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RESUMO
1
Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção
do grau de Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, aprovado, com grau máximo, pela banca examinadora composta pelo orientador
Prof. Me. Rodrigo Moraes de Oliveira, Prof. Me. Alexandre Wunderlich e Prof. Phd. Fábio Roberto
D'ávila, em 03 de dezembro de 2007.
2
José Afonso da Silva, por sua vez, apenas insere o tribunal do júri entre as
garantias penais jurisdicionais que protegem o indivíduo contra atuações arbitrárias,
afirmando que, pelo amparo constitucional que recebe, outro tribunal não pode
reformar o mérito da decisão do júri, podendo apenas anular o processo por vício de
forma, sem mudar, no entanto, o mérito do julgamento.6
4
TORRES, Magarinos. Processo penal do juri no Brasil. Rio de Janeiro: Jacintho, 1939. p. 20.
5
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 110.
6
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. atual. São
Paulo: Malheiros, 2005. p. 439.
7
CRETELLA JÚNIOR, op. cit., p. 468-469.
4
8
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo, SP: Juarez de
Oliveira, 1999. p. 57.
9
Idem, Código de Processo Penal Comentado: Estudo integrado com Direito Penal e Execução
Penal, Apresentações Esquemáticas da matéria. 5. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Rev. dos
Tribunais, 2006. p. 666-667.
5
julgar, e o fazem de acordo com sua consciência, sem ficar adstritos à lei e à prova,
como ficam os juízes togados10.
10
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 27. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva,
2005. v. 4. p. 95.
11
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri. São Paulo: Edição Saraiva, 1963. v. 1. p. 53.
12
CASTRO, Kátia Duarte de. O júri como instrumento do controle social. Porto Alegre: S. A.
Fabris, 1999. p. 45.
6
a mesma condição do acusado, sendo, para tanto, seus pares, para que não haja
suspeita do réu ter caído nas mãos de pessoas propensas a lhe tratar com
violência.13
Assim, já nos primórdios da criação do júri moderno ele surgi com a missão
de retirar das mãos do déspota o poder de decidir contrário aos interesses da
sociedade, como uma tábua de salvação, nascendo daí o princípio do devido
processo legal.14
Nesse ponto de vista, Moraes definiu que a instituição do júri é vista como
uma prerrogativa democrática do cidadão, que deverá ser julgado pelos seus
semelhantes.15
13
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução de: Ana Paula Zomer
Sica, Fauzi Hassan Choukr, Juarez Tavares e Luiz Flávio Gomes. 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Rev.
dos Tribunais, 2006. p. 531.
14
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 9. ed. rev. ampl. atual. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Júris, 2005. p. 485.
15
MORAES, op. cit., p. 110.
16
BUENO, José Antônio Pimenta, Marquês de São Vicente. Direito público brasileiro e a análise
da constituição do Império. Rio de Janeiro: J. Villeneuve, 1857. 2 v. p. 329-331.
17
Ibidem, p. 329-331.
7
Por fim, garantiu que é uma grande vantagem o poder-se substituir, dar
preferência “à certeza, à prova moral em vez da certeza ou prova legal”,
conceituando a última como inflexível, absoluta, invariável e muitas vezes absurda e
irracional, podendo inclusive forçar a consciência do julgador contra o que ela leal,
sincera e intimamente está reclamando.19
Torres, por sua vez, ressalta que a função de jurado não constitui um direito
e sim honra e distinção, confiadas ao critério das autoridades judiciárias, além de
18
BUENO, José Antônio Pimenta, Marquês de São Vicente. Direito público brasileiro e a análise
da constituição do Império. Rio de Janeiro: J. Villeneuve, 1857. 2 v. p. 329-331.
19
Ibidem, p. 329-331.
20
Idem. Apontamentos sobre o processo criminal brasileiro. Rio de Janeiro: Empr. Nacional do
Diário, 1857. p. 38-39.
21
Ibidem, p. 38.
22
Ibidem, p. 38-39.
23
Ibidem, p. 39.
8
Enfrentando as críticas feitas ao júri, argumenta que as próprias leis não são
feitas por jurisperitos, podendo assim os jurados serem leigos, pois para eles basta a
sabedoria da vida, exercendo a faculdade de deixar de lado a lei em preponderância
à justiça.26
de qualquer natureza (art. 5º caput, CF)”, e explicou que o julgamento pelos pares
significaria apenas “a garantia de um ser humano leigo julgando outro”, justificando
que cultura ou formação não são qualidades justificadoras da dispensa de um
jurado.29
29
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado: Estudo integrado com
Direito Penal e Execução Penal, Apresentações Esquemáticas da matéria. 5. ed. rev. atual.
ampl. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2006. p. 719-720.
