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constrangimentos do mercado, as particularidades dos sistemas administrativos, a
diversidade das condições socio-económicas e ambientais. Deve, no entanto, procurar
conciliar estes factores da forma mais harmoniosa possível.”
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economia, da sociologia, do urbanismo, do direito etc., leva à sua característica de síntese.
Para se englobar cada um destes aspectos no processo de ordenamento do território é
necessário que se realizem sínteses, para que este seja completo mas não longo. Dito por
outras palavras, “O ordenamento do território deve ter em consideração a existência de
múltiplos poderes de decisão, individuais e institucionais, que influenciam a organização do
espaço, o carácter aleatório de todo o estudo prospectivo, os constrangimentos do mercado,
as particularidades dos sistemas administrativos, a diversidade das condições socio-
económicas e ambientais” (Conselho da Europa, 1988, p.10).
O ordenamento do território não começou por ser uma acção planeada, mas foi surgindo
como resultado das necessidades das populações e dos territórios assim, o ordenamento do
território nasceu de uma dinâmica não planeada e é o resultado da actuação de vários
factores externos influentes neste processo. O ordenamento do território consiste portanto
numa “forma voluntária de valorizar um espaço, tendo em consideração as relações internas
e externas que ele mantém”, constituindo uma resposta específica “a motivações diversas”
(Baud, Bourgeat e Bras, 1999, p.263).
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sentido de distribuir, de forma mais equilibrada, os usos e funções dos territórios e de
contrariar as grandes concentrações urbanas. Desta forma, muitas das acções realizadas
pelos poderes públicos visam, inconscientemente, o ordenamento do território. Assim, este
pode surgir como consequência indirecta dessas mesmas acções. Também a Carta Europeia
do Ordenamento do Território (Conselho da Europa, 1988), aponta esta característica: as
relações externas podem, até mesmo involuntariamente, influenciar o ordenamento do
território devido às relações entre instituições e indivíduos e seus interesses, desde que
sejam comuns aos do ordenamento do território.
A prospectiva do território deverá ser entendida igualmente “como uma reflexão sobre o
futuro”, mas que “saiba resistir à tentação da utopia, que tome em conta o peso das inércias
e das tendências espontâneas, e procure de uma maneira realista as margens de manobra
utilizáveis para inflectir as evoluções no sentido dos objectivos que nos fixamos. Uma tal
iniciativa implica muita humildade ante os factos e rigor na reflexão. Ela não exclui em nada a
vontade de acção mas, bem pelo contrário, organiza-a em bases sólidas” (Lacaze, 1998,
p.89).
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2. PRINCÍPIOS, OBJECTIVOS E DESTINATÁRIOS DO ORDENAMENTO DO
TERRITÓRIO
Rui Alves (2001, p.21 e 22), acrescenta mais alguns princípios que considera
fundamentais para o ordenamento do território:
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ambientais; e promovendo a sustentabilidade da organização do território, de modo a
viabilizar a estrutura territorial.”
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− Implementação dos objectivos do ordenamento do território: (...) numerosos
organismos privados e públicos contribuem, pelas suas acções, para desenvolver ou
alterar a organização do espaço. O ordenamento do território traduz uma vontade de
integração e coordenação interdisciplinar e de cooperação entre as autoridades
envolvidas;
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− Desenvolvimento e localização das actividades (em todos os países se privilegiava a
política de implantação das indústrias, antes de se descobrir, depois de 1960, a
importância de uma política de localização das actividades terciárias);
Baud, Bourgeat e Bras (1999, p.263) chamam a atenção para dois possíveis
problemas derivados do facto do ordenamento do território ser multiescalar: “o primeiro,
variável segundo os países, é o da competência (...). O segundo, põe-se em termos de
concorrência.” A competência está relacionada com o poder real das entidades no processo
de ordenar o território. A concorrência pode exemplificar-se da seguinte forma: o traçado de
uma auto-estrada previsto num plano de ordenamento nacional pode não ir de encontro à
vontade municipal. Ora, “o ordenamento pressupõe uma vontade comum de todos os seus
intervenientes. Mas divergências de interesses levam frequentemente a análises e a
propostas diferentes” (Baud, Bourgeat e Bras, 1999, p. 264).
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de vida que assegurem o desenvolvimento da sua personalidade num ambiente planeado à
escala humana.” (Conselho da Europa, 1988, p.9). Nesta perspectiva o Homem é o
destinatário do ordenamento do território e, terá sempre como fim alcançar um bom
entendimento entre ambos. Para isso o Homem tem que assumir um papel, que desde
sempre deve ser inerente às comunidades, que é o da sustentabilidade nas suas relações
com o espaço físico mas, como tal não aconteceu, tenta-se agora através deste conceito
alcançá-lo, remediando o que já está feito e prevenindo. “Nesta lógica o ordenamento do
território deve tentar pôr os problemas numa perspectiva de antecipação, considerando a
localização das actividades, não tanto como ela está mas, como ela deveria estar“ (Oliveira,
2002, p.12).
