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I – CONCEITOS BÁSICOS DE QUÍMICA

João Carlos de Andrade 1/

1/
Insti tuto de Química, Universidade Estadual de Campinas, CP 6 154, 13084 -971, Ca mpinas (SP).
dandrade@iqm.unicamp.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................................... 1

SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES (SI) ...................................................................................................... 2


Base do SI ................................................................................................................................................................................. 3
Uso Comum de Algumas Unidades ................................................................................................................................ 5

TABELA PERIÓDICA ............................................................................................................................................................ 1 1


Propriedades da Tabela Periódica .................................................................................................................................. 1 5

REAÇÕES E LIGAÇÕES QUÍMICAS ............................................................................................................................... 2 2

EQULÍBRIOS QUÍMICOS EM SOLUÇÃO AQUOSA ................................................................................................ 2 7


Equilíbrios Iônicos Ácido-Base ........................................................................................................................................ 3 5
Equilíbrios que Envolvem a Formação de Complexos .............................................................................................. 5 0
Equilíbrios que Envolvem Reações de Precipitação ................................................................................................... 5 7
Equilíbrios que Envolvem Reações de Óxirredução ................................................................................................... 6 4

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................................................. 7 1

LITERATURA CITADA ........................................................................................................................................................ 7 1

INTRODUÇÃO

A química é um ramo das ciências naturais que se relaciona fortemente com todos os
demais. Todas as nossas atividades e tudo o que nos rodeia envolvem transformações
químicas, de modo que o entendimento desses fenômenos é essencial para o
desenvolvimento humano, sob todos os aspectos. Obviamente, considerando a extensão
e amplitude dessa matéria, torna-se muito difícil discutir em profundidade tudo isso em
apenas um capítulo. Por exemplo, as ligações químicas, sob os seus vários pontos de
vista, são tema para um ou mais livros.

SBCS, Viç osa , 20 09. Quími ca e Mineral ogia do Solo, xxxxp. (eds. Vander de Freitas Mel o e Luís
Reynaldo Ferracciú Alleoni).
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2 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

Neste capítulo, são apresentados o Sistema Internacional de Unidades (SI) e suas


unidades de base, os conceitos, definições, conversões e o uso comum de algumas das
suas unidades mais comuns, a Tabela Periódica e suas propriedades, alguns conceitos
básicos sobre reações e ligações químicas, além de princípios que envolvem os equilíbrios
químicos em solução aquosa. Em vista da complexidade do tema e do espaço limitado,
apresenta-se ao leitor um texto mais qualitativo sobre esses tópicos, considerados
importantes ao estudo da química do solo. Para demonstrar que é possível fazer cálculos
usando apenas os conceitos aqui apresentados, além de alguns exemplos numéricos,
muitas das figuras são resultados de cálculos a partir de referências bibliográficas,
usando planilha eletrônica. Ao final do capítulo, são citadas referências para consulta,
nas quais os interessados podem encontrar informações adicionais sobre os temas
aqui abordados.

SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES (SI)

Historicamente, o sistema decimal de unidades foi concebido no século XVI, quando


era grande a confusão das unidades de pesos e medidas. A partir de 1790, a Assembléia
Nacional Francesa solicitou que a Academia Francesa de Ciências desenvolvesse um
sistema de unidades que fosse adequado para uso internacional. Este sistema, baseado
no metro como unidade de comprimento e no grama como unidade de massa, foi adotado
inicialmente como medidas práticas no comércio e na indústria, e, posteriormente, nos
meios técnicos e científicos.
A padronização internacional começou em 1870, resultado da Convenção Internacional
do Metro, da qual o Brasil foi um dos signatários em maio de 1875, e que foi ratificada em
1921. Esta Convenção estabeleceu a Agência Internacional para Pesos e Medidas (BIPM -
Bureau International des Poids et Mesures) e constituiu também a Conferência Geral em Pesos e
Medidas (CGPM - Conférence Générale de Poids et Mesures), para tratar de todos os assuntos
relativos ao sistema métrico. O BIPM, cuja tarefa principal é a unificação das medidas físicas,
opera sob a supervisão do Comitê Internacional para Pesos e Medidas (CIPM - Comité
International des Poids et Mesures) e sob a autoridade da CGPM.
As atividades do BIPM, que, no início, eram restritas apenas às medidas de
comprimento e de massa e a estudos metrológicos relativos a estas quantidades, foram
estendidas a padrões de medidas de eletricidade (1927), fotometria (1937), radiações
ionizantes (1960) e de escalas de tempo (1988). Em virtude da abrangência das atividades
do BIPM, o CIPM criou, a partir de 1927, os Comitês Consultivos de Unidades (CCU -
Comités Consultatifs des Unités) para assessorar a elaboração dos documentos a serem
levados à aprovação, assegurando uniformidade mundial para as unidades de medidas.
Em 1948, a 9a . CGPM, por sua Resolução n. 6, encarregou o CIPM de .. "estudar o
estabelecimento de uma regulamentação completa das unidades de medidas"....e "emitir
recomendações pertinentes ao estabelecimento de um guia prático de unidades de
medidas, para ser adotado por todos os países signatários da Convenção do Metro". A
mesma Conferência Geral adotou também a Resolução n. 7, que fixou princípios gerais

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para os símbolos das unidades e forneceu uma lista de nomes especiais de unidades. A
10a . CGPM, em 1954, decidiu adotar como base deste "sistema prático de unidades" as
unidades das grandezas de comprimento, massa, tempo, intensidade de corrente elétrica,
temperatura termodinâmica e intensidade luminosa. A 11a. CGPM, em 1960, por meio de
sua Resolução n. 12, adotou finalmente o nome SISTEMA INTERNACIONAL DE
UNIDADES (com abreviação SI) para o sistema prático de unidades e instituiu regras
para os prefixos, para as unidades derivadas e as unidades suplementares, além de
outras indicações, estabelecendo uma regulamentação para as unidades de medidas.
Até 1862, o Brasil utilizava as unidades e medidas de Portugal [ex: vara, braça
(extensão), quintal (massa), etc.], mas essas medidas nunca foram rigorosamente
cumpridas. Em 1862, o Sistema Métrico francês foi adotado em todo o Império (Lei Imperial
1157), mas somente em 1872 foi aprovado o Regulamento do Sistema adotado. Em 1875,
o Brasil fez-se representar na Conferência Internacional do Metro, mas como este Ato não
foi ratificado no Brasil, deixamos de manter ligações com esta Entidade a partir da
1ª CGPM (1889). Em outubro de 1921, o Brasil aderiu novamente à Convenção do Metro,
iniciando, em 1935, a elaboração de um projeto de regulamentação do seu sistema de
medidas. Com o advento do Estado Novo, foi somente a partir de 1938 que foram fixadas
as bases para a adoção definitiva do sistema de pesos e medidas, o que culminou, em
1953, com a adesão do Brasil à CGPM. Em 1960, o Brasil participou da 11a . CGPM, que
criou o Sistema Internacional de Unidades. Em conseqüência destes fatos, foi criado, em
1961, o Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INPM), hoje designado como Instituto
Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (INMETRO), ao qual cabe
a responsabilidade de manter atualizado o quadro geral de unidades e resolver as dúvidas
que possam surgir da sua aplicação ou interpretação.
No Brasil, a guarda dos padrões e a divulgação das unidades SI são de
responsabilidade do Laboratório Nacional de Metrologia (LNM), vinculado ao
INMETRO. O Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
(SINMETRO), criado pela Lei 5966, de 11 de dezembro de 1973, apresenta ampla
abrangência, incluindo a fiscalização compulsória. O Conselho Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (CONMETRO) é o órgão normativo do SINMETRO,
sendo responsável pela formulação da política metrológica brasileira.

Base do SI
Por convenção, são sete as unidades de base (ou fundamentais) do Sistema
Internacional de Unidades, tidas como dimensionalmente independentes. O SI é
homogêneo, no qual todas as outras unidades são derivadas desse conjunto, que são
definidas a seguir e resumidas no quadro 1.
Metro (m). É o caminho percorrido pela luz no vácuo durante um intervalo de tempo
de 1/299.792.458 de um segundo [17a. CGPM (1983)].
Quilograma (kg). É igual à massa do protótipo internacional (Figura 1), feito com
uma liga platina - irídio, dentro dos padrões de exatidão e confiabilidade que a ciência
permite [1a . CGPM (1889); ratificada na 3a . CGPM (1901)].

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Quadro 1. Unidades SI de base

Grandeza Unidade Símbolo

Comprimento metro m
Massa quilograma kg
Tempo segundo s
Corrente elétrica ampère A
Temperatura termodinâmica kelvin K
Quantidade de matéria mol mol
Intensidade luminosa candela cd
Fonte: SI (1991); Inczédy et al. (1997); INMETRO (2003).

Figura 1. Protótipo do quilograma, mantido no Bureau International des Poids et Mesures.

O quilograma é a única unidade de base definida por um artefato, em vez de uma


propriedade da natureza. Existem propostas para a substituição desse protótipo por
relações invariantes do mundo natural. Segundo Mills (2005), uma delas é relacionar
o quilograma à constante de Plank (o quilograma seria a massa de um corpo no
repouso, tal que a constante de Plank seja exatamente h = 6, 626069311 x 10 -34 J s) e a
outra à constante de Avogadro, N A (o quilograma seria a massa de, exatamente
(6,022141527 x 10 23 / 0,012), átomos de carbono 12 não ligados, no repouso e no
estado fundamental).
Segundo (s). É a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação correspondente à
transição entre os dois níveis hiperfinos do átomo de 133 Cs, no estado fundamental
[13a . CGPM (1967)].

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I - Conceitos Básicos de Química 5

Ampère (A). É uma corrente constante que, se mantida em dois condutores retilíneos
e paralelos, de comprimento infinito e secção transversal desprezível, colocados a um
metro um do outro no vácuo, produziria entre estes dois condutores uma força igual a
2x10-7 newton, por metro de comprimento [9a . CGPM (1948)].
Kelvin (K). É a fração 1/273,16 da temperatura termodinâmica do ponto triplo da
água [13a . CGPM (1967)]. O intervalo de temperatura de um grau Celsius é exatamente
igual a um Kelvin. Assim, a temperatura Celsius (t) está relacionada com a temperatura
termodinâmica (T) pela equação: t = T- To, em que, por definição, To = 273,15 K.
Mol (mol). É a quantidade de matéria de um sistema que contém tantas entidades
elementares quantos forem os átomos contidos em 0,012 kg de 12C [14a. CGPM (1971)]. O
nome desta quantidade vem do francês "quantité de matière", derivado do latim "quantitas
materiae", que, antigamente, era usado para designar a quantidade agora denominada
"massa". Em inglês, usa-se o termo "amount of substance". Em português, consta no
Dicionário como "quantidade de substância", mas pode-se admitir o uso do termo
"quantidade de matéria", até uma definição mais precisa sobre o assunto. Quando se
utiliza o mol, as entidades elementares devem ser especificadas, podendo ser átomos,
moléculas, íons, elétrons ou outras partículas ou agrupamentos de tais partículas.
Candela (cd). É a intensidade luminosa, em determinada direção, de uma fonte
que emite radiaç ão monocromática de fr eqüência 540x10 1 2 hertz e que tem
intensidade radiante naquela direção de 1/683 watt por esterorradiano (ou
estereorradiano) [16 a . CGPM (1979)].
As unidades derivadas (Quadro 2) são obtidas por meio de combinações das
unidades de base, das unidades suplementares e de outras unidades derivadas, de acordo
com as relações algébricas que as relacionam entre si. O uso de unidades não pertencentes
ao SI (Quadro 3) deve ser restrito, a fim de preservar as vantagens de um sistema
homogêneo. Algumas dessas unidades exógenas são convenientes e, por isso, seu uso
tem sido aceito juntamente com as do SI. Algumas unidades úteis e muito usadas em
Ciência do Solo são mostradas no quadro 4.
Recomenda-se que a ordem de grandeza das unidades seja ajustada com o uso dos
prefixos aprovados pelo SI, de modo que o valor numérico associado à unidade situe-se
entre 0,1 e 1.000 (Quadro 5).

Uso Comum de Algumas Unidades


Exceto para algumas unidades, tais como o litro, a tonelada métrica, o hectare e o
Ångstrom, deve-se evitar o uso de nomes especiais para múltiplos e submúltiplos das
unidades SI (Cantarella et al., 2001). Unidades como o mícron (µ = 10-6 m) e o Ångstrom
(Å = 10-10 m) não vêm sendo mais aplicadas correntemente e os termos micrômetro
(µm = 10-6 m), nanômetro (nm = 10-9 m) e picômetro (pm = 10-12 m) devem ser utilizados
preferencialmente em substituição àqueles. Entretanto, o Ångstrom é uma das unidades
que ainda tem o seu uso aceito pelo SI e pode ser utilizada em alguns tipos de cálculos
(ex.: cálculo do coeficiente de atividade, com será visto mais à frente).

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Quadro 2. Algumas unidades SI derivadas com nomes e símbolos especiais

Grandeza Nome da unidade SI Símbolo Definição

Área metro quadrado m2


Volume metro cúbico m3
Velocidade metro por segundo m s-1
Densidade quilograma por metro cúbico kg m-3
Concentração em
mol por metro cúbico mol m-3
quantidade de matéria
Volume específico metro cúbico por quilograma m3 kg-1
Pressão pascal Pa m-1 kg s-2 (= N m-2)
Energia joule J m2 kg s-2 (= N m)
Potência, fluxo watt W m2 kg s-3 (= J s-1)
Carga elétrica coulomb C sA
Diferença de potencial volt V m2 kg s-3 A-1 (= W A-1)
Resistência elétrica ohm Ω m2 kg s-3 A-2 (= V A-1)
Condutância elétrica Siemens S m-2 kg-1 s3 A2 (= Ω-1 =A V-1)
Atividade de um
Becquerel Bq s-1
radionuclídeo
Temperatura Celsius grau Celsius oC K
Fonte: Thien & Oster (1988); SI (1991); Inczédy et al. (1997); INMETRO (2003).

Quadro 3. Unidades não-pertencentes ao SI, mas normalmente aceitas

Grandeza Unidade Símbolo Transposição para unidade SI

Tempo minuto min 1 min = 60 s


hora h 1 h = 60 min = 3600 s
dia d 1 d = 24 h = 86400 s
Ângulo plano grau ° 1° = (π/180) rad
minuto ' 1' = (1/60)° = (π/10800) rad
segundo " 1" = (1/60)° = (π/648000) rad
Volume litro l ou L 1 L = 1 dm3 = 10-3 m3
Massa tonelada t 1 t = 103 kg
Área hectare ha 1 ha = 1 hm2 = 104 m2
Temperatura Celsius °C °C = K - 273,15
Energia Eletron volt (1) eV 1,60219 x 10-9 J (aprox.)
(1)
Unidade cujo valor em unidades SI é obtido experimentalmente.
Fonte: Thien & Oster (1988); SI (1991); Inczédy et al. (1997); INMETRO (2003).

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Quadro 4. Algumas unidades úteis na Ciência do Solo

Quantidade/aplicação Unidade Símbolo

Comprimento (geral) metro, centímetro m, cm


Comprimento de onda nanômetro nm
Massa quilograma, grama kg, g
Quantidade de matéria mol (e múltiplos) mol, mmol
Volume de soluções Litro L
Volume de solo decímetro cúbico dm3
mol por litro (e múltiplos),
Concentrações de soluções mol L-1, g L-1
gramas por litro (e múltiplos)
gramas por decímetro cúbico
Concentração no solo (geral) g dm-3, g kg-1
(ou por quilograma)
mmol de carga por decímetro
Concentrações no solo (íons) mmolc dm-3, mmolc kg-1
cúbico (ou por quilograma)
Concentração no solo (massa molar gramas por decímetro cúbico
g dm-3, g kg-1
desconhecida) - Ex. matéria orgânica (ou por quilograma)

Quadro 5. Prefixos utilizados com as unidades SI

Fator Prefixo Símbolo


10-24 yocto y
10-21 zepto z
10-18 atto a
10-15 femto f
10-12 pico p
10-9 nano n
10-6 micro µ
10-3 mili m
10-2 centi c
10-1 deci d
101 deca da
102 hecto h
103 quilo k
106 mega M
109 giga G
1012 tera T
1015 peta P
1018 exa E
1021 zetta Z
1024 yotta Y
Fonte: SI (1991); Inczédy et al. (1997); INMETRO (2003).

