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Departamento de Solos e Engenharia Agrícola, Universidade Federal do Paraná, Rua dos
Funcionários, 1540 - Juverê, 80035-050, Curitiba (PR).
vanderfm@ufpr.br
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D epa rta mento de Quími ca , U ni versi dade Federa l do Pa ra ná, CP 1 90 8 1, 81 5 3 1-9 90 ,
Curi ti ba (PR).
wypych@quimica.ufpr.br
Conteúdo
INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................................................... 42 8
Nomenclatura e Características Gerais dos Compostos em Camadas ............................................................. 42 8
SBCS, Viç osa , 20 09. Quími ca e Mineral ogia do Solo, xxxxp. (eds. Vander de Freitas Mel o e Luís
Reynaldo Ferracciú Alleoni).
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INTRODUÇÃO
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mínimas de formação (octaedros, tetraedros, prismas trigonais, etc.), ligadas umas às outras
nas faces, nos vértices e nas arestas, formando lâminas (Figura 1). Existe notação alternativa,
usada principalmente pelos pesquisadores da área de química, em que as camadas são
denominadas de lamelas (compostos lamelares) e as lâminas de folhas.
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(A)
(B)
Figura 4. Estrutura do tipo brucita (A) e do tipo gibbsita (B), com vista lateral (a) e vista
superior (b). Observar que, nesses minerais, a lâmina representa a camada.
Fonte: Wypych (2004).
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for ma imper feit a d e c auli nit a. Os m iner ais t r ioc t aéd r ic os são c ha mad os
coletivamente de serpentinas e constituem um grupo com muita analogia estrutural
aos cauliníticos, mas incluem Mg e Fe nas posições octaédricas. Algumas espécies
deste grupo são o crisotilo e lizardita (Quadro 1), minerais poucos freqüentes em
solos, exceto, é claro, naqueles originados da própria rocha serpentina. A caulinita
é o principal representante dos argilominerais 1:1 por sua destacada ocorrência
nos solos. Apesar d e haver crontr ovérsias, aceita-se que o nome caulim e,
conseqüentemente, caulinita origina-se no idioma chinês, de onde foram extraídas
as primeiras amostras de um argilomineral utilizado na fabricação de porcelana. O
termo caulim deriva da palavra Kauling (pronuncia-se Gaoling) que, em chinês,
quer dizer, cume alto.
nm
Caulinítico (dioctaedral)
Caulinita Al2Si2O5(OH)4 Triclínico a = 0,514; b = 0,893;
c = 0,737
Haloisita 0,7 nm Al2Si2O5(OH)4
Haloisita 1 nm Al2Si2O5(OH)4.2H2O
Diquita Al2Si2O5(OH)4 Monoclínico a = 0,515; b = 0,894;
c = 1,474
Nacrita Al2Si2O5(OH)4 Monoclínico a = 0,891; b = 0,515;
c = 1,570
Serpentina (trioctaedral)
Crisotilo Mg3Si2O5(OH)4 Monoclínico a ≈ 0,534; b ≈ 0,925;
c ≈ 1,465
Lizardita Mg3Si2O5(OH)4 Hexagonal a, b = 0,531; c = 0,731
(1)
Ver definições no Capítulo II.
Fonte: Adaptado de Dixon (1989).
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(A)
(a) (b)
(B)
(a) (b)
(C)
(D)
Figura 5. Formação dos minerais do grupo da caulinita (espaçamento basal 0,7 nm). (A) -
unidades básicas: (a) tetraedro de Si; (b) octaedro de Al. (B) - ligações para formação das
lâminas: (a) lâmina de tetraedros de Si (ligações pelos vértices dos tetraedros); (b) lâmina
de octaedros de Al (ligações pela aresta dos octaedros). (C) - união das lâminas de tetraedros
de Si e octaedros de Al para formação da camada 1:1. (D) - crescimento basal do mineral
por união das camadas 1:1 por ligações de hidrogênio.
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Ao longo do eixo b
Ao longo do eixo c
Ao longo do eixo a
(A)
(a) (b)
(B)
(c)
Figura 6. Estrutura da caulinita (filossilicato 1:1). (A) vista da estrutura ao longo dos eixos
cristalográficos: vista ao longo do eixo c - estrutura projetada no plano X-Y (identificação
dos parâmetros da cela unitária: medidas a e b e γ = 90 º); vista ao longo do eixo a -
estrutura projetada no plano Y-Z (identificação dos parâmetros da cela unitária: medidas
b e c e α > 90 º resultantes de distorções na união das lâminas tetraédrica e octaédrica para
formação da camada 1:1 - equivale a empurrar o eixo Z para a esquerda); vista ao longo do
eixo b - estrutura projetada no plano X-Z (identificação dos parâmetros da cela unitária:
medidas a e c e β > 90 º resultantes de distorções no empilhamento das camadas 1:1
adjacentes (deslocamento na região das ligações de hidrogênio) - equivale a empurrar o
eixo Z para trás). (B) representação da estrutura com remoção das ligações de hidrogênio
para facilitar a visualização [vista lateral (a), vista superior (b) e vista inferior (c)].
Fonte: modificada de Wypych (2004).
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Substituição Isomórfica
O Fe é o elemento mais freqüente encontrado na estrutura dos minerais 1:1, como
resultado de substituição isomórfica (substituição estrutural de íons de raio iônico
semelhante). Utilizando diferentes técnicas, Herbillon et al. (1976), Mendelovici et al.
(1979) e Fysh et al. (1983) relataram a presença de Fe3+ na lâmina octaédrica da caulinita
em substituição ao Al3+ . Melo et al. (2001b) encontraram teores de Fe2 O3 (extração com
solução de NaOH 5 mol L -1 fervente) variando de 10,9 a 28,9 g kg-1 para a caulinita da
fração argila de classes de solos do Brasil. No estudo de Melo et al. (2001b), não foi
observada correlação entre teores de Fe no material de origem e o nível de substituição
isomórfica e presença de Fe na estrutura da caulinita. A substituição entre esses cátions
trivalentes não gera excesso de carga, e a CTC dos minerais cauliníticos, normalmente, é
atribuída apenas às cargas dependentes de pH.
A substituição de Fe3+ por Al3+ durante a formação dos minerais do grupo da caulinita,
na faixa normal de valores de pH dos solos, pela recombinação dos elementos da solução,
não é favorecida pela presença das espécies hidrolisadas de Fe. Como se pode observar
nas reações 1, 2 e 3, o aumento no pH do solo favorece a hidrólise do elemento
(deslocamento das equações de equilíbrio para a direita):
Para valores de pH do solo acima de 2,8 (Reação 1), verifica-se predomínio da forma
hidrolisada Fe(OH)2+, a qual tende a se polimerizar e formar precipitados de baixa
solubilidade, restringindo, sobremaneira, a substituição isomórfica nos minerais do
grupo da caulinita.
Como resultado da substituição, observa-se aumento na relação molar SiO2 /Al2 O3
do mineral. Melo et al. (2002b) avaliaram as propriedades químicas e cristalográficas da
caulinita em um pacote de sedimentos do Grupo Barreiras (11 profundidades de
amostragem, variando de 0,7 a 14 m), no Espírito Santo, e observaram estreita correlação
entre os teores de Fe2O3 e a relação molar SiO2/Al2O3 (r = 0,95***). A substituição isomórfica,
em razão do maior raio iônico do Fe3+ em relação ao Al3+, promove aumento na distância
interplanar, mais facilmente identificado no domínio (060) por difração de raios-X. Nos
níveis mais altos de substituição, verifica-se deslocamento da reflexão (060) em direção
aos menores ângulos 2θ. De acordo com a lei de Bragg (d = n λ/2senθ), os valores das
distâncias interplanares são inversamente proporcionais aos ângulos difratados.
