de granito róseo mineralizado e de anfibolitos, foram rea- em consonância com os dados litogeoquímicos dos grani-
lizadas pela Dra. Holly Stein (Colorado State University, tos (vide seção sobre Litogeoquímica), os quais revelam
EUA). As determinações com base no método Ar-Ar, assinatura geoquímica muito similar à de granitóides ge-
em biotita diretamente relacionada aos veios rados em ambientes de arco vulcânico.

136
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

Figura 40 – Diagrama 147Sm/144Nd versus 143Nd/144Nd. (a) Para as rochas basálticas e gabróicas do Alvo GT46. (b) Para os
granitos cinzentos e róseos. (c) Para os granitos cinzentos e róseos (em vermelho) e os granadíferos (em preto). (d) Diagrama
206
Pb/238Pb versus 207Pb/235Pb obtido a partir da análise de monazita de granitóide cinzento. (e) Diagrama 147Sm/144Nd versus
143
Nd/144Nd no qual se vê os diferentes alinhamentos dos granitóides intrusivos no Alvo GT46 (em vermelho) e das amostras de
concentrado de minério (em azul). (f) Diagrama 147Sm/144Nd versus 143Nd/144Nd no qual se observa o alinhamento das amostras
de minério do Alvo GT46 (em azul) com os hidrotermalitos do depósito Salobo (em vermelho), compondo ‘errócrona’ de
1752±77 Ma. Todos os diagramas relativos ao Alvo GT46.

137
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

(a)

(b)

Figura 41 – (a e b) Idades 40Ar/39Ar de resfriamento de biotita de duas amostras oriundas dos halos de metassomatismo
potássico, diretamente associados às mineralizações sulfetadas do Alvo GT46.

138
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Tabela 5 – Relação das idades Re-Os obtidas em molibdenita do Alvo GT46.

Quanto aos granitóides ricos em granada, os dados obtidos em datações Ar-Ar realizadas em biotita resul-
litogeoquímicos já haviam sinalizado com uma relação de tante do metassomatismo potássico que envolve a zona
cogeneticidade entre essas rochas e os demais granitóides mais fortemente mineralizada. As idades de
da área. Os dados isotópicos confirmam essa hipótese, resfriamento obtidas nas duas amostras de biotita en-
tendo em vista que os granitóides granadíferos se alinham viadas para análise situaram-se na faixa de 1800 Ma
com os granitos róseos e cinzentos no diagrama 147Sm/ (1854±5 para a amostra 53 e 1809±6 Ma para a amos-
144
Nd versus 143Nd/144Nd, tendo todos a mesma razão tra 72A), conforme pode ser observado nos diagramas
inicial de 143Nd/144Nd (Figura 40c). das figuras 41a e b. Essa faixa de idade é compatível
As idades neoarqueanas são corroboradas pelos re- com os dados discutidos anteriormente, com destaque
sultados U-Pb obtidos em monazita de granito cinzento para o alinhamento das amostras de sulfetos com os
(Figura 40d). hidrotermalitos do depósito Salobo, gerando uma
Conforme discutido anteriormente, a mineralização do errócrona de 1752±77 Ma.
Alvo GT46 é indubitavelmente tardia (pós-metamorfismo No âmbito desta pequisa foi feita uma tentativa de
das encaixantes), levando à conjectura inicial de que os datação, pelo método Sm-Nd, dos diques máficos tardios,
fluidos mineralizantes poderiam ter-se originado a partir sem deformação e com orientação geral NS. O espectro
dos granitos que intrudem as rochas máficas. Entretanto, de variação das razões Sm/Nd obtidas nas amostras ana-
os resultados Sm-Nd obtidos em amostras do concentra- lisadas foi muito estreito (valores muito próximos), não
do do minério não se alinharam com aqueles dos granitos permitindo a aquisição de uma idade isocrônica confiável.
em diagrama 147Sm/144Nd vs. 143Nd/144Nd (Figura 40e). Diante disso, assumimos neste trabalho a idade Rb-Sr de
Considerando que o minério e os granitos possuem 553±32 Ma obtida por Cordani et al., (1984) em diques
razões iniciais diferentes, fica evidente que não há entre máficos similares, da Província do Carajás. Essa idade
eles uma relação de cogeneticidade. Além disso, as amos- está em conformidade com as observações de campo, as
tras de minério do Alvo GT46 alinham-se com as amos- quais apontam esse evento magmático toleítico, de natu-
tras dos hidrotermalitos do depósito do Salobo, em reza intra-placa continental, como extremamente tardio e
‘errócrona’ de 1752±77 Ma (Figura 40f). dissociado da história de geração do minério.
Estes resultados apontam para processo mineralizante Como discutido no capítulo sobre as mineralizações,
tardio (Paleoproterozóico), muito posterior à geração dos a presença de molibdenita foi notada nos granitóides
granitóides neoarqueanos presentes no Alvo GT46, com- intrusivos nas rochas anfibolíticas do Alvo GT46. Ob-
prometendo toda e qualquer proposta de relação genética servou-se também molibdenita nos anfibolitos, na zona
entre os granitos neoarqueanos e a gênese das de contato destas rochas com pegmatitos de granitos.
mineralizações sulfetadas de Fe-Cu-Au. Por outro lado, Amostras de molibdenita, representantes das duas situ-
esses resultados, aliados aos dados de inclusões fluidas ações descritas, foram coletadas para fins de datações
(que apontam para fluido de derivação granítica como a Re-Os, tendo sido obtidos os valores listados na Tabela
fonte do minério), revelam a presença de granitóides 5 a seguir.
paleoproterozóicos no âmbito do Alvo GT46, os quais não Tomando como base: (a) os dados Sm-Nd e U-Pb
foram detectados nem em superfície nem nos testemu- obtidos nas rochas encaixantes; (b) os dados Sm-Nd ob-
nhos de sondagem. tidos no minério; e (c) as idades Ar-Ar dos halos de
A sugestão de idade paleoproterozóica para o minério metassomatismo relacionados ao processo mineralizante,
do Alvo GT46 é, por fim, corroborada pelos resultados anteriormente discutidos, estas idades Re-Os podem ser