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A unidade SI de área é o metro quadrado (m2 ). O hectare (ha) é um nome especial


para o hectômetro quadrado (hm2). Grandes áreas, de terras ou de águas, são geralmente
expressas em hectare ou em quilômetro quadrado. Os volumes devem ser expressos em
metro cúbico (m3 ) e seus múltiplos. Porém, o litro (L ou l) e seus múltiplos são também
aceitáveis. O litro, mesmo não sendo exatamente igual a 1 decímetro cúbico, pode substitui-
lo em medidas laboratoriais, sem que erros significativos sejam cometidos. Como a relação
entre o litro e o decímetro cúbico é 1L = 1,000028 dm3 , por razões práticas, a 12a CGPM
(1964) estabeleceu o "litro" como um nome especial para o decímetro cúbico. Assim, esta
relação só deve ser empregada em medidas de alta precisão. O símbolo do litro pode ser
escrito com letra minúscula ou maiúscula, sendo esta última preferida e adotada neste
texto, por evitar confusão com o algarismo um (1) ou com a letra (l).
A unidade de base de massa é o quilograma (kg) e seus múltiplos. O termo tonelada
(t = 1.000 kg) deve ser empregado no lugar de megagrama (Mg), pois esta grafia é idêntica
à do elemento magnésio. O uso de tonelada deve ser feito com precauções, dada a
existência da tonelada métrica e da tonelada inglesa, com valores diferentes. A unidade
SI para tempo é o segundo (s), mas o uso de minuto (min), hora (h) e dia (d) é aceitável.
Para temperatura, a unidade SI é o kelvin (K), mas o grau Celsius (°C) também é aceitável
e o mais comumente utilizado.
A unidade SI de pressão é o pascal, Pa (1 atm = 101,325 kPa), que é a pressão
exercida por uma força de 1 N em uma área de um metro quadrado. Os múltiplos mais
comuns são o kPa e MPa. Unidades como atmosfera (atm), psi (libra por polegada
quadrada), mm de Hg e bar devem ser substituídas. A condutividade elétrica deve ser
expressa em siemens (S m-1), no lugar da mmho cm-1 (1 mmho cm-1 = 1 dS m-1). Os múltiplos
mais convenientes são dS m-1 e o mS cm-1.
A unidade "mol" foi introduzida por volta de 1900, por Wilhelm Ostwald (1853 -
1932), "para que não se perdesse de vista o enorme número de átomos, íons e moléculas
presentes nas amostras". Esse conceito é considerado importante por permitir a conexão
entre o mundo microscópico dos átomos e o mundo macroscópico. Assim como o
quilograma é a unidade de medida da grandeza massa e o metro a da grandeza
comprimento, o mol, cujo símbolo também é mol, é a unidade SI para a quantidade de
matéria. Convencionou-se então que a massa molar do isótopo 12 C é igual a 12 x 10-3 kg
mol-1 e que "um mol é a quantidade de matéria presente em 12 x 10-3 kg deste material".
Embora o nome e o símbolo da unidade de medida da grandeza "quantidade de matéria"
(ou "quantidade de substância") sejam idênticos, apenas o nome pode ser grafado no
plural (mols). O símbolo da unidade deve permanecer inalterado no plural, assim como
é recomendado para qualquer símbolo de unidade de medida.
A massa molar, convencionalmente simbolizada pela letra M, é a expressão correta
utilizada para se referir à massa de uma porção de substância cuja quantidade de matéria é um
mol. É utilizada para se referir a moléculas, elementos, íons, elétrons, etc. Exemplo: M (MgCl2)
= 95,21 g mol-1, M (Mg) = 24,31 g mol-1, M (H) = 1,0079 g mol-1, M (Cl2) = 70,916 g mol-1.
Do mesmo modo que o mol, a massa molar atua como ponte entre massa e
quantidade de matéria, podendo ser considerada fator de conversão entre mols e gramas:

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I - Conceitos Básicos de Química 9

z g de (Y)
Fator de conversão = M (Y) =
1 mol de (Y)

Uma vez conhecida a massa molar (M) de um elemento, pode-se encontrar a


quantidade de substância (n) em uma amostra pela medida da massa, bastando dividir
a massa da amostra (m) pela massa de 1,0 mol do elemento, isto é:

m (g)
= n (mol)
M (g mol - 1 )

A estimativa atual do número de átomos naquilo que experimentalmente mais


se aproxima de 12 x 10 -3 kg de 12 C é o valor numérico da constante de Avogadro,
NA = 6,0221367 x 10 23 mol -1 . A constante de Avogadro é usada como fator de
conversão entre a quantidade de substância e o número de entidades (átomos,
moléculas, íons ou fórmulas unitárias):

6 ,0221367 x 10 23
Fator de conversão = N A =
1 mol de Y

Como exemplo, considere a presença de 0,500 mol de Mg em uma amostra de leite de


magnésia. Para sabermos quantos átomos de Mg estão presentes nessa amostra, é preciso
seguir o seguinte raciocínio:

6,0221367 x 10 23 átomos
Número de átomos de Mg = (0,500 mol de Mg ) x
1 mol de Mg

Número de átomos de Mg = 3,0110683 x 10 23 átomos

O emprego da definição de mol tornou obsoleto e em desuso diversos termos como


"número de mols", "número de moléculas-grama", "número de átomos-grama" (substituídos
por quantidade de matéria ou de substância), "peso atômico" e "peso molecular"
(substituídos, respectivamente, por massa atômica e massa molar), e "molaridade" e
"normalidade" (substituídos por concentração em quantidade de matéria ou,
simplesmente, concentração). A grandeza "quantidade de matéria" é determinada
indiretamente, geralmente por uma medida de massa e, ou, volume. Sendo assim, a
quantidade de matéria, em mols, é sempre encontrada em um contexto de cálculos.
Os termos massa nuclídica (m), massa atômica (ma) e massa molecular (m f) têm
significado diferente daquele muitas vezes utilizado no passado. Eles se referem à
massa de determinado nuclídeo, átomo, ou molécula (ou fórmula unitária). Sua
unidade é a unidade unificada de massa atômica (u), definida como 1 u = (6,0221367
x 10 23 ) -1 g, pois a unidade grama é muito grande para expressar a massa nuclídica,
atômica ou molecular. Exemplos: m(35 Cl) = 34,97 u ou 5,807 x 10-23 g; ma(Cl) = 35,45 u
ou 5,887 x 10 -23 g; m f(NaCl) = 58,44 u ou 9,704 x 10 -23 g.

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10 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

As unidades SI para concentração [C] são mol m-3, quando a massa molar for
conhecida, e, kg m-3, se não o for. Múltiplos das unidades SI são, naturalmente, aceitos:
mol cm-3, mmol dm-3, mg kg-1, etc. As concentrações podem também ser expressas em mol L-1.
As concentrações medidas em mol (ex.: mol L-1) não devem ser denominadas por "molar",
pois este termo, associado ao nome de uma grandeza extensiva, indica esta grandeza
dividida pela quantidade de substância (ex.: massa molar). Assim, não se devem mais
utilizar expressões como "solução 1 M de KCl".
Da mesma forma, não se usa mais o termo "fração molar", o qual foi substituído por
fração em mol. A fração em mol de uma substância B é definida como a quantidade de
matéria de B, xB, expressa como uma fração de acordo com a quantidade de matéria total
da mistura, n, tal que:

nB nB
xB =
∑ n
=
n A + n B + n C + ......
em que, ∑n =1

Tomando como exemplo uma mistura com três componentes, composta por 0,1 mol
do componente A, 0,3 mol do componente B e 0,1 mol do componente C, as frações em mol
dos três componentes serão, respectivamente:

0,1 0,3 0,1


xA = = 0,20 xB = = 0,60 xC = = 0,20
0,5 0,5 0,5

Para determinado componente na mistura, por exemplo o componente B, a fração


em mol pode variar de x B = 0 (ausência de "B" na mistura) até x B = 1 (mistura constituída
somente por "B"). Notar que a soma das frações em mol é sempre igual a 1,0.
O uso de percentagem (%) deve ser restrito aos casos estritamente necessários. Por
sua vez, o uso de partes por mil, partes por milhão (ppm) e partes por bilhão (ppb) deve
ser evitado, por não serem unidades SI. O principal problema com estes termos é a
ambigüidade, pois eles podem se referir a relações massa/massa, massa/volume, volume/
volume ou volume/massa. Assim, se for necessário seu uso, é preciso dar referência à
relação de comparação (ex.: 2 % m/v). O uso de percentagem é aceitável em eventos que
não possam ser descritos com unidades SI ou então quando se trata de uma comparação
fracional bem definida. Alguns dos casos possíveis são: coeficiente de variação, umidade
relativa, saturação por bases e átomo-porcento de abundância de isótopos estáveis. A
concentração de nutrientes em solos também pode ser expressa em mmol kg-1, embora o
emprego de unidades em termos de massa/massa ou massa/volume (mg kg-1, mg dm-3)
também seja correto (Cantarella et al., 2001).
Como conseqüência da definição de mol, as expressões equivalente-grama (e), normal
(N) e normalidade tornaram-se obsoletas e estão em desuso. A principal restrição à
expressão de concentrações em normalidade é o fato de o equivalente de uma substância
não ser constante e variar de acordo com a reação em que a substância está envolvida.
Uma das conseqüências do abandono do termo normalidade é que o uso do
equivalente grama, comum para expressar resultados de elementos trocáveis em solos,

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I - Conceitos Básicos de Química 11

tornou-se inadequado. No entanto, a flexibilidade da definição de mol permite que se


utilize o mol de carga para expressar concentrações de elementos no solo e, ao mesmo
tempo, manter as vantagens do conceito de íons trocáveis (ASA, 1988; Cantarella &
Andrade, 1992). Neste texto, optou-se pelos submúltiplos milimol de carga (mmolc) e
centimol de carga (cmolc) por unidade de volume (dm3 ) ou de massa (kg) de solo,
dependendo do modo como a amostra é medida no laboratório. Como o uso de subscritos
junto às unidades não está previsto no SI, a forma preferida é a expressão completa, por
exemplo: 12 mmol (1/2 Ca2+ ) kg-1, 2 mmol (K +) kg-1 ou 31 mmol (H+ + 1/3 Al3+ ) dm-3.
Embora a unidade cmolc dm-3 (ou cmolc kg-1 ) permita manter o mesmo valor numérico do
antigo "miliequivalente por 100 cm3 (ou 100 g) de solo", o que facilitaria a interpretação
dos resultados por parte daqueles familiarizados com as antigas unidades, o uso do
mmolc dm-3 (ou mmolc kg-1) torna mais fácil as conversões, por empregar múltiplos de mil,
preferidos no SI. O fator de conversão de cmolc dm-3 (ou cmolc kg-1) para mmolc dm-3 (ou
mmolc kg-1) é dez.

TABELA PERIÓDICA

Este é um dos estudos mais interessantes no campo da química o qual relaciona as


propriedades físicas dos elementos com os seus comportamentos químicos e com a
estrutura da matéria. Entretanto, a simples enumeração das suas características não tem
sentido, sendo preciso relacioná-las com as causas dessas propriedades.
Desde o século XIX, quando já se conheciam vários elementos químicos, observou-
se que vários grupos deles apresentavam propriedades comuns. Disso resultou a idéia
de classificar os elementos em grupos ou famílias, fazendo com que cada um deles
agregasse os elementos químicos semelhantes. Jons Jacob Berzelius (1779-1848) foi o
primeiro a classificar os elementos em grupos, dividindo-os em metais e metalóides.
Com o aparecimento da noção de "valência" e observando que certos elementos que
com o mesmo "estado de valência" comportaram-se de modo semelhante, Jean Baptiste-
André Dumas (1800-1884) subdividiu os metais e metalóides em monovalentes, bivalentes,
trivalentes, etc. Como exemplo, citam-se os elementos Na e K nos compostos NaCl e KCl
e Cl, Br e I nos compostos NaCl, NaBr e NaI. Essa classificação foi importante, porque
permitiu a previsão das fórmulas de compostos, até então desconhecidas.
Em 1829, o químico alemão Johann Wolfgang Döbereiner (1780-1849) observou a
possibilidade de reunir certos elementos em grupos de três, em que a massa atômica
(antigamente conhecido como "peso atômico") de um deles seria, aproximadamente, a
média aritmética dos outros dois. Por exemplo, considerando Li (6,9), e K (39,1), teríamos
Na (23,0), de

maNa = (maLi + maK)/2 = (6,9+39,1)/2 = 23,0

Outros exemplos seriam: Ca (40,0) e Ba (137,3) resultando Sr (88,7); S (32,0) e Te


(127,6) resultando Se (79,8); Cl (35,5) e I (126,9) resultando Br (81,2), etc.. Döbereiner

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12 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

denominou sua observação de Lei das Tríades. O inconveniente dessa classificação foi
que alguns elementos não podiam ser classificados em tríades, pois havia grupos de
quatro elementos com propriedades semelhantes.
Outras tentativas de ordenação dos elementos foram realizadas. Alexandre-Émile
Beguyer de Chancourtois (1820-1886) propôs a disposição dos elementos numa espiral
cilíndrica a 45o , na ordem crescente das suas massas atômicas, recebendo o nome de
"Parafuso Telúrico de Chancourtois". John Alexander Reina Newlands (1837-1898)
ordenava os elementos em ordem crescente das suas massas atômicas em colunas de sete
elementos, sendo o oitavo semelhante ao primeiro, o décimo quinto ao primeiro e ao
oitavo, etc.. Por analogia com a escala musical, sua classificação foi denominada Lei das
Oitavas. Essa classificação foi muito criticada e logo abandonada. Na verdade, é confusa
e funciona apenas para as oitavas do Li, Be, B e C, uma vez que, por exemplo, o Fe não se
encaixa na linha do O.
O passo fundamental para o desenvolvimento da Tabela Periódica, tal qual a
conhecemos atualmente, foi dado em 1869 pelo químico russo Dmitri Ivanovitch
Mendeleiev (1837-1907), após realizar um estudo completo da relação entre as massas
atômicas dos elementos e suas propriedades químicas e físicas. Nessa época, eram
conhecidos apenas 60 elementos e entre eles não estavam os gases nobres. A Lei Periódica
proposta por Mendeleiev, pela qual as propriedades físicas e químicas dos elementos
seriam funções periódicas das suas massas atômicas, também foi enunciada pelo químico
alemão Julius Lothar Meyer (1830-1895), que até construiu uma tabela semelhante à de
Mendeleiev, mas seu trabalho não ficou conhecido por ser mais impreciso. Outros detalhes
históricos relacionados com esse assunto podem ser encontrados no texto escrito por
Strathern (2002).
Mendeleiev construiu sua Tabela original com oito colunas e 12 linhas, ordenando
os elementos de acordo com suas massas atômicas crescentes e alocando os elementos
semelhantes em uma mesma coluna. Em 1871, revisou-a, mudando de posição 17
elementos, de modo que suas propriedades pudessem ser mais bem relacionadas com
as de outros. Dessa forma, Mendeleiev corrigiu massas atômicas e outras propriedades
elementares, tais como densidade, ponto de fusão e ponto de ebulição. Previu ainda
outras propriedades dos elementos já conhecidos e propriedades de elementos
químicos que ainda estavam por ser descobertos. Sua convicção era tal que deixava
lacunas na sua tabela para que fossem preenchidas posteriormente. Com a descoberta
dos gases nobres, em 1894, por Lord Rayleigh (nascido John William Strutt, 1842-
1919) e Sir John William Ramsay (1852-1916), uma nova coluna foi adicionada à
direta na Tabela.
A forma mais usada da atual Tabela Periódica (forma longa) é mostrada na figura 2.
Nesse formato, os elementos estão listados horizontalmente, de acordo com seus números
atômicos (definido como o número de prótons no núcleo de um átomo). As linhas
horizontais são chamadas de períodos, e esse arranjo dispõe na vertical os grupos ou
famílias.

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I - Conceitos Básicos de Química

S OL O
Figura 2. Forma atual da Tabela Periódica. Já foram descobertos elementos com números atômicos superiores ou iguais a 112, mas suas
propriedades ainda não foram totalmente autenticadas. Legenda de cores: (laranja: gases nobres; marrom: hidrogênio e não-metais;
verde: semi-metais; preto: metais; azul: lantanídeos; vermelho: actinídeos).
Fonte: Cortesia do site CkemKeys.
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Os valores de Massa Atômica Relativa (Figura 2) são aproximados. Valores mais


exatos estão disponíveis em Loss (2003).
Os elementos da Tabela Periódica dividem-se em três categorias:
1. metais: elementos que tendem a perder elétrons para atingir as configurações dos
gases nobres correspondentes, possuem as chamadas propriedades metálicas
(maleabilidade e ductibilidade) e são bons condutores de calor e eletricidade. São
apresentados na cor preta.
2. não-metais: elementos que tendem a ganhar elétrons para atingir as configurações
dos gases nobres correspondentes e não conduzem bem a eletricidade e o calor.
Alguns são gases, como H, N, O e Cl, mas Br é líquido, e Si e S são sólidos. São
apresentados na cor marrom.
3. semimetais: elementos que têm algumas propriedades dos metais e outras dos
não-metais. São apresentados na cor verde.
O primeiro período é constituído apenas pelo H e pelo He, seguido por dois outros
períodos com oito elementos cada (Li → Ne; Na → Ar). O quarto e o quinto períodos têm
18 elementos cada (K → Kr; Rb → Xe), mas o sexto tem 32 elementos (Cs → Rn),
incluindo os Lantanídeos (elementos químicos de números atômicos entre 57 (La–Lantânio)
e 71 (Lu-Lutécio), com propriedades semelhantes - são apresentados na cor azul). O
sétimo período é incompleto (atualmente, do Fr (Frâncio) ao elemento de número atômico
111), mas inclui os elementos com os números atômicos de 89 (Ac-Actínio) a 103 (Lr-
Laurêncio) que, por também terem propriedades semelhantes, são agrupados e chamados
de Actinídeos. São apresentados na cor vermelha. Os elementos dos grupos de 3 a 12 são
os chamados de Elementos de Transição e, como são todos metais, são também conhecidos
como Metais de Transição. Alguns grupos (arranjos verticais) têm designações específicas,
tais como os Metais Alcalinos (Grupo 1, exceto o H), os Metais Alcalino-Terrosos (Grupo
2), os Calcogêneos (Grupo 16), os Halogêneos (Grupo 17) e os Gases Nobres (Grupo 18 -
cor laranja).
Pela visão contemporânea, a estrutura eletrônica explica a tabela periódica, mas, na
verdade, a tabela periódica se explica por si só, pois ela é um catálogo de famílias de
elementos com propriedades semelhantes. Se a teoria atômica orbital não existisse, ainda
assim a tabela periódica continuaria existindo e seria uma referência para a caracterização
dos elementos. Por meio dela, mesmo sem conhecer nada sobre estrutura eletrônica, sabe-
se que reagindo metais alcalinos com halogênios tem-se a formação de compostos iônicos.
O interessante é que a organização da tabela periódica corresponde, quase sempre, à
distribuição eletrônica prevista por resultados espectroscópicos e, posteriormente, pelos
modelos teóricos, de modo que se podem fazer associações aos modelos de ligação que
explicam as propriedades dos materiais. Os elétrons dos átomos de um elemento no
estado fundamental são distribuídos de modo a ocuparem os orbitais que minimizam
sua energia sendo esta ordem determinada experimentalmente.
Esta distribuição é feita segundo algumas regras. Em 1926, Wofgang Pauli (1900-
1958) verificou, por meio de estudos espectroscópicos de átomos submetidos a campos

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I - Conceitos Básicos de Química 15

magnéticos, que não podem existir dois elétrons em um átomo com todos os números
quânticos iguais. Além disso, quando existirem orbitais de mesma energia (orbitais
degenerados), elétrons isolados (desemparelhados) devem ser atribuídos inicialmente a
cada um desses orbitais (regra de Hund; Friedrich Hund, 1896-1997). Para descrever a
configuração de um átomo, usa-se o princípio de aufbau (palavra de origem alemã, que
significa "construção"), que indica em qual orbital o elétron deve ser atribuído (Torres,
2000). Para os interessados em detalhes, sugere-se a leitura dos livros de Química Geral,
citados ao final do capítulo. Utilizando estes princípios, mostra-se como devem ser
representadas as configurações eletrônicas fundamentais, do Hidrogênio ao Urânio
(Quadro 6).
Historicamente, a teoria de ligação de valência existe há cerca de 150 anos, enquanto
a mecânica quântica tem apenas 100 anos, de modo que a noção de ligação pode existir
sem a mecânica quântica. A vantagem é que com as teorias orbitais tem-se uma idéia
melhor sobre a natureza das ligações químicas.

