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Departamento de Solos e Engenharia Agrícola, Universidade Federal do Paraná. Rua dos
Funcionários, 1.540, 80035-050, Curitiba (PR).
vanderfm@ufpr.br
2/
Departamento de Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal de Pelotas,
Caixa Postal 354, 96.010-900, Pelotas (RS).
rosamvc@ufpel.edu.b; lfspin@ufpel.edu.br
Conteúdo
INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................................................... 25 2
SBCS, Viç osa , 20 09. Quími ca e Mineral ogia do Solo, xxxxp. (eds. Vander de Freitas Mel o e Luís
Reynaldo Ferracciú Alleoni).
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INTRODUÇÃO
O quartzo é o principal mineral das frações areia e silte dos solos (Figura 1). O solo
velho originado de granito (Figura 1a) apresenta, basicamente, apenas quartzo na fração
areia. Como esse mineral não contém elementos essenciais às plantas, o solo em questão
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apresenta baixa reserva de nutrientes. Por outro lado, a fração areia do solo jovem
originado de micaxisto (Figura 1b) apresenta, além de quartzo, grande quantidade de
mica parcialmente intemperizada (mineral com aspecto dourado). Como resultado, com
o processo contínuo de intemperismo químico dos minerais micáceos, há intensa liberação
de nutrientes para as plantas (principalmente K e Mg). Já o Si, Al e Fe podem-se recombinar
na solução do solo e formar minerais secundários (por exemplo, caulinita e goethita),
aumentando o teor de argila do solo (neogênese).
(a) (b)
Figura 1. Fotografias da fração areia (minerais com diâmetro entre 0,05 e 2 mm) de dois solos
com composição mineralógica distinta: (a) solo velho originado de granito; (b) solo jovem
originado de micaxisto.
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Quadro 2. Teores totais de elementos maiores (SiO2, Al 2O3, CaO, MgO, Na 2O e K 2O) e menores
(TiO2, MnO e P2O5) de algumas rochas
Feldspato
Óxidos Peridotito(1) Basalto(1) Granodiorito(2) Sienogranito(2) Alcalino Micaxisto(1) Metarenito(1)
Granito2
______________________________________ g kg-1 ________________________________________
SiO2 402,0 529,0 616,0 683,8 776,2 471,0 920,6
Al2O3 18,2 119,3 169,4 152,5 118,6 170,0 36,0
Fe2O3+FeO 92,9 145,2 48,6 39,2 13,4 143,2 2,5
CaO 4,0 77,7 26,9 24,1 3,4 4,4 6,3
MgO 360,0 35,7 18,3 11,9 0,7 54,5 0,7
Na2O 5,9 32,0 37,6 29,7 40,3 16,8 6,8
K2O 1,0 19,9 44,5 49,5 47,9 28,2 14,5
TiO2 3,0 15,8 7,1 5,8 1,4 24,7 0,6
MnO 1,0 2,0 1,0 0,7 0,6 2,0 0,2
P2O5 1,0 2,1 3,4 2,0 0,2 2,9 0,3
P.F(3) 110,0 14,9 9,9 5,3 3,2 58,7 4,0
soma 999,0 993,6 982,7 1004,5 1005,9 976,4 992,5
(1) (2) (3)
Fonte: IBGE (1986); Philipp (1998); perda ao fogo (por ignição).
Feldspato
Elemento Peridotito(1) Basalto(1) Granodiorito(2) Sienogranito(2) Alcalino Micaxisto(1)
Granito(2)
______________________________________ mg kg-1 _______________________________________
Ba 14 480 869 843 15 1320
Sr 50 270 337 288 3 50
Zr 10 340 131 213 153 210
V 76 280 40 45 2 224
Y 10 67 14 66 274 40
La 30 30 40 71 36 30
Nb 20 20 16 26 19 51
Cr 4200 37 41 31 28 73
Ni 1940 60 18 10 2 51
Co 124 50 11 8 1 50
(1) (2)
Fonte: IBGE (1986); Philipp (1998).
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Óxidos e Hidróxidos
A classe dos óxidos é bastante diversa, incluindo minerais bastante duros, como o
coríndon (dureza 9 na escala de Mohs, a qual varia de 1 a 10), e outros mais macios, como
a cuprita (dureza = 3,5-4), minerais metálicos (hematita) e gemas (coríndon: rubi e safira
e crisoberilo: alexandrita e olho-de-gato), com cores escuras (a maioria), mas também
intensamente coloridos.
A grande diversidade dos óxidos pode ser atribuída à abundância do O na crosta
terrestre. A maioria combina com outros elementos formando ânions complexos, como
CO32-, BO33-, SO42-, NO3-, SiO44- e PO43-, que deveriam ser considerados óxidos, o que reduziria
as classes minerais a quatro: elementos nativos, halóides, sulfetos e óxidos, os quais
compreenderiam mais de 90 % dos minerais conhecidos. Ficam, no entanto, restritos às
classe dos óxidos apenas aqueles minerais com cátions combinados com íons simples de O.
Os óxidos podem ser classificados em óxidos simples, múltiplos, contendo hidroxila
(oxihidróxidos) e hidróxidos, além de óxidos hidratados (Quadro 4). Simplificadamente,
são, com freqüência, agrupados em óxidos e hidróxidos.
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De acordo com a relação dos raios iônicos e da ocupação dos espaços, os óxidos
podem ser classificados em estruturas isométricas, hexagonais, tetragonais e
ortorrômbicas (veja capítulo II). São hexagonais: água, zincita, óxidos do tipo A 2 O3
(hematita, coríndon e ilmenita) e brucita. São ortorrômbicos: oxihidróxidos, crisoberilo e
columbita-tantalita. De maneira geral, existem dois tipos de estrutura nos dióxidos
(Quadro 5): uma, na qual cada cátion tem oito O nos vértices de um cubo (coordenação 8),
originando uma estrutura isométrica; e outra, na qual existem seis O em torno de cada
cátion (coordenação 6). Nesse último caso, somente metade dos sítios possíveis fica
preenchida, de forma a manter a neutralidade elétrica, e assim ocorre deformação no
arranjo octaédrico, originando uma simetria mais baixa, tetragonal.
Quadro 5. Relação dos raios iônicos (cátion/oxigênio), coordenação e simetria nos dióxidos
nm
Mn 0,060 0,45 6 tetragonal Pirolusita
Ti 0,068 0,52 6 tetragonal Rutilo
Sn 0,071 0,54 6 tetragonal Cassiterita
Ce 0,094 0,71 8 isométrica Cerianita
U 0,097 0,73 8 isométrica Uraninita
Th 0,102 0,77 8 isométrica Torianita
Fonte: Dana & Hurbult (1978).
Em óxidos múltiplos que apresentam fórmula geral AB 2O4 (Quadro 4), o cátion A é
maior (raio iônico entre 0,06 e 0,08 nm) e é, geralmente, divalente, ao passo que o B é
menor (raio iônico entre 0,05 e 0,07 nm) e é geralmente trivalente. Assim, na estrutura do
espinélio, os íons A contêm quatro O ao redor e os íons B seis, o que conforma um retículo
cúbico, dando origem a cristais isométricos. Como os membros do grupo do espinélio são
isoestruturais, a substituição iônica é comum, sendo completa a solução sólida relativa
aos íons A (Mg2+, Fe+2 , Zn2+ , Mn2+) e incompleta relativa aos íons B (Al3+ , Fe+3 e Cr 3+ )
(Quadro 6). O crisoberilo tem uma estrutura contraída, de simetria mais baixa
(ortorrômbico), em razão do pequeno tamanho do íon Be (0,035 nm).
A cuprita e a zincita (Quadro 4) são minerais sem expressão nas rochas. O periclásio
pode ser formado em mármores a partir da dolomita, ficando, portanto, restrito a esse
tipo de rocha. O rutilo (TiO2 ), assim como seus polimorfos anatásio e brookita, a ilmenita
e os espinélios que contêm Ti (ulvoespinélio e titanomagnetita) são minerais acessórios
comuns na maioria das rochas ígneas e metamórficas. A perovskita (CaTiO3 ) é um mineral
acessório comum em rochas ígneas básicas e alcalinas e metamórficas calci-silicatadas.
Verifica-se que todos esses minerais são encontrados como fases detríticas em rochas
sedimentares, em razão da elevada resistência ao intemperismo. Por isso, esses minerais
são comumente identificados nas frações areia e silte de solos e saprólitos, tendendo a se
concentrarem em solos mais intemperizados.
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Por outro lado, silicatos comuns como biotitas, hornblendas e augitas contêm, em
termos absolutos, mais Ti do que os óxidos nas rochas. Na intemperização desses minerais,
bem como do esfeno (CaTiSiO5 ), é freqüentemente reportada a formação de anatásio. A
formação de outros óxidos de Ti secundários (pseudorutilo, pseudobrookita, etc.) também
é observada. Uma média de 5,1 g kg-1 nos solos, contra 3,9 e 3,3 g kg-1 para as "camadas"
sedimentares e ígneas graníticas da litosfera, respectivamente, demonstra a concentração
desse elemento durante o intemperismo, podendo chegar até 150 g kg-1 em solos altamente
intemperizados desenvolvidos de basaltos (Milnes & Fitzpatrick, 1989). Essa concentração
de Ti não tem importância na fertilidade dos solos, pois o elemento não é considerado
micronutriente ou elemento tóxico para plantas e animais. Alguns autores até mesmo
evidenciam o uso do Ti como indicador da presença de solo ou poeira na análise de
tecido vegetal (Jones, 1991).
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granulados com grande área superficial específica, que exercem influência química
acentuada no solo, numa proporção maior do que quando estimada apenas com base em
suas concentrações.