139
Caracterização de Depósitos Minerais de Distritos Mineiros da Amazônia

interpretadas como de molibdenita formada à época de • Do ponto de vista mineralógico, é comum a predo-
geração e colocação dos granitos neoarqueanos de arco minância de óxidos de ferro (magnetita/hematita)
que intrudem a área. sobre sulfetos de ferro (raros). Além disso, é co-
Idades Re-Os neoarqueanas muito similares às en- mum possuírem concentrações anômalas de alguns
contradas no Alvo 46, foram também obtidas em outros elementos traços (Co, Ni, As, Mo, W, U), com des-
alvos na província do Carajás, a exemplo de: taque para os elementos terras raras leves.
• Marschik et al. (2005) na área de Serra Verde (2609 • As rochas hospedeiras da mineralização mostram-
±13 Ma). se intensamente modificadas pela interação com
• Marschik et al. (2005) em Gameleira (2614±14 fluidos hidrotermais. A mineralogia de alteração
Ma). varia de acordo com a composição das rochas, mas
• Requia et al. (2003) em Salobo (2576±1,4 Ma e em geral, são observadas transformações
2562±8 Ma). hidrotermais de natureza sódica, sódico-cálcica,
potássica ou mesmo hidrolítica, a depender da pro-
IV. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES fundidade crustal e/ou do grau de mistura com flui-
dos meteóricos. A zonalidade de alteração carac-
Depósitos de Fe-Cu-Au da Província Carajás teriza-se pela predominância da alteração sódica
ou sódica-cálcica (de mais alta temperatura), nas
Depósitos da associação Fe-Cu-Au têm sido encon- zonas mais profundas do depósito. A alteração
trados em diferentes partes do mundo e, de acordo com potássica (com desenvolvimento de K-feldspato e
Porter (2000), constituem família de depósitos com mui- biotita) ocorre em níveis crustais intermediários e,
tas características em comum, comportando, porém, nas zonas mais rasas, a alteração costuma ser
muitas diferenças. Depósitos dessa natureza podem ser sericítica. Paralelamente, observa-se que magnetita
gerados em espectro relativamente amplo de ambientes é fase predominante em depósitos de zonas crustais
tectônicos, associados a diferentes tipos de rochas, com mais profundas, enquanto hematita passa a domi-
nar em zonas mais rasas.
diferentes estilos de controle estrutural e, conseqüente-
As feições que podem divergir de um depósito para
mente, com distintas morfologias.
outro, de acordo com Hitzman (2000) seriam:
O exemplo mais completo de depósito dessa tipologia
• O ambiente geodinâmico de formação: esses de-
é o de Olympic Dam, na Austrália, o qual possui dimen-
pósitos têm sido encontrados tanto em ambientes
sões gigantescas, com reservas superiores a 2 bilhões de
intra-placa continentais, relacionados a magmatismo
toneladas de minério, com teores de Cu em torno de 1,4%.
anorogênico ou a zonas de colapso de orógenos
A descoberta desse depósito, em meados da década de intracontinentais, quanto em ambientes de tectônica
70, serviu de orientação em termos de modelo extensional relacionados a arcos de margens con-
metalogenético, para que alguns outros similares fossem tinentais ativas.
descobertos, como será discutido mais adiante. • A morfologia: os processos de substituição das ro-
As características mais marcantes comuns aos depó- chas hospedeiras, frente à ação dos fluidos
sitos de Fe-Cu-Au encontram-se na literatura geológica hidrotermais, leva à geração de diferentes forma-
e foram, de forma mais abrangente, sumariadas por tos de corpos de minérios, tais como corpos tabu-
Hitzman (2000), Pollard (2000) e Partington e Williams lares stratabound, veios, rede de filonetes em
(2000), de cujos trabalhos destacamos as seguintes: stockwork e zonas de brechação.
• A maioria dos depósitos é pós-arqueana, em geral No que diz respeito à natureza dos fluidos envolvidos
distribuída entre o Neoproterozóico e o Plioceno. na gênese dos depósitos, algumas propostas têm sido apre-
• Encontram-se quase invariavelmente associados sentadas na literatura.
espacial e temporalmente a eventos magmáticos Para Barton e Johnson (1996) os depósitos de Fe-Cu-
de natureza granítica. Au poderiam ser o resultado da incorporação de metais
• São tectonicamente controlados, em especial por por fluidos magmáticos e/ou não magmáticos por meio de
falhamentos de segunda ordem, de baixo a alto interação com rochas evaporíticas. De acordo com esses
ângulo, os quais costumam ser parte integrante de autores, a presença de um corpo intrusivo na área do depó-
sistema maior de falhamentos em escala crustal. sito teria o papel apenas de fornecer calor para aquecer,
Na maioria dos depósitos descritos na literatura movimentar os fluidos e gerar sistema de convecção
observa-se tendência a se posicionarem em zonas hidrotermal. Entretanto, de acordo com Hitzman (2000),
de intereseção de quebras estruturais. a maioria absoluta de depósitos da associação Fe-Cu-Au

140
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

não apresenta associação espacial ou temporal com Os granitos são, em sua grande maioria, oxidados
evaporitos, demonstrando que a geração desses depósi- (granitóides da série da magnetita), com composição áci-
tos independe da presença dessas rochas. Restringe-se da a básica (granitos a dioritos), ricos em potássio, gera-
então a aplicação dessa hipótese a alguns depósitos es- dos a partir da fusão parcial de rochas da infra-crosta
pecíficos (nos quais se registra a presença de evaporitos), com alguma contribuição mantélica (Rämö e Haapala,
tal como os depósitos de Salton Sea (EUA) e Korshunovsk 1995; Creaser 1996; Pollard et al., 1998). De acordo com
(Rússia). esses autores, a fusão parcial, em regime de alta tempe-
Para Hitzman et al. (1992), os fluidos responsáveis ratura, das rochas meta-ígneas da infra-crosta dar-se-ia
pela mineralização seriam de origem ígnea, ricos em vo- por meio da quebra de biotita e de anfibólio. A quebra
láteis. Essa proposta ganhou importância à medida que desses minerais liberaria água e flúor para o líquido (fun-
estudos de inclusões fluidas e de isótopos de O, H e S na dido) e a alta temperatura promoveria a quebra de
zona mineralizada, em depósitos de diferentes partes do resistatos tais como zirconita e espinélio ferro-titaníferos,
mundo, apontaram para fluidos de natureza magmática, enriquecendo o fundido em terras raras, zircônio, urânio,
com maior ou menor participação de fluidos meteóricos. dentre outros.
O modelo leva em conta a assinatura de inclusões flui- Trabalhos desenvolvidos por Perring et al. (1999;
das, compreendendo inclusões aquosas salinas a 2000) em depósitos de Fe-Cu-Au do distrito de Cloncurry,
hipersalinas e inclusões carbônicas. O fluido original com- Austrália, demonstram a relação espacial e temporal do
posto por H2O-CO2-NaCl±CaCl2±KCl sofreria separa- minério com granitos com características similares às aci-
ção (unmixing) durante sua ascensão na crosta, em res- ma descritas. Nesses trabalhos os autores concluem que
posta à queda de pressão e de temperatura (Adshead et a geração dos fluidos ricos em Fe e Cu está genetica-
al., 1998; Oliver, 1995; Ettner et al., 1993). mente relacionada ao granito e que os fluidos represen-
Os fluidos seriam originados de magma rico em CO2 tam sistema magmato-hidrotermal, hipersalino, contendo
e, considerando que a separação de CO2 resulta em sa- CO2, pobre em S, cujo fracionamento resulta em fluidos
turação precoce da fase líquida em metais, a presença tardios ricos em Fe e Cu.
dessa fase seria de crucial importância no processo Diante do quadro geral de informações acima sumaria-
mineralizante (Pollard, 2000). do, é possível reconhecer vários pontos de convergência
A essa separação das fases é também atribuída a al- das mineralizações estudadas no Alvo GT46, Serra dos
teração sódica. Tomando como base os trabalhos experi- Carajás, com essa classe de depósitos. As principais simi-
mentais de Iiyama (1965) sobre o equilíbrio da razão Na/ laridades que podem ser ressaltadas são as seguintes:
(Na+K) em fluidos ricos em CO2 e Cl, Pollard (2001) • Embora hospedadas por rochas arqueanas, as
concluíu que a separação de fluidos compostos por H2O- mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 são
CO2-NaCl±CaCl2±KCl pode levar, em momento inicial, paleoproterozóicas, com idade em torno de 1,8 Ga,
a aumento dessa razão, resultando na alteração sódica de similarmente a vários outros depósitos dessa famí-
alguns minerais (albitização de feldspatos). Em momento lia na região da Serra dos Carajás.
posterior o decréscimo da razão geraria alterações • A mineralização é tectônicamente controlada. O
potássicas. Esses dados colocam em discussão a neces- minério ocorre nos planos de foliação das rochas
sidade de se apelar para o envolvimento de rochas deformadas em regime rúptil-dúctil. Em estudo de
evaporíticas na composição do fluido hidrotermal gerador observação das feições estruturais, no âmbito re-
de depósitos do tipo Fe-Cu-Au, uma vez que a alteração gional, utilizando a superposição da geologia sobre
sódica pode ser explicada à luz da evolução de fluidos o modelo digital de terreno, observa-se que o de-
ricos em CO2. pósito do Alvo GT46 situa-se no contexto de
Considerando-se que as evidências (assinatura de in- falhamentos NNE-SSW que cortam transversal-
clusões fluidas e assinaturas isotópicas) de fato apon- mente a estruturação E-W geral da Serra dos
tam para fluidos de natureza magmática, a questão ime- Carajás.
diata que se coloca é quanto à natureza da rocha-fonte • As rochas hospedeiras da mineralização derivam
desses fluidos. Vários autores ressaltam o fato de que a de ambiente de arco (vide seção sobre
maior parte dos depósitos de Fe-Cu-Au, espalhados em Litogeoquímica). Entretanto, a mineralização é pós-
diferentes regiões do planeta, associados a diferentes deformacional e pós-metamórfica e parece estar
ambientes geodinâmicos, mostram-se invariavelmente relacionada à geração de granitóides anorogênicos,
associados, tanto espacial quanto temporalmente, a ro- alcalinos, resultantes de fenômeno de magma-
chas graníticas. underplating estateriano (vide p. ex. Teixeira e