Propriedades da Tabela Periódica


A Tabela Periódica apresenta várias propriedades periódicas, aperiódicas e
constantes. As propriedades aperiódicas são aquelas que crescem ou decrescem
sistemática e monotonicamente de acordo com o aumento do número atômico, não
ocorrendo repetições ou oscilações de seus valores (ex: massa atômica e calor específico),
enquanto as propr iedades const antes são aquelas q ue apr esent am v alor es
aproximadamente constantes para todos os elementos químicos (ex: volume molar no
estado gasoso, à mesma temperatura e pressão). Por outro lado, a forma de agrupamento
dos elementos na Tabela Periódica permite que se possam prever algumas das suas
propriedades atômicas e químicas (bem como de seus compostos), dentro de seus grupos
e períodos.
Dentre as propriedades atômicas, o raio atômico chama a atenção. Infelizmente, é
muito difícil definir "raio atômico", porque não há um perímetro externo definido e preciso
para um átomo. É possível até definir um "raio atômico efetivo", que seria a distância do
núcleo à região em que a maior parte da densidade de carga eletrônica é encontrada,
mas, na verdade, pode-se apenas medir a distância entre átomos adjacentes (distância
internuclear). Entretanto, como o maior interesse está quase sempre associado a átomos
ligados, pode-se também definir o raio atômico (para os metais) como a metade da
distância entre os núcleos de dois átomos (determinada por difração de Raios-X)
agregados por uma ligação química (metálica). Certamente, este valor depende também
da estrutura cristalina (do metal), mas é geralmente aceito como correto. A variação do
tamanho atômico é devida principalmente ao aumento do número de níveis eletrônicos e
ao aumento da carga nuclear. Assim, quanto maior o número de camadas eletrônicas de
um átomo, maior será seu tamanho (Figuras 3 e 4). Daí define-se raio covalente como a
metade da distância entre dois átomos idênticos ligados por uma ligação covalente
simples e raio iônico como a distâncias entre os núcleos de íons ligados por uma ligação
iônica. A figura 3 apresenta uma comparação pictórica entre essas definições.

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Quadro 6. Configurações eletrônicas fundamentais dos elementos, do Hidrogênio ao Urânio.


A notação entre parênteses indica que todas as subcamadas associadas ao gás nobre
evidenciado estão ocupadas. Legenda de cores na figura 2 (Z = número atômico)

Z Símbolo Configuração Z Símbolo Configuração


1 H 1s 1 47 Ag [Kr] 4d10 5s1
2 He 1s 2 48 Cd [Kr] 4d10 5s2
3 Li [He] 2s1 49 In [Kr] 4d10 5s2 5p1
4 Be [He] 2s2 50 Sn [Kr] 4d10 5s2 5p2
5 B [He] 2s2 2p1 51 Sb [Kr] 4d10 5s2 5p3
6 C [He] 2s2 2p2 52 Te [Kr] 4d10 5s2 5p4
7 N [He] 2s2 2p3 53 I [Kr] 4d10 5s2 5p5
8 O [He] 2s2 2p4 54 Xe [Kr] 4d10 5s2 5p6
9 F [He] 2s2 2p5 55 Cs [Xe] 6s1
10 Ne [He] 2s2 2p6 56 Ba [Xe] 6s2
11 Na [Ne] 3s1 57 La [Xe] 5d1 6s2
12 Mg [Ne] 3s2 58 Ce [Xe] 4f1 5d1 6s2
13 Al [Ne] 3s2 3p1 59 Pr [Xe] 4f3 6s2
14 Si [Ne] 3s2 3p2 60 Nd [Xe] 4f4 6s2
15 P [Ne] 3s2 3p3 61 Pm [Xe] 4f5 6s2
16 S [Ne]3s2 3p4 62 Sm [Xe] 4f6 6s2
17 Cl [Ne] 3s2 3p5 63 Eu [Xe] 4f7 6s2
18 Ar [Ne] 3s2 3p6 64 Gd [Xe] 4f7 5d1 6s2
19 K [Ar] 4s1 65 Tb [Xe] 4f9 6s2
20 Ca [Ar] 4s2 66 Dy [Xe] 4f10 6s2
21 Sc [Ar] 3d1 4s2 67 Ho [Xe] 4f11 6s2
22 Ti [Ar] 3d2 4s2 68 Er [Xe] 4f12 6s2
23 V [Ar] 3d3 4s2 69 Tm [Xe] 4f13 6s2
24 Cr [Ar] 3d5 4s1 70 Yb [Xe] 4f14 6s2
25 Mn [Ar] 3d5 4s2 71 Lu [Xe] 4f14 5d1 6s2
26 Fe [Ar] 3d6 4s2 72 Hf [Xe] 4f14 5d2 6s2
27 Co [Ar] 3d7 4s2 73 Ta [Xe] 4f14 5d3 6s2
28 Ni [Ar] 3d8 4s2 74 W [Xe] 4f14 5d4 6s2
29 Cu [Ar] 3d10 4s1 75 Re [Xe] 4f14 5d5 6s2
30 Zn [Ar] 3d10 4s2 76 Os [Xe] 4f14 5d6 6s2
31 Ga [Ar] 3d10 4s2 4p1 77 Ir [Xe] 4f14 5d7 6s2
32 Ge [Ar] 3d10 4s2 4p2 78 Pt [Xe] 4f14 5d9 6s1
33 As [Ar] 3d10 4s2 4p3 79 Au [Xe] 4f14 5d10 6s1
34 Se [Ar] 3d10 4s2 4p4 80 Hg [Xe] 4f14 5d10 6s2
35 Br [Ar] 3d10 4s2 4p5 81 Tl [Xe] 4f14 5d10 6s2 6p1
36 Kr [Ar] 3d10 4s2 4p6 82 Pb [Xe] 4f14 5d10 6s2 6p2
37 Rb [Kr] 5s1 83 Bi [Xe] 4f14 5d10 6s2 6p3
38 Sr [Kr] 5s2 84 Po [Xe] 4f14 5d10 6s2 6p4
39 Y [Kr] 4d1 5s2 85 At [Xe] 4f14 5d10 6s2 6p5
40 Zr [Kr] 4d2 5s2 86 Rn [Xe] 4f14 5d10 6s2 6p6
41 Nb [Kr] 4d4 5s1 87 Fr [Rn] 7s1
42 Mo [Kr] 4d5 5s1 88 Ra [Rn] 7s2
43 Tc [Kr] 4d5 5s2 89 Ac [Rn] 6d1 7s2
44 Ru [Kr] 4d7 5s1 90 Th [Rn] 6d2 7s2
45 Rh [Kr] 4d8 5s1 91 Pa [Rn] 5f2 6d1 7s2
46 Pd [Kr] 4d10 92 U [Rn] 5f3 6d1 7s2
Fonte: : Valores obtidos do Atomic Reference Data for Electronic Structure Calculations, em http://physics.nist.gov/
PhysRefData/DFTdata/configuration.html.

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I - Conceitos Básicos de Química 17

Figura 3. Comparação entre as definições de raios iônico, covalente e atômico (metálico).

O raio iônico é outro fator quantitativo muito útil para se compreender as propriedades
químicas dos elementos e para se determinar a possível formação de compostos iônicos.
Considerando o aumento do número de camadas eletrônicas, o raio iônico aumenta de
cima para baixo dentro de um mesmo grupo de elementos e decresce da esquerda para a
direita dentro de um período. Observar que, dentro de um mesmo grupo e se comparados
aos seus átomos correspondentes, os íons negativos são maiores (o ganho de elétrons
aumenta a camada eletrônica e torna a atração nuclear menos efetiva), enquanto os positivos
são menores (a perda de elétrons reduz a camada eletrônica e torna a atração nuclear mais
efetiva). Os raios iônicos de espécies isoeletrônicas dependerão das suas cargas nucleares.
Quanto maiores forem as cargas dos cátions isoleletrônicos, menores os seus raios iônicos.
Por exemplo, para um mesmo número de camadas eletrônicas, tal como para os íons K+ e
Ca2+, a maior carga nuclear do Ca2+ induzirá uma atração mais efetiva da nuvem eletrônica,
com redução maior do seu raio iônico. Por outro lado, um comportamento inverso é
observado para os ânions. Assim, para dois ânions isoeletrônicos, tais como S2- e Cl-, a
maior densidade de elétrons no íon S2- induzirá uma atração menos efetiva da nuvem
eletrônica pela carga nuclear, levando a uma dispersão maior da nuvem eletrônica e ao
conseqüente aumento do raio iônico. Por isso a ordem de tamanhos para as espécies
isoeletrônicas K +, Ca2+ , S2-, Cl- e Ar é Ca2+ < K + < Ar < Cl- < S2-.
A energia de ionização, I, definida como a quantidade mínima de energia necessária
para ejetar um elétron de um átomo no estado gasoso para formar um íon gasoso
(monopositivo), também apresenta características periódicas. Neste caso, tem-se a
chamada Primeira Energia de Ionização (ou simplesmente Energia de Ionização).

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18 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

Dependendo do elemento, podem ocorrer vários processos de ionização, mas a energia


necessária para a ocorrência de processos subseqüentes é sempre maior que a anterior,
porque os elétrons do íon, agora em menor número, são mais fortemente atraídos pelo
núcleo, que manteve sua carga nuclear. Por exemplo:

Mg(g) → Mg+(g) + e- I1 = 738 kJ mol-1

Mg+(g) → Mg2+(g) + e- I2 = 1.451 kJ mol-1

sendo I1 e I2 a primeira e segunda energia de ionização do processo. As energias de


ionização decrescem com o aumento dos raios iônicos.
Resumidamente, pode-se dizer que:
1 - Há tendência para aumento da energia de ionização à medida que o número de
elétrons aumenta em um mesmo número quântico, em virtude do correspondente aumento
da carga nuclear. Exemplo:

Z Símbolo Configuração I1

kJ mol-1
5 B [He] 2s2 2p1 801
2 2
6 C [He] 2s 2p 1.086
2 3
7 N [He] 2s 2p 1.402
2 4
8 O [He] 2s 2p 1.314
9 F [He] 2s2 2p5 1.681
2 6
10 Ne [He] 2s 2p 2.081

2 - Os elétrons mais externos (número quântico principal mais alto) são protegidos
pelos elétrons mais internos. Isto explica, por exemplo, por que as energias de ionização
dos metais alcalinos são menores e seguem a ordema seguir:

Z Símbolo Configuração I1

kJ mol-1
3 Li [He] 2s1 520
11 Na [Ne] 3s1 496
19 K [Ar] 4s1 419
37 Rb [Kr] 5s1 403
55 Cs [Xe] 6s1 376

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I - Conceitos Básicos de Química 19

3 - Quando há orbitais p ou d disponíveis, o preenchimento eletrônico ocorre


sequencialmente, até que todos estejam semipreenchidos com o mesmo spin. Esta
seqüência parece resultar em configurações particularmente estáveis.
4 - Há tendência no decréscimo da energia de ionização com o aumento do número
atômico entre os elementos de um mesmo grupo. Assim, dentro de um mesmo grupo,
os elementos de maior número atômico tendem a ser oxidados mais facilmente. Para
os elementos dentro de um mesmo período (exceto para os metais de transição), a
tendência é aumentar a energia de ionização com o aumento do número atômico.
Exemplos:

a) Grupo

Z Símbolo Configuração I1
kJ mol-1
2 He 1s2 2.372
2 6
10 Ne [He] 2s 2p 2.081
2 6
18 Ar [Ne] 3s 3p 1.521
10 2 6
36 Kr [Ar] 3d 4s 4p 1.351
10 2 6
54 Xe [Kr] 4d 5s 5p 1.170
14 10 2 6
86 Rn [Xe] 4f 5d 6s 6p 1.037

b) Período

Z Símbolo Configuração I1

KJ mol-1
11 Na [Ne] 3s1 496
12 Mg [Ne] 3s2 738
2 1
13 Al [Ne] 3s 3p 578
14 Si [Ne] 3s2 3p2 786
15 P [Ne] 3s2 3p3 1.012
16 S [Ne]3s2 3p4 1.000
2 5
17 Cl [Ne] 3s 3p 1.251
18 Ar [Ne] 3s2 3p6 1521

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20 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

A figura 5 mostra a variação de energia da primeira ionização dos átomos com os


seus números atômicos.

Figura 4. Variação do raio atômico (para os elementos metálicos) e do raio covalente (para os
elementos não-metálicos) de acordo com o número atômico.

Figura 5. Relação entre a energia da primeira ionização e o número atômico dos elementos.

A afinidade eletrônica (AE), por outro lado, é a medida da energia liberada quando
um átomo no estado gasoso recebe um elétron. O processo está relacionado com a
possibilidade de um elétron "livre" (isto é, a uma distância "infinita" do átomo receptor) ser
capturado ou atraído por este átomo receptor, adquirindo uma configuração mais estável.

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I - Conceitos Básicos de Química 21

Exemplo:
F(g) + e- → F-(g) AE = 328 kJ mol-1,
em que o íon fluoreto apresenta a configuração eletrônica do gás nobre Ne. Alguns
átomos, como os gases nobres, não têm qualquer tendência em receber elétrons, mas
elementos metálicos, como o Li, podem formar íons negativos no estado gasoso. A
afinidade eletrônica é um conceito bem definido termoquimicamente, enquanto a
eletronegatividade é uma idéia empírica, mais intuitiva e mais usada, porém sem
possibilidade de medida experimental. Ambos os conceitos traduzem igualmente a
habilidade de atração eletrônica, mas têm naturezas diferentes (Figuras 6 e 7).
Geralmente, as propriedades físicas dos elementos (como o ponto de fusão e o ponto
de ebulição) variam uniformemente de cima para baixo, dentro de um grupo da Tabela
Periódica, mas essa variação pode não ocorrer de modo regular e constante dentro de um
período. Por exemplo, no terceiro período, Na, Mg e Al apresentam boas condutibilidades
(térmica e elétrica), ao contrário dos não-metais P, S, Cl e Ar.

Figura 6. Algumas propriedades periódicas mais comuns dos elementos químicos e de


substâncias simples: potencial de ionização, raio atômico e eletronegatividade. As direções
das setas indicam valores crescentes, com os seus máximos nos átomos destacados. Notar
que gases nobres não estão incluídos na escala de eletronegatividade (ver texto anterior).

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22 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

Figura 7. Algumas propriedades periódicas mais comuns dos elementos químicos e de


substâncias simples: volume atômico e densidade, reatividade e pontos de fusão e de
ebulição. As direções das setas indicam valores crescentes, com os seus máximos nos
átomos destacados. Notar que gases nobres não estão incluídos na escala de reatividade
(são chamados gases inertes).

REAÇÕES E LIGAÇÕES QUÍMICAS

As reações químicas podem ser definidas como processos em que uma ou mais
substâncias são convertidas em outras. Quando substâncias interagem, ocorre um
rearranjo de átomos que altera completamente as características das substâncias
envolvidas. Com isso, a observação de simples evidências, tais como: a liberação de
gases, a alteração de cor, a formação de precipitado, a liberação ou absorção de energia
na forma de calor, a liberação de eletricidade ou luz, etc., permite diferenciar os estados

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I - Conceitos Básicos de Química 23

final e inicial de um sistema e pode indicar se uma reação química ocorreu. Contudo,
baseando apenas nas evidências listadas anteriormente, pode-se não ter certeza absoluta
da ocorrência de uma reação química. Uma maneira segura de obter informações acerca
da ocorrência ou não de uma reação é o isolamento dos materiais obtidos, seguido da
determinação de algumas de suas propriedades (por ex., ponto de fusão, ponto de
ebulição, densidade, etc.).
Geralmente, os componentes da reação (neste caso chamados de solutos) precisam
de um meio reacional (chamado solvente) para interagir. Como a maior parte das reações
químicas mais comuns, usadas em laboratório, ocorre em solução aquosa (os solutos
estão dissolvidos no solvente água), esses serão os únicos tipos de reação a serem
considerados neste texto.
As reações químicas são descritas por meio de equações e dispõem de linguagem
própria. As fórmulas dos reagentes são escritas à esquerda, e as dos produtos à direita,
conectadas por uma flecha que aponta dos reagentes (substâncias que se combinam na
reação) para os produtos (substâncias que se formam).

REAGENTES → PRODUTOS

Por exemplo, o Mg é um metal que reage vigorosamente com ácido clorídrico. Quando
um pequeno pedaço de Mg metálico é colocado dentro de um recipiente com HCl
conc entr ad o, hid rogênio gasoso é for mado r apid amente. Para r epresent ar
qualitativamente o fenômeno observado, utiliza-se uma equação química balanceada
(em massa e cargas), incluindo apenas os reagentes que sofreram as transformações
químicas e os produtos formados:

Mgo (s) + 2 H+(aq) → Mg2+(aq) + H2 o (g)

O uso de equações químicas para a transmissão de informações quantitativas


baseia-se numa antiga e importante observação realizada no século XVIII pelo
cientista francês Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794), que introduziu a lei da
conservação das massas. John Dalton (1766-1844) interpretou essa lei como se os
átomos não fossem criados nem destruídos em uma reação, mas, sim, transformados.
Desse modo, se houver a reação de um número de átomos de determinado elemento
químico, este mesmo número de átomos deve constar, de alguma forma, nos produtos
da reação. Assim, ao representarmos uma reação por uma equação, o número de
átomos que constituem os reagentes deve ser igual ao número de átomos que
constituem os produtos. A operação associada a esse princípio é denominada
balanceamento da equação química. Na equação, os números que aparecem
multiplicando as entidades químicas (p.ex., o 2 multiplicando o H+) são chamados de
coeficientes estequiométricos. Quando o mesmo número de átomos de cada elemento
aparece em ambos os lados da seta, a expressão é dita balanceada. A equação química
mostra como os átomos são rearranjados em uma reação química. Os coeficientes

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24 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

estequiométricos indicam as quantidades relativas de substâncias (reagentes e


produtos) que fazem parte da reação.
Rigorosamente, os estados de agregação dos reagentes e produtos também devem
ser indicados nas equações químicas (ex: sólido(s), líquido(l), gás(g), vapor (v) e solução
aquosa(aq)) pois, do ponto de vista da Físico-Química, a constante de equilíbrio ficaria
indeterminada se isto não acontecesse (veja este conceito mais adiante, em "Equilíbrios
Químicos em Soluções Aquosas").
Além da forma mais simples, do tipo A + B → AB, indicando apenas a formação do
produto, outras formas indicativas de uma reação são:

A + B = AB .................. existência de relação estequiométrica, em equilíbrio dinâmico, e


A + B ↔ AB .............. reação em ambas as direções.