10
30
LOPES JÚNIOR, Aury Celso Lima. Introdução crítica ao processo penal: (fundamentos da
instrumentalidade garantista). Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. p. 139.
31
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo, SP: Juarez de
Oliveira, 1999. p. 49.
32
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional. 6. ed. rev. Coimbra: Almedina,
1993. p. 531.
11
33
CANOTILHO, op. cit., p. 528.
34
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 5. ed. rev. atual. ampl. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 150.
35
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo, SP: Juarez de
Oliveira, 1999. p. 54.
12
de 1946: soberania dos veredictos, sigilo das votações e plenitude da defesa, além
da previsão de competência mínima para os crimes dolosos contra a vida.36
José Afonso da Silva, por seu turno, referindo-se ao júri, foi muito claro ao
declarar que: “(...) não parece mais cabível mantê-lo entre as garantias
constitucionais individuais, pois aqui sua função não tem maior importância do que
se fosse previsto entre os órgãos do Poder Judiciário.”38
36
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado: Estudo integrado com
Direito Penal e Execução Penal, Apresentações Esquemáticas da matéria. 5. ed. rev. atual.
ampl. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2006. p. 666.
37
Idem. Júri: princípios constitucionais. São Paulo, SP: Juarez de Oliveira, 1999. p. 49.
38
SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à constituição. São Paulo: Malheiros, 2005. p.
136.
39
PORTO, Hermínio Alberto Marques. Júri: procedimento e aspectos do julgamento,
questionários. 11. ed. amp. atual. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 124.
13
garantias individuais”. Fôsse essa a única razão de ser do Júri e êle deveria
40
ser imediatamente abolido.
40
TORNAGHI, Hélio. Instituições de processo penal. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 1977-
1978. v. 2. p. 97.
41
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo, SP: Juarez de
Oliveira, 1999. p. 55.
42
PORTO, op. cit., p. 124.
14
Neste sentido, a previsão dos incisos LIII, LIV e LV, do mesmo artigo citado,
reforçam a idéia, respectivamente: de um julgamento por autoridade competente; de
nenhuma restrição à liberdade sem antes da ocorrência de um devido processo
legal; e a garantia da existência em processo judicial ou administrativo do
contraditório e da ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. Como
bem define Cretella Júnior: “A regra da ‘ampla defesa’ abrange a regra do
‘contraditório’, completando-se os princípios que as informam e que se resumem no
postulado da liberdade integral do homem diante da prepotência do Estado.”48
43
Ressalta a garantia à liberdade quando apregoa que todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
44
Protege a liberdade do indivíduo, deixando expresso que lei alguma excluíra da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
45
Anuncia que não haverá juízo ou tribunal de exceção.
46
Promulga que não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.
47
Consubstanciado no princípio da irretroatividade da lei penal, podendo ser interpretado de modo
que não poderá ser restringida a liberdade do indivíduo por lei posterior ao ilícito penal.
48
CRETELLA JÚNIOR, op. cit., p. 534.
49
Ibidem, p. 528-530.
15
(...) é certo que o júri não faz parte de uma garantia elementar ao direito de
liberdade. (...) o direito à liberdade pode ser restringido pela aplicação da
pena, após o devido processo legal, perfeitamente possível perante o
imparcial juiz togado; logo, possuir ou não o júri, é única e tão-somente uma
51
decisão política, mas não uma garantia fundamental.
Este autor também deixa claro que em hipótese alguma se pode considerar
o tribunal do júri como uma garantia direta ao direito de liberdade, pois essa
conotação lhe iria conferir o errôneo caráter de órgão protetor do agente acusado da
prática de um delito.52
Em segundo lugar, como visto, Nucci expõe que o júri é defendido como a
manifestação do direito do cidadão de participação na administração da justiça do
país.53
50
CRETELLA JÚNIOR, op. cit., p. 538.
51
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo, SP: Juarez de
Oliveira, 1999. p. 55-56.
52
Ibidem, p. 202.
53
Ibidem, p. 55.
16
Na realidade este ideal advém da idéia de democracia, que por sua vez,
repousa sobre dois princípios: o da soberania popular, segundo o qual o povo é a
única fonte do poder, que se exprime pelo preceito de que todo poder emana do
povo; e o da participação, direta ou indireta, do povo no poder, para que este seja
efetiva expressão da vontade popular.55
Em conclusão assevera:
54
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. atual. São
Paulo: Malheiros, 2005. p. 180.
55
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. atual. São
Paulo: Malheiros, 2005. p. 131.
56
VASCONCELOS, L.C., A supressão do Júri. Ceará: Editora Instituto do Ceará, 1955. p. 81.
57
Ibidem, p. 90.
