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MARINHA Revista

Ano 04 • Número 10 • Junho • 2014 www.marinha.mil.br


em

Edição Especial

Os Projetos Estratégicos
da Marinha do Brasil

A Estratégia Nacional de Monitorar para defender Capacidade: Recuperar para evoluir


Defesa e a Marinha do Brasil
p.8 p.26 p.41
Esta edição da Marinha em Revista é especial. Abordaremos os Projetos Es-
tratégicos da Marinha do Brasil que consistem em ações para transformar a For-
ça, de forma a capacitá-la para o pleno cumprimento de sua missão.
A matéria de abertura traz uma entrevista com o primeiro Diretor de Gestão

Editorial
de Programas Estratégicos da Marinha, na qual são abordados os desafios e a
importância dessa nova organização militar, criada especialmente para gerenciar
os projetos de mais alto nível da Força.
Em seguida, explicamos como a Marinha procurou adequar-se para cumprir
as diretrizes estabelecidas na Estratégia Nacional de Defesa (END) que, ao for-
mular um planejamento de longo prazo para a Defesa, representou uma quebra
de paradigma na postura do Brasil nesse campo.
A revista também apresenta os avanços do Programa Nuclear da Marinha e os tra-
balhos desenvolvidos no Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP).
A seção Gente de Bordo destaca a história do Suboficial Valentim, um militar
da reserva que, há mais de 25 anos, trabalha no CTMSP, como supervisor da
equipe de caldeira industrial.
As principais ações para a obtenção, a revitalização e a modernização de nos-
sos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais são abordadas nas reportagens
sobre os Projetos Estratégicos “Construção do Núcleo do Poder Naval” e “Re-
cuperação da Capacidade Operacional”.
O esforço da Marinha do Brasil para tornar mais eficaz o monitoramento e
o controle das águas jurisdicionais brasileiras está sintetizado no texto sobre o
Sistema de Gerenciamento da “Amazônia Azul”.
A criação de um complexo naval no norte/nordeste do Brasil, com o estabele-
cimento de uma 2ª Esquadra e uma 2ª Força de Fuzileiros da Esquadra, também
mereceu uma reportagem específica.
Uma matéria sobre segurança da navegação apresenta as mudanças na estru-
tura do Sistema de Segurança do Tráfego Aquaviário que se farão necessárias para
ampliar a presença e a fiscalização da Marinha nas águas jurisdicionais brasileiras.
A reportagem sobre as medidas para a criação e a ampliação da estrutura das
organizações voltadas para o ensino, para o apoio à saúde e para a assistência
social, bem como para a obtenção de novos Próprios Nacionais Residenciais, de-
monstram que a Marinha também estabeleceu um Projeto Estratégico voltado
para o Pessoal – “Nosso Maior Patrimônio”.
Dedicamos, ainda, uma matéria para apresentar as medidas que a Marinha
vem tomando para acompanhar os acelerados progressos no campo de Ciência,
Tecnologia e Inovação, como o incentivo ao estabelecimento de parcerias com
universidades, empresas, indústrias nacionais e internacionais.
Por fim, em artigo de minha autoria, apresento as considerações de ordem estra-
tégica, conexas à defesa, bem como de cunho econômico e social, a fim de ressaltar a
importância desses projetos para a Marinha, para o Brasil e, principalmente, para os
brasileiros.
É, pois, com orgulho, que convido os leitores a conhecerem os Projetos Es-
tratégicos da Marinha do Brasil.

Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto


Comandante da Marinha
MARINHA Revista
Ano 03 • Número 10 • Dezembro • 2013 www.mar.mil.br
em

Edição Especial

Marinha em Revista é um periódico da Marinha do Brasil, elaborado pelo Centro


de Comunicação Social da Marinha.

Comandante da Marinha
Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto

Diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha


Contra-Almirante José Roberto Bueno Junior

Vice-Diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha


Capitão-de-Mar-e-Guerra Marcos Antonio de Souza Araújo

Editor-Chefe
Capitão-de-Fragata Marcos Aurélio de Oliveira Simas

Jornalista responsável
Primeiro-Tenente (RM2-T) Fernanda Mendes Medeiros de Oliveira

Organização do material editorial


Primeiro-Tenente (RM2-T) Fernanda Mendes Medeiros de Oliveira
Fotografias
Arquivos da Marinha do Brasil
Revisor
e colaboradores
Capitão-de-Fragata Rafael Silva dos Santos
Foto da Capa
Colaboradores
Divulgação
Primeiro-Tenente (T) Rafael Dutra de Miranda
Primeiro-Tenente (RM2-T) Vanessa Rosana Soares da Silva Oliveira
Tiragem
Primeiro-Tenente (RM2-T) Mariana de Jesus Ferreira
30.000 exemplares
Primeiro-Tenente (T) Fabrício Sérgio Costa
Impressão e distribuição
Projeto editorial
Gráfica Qualytá
Centro de Comunicação Social da Marinha
Centro de Comunicação Social
Direção de arte e diagramação
da Marinha
Capitão-de-Corveta (T) Ana Cristina Requeijo
Esplanada dos Ministérios, Bl. N,
Primeiro-Tenente (T) Rodrigo do Carmo Neves
Anexo A, 3o andar
Cabo Daniel Teodolino Barbosa Torres
Brasília • DF • CEP 70055-900
Telefone (61) 3429-1831 Brasília.
www.marinha.mil.br
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DESENVOLVIMENTO Entrevista Complexo Naval
Ampliar para defender 30
Uma Diretoria Estratégica 4
E SOBERANIA POR Defesa Navegação
MEIO DE PROJETOS A Estratégia Nacional de Defesa Reestruturar para proteger
e preservar  33
ESTRATÉGICOS
52
e a Marinha do Brasil 8
Nuclear Pessoal
Pessoal – “Nosso Maior
Área Nuclear: desenvolvimento
Patrimônio” 38
para o futuro 11
Capacidade
Gente de Bordo
Recuperar para evoluir  41
Suboficial (RM1-CA)
Valentim Lopes Joaquim 16 Ciência e Tecnologia
Soberania pela ciência,
Poder Naval tecnologia e inovação 46
Construir para evoluir 18
Artigo
Monitoramento Desenvolvimento e soberania
Monitorar para defender 26 por meio dos Projetos Estratégicos 52
Uma Diretoria
Entrevista

Estratégica
Fotos: 2ºSG (RM1-FN-IF) Vicente Paulo de Carvalho

R
esponsável pelo núcleo de im-
plantação da Diretoria de Ges-
tão de Programas Estratégicos
da Marinha (DGePEM), criada em
março de 2013, o Vice-Almirante An-
tonio Carlos Frade Carneiro, em en-
trevista exclusiva para a Marinha em
Revista, falou sobre os objetivos dessa
nova organização militar, ressaltando
a importância dos Projetos Estratégi-
cos da Marinha do Brasil (MB) para
o País.
A DGePEM, subordinada à Dire-
toria Geral de Material da Marinha
(DGMM), possui unidades em Brasí-
lia (DF) e no Rio de Janeiro (RJ).

Qual a importância dos Projetos


Estratégicos para as Forças Arma-
das brasileiras?
Os Projetos Estratégicos têm po-
tencial para implementar uma verda-
deira transformação das Forças Ar-
madas, a fim de melhor defenderem o
Brasil, por meio do reaparelhamento,
da articulação, do adestramento e da
capacitação de seus integrantes, de
modo a disporem de meios militares
aptos ao pronto emprego, de forma
conjunta ou singular, nas situações Diretor da DGePEM, Vice-Almirante Antonio Carlos Frade Carneiro

4
de paz, crise e nos conflitos armados. “Os projetos que a tratativas inerentes ao processo. Uma
Ao conceber seus projetos, as Forças vez que esse grupo de especialistas não
focaram na obtenção da capacidade
Marinha pretende se dissolverá a cada negociação, garan-
plena para o cumprimento de suas executar são de grande tiremos que o conhecimento obtido
missões e atividades subsidiárias. envergadura, tanto em será mantido ao longo do tempo.
termos de investimento O gerenciamento centralizado tra-
E como será o desenvolvimento quanto em termos de rá muito mais garantia da permanên-
desses Projetos Estratégicos? cia do conhecimento em negociações
Isso só será possível com o fortaleci-
prazo”. contratuais, financeiras, de compen-
mento e a criação de uma Indústria de Almirante Frade, sações e de transferência de tecno-
Defesa genuinamente brasileira. Para Diretor da DGePEM logia, dentre outras, transformando
que isso ocorra, o governo brasileiro a DGePEM num repositório dessa
está implementando diversas ações, organização que acumulasse, ao longo expertise.
como, por exemplo, uma nova lei de li- do tempo, não somente o histórico de
citação; um novo regime de tributação; cada projeto, mas também, a experi- Como funcionará o relacionamen-
e a criação de uma comissão no Minis- ência na negociação de contratos de to com as empresas interessadas ou
tério da Defesa, da qual a MB faz par- grande magnitude. selecionadas para um determinado
te, para definir quais são os produtos projeto?
de defesa, os produtos estratégicos de Como serão desenvolvidas as ativi- Com a criação da DGePEM, a Ma-
defesa e, finalmente, as empresas estra- dades dessa Diretoria? rinha procurou colocar apenas um in-
tégicas de defesa. A recém-criada DGePEM foi es- terlocutor com as empresas e com os
Essas empresas, que atenderão a truturada para flexibilizar ações. Em órgãos do governo. Acreditamos que
requisitos legais estabelecidos pelo sua criação, ficou definido que a sede a concentração de todos os grandes
Congresso Nacional, terão incentivos seria em Brasília (DF), a fim de possi- contratos em uma mesma organização
especiais, para que o Brasil disponha bilitar um contato mais próximo com trará facilidades de relacionamento
de uma Indústria Nacional de Defesa os órgãos do Governo Federal, res- com as empresas, sejam elas concor-
competitiva, tanto em preços, quanto ponsáveis pela condução orçamentá- rentes a um Projeto Estratégico, ou as
em tecnologia. ria brasileira. já contratadas para a execução.
Juntamente com a Secretaria Geral A DGePEM possui, dentro de sua
Quando a Marinha percebeu a da Marinha, estreitaremos o contato estrutura, uma Superintendência de
necessidade de criar uma Direto- com o Ministério da Fazenda, o Mi- Programas, localizada no Rio de Ja-
ria para gerenciar seus Projetos nistério do Planejamento, o Congres- neiro, na qual cada Projeto Estratégi-
Estratégicos? so Nacional e com os órgãos de fis- co será acompanhado por uma Gerên-
A necessidade de criar uma Direto- calização, como o Tribunal de Contas cia. Atualmente, a Diretoria já possui
ria específica para gerenciar os projetos da União (TCU), para que todos os a gerência do Programa SisGAAz,
que a Força pretende executar decorre projetos da MB sejam, desde o início, com pessoal já respondendo por ele. A
do fato de serem de grande enverga- legalmente orientados. Essa é ape- gerência dos demais Projetos será im-
dura, tanto em termos de investimen- nas uma, dentre as muitas tarefas que plementada à medida que as equipes
to, quanto dos prazos envolvidos. exerceremos em prol do nosso avanço forem formadas.
Por entender que são projetos tecnológico, buscando sempre a me-
muito relevantes para o País e que lhoria de nossa Indústria de Defesa. De que maneira a DGePEM atuará?
demandarão grandes aportes finan- Uma segunda tarefa é a negociação A Diretoria seguirá a orientação do
ceiros e um acompanhamento contí- de contratos, que requer a dedicação TCU que estabelece que as negocia-
nuo, a Marinha decidiu que era neces- de especialistas, em virtude da com- ções sejam conduzidas utilizando prá-
sária uma gestão dedicada, por uma plexidade e das longas e minuciosas ticas modernas de gestão de contratos

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 20145


e de negócios. Nesse sentido, procu- Janeiro foi escolhida por duas razões: sejam estabelecidas prioridades, para
raremos adotar práticas internacional- para ficar mais próxima das Diretorias adequar a execução de cada projeto ao
mente reconhecidas, a exemplo do que Especializadas da Marinha, que estão orçamento autorizado.
já ocorreu no Programa de Desenvol- localizadas naquela cidade; e, pelo A atribução dessas prioridades de-
vimento de Submarinos, um dos prin- fato de que, além de Rio de Janeiro pende de muitos aspectos. Precisamos
cipais projetos em execução na Força. e São Paulo se destacarem como po- saber se o orçamento disponível é su-
A Diretoria terá duas sedes. A pri- los industriais, a primeira apresenta a ficiente, analisar se o projeto, naquele
meira, localizada em Brasília (DF), vantagem de ser mais forte e tradicio- momento, é o mais importante para
atuará na negociação com as empresas nal no setor da indústria naval. a situação estratégica que o País está
e no relacionamento com os órgãos vivendo e verificar se o projeto está
do Governo Federal. Essa sede abri- Haverá uma ordem de prioridades pronto para ser iniciado.
gará, também, a nossa assessoria jurí- para a execução dos Projetos Es- A Marinha tem a meta de estar
dica. A segunda, mais técnica, será se- tratégicos da Marinha? pronta para iniciar quaisquer de seus
diada no Rio de Janeiro, e gerenciará Pelo fato de não dispormos, atu- Projetos Estratégicos, tão logo ocorra
a condução dos contratos e a execução almente, de um orçamento que aten- o aporte financeiro necessário.
das construções. A cidade do Rio de da a todos os Projetos, é natural que A ordem de prioridade desses