A hematita (Quadro 4) é um mineral amplamente distribuído em rochas de todos
os tipos e idades, geralmente como mineral acessório. Juntamente com a goethita, que é
um oxihidróxido de Fe mais ligado ao intemperismo, forma os mais abundantes óxidos
metálicos pedogênicos e influencia, de forma decisiva, uma série de características e
propriedades dos solos (veja capítulo VIII). O Fe na estrutura desses óxidos pode ser
substituído por muitos cátions metálicos, destacando-se o Al, em maior teor na goethita,
e microelementos, como Ni, Ti, Mn, Co, Cr, Cu e Zn, em menor proporção. Além da
incorporação destes metais na estrutura, a grande área superficial específica desses
óxidos pedogênicos, o baixo grau de cristalinidade e a reatividade das superfícies
(cargas dependentes de pH) fazem com que vários ânions (fosfatos, selenatos,
molibdatos, arsenatos, fluoretos e silicatos) e cátions metálicos (Cu, Pb, Zn, Cd, Co, Ni,
Mn) sejam adsorvidos especificamente, ou melhor, sejam ligados por caráter covalente
diretamente ao O e OH estruturais, formando ligações muito fortes. Dessa forma, os
óxidos de Fe podem conter, tanto dentro de sua estrutura como adsorvidos
especificamente em sua superfície, teores razoáveis de metais, sendo alguns
micronutrientes. Essa fonte de micronutrientes passa a crescer em importância em solos
arenosos e na medida em que os solos vão ficando altamente intemperizados, como nos
Latossolos oxídicos.
O espinélio (Quadro 4) é um mineral metamórfico comum, encontrado em mármores,
gnaisses e serpentinitos, ocorrendo como mineral acessório em muitas rochas ígneas
máficas. O Fe2+, Zn2+ e Mn2+ substituem o Mg2+ em variadas proporções, por isso os óxidos
puros (hercinita, gahnita e galaxita) (Quadro 6) são raros. Sua influência maior como
fonte de nutrientes, portanto, ocorre em alguns tipos de rochas metamórficas.
A magnetita (Quadro 4) é um mineral acessório comum de rochas magmáticas ferro-
magnesianas (dioritos, gabros e peridotitos e equivalentes vulcânicos) e de rochas
metamórficas. O Fe2+ pode ser substituído por Mg2+ e Mn2+ (e Zn2+) em proporção variada,
sendo os termos extremos (Mg-ferrita, jacobsita e franklinita) de ocorrência restrita. Dada
sua resistência ao intemperismo, a magnetita pode acumular significativamente em
Latossolos desenvolvidos de basaltos, onde pode compor parte expressiva da fração
areia desses solos, servindo como fonte de micronutrientes, à semelhança dos óxidos de
Fe pedogênicos (hematita e goethita).
A cromita (Quadros 4 e 6) é comum em rochas ultramáficas (peridotitos e
serpentinitos). Um pouco de Mg2+ está sempre presente substituindo o Fe2+ . Por outro
lado, o Al3+ e o Fe3+ podem substituir o Cr 3+ . Problemas de fertilidade associados a solos
desenvolvidos sobre esses tipos de rochas são conhecidos e relatados na literatura
internacional (Rabenhorst et al., 1982) e na nacional (Pinto & Kämpf, 1996), com a
vegetação nativa sofrendo problemas de toxidez relacionados com altos teores de Cr, Ni,
Co (Quadro 3) e desbalanço da relação Ca/Mg trocáveis.
Dentre os hidróxidos e oxihidróxidos de Al, a gibbsita (Quadro 4) é o mineral mais
comum nos solos e depósitos de bauxita, que se originam pelo intemperismo avançado
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Carbonatos
Nos carbonatos, os grupos CO32- combinam-se com cátions divalentes de forma que
a relação dos raios impõe a coordenação 6, resultando estruturas simples em que se
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alternam camadas de cátions metálicos com ânions carbonatos (Dana & Hurbult, 1978).
Dessa forma, tem-se uma redução na simetria do sistema isométrico (90 o ) para
romboédrico (74 o 55 ') (subdivisão do sistema hexagonal) (veja capítulo II), característico
dos cristais de calcita (CaCO3 ). Sendo isoestruturais, os cátions metálicos substituem-se
entre si, conforme seus tamanhos (Fe2+ = 0,074 nm; Mn2+ = 0,080 nm e Mg2+ = 0,066 nm),
produzindo substâncias intermediárias entre carbonatos puros: siderita (FeCO 3 ),
rodocrosita (MnCO3) e magnesita (MgCO3 ). Já a substituição na calcita (Ca2+ = 0,099 nm)
não é completa, sendo particularmente difícil a do Ca pelo Mg por causa da diferença
nos raios (33 %). Dessa forma, o que ocorre na dolomita [(CaMg(CO3 )2 ] não é resultado de
uma solução sólida, mas, sim, uma alternância de camadas de íons Mg com camadas de
íons Ca, ou seja, um sal duplo. Uma forma polimorfa da calcita de estrutura ortorrômbica
denominada aragonita é comumente encontrada em depósitos recentes e nas conchas de
moluscos. Esta forma é menos estável e costuma transformar-se naturalmente em calcita.
Os carbonatos são encontrados em rochas sedimentares denominadas calcários e
em seu equivalente metamórfico, o mármore, acumulado-se em proporções significativas
também em rochas mistas de carbonatos com argilas (margas). O ambiente típico de
acumulação dos sedimentos carbonáticos é marinho de água rasa com origem química,
orgânica ou clástica. São muito importantes no registro geológico, perfazendo cerca de
25 % das seções estratigráficas (Suguio, 1980). As bacias evaporíticas são outro tipo de
ambiente de acumulação de carbonatos, em áreas bem mais restritas, em regiões de clima
árido, onde os depósitos são chamados de caliche ou calcrete e estão associados a sulfatos
e halóides.
Em razão da abundância e distribuição das rochas calcárias, existem muitos e
importantes solos formados sobre esse tipo de rocha, dependendo do clima a ocorrência
e distribuição dos carbonatos no solo. Em climas áridos, os carbonatos primários
permanecem no solo, enquanto os carbonatos secundários podem acumular próximo à
superfície. À medida que a precipitação pluvial aumenta, ocorre progressiva remoção
dos carbonatos das camadas mais superficiais e deposição de carbonato secundário nas
camadas mais profundas. Em climas úmidos, ocorre a remoção total, podendo formar
contato abrupto entre o perfil de solo ácido e a rocha de origem alcalina (Doner & Lynn,
1989). Solos derivados de calcários costumam ser férteis, em geral Chernosols ou Molisols
(conforme a Soil Taxonomy - USDA, 2006), compondo parte dos solos mais férteis da
zona temperada na América do Norte, Europa Central e Ásia (Fanning & Fanning, 1989).
A relação entre rocha calcária e fertilidade do solo também pode ser observada no Brasil,
com valores de pH, teores de Ca e Mg e saturação por bases elevados (Araújo & Olivieira,
2003), mesmo em ambientes que intensificam o intemperismo (Argissolos e Latossolos)
(Valladares, 2002).
No mundo, o maior consumo de calcário ocorre na fabricação de cimentos e cal, e
o mármore é explorado como material de construção e ornamentação. No Brasil, dada
a ocorrência generalizada de solos ácidos, o calcário é usado para correção de pH
(calagem). Estados que não possuem calcário sedimentar, como o Rio Grande do Sul,
usam o mármore moído para correção do solo. Para se ter uma idéia da magnitude da
mineração de calcário no Brasil, das 1.862 minas cadastradas no ano de 2.000 com
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produção superior a 10.000 t ano-1, 314 eram de calcário (16,9 % do total), sendo 23,6;
25,4 e 13,5 % consideradas de grande, médio e pequeno porte, respectivamente (DNPM,
2001b). A maioria dessas minas é utilizada para cimento e outros usos não-agrícolas.
Fosfatos
O P pentavalente tem tamanho semelhante ao S hexavalente e, como este,
apresenta-se na forma de grupos tetraédricos (PO 4 3- ) que não formam grupos
polimerizados. O As e o V podem substituir o P, formando arseniatos e vanadatos,
que são minerais de ocorrência restrita, ao contrário dos fosfatos, principalmente a
apatita, que é constituinte acessório em praticamente todas as classes de rochas ígneas,
sedimentares e metamórficas. Com base nos teores e na amplitude de distribuição
nas rochas comuns, o P é considerado elemento acessório, juntamente com o Mn e o
Ti, nas análises químicas rotineiras das rochas, compondo entre 1 e 3 g kg -1 da rocha
em termos de P2O5 (Quadro 2).
A apatita, fosfato mais abundante e importante, apresenta fórmula geral
Ca 5 (PO 4 ) 3 (OH,F,Cl), com substituição (solução sólida) dos ânions F -, Cl - e OH - e,
mais raramente, do fosfato pelo carbonato (carbonatoapatita). O Ca pode ser
substituído pelo Mn, Sr e outros cátions. Conforme o predomínio do ânion
acompanhante, ocorrem a fluorapatita, a cloroapatita, a hidroxiapatita, dentre
outros. A apatita é um mineral facilmente intemperizável no solo, liberando
prontamente o Ca (Blum et al., 2002). O fosfato pode então combinar com Al, Fe, Mn,
Na, K, Ba, Cu, Zn, etc., formando grande variedade de fosfatos secundários, anidros
e hidratados, como, por exemplo, a variscita-strengita [(Al,Fe)(PO 4 ).2H 2 O], struvita
(NH 4 Mg(PO 4 ).6H 2 O), vivianita (Fe 3-xFe x(PO 4 )2 (OH) x(H2O) 8-x) e muitos outros (veja
capítulo III). Ao mesmo tempo, o P na solução pode ser absorvido pelas plantas,
ligar-se à fração húmica (P orgânico) e mineral (adsorção específica e não-específica)
e ser precipitado com íons Ca 2+ e Al 3+, dependendo do pH do solo. A complexidade
da dinâmica do P no solo aumenta mais ainda quando são incluídas as reações dos
fertilizantes fosfatados com os constituintes do solo, formando uma série de novos
compostos (Lindsay et al., 1989).