Quando forem abordadas reações em equilíbrio dinâmico, as notações (=) e (↔)


podem ser utilizadas indistintamente.
As equações químicas devem ser escritas corretamente, devem expressar exatamente
o que está ocorrendo em solução e devem obedecer à lei da conservação das massas
(balanço de massa) e ao princípio da eletroneutralidade (balanço de cargas). Por exemplo,
uma reação entre o ácido clorídrico e o hidróxido de sódio, como qualquer outra reação
ácido-base em solução aquosa, deve ser escrita como:

H+ + OH- ↔ H2O
e não como

HCl + NaOH → NaCl + H2O

pois os íons Na+ e Cl- não participam da reação e permacem inalterados em solução. A
única reação que ocorre é entre os íons H+ e os íons OH-.
As reações químicas também podem ser vistas como processos em que ligações
químicas (dos compostos reagentes) são desfeitas e outras são formadas, de modo
que os novos arranjos de átomos resultantes (produtos) tenham energia menor do que
a dos arranjos atômicos originais. Como esse é um assunto bastante vasto e complexo,
pois vários são os conceitos e teorias envolvendo as ligações químicas, este capítulo
trata apenas de alguns pontos mais qualitativos e gerais, para permitir entendimento
mais fácil dos fenômenos envolvidos. Dentro desse contexto, pode-se observar que as
ligações iônicas resultam da atração entre as cargas opostas de cátions e ânions e são
particularmente apropriadas para descrever os sólidos cristalinos de elementos
metálicos (especialmente os metais dos grupos 1 e 2) com os não-metais. Por exemplo,
a atração entre os íons Na+ e Cl- resulta no composto iônico NaCl. Não existem ligações
puramente iônicas, mas o modelo iônico funciona bem para muitos compostos. Por
outro lado, ao contrário dos metais, os elementos não-metálicos não podem formar

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I - Conceitos Básicos de Química 25

cátions monoatômicos, por causa das suas altas energias de ionização, mas podem-
se combinar formando outros tipos de compostos. Aliás, os elementos C, H, N e O
podem formar enorme variedade de substâncias (os compostos orgânicos) por meio
das chamadas ligações covalentes.
Gilbert Newton Lewis (1875-1946) propôs caminhos bem simples para explicar
ambos os tipos de ligações mencionadas anteriormente. Pela sua proposta, quando
uma ligação iônica é formada, um átomo perde e outro ganha elétrons, até atingirem a
configuração de um gás nobre (um dubleto para o He ou um octeto para os demais
elementos). Para as ligações covalentes, os átomos compartilhariam os elétrons, até
atingirem a configuração de um gás nobre. Com essa idéia, o conceito de ligação
covalente foi concebido mesmo antes de se conhecer a mecânica quântica ou os orbitais
eletrônicos.
A simbologia usada por Lewis representa os elétrons mais externos dos átomos por
pontos, comumente chamados de "elétrons de valência", tais como:

A representação gráfica do N mostrada anteriormente, por exemplo, estaria


correspondendo à distribuição eletrônica 2s2 , 2px 1 , 2py1 , 2pz1 (Quadro 6), em que s e p
são os orbitais atômicos.
A linha entre os átomos representa o par de elétrons em uma ligação simples.

A partir disso, foram sugeridas estruturas com múltiplas ligações como:

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26 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

O caráter das ligações iônicas e covalentes pode variar entre extremos (puramente
iônica ou puramente covalente), mas, na prática, todas as ligações iônicas têm algum
caráter covalente. Como o cátion "atrai" os elétrons do ânion, a nuvem eletrônica deste
fica distorcida, de modo que, quanto maior for essa distorção, maior o caráter covalente
da ligação iônica.
A geometria das moléculas, por outro lado, é estabelecida ou experimentalmente
ou por cálculos quânticos, confirmados experimentalmente. Os resultados desses
cálculos e experimentos, de modo geral, estão em acordo com a Teoria da Repulsão
do Par Eletrônico da Camada de Valência (do inglês, VSEPR, Valence-Shell Electron-
Pair Repulsion). Em outras palavras, essa teoria indica que os pares eletrônicos sempre
se repelem, estando compartilhados (como parte de uma ligação química - pares
ligados) ou não (pares isolados), assumindo orientações que minimizem as repulsões.
Alguns exemplos são mostrados no quadro 7 e na figura 8, a título de ilustração.

Quadro 7. A geometria molecular de acordo com a geometria da distribuição eletrônica,


segundo a teoria VSEPR (1)

NPE GDE NPNC VSEPR GM AIL Exemplo

2 linear 0 AX2 linear 180 BeCl2


3 trigonal-planar 0 AX3 Trigonal-planar 120 BF3
3 trigonal-planar 1 AX2E angular 120 SO2
4 tetraédrico 0 AX4 tetraédrico 109,5 CH4
4 tetraédrico 1 AX3E Trigonal-piramidal 109,5 NH3
4 tetraédrico 3 AX2E2 angular 109,5 H2O
5 trigonal-bi- 0 AX5 Trigonal-bi-piramidal 90; 120 PCl5
piramidal
5 trigonal-bi- 1 AX4E Gangorra, balanço 90; 120 SF4
piramidal
5 trigonal-bi- 2 AX3E2 Forma de T 90 ClF3
piramidal
5 trigonal-bi- 3 AX2E3 linear 180 XeF2
piramidal
6 octaédrico 0 AX6 octaédrico 90 SF6
6 octaédrico 1 AX5E Pirâmide com base 90 BrF5
quadrada
6 octaédrico 2 AX4E2 Quadrado-planar 90 XeF4
(1)
NPE = Número dos pares eletrônicos; GDE = Geometria da distribuição eletrônica; NPNC = Número de pares
não compartilhados; VSEPR = Notação VSEPR: a letra E significa "par de elétrons não compartilhados" (não
ligados); GM = Geometria molecular (Figura 8); AIL = Ângulos ideais das ligações (Figuras 8).

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I - Conceitos Básicos de Química 27

Figura 8. Geometrias moleculares dos exemplos citados no quadro 7.

EQUILÍBRIOS QUÍMICOS EM SOLUÇÃO AQUOSA

As reações tendem a atingir um estado de equilíbrio, no qual a razão das concentrações


dos reagentes e produtos é constante, desde que as condições experimentais mantenham-
se as mesmas. Para uma reação genérica do tipo:

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28 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

aA + bB ↔ cC + dD

pode-se escrever que,

∆G o = − RT ln K e

tal que,
(C)c (D)d
Ke =
(A)a (B)b

em que ∆Go é a Energia de Gibbs no estado-padrão, R é a constante universal dos gases


perfeitos (8,314510 J K -1 mol-1 ), T é a temperatura absoluta (K), K e é a constante
termodinâmica de equilíbrio (ou constante termodinâmica de estabilidade). A atividade
(i) pode ser escrita como(1):

(i) = γi x [i]

em que (i) é a atividade (medida da concentração efetiva); x (x = a, b, c ou d) é o coeficiente


estequiométrico da espécie i na equação química balanceada (i = A, B, C ou D); γi é o
coeficiente de atividade da espécie i; [i] é a concentração dessa espécie, em mol L-1, ambas
no equilíbrio termodinâmico. Tem-se então:

(C)c (D)d (γ c [C])c (γ d [D])d (γ c )c (γ d )d [C]c [D]d


Ke = = = x
(A)a (B)b (γ a [A ])a (γ b [B])b (γ a )a (γ b )b [A ]a [B]b

que se reduz a
(γ c ) c (γ d ) d
Ke = x Kc
(γ a )a (γ b )b

em que K e é constante termodinâmica de equilíbrio e K c é a constante condicional de


equilíbrio. Notar que a concentração descrita por [i] é a concentração da espécie i em
solução, após o sistema ter atingido o equilíbrio. Não confundir com Ci, chamada de
concentração analítica, definida como a quantidade de matéria do soluto (em mol),
originalmente adicionada a certo volume de solvente, para resultar em solução Ci mol L-1.
Na verdade deve-se usar a molalidade (mol de soluto por kg de solvente), mas, quando se
trata de uma solução aquosa diluída à temperatura ambiente, pode-se usar a concentração
em mol L-1. Se um eletrólito estiver totalmente dissociado, em uma solução diluída, então
Ci ≅ [i] (veja discussões mais adiante, em cálculos envolvendo sistemas ácido-base).
Para uma solução com comportamento ideal (diluição infinita), γi = 1. Como
conseqüência, (i) = [i]. Na prática, isso ocorre para soluções não-iônicas com
concentrações menores que 10-3 mol L -1 e para soluções iônicas com concentrações
menores que 10-5 mol L -1. Nesse caso, as espécies (solutos) coexistiriam como pontos de

(1)
Parênteses ( ) indicam atividade e colchete [ ] indicam concentração analítica.

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I - Conceitos Básicos de Química 29

carga e não seriam levados em conta fatores como as interações interiônicas. Quando
não se tem comportamento ideal (soluções mais concentradas), todas as interações físicas
e químicas possíveis em solução devem ser consideradas. Daí, podem decorrer desvios
negativos [(i) < [i]; (γi <1)] ou desvios positivos [(i) > [i]; (γi >1)].
O coeficiente de atividade pode ser calculado com o emprego da lei (limitante) de
Debye- Hückel (LLDH):

− log γ i = A (z i )2 I

proposta por Peter Debye (1884-1966) e Erich Armand Arthur Joseph Hückel (1896-1980),
em 1923, sendo γ i o coeficiente de atividade da espécie i (tomada como um íon simples),
A é uma constante que depende da temperatura e da densidade e permissividade elétrica
do solvente (para água a 25 o C, A = 0,512), z são as cargas do cátion (A) e do ânion (B) e
I é a força iônica da solução, definida como:

∑C z
1
I= i
2
i
2 i

que mede a população total das espécies iônicas em solução.

Entretanto, a atividade de um único íon não pode ser determinada, pois não é
possível separar os coeficientes de atividade dos cátions e dos ânions (como preparar
uma solução contendo apenas íons Na+?). Pode-se apenas obter o seu produto. Assim,
define-se outro coeficiente, como a média geomérica dos coeficientes dos cátions e dos
ânions, o qual é chamado de coeficiente de atividade médio, γ ± . Este é um coeficiente que
pode ser avaliado tanto teórica quanto experimentalmente.
Para um eletrólito binário do tipo AmBn , cujos íons em solução, isoladamente, atuem
como cargas pontuais, pode-se escrever:

(γ ± )m + n = (γ A )m (γ B )n

Tomando o (-log), tem-se

−(m + n ) log γ ± = − m log γ A − n log γ B

tal que, aplicando-se a equação de Debye- Hückel

− log γ i = A z i2 I

(quando γΑ e γB = γi) e considerando A = 0,512, tem-se

− (m + n ) log γ ± = 0 ,512 m (zA )2 I + 0 ,512 n (z B ) 2 I

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sendo (zA) a carga do cátion e (zB) a carga do ânion em solução, tomados como valores
absolutos, e (m) e (n) são os coeficientes estequiométricos.

 m (z A )2 + n (z B )2 
Rearranjando a equação, tem-se: − log γ ± = 0, 512 I  
 m+n 

Levando em conta as considerações anteriores, a equação acima pode ser reduzida a

− log γ ± = 0 ,512 (z A ) (z B ) I

Existem três considerações muito importantes a serem levadas em conta ao se aplicar


a teoria de Debye-Hückel:
(i) ela se aplica apenas a íons, pois moléculas neutras apresentam coeficientes de
atividade muito próximos de 1,0;
(ii) as cargas que aparecem na equação são apenas aquelas do eletrólito cujo
coeficiente de atividade está sendo calculado, e;
(iii) o máximo que se pode fazer é calcular o coeficiente de atividade médio dos dois
íons que compõem o eletrólito considerado.

Exemplos:
1. Determinar o coeficiente de atividade médio de uma solução 0,10 mol L -1 de HCl

I=
1
2 i
1
[
∑ C i z 2i = 2 C H (z H )2 + C Cl (z Cl )2 ]
I = 0,5 [(0,10)(1)2 + (0,10)(-1)2 ] = 0,10

Assim: − log γ ± = 0 ,512 (z H ) (z Cl ) I = 0 ,512 (1) (1) 0 ,10

− log γ ± = 0 ,162

γ ± = 0,689 (valor obtido experimentalmente: 0,799)

2. Determinar o coeficiente de atividade médio de uma solução 0,10 mol L-1 de AlCl3

I=
1
2 i
1
[
∑ C i z 2i = 2 C Al (z Al )2 + C Cl (z Cl )2 ]
I = 0,5 [(0,10)(3)2 + (0,30)(-1)2 ] = 0,60

− log γ ± = 0,512 (z Al ) (z Cl ) I = 0 ,512 (3) (1) 0,60

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I - Conceitos Básicos de Química 31

− log γ ± = 1,189

γ ± = 0,0647

Esse valor (0,0647) é cinco vezes menor que o valor experimental (0,337). A figura 9
ilustra como variam os valores de γ± com a concentração de uma solução de HCl.

Figura 9. Valores do coeficiente de atividade médio (γ±), em função da concentração de HCl (CHCl).

Comparações com valores experimentais indicam que a LLDH é obedecida


quando I < 1 mmol L -1 e que em concentrações mais altas os coeficientes de atividade
calculados pela lei limitante são menores que os medidos experimentalmente. Os
valores teóricos e experimentais do coeficiente de atividade médio convergem quando
I tende a zero (I → 0; γ± → 1), de modo que as suposições de Debye e Hückel são
realmente válidas apenas para soluções muito diluídas de eletrólitos. De fato, a
dedução da LLDH considerou muitas simplificações, a saber:

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32 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

i) as interações entre as espécies carregadas seriam puramente eletrostáticas;


ii) todas as forças de curto alcance, como as interações do tipo van der Waals, a
formação de pares iônicos e as interações íon-dipolo foram ignoradas;
iii) foi ignorado o fato de que, apesar da existência de forças eletrostáticas de longo
alcance, os íons em solução estão sujeitos a movimentos térmicos aleatórios, que
ajudam a quebrar a orientação de cargas opostas causadas por interações
interiônicas;
iv) as espécies iônicas não se encontrariam polarizadas ou distorcidas, permitindo
prever uma distribuição esférica de cargas (os íons poderiam ser vistos como
"pontos de cargas");
v) a constante dielétrica de uma solução aquosa de eletrólito (simplificadamente, é
a razão entre o trabalho necessário para separar espécies com cargas opostas
imersas em determinado meio pelo trabalho necessário para separar estas mesmas
espécies carregadas imersas no vácuo) seria uniforme e independente da
concentração do soluto dissolvido, de modo que a constante dielétrica da água
poderia ser usada nos cálculos, e;
vi) o modelo teórico assume a dissociação completa de todos os eletrólitos.
Em soluções concentradas, por exemplo, a formação de pares iônicos é muito mais
importante, e a constante dielétrica do solvente varia drasticamente nas vizinhanças dos
íons. Entretanto, é difícil incorporar estes fenômenos à teoria dos eletrólitos em solução,
pois todas essas interações e efeitos são altamente específicos e variam consideravelmente
com a geometria, a carga e a configuração eletrônica dos íons em solução. Por essa razão,
Debye e Hückel propuseram modificações na equação original, considerando que os
íons têm raios iônicos característicos. Essa nova equação, denominada equação de
Debye e Hückel estendida (EDHE), considera as espécies iônicas não mais como cargas
pontuais e que dois íons não podem se aproximar mais do que a soma dos seus raios
iônicos (Figura 3), implicando que a força coulômbica entre eles seria menor do que no
caso de cargas pontuais. De acordo com essa nova aproximação, para cada íon
individualmente em solução aquosa, obtém-se:

I
− log γ i = 0,512 (z i )2
1+ Ba I

em que B é dependente da temperatura e da constante dielétrica da água (D = 78,54;


adimensional, por definição), de modo que em T = 298 K (25 o C):

50 ,3
B= = 0 ,328
DT

e a é uma constante empiricamente ajustável, como variável dos tamanhos iônicos,


correspondente à distância média da maior aproximação entre o cátion e o ânion
solvatados (Quadro 8).

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I - Conceitos Básicos de Química 33

Quadro 8. Coeficientes de atividade individuais para alguns íons simples em soluções aquosas
a 25 oC, baseados na equação de Debye-Hückel estendida

Tamanho
Íon Força Iônica, mol L-1
do íon(1), a

Å 0,001 0,005 0,01 0,05 0,10

H+ 9 0,967 0,933 0,914 0,86 0,83


Li+ 6 0,965 0,930 0,909 0,845 0,81
Na+, IO3-, HCO3-, HSO3-, 4 0,964 0,927 0,901 0,815 0,77
H2PO4-, H2AsO4-
K+, Rb+, Cs+, Tl+, Ag+, NH4+,
OH-, F-, SCN-, HS-, ClO3-, 3 0,964 0,925 0,899 0,805 0,755
ClO4-, BrO3-, IO4-, MnO4-,
Cl-, Br-, I-, CN-, NO3-
Mg2+, Be2+ 8 0,872 0,755 0,69 0,52 0,45
Ca2+, Cu2+, Zn2+, Sn2+,Mn2+, 6 0,870 0,749 0,675 0,485 0,405
Fe2+, Ni2+, Co2+,
Sr2+, Ba2+, Ra2+, Cd2+, Pb2+, 5 0,868 0,744 0,67 0,465 0,38
Hg2+, S2-, CO32-, SO32-
Hg22+, SO42-, S2O32--, CrO42-, 4 0,867 0,740 0,660 0,445 0,355
HPO42-
Al3+, Fe3+, Cr3+, Ce3+, La3+ 9 0,738 0,54 0,445 0,245 0,18
PO43-, Fe(CN)63- 4 0,725 0,505 0,395 0,16 0,095
Th4+, Zr4+, Ce4+, Sn4+ 11 0,588 0,35 0,255 0,10 0,065
Fe(CN)64- 5 0,57 0,31 0,20 0,048 0,021
(1)
Valores calculados e tabelados por Kielland (1937). Observar que as constantes referentes aos tamanhos iônicos
são apresentados em Ångstron (10 -10 m), como na referência original, e podem ser usadas diretamente nas
equações descritas neste capítulo. Esta é uma prática permitida pelo SI. Entretanto, se outras tabelas apresentarem
estas constantes em outras unidades, como o nanômetro (nm) ou o picômetro (pm), verificar a aplicabilidade das
equações.

No exemplo a seguir, determinou-se o coeficiente de atividade médio de uma solução


0,10 mol L -1 de AlCl3 , usando a equação de Debye-Hückel estendida (EDHE) e os dados
do quadro 7, e comparou-se o resultado com o obtido anteriormente, usando a LLDH.

I=
1
2 i
1
[
∑ C i z 2i = 2 C Al (z Al )2 + C Cl (z Cl )2 ]
I = 0,5 [(0,10)(3)2 + (0,30)(-1)2 ] = 0,60

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34 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

I 0 ,60
− log γ Al = 0 ,512 (z Al ) 2 = 0 ,512 (3)2 = 1,086
1+ B a I 1 + 0 ,328 x 9 x 0,60

γ Al = 8,2 x 10 −2

I 0 ,60
− log γ Cl = 0 ,512 (z Cl )2 = 0,512 (1) 2 = 0 ,225
1+ Ba I 1 + 0 ,328 x 3 x 0 ,60

γ Cl = 0, 596

γ ± = [(γ Al )3 x γ Cl ](1 /4)

γ ± = [(8, 2 x 10 −2 )3 x 0 ,596]( 1/4 ) = 0 ,135

valor mais próximo do experimental (0,337) que o obtido com a LLDH.

As equações mais conhecidas e usadas, com diversos graus de ajustes, estão


indicadas no quadro 9.