6
projetos é definida pelo Comandante brasileiras, para produzí-lo no País. segmentos nacionais, como o de pro-
da Marinha, assessorado pelo Almi- Essa associação, de acordo com a dução de reatores de energia elétrica
rantado, que é o Órgão de Assessora- legislação brasileira, será sempre re- e de fármacos.
mento Superior da Força. alizada de forma que a maioria das A Construção do Núcleo do Po-
ações sejam das empresas nacionais der Naval contribuirá para o desen-
Como fica a questão do Programa e que os produtos sejam, obrigatoria- volvimento da indústria naval e de
Nuclear da Marinha (PNM) e do mente, desenvolvidos no Brasil. Para segmentos correlatos. Já o Sistema de
Programa de Desenvolvimento de que uma empresa possa usufruir do Gerenciamento da “Amazônia Azul”
Submarinos (PROSUB)? Regime Especial Tributário para In- (SisGAAz) ampliará a segurança da
Uma vez que o PNM e o PRO- dústria de Defesa (RETID), seus pro- navegação comercial e das atividades
SUB foram iniciados antes da criação dutos deverão ser desenvolvidos no dos navios pesqueiros, além da salva-
da DGePEM e, portanto, já possuem Brasil, por uma empresa brasileira, a guarda da vida humana no mar, fo-
estruturas de governança e de geren- fim de que seja garantida a continui- mentando o comércio marítimo.
ciamento montadas e bem sucedidas, dade de produção no País. Além disso, a necessidade de for-
a MB decidiu mantê-los funcionando Acreditamos que esse mecanismo mação e de qualificação específica de
da maneira como estavam. Ou seja, a propiciará o desenvolvimento de uma profissionais permitirá o desenvolvi-
gestão desses programas não será con- tecnologia nacional e uma constante e mento de tecnologias de domínio res-
duzida pela nova Diretoria. profícua troca de conhecimentos. trito a um grupo seleto de países.
A indústria naval é considerada
Quando falamos em Projetos Es- Quais outros benefícios os Pro- uma indústria de base e seu incremen-
tratégicos é inevitável falar em jetos Estratégicos trarão para o to implica no crescimento de outros
transferência de tecnologia. Qual Brasil? segmentos, como o eletroeletrônico,
a importância dessa troca de Sempre que a economia de um País metalúrgico, mecânica pesada, mo-
conhecimentos? e os seus interesses crescem, os inves- tores de propulsão marítimos, arma-
A troca de conhecimentos é mui- timentos em defesa acompanham esse mentos e informática, entre outros,
to importante, seja para o avanço do crescimento. em face da diversidade e da complexi-
País, seja na construção do saber. Pensando somente em Defesa, os dade dos equipamentos existentes nos
Para que nos tornemos indepen- Projetos Estratégicos da MB propor- navios, aeronaves e meios de fuzileiros
dentes, precisamos desenvolver novas cionarão ao País a obtenção de um navais da MB.
tecnologias, fomentando o setor de ci- elevado nível de cooperação no âmbi- Na vertente social, destaca-se a
ência, tecnologia e inovação, em con- to regional, de dissuasão no contexto relevante quantidade de empregos
junto com universidades e empresas internacional e de credibilidade junto diretos e indiretos que serão gerados
brasileiras. à sociedade, uma vez que a Força será na construção naval e civil, principal-
Nesse sentido, orientada pelas dire- capaz de cumprir, com maior efetivi- mente nas Regiões Sudeste, Norte e
trizes da Estratégia Nacional de Defe- dade, sua destinação constitucional e Nordeste.
sa, a Marinha do Brasil decidiu adotar atribuições legais. Adicionalmente, o aumento do
um novo paradigma na concepção de A execução desses Projetos con- efetivo da Força fomentará a geração
seus Projetos Estratégicos: o de não tribuirá para o desenvolvimento do anual de expressivas oportunidades de
comprar tecnologia no exterior, e sim, País em diversos setores. Um exem- trabalho direto, promovendo a inclu-
desenvolvê-la no Brasil. Isso significa plo é o Programa Nuclear da Marinha são e o aprimoramento da formação
que, se não dispusermos da tecnolo- que, a partir do potencial já obtido no de milhares de cidadãos, oriundos das
gia necessária para produzir algum enriquecimento de urânio – o Bra- mais diversas classes sociais, contri-
material ou equipamento, traremos sil é um dos poucos países no mun- buindo substancialmente para o cres-
empresas estrangeiras para o Brasil, do que possuem essa capacidade – e cimento do País e a inclusão social
que deverão se associar a empresas na construção de reatores, fomentará

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 20147


A Estratégia Nacional
Defesa

de Defesa e a
Marinha do Brasil
Marinha, Exército e Força Aérea trabalham para a modernização da
capacidade operacional e de defesa do País
Fotos: Acervo fotográfico do CCSM

O
Ministério da Defesa (MD) é o ministério. No ano de 2007, o então do País: “Estratégia Nacional de
órgão do Governo Federal in- Presidente da República, Luiz Inácio Defesa é inseparável da Estratégia
cumbido de exercer a direção Lula da Silva, deu início a uma arti- Nacional de Desenvolvimento. Esta
superior das Forças Armadas (FA), culação para que as atividades das três motiva aquela. Aquela fornece escudo
constituídas pela Marinha do Brasil, Forças se adaptassem sob uma úni- para esta. Cada uma reforça as razões
pelo Exército Brasileiro e pela Força ca estratégia de defesa, com o intui- da outra. Em ambas, se desperta para
Aérea Brasileira. Criado em 10 de ju- to de atender aos interesses do País. a nacionalidade e constrói-se a Nação.
nho de 1999, pela Lei Complementar Naquela época, foi criado um grupo Defendido, o Brasil terá como dizer
n° 97, o MD é o principal articulador interministerial, presidido pelo então não, quando tiver que dizer não. Terá
de ações que envolvam mais de uma Ministro da Defesa, Nelson Jobim, capacidade para construir seu próprio
Força Singular. Uma de suas princi- que, após um ano de trabalho, apre- modelo de desenvolvimento”.
pais tarefas é o estabelecimento de sentou ao Presidente a Estratégia Na- Focada em ações estratégicas de
políticas ligadas à Defesa e à Segu- cional de Defesa (END), elaborada médio e longo prazos, a END tem
rança do País. em conjunto pelas três Forças. por objetivo modernizar a estrutura
A Constituição de 1946 foi a pri- O trecho a seguir, retirado da nacional de defesa, atuando em três
meira a prever a unificação das For- END, sintetiza a importância de uma eixos estruturantes:
ças Armadas brasileiras sob um único Defesa forte para o desenvolvimento • Reorganização das Forças
Armadas.
Está relacionada à organização e à
orientação das Forças Armadas para
melhor desempenharem suas desti-
nações constitucionais e suas atribui-
ções na paz e na guerra.

8
• Reorganização da Indústria Na-
cional de Material de Defesa.
Para assegurar que o atendimento
das necessidades de equipamento das
Forças Armadas apoiem-se em tecno-
logias sob domínio nacional.
• Composição dos efetivos das For- num primeiro momento, duas tarefas Cabe ressaltar que as ações previs-
ças Armadas. principais: tas no PAEMB não foram condicio-
A fim de zelar para que as FA repro- • elaborar o Plano de Articulação nadas por questões de ordem orça-
duzam, em sua composição, a própria e Equipamento da Marinha do Brasil mentária ou de capacitação do parque
Nação – de maneira que não sejam (PAEMB), o qual deveria contemplar industrial nacional ou estrangeiro.
apenas uma parte, paga para lutar por uma proposta de distribuição espacial Durante os estudos, procurou-se ater
conta e em benefício das outras partes. das instalações militares e de quantifi- apenas às necessidades estratégicas da
Com relação ao primeiro eixo, a cação dos meios necessários ao aten- MB, de modo a torná-la apta a asse-
reorganização não consiste apenas no dimento eficaz das Hipóteses de Em- gurar os interesses do País, no que
financiamento e na equipagem das prego estabelecidas na END; e tange ao cumprimento de sua missão
FA, mas também de ações para trans- • rever, a partir de uma política de constitucional e de suas atribuições
formá-las, a fim de melhor defende- otimização do emprego de recursos subsidiárias. Pensou-se em construir
rem o Brasil. Essas ações envolvem humanos, a composição dos efetivos uma Marinha crível, que deixe claro,
o reaparelhamento, a articulação e a da Marinha do Brasil (MB), de modo a aos eventuais opositores, a capacidade
capacitação de seus integrantes. dimensioná-la para atender adequada- do Poder Naval brasileiro de dissuadir
Para que essa transformação pu- mente ao disposto naquela Estratégia. e sobrepujar as forças antagônicas.
desse ter início, duas determinações A partir daí, a MB orientou a ela-
na END merecem destaque: boração do seu PAEMB, que estabe- O Plano de Articulação e Equipamento
• a elaboração dos Programas de leceu 209 Projetos Individualizados de de Defesa (PAED)
Articulação e Equipamento pelas reaparelhamento de seus meios, de ex- Em dezembro de 2011, foi cria-
Forças Singulares, que deveriam con- pansão e redistribuição de suas organi- do, no âmbito do MD, um Grupo de
templar as suas concepções estraté- zações militares, expressando, ainda, a Trabalho para a confecção do PAED.
gicas no horizonte temporal de 2009 necessidade de incremento e capacita- Essa iniciativa histórica visava à con-
a 2030, ou seja, um planejamento de ção de seu efetivo civil e militar. solidação dos Planos de Articulação e
curto, médio e de longo prazo; e O efeito desejado desse Plano é a Equipamento das três Forças.
• a elaboração, pelo MD, de uma obtenção de capacidade plena para o Em maio de 2012, em cumprimen-
proposta de Projeto de Lei de Articu- cumprimento das tarefas básicas do to ao disposto na END, o Ministério
lação e Equipamento, a ser submetida Poder Naval, a saber: negar o uso do da Defesa aprovou o PAED, em cuja
ao Presidente da República, que seria mar ao inimigo, controlar áreas ma- elaboração, além da articulação e do
consolidada no Plano de Articulação rítimas, projetar poder sobre terra equipamento das Forças Armadas, fo-
e Equipamento de Defesa (PAED), e contribuir para a dissuasão. Além ram considerados diversos aspectos e
harmonizando os Planos de Reapare- disso, o PAEMB buscou capacitar a requisitos, tais como: pesquisa, desen-
lhamento das três Forças em um do- Força para o cumprimento, com eficá- volvimento e ensino; força de traba-
cumento único. cia, das atividades subsidiárias afetas à lho decorrente da evolução do Plano;
Autoridade Marítima, bem como para manutenção operativa; recuperação da
O Plano de Articulação e Equipamento a realização de operações de paz, sob capacidade operacional; harmonização
da Marinha do Brasil (PAEMB) a égide de organismos internacionais, dos projetos apresentados pelas For-
Em decorrência da END, foram operações humanitárias e de resgate ças; preferência de aquisição de produ-
atribuídas, ao Comando da Marinha, de não combatentes no exterior. tos de defesa no Brasil; e transferência

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 20149


“Estratégia Nacional de Defesa é estipuladas, a Marinha decidiu revisar desenvolvimento da indústria naval
inseparável de Estratégia Nacional a edição de 2009 do PAEMB, o que nacional e segmentos correlatos, fa-
de Desenvolvimento. Esta motiva culminou com a publicação, em 2013, vorecendo o estabelecimento de um
aquela. Aquela fornece escudo de uma versão atualizada, que agru- “Cluster Naval” (vide quadro abaixo).
Defesa

para esta. Cada uma reforça as pou os 209 Projetos Individualizados • Complexo Naval da 2ª Esquadra
razões da outra. Em ambas, se em sete Projetos Estratégicos, cada e da 2ª FFE: composto por Subproje-
desperta para a nacionalidade e qual com Subprojetos decorrentes. tos de Articulação referentes à cons-
constrói-se a Nação” Os Projetos Estratégicos constan- trução da Base Naval da 2ª Esquadra,
Trecho da Estratégia Nacional de Defesa tes do PAEMB-2013 são: Organizações Militares de Comando
• Recuperação da Capacidade e Controle, dentre outras;
de tecnologia, nos casos em que a aqui- Operacional (RCO): englobando a • Pessoal – “Nosso Maior Patrimô-
sição fosse realizada no exterior. Articulação e Equipamento, incluiu nio”: inclui Subprojetos de Articula-
Em um discurso público, a Presi- Subprojetos para a revitalização e a ção referentes ao aumento da força de
denta da República, Dilma Rousseff, modernização das estruturas da MB, trabalho da MB e ampliação dos Sis-
destacou a importância dos projetos bem como de meios, recompletamento temas de Ensino Naval, de Saúde e de
estratégicos para o Brasil: “O País de munição e manutenção operativa; Assistência Social;
com o qual sonhamos precisará cada • Programa Nuclear da Marinha • Segurança da Navegação: con-
vez mais de Forças Armadas equipa- (PNM): inclui Subprojetos de Articu- templando Subprojetos de Articu-
das e qualificadas para cumprimento lação atinentes ao desenvolvimento do lação e Equipamento referentes à
de suas funções”. ciclo de combustível nuclear e do Labo- criação e ampliação de organizações
O PAED contemplou um período ratório de Geração de Energia Nucleo- militares do Sistema de Segurança do
de vinte anos, a partir de 2012, consi- elétrica (LABGENE), dentre outros; Tráfego Aquaviário; e
derando as seguintes projeções tem- • Construção do Núcleo do Po- • Sistema de Gerenciamento da
porais: curto prazo (2012 a 2015); der Naval: contendo Subprojetos de “Amazônia Azul”: com Subprojetos de
médio prazo (2016 a 2023); e longo Articulação e Equipamento para o Articulação e de Equipamento para o
prazo (2024 a 2030). atendimento às Hipóteses de Empre- sistema de monitoramento e contro-
Acompanhando a elaboração do go e Diretrizes Estratégicas previstas le das águas jurisdicionais brasilei-
PAED e analisando a metodologia na END. Esse projeto merece desta- ras (AJB) e de interesse do Brasil no
observada, bem como as premissas que pelo potencial para alavancar o Atlântico Sul

O “Cluster Naval” Porter, um dos maiores especialis- navio de guerra do porte de uma Fra-
Em uma economia globalizada, as tas mundiais sobre competitividade gata, por exemplo, estimularão o de-
alianças ocupam lugar de destaque industrial. senvolvimento da Base Industrial de
nas estratégias das empresas, como O Brasil detém parcela significativa Defesa (BID) e, futuramente, de uma
forma de se manterem competitivas e dos insumos necessários para o desen- tecnologia autóctone que assegure a
permanecerem crescendo de maneira volvimento de um “Cluster Naval”. desejável independência nesse setor
sustentável e rentável. Há também que se avaliar a necessi- tão estratégico.
Uma vantagem competitiva rele- dade do estabelecimento de parcerias Com a implantação de um “Clus-
vante, que pode ser obtida por meio estratégicas com países detentores de ter Naval” no País, vislumbra-se, tam-
de fatores locais e que por isso ganha tecnologia própria e independente, de bém, o desenvolvimento de uma rede
importância, é a concentração geo- forma a assegurar a necessária transfe- nacional de fornecedores, capaz de
gráfica de empresas. Nesse cenário, rência de tecnologia para a construção atender à demanda da indústria naval,
surge a teoria do cluster, termo recente de meios navais de porte considerável. hoje voltada, prioritariamente, para as
na literatura brasileira, que adquiriu A complexidade tecnológica e a diver- necessidades do setor de exploração
notoriedade nos estudos de Michael sidade de sistemas que compõem um de petróleo (Offshore).

10
Área nuclear:

Nuclear
desenvolvimento para
o futuro
O Programa Nuclear da Marinha mobiliza e
estimula a área de ciência e tecnologia do País,
para fins pacíficos. A Marinha do Brasil investe em
inovação e caminha a passos largos para fazer parte
da seleta lista de países com essa capacidade
Fotos: Acervo fotográfico do CCSM
A história teve início
em 1979. Naquele ano,
o Programa Nuclear da
Nuclear

Marinha (PNM) começou


a ser executado com o
propósito de dominar a
tecnologia necessária ao
projeto, à construção, à
operação e à manutenção
de um submarino com
propulsão nuclear.