Nas análises químicas dos minerais do grupo da caulinita, também é comum a
presença de Ti, em teores muito inferiores aos relatados para o Fe. Existem três
possibilidades para a associação do Ti aos minerais 1:1: i) substituição isomórfica
(Dolcater et al., 1970; Jepson & Rowse, 1975); ii) adsorção às cargas negativas superficiais
(Weaver, 1976); iii) recobrimento dos minerais por partículas de anatásio (TiO 2 )
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(Nagelschimidt et al., 1949). Melo et al. (2001b) observaram associação entre a liberação
de Ti com a dissolução da caulinita por soluções básicas concentradas e a ocorrência
de anatásio na fração argila dos solos. Os teores de Ti, nesse estudo, variaram de 1,5 a
8 g kg -1 e de anatásio de 2,1 a 47 g kg-1.
É difícil separar as fases minerais de amostras de solo por meio de dissoluções
químicas, dada a grande diversidade de minerais na fração argila, para se obter, com
exatidão, a composição química da caulinita. Normalmente, a extração de caulinita é
feita na fração argila tratada com ditionito-citrato-bicarbonato de sódio (DCB) (Mehra &
Jackson, 1960), empregando-se solução de NaOH 5 mol L -1 fervente (Norrish & Taylor,
1961). Partículas de goethita podem resistir ao tratamento com DCB e contaminar a
extração de caulinita, superestimando os teores de Fe associados à substituição isomórfica
no mineral. A associação mais forte entre os óxidos de Fe deve ocorrer principalmente em
minerais do grupo da caulinita com baixa cristalinidade. Outra possibilidade é o ataque
parcial de partículas de biotita da fração argila pela solução de NaOH, liberando Fe da
lâmina octaédrica do mineral.
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A natureza química dos minerais também pode ser utilizada para identificação de
camadas de esmectita nos minerais cauliníticos. Takahashi et al. (2001) obtiveram valores
de CTC relativamente elevados (190 a 260 mmolc kg-1) para horizontes subsuperficiais de
solos com predomínio de haloisita, formados de materiais vulcânicos (lavas andesíticas),
no nordeste da Califórnia. Como estes valores de CTC são incomuns para os minerais
1:1, os autores suspeitaram de minerais interestratificados haloisita/esmectita. Contudo,
não foi possível identificar as camadas de esmectita por DRX, provavelmente, em razão
dos baixos teores apresentados.
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1951; Brindley & Nakashira, 1958). Brindley & Robinson (1947) determinaram todos os
índices das reflexões por DRX da caulinita e demonstraram que a cela unitária do mineral
é triclínica (Figura 10b), com valores de a = 0,515 nm; b = 0,89 nm; c = 0,739 nm; α = 91,8 o;
β = 103,5 o ; γ = 90 o . O desvio dos ângulos α e β (diferentes de 90 o caracterizando o
sistema triclínico – veja capítulo II) foi proposto por Brindley & Nakashira (1957), pois a
estrutura da caulinita implica distorção no empilhamento das lâminas tetraédricas e
octaédricas, necessária para tornar possíveis as uniões O-OH (ligações de H).
Figura 10. Representação espacial dos sistemas cristalinos ortorrômbico (a) e triclínico (b)
com os parâmetros da cela unitária.
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Figura 11. Rede de tetraedros de Si projetados sobre o plano (001): (a) disposição hexagonal
ideal e (b) distribuição ditrigonal obtida pela rotação dos tetraedros em 20 o cada um.
Observar o encurtamento da distância b da cela unitária com a distribuição ditrigonal.
Fonte: Adaptada de McCauley & Newnham (1971).
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(se torna mais larga e comprida). Como resultado, os octaedros formados pelos ânions
em volta dos cátions Al são menores que os octaedros das posições vazias (Figura 12),
conferindo um aspecto de corrugamento da lâmina octaédrica.
Figura 12. Tamanhos relativos das posições octaédricas vazias e ocupadas por Al e encurtamento
das arestas compartilhadas na lâmina dioctaédrica da nacrita.
Fonte: Adaptada de Bailey (1966).
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(bola maior vazia na mesma linha). Esta maior aproximação torna a ligação de H
mais forte (Figura 13). O deslocamento entre os O basais de lâminas tetraédricas
adjac ent es (primeir a e segund a c amad as) t ambém pode ser obser vado no
paralelogramo representando as dimensões a e c da cela unitária na Figura 6A (vista
ao longo do eixo b). Esse empilhamento desordenado das camadas subseqüentes em
-1/3a é responsável pelo deslocamento do eixo vertical, fazendo com que o ângulo β
entre os eixos X e Z da cela unitária seja superior a 90 o (a distorção equivale a empurrar
o eixo Z para trás - Figura 10b - com os parâmetros da cela unitária da caulinita).
Contudo, caso a distorção da estrutura fosse decorrência apenas do empilhamento
desordenado na direção a, os parâmetros da cela unitária da caulinita seriam: a ≠ b ≠ c, β =
103,5 o e α = γ = 90 o. Com esses valores, o mineral teria um sistema monoclínico. A
caulinita normalmente encontrada nos solos é triclínica (Quadro 1), com os seguintes
valores dos ângulos da cela unitária: α = 91,6 o ; β = 103,5 o e γ = 90 o . A mudança do
ângulo entre os eixos Y e Z, caracterizando o mineral como triclínico (todos os ângulos
diferentes), é atribuída a distorções internas durante a união das lâminas de tetraedros
com as lâminas de octaedros causadas pela rotação dos tetraedros de Si (formação da
poro ditrigonal - Figura 11) e encurtamento das arestas Al-O(OH) compartilhadas na
lâmina octaédrica (corrugamento - Figura 12), conforme destacado anteriormente
(distorções na direção b). Os efeitos dessas distorções podem ser vistos na cela
unitária como um movimento para a esquerda do eixo Z, aumentando o ângulo com
o eixo Y (α > 90 o ) (Figura 10b).
Figura 13. Projeção sobre o plano X-Y da rede Si-O e dos grupos OH da lâmina octaédrica de
camadas adjacentes, com detalhe para o emparelhamento dos oxigênios e as hidroxilas e
a distorção dos anéis de seis tetraedros na diquita.
Fonte: Adaptada de Newnham & Brindley (1956).
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Figura 14. Projeção normal sobre o plano (110) de uma camada 1:1. Das três posições octaédricas
possíveis, assinaladas com as letras A, B e C, somente duas estão ocupadas com Al. Na
caulinita, a segunda camada foi posicionada em -1/3: considerando a escala do desenho,
o oxigênio da segunda camada (bola maior hachurada em cima na linha vertical esquerda)
está deslocado em 1/3 da distancia a em relação ao oxigênio da primeira camada (bola
menor pontilhada ao centro da mesma linha).
Fonte: Adaptada de Bailey (1963).
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(A)
(B)
(C)
(D)
Figura 15. Padrões de DRX (radiação CuK α) de espécies puras de minerais do grupo da caulinita:
(A) caulinita com alto grau de cristalinidade, com reflexões basais intensas; (B) caulinita
em camadas com empilhamento desordenado no eixo b; (C) seqüência de camadas
parcialmente desordenadas nos eixos a e b; (D) seqüência de camadas altamente
desordenadas, com baixa intensidade das reflexões basais (haloisita desidratada na forma
tubular).
Fonte: Adaptada de Brindley et al. (1963).
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por ser mais cristalino que o tipo (C) e por apresentar forma laminar, é facilmente orientado no
plano basal e as reflexões (001) e (002) são mais intensas que o máximo da banda difusa 02,11.