Quadro 9. Equações mais usadas para o cálculo do coeficiente de atividade e seus limites

Nome Equação Limite

Debye-Hückel − log γ i = A(z i ) 2 I I < 10-2,3 mol L-1

I
Debye-Hückel estendida − log γ i = A(zi )2 I < 10-1 mol L-1
1 + Ba I
I < 10-1 mol L-1
I
Güntelberg − log γ i = A(z i ) 2
útil em soluções com
1+ I vários eletrólitos

I
Davies − log γ i = A( zi )2 − 0 ,3I I < 0,5 mol L-1
1+ I

Para fins práticos e quando cálculos menos exatos são aceitáveis, podem-se utilizar
as seguintes simplificações para o conceito de atividade:
i) para íons ou moléculas em soluções suficientemente diluídas, (i) ≅ [i]. Esta
simplificação é particularmente útil em estudos da química dos solos, porque a
solução do solo é bastante diluída, principalmente nos solos tropicais úmidos
bem drenados;

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I - Conceitos Básicos de Química 35

ii) para o solvente em soluções suficientemente diluídas, (i) ≅ fsolvente ≅ 1, em que fsolvente
é a fração em mol do solvente. Por isso, em soluções aquosas diluídas, (H2O) ≅ 1;
iii) para sólidos ou líquidos puros em equilíbrio com a solução, (i) = 1;
iv) para gases, sob pressão suficientemente baixa, em equilíbrio com a solução,
(i) ≅ P P(gás), em que Pp é a pressão parcial do gás;
v) para mistura de líquidos puros, (i) ≅ flíquido.

Equilíbrios Iônicos Ácido-Base


Os eletrólitos podem ser divididos em fortes e fracos. Simplificadamente, os eletrólitos
fortes são aqueles que se apresentam totalmente dissociados em soluções, qualquer que
seja a concentração da solução. Dentre esses compostos, destacam-se alguns ácidos como
o HNO3 , HClO4 , H2 SO4 , HCl e alguns ácidos sulfônicos (de fórmula geral R-SO3 H), os
hidróxidos dos elementos alcalinos e alcalino-terrosos e a maioria dos sais inorgânicos.
Por sua vez, os eletrólitos fracos apresentam-se parcialmente dissociados e, dentre
outros, encontram-se os ácidos carbônico (H2 CO3 ), bórico (H3 BO3 ), fosfórico (H3 PO4 ),
sulfídrico (H2S) e acético (H3 CCOOH), a amônia (NH3) e a maioria das bases orgânicas
(R-NH2 , R2 -NH, C5 H5 N:, etc.), além dos haletos, cianetos e tiocianatos de Hg, Zn e Cd. É
importante frisar que a "força" de uma substância (p.ex.: ácido) nada tem a ver com sua
reatividade ou periculosidade. Por exemplo, o HCN é um ácido muito fraco, mas é letal.
Os conceitos de ácido e de base foram introduzidos pela primeira vez por Svante
August Arrhenius (1859-1927; Prêmio Nobel de Química em 1903 e o primeiro a relacionar
a quantidade de CO2 com o aumento da temperatura global), que associou a idéia de
ácido com a presença de íons H3 O+ e de base com a presença de íons OH-. Pela sua
concepção clássica, desenvolvida entre 1880 e 1890, ácido seria toda substância capaz
de liberar ions hidroxônio ("prótons").

H2 O + HA ↔ H3 O+ + A -

e base é toda substância capaz de liberar íons hidroxila

MOH + H2 O ↔ M+ + OH- + H2O

A teoria de Arrhenius foi defendida por muitos químicos contemporâneos, mas,


embora sendo bem aceita, apresentava várias falhas. Além de ser válida apenas para
soluções aquosas, apresentava outra limitação séria, pois não levava em conta o papel
do solvente num processo de dissociação. Assim, sua teoria não enquadrava as
substâncias que não têm (H) ou (OH) em suas fórmulas, mas produzem reações ácidas
(ou básicas), tais como:
Al3+ + 2H2O ↔ H3 O+ + [Al(OH)]2+
ou

CO3 2- + H2O ↔ HCO3 - + OH-

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36 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

Na tentativa de contornar este problema, Johannes Nicolaus Brønsted (1879-1947) e


Thomas Martin Lowry (1874-1936), independentemente, em 1923, propuseram um
conceito de ácido e base mais geral, pelo qual se definem ácidos e bases como substâncias
eletricamente neutras ou iônicas que, em solução, são capazes de doar e aceitar prótons,
respectivamente. De acordo com esta concepção, têm-se ácidos e bases conjugados, de
modo que a dissociação clássica deve ser escrita como uma reação ácido-base:

HCl + H2O ↔
= H3O+ + Cl-
ácido 1 Base 2 ácido 2 base 1

CO32 - + NH4+ ↔
= HCO3- + NH3
base 1 ácido 2 ácido 1 base 2

bem como a reação de autoprotólise da água

H2O + H2O ↔
= H3O+ + OH-
ácido 1 Base 2 ácido 2 base 1

em que ácido1-base1 e ácido2-base2 são os pares ácido-base (ácidos e bases conjugados)


do processo.

Outros solventes, além da água, são também considerados por esta teoria. Exemplo:

HClO4 + H3C-COOH ↔
= H3C-COOH2+ + ClO4-
ácido 1 base 2 ácido 2 base 1

C2H5OH + NH3 ↔
= NH4+ + C2H5O-
ácido 1 base 2 ácido 2 base 1

Em 1923, Lewis, considerando a idéia de ácidos e bases, introduziu uma


generalização ainda maior a respeito desse assunto. Utilizando e estendendo suas idéias
sobre as ligações químicas, propôs que ácido seria uma substância que pode "aceitar"
um par de elétrons em uma reação química e que base é uma substância que pode "doar"
um par de elétrons em uma reação química. Esta concepção, que inclui a proposta de
Brønsted e Lowry como um caso especial, fez-se necessária para explicar o comportamento
de certas substâncias que não contêm "prótons", mas apresentam propriedades e sofrem
reações próprias de ácidos e bases, tais como:

BF3 + :NH3 → H3 N:BF3

H3 O+ + :NH3 ↔ [H:NH3]+ + H2O


ácido base produtos

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I - Conceitos Básicos de Química 37

Por outro lado, a força dos ácidos e bases de Lewis não é fixa, mas varia de acordo
com a natureza da substância associada. A influência dos substituintes pode ser de
caráter eletrônico (eletronegatividade do substituinte), como no exemplo a seguir:

Ácidos: (CH3 )3 B < H3 B < F3 B

Bases : (CH3 )3N: > H3 N: > F3 N:

ou estéricos (volume e posição dos substituintes)

Py ~ o-CH3Py >> p-CH3 Py (em que Py = piridina, C5 H5 N:)

Ahrland et al. (1958) propuseram que os íons metálicos poderiam ser classificados
como cátions metálicos do tipo (a), cátions metálicos do tipo (b) e cátions de metais de
transição. Segundo eles, os cátions metálicos do tipo (a) apresentariam configuração
eletrônica de gás inerte (d o), simetria esférica, baixa polarizabilidade (não se deformam
sob efeito de campos elétricos), coordenar-se-iam preferencialmente com íons F - e
com ligantes contendo O e N e seriam "esferas duras". Dentre essas espécies estariam:
(H +), Li +, Na +, K +, Be 2+, Mg 2+, Ca 2+, Sr 2+, Al 3+, Sc(III), La(III), Si(IV), Ti(IV), Zr(IV) e
Th(IV).
Os cátions metálicos do tipo (b) teriam configuração eletrônica correspondente ao
Nio , Pd o e Pt o [10 ou 12 elétrons na camada externa - configurações nd 10 e nd 10 (n+1)2 ],
t er iam menor eletr onegat ivid ad e, alt a polarizabilid ad e, c oor denar -se-iam
preferencialmente com bases (ligantes) contendo os elementos I, S ou N e seriam "esferas
moles". Dentre essas espécies estariam: Cu+, Ag+, Au+, Tl(I), Ga(I), Zn2+, Cd 2+, Hg2+ , Pb2+,
Sn(II), Tl(III), Au3+, In(III) e Bi(III). Os cátions de metais de transição apresentariam
configuração eletrônica ndq, em que 0<q<10, como as espécies V(II), Mn2+, Fe2+, Co2+, Ni2+,
Cu2+, Ti(III), V(III), Cr3+, Mn(III), Fe3+ e Co3+.
Baseado na classificação dos íons metálicos proposta por Ahrland et al (1958),
Pearson (1963) fez então um ordenamento empírico de ácidos e bases, útil na previsão
das estabilidades relativas de complexos, introduzindo o princípio dos "ácidos e bases
duros e moles", na tentativa de unificar a química das reações orgânicas e inorgânicas.
Segundo Pearson (1963), os metais do tipo (a) (ácidos - pequenos, compactos e pouco
polarizáveis) preferem os ligantes (bases) de mesmas características, enquanto os metais
do tipo (b) (ácidos) preferem ligantes (bases) que tendem a ser maiores e mais polarizáveis.
Assim, a relação empírica proposta por Pearson é aquela em que ácidos "duros" preferem
bases "duras", enquanto ácidos "moles" preferem bases "moles". Mais especificamente,
os ácidos "duros" seriam todos os cátions metálicos do tipo (a), mais Cr 3+, Mn(III), Co 3+ e
VO2+, que teriam preferência por bases contendo os átomos ligantes N>>P; O>>S e F>>Cl.
Os ácidos "moles" seriam todos os cátions metálicos do tipo (b), menos Zn2+ , Pb2+ e Bi(III),
que teriam preferência por bases contendo os átomos ligantes P>>N; S>>O e I>>F. Os
casos intermediários seriam todos os cátions bivalentes de metais de transição, mais
Zn2+, Pb2+ e Bi(III).

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38 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

Comparativamente, seriam ácidos de Lewis os ácidos "duros" H+, Li+, Na+, K +,


Mg , Ca2+ , Cr 3+ , Mn2+, Fe3+, Co3+ , Al3+ e Si(IV), os ácidos intermediários (borderline) Fe2+,
2+

Ni2+, Cu2+, Zn2+ e Pb2+(com tendência para "mole") e os ácidos "moles" Cu(I), Ag+, Cd 2+ e
Hg2+. Da mesma forma, seriam bases de Lewis as bases "duras" NH3, H2O, OH-, ROH,
CH3COO-, CO32-, NO3-, PO43-, SO42- e F-, as bases intermediárias C6H5NH2, C5H5N:, NO2-, Br- e
Cl- (com tendência para "mole") e as bases "moles" C2H4, C6H6, R3P, (RO)3P, RSH, S2O32, S2- e I-.
Apesar dessas teorias, o melhor conceito para se trabalhar na prática é o de
Brønsted e Lowry. Não é tão complicado de se entender e pode explicar os fenômenos
ácido-base mais comuns. Por essas razões, este será o conceito adotado na seqüência
deste texto.
Como a maioria das reações e processos químicos ocorrem em solução aquosa,
deve-se dar atenção especial ao solvente água. A água pura pode se representada
pela reação:

H2 O + H2 O ↔ H3 O+ + OH-

chamada reação de autoprotólise. Pela condição de equilíbrio

(H 3 O + )(OH − )
K H 2O = = (H 3 O + ) ( OH − ) = 1,00 x 10 − 14
(H 2 O )2

pois (H2 O) =1, em T = 298 K e P = 101,325 kPa.

Geralmente, para simplificar a escrita, usa-se o símbolo H+ (chamado erroneamente


de "próton") em vez de H3 O+, mas isso não significa que há prótons livres em solução.
Assim, simplificadamente, pode-se escrever (e usualmente assim é feito):

H2 O ↔ H+ + OH -

K H 2 O = ( H + ) ( OH − ) = 1 ,00 x 10 − 14

Aplicando -log e a definição de atividade em ambos os lados da equação matemática


do equilíbrio, tem-se uma mudança de escala, dada por

− log K H 2 O = − log[( H + ) ( OH − ) ] = − log ( 1 ,00 x 10 − 14 )

14 ,00 = − log( H + ) − log(OH − ) = − log ([H + ]γ H ) − ( log [OH − ]γ OH )

Definindo pH = − log( [H + ]γ H ) e pOH = − log( [OH − ]γ OH ) e admitindo que γ H ≅ γ OH ≅ 1 ,


tem-se a definição simplificada de pH e de pOH, em que

pH = -log [H+] e pOH = -log [OH-]


e

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I - Conceitos Básicos de Química 39

pH < 7,00 meio ácido


pH = 7,00 meio neutro
pH > 7,00 meio básico

Os ácidos (e bases) fortes interagem com o solvente água da seguinte maneira:

H2 O + H2O ↔ H3O+ + OH-

H2 O + HA → H3 O+ + A -

ou, simplificadamente
H2 O ↔ H+ + OH-

HA → H+ + A-

sendo HA um ácido forte. A seta unidirecional está indicando a total dissociação da


substância (HA) no solvente água. Em soluções diluídas, esse sistema pode ser descrito
matematicamente pelas equações de equilíbrio, pelo Balanceamento de Massa (BM) e
pelo Balanceamento de Carga (BC), mostradas a seguir:

Equilíbrio: K H2O = [H+] [OH-]

(BM): CHA = C = [A -]

(BC): [H+] = [OH-] + [A-]

Notar que CHA (ou C) é a concentração analítica (quantidade de matéria do soluto (em
mol), originalmente adicionada a certo volume de solvente, dividida por esse volume) e
[A -] é a concentração da espécie A -, após o equilíbrio da solução ter sido atingido.

Substituindo [OH-] da condição de equilíbrio (K H2O) e [A -] do (BM) na equação do


(BC), chega-se a
K H2O
[H + ] = +C
[H + ]

que é uma equação do segundo grau para a incógnita [H+]. Para concentrações analíticas
de ácidos (ou de bases) mais altas, por exemplo, entre 10-1 e 10-2 mol L -1,

[H+] ≅ C

e para concentrações mais baixas, como, por exemplo, entre 10-8 e 10-10 mol L -1,

K H2O
[H + ] ≅
[H + ]

o que resulta H + ≅ K H O ou, pH ≅ 7,00. Ou seja, com a diluição, o pH de uma solução


2

de ácido (ou de base) forte tende a 7.

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40 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

Se for necessário um cálculo mais exato do pH de uma solução de um eletrólito, tem-


se de considerar as equações de Debye-Hückel. No caso de uma solução 0,10 mol L -1 de
HCl e considerando-se a EEDH, obtém-se

∑C z
1
pH = − log( [H + ]γ H ) e I=
2
i
2
i
i

Considerando CHCl ≅ [H+] e a = 9 para o íon H+ (Quadro 7), chega-se a

I 0 ,1
− log γ H = 0 ,512 (z H )2 = 0 ,512 x (1)2 = 8,5 x 10 −2
1+ B a I 1 + 0 ,328 (9) 0,1

pH = − log [H + ] − log γ H = − log( 0 ,10) + 0 ,085 = 1,085

As constantes de dissociação de alguns ácidos e bases fracos são mostradas nos


quadros 10 e 11.

Quadro 10. Constantes de dissociação aproximadas de alguns ácidos fracos

Ácido Equilíbrio Ka pKa

Acético H3CCOOH ↔ H+ + H3CCOO– 1,8 x 10-5 4,74

Benzóico HC7H5O2 ↔ H+ + C7H5O2– 6,6 x 10-5 4,18

Bórico HBO2 ↔ H+ + BO2– 6,0 x 10-10 9,22

Carbônico (1) H2CO3 ↔ H+ + HCO3– 4,6 x10-7 6,34


(2) HCO-3 ↔ H+ + CO32– 5,6 x 10-11 10,25

Cítrico (1) H3C6H5O7 ↔ H+ + H2C6H5O7– 8,3 x10-4 3,08


(2) H2C6H5O7– ↔ H+ + HC6H5O72– 2,2 x 10-5 4,66
(3) HC6H5O72– ↔ H+ + C6H5O73- 4,0 x 10-7 6,40

EDTA (1) H4Y ↔ H+ + H3Y– 1,0 x 10-2 2,00


(2) H3Y– ↔ H+ + H2Y2– 2,2 x 10-3 2,66
(3) H2Y2– ↔ H+ + HY3– 6,9 x10-7 6,16
(4) HY3– ↔ H+ + Y4- 5,5 x10-11 10,26

Fluorídrico HF ↔ H+ + F– 2,4 x 10-4 3,62

Sulfídrico (1) H2S ↔ H+ + HS– 1,0 x 10-7 7,00


(2) HS– ↔ H+ + S2– 1,2 x 10-13 12,92

Oxálico (1) H2C2O4 ↔ H+ + HC2O4- 5,6 x 10-2 1,25


(2) HC2O4– ↔ H+ + C2O42– 5,2 x 10-5 4,28

Fosfórico (1) H3PO4 ↔ H+ + H2PO4- 7,5 x 10-3 2,12


(2) H2PO4- ↔ H+ + HPO42– 6,2 x 10-8 7,21
(3) HPO42– ↔ H+ + PO43– 4,8 x 10-13 12,32

Tartárico (1) H2C4H4O6 ↔ H+ + HC4H4O6– 3,0 x10-3 2,52


(2) HC4H4O6– ↔ H+ + C4H4O62– 6,9 x 10-5 4,16

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I - Conceitos Básicos de Química 41

Quadro 11. Constantes de dissociação aproximadas de algumas bases fracas

Base Equilíbrio Kb pKb

Amônia(1) NH3 + H2O ↔ NH4+ + OH- 1,80 x 10-5 4,74


Anilina(2) C6H5NH2 + H2O ↔ C6H5NH3+ + OH- 4,60 x 10-10 9,34
Etilamina C2H5NH2 + H2O ↔ C2H5NH3+ + OH- 5,60 x 10-4 3,25
Hidroxilamina NH2OH ↔ NH2+ + OH- 6,60 x 10-9 8,18
Fenilhidrazina C6H5N2H3 + H2O ↔ C6H5N2H4+ + OH- 1,60 x 10-9 8,80
Piridina C5H5N + H2O ↔ C5H5NH+ + OH- 2,30 x 10-9 8,64
Quinoleína C9H7N + H20 ↔ C9H7NH+ + OH- 1,00 x 10-9 9,00
Trietilamina (C2H5)3N + H2O ↔ (C2H5)3NH + + OH- 2,60 x 10-4 3,58
(1)
O composto chamado "hidróxido de amônio" é uma solução aquosa de amônia e o equilíbrio de dissociação deve
ser descrito por NH 3 + H 2 O ↔ NH 4 + + OH –. (2) As aminas orgânicas podem ser consideradas como sendo amônia,
na qual o hidrogênio foi substituído por um radical orgânico. Por exemplo, a anilina pode ser considerada como
sendo constituída pela substituição de um átomo de hidrogênio pelo grupo -C 6 H 5 (fenila).