D
iferentemente dos submarinos
convencionais, os nucleares
dispõem de elevada mobili-
dade, fator importante para a defe-
sa, devido à profundidade das águas
oceânicas. Por possuírem fonte virtu-
almente inesgotável de energia e po-
derem desenvolver altas velocidades
por tempo ilimitado, cobrindo rapi-
damente áreas geográficas conside-
ráveis, são empregados segundo uma
estratégia de movimento. Em face
dessas características, podem chegar
a qualquer lugar em pouco tempo, o
que, na equação do oponente, signifi-
ca poder estar em todos os lugares ao
mesmo tempo.
O Programa Nuclear da Marinha
visa capacitar o País a dominar o ciclo
do combustível nuclear e a desenvol-
ver uma planta nuclear de geração de
energia elétrica, incluindo a constru-
ção de um reator nuclear.
O lema do Centro Tecnológico da
Marinha em São Paulo (CTMSP),
onde se desenvolve o Programa, é:
“Brasil: tecnologia própria é indepe-
dência”. O coordenador do Progra-
ma de Propulsão Nuclear, Capitão-
de-Mar-e-Guerra (EN) André Luís
Ferreira Marques, fala com orgulho e

Embalagem do Vaso do Reator


otimismo sobre o Programa Nuclear entre os países como um assunto “O Brasil será o sétimo
da Marinha: “A pesquisa que fazemos sensível e muito restrito e, portan-
País do mundo a possuir
é na área nuclear, seja para combus- to, o conhecimento não é compar-
tível, seja para propulsão. Estamos tilhado. O domínio dessa tecnologia
um submarino com
avançando, o Brasil será o sétimo País permite ao Brasil dispor de uma al-
propulsão nuclear.
do mundo a possuir um submarino ternativa energética, profissional e
Trabalhamos para fins
com propulsão nuclear. Trabalhamos técnica, atender ao consumo interno
pacíficos e para o
para fins pacíficos e para o nosso de- ou para relacionamento internacio- nosso desenvolvimento
senvolvimento tecnológico. Estamos nal, bem como expandir o relaciona- tecnológico”
progredindo”. mento com as Nações que dominam Coordenador do Programa de
O Programa Nuclear da Marinha, essa tecnologia. “Temos engenhei- Propulsão Nuclear, CMG (EN)
ligado ao Programa Nuclear Bra- ros e empresas capacitados. Apren- André Luís Ferreira Marques
sileiro (PNB), foi dividido em duas demos e fazemos. Pode demorar
grandes etapas: o domínio do ciclo do mais, custar mais, mas quem define Arrasto tecnológico - Ciência,
combustível nuclear; e o desenvolvi- o nosso futuro somos nós”, explica o Tecnologia e Inovação (CT&I)
mento e a construção de um Labora- Comandante Ferreira Marques. O Programa Nuclear da Marinha
tório de Geração de Energia Núcleo Atualmente, o principal objeti- vem demonstrando, desde seu início,
-Elétrica (LABGENE), inclusive o vo do Programa é a construção do uma grande capacidade de mobiliza-
seu reator nuclear. LABGENE, que consiste em esta- ção e estímulo dos setores de ciência e
O ciclo do combustível nuclear já belecer a competência técnica para tecnologia, juntamente com a produção
está dominado. Ainda na década de projetar, construir, operar e manter tecnológica. Para isso, foram estabe-
70, foram iniciados os estudos para reatores do tipo Pressurized Water lecidas parcerias com universidades e
desenvolver, no País, a tecnologia do Reactor (PWR), que serão empre- centros de pesquisa e desenvolvimento.
enriquecimento do urânio, principal gados na propulsão do primeiro Essas parcerias evidenciam a capaci-
desafio tecnológico para a fabricação submarino com propulsão nuclear dade do programa de gerar efeitos de
de combustível nuclear. A partir daí, brasileiro (SN-BR). Dominada essa arrasto, tanto por meio do incentivo à
o avanço foi progressivo e, atualmen- tecnologia, ela também poderá ser ampliação da base tecnológica nacional,
te, a Marinha do Brasil contribui para empregada na geração de energia quanto pelo desenvolvimento de equi-
viabilizar a produção, pelas Indústrias elétrica, como por exemplo para pamentos e componentes de uso não
Nucleares do Brasil S.A., do combus- iluminar uma cidade, dentre outras restrito aos objetivos do programa. “São
tível nuclear utilizado nas usinas An- aplicações pacíficas da energia nu- diversos, os produtos e serviços que re-
gra I e II. Em fevereiro de 2012, foi clear. As obras de construção civil presentam o arrasto tecnológico. A coo-
inaugurado o primeiro módulo da e montagem do LABGENE estão peração com as universidades e institui-
Unidade Piloto de Hexafluoreto de em andamento. Será um conjunto ções de pesquisas nesse processo produz
Urânio (USEXA), responsável pela de onze prédios, com prontificação um efeito multiplicador”, complementa
produção do combustível em escala prevista para 2017. o Comandante Ferreira Marques.
de demonstração industrial. Em sín-
tese, produz-se a matéria prima para
a etapa de enriquecimento de urânio,
a qual permitirá a produção, no Brasil,
do combustível nuclear em escala in-
dustrial. A plena prontificação e ope-
ração da USEXA está prevista para
agosto de 2015.
A tecnologia nuclear é tratada Funcionário trabalhando no desenvolvimento do reator nuclear

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201413


Benefícios econômicos e sociais
As vantagens para toda a sociedade brasileira são inúmeras, por se tratar de um empreendimento com tecnologia dual
(militar e civil), tais como:
Nuclear

• Geração de energia elétrica limpa, a partir da tecnologia obtida;


• Nacionalização de processos e equipamentos;
• Inovações para a indústria, com a participação de universidades e institutos de pesquisa;
• Independência em tecnologias sensíveis;
• Desenvolvimento da Indústria Nacional de Defesa;
• Geração de empregos diretos e indiretos; e
• Inserção do Brasil na seleta lista de nações que dominam a tecnologia nuclear.

Passos importantes para avançar são grandes. A negociação Brasileiro, uma vez que todo o precioso
Com o início desse ousado progra- com a Noruega foi um passo impor- e sensível conhecimento obtido pode
ma, o Brasil caminha a passos largos tante. Os resultados, positivos. Todas ser aproveitado, abreviando etapas e
para a evolução. O esforço dedicado as nossas metas foram atingidas”, diz o antecipando soluções. Tamanha é a
ao PNM gera frutos e estimula o de- Comandante Ferreira Marques. afinidade entre os Programas, que as
senvolvimento de pesquisas. O programa é ambicioso por sua conquistas do PNM, como o desen-
Em maio de 2013, a Marinha do Bra- importância e destinação e os benefí- volvimento e o domínio da tecnologia
sil testou com sucesso, na Noruega, o cios decorrentes do desenvolvimento do enriquecimento do urânio, principal
combustível nuclear que vai abastecer o desse Projeto Estratégico afetarão desafio tecnológico para a fabricação de
submarino com propulsão nuclear bra- toda a população brasileira. combustível nuclear, podem ser consi-
sileiro, que tem previsão de prontifica- deradas conquistas do próprio PNB.
ção para 2025. O Brasil, por não possuir O PNM e o Programa Nuclear Brasileiro Um exemplo são as ultracentrífugas
um reator de pesquisa qualificado, pre- Iniciado na década de 70, o Progra- capazes de realizar o enriquecimento
cisa realizar seus testes em outros países. ma Nuclear Brasileiro (PNB) nasceu do urânio que, atualmente, auxiliam na
Mas o Governo Federal já investe na com o objetivo pacífico de assegurar produção do combustível que é consu-
construção de um modelo nacional. ao País um desenvolvimento econô- mido nas usinas Angra I e II.
O teste realizado na Noruega com- mico, direcionado na área energética, Colaborar para o desenvolvimento
provou os avanços do Programa e co- para garantir um suprimento de ener- do País é um dos principais objetivos
loca o Brasil em um patamar de des- gia seguro e constante. de ambos Programas, que contribuem
taque. “A movimentação do urânio no O Programa Nuclear da Marinha para o reconhecimento e a inserção
Brasil precisa ser autorizada pelo Con- contribui, de forma relevante, com o do Brasil na seleta lista de países que
gresso. Mas, os esforços e a vontade desenvolvimento do Programa Nuclear dominam essa tecnologia

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Jurisdicionais
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Gente de Bordo

de Bordo
“Os bons trabalhadores têm sem- créditos no desenvolvimento do Pro-
pre a ideia de que ainda poderiam grama Nuclear da Marinha, que ca-
trabalhar mais”. O escritor e pen- minha a passos largos. Essa história
sador, André Gide, não hesitou em de vida, com seus progressos e desa-
enaltecer o “bom operário” que, em fios, começa a ser contada agora, em
Suboficial (RM1-CA)
suas atividades diárias, apresenta, nossa entrevista especial. Valentim Lopes Joaquim
além de bons resultados oriundos de Como ingressou na Marinha?
uma rotina de trabalho, competência Nasci em uma cidadezinha cha- caldeiras no navio, cursei aquela que
e força de vontade para exercer suas mada Itapira, no interior de São Pau- seria minha especialidade durante
funções com apreço. lo. E, apesar de ser um rapaz do in- toda a carreira: Caldeiras.
No Centro Tecnológico da Mari- terior, eu tinha sonhos gigantescos. Como foi a designação para o
nha em São Paulo (CTMSP), labuta Por isso, depois que um militar foi CTMSP?
um homem que, mesmo sem unifor- em minha cidade divulgar a carrei- Eu solicitei a movimentação do
me militar, continua dedicando seu ra naval, não pensei duas vezes: fiz Contratorpedeiro “Maranhão”, onde
tempo para servir ao País. Valentim minha inscrição para a Escola de servi por sete anos, para a Coordena-
Lopes Joaquim é militar da reserva Aprendizes-Marinheiros, estudei doria de Projetos Especiais, em São
da Marinha do Brasil. Um Subofi- e entrei. Deu tudo certo. Eu estava Paulo (SP) – hoje Centro Tecnológi-
cial que dedicou 30 anos de sua vida com 18 anos e tinha sido dispensa- co da Marinha – para ficar mais pró-
à Força e que ainda não consegue se do do Serviço Militar Obrigatório. ximo de minha mãe. De lá, fui desig-
imaginar fora de sua casa naval. Imagine a minha felicidade ao to- nado para Aramar, onde permaneço
Sua especialidade, quando na ati- mar conhecimento de que tinha sido desde 1988.
va, era caldeiras. Foi para a reser- aprovado pela Marinha. Fui para a Conseguiu estar onde você
va em 2000 e, ainda hoje, as opera. Escola de Aprendizes-Marinheiros queria?
“Outra coisa eu não sei fazer. E nem de Santa Catarina e lá comecei mi- Sim, graças a Deus, tive a sorte
quero.”, afirma orgulhoso. Chegou nha carreira. de ir para onde eu queria. Trabalho
ao CTMSP em 1988, como Segun- E como foram os anos de serviço nessa caldeira há 25 anos. Acompa-
do-Sargento e, em julho deste ano, antes de chegar ao CTMSP? nhei a montagem de cada parte dela,
comemorou suas “bodas de prata” Sempre fui um homem do mar. as tubulações, o sistema, tudo. Sin-
com o Centro, ao completar 25 anos Servi por 17 anos na Esquadra. Sem- to que isso aqui também é parte de
de serviços ininterruptos. pre estive embarcado nos navios da mim.
O personagem do “Gente de Bor- Marinha e achei que permaneceria Como é sua rotina no CTMSP?
do” dessa edição tem 61 anos, é casa- no mar a minha vida inteira. Em Supervisiono uma equipe de seis
do com Dona Luzia, tem três filhos e 1971, ao sair da Escola de Apren- pessoas que trabalham com uma cal-
boas histórias para contar. Valentim dizes, fui designado para servir no deira industrial instalada em uma
trabalha em um projeto único den- Contratorpedeiro “Paraná”. De- estação de testes. O vapor que essa
tro da Marinha do Brasil e acumula pois, como já havia trabalhado com caldeira produz, tem as mesmas

16
características do vapor seco que será Sempre tivemos o apoio uns dos Marques trabalha nesse programa e
produzido pelo reator nuclear. Aqui outros. Minha família sempre me a motivação de um Diretor que tive-
no CTMSP encontra-se o maior apoiou e respeitou o meu serviço. mos, que sempre nos dizia que a tec-
sistema de caldeiras da Marinha Como é trabalhar em um dos nologia é a própria independência e
do Brasil, instalado em terra. Não programas de defesa mais impor- sempre valerá a pena. Além disso, in-
existe nada maior do que isso aqui. tantes do País? Como administra cluo a satisfação de contribuir para o
É um dos melhores da América La- essa responsabilidade? progresso do País, trabalhando nesse
tina. Especialistas estrangeiros vêm Na minha opinião, sou apenas mais grandioso programa que é o Progra-
aqui para testar seus equipamentos. um ajudante. Alguém que trabalha ma Nuclear da Marinha.
Nossa rotina de trabalho é intensa, para seu País, porém, tenho a consci- Já vivenciou alguma situação
mas, como sabemos da importância, ência de que faço parte de um projeto complicada?
temos muito orgulho e satisfação em histórico e de suma importância para Sim, mas nenhuma que extrapo-
participar do Programa. o Brasil. Administro essa responsa- lasse os limites de segurança existen-
Como surgiu o convite para per- bilidade, procurando fazer o melhor tes. Quando se trabalha com testes
manecer neste trabalho, após o seu que posso, dentro da minha capaci- e pesquisas, a possibilidade de viven-
período na ativa? dade e dos meus conhecimentos, para ciar situações de risco é maior do que
Fui para reserva em janeiro de que tudo dê certo a cada teste. em outras áreas. Daí a necessidade
2000 e, antes mesmo de completar Alguém o influenciou a aceitar da atenção permanente e redobrada
uma semana em casa, fui convidado o convite para voltar da reserva e e do fiel cumprimento às normas de
a continuar trabalhando no Centro. trabalhar no PNM? segurança.
Retornei, contratado para executar Sim. O exemplo de militares e E quando voltará para casa
Tarefa por Tempo Certo, em regime civis com quem trabalhei ao longo definitivamente?
diferenciado. desses anos. Por exemplo, a dedica- Sinceramente? Na Marinha do
Sua família apoiou sua decisão? ção com que o Comandante Ferreira Brasil, sempre me sentirei em casa

SO (RM1-CA) Valentim ao lado do painel de controle da caldeira, no Laboratório de Testes de


Equipamentos da Propulsão (LATEP), localizado no Centro Experimental Aramar - CEA/CTMSP.

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201417


Poder Naval

Construir para
evoluir
Fotos: Acervo fotográfico do CCSM

O Projeto Estratégico “Construção do Núcleo do Poder Naval”


envolve, dentre outras iniciativas, um conjunto de seis programas que
têm o propósito de expandir a Força Naval para garantir a soberania
brasileira no mar

P
ara garantir a soberania brasi- projetar poder sobre terra e contri- quantidade de meios navais, aerona-
leira no mar e nas águas inte- buir para a dissuasão – a Marinha do vais e de fuzileiros navais e o corres-
riores e proteger o patrimônio Brasil (MB) tem concentrado esfor- pondente incremento do número de
marítimo nacional, ampliando a ca- ços no Projeto Estratégico de Cons- organizações militares operativas, de
pacidade de realizar as quatro tarefas trução do Núcleo do Poder Naval, apoio logístico e administrativas.
básicas do Poder Naval – negar o uso que resultará na ampliação da capa- A Construção do Núcleo do Po-
do mar, controlar áreas marítimas, cidade operacional, no aumento da der Naval fortalecerá a indústria de

18
e indiretos; a capacitação e o aprimo-
ramento de mão de obra nacional; e a
transferência de tecnologia, fomentan-
do a Base Industrial de Defesa, num
esforço sem precedentes na história do
Brasil. Tais iniciativas contribuirão para
o aumento do poder de dissuasão e para
a proteção e preservação dos interesses
nacionais nas Águas Jurisdicionais Bra-
sileiras (AJB).