A apatita também concentra-se em veios e pegmatitos, principalmente associada a
rochas alcalinas, formando uma apatita bem cristalizada, de origem ígnea. Esse tipo de
depósito é encontrado no Brasil em Minas Gerais (Araxá e Tapira), Goiás (Ouvidor e
Catalão) e São Paulo (Cajati) (DNPM, 2001b). A apatita pode também concentrar a partir
de processos sedimentares, derivadas de restos de animais e de precipitação química,
formando uma rocha sedimentar conhecida como fosforito, com uma apatita de baixa
cristalinidade (colofana). Depósitos desse tipo são encontrados principalmente no norte
da África (Tunísia, Argélia e Marrocos), Oriente Médio e Estados Unidos. A colofana,
apesar de compor o grupo dos fosfatos naturais, tem solubilidade relativamente elevada
(> 90 g kg-1 P2 O5 em ácido cítrico 20 g L -1). Os fosfatos naturais de origem ígnea têm
solubilidade bem mais baixa (< 60 g kg-1 P2 O5 em ácido cítrico 20 g L -1) e, geralmente, são
tratados quimicamente para produzir compostos mais solúveis (superfosfatos).
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Nesossilicatos
Nos nesossilicatos, a relação Si:O é de 1:4, não permitindo a polimerização dos
tetraedros de Si na estrutura. Nesse caso, os tetraedros estão isolados e unidos por ligações
de cátions intersticiais (Figura 3). Em cátion divalente, forma-se uma estrutura do tipo
A 2 SiO4 , como no grupo da olivina (Mg e Fe) e da Fenacita (Be - fenacita e Zn - willemita),
com estrutura ortorrômbica e romboédrica-hexagonal, respectivamente (veja capítulo II).
Cátions tetravalentes como Zr, Th e U têm fórmula ASiO4 e estrutura tetragonal. No
grupo das granadas, a fórmula é do tipo A3B2 (SiO4)3 , com a posição A ocupada por cátions
divalentes grandes e a B por íons trivalentes menores. O Mg2+, Fe2+ e Mn2+ se substituem
completamente na posição A; já com o Ca essa possibilidade é mais restrita. Na posição
B, ocorre substituição limitada em relação ao Al3+ , Fe3+ e Cr 3+ . A estrutura resultante é
isométrica. Ainda nos nesossilicatos, destacam-se os minerais do grupo Al2OSiO 4
(andaluzita, silimanita e cianita) e o esfeno [CaTiO(SiO4)], também conhecido como titanita.
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em rochas metamórficas, como o calcário, gnaisse e xisto. Dada sua elevada resistência
ao intemperismo, costuma concentrar-se nos sedimentos arenosos, assim como nos solos.
O zircão normalmente apresenta pequenas quantidades de Hf, Th, U e Y, responsáveis
por radioatividade no mineral.
A granada é um mineral comum como constituinte acessório de rochas
metamórficas (xistos e gnaisses) e de algumas ígneas. Suas subespécies mais comuns
apresentam o Al na posição B e os seguintes cátions na posição A: Mg (piropo), Fe
(almandina), Mn (espessartita) e Ca (grossulária). Com Fe na posição B e Ca na A tem-se
a andradita e com Cr na B e Ca na A a uvarovita. A granada é, como o zircão, bastante
resistente ao intemperismo, podendo acumular-se em solos desenvolvidos de rochas
metamórficas. Neste caso, pode influenciar a presença do Mn em rochas metamórficas
mais ricas em granadas, conforme comentado anteriormente.
Andaluzita, silimanita e cianita são minerais metamórficos encontrados em alguns
tipos de rochas metamórficas e, por sua composição (Al2 OSiO4 ), não contribuem para a
reserva de nutrientes do solo. O esfeno [CaTiO(SiO4)] é um mineral acessório de distribuição
bastante ampla, tanto em rochas ígneas como em metamórficas, de resistência média ao
intemperismo, e pode contribuir com alguma fração do Ca em rochas graníticas pobres
neste nutriente (Quadro 2).
Inossilicatos
Nos inossilicatos, a relação Si:O é 1:3 (piroxênios) e 1:2,75 (anfibólios), o que permite
certo grau de polimerização dos tetraedros de Si, em cadeias simples (piroxênios) ou
duplas (anfibólios) que se prolongam na direção do eixo c (Figura 4).
(a) (b)
Figura 4. Representação esquemática da estrutura dos inossilicatos: (a) cadeia simples; (b)
cadeia dupla.
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Nos piroxênios, a fórmula geral é XY(Si2 O6 ) e, nos anfibólios, é XYSi8 O22 (OH)2 . Os
cátions X são, em geral, grandes, por exemplo Ca e Na (coordenação 8 em relação aos O),
e os cátions Y são pequenos, como Mg, Fe, Al, Mn, Li ou Ti (coordenação 6). Pode ocorrer
substituição do Si pelo Al nos tetraedros para compensar a entrada de um íon de carga
maior ou menor. Nos anfibólios, na posição X, pode entrar K, enquanto a substituição
parcial do OH pelo F e O é comum. As posições X e Y, quando são ocupadas por íons
grandes e pequenos, respectivamente, resultam numa estrutura monoclínica
(clinopiroxênio ou clinoanfibólio). Por outro lado, quando ambas são ocupadas por íons
pequenos resultam numa estrutura ortorrômbica (ortopiroxênio ou ortoanfibólio). Pode
ainda ocorrer a ocupação das posições por íons grandes como na wollastonita [Ca(SiO3 )],
o que gera uma estrutura triclínica. Em geral, cada piroxênio tem um anfibólio
correspondente (Quadro 7).
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sempre apresenta ainda resíduo de K, podendo ser importante fonte desse elemento
em alguns tipos de rochas.
Os piroxênios são c onsider ad os minerais muito pouc o resistentes ao
intemperismo, mesmo assim chegam a compor parte das frações areia e silte de
solos pouco intemperizados. Os anfibólios, por outro lado, são pouco mais
resistentes e per manecem nas fraç ões ar eia e silte de solos medianamente
intemperizados, só desaparecendo completamente nos solos de intemperismo mais
avançado.
Além da augita e hornblenda (ferromagnesianos), existem piroxênios e anfibólios
calciomagnesianos (diopsídio, wollastonita e tremolita), que são mais comumente
encontrados em mármores e talco xistos (calcissilicatadas) e piroxênios e anfibólios
sódicos (aegerina, arfvedsonita e riebeckita). Esses minerais formam rochas ígneas
subsaturadas em sílica (sem quartzo), mas ricas em Na e K, chamadas de rochas
alcalinas (sienitos e fonolitos), onde estão presentes feldspatóides (nefelina, leucita e
sodalita).
Filossilicatos
Em razão da inexpressiva ocorrência de outros minerais filossilicatados fontes de
nutrientes no solo, como o talco, as discussões desse item relacionam-se com os minerais
micáceos. As micas são, normalmente, mais estáveis que os demais minerais silicatados
fontes de nutrientes, tais como, feldspato, anfibólio, piroxênio e olivina (Goldich, 1938).
São, portanto, as maiores fontes de K, Fe e Mg em ambientes tropicais e desempenham
importante papel na fertilidade e gênese dos solos. Com relação aos minerais das classes
neso e inossilicatos, as micas apresentam estruturas mais complexas, e o intemperismo
desses minerais mostra-se dependente de suas composições químicas e natureza das
ligações dos elementos.
As micas são minerais em camadas (filossilicato), negativamente carregadas,
do tipo 2:1, sendo compostas por uma lâmina octaédrica (O) entre duas lâminas
tetraédricas (T) (Figuras 5b,c e 6a). As lâminas tetraédricas consistem de tetraedros
de SiO 4 arranjados de tal maneira que três O de cada tetraedro são compartilhados
com o Si de três tetraedros vizinhos, resultando em um anel hexagonal de tetraedros
(dois tetraedros adjacentes compartilham somente um O) (Figura 5a). Esses três O
compartilhados ficam no mesmo plano, sendo referidos como basais. O quarto O de
cada tetraedro não é compartilhado com outro tetraedro de silício, ficando livre para
ligar-se com outros elementos poliedrais (O apical). Todos os oxigênios apicais
apontam para a mesma direção, formando os planos basal e apical de O (Figura 5b e
6a). Já a lâmina octaédrica consiste de seis hidroxilas, em dois planos, em coordenação
octaédrica com um cátion central. Em alguns casos, pode haver substituição de OH
por F.
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Figura 5. Estrutura 2:1 das micas e detalhes da lâmina tetraédrica: (a) composição hexagonal
dos tetraedros de silício com a hidroxila da lâmina octaédrica localizada no centro de cada
hexágono no plano dos seus vértices. No caso da lepidolita, o flúor está no lugar das
hidroxilas; (b) vista lateral de duas lâminas tetraédricas com os vértices voltados para
dentro da estrutura, mostrando a localização dos átomos de Al (dioctaedral) da lâmina
octaédrica; (c) vista lateral da camada 2:1, com detalhe para as possibilidades de substituição
isomórfica na muscovita.
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Figura 6. Crescimento das micas na direção c e detalhes da lâmina octaédrica: (a) vista lateral
de um mineral genérico (dioctaedral e trioctaedral) mostrando os íons potássio
promovendo a união de camadas adjacentes e a distância basal do mineral; (b) detalhe
(vista superior) de uma lâmina dioctaédrica, mostrando que, a cada três posições, duas
são ocupadas pelo cátion octaedral (Al 3+); (c) detalhe (vista superior) de uma lâmina
trioctaédrica, onde todas as três posições são ocupadas pelo cátion octaedral (Fe 2+ e Mg 2+).