Jorge Gaspar (1995, p.5) encerra a questão de uma forma clara: “Como é sabido, o
correcto ordenamento do território situa-se na intersecção dos três eixos vitais do
desenvolvimento: o da eficácia, o da equidade e o do ambiente, tendo presente que os seres
humanos, as comunidades locais, regionais, nacionais, são os destinatários últimos das
acções a empreender – todos sem excepção”.
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3. ORIGEM DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
Felisberto Reigado (2000 p.127), aponta alguns factores que influenciam a decisão
de localização: “maximização dos lucros dos produtores, ou das utilidades dos
consumidores, da optimização da utilização dos recursos naturais e humanos, de estratégias
militares ou prazeres individuais”.
Para além disto, a política de ordenamento do território surgiu ainda com vista à “(...)
realização espacial da política económica e para a busca de uma alteração ao panorama do
desequilíbrio regional.” (Frade, 1999, p.31). Sem dúvida que é dada uma grande ênfase ao
planeamento económico e à distribuição igualitária da riqueza com vista à satisfação das
necessidades básicas de toda a população. Também Fernanda Oliveira (2002, p.11) afirma
que “o ordenamento do território teve a sua origem na planificação económica tendente à
correcção dos referidos desequilíbrios.” Ambas as autoras consideram que as
movimentações da economia e suas evoluções foram o mote da definição do ordenamento
do território em conjunto com a crescente urbanização do espaço.
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A expressão do ordenamento do território surge nos anos 20, no Reino Unido e na
Alemanha, derivando da “necessidade de limitar o desenvolvimento das cidades dentro do
seu âmbito territorial (“hinterland”)” (Oliveira, 2002, p.9). Foi utilizada pela primeira vez como
expressão, em França, em 1950, por Claudius Petit (Ministro Francês da Reconstrução e do
Urbanismo).
Outros países próximos, tais como Espanha e Itália, incorporaram no seu sistema de
planeamento o modelo francês de ordenamento do território. No caso de Espanha, Luciano
Parejo Alfonso (referido por Frade, 1999, p.36), “confirma que a experiência espanhola
esteve sempre ligada ao modelo francês, ou seja, a uma concepção tecnocrática do
ordenamento do território como planificação regional que traduz espacialmente tanto a
política económica, como a base da política de urbanismo, o que pressupõem um sistema
político administrativo centralizado.” As primeiras medidas a alcançar sucesso ocorreram
entre 1964 e 1975, aquando da criação dos Planos de Desenvolvimento Económico e Social,
que vieram aplicar os princípios da planificação economicista ao ordenamento do território.
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Inicialmente aprovada em 1942, “será o ponto de partida para a evolução da política urbanística e do
seu alargamento até à planificação da totalidade do espaço nacional (...)” (Frade, 1999, p.88).
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Autónomas (promulgação da Constituição de 1978) que passaram, cada uma, a ter total
competência sobre o ordenamento do respectivo território. Em Itália, até 1962, o modelo de
gestão do ordenamento do território que vigorava era o da concertação entre Estado e
municípios; depois dessa data com o “projecto sullo”2 que trouxe novidades ao plano
territorial, a gestão do território passa a ser feita ao nível da região, ainda que contando
sempre com a participação do Estado e dos municípios.
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Este era uma proposta legislativa que ficou conhecida com aquela denominação. “Os seus artigos nº
5º e nº6 determinavam que as regiões estavam obrigadas a adoptar um plano director geral para o seu
território, no qual se articulavam as grandes linhas de ordenamento e valorização do território com as
opções da programação económica” (Frade, 1999, p.89).
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utilização do espaço coloca, traduzindo a materialização de um modelo territorial e sendo,
por conseguinte, uma matéria que obriga a uma análise interdisciplinar” (Oliveira, 2002, p.9).
Para Felisberto Reigado (2000, p.48), planeamento é “um processo de análise (do
passado e do presente) de antecipação ao futuro, de programação, de acção/execução, de
controlo, de correcção e de avaliação dos resultados”. Neste sentido, e ainda segundo este
mesmo autor, algumas das características mais importantes do processo de planeamento
são:
− É feito de tempo;
− Participativo e iterativo;
Resumindo, “O planeamento na sua visão mais restrita e tradicional, é uma via para
alcançar os objectivos do ordenamento do território e do desenvolvimento sustentável,
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mediante um conjunto de actividades que detalham aqueles objectivos no espaço e no
tempo, geram, avaliam, e seleccionam as diferentes alternativas possíveis para os alcançar,
definem os meios necessários e a programação da sua utilização e exercem o controlo e a
gestão da execução das acções definidas. Na visão mais contemporânea, é entendido como
um processo negocial que visa coordenar decisões, gerir conflitos e criar consensos entre os
diversos agentes que intervêm e que estão interessados (stakeholders) na transformação da
organização do território. O processo de planeamento é, por isso mesmo, uma actividade
contínua, cíclica e deliberada, prescritiva e prepositiva, ligada às decisões e acções, que
envolvem julgamentos de valor, face a normas ou “standards” de referência que permitem
avaliar a sua eficácia” (Alves, 2001, p.35).
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Figura 1 - A relação entre o ordenamento do território e o planeamento
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