141
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

Eggler, 1994; Dall’Agnol et al., 2005; Teixeira et


al., 2001).
• As rochas hospedeiras da mineralização mostram-
se intensamente metassomatizadas. Observa-se o
desenvolvimento de mineralogia de substituição
resultante do aporte principalmente de ferro e po-
tássio e, secundariamente, de elementos mais re-
fratários (terras raras). O desenvolvimento expres-
sivo de biotita e K-feldspato no envelope da zona
mineralizada resulta de intenso metassomatismo
potássico. Por outro lado, ao longo de toda zona
mineralizada observa-se a transformação de
anfibólios cálcicos (gerados pelo metamorfismo
regional) em Fe-anfibólios, em resposta à interação
com os fluidos ricos em ferro. O auge do aporte de
fluidos ricos em ferro é traduzido pela presença de
veios de quartzo com magnetita hidrotermal e a
geração de bolsões de magnetitito na zona do mi-
nério. Figura 42– Espectro de variação dos valores de δ 34S obtidos
• A alteração sódica é incipiente o que pode ser en- em concentrados de sulfetos do Alvo GT46.
tendido de duas maneiras: ou as paragêneses da
alteração sódica foram superimpostas pela altera-
ção potássica ou, mais provável, o depósito esteja
em nível crustal de erosão superior ao da alteração
sódica.
• O óxido de ferro (magnetita) é o mineral metálico
predominante. A magnetita claramente precede os
sulfetos que engolfam magnetita ou preenchem fra-
turas nesse mineral.
• Do ponto e vista morfológico, o que se observa é o
minério filoniano, preenchendo planos de fraturas
e de cisalhamento, formando por vezes bolsões em
zonas onde a rede de fraturamento é mais intensa. Figura 43 – Espectro de variação dos valores de δ 18O obti-
dos nas encaixantes imediatas da mineralização e em rochas
No que diz respeito à gênese das mineralizações pre-
mais afastadas do foco mineralizado no Alvo GT46.
sentes no Alvo GT46, os dados de inclusões fluidas, de
isótopos estáveis e geocronológicos apontam para fluido e um, compatíveis, portanto, com fonte magmática (Fi-
de natureza magmático-hidrotermal como o responsável gura 42).
pela geração do minério e pelo metassomatismo ferro- Análises de isótopos de oxigênio foram realizadas em
potássico das encaixantes. amostras de rochas do Alvo GT46, no laboratório da
O estudo de inclusões fluidas (vide seção sobre inclu- Queens University, Canadá. O objetivo principal foi con-
sões fluidas) revelou a coexistência de inclusões firmar as evidências petrográficas indicativas dos proces-
carbônicas (CO 2 ) e inclusões aquosas salinas e sos de alteração hidrotermal. Foram selecionadas amos-
hipersalinas, compatíveis com fluido original constituído tras das encaixantes imediatas da mineralização (rochas
por H2O-CO2-NaCl±CaCl2±KCl o qual teria, a exemplo fortemente modificadas pela interação com o fluido
do que acontece em vários depósitos dessa natureza des- hidrotermal mineralizante) até amostras das zonas mais
critos na literatura, sofrido processo de separação. distais, onde a interação fluido-rocha foi mais incipiente
Além dos dados de IF, os dados isotópicos de S obti- (Figura 43).
dos no minério do Alvo GT46 também revelam assina- Os resultados obtidos mostram que os valores de δ18O
tura magmática. Os valores de δ34S obtidos em amos- das rochas menos afetadas pelos processos hidrotermais
tras de concentrados de sulfetos (calcopirita+ se situam no espectro de 5,3 a 6,0‰, compatíveis com
bornita+covelita+calcocita) variam entre os valores zero os descritos na literatura para rochas de origem

142
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

mantélica, pouco modificadas por processos pós- relacionada ao processo de aglutinação do setor
magmáticos, em especial aquelas geradas em ambien- ocidental do Supercontinente Gondwana.
tes de subducção. As interpretações das feições geológicas da Provín-
Os dados isotópicos estão em consonância com o es- cia Carajás discutidas em trabalhos anteriores prestam
tudo litogeoquímico realizado nas rochas do Alvo GT46 suporte para as seguintes considerações:
(vide seção sobre Litogeoquímica) no qual chegou-se à • A Bacia Carajás, representada principalmente pela
conclusão de que estas teriam sido geradas em ambiente seqüência vulcanossedimentar do Grupo Grão Pará
de subducção. e pelos sedimentos de cobertura da Formação
Em contrapartida, as encaixantes do minério e os Águas Claras, repousa sobre rochas do embasa-
anfibolitos próximos aos halos de metamorfismo/ mento de alto grau metamórfico (Complexo Xin-
metassomatismo imposto pelos granitos, apresentam va- gu), muito próximo ao limite de terreno granito-gre-
lores de δ 18 O aumentados em decorrência de sua enstone contíguo (Supergrupo Andorinhas) (vide
interação com fluidos hidrotermais quentes, de provável Figura 3).
origem magmática. • Resultados robustos de geocronologia U-Pb e Pb-
Pb (Machado et al., 1991; Macambira e Lafon,
Evolução Geotectônica e Metalogenética da 1995; Macambira e Lancelot, 1996) indicam que a
Província Carajás evolução do Complexo Xingu e do Supergrupo
Andorinhas foi concomitante há ca. 2,8 Ga, enquan-
Com base nos dados disponíveis de geocronologia pode- to as rochas vulcânicas cálcio-alcalinas do Grupo
se concluir que a Província Carajás foi seqüencialmente Grão Pará foram geradas no intervalo de 2,76 a
afetada pelas seguintes fases tectônicas: (i) três fases 2,74 Ga (Wirth, 1986; Teixeira, 1994; Trendall et
compressionais no Neoarqueano; (ii) uma fase compres- al., 1998).
sional e uma extensional no Paleoproterozóico, e (iii) uma • A formação ferrífera bandada fácies óxido da For-
fase extensional ao final do Neoproterozóico, início do mação Carajás foi depositada no intervalo entre
Paleozóico. 2,75 e 2,74 Ga (Trendall et al., 1998).
• Fase pré-colisional, ao redor de 2,76 Ga (Neoar- • Episódios magmáticos tardios ocorreram no inter-
queano) (p. ex. Wirth, 1986), quando ocorreu a valo entre 2,74 e 2,70 Ga, identificados por intru-
deposição das rochas do Grupo Grão Pará, incluí- sões de soleiras e diques básicos e intermediários,
das a formação ferrífera bandada (Formação Ca- alguns destes últimos de tendência shoshonítica
rajás) e as rochas vulcânicas cálcio-alcalinas da (Meirelles, 1986; Dardenne et al., 1988; Teixeira,
Formação Parauapebas, em ambiente de arco de 1994; Mougeot, 1996; Trendall et al., 1998).
margem continental. Com base nas considerações acima, pode-se adotar
• Fase colisional, ao redor de 2,74 Ga (Neoarquea- para a Bacia Carajás o modelo de evolução geotectônica
no), identificada pelos granitóides intrusivos (p. ex. inicialmente proposto por Teixeira (1994), que envolve
Barros et al., 2001; Avelar et al., 1999). convergência oblíqua de terrenos, seguida pela colisão
• Fases de reativação crustal, ao redor de 2,55 Ga continente-continente durante o Arqueano (Figura 44).
(Neoarqueano), identificada pelos granitóides tar- Feições relevantes do modelo proposto são apresentadas
di-colisionais (p. ex. Souza et al., 1996; Machado abaixo:
et al., 1991). • A hipótese requer que a subducção tenha ocorrido
• Fase compressional, no intervalo de 2,09 a 2,08 Ga sob a borda sul do terreno de alto grau (Complexo
(Riaciano), quando ocorreu a colisão entre o Escu- Xingu), no intervalo de 2,76 a 2,74 Ga.
do das Guianas e o Bloco Amazônia Central, acom- • Anteriormente à colisão, ambas as margens conti-
panhada de anatexia crustal e geração de granitói- nentais passaram por evolução geológica comple-
des (p. ex. Ledru et al., 1994; Tassinari et al., xa. A margem passiva localiza-se na borda norte
2000). do terreno granito-greenstone (Supergrupo Ando-
• Fase extensional, relacionada à colocação de gra- rinhas), enquanto a margem ativa foi desenvolvida
nitos anorogênicos, ao redor de 1,88 Ga (Orosiri- sobre as rochas do Complexo Xingu.
ano) (p. ex. Machado et al., 1991; Dall’Agnol et • A subducção processou-se em ângulo oblíquo em
al., 2005). relação à margem continental ativa, provocando o
• Fase de fraturamento crustal generalizado, ao re- estabelecimento de sistema de cisalhamento sinis-
dor de 553±32 Ma (p. ex. Cordani et al., 1984), tral paralelo a esta margem. Este sistema, denomi-
nado de Cinturão Itacaiunas, é formado por exten-