Programa de Desenvolvimento de
Submarinos (PROSUB)
O acordo estratégico firmado en-
tre o Brasil e a França, em 2008, de-
sencadeou a criação de empresas para
viabilizar a condução do Programa de
Desenvolvimento de Submarinos.
Como resultado da parceria es-
tabelecida entre a francesa Direction
des Constructions Navales et Services
(DCNS) e a brasileira Odebrecht,
surgiram duas grandes empresas,
com propósitos distintos, porém
correlatos:
• o Consórcio Baía de Sepetiba (CBS),
criado para gerenciar o PROSUB, pro-
jetar e construir um estaleiro e uma
base naval dedicados à construção,
manutenção e apoio logístico de sub-
marinos, em Itaguaí, no Rio de Janei-
ro; e
construção naval e expandirá a capa- onde também são desenvolvidos im- • a Itaguaí Construções Navais
cidade da MB de proteger e preservar portantes programas científicos. (ICN), constituída para possibilitar
os interesses brasileiros na “Amazônia Esse Projeto Estratégico pressu- a construção de quatro submarinos
Azul” – uma extensa área oceânica, de põe a execução dos seguintes Progra- convencionais (S-BR) diesel-elétricos,
aproximadamente 4,5 milhões de km², mas: Desenvolvimento de Submarinos do tipo “Scorpène”, modificados para
adjacente ao continente brasileiro, (PROSUB); Obtenção de Navios-Pa- atender aos requisitos da Marinha do
que corresponde a, aproximadamen- trulha de 500 toneladas; Construção das Brasil, e executar o projeto e a cons-
te, 52% da nossa área continental. Da Corvetas Classe “Barroso”; e Obtenção trução de um submarino com propul-
“Amazônia Azul”, extraímos cerca de de Meios de Superfície (PROSUPER), são nuclear (SN-BR), com exceção de
92% do petróleo e 72% do gás natu- de Navios-Aeródromos (PRONAE) e seu reator, que está inserido no escopo
ral produzidos no Brasil. Aproxima- de Navios-Anfíbios (PRONANF). A do Programa Nuclear da Marinha.
damente, 95% do comércio exterior condução do Projeto permitirá a ge- As obras de construção da Base Na-
brasileiro é realizado por via marítima, ração de milhares de empregos diretos val e do Estaleiro de submarinos em

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201419


Poder Naval

Área sul do projeto do Estaleiro e Base Naval, em Itaguaí (RJ)

Itaguaí avançam de acordo com o pla- Estruturas Metálicas (UFEM), elo da o submarino com propulsão nuclear
nejado, e têm previsão de prontificação infraestrutura industrial de construção terá sua construção iniciada em 2016,
para 2018 e 2021, respectivamente. e manutenção de submarinos. Além no estaleiro de Itaguaí, e sua entrega
Em 1° de março de 2013, a Presi- disso, quatro submarinos convencio- está prevista para 2025.
denta da República, Dilma Rousseff, nais têm previsão de entrega para 2017, O PROSUB dará grandes contri-
inaugurou a Unidade de Fabricação de 2018, 2020 e 2021, respectivamente. Já buições ao progresso do País, porém
cabe ressaltar que um dos aspectos
mais notáveis inerentes ao progra-
ma de construção do submarino com
propulsão nuclear diz respeito ao sal-
to tecnológico a ser desfrutado pelo
País, em função da transferência de
tecnologia, que fortalecerá a indús-
tria nacional, e a qualificação técnica
de profissionais brasileiros, garantin-
do ao Brasil a capacidade de projetar
e construir, de forma independente,
seus próprios submarinos.

Projeto do submarino com propulsão nuclear (SN-BR)

20
Programa de Construção de Corvetas Contando com a participação de região do Pré-Sal, e a pesqueira, por
Classe “Barroso” universidades brasileiras, empresas e exemplo. Participarão ativamente,
Esse programa contempla a cons- outras instituições nacionais de pes- ainda, das atividades relacionadas à
trução de mais quatro Corvetas quisa e de ciência e tecnologia, o Pro- segurança da navegação aquaviária, à
Classe “Barroso”, agregando novas grama visa, também, contribuir com salvaguarda da vida humana no mar
funcionalidades ao projeto original o desenvolvimento da Base Industrial e à prevenção e repressão aos delitos
desses navios. de Defesa, estimulando a construção transfronteiriços e ambientais.
As Corvetas Classe “Barroso” – naval brasileira e incrementando o Essas Corvetas serão totalmen-
versáteis, sofisticadas, de elevado po- potencial científico, tecnológico e in- te projetadas e construídas por en-
der combatente e capazes de se con- telectual do País. genheiros brasileiros, em estaleiros
trapor a múltiplas ameaças – foram Além dos benefícios econômicos, o nacionais, incorporando melhorias
projetadas para emprego em áreas Programa de Construção de Corve- e desenvolvimentos tecnológicos ao
costeiras e oceânicas e, por essa razão, tas Classe “Barroso”, possui potencial projeto original.
possuem autonomia de 30 dias no mar para gerar mais de 250 empregos di- Na execução desse Programa, a
e raio de ação de até 8.000 km. retos e 1.000 empregos indiretos. MB terá como meta a busca pela na-
As alterações no projeto original As Corvetas Classe “Barroso” serão cionalização, principalmente de com-
empregadas na defesa e na segurança ponentes com elevado grau de com-
visam atualizar o armamento e o
marítima da “Amazônia Azul”, em plexidade técnica. O índice médio de
sistema de combate para a compa-
áreas costeiras e oceânicas. nacionalização dos sistemas de bordo
tibilização com tecnologias atuais;
Desde o tempo de paz, fiscalizarão será superior a 60%, dentre os quais
modernizar as acomodações da tri-
e protegerão as atividades econômi- destacam-se: o Sistema de Contro-
pulação; e elevar a capacidade de co-
cas, principalmente a petrolífera, na le Tático (SICONTA); o Sistema de
mando e controle.

Corveta “Barroso”, contruída pelo Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201421


Medidas de Apoio à Guerra Eletrôni- Rio de Janeiro. Componentes desse necessidade inicial de Navios-Escol-
ca; e o Sistema de Controle da Pro- lote, os Navios-Patrulha “Maracanã” ta e Navios-Patrulha com maior au-
pulsão e do Sistema de Armas. e “Mangaratiba” têm previsão de tonomia, bem como à necessidade de
Poder Naval

prontificação para 2015, o “Miramar” apoio logístico móvel, a Marinha de-


Programa de Obtenção de Navios- e o “Magé” para 2016, e o “Maragogi- senvolve o PROSUPER.
Patrulha de 500 toneladas pe” para 2017. Com duração aproximada de 12
Consiste na construção, no País, anos, a partir da assinatura dos con-
de 46 Navios-Patrulha (NPa) de 500 Programa de Obtenção de Meios de tratos comerciais, esse Programa
toneladas, para realizar, prioritaria- Superfície (PROSUPER) prevê a obtenção de cinco Navios
mente, fiscalização das Águas Juris- A Estratégia Nacional de Defesa -Patrulha Oceânicos de 1.800 tonela-
dicionais Brasileiras, atividades de (END) estabelece que, ao garantir das, cinco Navios-Escolta de cerca de
patrulha, inspeção naval e salvaguarda seu poder para negar o uso do mar ao 6.000 toneladas e um Navio de Apoio
da vida humana no mar, contribuindo inimigo, o Brasil precisa manter a ca- Logístico, com cerca de 23.000 tone-
para a segurança do tráfego marítimo pacidade de projeção de poder e criar ladas de deslocamento.
nacional e para a defesa dos interesses condições para controlar, no grau ne- Foi estabelecido como premissa,
estratégicos brasileiros. cessário, a defesa das áreas marítimas que a construção desses navios seja
O Programa já rendeu os primei- de importância político-estratégica, feita a partir de um projeto já exis-
ros frutos, uma vez que, em 2012 e econômica e militar. tente e testado, adaptado para atender
2013, respectivamente, os NPa “Ma- Para atingir tal propósito, a Força aos requisitos da Marinha. O Progra-
caé” e “Macau” – construídos pelo Naval deve contar tanto com Navios ma requer, também, que a construção
estaleiro INACE, no Ceará – foram de grande porte, capazes de operar e seja feita no Brasil, por meio de uma
entregues ao setor operativo da MB. de permanecer por longo tempo em associação entre o estaleiro projetista
Atualmente, mais cinco Navios-Pa- alto mar, quanto com navios de porte estrangeiro e um ou mais estaleiros
trulha de 500 toneladas encontram-se menor, dedicados a patrulhar o litoral. privados brasileiros, em contratos
em construção no estaleiro EISA, no Visando ao atendimento da comerciais amparados por Acordos

Navio-Patrulha “Macaé”, construído pelo estaleiro INACE, em Fortaleza (CE)

22
Navio Patrulha Oceânico “Apa”

Governamentais. Pretende-se, com é fundamental para o sucesso das ope- definiu duas áreas estratégicas como
isso, garantir que a qualidade final dos rações anfíbias e das operações navais prioritárias em termos de necessida-
navios seja a mesma que seria obtida, em área marítima restrita, móvel ou de de se controlar o acesso ao Bra-
caso os navios fossem construídos nas fixa. Quando essa necessidade surge sil: a foz do Rio Amazonas e a faixa
instalações do estaleiro projetista no em teatros de operações distantes, fora marítima que vai de Santos a Vitória,
exterior; assegurar a transferência de do raio de ação das aeronaves de asa onde se localizam os principais cam-
tecnologia; e promover o desenvol- fixa da Força Aérea, o papel do Navio pos produtores de petróleo nacionais.
vimento de equipamentos nacionais -Aeródromo (NAe) torna-se evidente. Em decorrência do posicionamento
para instalação a bordo. Devido a sua capacidade de trans- geográfico dessas duas áreas, o Poder
Em termos de benefícios econômicos portar, lançar e recolher suas próprias Político brasileiro identificou a neces-
e sociais decorrentes do PROSUPER, aeronaves de asa fixa e rotativa, o NAe sidade de duas Esquadras, cada uma
estima-se a geração de aproximadamen- constitui-se no principal meio naval com a responsabilidade de controlar o
te 13.000 empregos diretos e indiretos, para a execução das tarefas de contro- acesso a uma dessas áreas vitais. A Ma-
além da contribuição para o desenvolvi- le de área marítima e de projeção de rinha considera imperioso que cada
mento da Base Industrial de Defesa. poder; de operações de ataque e anfí- Esquadra seja nucleada em um NAe.
bias; e de ações de defesa aeroespacial Por esses motivos e pela necessida-
Programa de Obtenção de Navios- de uma Força Naval. de de obter um substituto para o NAe
Aeródromos (PRONAe) Esses navios podem, ainda, partici- “São Paulo”, até 2028, a Marinha do
A obtenção de superioridade aérea par de missões de paz e em ações de Brasil elaborou o Programa de Obten-
ajuda humanitária; atuar em apoio às ção de Navios-Aeródromo (PRONAe),
Saiba mais sobre o PROSUPER: ações de Defesa Civil, na redução ou que contempla o projeto e a construção
A Marinha já recebeu propostas minimização dos efeitos de desastres de duas unidades de uma nova classe de
comerciais de sete estaleiros projetis- naturais ou daqueles causados pelo ho- NAe, com deslocamento aproximado
tas estrangeiros: ThyssenKrupp (Ale- mem; e contribuir, em tempo de paz, de 50.000 toneladas.
manha); DSME (Coréia do Sul); Na- em proveito da necessidade da política Devido à complexidade do Pro-
vantia (Espanha); DCNS (França); externa brasileira, como importante e grama, o modelo estratégico conce-
Damen (Holanda); Ficantieri (Itália) eficaz instrumento de dissuasão. bido define que, num primeiro es-
e BAE Systems (Reino Unido). A Estratégia Nacional de Defesa tágio, será selecionado um parceiro

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201423


para assessorar no desenvolvimento Programa de Obtenção de Navios- hangar; e porta ou rampa para lançamento
dos estudos de exequibilidade. Es- Anfíbios (PRONAnf) de Carro Lagarta Anfíbio (CLAnf), Em-
ses estudos serão desenvolvidos por O PRONAnf visa à construção de duas barcação de Desembarque de Viatura e
Poder Naval

um estaleiro ou escritório de pro-


unidades de Navios-Anfíbios no Brasil, Material (EDVM) e Embarcação de De-
jetos estrangeiro, com experiência
para substituir os dois Navios de Desem- sembarque de Carga Geral (EDCG).
comprovada nessa área particular da
engenharia naval, com o acompanha- barque-Doca (NDD) da Classe “Ceará”, Deverá ser realizada uma concor-
mento de pessoal da Marinha do Bra- um dos quais já foi desativado. Por esse rência internacional para a obtenção
sil. A construção do novo NAe será motivo, tem sido realizada uma pesquisa desse projeto, que prevê um prazo de
objeto de tratativas posteriores. para a obtenção, no mercado internacio- construção de aproximadamente três
Atualmente, a Marinha do Brasil está nal, de projetos prontos e aprovados de anos para cada navio. Entretanto, não
em contato com estaleiros projetistas
NDD operados por outras Marinhas, que está descartada a “compra de oportu-
de cinco países: Navantia (Espanha);
tenham deslocamento carregado de até nidade”, caso haja alguma unidade dis-
GIBBS & COX INC (EUA); DCNS
(França); Fincantieri (Itália); e BAE 12.500 toneladas; capacidade de transpor- ponível, que atenda aos requisitos da
Systems (Reino Unido). te de tropa de até 490 militares; convoo; Marinha do Brasil.