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lâmina octaédrica. A estrutura é constituída de tal forma que quatro das seis OH estão
substituídas por O apicais das lâminas tetraédricas. As duas OH restantes orientam-se
para o centro do poro hexagonal deixado pelos vértices dos tetraedros (Figura 5a).
As camadas 2:1 adjacentes são ligadas por cátion, principalmente K, que promove
o crescimento do mineral na direção basal (eixo c) (Figura 6a). A entrada de cátions nessa
posição é devida ao excesso de carga negativa na estrutura em razão da substituição
isomórfica de cátions nas lâminas tetraédricas e octaédricas. A carga nas camadas de micas
está em torno de -1,0 por unidade de fórmula, resultante de três mecanismos (Figura 5c): i)
substituição de Si4+ por R3+ (primariamente Al3+ e Fe3+) nas posições tetraédricas; ii)
substituição de R2+ ou R3+ por R+ ou R2+ nas posições octaédricas ou; iii) posições
octaedrais vazias.
O K, chamado de "cimento eletrostático", é retido dentro dos espaços deixados
pelo retículo hexagonal dos O dos tetraedros de Si, proveniente do déficit de carga positiva
nos cátions tetraédricos e octaédricos para balancear as cargas negativas do O e OH e,
eventualmente, F. A coordenação do K com os ânions dentro do hexágono é um problema
complexo. Em uma disposição hexagonal ideal dos O basais, o K deveria coordenar 12
átomos de O, seis acima e seis abaixo dele. Nessa coordenação, o raio do cátion deveria
ser de 0,168 nm, o qual excede de maneira considerável o raio iônico do K, que é de
0,133 nm. A análise de cristais isolados de muscovita e outras micas indica que o K nas
entrecamadas encontra-se próximo a apenas seis O basais, três acima e três abaixo,
situando-se os outros seis O a uma distância maior (Sparks & Huang, 1985). Na verdade,
os O basais da camada tetraédrica não apresentam um plano hexagonal, mas, sim,
ditrigonal, definido pela rotação dos tetraedros (Figura 7). O tamanho da lâmina
tetraédrica excede o tamanho da octaédrica e, para efetuar o ajuste no momento da
união entre elas, a lâmina tetraédrica sofre contração. A redução no tamanho se dá
pela rotação de seus tetraedros de tal forma que se origina a estrutura ditrigonal.
Simultaneamente, a lâmina octaédrica se distende. Como conseqüência, o número de O
coordenados em torno do K cai de 12 (hexágono ideal) para seis (estrutura ditrigonal -
três O em cada lâmina tetraédrica adjacente), resultando em ligação mais próxima e
mais forte (Figura 7b).
O grau de rotação da lâmina tetraédrica (Figura 7b) irá depender do cátion na lâmina
octaédrica. Na estrutura dioctaédrica, a diferença na distância da direção b entre a lâmina
tetraédrica e a lâmina octaédrica é maior, comparada com a trioctaédrica, resultando em
maior rotação dos tetraedros. Com o incremento da rotação, há maior aproximação do K
com os oxigênios, acentuando a coordenação com os seis átomos de oxigênio e resultando
em retenção mais forte do K nas micas dioctaedrais.
A muscovita e a biotita são as principais micas encontradas nos solos. A primeira é
do tipo dioctaedral, com o Al ocupando os sítios octaédricos. Já na biotita, essas posições
são ocupadas por cátions divalentes, Mg e Fe (trioctaedral).
Na muscovita [K(Si3Al)Al2 O10(OH)2] e na biotita [K(Si3Al)(Fe2+,Mg2+)3O10(OH)2], a carga
negativa das camadas provém da substituição isomórfica de um a cada quatro Si4+ na
fórmula da pirofilita (Si4 Al2 O10(OH)2), por um Al3+ (X = 1). A pirofilita (como o talco) é um
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Figura 7. Rede de tetraedros da mica projetados sobre plano (001), em que os círculos
grandes são oxigênios: (a) disposição hexagonal ideal; (b) distribuição ditrigonal obtida
pela rotação dos tetraedros em 20 o cada um. Observar a formação de uma região em
"cunha", em que o K fica coordenado com apenas três, dos seis, oxigênios do retículo
ditrigonal.
Fonte: Adaptado de McCauley & Newnham (1971).
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Segundo Rebertus et al. (1986), a reação apresentada na equação (1) requer perda de K,
Fe e Mg (nutrientes liberados para a solução do solo), expansão da estrutura da biotita para
vermiculita, troca de cátions entrecamadas por ilhas de hidróxi-Al e deslocamento dos
tetraedros de Al para a posição octaedral. Isso resulta em perda de um a cada quatro cátions
tetraedais (perda total da substituição isomórfica nas lâminas tetraédricas: em situação ideal,
o nível de substituição isomórfica de tetraedros de Si por tetraedros de Al na lâmina tetraédrica
na biotita é de 25 %) e inversão completa de uma lâmina tetraédrica da estrutura 2:1 da biotita.
Na biotita com alteração hidrotermal em solos da Nova Zelândia, Ahn & Peacor (1987)
observaram, por meio de microscopia eletrônica de transmissão, que a caulinita estava
intimamente interestratificada na biotita, com duas camadas de caulinita terminando em
uma camada de biotita. Os autores concluíram que uma camada 2:1 (T-O-T) da biotita
transformou-se em duas camadas (T-O) de caulinita. Para isso, seria necessária a troca de
uma lâmina trioctaédrica rica em Fe e Mg por duas lâminas dioctaédricas com Al, inversão
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de uma lâmina tetraédrica da camada T-O-T, e troca de todo o Al na lâmina tetraédrica por
Si. Ahn & Peacor (1987) estimaram a reação envolvida como:
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Os fatores que afetam a transformação das micas são agrupados em: natureza do
mineral, tamanho da partícula e condições ambientais.
Natureza do Mineral
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Tamanho da Partícula
Espera-se que a liberação de K seja mais rápida em partículas mais finas do que em
partículas mais grossas de micas em virtude da maior superfície específica. Avaliando o
efeito da redução da concentração de K na solução do solo sobre intemperismo da mica,
após três anos de cultivo, Tributh et al. (1987) encontraram diminuição na intensidade
da reflexão (001) da ilita e aumento da esmectita nos difratogramas de raios-X,
indicando a transformação destes minerais no solo, principalmente na fração argila
mais fina (< 0,06 µm).
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Figura 12. Potássio extraído de amostras de muscovita com diferentes classes de tamanho em
solução com sódio tetrafenil boro (NaTFB).
Fonte: Adaptada de Scott (1968).
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Figura 13. Difratogramas de raios-X (radiação CuKα) das frações areia grossa (a) e silte (b) do
horizonte subsuperficial de solo originado de tufos vulcânicos. VHE - vermiculita com
hidróxi-Al entrecamadas; Mi - mica; Mi-VHE - mineral interestratificado; Ct - caulinita;
Qz - quartzo; Ab - albita; FdK - feldspato potássico.
Fonte: Adaptada de Ezzaïm et al. (1999).
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solução do solo é o fator ambiental mais importante para sua resistência, mesmo na
fração argila dos solos.
Com a difratometria de raios-X (DRX), é possível acompanhar, principalmente por
meio da relação entre as intensidades das reflexões basais desses minerais [(R =
intensidade da reflexão (001)/intensidade da reflexão (002)], o intemperismo da biotita
e muscovita em amostras onde os minerais coexistem. Pal et al. (2001a) observaram que
a maior liberação de K não-trocável e estrutural em solos ricos em partículas finas de
biotita e muscovita foi de um Typic Ustochrept (Figura 14). Esse solo apresentou teor
acumulado de K de 450 mg kg-1 após 24 extrações com BaCl2 1 mol L -1 e o maior valor de
R, indicando o predomínio de cristais trioctaedrais. No Typic Haplaquept, houve liberação
máxima de K de 6 mg kg-1 e valores de R próximos de 1,0, principalmente para os minerais
na fração argila, indicando a ocorrência apenas de muscovita. No caso de mistura das
duas micas, ambas irão contribuir para a intensidade da reflexão basal (001) em 1,0 nm,
enquanto a contribuição da biotita para a reflexão (002) em 0,5 nm é inexpressiva,
resultando alto valor para a relação das intensidades das reflexões (R > 1,0).
Figura 14. Relação entre o número de extrações com BaCl 2 1 mol L -1 e a liberação acumulada de
K de solos indianos formados de diferentes materiais de origem.
Fonte: Pal et al. (2001a).
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Figura 15. Detalhe de uma hifa fúngica separando as partículas de mica da parte externa de um
fragmento de arenito.
Fonte: Certini et al. (2003).
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Tectossilicatos
Os feldspatos são os principais minerais silicatados do grupo dos tectossilicatos e
constituem importante fonte de nutrientes, especialmente K e Ca. São silicatos de Al com
K, Na e Ca e, raramente, Ba. Podem pertencer aos sistemas monoclínico ou triclínico,
porém os cristais dos diferentes sistemas mostram semelhantes hábitos cristalinos e
ângulos de clivagem (próximo de 90 º) (veja capítulo II). Os feldspatos são constituídos
por cadeias tridimensionais de tetraedros de SiO4 e AlO4 (na proporção 3:1) ligados em
todas as direções pelos O dos tetraedros. Como, para cada quatro átomos de silício (Si)4+,
um é substituído por alumínio (Al)3+, este excesso de carga negativa permite a introdução
de um cátion monovalente para cada tetraedro de AlO4 na estrutura do mineral.