17
Continua: “No júri, os iguais não julgam os iguais, basta verificar a formação
do conselho de sentença: em regra, funcionários públicos e profissionais liberais. E
58
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 139.
59
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 139.
60
Ibidem, p. 140.
61
RANGEL, Paulo. Tribunal do Júri: Visão Lingüística, Histórica, Social e Dogmática. Rio de
Janeiro: Editora Lumen Júris, 2007. p. 88-89, 96 e 98.
18
Conforme já nos foi dado exemplificar, uma lista composta somente por
funcionários públicos é, sob o aspecto legal, idônea, mas não é
democrática, por eleger um setor da comunidade em detrimento dos
63
demais. De igual modo, a lista anual com Jurados “vitalícios”.
Neste instante, não podemos esquecer que, quando os réus não pertencem
ao nosso convívio eles são criminosos, mas, quando pertencem, são garotos
travessos que cometeram travessuras e não crimes (como o caso do Índio Pataxó e
do garçom que foi covardemente agredido por jovens de classe média de
determinada cidade do Planalto Central).64
Trata-se, na verdade, de uma luta entre classes que, sem que percebamos
ocorre diariamente no plenário do tribunal do júri. O leitor já viu um morador
do morro ou favela fazer parte do corpo de jurados? Não precisa ser do
62
Idem. Direito processual penal. 9. ed. rev. ampl. atual. Rio de Janeiro: Editora Lumen Júris, 2005.
p. 483.
63
TUBENCHLAK, James. Tribunal do júri: contradições e soluções. 5. ed. São
Paulo: Saraiva, 1997. p. 194.
64
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 9. ed. rev. ampl. atual. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Júris, 2005. p. 520-521.
65
Ibidem, p. 522.
19
mesmo morro ou favela do acusado por questões óbvias, mas uma pessoa
que conheça aquela realidade por viver e não por ler nos jornais? Não, claro
que não. Já viu o juiz enviar ofício à associação de moradores de uma
comunidade pobre solicitando nomes de pessoas, idôneas, para integrarem
o corpo de jurados? É obvio que não e a resposta Deles seria a seguinte:
não posso chamar para integrar o corpo de jurados pessoas que têm
proximidade com os possíveis autores do fato. Tenho que preservá-las.
Todavia, quando jovens de classe média alta espancam, por exemplo, um
índio ou garçom que estava trabalhando em um bar em um Estado da
Federação, quem os julga não são os integrantes daquela comunidade
indígena nem o sindicato dos garçons, óbvio, mas a classe média formada
por funcionários públicos e profissionais liberais que convivem com eles no
mesmo espaço, freqüentam o mesmo clube, cujos filhos estudam no
mesmo colégio e/ou faculdade.66
Caindo por terra estes dois fundamentos legitimantes abordados por Nucci
(direito à liberdade garantido pelo devido processo legal e a manifestação do direito
do cidadão de participação na administração da justiça do país), subsistem ainda
aqueles citados anteriormente no título correspondente (1 O argumento do júri como
direito fundamental).
66
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 9. ed. rev. ampl. atual. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Júris, 2005. p. 521.
67
Idem. Tribunal do Júri: Visão Lingüística, Histórica, Social e Dogmática. Rio de Janeiro:
Editora Lumen Júris, 2007. p. 111.
68
TORRES, op. cit., p. 20.
20
Vascondelos critica:
Não sabemos que escola é essa, em que o júri, as mais das vêzes, longe
de refletir a opinião pública, escandaliza-a com absolvições inescrupulosas,
ou decide com extrema benevolência, quando não julga com excessivo
rigor, nas causas que afetam sua classe. Longe de ser um aprendizado,
suas decisões constituem um mau exemplo para os espíritos mal formados
69
e um estímulo para a prática delituosa.
O jury é uma escóla que confirma pela experiencia de todos os dias o que já
entrou na consciencia popular: que a lei não é igual para todos, que os
poderosos a evitam e que só nos pobres e desprotegidos faz sentir a sua
70
acção!
69
VASCONELOS. op. cit., p. 79.
70
GAROFALO, R. Criminologia: estudo sobre o delicto e a repressão penal. Tradução de: Júlio
Matos. São Paulo: Teixeira e Irmão Editores, 1893. p. 439.
71
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo, SP: Juarez de
Oliveira, 1999. p. 189.
72
Ibidem, p. 189-190.
21
73
Ibidem, p. 191.
74
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo, SP: Juarez de
Oliveira, 1999. p. 189.
75
TORRES, op. cit., p. 20.
76
VASCONCELOS, op. cit., p. 79.