Navio de Desembarque de Carros de Combate “Garcia D´Ávila”

24
Outros Projetos Prioritários com permanente capacidade de pronto serão realizadas ao longo de diversas
Além dos Projetos Estratégicos emprego, por meio dos Grupamentos fases, no período de 2016 a 2023, e pri-
constantes do Programa de Articu- Operativos de Fuzileiros Navais. vilegiarão produtos desenvolvidos com
lação e Equipamento da Marinha do A Brigada Anfíbia (BAnf) é o gru- tecnologia nacional, a fim de fortalecer
Brasil, os seguintes também são consi- pamento operativo que possui poder a Indústria Nacional de Defesa.
derados prioritários, em função de sua de combate suficiente para enfrentar Projeto H-XBR - surgiu de um
importância estratégica: a maior parte dos desafios visualizados acordo para cooperação na área da
Programa de Consolidação da para o emprego do CFN, podendo aeronáutica militar, firmado entre
Brigada Anfíbia no Rio de Janeiro cumprir desde missões humanitárias Brasil e França, tendo como objetivo
(PROBANF) - desenvolvido no âmbito até as de combate, em diferentes am- a produção, industrialização, desen-
do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), bientes operacionais, tais como o ri- volvimento e fornecimento de 50 he-
visa assegurar a capacidade de projeção beirinho e o urbano. licópteros de médio porte e emprego
de poder da Marinha do Brasil e a con- As aquisições de meios e equipa- geral, modelo EC-725, para as For-
solidação do CFN como uma força de mentos, necessários à consolidação ças Armadas brasileiras, das quais 16
caráter expedicionário por excelência, de uma BAnf sediada no Rio Janeiro, serão destinadas à Marinha do Brasil.
Quatro aeronaves já foram recebidas
e o recebimento das demais está pre-
visto até 2017.
O projeto possibilitará a transfe-
rência de tecnologias críticas, não dis-
poníveis no Brasil, e o envolvimento
da indústria brasileira na cadeia pro-
dutiva da Airbus Helicopters; a aqui-
sição, pelo País, de autonomia na ope-
ração, manutenção e modernização
dos helicópteros EC-725; a aquisição
da capacidade de exportação pelo polo
industrial aeronáutico brasileiro; o
desenvolvimento de novas atividades
de serviços (engenharia, manutenção,
treinamento); e a preparação da indús-
tria brasileira para a concepção e pro-
jeto de um novo helicóptero nacional.
Veículo Aéreo Não Tripulado
Embarcado (VANT-E) - o proje-
to prevê a aquisição de dez sistemas
VANT-E, entre 2015 e 2030. O veícu-
lo tem emprego dual (civil e militar),
podendo ser utilizado para o combate
a ilícitos em geral (pesca predatória,
extração mineral ilegal, contrabando,
pirataria e crimes ambientais) e tare-
fas relacionadas à busca e salvamen-
to na área marítima de jurisdição do
Brasil

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201425


Monitoramento

Monitorar para defender


Segurança, consciência situacional marítima e
criação de empregos são alguns dos benefícios
decorrentes do Sistema de Gerenciamento da
“Amazônia Azul” (SisGAAz)
Fotos: Acervo fotográfico do CCSM

26
Para proteger e controlar Comando e Controle e de Inteligên- dados, satélites e veículos submarinos
cia Operacional e, por conseguinte, o e aéreos não tripulados.
a nossa última fronteira
efetivo conhecimento do que ocorre O SisGAAz poderá, no futuro, ser
a leste, a Marinha está nas águas de interesse estratégico integrado a outros sensores e siste-
desenvolvendo um para o País, no Atlântico Sul, assim mas, tais como o Sistema Integrado
Sistema que contribuirá como contribuirá para o aprimora- de Monitoramento de Fronteiras
significativamente para mento da capacidade de reagir aos (SISFRON), do Exército Brasileiro,
eventos que representem ameaça à e o Sistema de Controle do Espaço
a modernização da
vida humana, à segurança, à econo- Aéreo Brasileiro (SISCEAB), da For-
estrutura de Comando mia e ao meio ambiente. ça Aérea Brasileira.
e Controle e de O Sistema possibilitará, ainda,
Inteligência Operacional que a Marinha amplie a sua capaci- Benefícios
da Força. dade de monitorar a Área de Busca Idealizado para ser o maior siste-
e Salvamento (SAR, sigla do inglês ma de monitoramento das AJB e Área

D
entre as diretrizes da Estraté- Search and Rescue) sob a responsabi- SAR, o SisGAAz permitirá a coleta,
gia Nacional de Defesa (END), lidade do Brasil. o armazenamento e o processamen-
duas enfatizam os aspectos de O primeiro passo para o desenvol- to de dados. Também possibilitará o
monitoramento e controle, a saber: vimento do SisGAAz foi dado em ju- compartilhamento de informações de
• organizar as Forças Armadas sob lho de 2011, quando a Marinha esta- interesse com os diversos setores, seja
a égide das ações de monitoramento/ beleceu uma parceria com a Fundação no âmbito civil ou militar.
controle, mobilidade e presença; e EZUTE (ex-ATECH), para o desen- A concretização desse Projeto Es-
• desenvolver as capacidades de volvimento da arquitetura do sistema. tratégico também contribuirá para o
monitorar e controlar o espaço aéreo, efetivo cumprimento das atribuições
o território e as Águas Jurisdicionais Subsistemas subsidiárias da Força, particularmen-
Brasileiras (AJB), a partir da utilização O SisGAAz pertence à classe de te, na execução de tarefas relacionadas
de tecnologias de monitoramento ter- “Sistema de Sistemas”, sendo com- à vigilância e à segurança marítima
restre, marítimo, aéreo e espacial, que posto por um conjunto de subsistemas – segurança da navegação aquaviária,
estejam sob inteiro e incondicional integrados para coletar, compartilhar, prevenção e combate à poluição am-
domínio nacional. analisar, apresentar informações ope- biental e salvaguarda da vida humana
Visando contribuir para o atendi- racionais e disponibilizar um con- no mar. Terá papel decisivo, ainda, na
mento dessas diretrizes, a Marinha junto de recursos de apoio à decisão. prevenção e na repressão aos delitos
do Brasil concebeu o Sistema de Sendo assim, subsistemas novos e já transfronteiriços e ambientais, dentre
Gerenciamento da “Amazônia Azul” existentes serão arranjados em um eles: pirataria, roubo armado de na-
(SisGAAz), que consiste em um esquema de interoperabilidade, de vios, contrabando, descaminho e trá-
conjunto de subsistemas integrados, modo a prover a melhor combinação fico de drogas, pessoas e armas.
incluindo mecanismos de apoio à de informações, recursos de auxílio O conjunto dessas potencialida-
decisão, que coletam, armazenam e à decisão e tomada de providências des permitirá a vigilância contínua do
processam dados; e compartilham para cada situação prevista. imenso patrimônio brasileiro no mar,
informações de interesse com os Ele será composto por meios ope- destacando-se as bacias petrolíferas,
diversos setores relacionados e seus racionais da MB e por diversos sen- como as reservas do Pré-Sal.
tomadores de decisão, seja no âmbi- sores, que irão integrar redes de in- Com o SisGAAz, a MB irá obter
to civil ou militar. formações e mecanismos de apoio à uma efetiva consciência situacional
O desenvolvimento do SisGAAz decisão. Esse sistema terá uma série nas águas de interesse nacional, com
proporcionará à MB a possibilida- de subsistemas e equipamentos, en- importantes reflexos para a segu-
de de modernizar sua estrutura de tre eles, navios, aeronaves, redes de rança marítima no Atlântico Sul. As

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201427


Monitoramento

informações serão processadas de for- pescadores em apuros, a busca de pes-


ma instantânea, resultando em uma soas desaparecidas no mar, o monitora-
Águas Jurisdicionais Brasileiras
rápida reação às eventuais ameaças de- mento de desastres ambientais, a coleta
As Águas Jurisdicionais Bra-
tectadas e identificadas. Isso permitirá de dados para universidades brasileiras
sileiras (AJB) compreendem as
que ações e decisões sejam tomadas de e o conhecimento dos mares”, expli-
águas interiores e os espaços ma-
forma mais ágil evitando possíveis si- cou o primeiro Diretor de Gestão de
rítimos (“Amazônia Azul”), nos
tuações de risco, como mudanças cli- Programas Estratégicos da Marinha,
quais o Brasil exerce jurisdição,
máticas repentinas. Nesses casos, por Vice-Almirante Antônio Carlos Frade
em algum grau, sobre atividades,
exemplo, navios mercantes poderão Carneiro.
pessoas, instalações, embarcações
ser informados sobre Avisos de Mau Outras vantagens inerentes a esse
e recursos naturais vivos e não vi-
Tempo em uma determinada área. Projeto Estratégico são a possibilidade
vos, encontrados na massa líquida,
“O SisGAAz não só permitirá que de emprego dual (civil e militar), a capa-
no leito ou no subsolo marinho,
a Marinha faça a defesa, mas tam- citação e o aprimoramento de mão de
para fins de controle e fiscaliza-
bém propiciará uma série de benefí- obra, o fomento da Indústria Nacional
ção, dentro dos limites da legisla-
cios, como por exemplo, o resgate de de Defesa, além da geração de empregos
ção nacional e internacional.
diretos e indiretos. Nesse aspecto, o Almi-
“O governo, ao investir num rante Frade enfatizou que: “serão criados
projeto como este, proporciona empregos em toda a cadeia econômica, algum equipamento de monitoração. O
a multiplicação de seus efeitos beneficiando desde o cientista que de- governo, ao investir num projeto como
na economia brasileira”. senvolverá um sistema, até o técnico em este, proporciona a multiplicação de seus
Diretor da DGePEM, Vice-Almirante Frade eletrônica que realizará a manutenção em efeitos na economia brasileira”

28
“Amazônia Azul” população e 95% do parque industrial, são produzidos algo
A Convenção das Nações Unidas para o Direito no Mar em torno de 90% do PIB e consumidos 85% da energia
estabelece que é um direito exclusivo do país costeiro a ex- elétrica gerada no País. Sob o ponto de vista econômico,
ploração dos recursos naturais, vivos ou não vivos, existentes constata-se que cerca de 95% do nosso comércio exterior é
no leito do mar, em suas águas sobrejacentes e no seu subso- realizado por via marítima e que mais de 92% do nosso pe-
lo, numa faixa marítima de 370 km (200 milhas náuticas) de tróleo e 72% do gás natural são extraídos do mar. Cabe res-
largura, chamada Zona Econômica Exclusiva (ZEE). saltar que as promissoras reservas do Pré-Sal estão no mar.
Em alguns casos, como no do Brasil, os direitos do país Do mar, extraímos, também, mais de 45% do pescado
costeiro sobre a coluna d’água, o leito e o subsolo marinhos produzido no País.
podem ser estendidos até o limite de sua Plataforma Conti- São 8.500 Km de costa, onde estão localizados os princi-
nental, que pode alcançar até 648 km (350 milhas náuticas). pais destinos turísticos nacionais.
Trata-se de uma extensa área oceânica, de aproximada- Além disso, o oceano abriga uma enorme biodiversidade,
mente 4,5 milhões de km², adjacente ao continente brasilei- ainda inexplorada, que pode servir de base para relevantes e
ro, que corresponde a, aproximadamente, 52% da nossa área promissoras pesquisas científicas e que precisa ser preservada.
continental. Buscando alertar a sociedade sobre a sua importância
Na imensa faixa litorânea brasileira, situam-se 17 esta- estratégica, as riquezas e biodiversidade nela existentes e a
dos, 16 capitais e cerca de 37 portos públicos e 99 terminais imperiosa necessidade de garantir sua proteção, a Marinha
privados. do Brasil passou a denominá-la “Amazônia Azul”, em tudo
Nessa área, por exemplo, concentram-se 80% da comparável à “Amazônia Verde”.

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201429


Ampliar para defender
Complexo Naval

Marinha planeja criação de Complexo Naval no


norte/nordeste do País
Fotos: Acervo fotográfico do CCSM

30
Base Naval do Rio de Janeiro

D “A criação do Complexo
uas diretrizes da Estratégia Águas Jurisdicionais Brasileiras”, ex-
Nacional de Defesa (END) plica o então Comandante-em-Chefe
Naval da 2ª Esquadra no
fundamentaram a concepção da Esquadra, Vice-Almirante Sergio
do Projeto Estratégico de criação do Roberto Fernandes dos Santos.
norte/nordeste do País é
Complexo Naval da 2ª Esquadra e da Para o Comandante da Força de
o retrato de uma mudança
2ª Força de Fuzileiros da Esquadra Fuzileiros da Esquadra, Vice-Almi-
necessária na estrutura de
(FFE) no norte/nordeste do País. A rante (FN) Washington Gomes da
defesa do Brasil”.
primeira estabelece que as Forças Ar- Luz Filho, a 2ª FFE será uma força Vice-Almirante Sergio Roberto
madas devem ser reorganizadas sob a de caráter eminentemente expedicio- Fernandes dos Santos
égide do trinômio monitoramento/ nário: “A estrutura criada permitirá
controle, mobilidade e presença. A uma rápida transição da organização
segunda, ao determinar o reposicio- administrativa para a de combate,
namento dos efetivos das três Forças, mantendo sua permanente capacidade Navais, os quais podem ser emprega-
estipula que a Marinha deverá estar de pronto emprego, por meio de Gru- dos em diversos cenários, que vão des-
mais presente na região da foz do Rio pamentos Operativos de Fuzileiros de aqueles relacionados a operações
Amazonas, a fim de que possa exercer
o efetivo controle desta, que é uma
das duas áreas estratégicas de acesso
marítimo ao Brasil.
“A criação do Complexo Naval
da 2ª Esquadra no norte/nordeste
do País é o retrato de uma mudança
necessária na estrutura de defesa do
Brasil. O Complexo permitirá que os
meios navais e o pessoal militar lá ins-
talados sejam preparados, adestrados
e apoiados logisticamente para o cum-
primento das tarefas básicas do Po-
der Naval, contribuindo, assim, para
Militares formados - Força de Fuzileiros da Esquadra
a defesa dos interesses nacionais nas