Conseqüentemente, para cada quatro tetraedros existe um átomo de K ou Na para manter
a eletroneutralidade. Por sua vez, a introdução de um cátion divalente, como o Ca ou Ba,
exige 50 % de substituição de tetraedros de Si por tetraedros de Al. Além do K, Na, Ca e
Ba, outros cátions, em menor extensão, como Fe, Pb, Rb e Cs, podem ocupar estas posições,
existindo certo grau de substituição isomórfica entre eles.
De acordo com sua composição química, os feldspatos formam três grupos principais:
potássicos, sódio-cálcicos e báricos. Todos têm praticamente a mesma estrutura,
consistindo de cadeias de anéis com quatro tetraedros paralelos ao eixo a, ligando-se a
outras cadeias, também paralelas, por ligações iônicas por meio dos íons K+, Na+, Ca2+ ou
Ba2+ e, ou, pelo compartilhamento de átomos de O (Huang, 1989). Uma cadeia em zigue-
zague é formada pela superposição de cadeias de anéis com quatro tetraedros que
compartilham alguns de seus vértices para formar novos anéis. A repetição de cadeias
na direção a varia entre as espécies de feldspato de 0,81 a 0,86 nm (Figura 16).
Figura 16. Aspecto da estrutura essencial dos feldspatos projetada no plano (001) onde os
círculos pretos pequenos são átomos de silício e alumínio e os círculos maiores são átomos
de oxigênio.
Fonte: Adaptada de Huang (1989).
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Figura 18. Micrografias obtidas por microscopia eletrônica de varredura de saprolito de rocha
rica em feldspato no Sudeste da Austrália: (a) início de intemperismo no plano (001) do
feldspato; (b) superfície fraturada de cristal de feldspato-K; (c) Produtos secundários
formando na superfície fraturada do feldspato; (d) esmectita (Es) formando como
encrustação na superfície altamente intemperizada do feldspato.
Fonte: Tonui et al. (2003).
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Os feldspatos plagioclásios formam uma série de solução sólida desde a albita pura
(NaAl Si3O8) até a anortita pura (CaAl2 Si2O8), no qual o Ca substitui o Na , com substituição
simultânea do Si por Al, em todas as proporções (Quadro 8). A fórmula geral para os
plagioclásios é Na1-xCaxAl1+xSi3-xO8, em que x varia de 0 a 1 e Na+Ca = 1.
FORMAS DE K, Ca E Mg NO SOLO
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Figura 19. Representação do equilíbrio entre as formas de potássio, cálcio e magnésio no solo.
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Quadro 9. Distribuição percentual entre as formas de potássio na camada arável (0-20 cm) de
alguns solos da região sul do Rio Grande do Sul
Unidade de K K não- K K
Classificação K total
Mapeamento estrutural trocável trocável solução
Cálcio e Magnésio
As formas de Ca e Mg na solução, como discutido para o K, dependem do
equilíbrio entre as outras formas desses nutrientes (Figura 19). Os teores de Ca e Mg
em solução variam amplamente entre solos e tendem a ser mais elevados do que os de
K (Quadro 10).
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Quadro 10. Teores de potássio, cálcio e magnésio trocáveis e na solução de alguns solos (0-20 cm)
da região sul do Rio Grande do Sul
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Potássio
O maior teor de K é encontrado nos minerais primários, principalmente nas micas
(muscovita, 70 a 110 g kg -1 de K 2 O; biotita, 60 a 100 g kg -1 de K 2 O) e feldspatos
(ortoclásio, microclina e sanidina - 40 a 150 g kg -1 de K 2 O) (Jackson, 1979).
O K não-trocável é comumente chamado de fixado e representa formas não
prontamente disponíveis para as plantas. As formas não-trocáveis e estruturais de
K são as reservas de médio a longo prazo para as plantas. O K estrutural está ligado
dentro da estrutura do mineral e a liberação de K não-trocável é um processo
reversível, enquanto a liberação do K estrutural é irreversível, envolvendo reações
de dissolução.
O K não-trocável é retido nos poros ditrigonais (Figura 7b) entre lâminas tetraédricas
adjacentes de minerais de argila do tipo 2:1, tais como vermiculita e minerais de argilas
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Figura 20. Modelo de camadas silicatadas 2:1 (minerais micáceos parcialmente intemperizados)
com sítios planar (p), borda (b), camada expandida (le), cunha (c) e fenda ou fratura (f) de
adsorção de potássio, mais a forma estrutural do nutriente (i - entrecamada).
Fonte: Adaptada de Kirkman et al. (1994).
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A posição planar (p) e a de borda (b) (Figura 20) apresentam baixa seletividade por
K, representando sítios de adsorção de formas trocáveis. As posições de cunha, com
média seletividade, e de fenda, com média/alta seletividade, são considerados sítios de
K não-trocável e a posição entrecamada, com alta seletividade, como K estrutural
(disponível para as plantas somente por meio de intemperismo químico).
Nos quadros 11 e 12 é possível identificar a grande variação das formas de K de
acordo com a mineralogia das frações dos solos. Mesmo com predomínio de caulinita na
Quadro 11. Composição mineralógica das frações areia, silte e argila de solos dos Campos Gerais,
Paraná, e teor de Potássio extraído da fração argila pelo tratamento com NaHSO4
Mineral(2) K Mica(3)
Solo(1) Perfil
Areia Silte Argila
mg kg –1 g kg-1
Qz, hm, gb, mi Qz, ct, gb, hm Ct, gb, gt, hm, vhe, mi 1.988 24,0
CX 1
(traço) (traço)
LB 2 Qz, gb, ct, hm, im Qz, ct, gb, hm Ct, gb, gt, hm 605 7,3
RL 3 Qz, mi Qz, ct, mi Ct, Gb, mi, vhe, gt, qz, imv 24.018 289,5
Qz, ct, mi, Ct, gb, gt, hm, vhe, 6.286 75,8
CX 4 Qz, ct gb, hm mi (traço)
Qz, hm, fd-K Qz, ct, hm, Ct, gb, gt, hm, vhe 2.432 29,3
NX 5
(traço) mi (traço)
Qz, ct, gt, fd-K, Ct, mi, gt, qz, gb, vhe, 8.360 100,8
CX 6 Qz, fd-K
hm, mi interestratificados mi-vhe
Qz, hm, mi Qz, ct, hm, Ct, gb, qz, gt, mi (traço), 4.013 48,4
LB 7
(traço) mi, cl cl (traço)
CX 8 Qz, ma, hm, im Qz, ct, hm, im Ct, gt, hm, vhe, gb (traço) 2.482 29,9
Qz, hm, ma Qz, ct, il, hm Ct, gb, qz, gt, hm, cl, 4.507 54,3
LV 9
(traço) mi (traço)
Qz, mi (traço), Qz, mi, ct, fd-K Ct, mi, fd-K, vhe, imv, 25.500 307,3
CX 10 gt, hm
fd-K (traço)
(1)
CX - Cambissolo Háplico; LB - Latossolo Bruno; RL - Neossolo Litólico; NX - Nitossolo Háplico;
LV - Latossolo Vermelho; (2)Caracterização mineralógica por difratometria de raios-X (DRX). A
primeira letra maiúscula indica o predomínio do mineral: qz-quartzo, mi-mica, im-ilmenita,
fd-K-feldspato potássico, ma-magnetita, cl-clorita, ct-caulinita, gb-gibssita, gt-goethita,
hm-hematita, vhe-vermicilita hidróxi-Al entre camadas, imv-interestratificado mica/VHE
e il-ilita.O termo traço indica o aparecimento de apenas discretas reflexões do mineral por
DRX. (3) teor de mica estimado na fração argila a partir do K extraído pelo NaHSO 4 e
considerando uma concentração média de 100 g kg -1 de K 2O no mineral.
Fonte : Martins et a l. (20 04a ).
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Quadro 12. Teores de potássio na terra fina seca ao ar obtidos por diferentes métodos de extração
em solos dos Campos Gerais, Paraná
Método de extração
CX 23 21 15 16 21 26 46 555 1.496
LB 39 37 21 23 23 36 52 456 801
RL 51 48 47 71 196 841 1.115 4.161 4.872
CX 82 79 54 64 72 135 1.086 3.766 4.376
NX 47 40 33 34 35 49 70 1.543 1.993
CX 55 55 56 226 841 1.663 2.025 4.754 22.374
LB 90 91 63 72 188 802 1.115 1.938 2.886
CX 137 142 131 185 243 861 1.262 1.691 2.390
LV 121 111 82 161 196 783 1.115 3.173 4.276
CX 66 70 53 63 211 802 1.145 11.226 14.106
(1)
CX - Cambissolo Háplico; LB - Latossolo Bruno; RL - Neossolo Litólico; NX - Nitossolo Háplico;
LV - Latossolo Vermelho.
Fonte: Martins et al. (2004a).
fração argila e quartzo nas frações areia e silte, Martins et al. (2004a) detectaram minerais
micáceos em todas as amostras, inclusive nos solos altamente intemperizados (Perfis 2,
7 e 9). Os teores de K total na terra fina seca ao ar variaram de 801 a 22.374 mg kg-1, os
quais acompanharam os teores de mica na fração argila dos solos (variação de 7,3 a
307,3 g kg-1). A reserva mineral de K nos solos, extraída pelo HNO3 (formas não-trocáveis)
e HF (total) foi determinada pelo material de origem e estádio de desenvolvimento, sendo
mais expressiva nos Cambissolos, principalmente nos originados de micaxisto (Perfis 5
e 6) e conglomerado (Perfil 10).