O padrão de DRX da caulinita bem cristalina mostra três linhas de reflexões basais
(020), (1ī 0) e (11ī), entre 20 e 23 o 2θ, muito agudas e bem evidentes (Figura 15A). As
diferenças nas desordens estruturais entre amostras, estimadas nessa faixa de varredura,
foram confirmadas por Tarì et al. (1999), por meio do cálculo do Índice de Cristalinidade
de Hinckley (ICH) (Hinckley, 1963), que obtiveram valores de 1,01 e 0,58 para amostras
de caulinita de alta e baixa cristalinidade, respectivamente. Já para a haloisita desidratada,
o valor do ICH estimado foi 0,25. Adicionalmente, houve decréscimo na relação molar
Si/Al da haloisita em relação à caulinita (caulinita mais cristalina = 1,01; caulinita
menos cristalina = 0,97; haloisita = 0,68). A amostra de caulinita bem cristalina também
mostra reflexões basais bem distintas com índices (02l) e (1ī1) e dois tripletes (regiões
levantadas da linha de base com a presença clara de três reflexões próximas) entre 35 e
40 o 2θ (Figura 15A). No caso de caulinita (B) (Figura 15B), ambos os tripletes ainda existem,
mas são menos evidentes, tornando-se dois dubletes para a caulinita de pior cristalinidade
(Figura 15C) e, finalmente, desaparecendo na haloisita (Figura 15D).
Conclui-se que, mesmo diferindo pouco da fórmula ideal, a caulinita e haloisita
apresentam estruturas altamente complexas (sistemas triclínicos e monoclínicos), com
diferentes graus de ordem/desordem estrutural, de acordo com as características de
formação e ordenamento das lâminas e camadas dos minerais:
A) eventos na formação das lâminas individuais: i) lâmina octaédrica: surgimento
de posições octaédricas vagas, que deveriam ser ocupadas por Al em uma
configuração ideal (a cada três posições, apenas uma encontra-se vazia);
substituição isomórfica de Al3+ por Fe3+; encurtamento do tamanho da lâmina na
direção c, pela repulsão entre átomos de Al3+ vizinhos (corrugamento da lâmina);
ii) lâmina tetraédrica: rotação dos tetraedros de Si, formação da cavidade ditrigonal
e redução do tamanho da lâmina na direção b.
B) eventos no empilhamento das lâminas para formação das camadas: empilhamento
desordenado na direção b [padrão (diferença de tamanho das lâminas tetraédricas
e octaédricas) e deslocamento adicional em ±1/3b]; empilhamento desordenado
na direção a resultante da repulsão dos átomos de Si 4+ e Al 3+, evitando a
sobreposição nas camadas adjacentes.
C) interestratificação com camadas de minerais 2:1.
Outro fator que pode interferir na cristalinidade dos minerais do grupo da caulinita
é o tratamento físico das amostras em laboratório, normalmente utilizado em sua
preparação. A caulinita padrão de baixa cristalinidade da Geórgia (padrão KGa-2) foi
estudada em condições naturais e após intensa moagem da amostra (González Jesús et
al., 2000). A caulinita natural consistiu de cristais pseudo-hexagonais, com tamanho
médio de 0,2 a 0,4 µm (Figura 16a), com cerca de 0,01 µm de espessura. As observações em
microscopia eletrônica de transmissão indicaram que a caulinita moída apresentava
formas mais arredondadas, com menor tamanho médio (< 0,1µm) (Figura 16b). O padrão
de DRX dessa amostra revelou notável redução da ordem estrutural em relação à amostra
original (Figura 17), indicada pelo decréscimo na intensidade e aumento da largura à
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meia altura das reflexões e aumento na altura da linha de base na faixa de 20 a 35 o 2θ. O
processo de moagem da amostra causou delaminação das partículas e redução no número
médio de camadas para difração. Frost et al. (2004) observaram que a moagem promoveu
efeitos apenas na caulinita de melhor cristalinidade, como a redução da intensidade das
reflexões e aumento da largura a meia altura da reflexão basal (001).
(a)
ant
0,1µm
(b) 0,1µm
Figura 17. Padrão de DRX (radiação CuK α) obtido de amostras não orientadas de caulinita
natural (a) e após intensa moagem (b). Ant - anatásio.
Fonte: González Jesús et al. (2000).
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soluções também dissolvem a caulinita de pior cristalinidade (Melo et al., 2002a). Para
calcular o ICHB, utiliza-se a relação da altura da reflexão (020) (valor h1) e a diferença
entre a linha de base suspensa formada pelos tripletes na região de 35 a 40 o2θ e a linha de
base real do difratograma (h2) (Figura 18b).
Figura 18. Métodos para determinação de índices de cristalinidade da caulinita por DRX
(radiação CuKα): (a) Método de Hinckley (1963) - ICH; (b) Método de Hughes & Brown
(1979) - ICHB.
Melo et al. (2001b) encontraram valor médio de ICHB de 12,6 para caulinita de solos
formados de diferentes materiais de origem e de vários estados do Brasil, valor
significativamente maior que os valores encontrados para solos altamente intemperizados
de outros locais. Por exemplo, valores médios de 5,8 e 5,4 foram reportados para caulinitas
de solos do leste e do oeste da Austrália, respectivamente (Koppi & Skjemstad, 1981;
Singh & Gilkes, 1992). Por contraste, altos valores de ICHB (38 a 83) foram tipicamente
observados para caulinitas-padrão, incluindo a caulinita da Geórgia (KGa-1). Melo et al.
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(2001b) observaram que, para sedimentos do Grupo Barreiras, os valores do ICHB foram
consistentemente maiores em profundidade (amostras coletadas de 0,7 a 14,0 m),
deduzindo que quanto menor a interferência de partículas orgânicas e minerais, maiores
o tamanho e a cristalinidade da caulinita. Houve correlação entre a espessura das partículas
de caulinita e o ICHB (r = 0,73***), enquanto a correlação entre o "volume" do cristal ["volume"
= a × b × DMC(001)] e o ICHB foi ainda mais estreita (0,93***). As partículas de caulinita mais
cristalinas têm "volume" maior do que as partículas de baixa cristalinidade. No mesmo
estudo, os autores estabeleceram relação direta entre estádio de desenvolvimento do horizonte
com o grau de cristalinidade da caulinita (p. ex., a evolução incipiente do horizonte C não
permitiu boa cristalização da caulinita). Com relação ao tamanho da partícula, Chittleborough
& Waker (1988) também verificaram menor grau de cristalinidade da caulinita da fração
argila fina em relação ao mineral na fração argila grossa.
Outro fator pedoclimático que pode interferir na cristalinidade da caulinita é o teor
de água do solo. Há evidências de que a hidrologia do perfil influencia a cristalinidade
da caulinita: quanto maior o hidromorfismo do solo, menor a cristalinidade
(Chittleborough & Waker, 1988; Wowk, 2003).
em que DMC(hkl) = DMC na direção perpendicular ao plano hkl (em nm); K = 0,9 (constante);
λ = comprimento de onda da radiação utilizada (para radiação CuK α λ = 0,15405 nm);
θ = ângulo de Bragg da reflexão; 57,3 = fator que transforma o valor de β de graus para
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radianos; β = largura a meia-altura corrigida da reflexão (em o2θ). A correção das distorções
instrumentais normalmente é feita pela adição de um padrão interno à amostra (Melo et
al., 2001a).
Algumas importantes propriedades da caulinita de solos do Brasil, com diferentes
estádios de intemperismo e originados de diversos materiais de origem, encontram-se nos
quadros 2, 3 e 4. De maneira geral, a caulinita dos solos mais jovens apresenta menor espessura
[menor DMC(001)] devido ao menor empilhamento de camadas (menor número médio de
camadas) (Quadro 2). Independentemente das condições pedobioclimáticas, as caulinitas
apresentam reduzido crescimento na direção basal. Os maiores valores de DMC (001) para os
solos originados de sedimentos do Grupo Barreiras são atribuídos ao alto grau de intemperismo
e à relativa pureza dos solos em caulinita, permitindo maior crescimento das partículas. Nesses
solos, cerca de 800 g kg-1 da fração argila é constituída por caulinita (Quadro 2).