143
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

sas falhas direcionais, afetando o embasamento e servadas) em meio a rochas fortemente deforma-
que foram mais tarde reativadas (pelo menos três das em regime rúptil-dúctil.
vezes) sob regime rúptil-dúctil (Pinheiro e Hol- • O metamorfismo predominante na área do Alvo
dsworth, 1997a, b). As reativações criaram duas GT46 é de grau médio, com a maior parte das ro-
grandes descontinuidades estruturais denominados chas re-equilibrada na fácies anfibolito e com a
respectivamente falhas Carajás e Cinzento. geração da paragênese anfibólio + plagioclásio ±
• Três episódios principais de reativação rúptil-dúctil granada nas rochas máficas, e de grunerita nas
do embasamento foram marcados por intrusões formações ferríferas. Entretanto, a existência de
granitóides no Cinturão Itacaiunas, respectivamente rochas com a paragênese granada + sillimanita
há 2573±2 Ma (U-Pb, zircão, Machado et al., aponta para aumento localizado do grau metamór-
1991), 2527±34 Ma (Rb-Sr, rocha total, Barros et fico até o limite da fácies granulito.
al., 1997) e 2560±37 (Pb-Pb, evaporação de zir- • Observa-se a formação de skarns (anfibolitos gra-
cão, Souza et al., 1996). nadíferos) nas zonas de contato dos anfibolitos com
• No intervalo de 1,89 a 1,87 Ga (Macambira e La- os granitóides intrusivos. Nas zonas distais dos gra-
fon, 1995), os terrenos de alto grau (Complexo nitos os anfibolitos não apresentam granada.
Xingu) e o de baixo grau metamórfico (Supergru- • Os dados de litogeoquímica permitem concluir que
po Andorinhas), anteriormente amalgamados, fo- as rochas máficas (gabros, basaltos e basaltos an-
ram invadidos por plutões de granitos anorogêni- desíticos) possuem assinatura toleítica, enquanto os
cos. Os granitos paleoproterozóicos de Carajás granitos (cinzento e róseo) possuem assinatura
foram colocados em níveis crustais rasos em re- cálcio-alcalina.
gime extensional, em resposta à atividade de su- • O granitóide com granada e sillimanita tem a mes-
perpluma mantélica (Teixeira et al., 2001; ma assinatura litogeoquímica e isotópica dos de-
Dall’Agnol et al., 2005). Os efeitos da atividade mais granitóides da área (ou seja, são rochas co-
de superpluma provocaram ruptura crustal, acom- genéticas). Por se tratar de rocha de fabric xisto-
panhada do extensivo vulcanismo continental so- so a gnáissico, com evidências de ter sido submeti-
bre o Cráton Amazônico (anteriormente denomi- da a processo mais intenso de deformação, deduz-
nado Vulcanismo Uatumã), que ocorreu no inter- se que a mesma seja expressão deformada e me-
valo de 1880 a 1760 Ma, durante as fases deno- tamorfisada dos granitos.
minadas Maloquinha, Iriri, Crepori e Teles Pires • Tanto as rochas máficas quanto os granitos apre-
(Santos et al., 2001, 2002). sentam evidências litogeoquímicas de terem sido
Finalmente, ao redor de 550 Ma, durante a fase de gerados em zona de subducção, permitindo a ca-
aglutinação do setor ocidental do Supercontinente Gon- racterização do ambiente geodinâmico de forma-
dwana, ocorreu processo generalizado de fraturamento ção dos litotipos do Alvo GT46 como um arco mag-
crustal de direção geral NS, sendo muitas das fraturas mático.
preenchidas por diques de diabásio. • De acordo com a litogeoquímica, os diques máfi-
cos tardios, não deformados, são toleíticos, gera-
Síntese dos Principais Resultados Obtidos no Alvo dos em ambiente intraplaca-continental.
GT-46 • Os resultados geocronológicos, obtidos pelos mé-
todos Sm-Nd (rocha total) e U-Pb (em monazita)
• Os estudos petrográficos e litogeoquímicos revela- indicam que o conjunto plutono-vulcano-sedimen-
ram que os protólitos dos anfibolitos do Alvo GT46 tar é arqueano, com idades da ordem 2,68 Ga para
são rochas plutônicas e subvulcânicas (gabróicas as rochas máficas e 2,66 Ga para os granitóides
a dioríticas), associadas a rochas vulcânicas de intrusivos.
composição basáltica a basáltico-andesítica. Inter- • O conjunto de rochas foi submetido a evento me-
caladas nas rochas vulcânicas ocorrem lentes de tassomático, com aporte de fluidos ricos em H2O,
formações ferríferas bandadas. Todo o conjunto K, Si, ETRL, B, Zr e íons metálicos diversos (Fe,
encontra-se intrudido por granitóides de granula- Cu, Au, Mo).
ção média a grossa, quase sempre porfiríticos. • O aporte de potássio nas rochas anfibolíticas é evi-
• A petrografia e a química mineral revelaram que denciado por: (a) substituição parcial a total de an-
as rochas foram submetidas a evento deformacio- fibólio por biotita; (b) substituição parcial a total de
nal de caráter heterogêneo, resultando em pods plagioclásio por K- feldspato; (c) desenvolvimento
das rochas originais (com texturas originais pre- de K-feldspato intersticial.

144
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Figura 44 – Modelo de evolução geotectônica para a Província Mineral de Carajás. Notar o provável comportamento
alóctone do Grupo Grão Pará, o qual teria se deslocado para longe da zona de colisão durante a fase compressional
arqueana. Este comportamento seria necessário para que uma boa parte das rochas do arco vulcânico fosse preservada,
incluindo a própria formação ferrífera bandada (Formação Carajás), com seus gigantescos depósitos de ferro. Os depósitos
de Fe-Cu-Au de Carajás foram gerados ao longo de diferentes fases geotectônicas. Existiriam, portanto, depósitos pré-
colisionais (p. ex. o depósito Alemão), depósitos tardi-colisionais, ligados a fases de granitogênese durante reativações
tectônicas do embasamento (p. ex. o depósito Salobo) e depósitos pós-colisionais, ligados à fase de superpluma mantélica,
como por ex. os depósitos da mina Sossego, Gameleira e do Alvo GT46.