Utilizando os mesmos métodos de determinação das formas de K em classes de
solos no Rio Grande do Sul, Melo et al. (1995a,b) observaram estreita relação entre reserva
de K no solo e teor de minerais primários fontes do nutriente no material de origem. Os
maiores teores totais foram encontrados em solos originados de rochas graníticas, ricas
em microclínio, ortoclássio e mica, portanto, com alta reserva potencial de K. Os autores
verificaram tendência de os teores totais do nutriente aumentarem com a profundidade
dos solos, coincidindo com o aumento nos teores de silte mais argila do horizonte
superficial para o horizonte B. Essa maior liberação de formas não-trocáveis das frações
mais finas do solo foi também observada por Smith & Matthews (1957), McLean & Brydon
(1963) e Simard et al. (1989).
Graças à grande ocorrência de minerais primários fontes de K, a reserva desse
nutriente no solo é, normalmente, mais expressiva que a reserva de Ca e Mg. Fichter et
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Figura 21. Armazenamento de potássio, cálcio e magnésio em minerais e frações de dois perfis
de solos originados de granito. A linha horizontal no interior da figura representa a
contribuição relativa dos minerais indicados na reserva dos nutrientes.
Fonte: Fichter et al. (1998).
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Cálcio e Magnésio
Dada a inexistência de sítios específicos de adsorção, como discutido para K, as
reservas de Ca e Mg nos solos estão associadas apenas às formas estruturais (ausência
de Ca e Mg não-trocáveis). A ocorrência de Mg estrutural no solo é devida, principalmente,
à presença de micas e minerais filossilicatados secundários trioctaedrais ou
dioctaedrais com Mg na camada octaédrica em substituição ao Al, como vermiculita
e esmectita.
A biotita, principal fonte de Mg estrutural para os solos, de acordo com a fórmula
mínima do mineral [K(Mg2 Fe)AlSi3 O10(OH)2 ], apresenta 180 g kg-1 de MgO (Jackson, 1979).
Newman & Brown (1987) compilaram vários estudos sobre a composição química dos
minerais nos solos, e os teores de MgO dos principais minerais filossilicatados
apresentados foram (g kg-1): esmectitas dioctaedrais (montmorilonita) - 20,9 a 73,
esmectitas trioctaedrais (saponita) - 112,1 a 332,8, vermiculitas - 209,2 a 296,6, mica
dioctaedral - 0,5 a 50,2, mica trioctaedral (Mg-biotita) - 135,1 a 197,4, ilita - 0,5 a 22,5,
clorita trioctaedral - 95,2 a 386,1, interestratificado ilita/esmectita - 21,9 a 41,
interestratificado esmectita/caulinita - 9,6 a 29,6. Assim, os teores de Mg foram maiores
nos minerais trioctaedrais e, dentro desta classe, os minerais primários eram mais ricos em
formas estruturais do nutriente. A reserva de Mg para os solos mais intemperizados está
limitada a partículas residuais de mica trioctaedral (biotita), vermiculita com hidróxi
entrecamadas, presença de camadas de biotita no interior de esmectitas e caulinita e de Mg
substituindo o Al na camada octaédrica dos minerais filossilicatos.
Melo et al. (1995b) extraíram Mg por diferentes métodos (Quadro 13) e verificaram
menor reserva desse nutriente (teores obtidos com H2 SO4 concentrado) em relação aos
teores de K, o que foi atribuído à menor ocorrência de Mg nas micas dioctaedrais e nos
feldspatos.
As principais fontes de Ca estrutural no solo são, em g kg-1, (teores de CaO) (Dana &
Hurbult, 1978; Jackson, 1979; Fichter et al., 1998): anortita (feldspato cálcico) - 202; albita
(feldspato sódico) - 5; apatita - 568; calcita - 560; dolomita - 304; fluorita - 513; aragonita
- 560; gipsita - 326; anidrita - 412; margarita - 400.
Com discutido para o K, o intemperismo químico dos minerais primários e a
lixiviação de nutrientes resultam na redução contínua da reserva de Ca e Mg com o
processo de envelhecimento dos solos. Starr & Lindroos (2006) avaliaram as taxas de
liberação de Ca e Mg e as mudanças mineralógicas decorrentes do intemperismo ao
longo de 5.300 anos em uma cronosseqüência em solos florestais e observaram que o
valor da relação residual (Rr - teor normatizado do mineral no horizonte C/teor
normatizado do mineral no horizonte superficial) para a biotita foi menor que 1, mesmo
no solo mais jovem (300 anos), indicando que o intemperismo atuou, de forma
significativa, no mineral, liberando Mg para o solo. No perfil com 5.000 anos de idade, a
Rr da biotita, hornblenda e anortita foi de 0,27; 0,35 e 0,57, respectivamente, indicando
que parte da reserva de Ca e Mg ainda estava preservada no horizonte superficial do
solo. Possivelmente, se essa mesma cronosseqüência ocorresse em condições de clima
tropical úmido, os valores de Rr para esses minerais seriam menores.
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Quadro 13. Teores de magnésio obtidos por diferentes métodos de extração em solos do Rio
Grande do Sul
Método de extração
Ataque
Solo(1) Horizonte Disponível Ácido nítrico fervente (mol L-1)
sulfúrico
KCl H2SO4
0,25 0,5 1 2 4
1 mol L-1 concentrado
A 47 77 78 82 76 120 9.912
PV AB 68 101 98 92 82 97 13.188
B 90 125 121 109 124 110 15.072
A 35 55 65 101 73 91 9.612
C B 26 41 44 68 54 64 11.496
C 13 44 26 32 13 16 8.424
A 40 74 79 82 77 80 11.004
PVA B 72 103 100 104 100 138 23.640
C 59 79 70 106 65 58 11.208
(1)
RU - Neossolo Flúvico, PV - Argissolo Vermelho, C - Cambissolo, PVA - Argissolo Vermelho-
Amarelo.
Fonte: Melo et al. (1995b).
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Zircão Anatásio
Rutilo Gibbsita
Turmalina Hematita (e goethita)
Ilmenita Caulinita
Granada Vermiculita com Al-hidróxi nas entrecamadas
Quartzo Esmectita
Epidoto Vermiculita
Esfeno Ilita
Muscovita Haloisita
Microclínio Sepiolita (e paligorskita)
Ortoclásio Alofana (e imogolita)
Plagioclásio Na Calcita
Hornblenda Gipso, pirita
Clorita Halita (e outros sais de solubilidade similar)
Augita
Biotita
Serpentina
Vidro vulcânico
Apatita
Olivina
Fonte: Allen & Hajek (1989).
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Quadro 16. Balanço nutricional de potássio em solos dos Campos Gerais do Paraná
CX 82 46 36 44
LB 125 112 13 11
RL 174 114 60 34
NX 102 87 15 15
CX 164 128 36 22
LB 212 211 1 1
CX 254 117 137 54
(1)
CX - Cambissolo Háplico; LB - Latossolo Bruno; RL - Neossolo Litólico; NX - Nitossolo Háplico; (2)conteúdo total de
K nas plantas, calculado pelo somatório dos produtos entre os teores de K e matéria seca das diferentes partes da
planta (parte aérea, grãos e raízes); (3)remoção média de K trocável do solo pelo cultivo, obtida pela diferença
entre os conteúdos de K trocável no solo (Mehlich-1) antes e depois do cultivo. Os conteúdos de K trocável foram
calculados, tanto antes quanto depois do cultivo, por meio do produto entre os teores e as massas totais dos solos
nos vasos de 4 dm3 ; (4)estimativa da contribuição das frações não-trocáveis de K na nutrição do trigo: conteúdo de
K não-trocável absorvido (mg/vaso) [C-(A-B)] = conteúdo total de K na planta - remoção do K trocável; (5)proporção
de K não-trocável absorvido no total de K na planta (%) = (conteúdo de K não-trocável/conteúdo total de K na
planta) x 100.
Fonte: Adaptado de Martins et al. (2004b).
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Figura 22. Comparação por balanço de massa da remoção de cátions de um Ultisol (até 60 cm)
durante 28 anos de crescimento e rebrota da floresta com a depleção dos cátions observada
pela extração com NH 4OAc 1 mol L -1.
Fonte: Markewitz & Richter (2000).
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Figura 23. Relação entre potássio trocável mais não-trocável extraídos pela resina-H e o K
acumulado nas plantas em cultivos sucessivos de milho e trigo.
Fonte: Benipal & Pasricha (2002).
Cinética de Liberação
O K e Mg têm sido preferidos nos estudos de cinética de liberação de nutrientes,
graças a maior ocorrência de formas não-trocáveis (K) e estruturais (K e Mg) nos minerais
primários e secundários nas frações areia, silte e argila dos solos. A aplicação dos
conhecimentos de cinética química aos estudos de solos permite quantificar a velocidade
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com que alguns nutrientes são liberados dos minerais e, ou, solo, contribuindo para
melhor entendimento de sua dinâmica e dos fatores que afetam sua disponibilidade para
as plantas. A obtenção de dados de cinética baseia-se em três grupos de métodos
experimentais: relaxação, batelada e métodos que envolvem fluxo (Sparks, 1989), cuja
descrição é dada no capítulo III deste livro. Os dois últimos métodos são aplicados a
reações que ocorrem em escalas de tempo maiores e, portanto, para processos de liberação
mais lenta.