Amostra Classe(1) Horiz. Localização Mat. de Caulinita DMC NMC (2) TD(3) ASE(3)
Origem (001)
g kg –1 nm °C m 2 g –1
1 PA1 B Aracruz - ES Grupo Barreiras 854 22,0 30,6 515 44,1
2 PA1 C Aracruz - ES Grupo Barreiras 894 23,2 32,2 517 38,8
3 PA2 B Aracruz - ES Grupo Barreiras 853 23,7 33,1 513 42,7
4 PA2 C Aracruz - ES Grupo Barreiras 870 26,1 36,3 516 35,3
5 PA3 B Aracruz - ES Grupo Barreiras 872 22,5 31,3 517 40,9
6 PA3 C Aracruz - ES Grupo Barreiras 899 22,8 31,7 516 38,3
7 LA1 B Aracruz - ES Grupo Barreiras 872 21,8 30,4 516 44,5
8 LA2 B Aracruz - ES Grupo Barreiras 885 19,5 27,4 516 46,0
9 LA B Boa Vista - RR Grupo Barreiras 944 21,3 29,5 518 37,7
10 LU B Viçosa - MG Gnaisse 623 21,4 29,3 514 41,7
11 LE B Ituiutaba - MG Arenito Bauru 583 15,2 21,0 507 52,9
12 PE B Butiá - RS Arenito/Siltito 734 9,0 12,4 500 80,6
13 LR B Capinópolis - MG Basalto 574 14,8 20,5 509 51,9
14 LR B Boa Vista - RR Basalto 730 15,2 21,2 514 52,6
15 PV B Aracruz - ES Granito 661 8,9 12,3 500 74,9
16 PV C Aracruz - ES Granito 407 8,2 11,3 489 49,0
17 C B Butiá - RS Granito 861 16,8 23,4 509 57,5
18 C C Butiá - RS Granito 872 15,3 21,3 509 54,8
19 C B São Geraldo - MG Gnaisse 668 14,6 20,2 515 41,9
20 C C São Geraldo - MG Gnaisse 630 14,0 19,3 505 39,9
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____________________________ nm ____________________________
Quadro 4. Distribuição das formas das partículas de caulinita da fração argila de solos do
Brasil
5 PA 3 34,3 20,0 2,9 0,0 57,2 8,6 10,0 12,9 7,1 1,4 2,9 20,0
9 LV 50,0 4,0 6,0 2,0 62,0 4,0 6,0 10,0 6,0 10,0 2,0 22,0
10 LU 43,7 5,8 2,3 8,1 59,8 5,8 4,6 4,6 11,5 8,1 5,8 24,9
11 LE 28,7 11,5 5,8 0,0 46,0 4,6 3,5 8,1 11,5 16,1 10,3 37,4
12 PE 22,8 11,4 6,3 0,0 40,5 2,5 7,6 12,7 7,6 16,5 12,7 40,7
13 LR 37,6 9,7 1,1 16,1 64,5 10,8 3,2 8,6 2,2 9,7 1,1 17,8
14 LR 28,7 8,5 1,1 4,3 42,6 4,3 7,5 7,5 9,6 11,7 17,0 40,1
(1)
Al, C, SC e FI = alongada, circular, semicircular e forma indefinida. Total = percentagem total das partículas
sem faces euhédricas; (2)partículas com 1, 2, 3, 4, 5 e 6 faces euhédricas. FE = percentagem de faces euhédricas na
amostra.
Fonte: Melo et al. (2001b).
A técnica mais usada para definir as dimensões a (maior eixo) e b (menor eixo) e as
formas da caulinita é a microscopia eletrônica de transmissão (MET). A medição direta
das partículas de determinada amostra, após a correção da ampliação da foto, permite a
obtenção de valores médios de largura e comprimento das partículas. De acordo com o
estudo de Melo et al. (2001b), o tamanho da partícula na direção a é 34 a 44 % maior que
na direção b e os valores elevados para as relações a/DMC e b/DMC (Quadro 3) comprovam
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(a) (b )
(c ) (d)
Fig ura 19. Micr ogr afi as o bti das em micros cópi o e let rôni co de varr edura de p erfil
intemperizado: (a) aglomerado esferoidal de haloisita acicular, crescendo em um
esqueleto de grão de feldspato parcialmente dissolvido; (b) lâminas de caulinita
ligeiramente deformada e esfoliada coberta por tubos de haloisita; (c) partículas espessas
de ilita dominando a fração argila; (d) caulinitas pseudomorfas de biotita, com bastante
deformação e delaminação.
Fonte: Duzgoren-Aydin et al. (2002).
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(a) (b )
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(a)
(c )
(d)
(b )
(e)
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Figura 22. Composição de soluções de equilíbrio com montmorilonita de regiões dos Estados
Unidos (amostras representadas por símbolos geométricos), após três a quatro anos de
reação. Os símbolos cheios indicam condições que determinam a formação da caulinita e
os símbolos abertos representam que o mineral não foi formado em virtude das condições
desfavoráveis dos tratamentos. A linha horizontal no topo representa a condição mínima
(saturada) para formação de gibbsita.
Fonte: Adaptada de Kittrick (1970).
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a declividade da reta igual a 1/3. Na figura 22, essas condições são representadas pela
faixa onde a linha da caulinita é contínua (direita da área sombreada da sílica amorfa).
As seguintes variações foram observadas nos tratamentos ao final do tempo de reação
no trabalho de Kittrick (1970); pH de 2,6 a 3,47; pH4SiO4 de 2,38 a 3,53; pAl3+m (em que
m representa a concentração, mol L-1 , devida às espécies hidrolisadas) de 2,15 a 4,09.
Presumivelmente, quanto maior o grau de supersaturação (condições acima da reta),
mais rápida a taxa de formação da caulinita. Contudo, a solução supersaturada em
relação à caulinita, provavelmente, também é supersaturada em relação a outros minerais.
O risco de precipitação de outros minerais poderia ser minimizado pela utilização de
soluções apenas ligeiramente supersaturadas (condições acima, mas próximas à reta e
concentração de sílica inferior à solubilidade da sílica amorfa). Um exemplo é a
possibilidade de formação de gibbsita em soluções com excessiva concentração de Al
(alta supersaturação em relação à caulinita - Figura 22). Todos as soluções do trabalho
de Kittrick (1970) apresentaram características de subsaturação em relação à gibbsita
(valores de pH - 1/3pAl3+ bem inferiores a 2,64 - valor correspondente ao intercepto da
linha horizontal da gibbsita, na parte superior do gráfico), desfavorecendo a formação
do mineral. Outra situação possível de se verificar na figura 22 é a região de subsaturação
em relação à caulinita (área abaixo da reta da caulinita), onde a relação sílica/alumino
seria maior, o que favoreceria, por exemplo, a formação de minerais 2:1 (grupo das
esmectitas).
A solubilidade da haloisita é maior do que a da caulinita, o que, aparentemente,
torna a sua formação em condições de laboratório mais facilitada. A reta que descreve a
formação da haloisita é paralela àquela descrita para a caulinita (Reação 7), mas com um
valor de intercepto maior (1/6pK estimado em 1,7) (Kittrick, 1969). Para um mesmo valor
de pH-1/3pAl3+ (ordenada) (Figura 22), a solução de formação ficaria saturada em relação
à haloisita (condição inicial para formação) para uma concentração superior de Si (menor
valor de pH4 SiO4 - abscissa) em relação à formação da caulinita. As condições de formação
da haloisita são comparadas àquelas de formação da caulinita de alta desordem estrutural
("fire clay").