145
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

• O aporte de ETRL é evidenciado pelo desenvolvi- • O estudo de inclusões fluidas, realizado em dife-
mento de mineralogia acessória, com destaque para rentes veios de quartzo do Alvo GT46, com desta-
a presença marcante de allanita. A entrada de boro que para os veios da zona mineralizada, revelou
no sistema é, por sua vez, evidenciada pelo desen- várias tipologias de IFs, com predominância de in-
volvimento de grandes cristais de turmalina. clusões primárias, polifásicas (L + V + 2 a 3 fases
• O metassomatismo de ferro teve como conseqü- sólidas), cujas fases sólidas são cloretos de Na, K
ência a substituição parcial a total dos Ca-anfibóli- e talvez Mg, cujas temperaturas de homogeneiza-
os por Fe-anfibólios, além do desenvolvimento ex- ção são da ordem de 340ºC.
pressivo de magnetita nas rochas anfibolíticas, prin- • Trata-se de fluidos salinos, de natureza magmáti-
cipalmente naquelas mais fortemente hidroterma- co-hidrotermal, que sofreram fracionamento duran-
lizadas, além da geração de veios e bolsões de quart- te ascensão e resfriamento, com separação das
zo-magnetita. fases ricas em CO2, sofrendo também mistura com
• As feições petrográficas indicam que o metas- fluidos meteóricos.
somatismo ferro-potássico esteve relacionado ao • O estudo de isótopos de S de sulfetos (calcopirita e
evento mineralizante (Fe-Cu-Au). Datações Ar- bornita) forneceu valores de δ34S em torno de zero,
Ar de biotita relacionada à zona mineralizada re- apontando para enxofre de origem magmática, cor-
velaram idades da ordem 1,8 Ga, compatíveis roborando os resultados obtidos no estudo de in-
com a idade Sm-Nd obtida para a geração dos clusões fluidas.
sulfetos. • Os valores isotópicos de δ18O, obtidos nas rochas
• As rochas mais intensamente mineralizadas do Alvo menos hidrotermalizadas, são compatíveis com os
GT46 são anfibolitos foliados e hidrotermalizados. descritos na literatura para rochas de derivação
• O minério consiste em associação de calcopirita- mantélica, em especial aquelas geradas em ambi-
bornita-covelita-calcocita, com magnetita associa- entes de subducção. Os valores de δ18O dos anfi-
da. bolitos mineralizados e encaixantes imediatas da
• As relações texturais do minério com as rochas mineralização são mais elevados e refletem a inte-
encaixantes apontam para sua colocação pós- ração dessas rochas com fluidos hidrotermais quen-
metamórfica. O fluido portador da mineralização tes, de derivação ígnea.
teria aproveitado canais pré-existentes de perco- • A interpretação dos resultados do estudo das in-
lação (zonas mais intensamente cisalhadas) e des- clusões fluidas e dos isótopos de S e O apontam
sa forma estaria explicada a associação espacial para fluido magmático-hidrotermal, de provável
do minério com as rochas anfibolíticas mais for- derivação granítica, como responsável pelo trans-
temente deformadas e hidrotermalizadas, ou do porte dos íons metálicos e do enxofre.
minério com os planos de fraturamento das ro- • Os metais foram provavelmente lixiviados das ro-
chas graníticas. Vale ainda ressaltar a presença chas do arco vulcânico, geradas durante os even-
do minério invadindo planos de clivagem de an- tos geotectônicos arqueanos.
fibólios. • Considerando que o evento formador do minério é
• Magnetita é a fase metálica precoce, sendo englo- paleoproterozóico e que a amostragem realizada
bada e invadida pelos sulfetos. Entre os sulfetos, no Alvo GT46 não detectou a presença de rocha
calcopirita é a fase inicial, seguida por bornita e, granítica com essa idade, deduz-se que a rocha
posteriormente, por calcocita e covelita. responsável pela geração dos fluidos mineralizan-
• Observa-se também a presença de sulfetos de co- tes não tenha sido seccionada pelos furos de son-
bre nas rochas graníticas, preenchendo fraturas e dagem estudados.
fissuras (stringers ) e mais raramente dissemina- • Um modelo hipotético para a metalogênese do de-
dos. pósito de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 aproxima-se
• Molibdenita presente em rochas anfibolíticas e gra- daquele proposto para o depósito de Olympic Dam,
níticas do Alvo GT46 é arqueana, conforme resul- Austrália, de acordo com Haynes et al. (1995).
tados de datações Re-Os. As idades obtidas rela- • O conjunto de dados obtidos no Alvo GT/46 é com-
cionam molibdenita aos protólitos dos anfibolitos e patível com os descritos na literatura para a família
aos granitóides arqueanos intrusivos. Não foi en- de depósitos do tipo Cu-Fe-Au.
contrada molibdenita paleoproterozóica. • Comparado com outros alvos mineralizados a Cu-
Fe-Au no âmbito da Província Carajás, o Alvo GT/
46 mostra fortes similaridades com os depósitos de

146
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Salobo e Gameleira (Lindenmayer, 1980; Laux et ta, albita, allanita e turmalina; (vii) mineralização sul-
al., 2003). Dentre as principais similaridades des- fetada com calcopirita, bornita, covelita e calcocita
tacam-se: (i) presença de protólitos gabróicos me- como sulfetos principais; (viii) presença dominante
tamorfisados, com texturas subofíticas a ofíticas de magnetita na zona mineralizada em sulfetos; (ix)
reliquiares, com diferentes graus de alteração hi- idade paleoproterozóica da mineralização.
drotermal e desenvolvimento de biotita, anfibólio
actinolítico, sericita, calcita, allanita, uraninita e tur- Orientação para Trabalhos de Prospecção Regional
malina; (ii) associação de sulfetos de cobre (calco-
pirita, bornita, covelita, calcocita, dentre outros, com A partir da interpretação de todos os dados de traba-
molibdenita subordinada) e magnetita; (iii) presen- lhos anteriores e da presente pesquisa, ficou caracteriza-
ça de formações ferríferas bandadas metamorfi- do que:
sadas; (iv) presença de granitóides de composição • O depósito de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 é de idade
plagiogranítica a álcali-felspato sienítica; (v) exis- paleoproterozóica (~1,8 Ga), embora hospedado em
tência de alteração ferro-potássica claramente re- rochas arqueanas.
lacionada ao evento mineralizante; (vi) existência • A mineralização é tectônicamente controlada, o
de assembléia de minerais relacionados à alteração minério ocorrendo nos planos de foliação das ro-
hidrotermal, com destaque para a presença de bioti- chas deformadas em regime rúptil-dúctil.

Figura 45 – Imagem Landsat da Serra dos Carajás mostrando a localização de depósitos paleoproterozóicos de Fe-Cu-Au,
controlados por falhamentos de direção geral NE-SW.

147
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

• O depósito do Alvo GT46 situa-se no contexto de Além disso, nas partes superiores de depósitos deste tipo,
falhas e fraturas de direção geral NNE-SSW, que em zonas de platôs preservados, poderiam ocorrer depó-
cortam transversalmente a estruturação E-W da sitos de ouro do tipo Igarapé Bahia, originados de proces-
Serra dos Carajás (Figura 104). sos supergênicos.
• O episódio de fraturamento crustal ocorreu após
a última fase intrusiva do evento Uatumã (suite Agradecimentos
granítica Maloquinha, 1840±26 Ma), durante o
breakup continental da fase Crepori (Santos et Os autores agradecem ao Prof. Onildo Marini,
al., 2001; 2002). digníssimo secretário- executivo da ADIMB, pelo convite
• Outros depósitos de Fe-Cu-Au da Província Ca- para realizar a presente pesquisa e ao geólogo Marco
rajás, que provavelmente compartilham do mes- Antonio Ferreira (CVRD) pelo apoio durante os trabalhos
mo controle estrutural em ambiente de superplu- de campo. Agradecimentos também são devidos ao Dr.
ma mantélica são os depósitos Gameleira (Lin- Sundaram Iyer (Calgary University, Canada) pelas
denmayer et al., 2001b) e Sequeirinho, da mina análises de isótopos de enxofre; à Dra. Holly Stein
do Sossego (Morais e Alkmim, 2005). (Colorado State University, EUA), pelas análises Re-Os
A identificação de todas as falhas e fraturas que com- em molibdenita e ao Dr. Kazuo Fuzikawa (CDTN) pelo
põem o sistema rúptil-dúctil relacionado à fase Crepori estudo de inclusões fluidas. Finalmente, os autores
é recomendada, uma vez que a atividade hidrotermal ao expressam sua gratidão ao Prof. Reinhardt Fuck pela
longo destas descontinuidades poderia gerar depósitos criteriosa revisão do texto.
primários do tipo Sossego-Gameleira-GT46 (Figura 45).