Os principais extratores nos estudos de cinética de liberação de K e Mg são: soluções
salinas diluídas, como BaCl2 , SrCl2 , CaCl2 e outras (Munn et al. 1976; Meurer, 1991;
Simard et al.,1992); ácidos orgânicos e inorgânicos, como cítrico, oxálico, nítrico e
clorídrico (Manley & Evans, 1986; Sadusky et al., 1987, Song & Huang, 1988; Simard et
al.,1992; Datta & Sastry, 1993; Mehta et al., 1995, Meurer & Castilhos, 2001; Melo et al,
2005); Na tetrafenil B (Reed & Scott, 1962; Cox et al.,1996) e resinas trocadoras de cátions
(Martin & Sparks, 1983, 1985; Havlin et al., 1985; Dhilon & Dhilon, 1990; Meurer &
Rosso,1997).
em que kT1 e kT2 são as taxas constantes aparentes de liberação de K avaliadas para as
duas temperaturas [kT1 = 0,2761 s-1 a 28 o C (301,15 K) e kT2 = 0,9468 s-1 a 38 o C (311,15 K)];
R é a constante dos gases (J K-1 mol-1); T é a temperatura em K; ∆Ha é a energia de ativação
de Arrhenius (kJ mol-1). Essa energia de ativação é interpretada como o nível de energia
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que o mineral potássico deve adquirir para tornar-se capaz de reagir (liberar K). Quando
a energia de ativação aumenta, a taxa de liberação decresce. A energia de ativação para
o microclínio, no estudo de Huang et al. (1968), foi 96,17 kJ mol-1, bem superior à energia
de ativação para taxas de dissolução que são controladas por processo de difusão (Sparks
& Jardine, 1981). Mortland & Ellis (1954) consideraram que o processo de liberação de K
da vermiculita foi controlado por difusão e encontraram um valor de energia de ativação
pela lavagem com NaCl 0,1 mol L -1 de 14,86 kJ mol-1.
Estudando a difusão de K em ilita com adições contínuas de soluções NaCl 0,3 mol
L -1 e 0,03 mol L-1, Chute & Quirk (1967) descreveram uma equação geral para liberação de
K, baseada na difusão radial de um cilindro no qual a concentração de K por todo o
cilindro é uniforme:
Um gráfico (Kt/Ko)/t como variável de 1/t½ daria uma reta com declividade (4/π½)
(D/a2 )½ e intercepto - (D/a2 ). Conseqüentemente, D pode ser calculado se o valor de a
for conhecido. Em sistemas puros, a pode ser calculado por medidas da área superficial
de adsorção de N2, assumindo que existe uma relação de 10:1 entre o diâmetro da partícula
e sua espessura (Quirk & Chute, 1968). Em sistemas heterogêneos, como o solo, com
vários tipos e tamanhos de minerais de argila, um valor realístico de a não pode ser
mensurado. Assim, o valor de D também não pode ser calculado (Keay & Wild, 1961). Por
esta razão, a equação 6 pode ser arbitrariamente simplificada para (Martin & Sparks,
1985):
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A equação de primeira ordem pode ser representada por uma expressão na forma
(Martin & Sparks, 1985):
ln (K o -K t) = ln K o - k2 t (9)
K = k ln t + c (10)
Equação de Elovich
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em que to é igual a 1/a b. Se a b t é maior que 1, a equação 12 pode ser simplificada para:
Assim, o gráfico de y em função de lnt para a equação 14 deve ser linear com
declividade 1/b e intercepto (1/b) ln (a b), em que b é a taxa constante de liberação de K.
A forma integrada da equação função potência pode ser expressada por (Havilin &
Westfall, 1985):
y = a tb (15)
A transformação linear é:
ln y = ln a + b ln t (16)
Mt/M o = a + kt ½ (17)
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Quadro 17. Transformações lineares dos principais modelos de equações usadas para descrever a
cinética de liberação de potássio
Comportamento Multifásico
A cinética de liberação de K e Mg tem sido freqüentemente descrita com mais de uma
taxa simultânea, ou seja, por segmentos de reta com declividades diferentes (Figura 24).
O comportamento multifásico representa a liberação de K da superfície dos minerais, de
áreas intemperizadas, e da matriz mineral.
Figura 24. Cinética de liberação de potássio (a) e magnésio (b) (equação parabólica de difusão)
da fração argila de solos do Triângulo Mineiro, mostrando o comportamento multifásico
do processo (Mt = teores acumulados dos nutrientes liberados até um determinado tempo;
Mo = teores acumulados destes nutrientes liberados no último tempo considerado)
Fonte: Melo et al. (2005).
Song & Huang (1988) relataram a existência de três estádios de liberação de K durante
o tempo de extração: primeiro estádio de 0 a 1 h; segundo, de 1 a 48-120 h (depende do
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tipo do mineral); e terceiro de 48-120 até 720 h. Os dois primeiros estádios, relativamente
rápidos, foram atribuídos à rápida dissolução de partículas finas e, ou, minerais com
distúrbios mecânicos. As constantes de taxa de liberação de K obtidos pela declividade
do terceiro estádio (terceiro segmento da reta) nas equações de primeira ordem para o
ácido oxálico foram: biotita 0,3132 s-1; microclínio 0,018 s-1 ; ortoclásio 0,0173 s-1 e
muscovita 0,0026 s-1.
Bolt et al. (1963) estudaram a liberação de K de ilita utilizando vários cátions
monovalentes e divalentes e classificaram o K em três categorias: i) íons K que ocupam
sítios superficiais de troca (p.ex. superfície planar externa - Figura 20) e são trocados
rapidamente por todos os outros cátions (até uma hora); ii) íons que ocupam posição
entrecamada perto de áreas em cunha, sendo esses sítios muito específicos para K,
NH 4 + mas a troca por NH4 + é relativamente rápida, considerando a pequena distância
para o K difundir em relação à solução. Nessa posição, a troca de K por outros íons,
além do NH 4 , é muito difícil; iii) íons K que ocupam posições intercamadas longe de
zonas de cunha. Esses sítios também são seletivos para K e NH4 +, mas a troca envolve
processo de difusão interna. Bolt et al. (1963) observaram que a difusão de NH4 + foi
maior que a de K, indicando que a presença de NH4 + entrecamada promove ligeira
abertura das camadas (raio iônico maior que o do K), acelerando a difusão. Para os
feldspatos, após a liberação rápida do K dos sítios mais externos, a liberação adicional
deste nutriente, dos sítios internos, ocorrerá se houver quebra nas ligações Al-O e Si-O,
por meio das reações de protonação e complexação pelo ácido oxálico promovidas por
soluções extratoras ácidas (Rich, 1968).
A cinética de liberação de K nas frações granulométricas de um Planossolo
Hidromórfico do Rio Grande do Sul, induzida pela ação do ácido oxálico 0,01 mol L-1
até 3.409 h, ocorreu em duas fases para as frações areia e silte, e em três fases, para
a fração argila, com taxas variando de 23,4 s -1 a 127,8 s -1 . A quantidade de K liberada
decresceu com o tempo de extração e o total removido correspondeu a somente 2,1 %
do teor de K total encontrado nesse solo (Castilhos & Meurer, 2001). Comportamento
semelhante foi obtido por Meurer & Castilhos (2001) para as frações granulométricas
de um Gleissolo e de um Chernossolo do RS (15 extrações sucessivas com ácido
oxálico 0,01 mol L-1 ). Nesse caso, entretanto, Meurer & Castilhos (2001) encontraram
maior amplitude das taxas (24,48 s -1 até 540 s -1 ).
Melo et al. (2005) verificaram que a cinética de liberação de K e Mg de 14 amostras da
fração argila de solos do Triângulo Mineiro foi multifásica (Figura 24). Para a maioria
das amostras, ocorreu liberação mais rápida de K inicialmente (Latossolo Vermelho -
Figura 24a), seguida de outra fase com menor taxa de liberação. Para o Mg, o
comportamento foi oposto, pois a maioria das amostras apresentou maior taxa de liberação
do nutriente na segunda fase (Argissolo Vermelho-Amarelo - Figura 24b). Os
comportamentos diferenciados das amostras na liberação de K e Mg foram atribuídos à
diversidade de tipos de minerais fontes destes nutrientes e à presença de sítios com
diferentes energias de adsorção. Houve predomínio de K na forma não-trocável em sítios
de média/alta energia de adsorção e Mg na estrutura de minerais ferromagnesianos,
predominantemente biotita.
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Quadro 18. Contribuição estimada das frações areia, silte e argila para o teor de potássio total
dessorvido de três solos do Rio Grande do Sul, em 3.409 h de equilíbrio com ácido oxálico
0,01 mol L -1 (1)
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Num transecto de partícula de VHE (d(001) = 1,4 nm) do tamanho silte médio, Harris
et al. (1988), encontraram alta variação do teor de K por meio de análise microquímica
(microssonda de dispersão de raios-X - MDRX) dentro da partícula, obtendo teores de
10,95 a 73,35 g kg-1, após tratamento para remover o K trocável. Harris et al. (1988)
observaram que o K nos minerais VHE (1,4 nm) apresenta-se em camadas oclusas de
mica (1 nm), com periodicidade insuficiente para serem detectadas por DRX, ou,
alternativamente, pela entrada rápida dos polímeros de hidróxi nas camadas de mica
intemperizada, fixando o K dentro dos poros ditrigonais e protegendo-o de ser trocado
por cátions hidratados. Comerford et al. (1990) obtiveram variação nos teores de K em
partículas de VHE do tamanho silte de 1,74 g kg-1 nas bordas a 32,61 g kg-1 no interior.
A reserva de K no VHE conferiu ao Quartzipsamment altamente intemperizado
(apenas VHE, caulinita, gibbsita e quartzo) o potencial de liberação de K não-trocável
de 5.800 kg ha -1 , para a profundidade de dois metros (Comeford et al., 1990).
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LV (a)
(b)
(c)
(d)
(e)
LVdf (a)
(b)
(d)
(e)
C
(a)
(d)
(e)
Figura 25. Difratogramas de raios-X (radiação CuK α) da fração argila orientada do Latossolo
Vermelho (LV), Latossolo Vermelho Distroférrico (LVdf) e Cambissolo (C) mostrando a
evolução da mineralogia com os tratamentos seqüenciais [(sem tratamento (a), após DCB
(b), após NaOH 0,5 mol L -1 (c), após NaOH 5 mol L -1 (d) e após NaHSO4 (e)]. Ct - caulinita, Gt
- goethita, Hm - hematita, Gb - gibbsita, Fd - feldspato potássico, IL - ilita, IC - mineral
interestratificado ilita/caulinita, An - anatásio, Ru - rutilo e MF - mineral formado após NaHSO4.