Para um ácido monoprótico fraco, há apenas dois equilíbrios simultâneos e


interdependentes, gerando um sistema matemático com quatro equações e quatro
incógnitas. Simplificadamente:

H2 O ↔ H+ + OH -

HA ↔ H+ + A-

Em soluções diluídas, podem-se escrever:

+ − [H + ][A − ]
Condições de equilíbrio: K H 20 = [H ][OH ] e K HA =
[HA]

Balanceamento de Massa (BM): CHA = C = [HA] + [A -]

Balanceamento de Carga (BC): [H+] = [OH-] + [A -]

Nesse sistema de equações, as variáveis conhecidas são KH O , KHA e C e as incógnitas


2

− K HA [HA ]
são: [HA], [A-], [H+] e [OH-]. Fazendo [A ] = e substituindo [HA] obtida do
[H + ]
K HA C
BM, tem-se [A − ] = . Substituindo essa equação e a equação de equilíbrio da
[H + ] + K HA
água no BC, obtém-se:

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42 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

K H2O K HA C
[H + ] = +
+
[H ] [ H + ] + K HA

Quatro situações devem estão ser consideradas:


1. Quando C → 0 (a concentração analítica do ácido (ou base) é muito pequena),
K HA C
→0
tem-se a situação em que [A -] << [OH-], de modo que o termo [H + ] + K .
HA

+
K H2 O
Assim, [ H ] ≅ ou [H + ] ≅ K H2 O (pH 7). Do mesmo modo que para os
[H + ]
ácidos fortes, o pH de soluções de ácidos fracos também tende a sete, com a diluição.

2. Para concentrações analíticas (C) mais altas tem-se a situação em que [OH-] << [A-]), [H+]
K H 2O + K HA C
também aumenta e a razão diminui. Então, [H ] ≅ [H + ] + K
+ (equação
[H ] HA
do segundo grau). Se C for muito alta, mesmo que K HA seja muito pequena, o
denominador ( [H + ] + K HA ) → [H + ] , tal que [H + ] ≅ K HA C .

3. Para ácidos com K HA muito pequena, tem-se que [A -] << [HA] (da equação de
equilíbrio do ácido) e que [H+] ≅ [OH–] (do BC; notar que a solução ainda é ácida).
K HA C
Isso nos leva ao caso 1, em que será pequeno se comparado com
[H + ] + K HA
K H2O
, tal que [H + ] ≅ K H 2 O (pH ≅ 7).
[H + ]

K H2 O
4. Quando K HA ~ 10-2 - 10-3 ou maior, a solução é muito ácida, tende a
[H + ]
+
diminuir e o denominador ( [H ] + K HA ) → K HA , se C for baixo comparado com
+ K HA C
K HA. Então, [H ] ≅ ≅ C , que é a aproximação dos ácidos fortes,
[H + ] + K HA
mais concentrados.

O mesmo raciocínio pode ser estendido aos ácidos polipróticos e às bases fortes
(como o NaOH) e fracas (como a amônia, NH3 ). No entanto, considerando as teorias
ácido-base, alguns sais apresentam caracteríticas alcalinas ou ácidas ao serem
dissolvidos em água, mesmo sem conter H ionizáveis ou radicais OH- em suas fórmulas.
O fato de a dissolução desses sais gerar uma solução ácida ou alcalina indica a ocorrência
de alguma interação com o solvente, além do processo usual de solvatação dos íons. Essa
interação é conhecida como hidrólise, que é um caso particular de solvólise (interação
com o solvente), e se resume em um problema ácido-base, como os já vistos.

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I - Conceitos Básicos de Química 43

Os exemplos mais comuns são os sais de base forte com ácido fraco, como os
carbonatos de metais alcalinos (ex: Na2 CO3 ) e o acetato de Na, e os sais de ácido forte com
base fraca, como o NH4 Cl. No caso dos sais de base forte com ácido fraco, a interação do
ânion com os íons H3O+ oriundos do equilíbrio da água (autoprotólise) gera ácidos fracos
(associados) e produz soluções com características alcalinas. No caso do acetato de Na,
pode-se escrever:

Para sais de ácidos fortes com bases fracas, como o NH4Cl, a interação do cátion com
os íons OH - produz soluções ácidas:

em que KH O, K HA e K NH são as constantes de dissociação da água, do ácido acético e da


2 3
amônia, respectivamente. Em todos os casos, estão envolvidos os equilíbrios dos
respectivos ácidos e bases fracos.
Assim, tomando o caso hipotético de um sal de base forte com ácido fraco (como o
do acetato de sódio), simplificadamente, chega-se a

[ H + ][A − ]
Pelas condições de equilíbrio: K H 2 0 = [H + ][OH − ] e K HA =
[HA ]

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44 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

K H2 O
[A − ]
+
Substituindo [H ] de KH2 O em K HA: K [ OH − ] K H 2 O [ A − ] . Seja então,
= =
[ OH − ][ HA ]
HA
[ HA ]
K H2 O [OH− ][HA]
Kh = =
K HA [A − ]

em que a última equação representa uma constante de equilíbrio (chamada constante de


hidrólise), compatível com uma reação hipotética A - + H2 O ↔ HA + OH- , conhecida
como reação de hidrólise. O enfoque anterior mostra que o tratamento matemático e
químico não diferem daqueles já vistos para ácidos e bases fracos.
Em qualquer equilíbrio iônico, pode-se determinar o comportamento de uma das
espécies de um eletrólito frente a uma variável comum. Para tal, define-se o grau de
dissociação (α ) de uma espécie (X) em solução como sendo sua concentração dividida
pela concentração analítica do eletrólito:

αx = [X]/C

de tal modo que a condição:

i
∑αn = 1
n =o

seja obedecida.
Em um caso simples, como o da solução de ácido acético, e usando a notação Ac -
para representar mais simplificadamente o íon acetato (H3CCOO-), obtém-se:

H2 O ↔ H+ + OH -

HAc ↔ H+ + Ac -

Pelas condições de equilíbrio e de balanceamento, chega-se a:

+ − [H + ][Ac − ]
Equilíbrio: K H 2 O = [H ][OH ] e K HAc =
[HAc]

Balanceamento de Massa: CHAc = C = [HAc] + [Ac -]

Balanceamento de Carga : [H+] = [OH-] + [Ac -]

Fazendo as substituições apropriadas:

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I - Conceitos Básicos de Química 45

 [H + ][Ac − ]   [H + ] 
C = [Ac − ] +   = [Ac − ]

1 +



 K HAc   K HAc 

[Ac − ] K HAc [HAc] [H + ]


então α Ac = = e α HAc = =
C K HAc + [H + ] C K HAc + [H + ]

tal que αAc + αHAc = 1

Usando uma planilha eletrônica, podem-se calcular quaisquer valores de α em


toda a faixa de pH (Figura 10). Esse mesmo raciocínio pode ser usado para eletrólitos
como cloreto de amônio e carbonato de sódio, bem como para ácidos polipróticos e
polibases. As figuras de 11 a 14 mostram as distribuições do ácido fosfórico, do EDTA,
do carbonato de sódio e das espécies monoméricas de Al 3+ , como variáveis
dependentes do pH. Esses exemplos podem ser usados como exercícios na prática
de cálculos de equilíbrios.

Figura 10. Distribuição das espécies em uma solução aquosa 0,1 mol L -1 de ácido acético.
Cálculos efetuados com planilha eletrônica, usando dados da literatura (α = grau de
dissociação).

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46 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

Figura 11. Distribuição das espécies em uma solução aquosa 0,1 mol L -1 de ácido fosfórico.
Cálculos efetuados com planilha eletrônica, usando dados da literatura (α = grau de
dissociação).

Figura 12. Distribuição das espécies em uma solução aquosa 0,1 mol L -1 de EDTA (H 4A). Cálculos
efetuados com planilha eletrônica, usando dados da literatura (α = grau de dissociação).

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I - Conceitos Básicos de Química 47

Figura 13. Distribuição das espécies em uma solução aquosa 0,1 mol L -1 de carbonato de sódio.
Cálculos efetuados com planilha eletrônica, usando dados da literatura (α = grau de
dissociação).

Figura 14. Distribuição das espécies monoméricas de alumínio em uma solução aquosa
0,1 mol L -1 de Al 3+. Cálculos efetuados com planilha eletrônica, usando dados da literatura
(α = grau de dissociação).

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48 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

Outra situação interessante ocorre quando se coloca em solução um sal de ácido


(ou base) fraco com base (ácido) forte juntamente com o seu respectivo ácido (ou base)
fraco. Essa mistura, constituída de ácidos e bases conjugados, pela teoria proposta
por Brønsted e Lowry, tem a propriedade de impedir a variação drástica do pH do
meio, dentro de certas condições. Estas soluções, chamadas de soluções-tampão,
minimizam as variações de pH por meio do efeito do íon comum. Genericamente,
considerando a mistura de um sal de ácido fraco com base forte e o respectivo ácido
fraco, obtém-se:

em que o íon comum é a espécie H+ (mais exatamente, H3 O+). Da mesma forma que
anteriormente, usando as condições de equilíbrio para esse sistema e os seus
Balanceamentos de Massa (BM) e de Carga (BC), chega-se à equação:

C NaA
K HA = [ H + ]
C HA

que, após rearranjo e aplicação de p = -log em ambos os lados, resulta na equação

C NaA
pH = pK HA + log
C HA

conhecida como a equação de Henderson-Hasselbalch. Essa equação foi originalmente


desenvolvida em 1908 por Lawrence Joseph Henderson (1878-1942) e Karl Albert
Hasselbalch (1874-1962), descrevendo o uso do ácido carbônico como solução-tampão.
No entanto, essa é uma equação simplificada, pois é válida somente se o ácido (ou
base) não for nem muito forte nem muito fraco (os melhores são aqueles que apresentam
K HA ~ 10-4 a 10-6 ), se a força iônica do meio e a temperatura forem constantes e se as
concentrações analíticas do ácido (ou da base) e do sal (CHA e C NaA) não forem muito
pequenas (tampões diluídos). Além disso, assume-se também que (i) ≅ [i], o que é uma
aproximação, evidentemente. Dentro de certos limites, a equação Henderson-
Hasselbalch indica que o pH é independente das concentrações (desde que maiores
que ~ 10 -3 mol L -1 ) e que a melhor condição de tamponamento ocorre quando a razão
CNaA / C HA = 1, resultando em pH = pK HA (Figuras 15 e 16).

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I - Conceitos Básicos de Química 49

A capacidade de tamponamento de uma solução tampão (também conhecida como


capacidade do tampão ou índice do tampão) é uma medida da capacidade dessa solução
de resistir a variações no pH, quando da adição de um ácido forte ou uma base forte. A
capacidade do tampão é definida como:

dC b dC a
β = =−
d pH d pH

sendo Ca e Cb as quantidades necessárias de matéria (em mol) do ácido ou da base para


produzir a variação de uma unidade de pH, em um litro da solução-tampão (considerando
que a adição do ácido ou da base não altera o volume final). Quando maior o valor de β ,
maior a resistência do tampão à variação do pH. Um sinal negativo na equação da
capacidade do tampão indica que o pH diminui com a adição de ácido.
A figura 15 mostra que a melhor região de tamponamento de um tampão ácido
acético-acetato de sódio ocorre em pH = 4,75, em que CNaA / CHA = 1. O tampão não pode
ser muito diluído. A figura 16 mostra que um tampão ácido acético-acetato de sódio, no
pH de máximo tamponamento, funciona bem desde que as concentrações dos seus
componentes sejam maiores que 10-3 mol L -1 e que a diluição eleve gradativamente o seu
pH até o limite de 7. Existem outros tipos de tampão que devem ser usados de acordo
com a necessidade. Nesses casos, a literatura básica em química analítica deve ser
consultada.
Mas, como preparar um tampão ácido-base simples e eficiente? O que se faz é escolher
o melhor conjunto ácido (ou base) fraco e seu sal de ácido (ou base) fraco com base (ou
ácido) forte, dentre as várias opções disponíveis e apropriadas, de modo que a CNaA / CHA
seja o mais próximo da unidade e que a concentração total de ácido e base conjugada
(CT = CHA + CNaA) seja superior ou igual a, por exemplo, 10-1 mol L-1 (lembrar que tampões
diluídos têm pequena capacidade de tamponamento). Esses cálculos preliminares podem
ser feitos com a equação de Henderson-Hasselbalch, para garantir boa capacidade de
tamponamento.
Na prática, transfere-se a quantidade de matéria do sal (exemplo: acetato de sódio),
suficiente para se obter a concentração analítica CT, após diluição a um litro. Essa massa
de sal é dissolvida em cerca de 700 - 800 mL de água e, em seguida, com a ajuda de um
medidor de pH, monitora-se o pH da solução, enquanto se adicionam quantidades
apropriadas do ácido forte (HCl) até que o pH desejado (para se obter a maior capacidade
de tamponamento, ao redor de 4,75) seja atingido. A adição do HCl gera, in situ, o ácido
acético necessário para formar o tampão. Transferir a solução, quantitativamente, para
um balão volumétrico de 1 L e fazer a diluição até a marca. Após a homogeneização, a
solução estará pronta para uso. Alternativamente, pode-se usar a quantidade de ácido
acético necessária para se obter, no final, uma concentração de CT mol L -1, e ajustar o pH
desejado com solução de NaOH. Nesse caso, os íons acetato serão formados in situ, pela
reação entre o ácido acético e o hidróxido de sódio. Em qualquer caso, a diluição não
afetará o pH, porque a relação CNaA / CHA permanecerá inalterada.

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50 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

Figura 15. Variação da capacidade de tamponamento (β) de um tampão ácido acético-acetato


de sódio como variável do pH. Cálculos efetuados com planilha eletrônica, usando dados
da literatura.

Figura 16. Variação do pH de um tampão ácido acético-acetato de sódio como variável da


diluição. Cálculos efetuados com planilha eletrônica, usando dados da literatura.

Equilíbrios que Envolvem a Formação de Complexos


Qualquer espécie química em solução, formada por combinação de duas ou mais
espécies mais simples que possam existir independentemente, é chamada de complexo.

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I - Conceitos Básicos de Química 51

Um complexo apresenta-se geralmente como íons positivos ou negativos, mas também podem
existir como moléculas sem cargas. Assim, qualquer combinação de cátions com moléculas
ou ânions que contêm pares de elétrons livres (bases) é chamada de composto de coordenação
(complexo), podendo ser as interações eletrostáticas ou covalentes entre eles ou uma mistura
de ambas. As espécies químicas que rodeiam os cátions bem de perto, formando algum tipo
de ligação, são chamadas de ligantes, e o cátion metálico, de átomo central.
Os ligantes podem ser espécies químicas simples, como o NH3 , em que o átomo
responsável pela natureza básica (nucleófila) é chamado de átomo ligante (no caso, o N).
Se a base contiver mais de um átomo ligante, é então chamado de ligante multidentado,
ou quelante (ex.: EDTA, que é um ligante hexadentado). Se existir mais de um átomo
metálico (átomo central) em um complexo, têm-se então os complexos polinucleares
(também chamados de multinucleares). O chamado Número de Coordenação é uma
propriedade indicativa da estrutura (geometria) do complexo, que especifica o número
de átomos ligantes em um átomo central em particular.
Deve-se aqui estabelecer a diferença entre algumas espécies químicas, chamadas
pares iônicos, e os complexos propriamente ditos. Os complexos são entidades mais
estáveis, resultado de interações mais fortes (ligações) entre o íon metálico e um ou mais
ligantes doadores de elétrons, cujo conjunto é solvatado (moléculas do solvente interagindo
com a espécie coordenada, por meio de ligações mais fracas). Essas espécies são
conhecidas como complexos de esfera interna (inner sphere). Por outro lado, os pares
iônicos são espécies iônicas de cargas opostas que se aproximam entre si, por atração
predominantemente eletrostática, até uma distância limite dada pela soma dos seus raios
iônicos solvatados. São os chamados compostos de esfera externa (Figura 17) .

Figura 17. Formas de associação: exemplos pictóricos para ilustrar a formação de pares iônicos
e complexos (M = ion metálico; L = ligante).

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52 JOÃO CARLOS DE ANDRADE

Os sistemas ácido-base podem ser considerados casos especiais de equilíbrios de


complexos, em que os complexos são formados pela combinação de íons H3 O+ (ou,
simplificadamente, H+) com um grupo central, como a amônia (NH3 ). Sendo assim, o
formalismo empregado para se entender os sistemas ácido-base pode ser facilmente
estendido para os sistemas em que ocorre a formação de complexos. Assim, a extensão
da interação entre cátions e ânions (ou moléculas) solvatados, na formação de complexos,
pode ser tratada termodinamicamente, em termos das suas expressões e constantes de
equilíbrio, como foi efetuado nos equilíbrios ácido-base (Quadro 12).

Quadro 12. Constantes de formação (estabilidade) aproximadas de alguns complexos (1)

Ligante Cátion log K1 log K2 log K3 log K4 log β

Ag+ 3,20 3,83 7,03


Cd2+ 2,51 1,96 1,30 0,79 6,56
Co2+ 1,99 1,51 0,93 0,64 5,07
NH3 Cu2+ 3,99 3,34 2,73 1,97 12,03
Hg2+ 8,80 8,70 1,00 0,78 19,30
Ni2+ 2,67 2,12 1,61 1,07 7,47
Zn2+ 2,18 2,25 2,31 1,96 8,70

Ag+ 3,04 2,00 0,00 0,26 5,30


Cl- Cd2+ 2,00 0,60 0,10 0,30 3,00
Hg2+ 6,74 6,48 0,85 1,00 15,07
Pd2+ 6,10 4,60 2,40 2,60 15,70
(1)
Os valores tabelados são os logaritmos da constante de formação (estabilidade). As constantes sucessivas são
designadas por K 1 , K 2 , K 3 , ... K n. A constante cumulativa ou global é o produto das constantes sucessivas. Assim
sendo, K = K 1 · K 2 · K 3 · ... · Kn e, portanto, log β = log K 1 + log K 2 + log K 3 ... + log Kn.

Desta forma, se íons metálicos M n+ (simplificadamente simbolizados como M) são


adicionados a uma solução aquosa q ue cont ém ligantes monod ent ad os L -
(simplificadamente simbolizados como L), e considerando que não ocorrem outras reações
além das de formação de complexos mononucleares e que as atividades podem ser
consideradas aproximadamente iguais às concentrações das espécies em solução, em
mol L-1, pode-se escrever que:

[ML ]
M + L ↔ ML K1 =
[M ][L ]

[ML 2 ]
ML + L ↔ ML 2 K2 =
[ML ][L ]

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I - Conceitos Básicos de Química 53

[ML 3 ]
ML 2 + L ↔ ML 3 K3 =
[ML 2 ][L ]

[ML n ]
ML n-1 + L ↔ ML n Kn =
[ML n −1 ][L ]

em que se obtêm n equilíbrios, sendo n o número máximo de coordenação do complexo


(do metal M com o ligante L). Por exemplo, o número de coordenação do íon alumínio
(Al3+ ) em relação ao ligante cloreto (Cl-) é quatro (AlCl4-) e em relação ao fluoreto (F-) é
seis (AlF6-).
Uma outra forma de representar essas relações de equilíbrio é:

[ML ]
M + L ↔ ML β 1 = ou [ML ] = β 1 [M ][L ]
[M ][L ]

[ML 2 ]
M + 2 L ↔ ML 2 β 2 = ou [ML 2 ] = β 2 [M][L ]2
[M ][L ]2

[ML 3 ]
M + 3L ↔ ML 3 β 3 = ou [ML 3 ] = β 3 [M ][L ]3
[M ][L ]3

[ML n ]
M + nL ↔ ML n β n = ou [ML n ] = β n [M ][L ]n
[M][L ]n

Como podem existir apenas n equilíbrios independentes, então as constantes K


(chamadas de constantes de formação ou constantes de estabilidade passo a passo,
stepwise) e as constantes β (chamadas de constantes de formação ou constantes de
estabilidade globais, overall) estão relacionadas entre si pela equação

i
β i = K 1 . K 2 . K 3 ......K i = ∑kk
k =1

em que i = 1, 2, 3,....n e k = 1, 2, 3,.....i. Notar que, no caso de i=1, β = K 1 . Para fazer uso
conveniente da notação matemática, define-se β 0 = K 0 = 1, tal que se possa usar k = 0, 1,
2,......n. Dessa forma, o balanceamento de massa do metal pode ser escrito como:

n n
CM = ∑ [ML k ] = ∑ β k [M ][ L]k
k =0 k =0

em que CM é a concentração analítica do metal. Por outro lado, o balanceamento de


massa do ligante será igual a:

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54 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

n n
C L = [L ] + ∑ k[ML k ] = [L] + ∑ kβ k [M ][L ]k
k =0 k =0

sendo CL a concentração analítica do ligante.