REFERÊNCIAS
Adshead, N.D.; Voulgaris, P; Muscio, V.N., 1998. in Berkman, Barton, M.D.; Johnson, D.A., 1996. Evaporitic-source model
D.A.; Mackenzie, D.H. (eds.), Geology of Australian and for igneous related Fe oxide-(REE-Cu-Au-U)
Papua New Guinean Mineral Deposits, The Australasian mineralisation. Geology, v. 24:259-262.
Institute of Mining and Metallurgy, Melbourne, p. 793- Beisiegel, V.R.; Bernardelli, A.L.; Drummond, N.F.; Ruff., A.;
799. Tremaine, J.W., 1973. Geologia e Recursos Minerais da
Araújo, O.J.B.; Maia, R.G.N.; João, X.S.J.; Costa, J.B.S., 1988. A Serra dos Carajás. Revista Brasileira de Geociências, v.
megaestruturação arqueana da Folha Serra dos Carajás. 3:215-242.
Congresso Latinoamericano de Geologia VII, Resumos
Blundy, J.D. and Holland, T.J.B., 1990. Calcic amphibole
Expandidos, p. 324-333.
Avelar, V.G.; Lafon, J.M.; Correia Jr., F.C.; Macambira, M.J.B., equilibria and a new amphibole-plagioclase
1999. O magmatismo arqueano da região de Tucumã, geothermometer. Contributions to Mineralogy and
Província Mineral de Carajás: Novos dados Petrology, v. 104:208-224.
geocronológicos. Revista Brasileira de Geociências, v. Bowers, T.S.; Helgeson, H.C., 1983. Calculation of the
29:453-460. thermodynamic and geochemical consequences of non-
Baker, T., 1998. Alteration, mineralization, and fluid evolution at ideal mixing in the system H2O-CO2-NaCl on phase
the Eloise Cu-Au deposit, Cloncurry district, northwest relations in geologic systems: equation of state for H2O-
Queensland, Australia. Economic Geology, v. 93:1213-1236. CO2-NaCl fluids at high pressures and temperatures.
Bard, J. P., 1970. Composition of hornblendes formed during Geochimica et Cosmochimica Acta, v. 47:1247-275.
the Hercynian progressive metamorphism of the Aracena Conan-Davies, M.S.M., 1987. A sheet silicate and fluid inclusion
metamorphic belt (SW Spain). Contributions to study of the mine area DNW, Olympic Dam, South
Mineralogy and Petrology, v. 28:117-137.
Australia. Dissertação de Mestrado, Australian National
Barros, C.E.M.; Dall’Agnol, R.; Barbey, P.;Boullier, A.M., 1997,
Geochemistry of the Estrela Granite Complex, Carajás University, Canberra, Austrália.
region, Brazil: an example of an Archean A-type granitoid. Cordani, U.G.; Tassinari, C.G.C.; Kawashita, K., 1984. A Serra de
Journal of South American Earth Sciences, v. 10:321-330. Carajás como região limítrofe entre províncias tectônicas.
Barros, C.E.M.; Dall’Agnol, R; Lafon, J.M.; Teixeira, N.P.; Ciências da Terra, v. 9:6-11.
Ribeiro, J.W., 1992. Geologia e Geocronologia Rb-Sr do CPRM, 2004. Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo - GIS
Gnaisse Estrela, Curionópolis, PA. Boletim do Museu Brasil, Folha SB.22– Araguaia.
Paraense Emilio Goeldi, Série Ciências da Terra, v. 4:83- Creaser, R.A., 1996. Petrogenesis of a Mesoproterozoic quartz
102. latite-granitoid suite from the Roxby Downs area, South
Barros, C.E.M.; Macambira, M.J.B.; Barbey, P., 2001. Idade de Australia. Precambrian Research, v. 79: 371-394.
zircão do Complexo Granítico Estrela: Relações entre Dall’Agnol, R. ; Teixeira, N.P.; Rämö, O.T. ; Moura, C.A.V. ;
magmatismo, deformação e metamorfismo na Província Macambira, M.J.B; Oliveira, D.C., 2005. Petrogenesis of
Metalogenética Carajás in Simpósio de Geologia da
the Paleoproterozoic, rapakivi, A-type granites of the
Amazônia VII, CD-ROM, p. 17-20.

148
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Archean Carajás Metallogenic Province, Brazil. Lithos, v. Hitzman, M.W.; Oreskes, N.; Einaudi, M.T., 1992. Geological
80:101-129. characteristics and tectonic setting of Proterozoic iron
Dalstra, H.; Guedes, S., 2004. Giant hydrothermal hematite oxide (Cu-U-Au-REE) deposits. Precambrian Research v.
deposits with Mg-Fe metasomatism: A comparison of the 58:241-287.
Carajás, Hamersley, and other iron ores. Economic Holland, T.J.B.; Blundy, J.D., 1994. Non-ideal interactions in
Geology, v. 99:1793-1800. calcic amphiboles and their bearing on amphibole-
Dardenne, M.A.; Ferreira Filho, C.F.; Meirelles, M.R., 1988. The plagioclase thermometry. Contributions to Mineralogy and
role of shoshonite and calc-alkaline suites in the tectonic Petrology, v. 116:433-447.
evolution of the Carajás District, Brazil. Journal of South Iiyama, J.T., 1965. Influence des anions sur les équilibres
American Earth Sciences, v. 1:363-372. d’échange d’ions Na-K dans les feldspaths alcalins à 600ºC
Dias, C.S.; Macambira, M.J.B.; Dall’Agnol, R.; Soares, A.D.V.; sous une pression de 1000 bars. Bullétin de la Societé
Barros, C.E.M., 1996. Datação de zircões de sill de Française de Minéralogie et Cristallographie, v. 88:618–
metagabro: comprovação da idade arqueana da Formação 622.
Águas Claras, Carajás, Pará in Simpósio de Geologia da Irvine, T.N.; Barager, W.R.A., 1971, A guide to the chemical
Amazônia IV, Sociedade Brasileira Geologia, Belém, Anais, classification of the common volcanic rocks. Canadian
p. 376-379. Journal of Earth Sciences, v. 8: 523-548.
DOCEGEO, 1988. Revisão Litoestratigráfica da Província Jensen , L.S., 1976. A new cation plot for classifying subalkalic
Mineral de Carajás in Congresso Brasileiro de Geologia volcanic rocks. Ontario Division of Mines. Misc. Paper
XXXV, Sociedade Brasileira de Geologia, Belém, Anexo 66.
aos Anais, p. 11-54. Kostyuk, E. A.; Sobolev, V. S., 1969. Paragenetic types of
Engel, E.J.; Engel, C.G., 1962. Hornblendes formed during calciferous amphiboles of metamorphic rocks. Lithos, v.
progressive metamorphism of amphibolites, northwest 2:67-82.
Adirondack Mountains, N.Y. Bulletin Geological Society Kuno, H., 1968. Differentiation of basalt magmas in Hess, H.H.
of America, v. 73:1499-1514. and Poldervaart A. (eds), Basalts: The Poldervaart treatise
Ettner, D.C.; Bjørlykke, A; Andersen, T., 1993. Fluid evolution on rocks of basaltic composition, Interscience, New York,
and Au-Cu genesis along a shear zone: a regional fluid v. 2:623-688.
inclusion study of shear zone-hosted alteration and gold Laux, J.H.; Lindenmayer, Z.G.; Santos, T.R., 2003. Características
and copper mineralization in the Kautokeino greenstone gerais dos depósitos do tipo óxido de ferro (Cu-Au-ETR):
belt, Finnmark, Norway. Journal of Geochemical O exemplo da Província Mineral de Carajás in Ronchi, L.H.;
Exploration, v. 49:233-267. Althoff, F.J. (eds.) Caracterização e Modelamento de
Ferreira Filho, C.F., 1984. Geologia e Mineralizações Sulfetadas Depósitos Minerais, Editora UNISINOS, p. 41-66.
do Prospecto Bahia, Província Mineral de Carajás. Leake, B. E., 1965. The relationship between tetrahedral
Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília aluminum and the maximum possible octahedral aluminum
(inédito), 112 p. in natural calciferous and subcalciferous amphiboles.
Galarza, M.A.T.; Macambira, M.J.B.; Maurity, C.W.; Meireles, American. Mineralogist, v. 50:843-851.
Leake, B.E., 1978, Nomenclature of Amphiboles. Mineralogical
H.P., 2001. Idade do depósito Igarapé Bahia (Província
Magazine, v. 42:533–569.
Mineral de Carajás, Brasil), com base em isótopos de Pb in
Leake, B.E.; Wooley, A.R.; Arps, C.E.S.; Birch, W.D.; Gilbert,
Simpósio de Geologia da Amazônia VII, Belém, Workshop M.C.; Grice, J.D.; Hawthorne, F.C.; Kato, A.; Kisch, H.J.;
1, CD-ROM, p. 116-119. Krivovichev, V.G.; Linthout, K.; Laird, J.; Mandarino, J.;
Graham, C.M.; Powell, R., 1984. A garnet-hornblende Maresch, W.V.; Nickel, E.H.; Rock, N.M.S.; Schumacher,
geothermometer: calibration, testing and application to J.C.; Smith, D.C.; Stephenson, N.C.N.; Ungaretti, L.;
the Pelona Schist, Southern California. Journal of Whittaker, E.J.W.; Youzhi, G., 1997. Nomenclature of
Metamorphic Geology, v. 2:13-31. amphiboles. Report of the Subcommittee on Amphiboles
Harris, N.B.W.; Pearce, J.A.; Tindle, A.G., 1986. Geochemical of the International Mineralogical Association Commission
characteristics of collision zone magmatism in Ries, A.C. on New Minerals and Mineral Names. European Journal
and Coward, M.P (eds), Collision Tectonics, Geological of Mineralogy, v. 9:623-651.
Society of London Special Publication No. 19, pp. 67-81. Ledru, P.; Johan, V; Milési, J.P.; Tegyey, M., 1994. Markers of
Haynes, D.W.; Cross, K.C.; Bills, R.T.; Reed, M.H., 1995. Olympic the last stages of the Palaeoproterozoic collision: evidence
Dam ore genesis: A fluid-mixing model. Economic Geology, for a 2 Ga continent involving circum-South Atlantic
vol. 90: 281-307. provinces. Precambrian Research, v. 69:169-191.
Lindenmayer, Z.G., 1980. Salobo Sequence, Carajás, Brazil:
Hirata, W.K.; Beisiegel, W.R.; Bernardelli, A.L.; Faria, N.F.;
Geology, Geochemistry and Metamorphism. Tese de
Saueressig, R.; Meireles, E.M.; Teixeira, J.T., 1982. Serra
Doutoramento, Univ. Western Ontario, Canadá, 406 p.
dos Carajás – Pará State: Iron, Manganese, Copper and Lindenmayer, Z.G.; Laux, J. H.; Teixeira, J.B.G., 2001a.
Gold Deposits in International Symposium on Archean Considerações sobre a origem das formações ferríferas da
and Early Proterozoic Geologic Evolution and Formação Carajás, Serra dos Carajás. Revista Brasileira de
Metallogenesis (ISAP), Salvador, Abstracts and Geociências, v. 31:21-28.
Excursions, p. 40-77. Lindenmayer, Z.G.; Laux, J.H.; Vieira, A.C., 1995. O papel da
Hitzman, M.W., 2000. Iron oxide-Cu-Au deposits: what, where, alteração hidrotermal nas rochas da Bacia Carajás. Boletim
when, and why? in Porter. T.M. (ed.), Hydrothermal Iron do Museu Paraense Emílio Goeldi, Série Ciências da Terra,
Oxide Copper-Gold and Related Deposits: A Global v. 7:125-145.
Perspective, Volume 1, PGC Publishing, Adelaide, Australia, Lindenmayer, Z.G.; Pimentel, M.M.; Ronchi, L.H.; Althoff, F.J.;
p. 9-25. Laux, J.H; Araújo, J. C.; Fleck, A.; Baecker, C.A.; Carvalho,