Alguns pesquisadores têm produzido caulinita em temperatura ambiente na
presença de compostos orgânicos. Quando há precipitação em soluções, ocorre,
provavelmente, a formação de núcleos de cristal na superfície de outros sólidos pre-
existentes, pois as superfícies minerais e orgânicas podem catalisar a etapa de
nucleação da cristalização. Essas superfícies reduzem a barreira de energia de
nucleação (veja detalhes no capítulo V). Segundo Hem & Lind (1974) a adição de
quercetina, uma flavona orgânica (C15 H 10 O 7 ), em solução aquosa com sílica e Al e pH
final ajustado de 6,5 a 8,5, produziu um precipitado de aluminossilicato 1:1, o qual,
após 6 a 16 meses de reação em solução a 25 oC, continha mais de 5 % de partículas de
caulinita bem cristalizadas (forma hexagonal). Solução similar sem o material
orgânico produziu apenas precipitado amorfo com a mesma composição. Os autores
justificaram que a quercetina foi usada no experimento pela semelhança estrutural
com os ácidos fúlvicos, normalmente encontrados em solos e em água e por ser
quimicamente estável e formar complexos com vários metais. A principal função deste
composto orgânico é prevenir a formação de gibbsita, aumentando a produção de
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Figura 23. Padrões de DRX (radiação CuKα) de um gel e um grupo selecionado de amostras
de caulinita. Notar o aumento da intensidade das reflexões basais e resolução das
bandas hk0 (estimativa da cristalinidade) devido à maior formação de caulinita. A
relação Si/Al em todos os tratamentos com variações de temperatura e tempo de
reação foi de 1,26.
Fonte: Huertas et al. (1999).
(Figura 24). A quantidade de caulinita formada para os géis com a relação Si/Al igual
a 0,99; 0,84 e 0,76 foi similar. Esse comportamento foi inesperado, uma vez que maior
quantidade do mineral deveria ser formada a partir de material com relação Si/Al
de 0,99 (relação próxima à composição da caulinita). A partir dos resultados de
cinética, Huertas et al. (1999) relataram que a formação da caulinita se dá em duas
fases: i) formação de caulinita metaestável com morfologia esférica a partir da reação
do gel; ii) reações de transformação deste intermediário em caulinitas hexagonais, com
maior cristalinidade. A taxa do primeiro estádio foi aproximadamente o dobro mais
rápido que o segundo. O desaparecimento das partículas esféricas de caulinita,
formadas na primeira fase, pode ser devido a dois processos (não excludentes): i) as
esferas foram dissolvidas para a formação das partículas laminares hexagonais; ii) as
esferas perderam os domínios. Neste último caso, pode ser sugerido que o crescimento
dos cristais ocorre pela absorção de Si e Al nos domínios, os quais atuam como
"sementes" para a formação da estrutura da caulinita (formação de partículas
hexagonais).
A morfologia dos cristais de caulinita é bastante variável na síntese em ambientes
controlados. Fiore et al. (1995) formaram partículas de caulinita alongadas em baixa
temperatura (< 200 o C), a partir de géis com a relação em concentração Si/Al próximo
de 1. Cristais na forma hexagonal foram favorecidos por altas temperaturas (> 200 o C)
em géis ricos em Si ou Al (relação mais distante de 1).
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Fig ura 24. Curv as repr ese ntat iva s da an ális e te rmo dife ren cial (A TD) e a náli se
termogravimétrica (TG) do gel com relação Si/Al = 0,76 e alguns produtos obtidos da
reação a 200 oC. Notar a evolução dos picos de desidroxilação: em período curto (24 h), um
pico aparece a 468 oC; mais tarde, este pico começa a desaparecer e outro começa a se
formar a uma temperatura maior, 540 oC. PM = perda de massa em virtude da retirada de
água estrutural pelo aquecimento da amostra (TG).
Fonte: Huertas et al. (1999).
A caulinita esférica foi sintetizada pela primeira vez por Tomura et al. (1983), a
partir de material aluminossilicato amorfo em experimento hidrotermal efetuado entre
150 e 250 o C sob pressão controlada. Os autores utilizaram uma mistura de sílica coloidal
e alumina com relação molar de 0,5. O tempo de reação variou de 2 a 62 dias. As esferas
(Figura 25), cujo diâmetro variou conforme as condições de crescimento (0,1 a 0,6 µm),
foram formadas na superfície do aluminossilicato amorfo em todos os tratamentos
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realizados entre 150 e 250 o C. O máximo de formação de caulinita esférica (74 %) foi
verificado para o tratamento de 200 o C com tempo de reação de oito dias. Para temperaturas
acima de 250 o C, a caulinita esférica tornou-se instável, formando apenas partículas
hexagonais. Kawano & Tomita (1995) também observaram a formação de partículas
esferoidais como fase metaestável na formação de caulinita. Já na formação de haloisita,
essas partículas esféricas não foram observadas. Segundo os autores, a formação da
haloisita em ambiente controlado requer baixa temperatura (cerca de 150 o C ou menos) e
alta atividade de Si.
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(a)
(b) (c)
Figura 26. Esquema das transformações físicas e químicas dos feldspatos (a) e micrografia
obtida em microscópio eletrônico de varredura de partículas de feldspatos com menor (b)
e maior (c) grau de intemperismo.
Fonte: Melo et al. (2000).
Figura 27. Seção fina petrográfica, sob luz polarizada cruzada de saprolito intemperizado. Os
plagioclásios (ponto preto na ponta da seta) foram quase completamente intemperizados
em caulinita (grãos brancos pequenos). Os espaços porosos do material (faixas em preto)
são vistos na direção horizontal. O campo horizontal de visão possui 1,2 mm.
Fonte: Turner et al. (2003).
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Figura 28. Detalhe do contato entre horizonte caulinítico e saprolito gibbsítico em um bloco
impregnado.
Fonte: Furian et al. (2002).
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horizontes (Figura 29). Alguns mecanismos têm sido propostos para a transformação de
mineral 2:1 em mineral 1:1: i) solubilização e remoção de lâminas de tetraedros de Si
(Kukovsky, 1969); ii) rearranjamentos estruturais associados com processos de dissolução
e precipitação de produtos dos intemperismo (Karathanasis & Hajek, 1983).
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(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
Figura 31. Seções finas de amostras indeformadas de horizonte CB formado de biotita xisto,
vis tas sob luz pola riza da: (a) inte mper ismo de part ícul a de bio tita , co m zo nas
completamente caulinizadas (Ct - caulinita - material branco) lado a lado com zonas
relativamente intactas de biotita (Bi); (b) partículas de biotita intemperizadas, mostrando
bordas expandidas e esfoliadas ao longo dos planos de clivagem (001); (c) biotita
intemperizada envolvidos por uma matriz de argila vermelha; (d) partículas de biotita
intemperizada; (e) partículas de biotita caulinizada; (f) nódulo rico em ferro, com argila
vermelha e pseudomorfos de biotita completamente caulinizados (Ct).
Fonte: Kretzschmar et al. (1997).
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(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
Fig ura 33. Micr ogr afi as o bti das em microscópi o e letr ôni co d e v arr edur a d e bioti ta
intemperizada e formação de haloisita no saprolito de solo formado de biotita xisto: (a)
partícula de biotita altamente intemperizada coberta com haloisita tubular. As setas
indicam a face basal (001) do mineral, com pouca formação de haloisita; (b) ampliação de
(a), mostrando a cobertura densa de haloisita na borda da biotita; (c) partícula de biotita
menos intemperizada exibindo esfoliação e bordas expandidas; (d) ampliação de (c),
mostrando haloisita tubular nas bordas da biotita; (e) ampliação de (d), mostrando os
cristais de haloisita; (f) ampliação de (a), mostrando a haloisita na face basal superior de
partícula extremamente intemperizada de biotita.