Da mesma forma já vista para as reações ácido-base, as funções de distribuição
das espécies em solução são definidas como a fração do metal presente sob a forma de
cátion metálico, M n+, ou sob a forma de um complexo do tipo ML n , tal que

[ML i ] β i [M ][L ]i
αi = = n
CM
∑ β k [M][L]k
k =0

em que k = 0, 1,....,n e i = 0, 1,.....,n. Como [M] aparece tanto no numerador como no


denominador

β i [ L ]i
αi = n
∑ β k [L ]k
k =0

n
com a condição de que ∑αi = 1
i =0

Com essas equações podemos determinar as curvas de distribuição das espécies em


solução, de acordo com a concentração do ligante, tal como foi demonstrado para os
sistemas ácido-base, como variável do pH. Por exemplo, quando se tem, no máximo, um
ligante ligado ao metal (ML), as funções de distribuição são descritas por:

1 K 1 [L ]
α0 = e α1 =
1 + K 1 [L ] 1 + K 1 [L ]

em que α0 + α1 = 1. Pode-se demonstrar também que, para um máximo de dois ligantes


ligados ao átomo central (complexo do tipo ML 2 ), tem-se:

1
α0 =
1 + K 1 [ L ] + K 1 K 2 [ L ]2

K 1[L ]
α1 =
1 + K 1 [ L ] + K 1 K 2 [ L ]2

K 1 K 2 [ L ]2
α2 =
1 + K 1 [ L ] + K 1 K 2 [ L ]2

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I - Conceitos Básicos de Química 55

em que α0 + α1 + α2 = 1. Por exemplo, para íons Ag+ em presença de NH3 em solução


aquosa, considerando apenas a formação dos complexos amin-prata:

Ag+ + NH3 ↔ AgNH3 + [Ag(NH 3 )+ ] = 1,58 x 10 3 [Ag + ][NH3 ]

AgNH3 + + NH3 ↔ Ag(NH3 )2 + [Ag(NH 3 )2 + ] = 6 ,76 x 10 3 [Ag(NH 3 )+ ][NH 3 ]

1
α 0 = α (Ag + ) =
1 + K 1 [NH 3 ] + K 1 K 2 [NH 3 ]2

K 1 [NH 3 ]
α 1 = α (AgNH 3+ ) =
1 + K 1 [NH 3 ] + K 1 K 2 [NH 3 ]2

K 1 K 2 [NH 3 ]2
α 2 = α (Ag(NH 3 )2+ ) =
1 + K 1 [NH 3 ] + K 1 K 2 [NH 3 ]2

A figura 18 mostra a distribuição dos complexos amin-prata como variável


da concentração de NH 3 . O intervalo de estabilidade do complexo AgNH 3 + é
pequeno, indicando que as espécies Ag + e Ag(NH 3 ) 2 + serão as predominantes em
solução.
Na realidade, todas as possibilidades devem ser consideradas, tornando os sistemas
(químico e matemático) bem mais complexos. Por exemplo, no caso dos íons prata em
solução de amônia, além dos equilíbrios da água e da amônia, devem-se considerar
ainda as possibilidades de formação de pares iônicos e da hidrólise do Ag+, gerando o
precipitado AgOH, e o hidroxo-complexo Ag(OH)2-.

Ag+ + NH3 ↔ AgNH3 + [complexação] K 1 = 1,58 x 103

AgNH3 + + NH3 ↔ Ag(NH3)2 + [complexação] K 2 = 6,76 x 10 3

Ag+ + OH- ↔ Ag(OH) [par iônico] K 3 = 2,00 x 102

Ag+ + OH- ↔ Ag(OH)s [precipitação] K s o = 3,7 x 10-6

Ag(OH) + OH- ↔ Ag(OH)2 - [complexação] K 4 = 52,5

H2 O + NH3 ↔ NH4 + + OH- K NH3 = 1,80 x 10-5

H2 O + H2 O ↔ H3 O+ + OH- K H2O = 1,00 x 10-14

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56 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

Figura 18. Distribuição das espécies amin-prata como variável da concentração de NH 3 (pNH 3
= -log[NH 3 ]), na faixa entre 1,0x10 -1 mol L -1 e 1,0x10 -6 mol L -1. Cálculos efetuados com
planilha eletrônica, usando dados da literatura (α = grau de dissociação).

Da forma como estão escritas as equações químicas, K1, K 2, K 3 e K 4 são as constantes


de formação dos complexos passo a passo (stepwise) e K s o , K NH 3 e K H2 O são o produto
solubilidade (ver definição no próximo tópico) e as constante de dissociação da amônia
e da água. A constante de dissociação é sempre o inverso da constante de formação, e
vice-versa, tal que:
1
KF =
KD

A analogia dos sistemas ácido-base com os sistemas químicos de coordenação


também pode ser estendida para o conceito de tampão. Da mesma forma que podem ser
preparados tampões de pH pela mistura de ácidos e bases conjugados (Brønsted e Lowry)
em condições apropriadas, para se obter a relação (simplificada),

C HA C NaA
[H + ] = K HA ou pH = pK HA + log
C NaA C HA

os íons metálicos também podem ser tamponados pela adição de ligantes à solução de
íons metálicos:

[ML ] 1 [ML ] [ML ]


KF = ou [M ] = x = KD
[M ][L ] KF [L ] [L ]

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I - Conceitos Básicos de Química 57

[L ]
pM = pK D + log
[ML ]

Esses tampões de íons metálicos resistem à variação da [M] e são muito importantes
para o funcionamento das células vivas, que controlam não só [H+], mas também as
concentrações de outros íons importantes ao seu metabolismo, como as concentrações de
íons cobre (pCu), manganês (pMn), magnésio (pMg), etc.
Com esta noção básica sobre compostos de coordenação, pode-se compreender
por que os estudos sobre a formação de complexos em solução aquosa constituem
assunto muito importante para a química e várias áreas correlatas. Outros aspectos,
relativos à influência dos complexos em reações de precipitação, serão abordados no
próximo tópico.

Equilíbrios que Envolvem Reações de Precipitação


Algumas reações químicas podem ter, como um dos seus produtos, substâncias que
apresentem baixa solubilidade no meio reagente, gerando a formação de outra fase,
geralmente um precipitado. Essas reações são regidas pelas considerações de equilíbrio,
da mesma forma que as anteriormente apresentadas. Uma conseqüência disso é a
possibilidade da existência freqüente de múltiplos equilíbrios, envolvendo interações
simultâneas entre equilíbrios ácido-base, de complexos e de precipitação. De fato, essas
possibilidades, associadas com as reações de oxirredução (ver próximo item) e as
mudanças de fases, tornam os estudos ambientais tão difíceis e desafiantes.
Para melhor entendimento das reações que envolvem a formação de precipitados, é
preciso ainda introduzir outros três conceitos: solubilidade, solução saturada e produto
solubilidade.
A solubilidade é definida como a quantidade de uma substância (ex.: um sólido)
dissolvida em um solvente (ex.: água), para formar um litro de uma solução saturada,
em uma temperatura definida. Uma solução saturada é aquela em que o soluto (ex.:
sólido) e seus íons solvatados estão em equilíbrio. Se a quantidade de soluto for definida
em termos de massa, tem-se a solubilidade em massa (por exemplo, g L -1) e, se soluto for
definido em termos de quantidade de matéria (mol), tem-se a solubilidade molar
(mol L -1).
Em 1899, Walter Friedrich Hermann Nernst (1864-1941; Prêmio Nobel de Química
de 1920, pela descoberta da terceira lei da Termodinâmica), estudando a solubilidade do
acetato de prata em solução aquosa, demonstrou que a solubilidade de sais iônicos em
água ou em soluções salinas diluídas é governada por uma expressão matemática que
foi denominada "Produto Solubilidade". Assim, para uma solução saturada e diluída de
um sólido iônico pouco solúvel do tipo MzXy, tem-se:

M z Xy ↔ zM y+ + yXz-

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58 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

Nessas condições, pode-se escrever que:

(M y+) ≅ [My+]; (Xz-) ≅ [Xz-] e que (Mz Xy) = 1 (sólido puro)

Assim sendo,

(M y + ) z ( X z − ) y
K so = ≅ [ M y + ]z [ X z − ]y ≅ Ks
(M z X y )

sendo Ks = f (Temperatura), por se tratar de uma constante de equilíbrio (Figura 19). O


símbolo Ks é usado indiscriminadamente, como uma simplificação de grafia, mas essa
conduta não é rigorosamente correta.

Figura 19. Efeito da temperatura na solubilidade de alguns sais em solução aquosa.

Enquanto o termo [My+]z [Xz-]y (também chamado de produto iônico, Pi) for menor
que o valor limite dado pelo produto solubilidade (Ks), o soluto permanecerá em
solução. Quando o Ks for atingido (Pi = Ks), tem-se uma solução saturada, na
temperatura especificada, e, quando Pi > Ks, ocorrerá precipitação do sólido MzXy, até
que o valor P = Ks seja novamente restabelecido. Entretanto, o formalismo matemático
para a obtenção dessa fórmula é limitado a alguns poucos sais iônicos (Quadro 13),
porque a maioria deles forma complexos em solução aquosa, é sensível à variação do
pH do meio ou tem solubilidade relativamente alta.

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I - Conceitos Básicos de Química 59

Quadro 13. Produtos solubilidade (pKs) para sais que formam somente duas espécies iônicas
principais em soluções aquosas diluídas

Sais com íons de cargas iguais pKs Sais com íons de cargas diferentes pKs

AgBrO3 4,28 Ag2SO4 4,80


SrSO4 6,55 Ag2C2O4 11,30
PbSO4 7,80 BaF2 5,76
AgCl 9,75 MgF2 8,18
BaSO4 9,96 CaF2 10,40
AgBr 12,28 Mg(OH)2 10,74
AgI 16,08 Pb(IO3)2 12,59

A relação entre a solubilidade e o produto solubilidade deve ser bem entendida.


Nernst mostrou que um sal do tipo M z Xy que se dissolva em água (em uma temperatura
fixa), gerando unicamente os íons M y+ e Xz- em uma solução saturada diluída, terá um
Produto de Solubilidade descrito por:

[M y + ]z [X z− ]y ≅ Ks

sendo S a solubilidade molar desse sal. Então, os balanceamentos de massa do cátion e


do ânion serão:

[My+] = zS e [Xz-] = yS

Substituindo na expressão do produto solubilidade:

Ks = (zS)z (yS)y

de modo que é possível calcular a Solubilidade do sal, sabendo-se Ks, z e y. Por exemplo,
para o cloreto de prata:

AgCl ↔ Ag+ + Cl-

em que Ks = [Ag+] [Cl-] . Em uma solução saturada (1 L):

[Ag+] = S e [Cl-] = S,
e, portanto

S= Ks

O que governa a precipitação é a solubilidade. Além disso, observando os valores de


pKs (pKs = -log Ks) para os sais AgCl, AgBr e AgI no quadro 13, pode-se inferir que

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60 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

quanto menor Ks, menor é a solubilidade e, portanto, os sais com Ks menores precipitariam
primeiro. Entretanto, isso deve ser visto com cuidado. Por exemplo, se uma solução com
íons prata fosse adicionada, aos poucos e sob agitação, a uma mistura de íons cloreto e
cromato com a mesma concentração (ex.: C = 0,1 mol L -1), qual o sal que precipitaria
primeiro? Considerar para efeito de cálculos que Ks(AgCl) = 1,78 x 10 -1 0 e que
Ks(Ag2CrO 4 )= 1,90 x 10-12.
Desconsiderando os problemas de hidrólise que envolvem os íons cromato e
observando apenas a definição de solubilidade, tem-se que, pelos balanceamentos de
massa e as condições de equilíbrio,

AgCl ↔ Ag+ + Cl-

Balanceamento de Massa: [Ag+] = S e [Cl-] = 0,1

Ks = [Ag+][Cl-] = 1,78 x 10-10 = S x 0,1

S = 1,78 x 10-9 = S(AgCl)

e essa condição será atingida quando [Ag+] = 1,78 x 10-9 mol L-1. Por outro lado,

Ag2 CrO4 = 2Ag+ + CrO4 2-

Balanceamento de Massa: [Ag+] = 2S e [CrO4 2-] = 0,1

Ks = [Ag+]2 [CrO4 2-] = 1,90 x 10-12 = (2S)2 x 0,1

S = 2,18 x 10-6 = S(Ag2CrO4)

condição essa que será atingida quando [Ag+] = 4,36x 10-6 mol L -1.

Como [Ag+] é a concentração de prata necessária para iniciar a precipitação, nota-se


que o AgCl precipitará primeiro, mesmo tendo o maior Ks. Assim, a afirmativa de que "os
sais com Ks menores precipitam primeiro" é válida apenas para sais de mesma
estequiometria. Esses conceitos são importantes porque são usados com freqüência. Por
exemplo, a precipitação fracionada é um procedimento muito útil na eliminação de
interferências.
A possibilidade de ocorrência de múltiplos equilíbrios simultâneos, que é o caso
mais comum na natureza, pode alterar as condições de precipitação de um sal,
introduzindo sérias complicações nos cálculos. Isso geralmente ocorre sob influência de
variações no pH do meio, pela formação de complexos e pela influência do íon comum,
ainda mais se a influência da força iônica tiver de ser considerada.
Nota-se o efeito de íon comum no sistema, quando, por qualquer razão, a
concentração dos cátions ou dos ânions do sistema principal for alterada, por exemplo,
por adição de outro sal. Isso leva à diminuição da solubilidade do eletrólito estudado,
porque o produto iônico ultrapassa o produto solubilidade, gerando instabilidade ao
sistema químico. Como ilustrado nas figuras 20 e 21, a solubilidade do sulfato de bário

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I - Conceitos Básicos de Química 61

diminui se, a uma solução saturada desse sal, forem adicionados íons sulfato (ex.: sulfato
de sódio) ou íons bário (ex.: cloreto de bário).

Figura 20. Diagrama ilustrativo sobre a ação do íon comum em uma solução saturada de BaSO4.

Figura 21. Variação da solubilidade em uma solução saturada de sulfato de bário, pela adição de
sulfato de sódio. Cálculo efetuado com planilha eletrônica, considerando pKs -BaSO4 = 9,96
(Quadro 13 ), sendo desprezada a hidrólise dos íons sulfato.

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62 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

O efeito do íon comum praticamente não é observado quando sais quimicamente


inertes (ex: KNO3 e KClO4) são adicionados ao sistema em equilíbrio (Figura 22). De fato,
isso permite que esses sais sejam utilizados para o ajuste da força iônica do meio em
várias medidas físico-químicas.

Figura 22. Efeito salino (adição de um sal inerte, KNO3 ) e do íon comum (K 2CrO 4) sobre a
solubilidade (S) do cromato de prata.

Um exemplo é o cálculo do efeito da concentração dos íons iodeto na solubilidade


do iodeto de chumbo, em uma solução saturada de PbI2 . Nesse caso, o excesso de iodeto
pode atuar tanto como íon comum (equilíbrio a esquerda do íon Pb2+ ), como agente
complexante (equilíbrios a direta do íon Pb2+ ):
PbI2 = 2I- + Pb2+ + I- =PbI + + I- = PbI2 (aq) + I- =PbI3- + I- = PbI4 2-
(precipitação) (complexações)

sendo PbI2(aq) um par iônico. Descrevendo o sistema de outra forma, têm-se:

Reação de precipitação: Pb2+ + 2I- ↔ PbI2 K s = [Pb 2 + ][I − ]2 = 7 ,9 x 10 −9

[ PbI + ]
Reações de complexação: Pb + I ↔ PbI
2+ - + K1 = = 1 ,0 x 10 2 = β 1
[ Pb 2 + ][ I − ]

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I - Conceitos Básicos de Química 63

[PbI 2 (aq )]
Pb2+ + 2I- = PbI2 (aq) β2 = = 1, 4 x 10 3
[Pb 2+ ][I − ]2

[PbI −3 ]
2+ -
Pb + 3I = PbI3 - β3 = = 8 ,3 x 10 3
[Pb 2 + ][I − ]3

[PbI 24 − ]
Pb2+ + 4I- = PbI4 2- β4 = 2+ − 4
= 3,0 x 10 4
[Pb ][I ]

A solubilidade é medida pela concentração total de íons chumbo em solução


(balanceamento de massa), uma vez que a concentração do iodeto é uma variável do
sistema. Assim, considerando o balanceamento de massa do sistema:

[Pbtot](sol) = [Pb2+] + [PbI+] + [PbI2 (aq)] + [PbI3-] + [PbI4 2-]

Usando as constantes de formação globais dos equilíbrios anteriormente citados,


pode-se mostrar a variação da solubilidade do iodeto de chumbo para concentrações do
iodeto variando de 1,0 x 10-3 a 10 mol L -1. Para concentrações mais baixas de iodeto, a
solubilidade do PbI2 é governada pelo efeito do íon comum, enquanto, para concentrações
mais altas, a influência das complexações é preponderante (Figura 23). Esses cálculos
são aproximados, pois não se considerou a variação da força iônica do meio reagente.

Figura 23. Solubilidade do iodeto de chumbo, considerando a concentração dos íons iodeto em
solução. Cálculos efetuados com planilha eletrônica, usando dados da literatura.