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201431


“A estrutura criada
permitirá uma rápida
Complexo Naval

transição da organização
administrativa para a de
combate, mantendo sua
permanente capacidade
de pronto emprego, por
meio de Grupamentos
Operativos de Fuzileiros
Navais”.
Entenda o projeto Vice-Almirante (FN) Washington
O projeto de construção do Complexo Naval da 2ª Esquadra e da 2ª Força Gomes da Luz Filho
de Fuzileiros da Esquadra (FFE) prevê a construção de uma Base Naval, uma Comandante da Força de
Base Aérea Naval, uma Base de Fuzileiros Navais e uma Base de Abastecimen- Fuzileiros da Esquadra
to, dentre outras organizações militares (OM). Esse Complexo deverá ser capaz
de abrigar o Comando-em-Chefe da 2ª Esquadra e o Comando da 2ª FFE. de paz e assistência humanitária, em
situações de calamidade, aos de ope-
rações de projeção de poder, em am-
Base Naval
bientes operacionais diversos, como o
Principal OM de apoio logístico fixo e futura sede da 2ª Esquadra, a Base
ribeirinho ou o urbano”.
Naval possuirá a infraestrutura necessária para o funcionamento das demais
OM operativas e logísticas. Também deverá reunir condições para a atraca-
ção e a manutenção de meios navais e aeronavais. Benefícios
A criação do novo Complexo Na-
val impulsionará a geração de oportu-
Segunda Força de Fuzileiros da Esquadra (2a FFE)
nidades de trabalho direto e indireto
A 2ª FFE ficará situada na Base de Fuzileiros Navais e permitirá a for-
na construção civil, no comércio e no
mação de Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais que, juntamente,
setor de serviços, promovendo a in-
com meios navais e aeronavais da 2ª Esquadra, realizarão operações e ações
clusão social e o aprimoramento na
navais no norte/nordeste do País.
formação de milhares de cidadãos.
Estima-se que, somente na fase de
Base de Abastecimento
construção, serão criados cerca de 6.500
A Base de Abastecimento apoiará as OM do Complexo Naval da 2ª Es-
postos de trabalho. Após esse período,
quadra e da 2a FFE com suprimentos, serviços administrativos e financei-
com a transferência de pessoal e dos
ros, como fardamento, combustíveis, sobressalentes, material de saúde e
meios navais, o Complexo deverá rece-
munição.
ber cerca de 18 mil famílias de militares.
É importante ressaltar que, para a
Comandos e Centros de Formação e Instrução consecução desse grande desafio, tor-
O projeto incluirá, ainda, a criação de novos comandos, dentre os quais, na-se imprescindível um aporte orça-
destacam-se: o Comando-em-Chefe da 2ª Esquadra; o Comando da 2ª FFE; mentário planejado e contínuo, capaz
o Comando da 2ª Força de Superfície; o Comando da 2a Divisão Anfíbia; e de assegurar a construção de uma
os Centros de Apoio aos Sistemas Operativos, de Adestramento e de Con- estrutura de defesa proporcional ao
trole de Avarias, dentre outros. Serão construídos, também, um Centro de compromisso de exercer a soberania
Formação de Oficiais e um Centro de Instrução de Praças, necessários ao e proteger o patrimônio brasileiro no
preparo do efetivo militar, conforme estabelecido pela END. mar, mais especificamente, na região
próxima à foz do Rio Amazonas

32
Reestruturar para

Navegação
proteger e preservar
Com a criação e a elevação de categoria de diversas organizações
militares do Sistema de Segurança do Tráfego Aquaviário, a Marinha
está ampliando sua presença nas Águas Jurisdicionais Brasileiras
Fotos: Acervo fotográfico do CCSM
O desenvolvimento do Poder Marítimo nacional nos últimos anos, decorrente
da ampliação do comércio exterior, das atividades de pesquisa e de exploração de
petróleo e gás, do turismo náutico e da pesca, tem resultado no aumento do volume de
Navegação

serviços prestados pelas organizações militares do Sistema de Segurança do Tráfego


Aquaviário, tais como fiscalização de embarcações e suas documentações, habilitação
de tripulantes, patrulhamento e controle do tráfego marítimo.

E
m função desse aumento de de- Navais, contribuindo, dessa forma, decorre de novas necessidades relacio-
manda, a Marinha do Brasil (MB) para o aumento da segurança nas nadas ao aumento das atividades aqua-
elaborou o Projeto Estratégico Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB). viárias nas diversas regiões do País. Essa
denominado “Segurança da Navega- O Projeto integra o Plano de Ar- reestruturação contribui para o balan-
ção”, o qual será executado, no período ticulação e Equipamento da Marinha ceamento dos esforços da Autoridade
compreendido entre 2013 e 2031. Esse do Brasil (PAEMB) e consiste na rees- Marítima nas ações que visam à segu-
projeto prevê a criação ou a elevação truturação das OM do SSTA, capita- rança da navegação, à salvaguarda da
de categoria de 68 organizações mili- neada pela Diretoria Geral de Nave- vida humana no mar, ao ordenamento
tares (OM) do Sistema de Segurança gação (DGN). do espaço aquaviário e à prevenção da
do Tráfego Aquaviário (SSTA), com Para o Diretor de Portos e Costas, poluição hídrica”, explica.
o objetivo de aumentar a atuação nas Vice-Almirante Claudio Portugal de Em virtude desse crescimento das
áreas de responsabilidade dos Distritos Viveiros, esse estudo “é dinâmico e atividades aquaviárias, a Marinha

34
identificou a necessidade de criar ou
elevar a categoria de Capitanias, De-
legacias e Agências.
Como resultado prático, a MB am-
pliará sua presença, principalmente,
nas regiões amazônica e centro-oeste,
aumentando a vigilância nas fronteiras
e nas bacias fluviais dos Rios Paraguai
-Paraná e do Rio Amazonas, inclusive
com o emprego de Navios-Patrulha.

Estrutura do SSTA
Conforme previsto na Lei Com-
plementar n° 97 de 1999, duas das
atribuições subsidiárias de respon-
sabilidade da MB estão relacionadas
à segurança do tráfego aquaviário:
prover a segurança da navegação
aquaviária; e implementar e fiscalizar
o cumprimento de leis e regulamen-
tos, no mar e nas águas interiores, em
Militares inspecionam itens de segurança das embarcações
coordenação com outros órgãos do

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201435


Poder Executivo, federal ou estadual, “Essa reestruturação
quando se fizer necessária, em razão
contribui para o
de competências específicas.
balanceamento dos
Navegação

Para tanto, e em função das com-


petências técnicas de cada órgão, a
esforços da Autoridade
Autoridade Marítima, que no Brasil
Marítima nas ações que
é exercida pelo Comandante da Ma-
visam à segurança da
rinha, delega competência aos seus navegação, à salvaguarda
Representantes para atuarem como da vida humana no
responsáveis pela segurança da nave- mar, ao ordenamento
gação, salvaguarda da vida humana do espaço aquaviário
no mar aberto e hidrovias interiores e e à prevenção contra
pela prevenção da poluição ambiental poluição hídrica”
por parte de embarcações, platafor- Vice-Almirante Claudio
mas ou suas instalações de apoio. Portugal de Viveiros,
É Representante da Autorida- Diretor de Portos e Costas
de Marítima para a Segurança da

ESTRUTURA DA AUTORIDADE MARÍTIMA


PARA A SEGURANÇA DO TRÁFEGO AQUAVIÁRIO

Autoridade Marítima

Representante da Autoridade Marítima para a Segurança da Navegação Navegação e o Meio Ambiente, o Co-
(Comandante de Operações Navais / Diretor Geral de Navegação)
mandante de Operações Navais / Di-
retor-Geral de Navegação. Os Repre-
sentates para a Segurança do Tráfego
Aquaviário são: o Diretor de Portos
e Costas, o Diretor de Hidrografia
Representantes da Autoridade Marítima para a Segurança do Tráfego Aquaviário e Navegação e os Comandantes dos
(Diretor de Portos e Costas; Diretor de Hidrografia e Navegação
e Comandantes dos Distritos Navais) Distritos Navais.
Por sua vez, os Agentes da Autori-
dade Marítima recebem dos Repre-
sentantes da Autoridade Marítima
as subdelegações para a execução de
Agentes da Autoridade Marítima tarefas relacionadas à segurança da
navegação e do tráfego aquaviário,

36
Militares da Marinha do Brasil inspecionam embarcações

dos tripulantes e das embarcações, Além disso, diversas Delegacias e Segurança e desenvolvimento para o País
fiscalizando o cumprimento das leis Agências, distribuídas pelos estados do Após 2018, outras 38 OM, entre
e normas que regulam o transporte Amapá, Bahia, Mato Grosso e Pará; e Dis- Capitanias, Delegacias e Agências,
aquaviário, assim como, o respeito às trito Federal, foram elevadas de categoria. serão criadas.
convenções internacionais ratificadas Os investimentos nesse Projeto vi-
pelo Brasil. Até 2018 sam, portanto, à ampliação da seguran-
O Projeto Estratégico “Segurança da ça do tráfego aquaviário nas AJB; ao
Reestruturação Navegação” prevê a criação, até 2018, incremento na formação profissional
A Marinha tem investido na cria- de mais oito Agências Fluviais, a serem de aquaviários; ao aumento da dispo-
ção e na reestruturação das Capita- distribuídas pelos estados do Amazonas, nibilidade de mão de obra especializa-
nias, Delegacias e Agências. Nesse Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, da para as empresas de navegação; e à
contexto, quatro novas OM foram Pernambuco e Santa Catarina. Nesse contribuição para a salvaguarda da vida
criadas nos estados do Acre, Amazo- período, outras nove Delegacias e Agên- humana, a prevenção da poluição am-
nas, Ceará e Rio de Janeiro. cias também serão elevadas de categoria. biental e a segurança da navegação

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201437


Pessoal

Pessoal – “Nosso
Maior Patrimônio”
A Marinha busca a ampliação dos Sistemas de Ensino, Saúde e
Assistência Social e a aquisição de moradias funcionais, com vistas ao
aumento de seu efetivo
Fotos: Acervo fotográfico do CCSM

Entrega de Próprio Nacional Residencial (PNR) realizada pelo Comandante da Marinha, em Brasília (DF)

A Marinha do Brasil propôs, em 2009, o aumento do limite legal do seu efetivo em


cerca de 37%, medida que foi aprovada no ano seguinte. A partir de então, estão
sendo adotados procedimentos para garantir que a meta seja alcançada até 2031, o que
significa um acréscimo de 3.507 Oficiais e 19 mil Praças.

N
uma segunda etapa, depen- (PAEMB), com um efetivo aproxima- ensino, de apoio à saúde e de assistên-
dendo da aprovação de nova do de 115 mil militares, sendo 17 mil cia social, bem como obter Próprios
lei, a Força pretende aumen- Oficiais e 98 mil Praças. Nacionais Residenciais (PNR).
tar em 6.400 o número de Oficiais e Para se adequar a essa ampliação “Ao se pensar em pessoas, não se
em 28.500 a quantidade de Praças, de efetivo, a Força está implantando pode esquecer que as mesmas possuem
de modo a atingir o patamar esti- o Projeto Estratégico Pessoal – “Nos- aspirações e necessidades. Desse modo,
pulado no Plano de Articulação e so Maior Patrimônio”, cujo objetivo todo investimento em ensino, saúde
Equipamento da Marinha do Brasil é ampliar a estrutura dos órgãos de e assistência social está diretamente

38
Subprojetos e Períodos de execução
Ampliação e Modernização de Centros e Escolas do Sistema de Ensino Naval - 2010 a 2023
Ampliação dos Centros de Instrução do Corpo de Fuzileiros Navais - 2013 a 2023
Ampliação do Serviço de Seleção do Pessoal da Marinha - 2010 a 2015
Ampliação da Escola de Guerra Naval - 2010 a 2023
Ampliação do Hospital Naval Marcílio Dias - 2010 a 2023
Ampliação de Unidades de Saúde - 2013 a 2023
Construção de uma Policlínica Naval em Campo Grande (RJ) – inaugurada em 2012
Construção do Hospital Naval de Manaus - 2015 a 2031
Construção da Policlínica Naval da Penha (RJ) - 2013 a 2015
Construção de Núcleos de Assistência Integrada ao Pessoal da Marinha do Brasil - 2012 a 2031
Obtenção de Próprios Nacionais Residenciais - 2011 a 2031

associado à busca de melhorias na


qualidade de vida da Família Naval”,
observa o Diretor-Geral do Pessoal da
Marinha, Almirante-de-Esquadra Elis
Treidler Öberg.

Novos Centros de Formação e Instrução


Na área de ensino, a Marinha pre-
tende ampliar a quantidade de vagas
para os cursos de formação, especia-
lização e aperfeiçoamento de Oficiais
e Praças. Dentre as ações previstas,
estão a criação de um Centro de For-
mação de Oficiais e de um Centro
Banda Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais
de Instrução de Praças, para atender
às organizações militares (OM) que
comporão o Complexo Naval da 2ª
Esquadra e da 2ª Força de Fuzileiros
da Esquadra (FFE), bem como o au-
mento da estrutura de apoio para a
realização de processos seletivos.
Para o Almirante Öberg, as ações
da MB demonstram a preocupação da
Força com o aumento e a capacitação
do seu efetivo: “Nossa Marinha tem se
mostrado bastante consciente de que a
simples aquisição de inovações tecno-
lógicas não significa supremacia ou de-
senvolvimento. Em termos práticos, os
investimentos na área do ensino buscam Formatura na Escola Naval

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201439


Pessoal

Centro Instrução Almirante Wandenkolk (CIAW), localizado na Baía de Guanabara (RJ)

aprimorar a formação dos militares, ob- (MS), Natal (RN), Rio Grande (RS) de prestação de assistência integrada
jetivando não só a ampliação do efetivo, e São Pedro da Aldeia (RJ). Serão aos militares e seus dependentes. Por
como também o aperfeiçoamento da realizadas, ainda, gestões junto ao isso, está prevista a implantação de
capacitação de nosso pessoal”. Exército Brasileiro e à Força Aérea nove N-SAIPM, nas áreas de maior
Brasileira, a fim de viabilizar o com- concentração de efetivos. “Os progra-
Atendimento médico-hospitalar partilhamento de unidades de saúde mas atualmente desenvolvidos bus-
Na área de saúde, também se ade- entre as Forças Armadas. cam, cada vez mais, “abraçar”, não so-
quando ao aumento previsto do efe- mente os militares, mas também suas
tivo, a MB tem se reestruturado para Novos PNR e N-SAIPM famílias. O conceito de Família Naval
suprir a demanda por atendimento Em relação à assistência social, o vem se mostrando importante no dia
médico-hospitalar. Por isso, estão sen- Projeto Estratégico Pessoal – “Nosso a dia dos militares, refletindo direta-
do construídas novas unidades, como Maior Patrimônio” contempla o au- mente no desempenho profissional”,
a Policlínica Naval de Campo Grande mento do número de Próprios Nacio- conclui o Almirante Öberg
(RJ), inaugurada em 10 de setembro nais Residenciais (PNR) e de Núcleos
de 2012. Essa unidade de saúde presta de Assistência Integrada ao Pessoal da
apoio aos militares e seus dependen- Marinha (N-SAIPM). Em função da “Em termos práticos, os
tes na região de Itaguaí (RJ), devido reestruturação da MB, prevista na Es- investimentos na área do
à ampliação das atividades na região, tratégia Nacional de Defesa, identifi- ensino buscam aprimorar
resultante do Programa de Desenvol- cou-se a necessidade de obtenção de a formação dos militares,
vimento de Submarinos (PROSUB). cerca de 32.000 imóveis residenciais, objetivando não só a ampliação
A Força também está ampliando para os militares que guarnecerão os
do efetivo, como também
a capacidade de atendimento de di- novos meios e organizações daForça,
o aperfeiçoamento da
versas OM, como o Hospital Naval como a 2ª Esquadra e a 2ª FFE.
Marcílio Dias, além de unidades em Além disso, foi identificada a ne-
capacitação de nosso pessoal”.
Almirante-de-Esquadra Elis Treidler Öberg
Belém (PA), Brasília (DF), Ladário cessidade de aumentar a capacidade
Diretor-Geral do Pessoal da Marinha

40
Recuperar para

Capacidade
evoluir
É indispensável, para as Forças Armadas de um País, como o Brasil,
manter, em meio à paz, o impulso de se preparar para o combate e de
cultivar, em prol desse preparo, o hábito da transformação.
Fotos: Acervo fotográfico do CCSM
A Marinha do Brasil será uma Força moderna, equilibrada e balanceada, e deverá
dispor de meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais compatíveis com a inserção
político-estratégica do Brasil no cenário internacional
Capacidade