Fonte: Kretzschmar et al. (1997).
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dos planos de clivagens (faces basais) das partículas e precipitar com o Al da solução
do solo para formar haloisita nas bordas do mineral. No perfil analisado por
Kretzschmar et al. (1997), a caulinita foi o mineral predominante nos horizontes
superficiais até o horizonte CB (Figura 31) enquanto a haloisita predominou no
saprolito (Figura 33). Braga et al. (2002) também identificaram minerais cauliníticos,
com diferentes hábitos de crescimento, em partículas esfoliadas de biotita em saprolito
de granito, sob condições de clima temperado. Os minerais com forma tubular que
cresceram perpendicular ao eixo cristalográfico c foram identificados como haloisita
(Figura 34). Em um simples cristal de biotita, os autores identificaram diferentes
microssítios de formação de minerais secundários, com a presença de áreas com
vermiculita, caulinita, haloisita e gibbsita. Entretanto, na maioria dos estudos de
saprolitos de solos formados de rochas graníticas, a haloisita é formada principalmente
em associação com o intemperismo dos feldspatos (Calvert et al., 1980; Buol & Weed,
1991, Melo et al., 2001b).
(a)
(b) (c)
Figura 34. (a) tubos duplos de metahaloisita - imagem obtida em microscópio eletrônico de
transmissão; (b) biotita intemperizada no saprolito - imagem obtida em microscópio
eletrônico de varredura; (c) espectro químico da biotita na posição 1 e caulinita-
metahaloisita na posição 2.
Fonte: Braga et al. (2002).
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Atributos Químicos
Mesmo apresentando baixa densidade de carga superficial (CTC de 30 a 150 mmolc kg-1 -
Grim, 1968) e baixo valor de área superficial específica (10 a 20 m2 g-1), a caulinita, por
seus altos teores na fração argila, é um dos minerais mais importantes na definição do
comportamento químico dos solos de clima tropical úmido. A CTC da caulinita é devida
às cargas dependentes de pH que surgem das ligações quebradas ao longo das bordas do
mineral. Essas cargas aumentam não só com a redução do diâmetro e da cristalinidade
do mineral, mas também com a elevação do pH dos solos. Dada a adsorção de cátions em
valores muito baixos de pH, alguns autores admitem a existência de cargas negativas na
lâmina tetraédrica da caulinita em decorrência da substituição isomórfica de Si4+ por Al3+.
Considerando as ligações de H entre as camadas adjacentes, o que limita a possibilidade
de a caulinita expandir e expor suas faces internas, essas possíveis cargas negativas
permanentes manifestar-se-iam apenas na superfície siloxana do mineral (Figura 35).
Contudo, é mais aceito que a eventual ocorrência de cargas negativas permanentes na
caulinita é devida apenas à interestratificação de camadas 2:1. A adsorção de cátions em
condições muito ácidas na caulinita também pode ser explicada pela facilidade das OH
ligadas a apenas um átomo de Si na lâmina tetraédrica de formarem cargas negativas.
A hidratação da superfície da caulinita pode levar à formação de espécies, como:
grupos Al-OH-Al na superfície da lâmina gibbsítica terminal (superfície gibbsítica),
grupos Al-OH (grupos aluminol) nas bordas quebradas das lâminas octaédricas e grupos
Si-OH (grupo silanol) na borda quebrada da lâmina tetraédrica terminal (superfície
siloxana) e das lâminas tetraédricas internas (Figura 35). O grau de ionização dos grupos
hidratados de superfície (Sup-OH) depende do pH do meio e das reações ácido/base que
ocorrem na interface partícula/solução:
H+ OH-
Sup-OH2 + Sup-OH Sup-O- (8)
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aluminol (Al-OH) é um ácido fraco, cujo valor do PCZ está entre 7 e 9. Dessa forma, o PCZ da
caulinita será determinado por grupos ácidos fortes e ácidos fracos. Outro ponto de vista é
que, para um mesmo radical, esperam-se situações diferenciadas em razão do número de
cátions ligantes: a hidroxila exposta pode estar ligada ou a um (Al-OH da borda) ou dois (Al-
OH-Al da superfície gibbsítica) átomos de Al (Figura 35). À medida que aumenta o número
de metais ligados à OH, espera-se o deslocamento com maior intensidade da nuvem eletrônica
da ligação covalente em direção ao O, resultando um fortalecimento da ligação O-H, e
reduzindo a acidez do radical. Então, para os mesmos componentes, o grupo Al-OH-Al deve
ter caráter ácido mais fraco (maior PCZ) que o grupo Al-OH. Por sua ligação com dois átomos
de Al, a OH do grupo Al-OH-Al apresenta pouca possibilidade de formação de cargas
positivas (CTA). O mesmo comportamento é observado para o grupo silanol (Si-OH). Já o
grupo aluminol (Al-OH) apresenta forte caráter anfótero, com presença de cargas negativas
e positivas (proporções variadas de acordo com o pH):
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Atributos Físicos
Os agregados são estruturas secundárias formadas por meio da combinação de
partículas minerais com substâncias orgânicas e inorgânicas, em decorrência das cargas
elétricas superficiais das partículas coloidais. A dinâmica complexa da floculação das
partículas sólidas e agregação do solo é resultado da interação de vários fatores, incluindo
ambientais, manejo do solo, influência da planta e propriedades do solo, como composição
mineral, textura, teor de carbono orgânicos (CO), processos pedogenéticos, atividade
biológica, teor de íons trocáveis e umidade. Os agregados ocorrem em várias formas e
tamanhos e são, freqüentemente, agrupados em macroagregados (> 250 µm) e
microagregados (< 250 µm). A formação processa-se em estádios, com diferentes
mecanismos de ligação dominando em cada etapa. Uma teoria hierárquica de agregação
propõe que os microagregados se juntem para formar macroagregados e as ligações dentro
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dos microagregados são mais fortes que as ligações entre microagregados (Edwards &
Bremmer, 1967).
As interações entre caulinita e óxidos de Fe e Al são importantes para a agregação
e definição das características físicas dos solos altamente intemperizados. Dimirkou et
al. (1996) verificaram expressiva redução das cargas negativas da caulinita em
suspensão com solução contendo Fe pela precipitação de Fe(OH) 3 a pH 3,0. O
precipitado, com predomínio de cargas positivas, cobriu a superfície da caulinita. Desta
forma, a interação entre caulinita e compostos amorfos e óxidos de F e Al cristalinos é
sinergística e aumenta o potencial de agregação da caulinita. Outro fator que contribui
para aumentar a capacidade de floculação da caulinita é a atração eletrostática entre
as cargas positivas das bordas das lâminas octaédricas de uma partícula e as cargas
negativas da superfície siloxana de outro cristal; ambas as cargas co-existem nos valores
de pH dos solos.
Como resultado da maior capacidade de floculação da caulinita, sobretudo em
sistemas mistos com óxidos de Fe e Al, os solos cauliníticos são menos dependentes em
matéria orgânica para a formação inicial dos agregados (Denef et al., 2002). Por outro
lado, esses agregados somente são estabilizados pelo sinergismo entre processos físicos
e biológicos, como o crescimento ativo das raízes, atividade biológica, envelhecimento e
ciclos de umedecimento e secagem (Six et al., 2004).
Denef & Six (2004) incubaram por 76 dias agregados de um Latossolo Vermelho
férrico, com diâmetro menor que 2 mm (peneiramento e homogeneização), nas
seguintes condições: i) controle: sem adição de resíduo orgânico ou crescimento de
planta; ii) adição de resíduo orgânico; iii) crescimento de plantas; iv) adição de resíduos
mais crescimento de plantas. Após 46 dias, novos agregados maiores que 2 mm foram
formados no tratamento-controle, apenas por partículas de silte mais argila, sem
acúmulo de CO. Os solos cauliníticos tiveram crescimento rápido dos agregados,
independentemente dos processos biológicos, em virtude de interações físicas ou
eletrostáticas entre os minerais 1:1 e os óxidos de Fe e Al. Contudo, os macroagregados
formados nos solos cauliníticos, sem a adição de matéria orgânica (processos abióticos),
apresentaram-se menos estáveis que os agregados formados por processos bióticos
(efeito cimentante da matéria orgânica).