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64 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

Equilíbrios que Envolem Reações de Oxirredução


Além dos fenômenos químicos em solução aquosa que ocorrem sem a variação do número
de oxidação das espécies envolvidas, como as reações ácido-base, as de complexação e as de
precipitação, há aqueles que ocorrem com variação do número de oxidação. A esse tipo de
reação química, em que ocorre transferência de elétrons, dá-se o nome de reação de oxidação-
redução, reação de óxidorredução ou simplesmente de reação redox.
O processo de oxidação envolve perda de elétrons por parte de uma substância,
enquanto a redução envolve ganho de elétrons para a espécie química em consideração.
Como regra geral, os agentes oxidantes reduzem-se, retiram elétrons das substâncias
redutoras e têm seus números de oxidação diminuídos na reação, enquanto os agentes
redutores oxidam-se, fornecem elétrons às substâncias oxidantes e têm seus números de
oxidação aumentados na reação. Esta perda ou ganho de elétrons, formalmente, é indicada
pela variação do número de oxidação das espécies envolvidas na reação considerada.
O número de oxidação é um conceito arbitrário, definido como a carga elétrica formal
(carga elétrica do átomo dividida pela carga elétrica do próton) que o átomo tem, ou parece
ter, em uma molécula ou em um íon. Essa carga elétrica formal está relacionada com o estado
de oxidação dos elementos nas substâncias. É representado por números romanos e o seu
conhecimento é essencial para o balanceamento de reações redox. O número de oxidação de
um elemento pode variar, dependendo da maneira como ele está ou não agrupado. Por
exemplo, em solução aquosa, o estado de oxidação do Cr no dicromato de potássio (K2Cr2O7)
é (VI) e está associado à espécie aniônica Cr2O72-, enquanto no cloreto de cromo (CrCl3) seu
estado de oxidação é (III) e está associado ao íon Cr3+. Na substância MgCl2, o número de
oxidação do Mg é (II), quando presente como íons Mg2+, e o número de oxidação do cloro é
(-I), quando presente como íons Cl-. Os elementos na forma elementar apresentam estado de
oxidação (0). Por exemplo, o magnésio metálico (Mg0) e o cloro gasoso (Cl20).
O processo de oxidação está relacionado com um aumento no número de oxidação.
Por exemplo, para a reação:

Zn0 + Cu2+ ↔ Zn2+ + Cu0

em que íons "simples" estão envolvidos, o número de oxidação do Zn variou de (0) para
(II), enquanto o número de oxidação do íon Cu variou de (II) para (0). Na reação entre
dicromato e Fe em meio ácido, o número de oxidação do Cr variou de (VI) para (III), e o
número de oxidação do íon ferro variou de (II) para (III). Este é o caso em que ocorre
variação do número de oxidação de um átomo em um agrupamento iônico ( Cr2 O 72− ):

Cr2 O 27 − + 14 H + + 6 Fe 2 + ↔ 2 Cr 3 + + 6 Fe 3 + + 7 H 2 0

Em toda reação de oxirredução, o número de elétrons perdidos pela espécie química


que sofre oxidação deve ser igual ao número de elétrons ganhos pela espécie que sofre
redução, de modo a manter a neutralidade de carga do meio. A relação entre as
quantidades de matéria das substâncias reduzida e oxidada é fixada pelo balanceamento
da reação.

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I - Conceitos Básicos de Química 65

Pode-se separar uma reação redox em dois componentes, os quais são denominados
semi-reações. As semi-reações, também conhecidas como reações de meia-cela ou
simplesmente meia-cela, são escritas e apresentadas sob a forma de semi-reações de
redução. Este é um modo muito conveniente de indicar-se claramente qual espécie ganha
elétrons e qual espécie perde elétrons. Para se escrever corretamente as semi-reações,
com vistas a descrever um processo químico termodinamicamente permitido, é necessário
conhecer a tendência das várias substâncias em ganhar ou em perder elétrons. Os reagentes
oxidantes possuem forte afinidade por elétrons e podem fazer com que outras substâncias
sejam oxidadas, retirando delas os elétrons de que necessitam para se reduzir. Por outro
lado, os agentes redutores facilmente cedem elétrons às espécies oxidantes, reduzindo-as.
As reações redox podem ocorrer pela transferência direta de elétrons do doador
(agente redutor) para o receptor (agente oxidante), pelo contato íntimo das duas espécies,
ou pela transferência dos elétrons por meio de um condutor metálico externo, sem que as
duas espécies reagentes entrem em contato. Por exemplo, ao ser mergulhada numa
solução com íons Hg2+, uma lâmina de cobre torna-se "prateada" pela deposição de
mercúrio metálico em sua superfície. A reação é indicada por:

Hg2+ + Cu0 ↔ Hg0 + Cu2+

em que íons Hg2+ (agentes oxidantes) migram até à placa metálica (agente redutor), sendo
reduzidos na sua superfície e depositados na forma metálica.
Para observar a transferência indireta de elétrons, deve-se construir um sistema
em que as semi-reações envolvidas no processo ocorram sem que as espécies reagentes
estejam em contato direto. Este sistema é chamado de Pilha ou Cela Galvânica e está
descrito esquematicamente na figura 24, para a reação Zn0 + Cu2+ ↔ Zn2+ + Cu0.

Figura 24. Esquema de uma cela galvânica envolvendo eletrodos de zinco e de cobre metálicos,
imersos em soluções separadas de Zn(NO3)2 e de Cu(NO3)2, de mesma concentração. O
mostrador indica a voltagem de 1,100 V. Para detalhamentos, ver texto.

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66 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

O diagrama desta cela pode ser representado como:

Ânodo Zn(s) Zn2+ Cu2+ Cu(s) Cátodo

sendo o ânodo o eletrodo (representado por uma simples barra vertical) onde ocorre a
oxidação, enquanto o cátodo é o eletrodo onde ocorre a redução. A barra dupla representa
a ponte salina.
No ânodo, a placa de Zn se dissolve (formando íons Zn2+), e os elétrons liberados
são conduzidos pelo condutor externo até o cátodo, onde os íons Cu2+ são reduzidos e
depositados sobre a placa de Cu. Considerando as semi-reações desse processo redox,
pode-se escrever que:

Zn0 ↔ Zn2+ + 2e-


Cu2+ + 2e- ↔ Cu0

Cu2+ + Zn0 ↔ Cu0 + Zn2+

Entre os recipientes que contêm os eletrodos, é necessária a existência de uma ponte


salina. Ela é constituída de um tubo (geralmente na forma de U) que contém uma solução
concentrada de um eletrólito forte (usualmente KCl), embebida em uma matriz gelatinosa
para prevenir o sifonamento da solução de um recipiente para outro. A função da ponte
salina é efetuar o contato elétrico entre as duas cubas, de modo a manter a neutralidade
de cargas do sistema, por meio do transporte de íons. A deposição de Cu2+ no cátodo
deixa um excesso de duas cargas negativas na solução de Cu2+, e a formação dos íons
Zn2+ causa excesso de duas cargas positivas na solução de Zn2+ . Estas cargas são
neutralizadas pelo movimento de íons através da ponte salina. Dentre as várias
substâncias que poderiam estar envolvidas em reações redox, a tendência em se reduzir
ou se oxidar varia bastante e é medida por um número denominado Potencial Padrão de
Eletrodo.
Em uma cela galvânica onde cada meia-cela é constituída por soluções iônicas de
mesma concentração (mais rigorosamente, de mesma atividade, em mol L-1), a direção do
fluxo de elétrons depende da composição das duas meias-celas, ou seja, das duas semi-
reações envolvidas e, por conseqüência, dos seus potenciais. Cada meia-cela (semi-reação)
tem um Potencial Padrão de Eletrodo (em volts) medido em relação a um padrão de
referência, o qual precisa exibir comportamento reversível e produzir potenciais
constantes e reprodutíveis. Um eletrodo que preenche estas condições é o Eletrodo Padrão
de Hidrogênio (EPH; Figura 25), razão pela qual foi escolhido como referência.
A semi-reação envolvida é:

H2(g) ↔ 2H+ + 2e-

à qual se atribui o Potencial Padrão de Eletrodo zero (E 0 = 0)

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I - Conceitos Básicos de Química 67

Figura 25. Esquema de funcionamento do Eletrodo Padrão de Hidrogênio.

A convenção de IUPAC estabelece que o Potencial Padrão de Eletrodo (ou, mais


exatamente, o Potencial Padrão de Eletrodo Relativo) e o seu sinal, serão aplicados às semi-
reações escritas como semi-reações de Redução, daí o nome Potencial Padrão de Redução.
De acordo com esta nomenclatura, os termos Potencial Padrão de Eletrodo e Potencial Padrão
de Redução são sinônimos. Alguns exemplos são mencionados no quadro 14.
Às meias-celas que "forçam" a espécie H+ a aceitar elétrons (reduzem H+ a H2(g)) são
atribuídos E 0 < 0 e àquelas que aceitam elétrons da semi-reação de redução do H2(g)
(oxidam H2(g) a H+), são atribuídos E 0 > 0. Generalizando, em uma cela galvânica onde
cada meia cela é constituída por soluções iônicas de mesma atividade, entre duas semi-
reações, aquela que apresentar menor Potencial de Redução força a outra a receber
elétrons. Nesse caso, as reações de oxirredução são espontâneas (ocorrem sem gasto de
energia elétrica) se o Potencial Padrão da reação total é maior que zero. O potencial real
(notar a exclusão da palavra "padrão") de qualquer pilha (ou força eletromotriz, FEM)
depende não somente dos componentes do sistema reacionante, isto é, das meias-celas,
mas também das suas concentrações. Para uma pilha composta por duas meias-celas
idênticas (ex.: Zn/Zn2+) produzir uma corrente elétrica, bastam as concentrações de íons
(Zn2+) serem diferentes nas duas meias-celas.
A equação que relaciona o potencial real de uma meia-cela com as concentrações
das espécies oxidadas e reduzidas (reagentes e produtos da semi-reação) é conhecida
como equação de Nernst. Considerando a semi-reação de redução genérica:

aA + bB + ne- ↔ cC + dD

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68 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

Quadro 14. Potenciais Padrão de Eletrodo para algumas semi-reações

Semi-reação E0(V)
H2O2 + 2H+ + 2e- ↔ 2H2O 1,77
Ce4+ + e- ↔ Ce3+ (solução perclórica; 1 mol L-1) 1,70
MnO4- + 4H+ + 3e- ↔ MnO2 + 2H2O 1,695
Ce4+ + e- ↔ Ce3+ (solução nítrica; 1 mol L-1) 1,61
MnO4- + 8H+ + 5e- ↔ Mn2+ + 4H2O 1,51
Mn3+ + e- ↔ Mn2+ 1,51
Ce4+ + e- ↔ Ce3+ (solução sulfúrica; 1 mol L-1) 1,44
Cl2 + 2e- ↔ 2Cl- 1,3595
Cr2O72- + 14H+ + 6e- ↔ 2Cr3+ + 7H2O 1,33
Ce4+ + e- ↔ Ce3+ (solução clorídrica; 1 mol L-1) 1,28
MnO2 + 4H+ + 2e- ↔ Mn2+ + 2H2O 1,23
NO3- + 4H+ + 3e- ↔ NO + 2H2O 0,96
NO3- + 3H+ + 2e- ↔ HNO2 + H2O 0,94
2Hg2+ + 2e- ↔ Hg22+ 0,920
NO3- + 10H+ + 8e- ↔ NH4+ + 3H2O 0,87
Hg2+ + 2e- ↔ Hg0 0,854
NO3- + 2H+ + e- ↔ NO2 + H2O 0,80
Ag+ + e- ↔ Ag0 0,7991
Hg22+ + 2e- ↔ 2Hg0 0,789
Fe3+ + e- ↔ Fe2+ 0,771
O2 + 2H+ + 2e- ↔ H2O2 0,682
MnO4- + 2H2O + 3e- ↔ MnO2 + 4OH- 0,60
I3- + 2e- ↔ 3I- 0,5355
I2 + 2e- ↔ 2I- 0,535
Cu+ + e- ↔ Cu0 0,521
Cu2+ + 2e- ↔ Cu0 0,337
AgCl + e- ↔ Ag0 + Cl- 0,2222
S4O62- + 2e- ↔ 2S2O32- 0,08
2H+ + 2e- ↔ H2 0
Pb2+ + 2e- ↔ Pb0 -0,126
V3+ + e- ↔ V2+ -0,26
Co2+ + 2e- ↔ Co0 -0,277
Cd2+ + 2e- ↔ Cd0 -0,403
Cr3+ + e- ↔ Cr2+ -0,41
Fe2+ + 2e- ↔ Fe0 -0,440
Cr3+ + 3e- ↔ Cr0 -0,74
Zn2+ + 2e- ↔ Zn0 -0,763
Mn2+ + 2e- ↔ Mn0 -1,18
Al3+ + 3e- ↔ Al0 -1,66
Al(OH)4- + 3e- ↔ Al0 + 4OH- -2,35
Mg2+ + 2e- ↔ Mg0 -2,37
Na+ + e- ↔ Na0 -2,714
Ca2+ + 2e- ↔ Ca0 -2,87
Sr2+ + 2e- ↔ Sr0 -2,89
K+ + e- ↔ K0 -2,925
Li+ + e- ↔ Li0 -3,045

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I - Conceitos Básicos de Química 69

a equação de Nernst, em termos exatos, para a semi-reação anterior é:

RT (A ) a ( B ) b RT (C ) c (D )d
E = E0 + ln = E 0
− ln
nF ( C ) c ( D )d nF (A ) a ( B ) b

em que E = Potencial de Redução da meia-cela, em V; E 0 = constante característica da


semi-reação em questão (Potencial Padrão de Redução, em V); R = constante universal
dos gases, 8,314 J K -1 mol-1; T = temperatura da experiência em K; n = quantidade, em
mols, de elétrons que participa da reação, definida pela equação que descreve a meia-
cela; F = constante de Faraday, 96.485 C mol-1; ln = logaritmo natural, 2,303 log10 e; (A),
(B), (C), (D) = atividades dos reagentes e produtos da reação, respectivamente.
Usando logaritmo na base 10 e os valores de R e F, pode-se escrever que:
a) Para T = 25 ºC (T = 298 K)

2 , 303 RT ( C ) c ( D )d 0 , 059 (C ) c (D )d
E = E0 − ln = E 0
− ln
nF (A ) a ( B ) b n (A )a (B ) b

b) Para T = 30 ºC (T = 303 K)

2 , 303 RT ( C ) c ( D )d 0 , 060 (C ) c (D )d
E = E0 − ln = E 0
− ln
nF (A ) a ( B ) b n (A )a (B ) b

Para saber se uma reação é espontânea, geralmente o que se faz (incorretamente) é


inverter a semi-reação de um dos eletrodos e o sinal do seu potencial, de modo que
resulte, em uma equação química com E To positivo. Contudo, não se podem inverter os
sinais dos potenciais, porque estes são potenciais padrão.
Exemplo:

Cu2+ + 2e- ↔ Cu0 E 1 o = + 0,337 V

Zn2+ + 2e- ↔ Zn0 E 2 o = - 0,763 V

Cu2+ + Zn0 ↔ Zn2+ + Cu0 E To = +1,100 V

Na verdade, o potencial da pilha não depende apenas da sua composição, mas


também das concentrações envolvidas. Isto é o que diz a equação de Nernst.
Considerando então as semi-reações anteriores, pode-se escrever que para a pilha
correspondente:

0 ,059 1  0 ,059 1 
E pilha = E T = E Cu − E Zn = E oCu − log −  E oZn − log 
2 2+
2 [ Zn 2 + ] 
[Cu ]  

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70 J OÃO C ARLOS DE ANDRADE

0 ,059 1  0 ,059 1 
E pilha = E T = E Cu − E Zn = + 0 ,337 − log −  − 0 ,763 − log 
2 2+
2 [Zn 2 + ] 
[Cu ]  

0 ,059 [ Zn 2 + ]
E pilha = 1,100 − log
2 [ Cu 2 + ]

em que Epilha é a FEM da pilha, (Cuo) = (Zno) = 1 e (Cu2+) ≅ [Cu2+] e (Zn2+) ≅ [Zn2+]. Notar que
E pilha = 1,100 V somente quando [Zn2+] = [Cu2+] = constante e que este valor pode ser
obtido sem inverter o sinal da semi-reação do Zn.
Como a concentração de 1 mol L-1 não corresponde a uma atividade de 1 mol L-1, e como
o Potencial Padrão, Eo, é definido em termos da atividade padrão para todas as espécies
envolvidas, verifica-se que os valores medidos e calculados de Eo são diferentes. Para que
isto não ocorra, todas as concentrações em mol L-1 que aparecem na equação de Nernst
devem ser transformadas em atividades, o que é muito trabalhoso e nem sempre possível.
Além deste fator, o Potencial de Redução de uma semi-reação depende também das condições
da solução, pois, além dos efeitos de força iônica, algumas substâncias no meio reagente
podem complexar espécies químicas envolvidas no processo redox. Se a(s) forma(s) química(s)
do(s) complexo(s) fosse(m) conhecida(s), seria possível escrever outra semi-reação e determinar
o valor do seu Potencial de Redução, mas, geralmente, este não é o caso.
Para contornar tais situações, define-se o chamado de Potencial Formal de Eletrodo,
E f, que é o Potencial de Redução de uma semi-reação determinado experimentalmente.
Acompanhando o valor de E f, devem-se assinalar as condições nas quais ele foi medido.
Por exemplo, o par Ce4+/Ce3+ (Quadro 14) apresenta apenas valores de E f

Ce4+ + e- ↔ Ce3+, em que

em solução perclórica: E f = 1,70 V (HClO4 1 mol L -1),

em solução nítrica: E f = 1,61 V (HNO3 1 mol L-1),

em solução sulfúrica: E f = 1,44 V (H2 SO4 1 mol L -1),

em solução clorídrica: E f = 1,28 V (HCl 1 mol L -1).

O par Fe3+/Fe2+, entretanto, apresenta um valor de E 0 e vários outros referentes a E f


(não indicados no Quadro 14), a saber:
Fe3+ + e- ↔ Fe2+ E0 = 0,771 V e

E f = 0,700 V (HClO4 1 mol L -1),

E f = 0,732 V (HCl 1 mol L -1),

E f = 0,68 V (H2 SO4 1 mol L -1),

E f = 0,61 V (H2SO4 1 mol L -1 / H3 PO4 0,5 mol L -1).

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I - Conceitos Básicos de Química 71

Em solução perclórica, o efeito principal está relacionado com a diferença entre a


atividade e a concentração (em mol L -1), visto que o íon ClO4 - não é bom agente
complexante. Entretanto, os íons Cl-, HSO4 - e HPO4 2-, além destes efeitos, formam
complexos mais fortes com o Fe3+ do que com o Fe2+ , alterando a razão Fe3+ /Fe2+, o que,
por sua vez, influi no valor de E.

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Adalberto B.M.S. Bassi, do Departamento de Físico-Química do Instituto


de Química da Universidade Estadual de Campinas, pelas sugestões, e à Dra. Mônica
Ferreira de Abreu, do Centro de Solos e Recursos Ambientais do Instituto Agronômico de
Campinas, pelos comentários.

LITERATURA CITADA
AHRLAND, S.; CHATT, J. & DAVIES, N.R. The relative affinities of ligand atoms for acceptor
molecules and ions.Quart. Rev. Chem. Soc., 12:265-276, 1958.

AMERICAN SOCIETY OF AGRONOMY - ASA. Publications handbook and stile manual.


Madison, Tri-Society Editorial Policy Coordinating Committee, 1988.

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