A
frase acima destaca uma parte da cerca de 4,5 milhões de km2, de vital da Capacidade Operacional da Força,
“Visão de Futuro da Marinha do importância para a Nação, em função traduzida nesse Projeto Estratégico,
Brasil”, constante do seu Plano das suas vertentes econômica, am- de suma importância para o desenvol-
Estratégico. O mar sempre esteve rela- biental, científica e de soberania. Nes- vimento da Força Naval.
cionado com o progresso do nosso País, sa imensa área, denominada “Amazô-
desde o seu descobrimento. A natural nia Azul”, onde se insere, também, a Recuperação da Força
vocação marítima brasileira é respalda- camada do Pré-Sal, estão as maiores Uma das propostas do Plano de Ar-
da pelo seu extenso litoral e pela impor- reservas brasileiras de petróleo e gás, ticulação e Equipamento da Marinha
tância estratégica do Atlântico Sul. que são fontes de energia impres- do Brasil (PAEMB) foi a criação do
A Convenção das Nações Unidas cindíveis para o desenvolvimento Projeto “Recuperação da Capacidade
sobre Direito do Mar abre a possibili- nacional, além de grande potencial Operacional” (RCO), que consiste
dade de o Brasil estender os limites da pesqueiro, mineral, de transporte e de da revitalização de meios, estruturas
sua Plataforma Continental e, dessa lazer, entre outros. e sistemas já existentes no inventário
forma, exercer o direito de jurisdição Esses aspectos são apenas alguns, da Força, mas que, com o passar dos
sobre os recursos vivos e não vivos lo- dentre muitos, que justificam a ne- anos e, em alguns casos, devido ao
calizados em uma área marítima com cessidade premente de Recuperação prolongamento da vida útil, possuem

Incorporação do Navio Hidroceanográfico Fluvial “Rio Tocantins”

42
Aprestamento
Conjunto das medidas, que in-
cluem instrução, adestramento e
logística, necessárias para prepa-
rar uma organização militar para
ação imediata.

equipamentos, subsistemas ou com-


ponentes requerendo modernização,
substituição ou recompletamento.
Os meios navais, aeronavais e de
fuzileiros navais recuperados, bem
como o recompletamento das dota-
ções de sobressalentes, munição e ar-
mamentos, contribuirão para o cum-
primento das missões da Esquadra, da
Diretoria de Hidrografia e Navegação
e dos Distritos Navais.
A RCO, além de propiciar o apres-
tamento para a principal destinação
constitucional da Marinha do Bra-
sil – a contribuição para a defesa da
Pátria – resultará na manutenção da Simulador de passadiço em fase de teste no Centro de Instrução Almirante Graça Aranha

Desembarque de Carros Lagarta Anfíbios (CLAnf)

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201443


Capacidade

capacidade da Força em realizar mis- de tecnologia prevista em contratos Salvamento (SAR, sigla do inglês Se-
sões de paz, ações de ajuda humanitá- de compensação. Além disso, apre- arch and Rescue), Patrulha Naval e Ins-
ria e operações de Garantia da Lei e senta elevada perspectiva de geração peção Naval, dentre outras.
da Ordem. Permitirá, também, que a de empregos diretos e indiretos, que
Marinha possa cumprir, com efetivi- proporcionarão melhores condições Modernização de Meios Aeronavais
dade, as suas atribuições subsidiárias, de vida a milhares de trabalhadores, A modernização dos meios aerona-
com ênfase na salvaguarda da vida fomentando a inclusão social. vais tem como propósito possibilitar
humana no mar; na prevenção contra o cumprimento das operações e ações
a poluição hídrica; e na repressão de Recuperação Operacional de Meios navais pela Esquadra e pelos Distritos
atos ilícitos, contra navios e instala- Navais Navais, contribuindo para o desenvol-
ções portuárias, e crimes transfron- Englobam ações para a revitaliza- vimento industrial por meio da nacio-
teiriços e ambientais, ampliando a fis- ção e a modernização dos navios da nalização da manutenção desses meios.
calização e a implementação de leis e Esquadra, da Diretoria de Hidrografia
regulamentos no mar e nas hidrovias e Navegação e dos Distritos Navais, Modernização de Meios de Fuzileiros
interiores, em cooperação com outros de modo que estes possam retornar à Navais
entes públicos. condição de capacidade operacional Engloba a modernização dos Carros
Esse Projeto contribuirá para o plena, para a consecução de tarefas, Lagarta Anfíbios, das Viaturas Blindadas
efeito multiplicador do esforço tec- visando contribuir para: de Transporte de Pessoal sobre Lagar-
nológico, concretizado pelo aumento • a defesa da Pátria, por meio da ta, a execução do Programa Geral de
do índice de nacionalização de siste- condução de operações e ações de Manutenção, além da substituição e/ou
mas, equipamentos e componentes guerra naval; e recompletamento da dotação de viatu-
de uso dual (civil e militar) e para a • o cumprimento das atribuições ras operativas, equipamentos de comu-
capacitação da indústria nacional, a subsidiárias da Marinha do Bra- nicações, armas leves, morteiros e equi-
partir, por exemplo, da transferência sil, realizando operações de Busca e pagens do Corpo de Fuzileiros Navais.

44
Recuperação Operacional dos Meios munição convencional, dos explosivos mar, podendo, também, ser utilizadas
Hidroceanográficos e pirotécnicos, e da munição inteli- em missões de apoio aéreo aproxima-
Possibilitará o incremento da ca- gente, como mísseis, bombas e minas. do, de ataque à alvos navais e terres-
pacidade para realizar importantes tres, de reconhecimento armado e de
atividades, com aplicação dual, como Recuperação Operacional dos Sistemas esclarecimento.
hidrografia, oceanografia, cartografia, de Defesa Antiaérea No mês de agosto de 2013, foi rea-
sinalização náutica, meteorologia e Prevê a realização de estudos para a lizado o voo experimental da primeira
apoio logístico, que contribuem para a otimização, a modernização e a aqui- aeronave modernizada, nas instala-
segurança da navegação, a salvaguarda sição de novos recursos, visando à ções da Embraer Defesa e Segurança,
da vida humana no mar e o desenvol- composição de um sistema de defesa na cidade de Gavião Peixoto (SP).
vimento de pesquisas científicas, em antiaérea compatível com as necessi- Esse projeto pretende, ainda, capa-
parceria com universidades, orgãos dades de proteção das estruturas es- citar a indústria aeronáutica nacional
públicos e entidades privadas ligadas tratégicas nacionais. a realizar, pela primeira vez, a moder-
à área de Ciência, Tecnologia e Inova- nização de uma aeronave tipicamente
ção (CT&I). Modernização de Aeronaves AF-1/1A naval, de fabricação estrangeira; con-
O contrato de modernização das tribuir para o desenvolvimento, no
Recuperação Operacional do Sistema de aeronaves Skyhawk (AF-1/1A), cele- País, de novas atividades e serviços em
Abastecimento da Marinha (SAbM) brado em 2009, entre a Marinha do engenharia, manutenção e treinamen-
Consiste na recuperação dos níveis de Brasil e a Embraer, prevê a moder- to, relacionados à atividade aeronáu-
estoque do SAbM, a fim de contribuir nização de 12 aeronaves e a revisão tica; e propiciar o envolvimento da
com o aprestamento dos meios da Força. geral de 12 motores. Uma vez mo- Embraer e da indústria brasileira na
dernizadas, essas aeronaves serão em- cadeia produtiva de itens e serviços
Recompletamento de munição pregadas em missões de interceptação necessários à manutenção das aerona-
Destina-se ao recompletamento da aérea para a defesa de forças navais no ves AF-1/1A

CARACTERÍSTICAS DO NAVIO DE PESQUISA HIDROCEANOGRÁFICO (NPqHo) “VITAL DE OLIVEIRA”

Navio de Pesquisa Hidroceanográfico “Vital de Oliveira”

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201445


Soberania pela
Ciência e Tenologia

ciência, tecnologia e
inovação
A Marinha do Brasil desenvolve tecnologias que, além de necessárias para a Força, são
fundamentais para o avanço do País

Fotos: Acervo fotográfico do CCSM

O Programa Nuclear da Marinha permitiu que o Brasil dominasse o ciclo do


combustível nuclear e construísse o conhecimento para projetar e construir plantas
nucleares de potência, resultando num salto tecnológico que dá ao País a credibilidade
para assumir um papel de destaque no cenário internacional.

P
or meio de seus Projetos Estra- equipamentos, na produção de com- em contratos de compensação off-set.
tégicos, que incentivam a trans- ponentes e materiais, no aperfeiçoa- No escopo do Programa Nucle-
ferência de tecnologia e avanços mento e na qualificação de pessoal e na ar da Marinha (PNM), o domínio
no campo da Ciência, Tecnologia e absorção de tecnologias transferidas. do ciclo do combustível nuclear, a
Inovação (CT&I), a Marinha do Bra- Projetos como a “Recuperação da construção do Laboratório de Ge-
sil caminha a passos largos com vistas Capacidade Operacional” e a “Cons- ração de Energia Nucleoelétrica
a sua atualização tecnológica, para se trução do Núcleo do Poder Naval” (LABGENE), e a construção de um
manter como uma Força moderna. contribuirão para o efeito multipli- reator tipo Pressurized Water Reactor
Grande parte dos sete Projetos cador do esforço tecnológico, con- (PWR), que será empregado na plan-
Estratégicos previstos no Plano de cretizado pelo aumento no índice de ta propulsora do primeiro submarino
Articulação e Equipamento da Mari- nacionalização de sistemas, equipa- com propulsão nuclear brasileiro, são
nha do Brasil (PAEMB) demandarão mentos e componentes de uso dual exemplos do potencial dos Projetos
esforços consideráveis em termos de – civil e militar – e para a capacita- Estratégicos da Marinha.
CT&I. Esses esforços concentram- ção da indústria nacional, a partir da O Programa de Desenvolvimento
se no desenvolvimento de sistemas e transferência de tecnologia prevista de Submarinos (PROSUB) é outro

46
projeto com grande potencial para
alavancar o setor de CT&I, em decor-
rência do salto tecnológico a ser vivi-
do pelo País, em função de um grande
processo de transferência de tecno-
logia, do fortalecimento da indústria
nacional e da melhoria da qualificação
técnica de profissionais brasileiros. O
PROSUB engloba:
• o projeto e a construção de um
Estaleiro e uma Base Naval em Ita-
guaí (RJ);
• a construção de quatro submari-
nos convencionais; e
• o projeto e a construção de um
submarino com propulsão nuclear.

A Secretaria de Ciência, Tecnologia e


Inovação da Marinha
No ano de 2008, acompanhando o
desenvolvimento tecnológico oriundo
da globalização e a crescente impor- Simulador de Passadiço desenvolvido pelo CASNAV em parceria com a Universidade
tância de oportunidades estabelecidas Federal Fluminense

pelo Governo Federal nas áreas de


CT&I, foi criada a Secretaria de Ci- A SecCTM possui como subordi- pesquisa operacional, segurança de
ência, Tecnologia e Inovação da Mari- nados diretos: o Instituto de Pesqui- sistemas digitais, computação e crip-
nha (SecCTM). sas da Marinha (IPqM), o Instituto de tologia, funciona no Rio de Janeiro e
Em 2012, a Secretaria foi elevada Estudos do Mar Almirante Paulo Mo- possui a expertise na área de softwares
ao nível de Orgão de Direção Seto- reira (IEAPM) e o Centro de Análises que apoiam a tomada de decisão.
rial, tendo à frente um Almirante-de de Sistemas Navais (CASNAV). O então Secretário de Ciência,
-Esquadra, para dar maior represen- O IPqM, localizado na Ilha do Tecnologia e Inovação da Marinha,
tatividade diante dos órgãos externos Governador (RJ), tem como tarefa a Almirante-de-Esquadra Wilson Bar-
de CT&I, como: o Ministério da Ci- pesquisa aplicada nas áreas de armas, bosa Guerra, explica o porquê de se
ência, Tecnologia e Inovação; o Mi- guerra eletrônica, materiais, sistemas investir em ciência e tecnologia: “A
nistério da Defesa; e os homólogos digitais e sistemas sonar. O IEAPM, vantagem de se investir nos projetos
das demais Forças. Fruto dessa mu- localizado em Arraial do Cabo (RJ), é de defesa e em ciência e tecnologia
dança, a Secretaria passou a ser o Ór- o Instituto de Ciência e Tecnologia do é que isso gera ganhos, tanto para a
gão Central do Sistema de Ciência e Mar, realizando atividades de Pesqui- economia, quanto para o desenvol-
Tecnologia da Marinha, exercendo a sa e Desenvolvimento (P&D) voltadas vimento do País. A nossa Secretaria
administração estratégica das ativi- para o ambiente marinho nas áreas de vem tentando moldar a pesquisa e o
dades científicas, tecnológicas e de acústica submarina, hidrografia, ocea- desenvolvimento na Marinha, para
inovação da Marinha, tendo a res- nografia, meteorologia, biologia, geo- que determinados objetivos priori-
ponsabilidade de normatizar o setor logia e geofísica marinhas, instrumen- tários se destaquem, também, pela
e se relacionar com todos os atores tação oceanográfica e sensoriamento inovação, produtividade e competiti-
que compõem o Sistema. remoto. O CASNAV, voltado para vidade brasileiras”.