O tipo de argila também afeta, de forma indireta, a agregação, por influir na taxa de
decomposição da matéria orgânica do solo. A presença de montmorilonita resulta numa
rápida decomposição do CO com a produção de mais moléculas de ácido fúlvico de
baixo peso molecular, comparado com a caulinita, a qual resulta numa decomposição
lenta e com mais C residual e ácidos húmicos (D'Acqui et al., 1998). Resultados contrários
foram obtidos por Wattel-Koekkoek et al. (2003), em que a decomposição da matéria
orgânica associada à caulinita foi mais rápida (360 anos) do que aquela associada à
esmectita (1.100 anos). A diferença nos resultados pode estar no método utilizado:
enquanto D'Acqui et al. (1998) avaliaram a interação mineral-matéria orgânica, após
mistura e incubação destes componentes, por um período de apenas 30 dias, no estudo
de Wattel-Koekkoek et al. (2003), foi possível a estimativa a longo prazo, pela técnica do
radioisótopo 14C.
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(a)
(b)
Figura 36. (a) Amostra de caulinita incubada por 30 dias a 25 oC com folhas moídas de nogueira:
formação de poros entre agregados discretos de grupos orientados de cristais de caulinita
(p = poros); (b) amostras de caulinita incubadas nas mesmas condições, mas sem a adição
de material orgânico.
Fonte: D'Acqui et al. (1998).
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quantitativa desses minerais nas características físicas dos solos foi discutida por Resende
(1985), Schwertmann & Kampf (1985), Resende et al. (1992), Pinheiro-dick & Schwertmann
(1995), Ferreira et al. (1999a,b), Giarola et al. (2002), Pedrotti et al. (2003), Ghidin et al.
(2006b) e Melo et al. (2007).
Além do efeito dos minerais da fração argila na floculação e estabilização dos
agregados, a forma desses minerais é importante na definição da forma e tamanho das
estruturas do solo. Resende (1985), Resende et al. (1992) e Resende et al. (1997) atribuíram,
principalmente, à hematita, goethita e gibbsita o efeito desorganizador de minerais
filossilicatos na fração argila, destacando-se a caulinita. Assim, o maior teor desses
constituintes corresponderá ao maior grau de desorganização em nível microscópico e
conseqüentemente, à estrutura mais próxima do tipo granular. Por outro lado, esses
autores discutiram também o efeito da caulinita na estrutura dos Latossolos, atribuindo
ao arranjo face a face do mineral a estrutura predominantemente em blocos.
Adicionalmente ao predomínio de estruturas em blocos nos solos mais cauliníticos,
resultante da forma laminar do mineral, o contato e o ajuste mais livre das partículas
também favorecem o maior crescimento dos agregados. A qualidade da fração argila tem
efeito não apenas no tamanho dos agregados, mas também na morfologia externa dos mesmos.
Segundo Melo et al. (2008), para algumas classes de tamanho de agregados dos horizontes
Bw1 e Bw2 de perfis de Latossolos Bruno (LBd) e Vermelho (LVdf), o aumento no diâmetro
médio geométrico e na área, o crescimento preferencial em um eixo (alongamento) e a redução
da rugosidade externa dos agregados foram favorecidos pelo maior teor de caulinita na
fração argila. Efeito oposto foi verificado para os óxidos de Fe e Al.
No estudo realizado por Ferreira et al. (1999a), os latossolos brasileiros foram
divididos em cauliníticos e gibbsíticos quanto à forma de estruturação. A avaliação
micromorfológica revelou que a distribuição dos grãos de quartzo no Latossolo caulinítico,
em relação ao plasma, é eminentemente porfirogrânica, isto é, os grãos estão envoltos
num plasma denso, contínuo, com pouca tendência ao desenvolvimento de microestrutura.
Esse fenômeno implica o surgimento de estruturas em blocos, fazendo com que os solos
apresentem-se mais compactos, menos permeáveis, com menor estabilidade de agregados
em água e maior tendência à erosão laminar. Desta forma, os autores justificaram a
menor estabilidade de agregados do solo desenvolvidos sob clima temperado. Nos
Latossolos gibbsíticos, a distribuição dos grãos de quartzo em relação ao plasma seguiu
o padrão "agglutinic", ou seja, os solos apresentaram desenvolvimento de microestrutura
com predomínio de poros de empacotamento composto. Isto provocou o surgimento de
estrutura do tipo granular, apresentando-se mais porosos, mais permeáveis, com maior
estabilidade de agregados em água e menores valores de densidade do solo.
Ghidin et al. (2006b), em duas toposseqüências de Latossolos no Paraná, verificaram
que os valores de coeficiente de correlação entre características físicas e mineralógicas
dos perfis do Latossolo Bruno ácrico húmico (LBw) foram altos e significativos. A redução
da drenagem do LBw (aumento da microporosidade e densidade do solo e redução na
macroporosidade e porosidade total) foi consistentemente acompanhada pelo aumento
nos teores de caulinita. Com relação às análises micromorfológicas (Figuras 37 e 38), os
autores fizeram as seguintes observações: i) nos horizontes Bw2 do LBw, do topo para as
partes mais baixas da toposseqüência, ocorreu diminuição da macroporosidade (Figura
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37), concordando com os resultados da análise física. Esse fato foi atribuído ao aumento
no teor de caulinita e redução no teor de gibbsita e óxidos de Fe nas partes mais baixas
da toposseqüência, principalmente no perfil 4 (correlações entre macroporosidade e
teores de caulinita, gibbsita e Fe 2 O3 -extraído com DCB = -0,93**, 0,85** e 0,81*,
respectivamente); ii) a estrutura granular observada nos horizontes Bw1 e Bw2 do
Latossolo Vermelho distroférrico húmico (LVdf ) (Figura 38) foi atribuída ao maior teor
de gibbsita e óxidos de Fe em relação à caulinita. A forma granular da estrutura conferiu
ao solo maior macroporosidade. A semelhança nas características micromorfológicas
das amostras ao longo da toposseqüência (Figura 38) deveu-se à proximidade dos
teores dos minerais da fração argila entre os perfis do LVdf, principalmente de caulinita,
gibbsita e hematita.
Figura 37. Microfotografias dos horizontes Bw1 e Bw2 do Latossolo Bruno ácrico húmico de
perfis na toposseqüência (na seqüência, o perfil 1 (P1) localizava-se na posição mais alta
do relevo e o perfil 4 (P4) na posição mais baixa).
Fonte: Ghidin et al. (2006b).
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Figura 38. Microfotografias dos horizontes Bw1 e Bw2 do Latossolo Vermelho distroférrico
húmico de perfis na toposseqüência (na seqüência, o perfil 1 (P1) localizava-se na posição
mais alta do relevo e o perfil 4 (P4) na posição mais baixa).
Fonte: Ghidin et al. (2006b).
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0,7 nm em amostras orientadas, reagir com etileno glicol e medir novamente. O crisotilo,
antigorita, clorita e variedades polimórficas da caulinita não alteram a distância basal,
ao contrário da haloisita, por permitir a entrada da molécula orgânica na região das
pontes de H (menor energia de ligação das camadas). Outro exemplo prático do uso da
intercalação na DRX é a solvatação da amostra com formamida para diferenciar caulinita
e haloisita desidratada (Takahashi et al., 2001). De forma análoga ao etileno glicol, a
formamida penetra entre as camadas da haloisita, aumentando o espaçamento basal de
0,7 nm para 1,0 nm (Figura 32b).