Fonte: Melo et al. (2002a).
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Com base nesses estudos, conclui-se que, mesmo em solos altamente intemperizados
dos trópicos úmidos, partículas de mica resistem ao intemperismo e passam a constituir
importantes fontes de K estrutural. Moura Filho (1970) trabalhou com um Latossolo
Roxo do Triângulo Mineiro e encontrou relação inversa entre tamanho de agregados e
teor de cátions básicos. Segundo o autor, as bases concentram-se no interior dos
microagregados, o que limita a lixiviação, em razão do reduzido tamanho dos poros.
Esta concentração relativa de sílica e cátions básicos nos agregados dos solos altamente
intemperizados pode ser responsável pela redução do intemperismo de partículas de
mica.
A intensa e contínua pedogênese dos Latossolos pode não ser suficiente para
homogeneizar a mineralogia da fração argila das diferentes classes de tamanho de
agregados de um mesmo horizonte. Estudando quatro perfis de Latossolo Bruno (LBd) e
três perfis de Latossolo Vermelho (LVdf), Melo et al. (2008) observaram maior variação
nos teores de minerais de acordo com a classe de tamanho dos agregados (2 - 4; 1 - 2; 0,5
- 1; 0,25 - 0,5; 0,105 - 0,25; < 0,105 mm), para o perfil localizado na posição mais alta da
toposseqüência do LBd: variação de 350 g kg-1 nos teores de gibbsita no horizonte Bw1 e
440 g kg-1 nos teores de caulinita no horizonte Bw2.
Resíduos de Esmectita
Para que minerais de argila 2:1 fixem K entre suas camadas, nos poros ditrigonais,
é necessária alta substituição isomórfica, o que resulta numa densidade de carga suficiente
para que as forças de atração promovam a desidratação do K. A fixação de K ocorre nos
minerais 2:1 na seguinte seqüência decrescente: vermiculita com alta densidade de carga,
vermiculita com média densidade de carga e, presumivelmente, montmorilonita com alta
densidade de carga; em montmorilonita com média a baixa densidade de carga e caulinita
não fixam K.
Considerando a fórmula mínima dos minerais (por exemplo, muscovita -
K(Si3 Al)Al2 O10 (OH)2 ), tem-se a seguinte distribuição de carga negativa estrutural
(resultante de substituição isomórfica de cátion de maior valência por outro de menor
valência) por unidade de fórmula: muscovita e biotita = 1,0–; ilita = 0,85– a 0,99– ;
vermiculita = 0,6– a 0,8– ; montmorilonita = 0,25– a 0,55– . O valor de 0,55– para a
montmorilonita representa o nível máximo de substituição isomórfica para o mineral,
em que o espaçamento basal (001) é mantido em torno de 1,4 nm, mesmo após solvatação
da amostra com etileno glicol (Fichter et al., 1998). Na prática, contudo, a montmorilonita
da fração argila dos solos tem menor densidade de cargas negativas: não apresenta
capacidade de fixação de K e permite maior solvatação com as moléculas de etileno
glicol, o que aumentaria o espaçamento basal (001) para 1,7 - 1,8 nm. Com isso, as
esmectitas são classificadas como minerais expansivos (1,4 - 1,8 nm), permitindo a entrada
de água entre as camadas e adsorvendo, preferencialmente, cátions de maior valência
(Ca2+ e Mg2+).
A fixação de K em solos esmectíticos é geralmente devida a inclusões de camadas de
vermiculita e mica intemperizada na estrutura da esmectita. Alguns autores têm mostrado
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a b
Figura 26. Micrografias obtidas por microscopia eletrônica de varredura em saprolito de rocha
rica em potássio no Sudeste da Austrália: (a) caulinita pseudomorfa de mica. (b) mistura
de camadas de caulinita e camadas de mica.
Fonte: Tonui et al. (2003).
Utilizando microscópio eletrônico de transmissão com alta resolução, Lee et al. (1975)
e Murphy et al. (1998) observaram cristais com mistura de camadas de mica e caulinita
(Figura 10). Lee et al. (1975) hipotetizaram que o K entrecamadas nesses cristais pode
existir em vários lugares: entre camadas de caulinita com presença de cargas negativas
residuais (herdadas das camadas de mica); em zonas micáceas oclusas (camadas com
1,0 nm) e; como discretas partículas de biotita.
Melo et al. (2001) analisaram amostras de caulinitas da fração argila de
diferentes classes de solos do Brasil e observaram que os teores de K variaram de
0,07 a 3,18 g kg -1 . Segundo os autores, a interestratificação nestas amostras foi com
camadas de biotita, dada a mesma magnitude nos teores de K e Mg. Verificaram,
ainda, que as menores partículas de caulinita apresentavam maiores teores de K. É
possível que as camadas de biotita interestratificadas retardem o crescimento dos
cristais de caulinita. Contudo, a relação causa-efeito pode ser outra: partículas jovens
de caulinita são, normalmente, menores e, caso sejam formadas diretamente do
intemperismo da mica, apresentam maior possibilidade de terem oclusões de
camadas do tipo 2:1 (maior riqueza em K).
Considerando a alta estabilidade da caulinita nos solos, espera-se que a liberação
do K não trocável das camadas de mica preservadas na estrutura da caulinita seja muito
restrita, o que, praticamente, inviabiliza a utilização dessa reserva pelas plantas.
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remoção em massa da amostra com o tratamento (peso inicial e final da amostra seca).
Como referência, determinaram-se os teores de K total (digestão com HF, HNO3 e H2 SO4
concentrados) em amostra de argila sem tratamento.
NaHSO4 (cristais)
(extração de mica e demais minerais 2:1)
Figura 27. Esquema de análises seqüenciais (extrações seletivas de minerais) na fração argila.
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solos. Outra fonte importante de K para todos os solos foi a presença de mica. Dado seu
baixo teor, inicialmente não se detectou mica na fração argila sem tratamento no Latossolo
Vermelho e no Latossolo Vermelho Distroférrico por DRX (Figura 25 - tratamento a). A
contribuição desses minerais micáceos atingiu 82 % do K total nos solos mais jovens
(Quadro 19 - extração com NaHSO4 ). Os teores totais de Mg e os teores obtidos nas
extrações seqüenciais foram semelhantes aos teores de K (Melo et al., 2002a). A quase
totalidade do Mg total estava associado com a caulinita e com os minerais micáceos
(biotita).
Quadro 19. Teores de potássio total e contribuição percentual das extrações seqüenciais em relação
ao potássio total da fração argila de diferentes classes de solos do Brasil (1)
Classe Horizonte K-total OA DCB NaOH 0,5 mol L-1 NaOH 5 mol L-1 NaHSO4 HF
PA1 B 341 5 1 9 49 34 2
PA1 C 286 8 0 7 43 40 2
PA2 B 197 9 1 12 58 18 3
PA2 C 181 10 1 10 54 23 2
PA3 B 214 3 3 6 55 29 4
PA3 C 371 4 1 4 48 42 3
LA1 B 338 6 1 10 48 33 3
LA2 B 451 5 1 12 41 37 4
LA3 B 406 12 3 7 27 51 1
LVA B 252 11 11 13 30 30 5
LV B 1.303 1 3 9 7 75 5
LV B 925 3 4 5 25 60 2
PV B 4.277 2 1 4 41 51 1
LVdf B 398 8 9 14 36 30 2
LVdf B 256 12 12 10 47 17 3
PVA B 6.215 1 1 1 10 81 6
PVA C 3.436 3 0 2 26 51 17
C B 5.078 2 1 4 35 52 7
C C 5.461 2 1 3 30 48 17
C B 2.312 1 2 2 15 77 3
C C 4.083 1 1 2 12 83 2
(1)
PA - Argissolo Amarelo; LA - Latossolo Amarelo; LVA - Latossolo Vermelho-Amarelo; LE - Latossolo
Vermelho; PV - Argissolo Vermelho; LVdf - Latossolo Vermelho Distroférrico; PVA - Argissolo
Vermelho-Amarelo; C - Cambissolo. Os números indicam a contribuição percentual das extrações
seqüenciais em relação ao K total da fração argila. Extrações seqüenciais: oxalato de amônio (OA),
ditionito-citrato-bicarbonato (DCB), NaOH 0,5 mol L-1, NaOH 5 mol L-1, NaHSO4 e HF (Figura 27).
Fonte: Melo et al. (2002a).
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Melo et al. (2003) utilizaram o mesmo método proposto por Melo et al. (2002a) (Figura 27)
para estudar a reserva de K na fração argila de solos altamente intemperizados do
Triângulo Mineiro. Os teores de K total da fração argila foram extremamente baixos, com
valores oscilando entre 202 e 1.717 mg kg-1, com valor médio de 795 mg kg-1. Como
observado por Melo et al. (2002a), a contribuição de resíduos de mica mais a caulinita
nos teores de K total foi bastante expressiva (valores acima de 95%).
Em virtude da menor diversidade mineralógica, para a fração silte, , Melo et al. (2000)
adotaram um método mais simplificado para estudar as mesmas amostras apresentadas
no quadro 19, optando por um menor número de extrações seqüenciais (Figura 28).
Silte
NaHSO4 (cristais)
(extração de óxidos de Fe, mica e demais minerais 2:1)
Figura 28. Esquema de análises seqüênciais (extrações seletivas de minerais) na fração silte.
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