149
Geologia e Mineralizações de Fe-Cu-Au do Alvo GT46 (Igarapé Cinzento), Carajás

D.; Nowatzki, A.C., 2001b. Geologia do Depósito de Cu- and global examples in Hagemann, S.G. and Brown, E.B
Au de Gameleira, Serra dos Carajás, Pará in Jost, H. et al. (eds), Reviews in Economic Geology, SEG Reviews, v. 13:69-
(orgs.). Caracterização de Depósitos Auríferos Brasileiros. 101.
Brasília, 2001, v. 1:79-139. Peacock, M.A., 1931, Classification of igneous rock series,
Macambira, E.M.B.; Tassinari, C.C.G., 1998. Estudos Sm-Nd no Journal of Geology, v. 39: 54-67.
Complexo Máfico-ultramáfico da Serra da Onça – Sul do Pearce, J.A. 1982. Trace element characteristics of lavas from
Pará. Implicações geocronológicas e geotectônicas in destructive plate boundaries. In: Thorpe, R.S. (ed),
Congresso Brasileiro de Geologia XL, Sociedade Brasileira Andesites. New York, Wiley & Sons, p. 525-548.
de Geologia, Belo Horizonte, Anais, p. 463. Pearce, J.A., Harris, N.B.W.; Tindle, A.G., 1984. Trace element
Macambira, J.B.; Schrank, A., 2002. Químio-estratigrafia e discrimination diagrams for the tectonic interpretation of
evolução dos jaspilitos da Formação Carajás (PA). Revista granitic rocks, Journal of Petrology, v. 25:956-983.
Brasileira de Geociências, v. 32:567-578. Pearce, J.A.; Cann, J.R., 1973. Tectonic setting of basic volcanic
Macambira, M.J.B.; Lafon, J.M., 1995. Geocronologia da rocks determined using trace element analyses. Earth
Província Mineral de Carajás; Síntese dos dados e novos Planetary Science Letters. v. 19:290-300.
desafios. Boletim Museu Paraense Emilio Goeldi, Série Pearce, J.A.; Norry, M.J., 1979, Petrogenetic implications of Ti,
Ciências da Terra, v. 7:263-288. Zr, Y, and Nb variations in volcanic rocks. Contributions
Macambira, M.J.B.; Lancelot, J.R., 1996. Time constraints for to Mineralogy and Petrology, v. 69:33-47
the formation of the Archean Rio Maria Crust, Pearce, J.A.; Peate, D.W., 1995. Tectonic implications of the
Southeastern Amazon Craton, Brazil. International Geology composition of volcanic arc magmas: Annual Reviews in
Review, v. 38:1134-1142. Earth and Planetary Science, v.23, p.251-285.
Machado, N.; Lindenmayer, Z.; Krogh, T.E.; Lindenmayer, D., Perring, C.S.; Pollard, P.J.; Dong, G.; Nunn, A.J.; Blake, K.L.,
1991. U-Pb geochronology of Archean magmatism and 1999. Metallogeny of the Lightning Creek Cu-Au prospect,
basement reactivation in the Carajás area, Amazon Shield, Mount Isa inlier, Australia. in Stanley, C.J. et al. (eds.),
Brazil. Precambrian Research, v. 49:329-354. Mineral deposits: Processes to processing. Rotterdam,
Marschik, R.; Mathur, R.; Ruiz, J.; Laveille, R.A.; Almeida, A.J., Balkema, p. 413–416.
2005. Late Archean Cu-Au-Mo mineralization at Gameleira Perring, C.S.; Pollard, P.J.; Dong, G.; Nunn, A.J.; Blake, K.L.,
and Serra Verde, Carajás Mineral Province, Brazil: 2000. The Lightning Creek sill complex, Cloncurry district,
constraints from Re-Os molybdenite ages. Mineralium northwest Queensland: A source of fluids for Fe-oxide
Deposita, v. 39:983-991. ­Cu­-Au mineralization and sodic-­calcic alteration.
Meireles, E.M., Hirata, W.K.; Amaral, A.F.; Medeiros Filho, Economic Geology, v. 95: 1067-1089.
C.A.; Gato, W.C., 1984. Geologia das Folhas Carajás e Rio Pinheiro, R.V.L.; Holdsworth, R.E., 1997a. The structure of the
Verde, Província Mineral de Carajás, Estado do Pará in Carajás N-4 ironstone deposit and associated rocks:
Congresso Brasileiro de Geologia XXXIII, Sociedade relationship to Archaean strike-slip tectonics and basement
Brasileira de Geologia, Rio de Janeiro, Anais, v. 5:2164- reactivation in the Amazon region, Brazil. Journal of South
2174. American Earth Sciences, v. 10:305-319.
Meirelles, M.R., 1996. Geoquímica e Petrologia dos Jaspilitos e Pinheiro, R.V.L.; Holdsworth, R.E., 1997b. Reactivation of
Rochas Vulcânicas Associadas, Grupo Grão Pará, Serra Archean strike-slip fault systems, Amazon Region, Brazil.
dos Carajás, PA. Dissertação de Mestrado, Universidade Journal of the Geological Society, London, v. 154:99-103.
de Brasília (inédita), 150 p. Pollard, P.J., 2000. Evidence of a magmatic fluid and metal source
Morais, R.P.S., Alkmim, F.F., 2005. O controle litoestrutural da for Fe-Oxide Cu-Au mineralization. in Porter, T.M. (ed.),
mineralização de cobre do depósito Sequeirinho, Canã dos Hydrothermal Iron Oxide Copper-Gold and Related
Carajás, PA. I Simpósio Brasileiro de Metalogenia, Deposits: A Global Perspective, Volume 1, PGC Publishing,
Gramado, RS, CD-ROM. Adelaide, Australia, p. 27-41.
Mougeot, R., 1996. Étude de la Limite Archéen-Protérozoïque Pollard, P.J., 2001. Sodic(-calcic) alteration associated with Fe-
et des Minéralisations Au ±U Associées. Exemples des oxide Cu-Au deposits: an origin via unmixing of magmatic-
Régions de Jacobina (État de Bahia, Brésil) et des Carajás derived H2O-CO2-salt fluids. Mineralium Deposita, v. 36:
(État de Pará, Brésil). Tese de Doutorado (inédita), 93-100.
Universidade Montpellier II, França, 310 p. Pollard, P.J.; Mark, G.; Mitchell, L.C., 1998. Geochemistry of
Mullen, E.D., 1983. MnO/TiO2/P2O5: a minor element post-1540 Ma granites in the Cloncurry district, northwest
discriminate for basaltic rocks of oceanic environments Queensland. Economic Geology, v. 93:1330-­1344.
and its implications for petrogenesis. Earth Planetary Porter, T.M., 2000. Hydrothermal iron-oxide copper-gold &
Science Letters, v. 62:53-62. related ore deposits in T.M. Porter (ed.), Hydrothermal
Nogueira, A.C.R.; Truckenbrodt, W., 1994. Evidências de Maré Iron Oxide Copper-Gold and Related Deposits: A Global
e Tempestades na Formação Águas Claras, Pré-Cambriano, Perspective, Volume 1, PGC Publishing, Adelaide, Australia,
Serra dos Carajás. Acta Geologica Leopoldensia, v. 40:07- p. 3-5.
30. Rämö, O.T.; Haapala, I., 1995. One hundred years of rapakivi
Oliver, N.H.S., 1995. Hydrothermal history of the of the Mary granite. Mineralogy and Petrology, v. 52:129-185.
Kathleen Fold Belt, Queensland, Australia. Australian Requia, K.; Stein, H.; Fontboté L.; Chiaradia M., 2003. Re–Os
Journal of Earth Sciences, v. 42:267-279. and Pb–Pb geochronology of the Archean Salobo iron
Partington G.A.; Williams, P.J., 2000. Proterozoic lode gold and oxide copper–gold deposit, Carajás mineral province,
(iron)-copper-gold deposits: A comparison of Australian northern Brazil, Mineralium Deposita, v. 38:727-738.