Na caulinita, a presença de grupamentos OH de um lado da camada (Figura 5)
permite o processo de solvatação desses grupamentos, inclusive pelo uso de polímeros
(Gardolinski et al., 2000b). Uma característica importante ainda pouco explorada é a
possibilidade de ligar covalentemente moléculas específicas às camadas (por meio dos
grupamentos aluminol intercamadas) ou modificá-las após o processo de funcionalização
(dar à matriz outra função química diferente da original). Com este procedimento, materiais
interessantes poderão ser obtidos (Guimarães et al., 1998), por meio da funcionalização
ou intercalação com compostos orgânicos ou inorgânicos (corantes ou pigmentos,
catalisadores, precursores de catalisadores, trocadores catiônicos ou aniônicos, etc.).
Além das possibilidades descritas, o confinamento (intercalação ou funcionalização) de
moléculas num nanoambiente assimétrico (superfície com grupos Al-OH e superfície
com grupos Si-O) poderá gerar materiais com propriedades físicas diferenciadas daquelas
que se observa com as moléculas livres ou na forma cristalina. Embora haja essa infinidade
de possibilidades, poucos são os estudos que utilizam a caulinita como matriz hospedeira
para tais reações. As reações mais importantes envolvem os processos de solvatação
(intercalação) e funcionalização dos grupamentos aluminol.
Al2 Si2 O5(OH)4 + x(CH3 )2SO ↔ Al2Si2O5 (OH)4 ((CH3 )2 SO)x (9)
(CH 3)2 SO = dimetilsulfóxido; Al2 Si2O5(OH)4 = caulinita
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Funcionalização Direta
Além dos processos de simples intercalação, processos de funcionalização direta
podem ocorrer na caulinita, como descrito na reação 11.
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(a) (b)
(c) (d)
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uréia ou acetato de K, estudos são necessários para verificar utilizações potenciais desses
sistemas para liberação controlada de N e K no solo. Além de ocorrer um processo de
intercalação como descrito na reação 13, os cristais podem mudar a sua morfologia,
passando da forma de camadas para formas arredondados ou tubulares, sendo esse efeito
mais pronunciado quando se utilizam reatores pressurizados.
Al2 Si2O5 (OH)4 + x (NH2)2 CO ↔ Al2 Si2O5 (OH)4 ((NH2)2 CO)x (13)
(NH2)2 CO = uréia; Al2Si2 O5 (OH)4 = caulinita.
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Caulinita
As técnicas mais comuns de identificar a caulinita e haloisita são a difratometria de
raios-X, espectrofotometria da região do infravermelho, análise térmica e microscopia
eletrônica, tanto de varredura como de transmissão. A figura 41 apresenta o difratograma de
raios-X de uma amostra orientada de caulinita obtida na maior região produtora de caulinita
do Brasil (região da bacia do Rio Capim - Estado do Pará), obtido com um difratômetro
Rigaku, operando com radiação CoK com comprimento de onda λ = 0,17902 nm e velocidade
de varredura de 1 °2θ min-1. As reflexões indicadas por (001), (002) e (003) referem-se à
seqüência de reflexões basais da caulinita, com diferentes ordens (n variando de 1 a 3) e
valores de espaçamento interplanares iguais a 0,716; 0,358; 0,239 nm, respectivamente.
Figura 41. Difratograma de raios-X de uma amostra orientada de caulinita, minerada no Rio
Capim, Estado do Pará.
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As distâncias interplanares (001), (002) e (003) foram calculadas por meio da equação de
Bragg (d = n λ/2 senθ), sendo obtidos valores muitos próximos entre as amostras para uma
mesma reflexão (n = 1, 2 e 3). A distância interplanar (sendo basal ou não) é obtida sempre com
maior exatidão para reflexões ocorridas em maiores valores de o2θ , sendo o erro muito pequeno
com valores próximos a 90 °. De acordo com o padrão das reflexões (veja detalhes no item em
Ordem e desordem estrutural), a caulinita da figura 41 apresenta alta cristalinidade.
A figura 42 apresenta o espectro de infravermelho obtido na mesma amostra de caulinita,
utilizando espectrofotômetro Biorad FTS 35000GX e pastilha de KBr. A técnica de
infravermelho é barata, rápida e não-destrutiva, muito útil para caracterização de
argilominerais e análise de solos de composição complexa. Todavia, alguns cuidados devem
ser tomados no que se refere à preparação da amostra, sobretudo na orientação de cristais,
após o processo de prensagem da pastilha de KBr. No espectro analisado, as bandas em
3.695, 3.668 e 3.652 cm-1 são relativas às OH superficiais da estrutura da caulinita, enquanto
a banda 3.619 cm-1 corresponde à OH interna. Essas bandas são características da estrutura
da caulinita e podem variar de intensidade de acordo com a estrutura mais ou menos
ordenada. Na região de 3.600 cm-1 (Figura 42), é possível diferenciar todos os polimorfos
conhecidos da caulinita (caulinita, nacrita e diquita) e indicar o grau de desordem estrutural.
No caso de caulinita com baixa ordem estrutural, as bandas em 3.668 e 3.652 cm-1 transformam-
se em uma única banda posicionada em 3.653 cm-1. No caso da caulinita analisada na
Figuras 41 e 42, a ordem estrutural é alta. As bandas principais da caulinita podem ser
atribuídas como descrito a seguir: 1.635cm-1 (deformação angular da molécula de água),
1.107, 1.034 e 1.008 cm-1 (estiramentos Si-O) da lâmina de silica, 937 e 915 cm-1 (deformação
angular Al-OH), além de bandas em 791, 755, 699, 541, 470 e 432 cm-1 (Runel & Fraser, 1994).
Figura 42. Espectro de infravermelho de uma amostra de caulinita, minerada no Rio Capim,
Estado do Pará.
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(c ) 10 0.00 0x (d) 3 00 .0 00 x
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Figura 44. Curva de análise térmica da caulinita do Rio Capim, Estado do Pará.
O pico agudo centrado em 993 °C refere-se à cristalização dos óxidos obtidos (reação
14). Em temperaturas entre 1.100 e 1.200 °C, inicia-se a cristalização da cristobalita
(variedade polimórfica de sílica) e da mulita (2Al2 O3 .SiO2), sendo o último um material
refratário muito importante industrialmente. A cristalização completa da mulita e
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Haloisita
A figura 45 apresenta o difratograma de raios-X de amostras de haloisita natural e
após aquecimento a 100 °C por 12 h, obtido com um difratômetro Shimadzu XRD-6000
operando com radiação CuKα (λ = 0,15405 nm) e velocidade de varredura de 1 °2θ min-1.
Na amostra original (Figura 45a), a fase de 1,01 nm predominava, com pequena
contaminação da fase desidratada (fase de 0,7 nm). Após aquecimento (Figura 45b), a
fase desidratada foi predominante, embora a fase de 1,01 nm ainda estivesse presente. A
variação da distância basal de aproximadamente 0,3 nm corresponde ao diâmetro de
van der Waals da molécula de água.
Figura 45. Difratograma de raios-X de uma amostra de haloisita (a) e após aquecimento a
100 °C por 12 h (b).
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Figura 46. Espectro de infravermelho de uma amostra de haloisita (a) e após aquecimento a
100 °C por 2 h (b).
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em que na parte externa ocorrem ligações Al-OH (lâmina octaédrica) e na parte externa
ligações Si-O (lâmina tetraédrica). Mais raramente, a haloisita pode ser encontrada na
forma de pseudo-esferas, aparentemente um estado intermediário na formação da
haloisita, a qual apresenta a estrutura tubular como a mais estável.
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