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201447


Ciência e Tenologia

Maquete com vista interna do submarino com propulsão nuclear a ser construído no escopo do PROSUB

Parcerias identificar estudos, teses, projetos e o tempo de entrega dos projetos, em


Para que os avanços tecnológicos atividades de pesquisa de interesse da especial quanto aos de construção de
sejam alcançados em menor espaço MB. Os Escritórios planejam, coor- submarinos e navios de superfície.
de tempo, parcerias estratégicas são denam e executam projetos em par- Além das parcerias existentes com
essenciais. Assim, a Marinha do Bra- ceria e conduzem ações que contri- a UFF e UFRJ, a SecCTM assinou
sil vem buscando parceiros, nacionais buem para a captação de recursos Acordos de Cooperação Acadêmica,
e internacionais, para cooperar com extraorçamentários. Técnica e Científica com o Centro de
essa evolução. São universidades, em- A principal vantagem desse mode- Pesquisa e Desenvolvimento em Te-
presas, indústrias de defesa, dentre lo é ter acesso à infraestrutura de ins- lecomunicações (CPqD), em Campi-
outras, que contribuem com o avanço talações e ao potencial humano exis- nas (SP), a Pontifícia Universidade
tecnológico no campo científico. tente nas universidades, sem incorrer Católica do Rio de Janeiro (PUC
Nesse contexto, a SecCTM vem em custos elevados para a obtenção -Rio), a Universidade Católica de
consolidando importantes parcerias das soluções tecnológicas necessárias Santos (UNISANTOS) e a Universi-
estratégicas, firmadas principalmente aos projetos de CT&I da MB. dade de Santa Cecília (UNISANTA).
com universidades como, por exem- As parcerias preveem a realização Entende-se, portanto, que os inves-
plo, a Universidade Federal Flumi- de programas de cooperação técnico- timentos propostos pela Marinha do
nense (UFF) e a Universidade Fe- científicos, pesquisa aplicada, capacita- Brasil, voltados para seu crescimento
deral do Rio de Janeiro (UFRJ), por ção e treinamento de recursos huma- na área de ciência e tecnologia, produ-
meio dos Núcleos dos Escritórios nos, considerados de interesse comum. zem benefícios que afetam todo o País,
de Ciência e Tecnologia da Mari- Essa integração entre as univer- como: crescimento sustentável, gera-
nha instalados nessas academias. Em sidades e as instituições da Marinha ção de empregos diretos e indiretos,
2014, os Núcleos dos Escritórios de certamente permitirá que os recursos desenvolvimento da indústria nacional,
CT&I da MB, na UFF e na UFRJ, humanos sejam ampliados, com a in- redução de custos, ganhos em escala,
completarão seu terceiro ano de serção de professores doutores, mestres aumento da credibilidade com proje-
funcionamento. e graduandos nos projetos da Marinha, tos de grande visibilidade nacional e
Essa aproximação com as Insti- aumentando a capacidade da Força internacional, capacitação de pessoal e
tuições de Ensino Superior, busca em receber tecnologias e diminuindo transferência de tecnologia

48
Projetos em desenvolvimento de Carros de Combate “Almirante Saboia”, no Navio-Escola
“Brasil”, no Navio-Polar “Almirante Maximiano” e na Fragata
Dentre os principais projetos em desenvolvimento no
“Liberal” para a condução de testes e aperfeiçoamentos que
âmbito da SecCTM, estão:
a) Laboratórios de P&D em Sistemas Inerciais permitirão sua homologação para operação nos diversos na-

A Marinha assinou um Acordo de Cooperação com a Pe- vios da MB.


trobras com o propósito de elaborar e executar projetos para A empresa SIEM CONSUB, responsável pelo desenvolvi-
o estabelecimento de laboratórios de referência no desen- mento do SICONTA – sistema de controle tático das Fragatas
volvimento de Sistemas Inerciais. Instalados no Centro Tec- Classe “Niterói”, da Corveta “Barroso” e do Navio-Aeródro-
nológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) e no IPqM, mo “São Paulo” – desenvolve, em parceria com o IPqM, um
esses laboratórios possuirão a infraestrutura necessária para projeto para instalar um equipamento demonstrador, chama-
atender as necessidades em sistemas inerciais do PROSUB e do Unidade de Fusão de Dados Experimental (UFD-X), que
da Petrobras. permitirá a integração de dois radares do NAe “São Paulo”.
b) Comunicações Submarinas e) Laboratório de Avaliação de Vulnerabilidades de
O IEAPM está desenvolvendo uma estação de comuni- Sistemas Computacionais
cações submarinas, que consiste em uma interface digital Tem o propósito de implantar um Laboratório de Pes-
para a transmissão e a recepção de dados. O projeto prevê a quisas no CASNAV que servirá de base para o desenvol-
instalação da estação submarina de testes nas proximidades vimento de estudos em avaliação de segurança capazes de
do IEAPM e de um modem em um submarino. minimizar as vulnerabilidades de softwares e sistemas com-
c) Mina de Influência Acústico-Magnética e Pressão putacionais adotados pela MB. Possibilitará a realização de
Consiste na modernização das minas de fundo MCC-23C procedimentos de análise e de avaliações de segurança do
utilizadas pela MB e tem o propósito de desenvolver a capaci- código-fonte de software em distintas linguagens de progra-
dade para construir minas de fundo que empreguem soluções mação. Permitirá, ainda, pesquisar novas técnicas de con-
tecnológicas modernas e de domínio autóctone, utilizando trole para solução das vulnerabilidades de sistemas compu-
algoritmos de detecção desenvolvidos no País. Essas minas
tacionais, subsidiar ações de guerra cibernética e fomentar
serão empregadas, por exemplo, pelos submarinos convencio-
parcerias para o intercâmbio de informações de segurança
nais que estão sendo construídos no escopo do PROSUB.
com universidades e centros de pesquisas, reforçando o em-
d) Fusão de Dados
prego dual e a disseminação do conhecimento adquirido.
Modernos Sistemas de Comando, Controle, Comunica-
f) Laboratório de Simulação em Ambientes Virtuais e
ções e Inteligência têm incorporado mecanismos de fusão de
Modelagem Matemática
dados que consideram, correlacionam e classificam informa-
Tem a finalidade de prover uma infraestrutura de pesqui-
ções provenientes de múltiplos sensores.
sa na área de simulação em ambientes virtuais e modelagem
Na MB, a condução dos estudos nessa nova área tecnoló-
matemática para projetos estratégicos do CASNAV e para
gica está a cargo do IPqM, que foi escolhido como responsá-
as instituições de pesquisa parceiras. Esse tipo de ambiente
vel pelo desenvolvimento conjunto e absorção de tecnologias
é considerado um investimento de grande porte, pelo alto
relacionadas, no âmbito do Grupo de Trabalho Conjunto
(GTC) Brasil-França – acordo geral de transferência de tec- nível de complexidade dos equipamentos e softwares necessá-
nologia firmado entre os dois países. Fruto desse acordo, es- rios para o desenvolvimento, teste e avaliação de novas tec-
pecialistas franceses repassaram algoritmos que ampliaram o nologias nesta área.
domínio do IPqM no tema. O laboratório oferecerá aos pesquisadores a infraestru-
Uma parceria com a Fundação Projetos, Pesquisas e Es- tura básica necessária para fomentar projetos inovadores,
tudos Tecnológicos da UFRJ (COPPETEC) tem produzido tanto para a Marinha do Brasil, quanto para a Sociedade,
frutos significativos. O desenvolvimento do Centro Integra- contando com computadores de alto desempenho, sistemas
do de Sensores para Navegação Eletrônica (CISNE) é, atu- de projeção tipo “Caverna Virtual”, dispositivos de intera-
almente, o principal produto dessa tecnologia. Protótipos do ção homem-máquina, equipamentos de visão computacio-
CISNE encontram-se instalados no Navio de Desembarque nal e displays de alta resolução.

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201449


Desenvolvimento e
Artigo

soberania por meio dos


Projetos Estratégicos
Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto
Comandante da Marinha
R
epresentando uma nova pos- Armadas, na aprovação da Estrutura estratégico nacional, inserindo uma
tura, a Estratégia Nacional de Militar de Defesa e na elaboração do perspectiva de cooperação com os
Defesa (END) apresenta uma Livro Branco de Defesa Nacional. países da América do Sul e da África,
característica inédita para o Estado Recentemente aprovado pelo Con- extensiva às demais Nações amigas.
brasileiro, ao formular um planeja- gresso, esse Livro sintetiza e traduz Na “Amazônia Azul”, parcela bra-
mento de longo prazo para o cresci- um marco de transparência, por sileira desse espaço oceânico, onde
mento e a modernização da Defesa do meio do qual a sociedade poderá co- circulam cerca de 95% do comér-
País. Ao reconhecer a necessidade de nhecer o pensamento e as capacida- cio exterior nacional, estão situadas
transformação das Forças Armadas, a des do Estado, e avaliar, com clareza, enormes reservas petrolíferas e mi-
END atua na sua reorganização, na os desafios para o aprimoramento da nerais, abundantes recursos de bio-
reestruturação da base industrial de Defesa nas próximas décadas, ade- diversidade, dentre outros interesses
defesa e na política de recomposição quando-a à dimensão político-estra- no mar. O Brasil possui, ainda, mi-
dos seus efetivos. Transformar, nes- tégica de um Brasil forte e soberano, lhares de quilômetros de rios nave-
se caso, significa dotar as Forças de no qual torna-se indissociável o bi- gáveis e dezenas de portos e termi-
novas estruturas e capacidades para nômio “desenvolvimento e defesa”. nais marítimos, ao longo de cerca de
cumprir múltiplas missões e desempe- Isso ocorre em um momento sin- 8.500 quilômetros de costa, de onde
nhar as funções do combate moderno, gular, em que o País percebe, cada chegam e partem mais de 1.400
imersas na era da informação. vez mais, a importância do Atlânti- navios por dia, revelando a impor-
A reorganização das Forças co Sul como área de diálogo e paz, tância da atuação da Marinha nessa
acompanha a própria redefinição do livre de armas de destruição em extensa área litorânea e continental.
papel do Ministério da Defesa. Em massa e caracterizada por avanços A Marinha que almejamos legar
2010, a Lei Complementar nº 136 permanentes em variados campos, às futuras gerações deverá ser uma
orientou a reestruturação daquele dentre eles o da segurança maríti- Força moderna, equilibrada e ba-
Ministério, resultando na criação do ma. Avanços que extrapolam a massa lanceada, dispondo de meios navais,
Estado-Maior Conjunto das Forças continental em direção ao entorno aeronavais e de fuzileiros navais

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201453


compatíveis com a inserção políti- autônoma, inclusive nos setores es- fortalecimento da construção naval
co-estratégica do nosso País no ce- tratégicos e prioritários para a defe- no Brasil e para elevar o índice de
nário internacional. E, em sintonia sa, quais sejam: o nuclear, o espacial nacionalização e de transferência de
com os anseios da sociedade brasi- e o cibernético. tecnologias, num esforço sem pre-
leira, deverá estar permanentemente A reconfiguração da Força Naval cedentes na história brasileira. O
pronta para atuar, não só em águas deverá ocorrer de forma balanceada estabelecimento de novas indústrias
azuis, litorâneas e interiores, como entre os componentes submarino, possibilitará ao País alcançar uma
também sob a égide de organismos de superfície e aeronaval, de modo posição de destaque no cenário da
internacionais e em suporte à polí- a assegurar, prioritariamente, meios indústria naval e nos setores cien-
tica externa do País, visando contri- para negar o uso do mar a qualquer tífico, tecnológico e de inovação,
buir para a defesa da Pátria e para a concentração de forças que se apro- propiciando a criação de carteiras
salvaguarda dos interesses nacionais. xime do Brasil por via marítima, de encomendas, nacionais e interna-
Com esse propósito, foram esta- com atenção especial à faixa de mar cionais, de meios navais, aeronavais
belecidos os Projetos Estratégicos que vai de Santos a Vitória e à área e de fuzileiros navais, incentivando,
constantes do Plano de Articulação marítima nas proximidades da foz na mesma proporção, a iniciativa
e Equipamento da Marinha do Bra- do Rio Amazonas. privada, nacional e internacional,
sil (PAEMB), em cuja elaboração Não obstante as considerações nos setores produtivos. Além dis-
foram observadas as diretrizes da de ordem estratégica conexas à de- so, a consecução desses projetos
END, que estabelecem a necessida- fesa, cabem também considerações impulsionará, de forma ímpar, a
de premente do desenvolvimento de de cunho econômico e social. Os geração anual de expressivas opor-
projetos guiados pelos princípios da projetos da Marinha contribuirão tunidades de trabalho direto e indi-
independência nacional, a ser alcan- para alavancar o desenvolvimento reto, promovendo a inclusão social
çada pela capacitação tecnológica da base industrial de defesa, para o e o aprimoramento na formação de
milhares de cidadãos, contribuindo de defesa no País, possibilitando o aberta a novas abordagens.
substancialmente para o engrande- credenciamento de empresas estra- No entanto, nenhuma dessas ini-
cimento do País. tégicas de defesa e estabelecendo ciativas é mais importante que o in-
Desse modo, percebe-se que a es- incentivos ao desenvolvimento de centivo, a valorização e a capacitação
tatura do País requer uma Marinha tecnologias indispensáveis ao Brasil, do pessoal militar e civil da Marinha
preparada para a proteção do pa- como a redução do custo de produ- do Brasil. Não há como dissociar a
trimônio e dos recursos brasileiros ção das companhias legalmente clas- execução de complexas atividades
no mar. Essa é uma das dimensões sificadas como estratégicas. realizadas em organizações mili-
da END, que deve ser vinculada ao Com a perspectiva de uma recu- tares em terra, a bordo dos navios,
incentivo do Estado à obtenção de peração orçamentária, nos próximos aeronaves e unidades de fuzileiros
uma defesa autóctone, empenhada anos, teremos maior capacidade de navais, com equipamentos no esta-
com a continuidade dos projetos superar as persistentes dificuldades do da arte, de uma sólida base de
estratégicos em curso no País, fo- conjunturais que ainda se apresen- atributos morais e profissionais, que
mentando os investimentos e, con- tam, o que permitirá empreender im- deverão, por sua vez, estar associa-
sequentemente, o renascimento da portantes ações, capazes de fazer com dos à concreta vontade de servir à
indústria de defesa. Como exemplo, que a Força continue a trilhar o ca- Marinha e à Nação.
foi muito importante a aprovação, minho do crescimento.Cabe destacar É desse modo que a Marinha do
pelo Congresso Nacional, da Lei que permanece o imperativo da busca Brasil pretende enfrentar e vencer os
nº 12.598 de 2012, regulamenta- por soluções e ações inovadoras que grandes desafios vindouros, sempre
da pelo Decreto nº 7.970 de 2013, contribuam para recuperar, manter norteada pela obstinação em bem
que constitui um marco legal para as e alavancar o preparo e a aplicação cumprir a nobre missão de defender
compras, as contratações e o desen- do Poder Naval. Algo que demanda a Pátria, garantindo os interesses e o
volvimento de produtos e sistemas postura empreendedora, dinâmica e patrimônio brasileiro no mar

MARINHA em Revista Ano 04 • Número 10 • Junho 201455


Projetos Estratégicos da
Marinha do Brasil Construção do Núcleo
do Poder Naval
Ampliação da capacidade
Programa Nuclear da Marinha operacional, aumento da
Desenvolvimento do ciclo de quantidade de meios navais,
combustível nuclear e do Laboratório aeronavais e de fuzileiros
de Geração de Energia Nucleoelétrica navais e o correspondente
(LABGENE). incremento do número
de organizações militares
Recuperação da
operativas, de apoio logístico
Capacidade Operacional
Revitalização e modernização 1 e administrativas.
das estruturas da MB,
bem como de meios,
recompletamento de munição e
7 2
manutenção operativa.
Sistema de Gerenciamento
da “Amazônia Azul”
Desenvolvimento do
sistema de monitoramento
Segurança da Navegação e controle das águas
Criação e ampliação de jurisdicionais brasileiras
(AJB) e de interesse do
organizações militares do
Sistema de Segurança do 6 3 Brasil no Atlântico Sul.
Tráfego Aquaviário.

Complexo Naval da
2a Esquadra e da 2a FFE
Construção do Complexo
Pessoal - “Nosso Maior Patrimônio” 5 4 Naval da 2ª Esquadra e da
Aumento da força de trabalho da 2ª Força de Fuzileiros da
MB e ampliação dos Sistemas Esquadra no norte/nordeste
de Ensino Naval, de Saúde e de do País.
Assistência Social.

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