150
Caracterização de Depósitos Minerais em Distritos Mineiros da Amazônia

Rezende, N.P.; Barbosa, A.L.M., 1972. Distrito Ferrífero da Serra Cordani et al. (eds.) Tectonic Evolution of South America,
dos Carajás, Estado do Pará. Companhia Vale do Rio Doce, Rio de Janeiro, XXXI International Geological Congress,
Companhia Meridional de Mineração. Relatório Técnico 2000, p. 41-95.
entregue ao Departamento Nacional da Produção Mineral Teixeira, J.B.G., 1994. Geochemistry, Petrology, and Tectonic
(DNPM), Rio de Janeiro, Vol. I: Texto, 250 p.; Vol. II: Mapas Setting of Archean Basaltic and Dioritic Rocks from the
e Seções Geológicas, 119 p. N4 Iron Deposit, Serra dos Carajás, Brazil. Tese PhD, The
Roedder, E., 1984. Fluid Inclusions. Reviews in Mineralogy 12, Pennsylvania State University, University Park, PA, EUA
Mineralogical Society of America. Washington, 644 p. (inédito), 175 p.
Rotherham, J.F.; Blake, K.L.; Cartwright, I.; Williams, P.J., 1998. Teixeira, J.B.G.; Eggler, D.H., 1994. Petrology, Geochemistry and
Stable isotope evidence for the origin of the Tectonic Setting of Archean Basaltic and Dioritic Rocks
Mesoproterozoic Starra Au-Cu deposit, Cloncurry district, from the N4 Iron Deposit, Serra dos Carajás, Pará. Acta
northwest Queensland. Economic Geology, v. 93:1435- Geologica Leopoldensia, v. 40:71-114.
1449. Teixeira, J.B.G.; Misi, A.; Vasconcelos, P. M., 2001. The Wilson
Santos, J.O.S.; Groves, D.I.; Hartmann, L.A.; Moura, M.A.; Cycle, Megaplume Activity, and Paleoproterozoic
McNaughton, N.J., 2001, Gold deposits of the Tapajós Metallogenesis in Simpósio de Geologia da Amazônia VII,
and Alta Floresta domains, Tapajós”Parima orogenic belt, Sociedade Brasileira de Geologia, Belém, Seção II
Amazon Craton, Brazil. Mineralium Deposita, v.. Geotectônica, Resumos Expandidos (CD-ROM).
36:278"299. Thompson, R.N., 1984. Dispatches from the basalt front. 1.
Santos, J.O.S.; Hartmann, L.A.; McNaughton, N.J.; Fletcher, Experiments. Proc. Geological Association, v. 95:249-262.
I.R., 2002, Timing of mafic magmatism in the Tapajós Tolbert, G.E.; Tremaine, J.W.; Melcher, G.C.; Gomes, C.B., 1971.
Province, Brazil and implications for the evolution of the The recently Discovered Serra dos Carajás Iron Deposits,
Amazon Craton: Evidence from baddeleyite and zircon U- Northern Brazil. Economic Geology, 66:985-994.
Pb SHRIMP geochronology. Journal of South American Trendall, A.F.; Basei, M.A.S.; Laeter, J.R.; Nelson, D.R., 1998.
Earth Sciences, v. 15:409"429. SHRIMP zircon U-Pb constraints on the age of the Carajás
Schumacher, J.C., 1991. Empirical ferric iron corrections: Formation, Grão Pará Group, Amazon Craton. Journal of
necessity, assumptions and effects on selected South American Earth Sciences, v. 11:265-277.
geothermobarometers. Mineralogical Magazine, v. 55:3- Ullrich, T.D.; Clark, A.H., 1999. The Candelaria copper-gold
18. deposit, Region III, Chile: Paragenesis, geochronology
Shervais, J.W., 1982. Ti-V plots and the petrogenesis of modern and fluid composition in Stanley, C.J. et al. (eds.), Mineral
and ophiolitic lavas. Earth Planetary Science Letters, v.. deposits: Processes to processing. Balkema, Rotterdam,
59:101-118. 201-204.
Souza, S.R.B.; Macambira, M.J.B; Sheller, T., 1996. Novos dados Veneziani, P.; Santos, A.R.; Paradella, W.R., 2004. A evolução
geocronológicos para os granitos deformados do Rio tectono-estratigráfica da Província Mineral de Carajás: Um
Itacaiunas (Serra dos Carajás): Implicações estratigráficas modelo com base em dados de sensores remotos orbitais
in Simpósio de Geologia da Amazônia V, Sociedade (SAR-C RADARSAT-1, TM LANDSAT-5), aerogeofísica
Brasileira de Geologia, Belém, Resumos Expandidos, p. e dados de campo. Revista Brasileira de Geociências, v.
380-383. 34:67-78.
Tallarico, F.H.B.; McNaughton, N.J.; Groves, D.I.; Fletcher, I.R.; Winter, J.D., 2001. An introduction to Igneous and Metamorphic
Figueiredo, B.R.; Carvalho, J.T.; Rego, J.L.; Nunes, A.R., Petrology. Prentice-Hall, 699p.
2004. Geological and SHRIMP II U-Pb contraints on the Wirth, K.R.; Gibbs, A.K.; Olszewski Jr., W.J. 1986. U-Pb zircon
age and origin of the Breves Cu-Au-(W-Bi-Sn) deposit, ages of the Grão Pará group and Serra dos Carajás granite,
Carajás, Brazil. Mineralium Deposita, v. 39:68-86. Pará Brazil. Revista Brasileira de Geociências, v. 16:195-
Tassinari, C.C.G.; Bettencourt, J.S.; Geraldes, M.C.; Macambira, 200.
M.J.B.; Lafon, J.M., 2000. The Amazonian Craton in

151

Você também pode gostar