22
O Juiz não tem por que ser um sujeito representativo, posto que nenhum
interesse ou vontade que não seja a tutela dos direitos subjetivos lesados deve
condicionar seu julgamento. Sequer o interesse da maioria ou da totalidade dos
lesados deve condicionar o julgamento do Juiz, pois, ao contrário do Executivo ou do
Legislativo, poderes da maioria, o Poder Judiciário julga em nome do povo81, que
exprime o conjunto de pessoas vinculadas de forma institucional e estável a um
77
CRETELLA JÚNIOR, op. cit., p. 468-469.
78
MARQUES, op. cit., p. 88.
79
VASCONCELOS, op. cit., p. 74.
80
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 139.
81
Ibidem, p. 140.
23
Em outras palavras:
Além disso, de nada serviria um Juiz eleito, se não lhe damos as garantias
orgânicas da magistratura e exigimos que assuma sua função de garantidor.85
O juiz não deve ter qualquer interesse, nem geral nem particular, em uma
ou outra solução da controvérsia que é chamado a resolver, sendo sua
função decidir qual delas é verdadeira qual é falsa. Ao mesmo tempo ele
não deve ser um sujeito “representativo”, não devendo nenhum interesse ou
desejo – nem mesmo da maioria ou da totalidade dos cidadãos –
condicionar seu julgamento que está unicamente em tutela dos direitos
subjetivos lesados (...), contrariamente aos poderes executivo e legislativo
que são poderes da maioria, o juiz julga em nome do povo, mas não da
86
maioria, em tutela das liberdades também das minorias.
(...) ele não é representativo, mas sujeito somente à lei e obrigado a buscar
o verdadeiro, quaisquer que sejam os sujeitos julgados e contingentes
87
interesses dominantes. O juiz, diversamente dos órgãos dos Poderes
88
Legislativo e Executivo, não deve representar nem maiorias nem minorias.
82
BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 10. ed. rev. atual. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 76.
83
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 140.
84
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 140.
85
Ibidem, p. 140.
86
FERRAJOLI, op. cit., p. 534.
87
Ibidem, p. 535.
88
Ibidem, p. 548.
89
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo, SP: Juarez de
Oliveira, 1999. p. 57.
24
Portanto, a relevância histórica do júri é inegável, mas tal força deixou de ser
uma marca a partir do momento em que o Judiciário tornou-se independente e
passou a ser constituído de homens probos e libertos do jugo governista, não sendo
atualmente a única instituição privilegiada de aplicar a lei ao caso concreto.92
Além disso, o júri é órgão do Poder Judiciário e este sim é o grande defensor
do povo contra os eventuais abusos do Estado, sendo justamente por isso que a
Constituição menciona que nenhuma lesão será excluída da apreciação do Poder
Judiciário.94
90
Ibidem, p. 57.
91
RANGEL, Paulo. Tribunal do Júri: Visão Lingüística, Histórica, Social e Dogmática. Rio de
Janeiro: Editora Lumen Júris, 2007. p. 90.
92
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo, SP: Juarez de
Oliveira, 1999. p. 186.
93
Ibidem, p. 189.
94
Ibidem, p. 190.
25
Nas provincias napolitanas o terror dos camorristas é tal que para obter a
condemnação d’elles é necessário fazel-os julgar em terra muito distante
d’aquella em que o crime foi praticado. O mesmo succede em Sicilia
relativamente aos attentados em que entra a Mafia. Na Romania é muito
difficil, pelo medo que inspiram os contrabandistas, fazer condemnar os
crimes de sangue quando as victimas são guardas fiscaes.97
Este mesmo autor conclui ainda que foi por preconceito que se quis adotar o
júri em quase todos os Estados que tem uma Constituição livre98, pois, se realmente
livre é a Constituição, mesmo que abolido o júri, os princípios liberais ficariam
intactos.99
95
Ibidem, p. 185.
96
VASCONCELOS, op. cit., p. 77.
97
GAROFALO, op. cit., p. 431.
98
Ibidem, p. 421.
99
Ibidem, p. 443.
100
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. atual. São
Paulo: Malheiros, 2005. p. 439.
26
Mas, ainda neste caso, como ressalta Lopes Júnior, “Esse ‘novo’ júri será
composto por outros jurados, mas como o espetáculo será realizado pelos mesmos
‘atores’, em cima do mesmo ‘roteiro’ e no mesmo cenário, a chance de o resultado
final ser igual é imensa.”101
101
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 143.
102
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 144.
103
Ibidem, p. 144.
104
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado: Estudo integrado com
Direito Penal e Execução Penal, Apresentações Esquemáticas da matéria. 5. ed. rev. atual.
ampl. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2006. p. 54.
27
Em outras palavras, o que se viu até aqui é que tudo aquilo que o júri
procura assegurar senão é merecido ser assegurado, por não ter razão de assim o
ser, já está protegido na própria Constituição, com normas genéricas com até maior
amplitude de garantias, levando-nos a crer, portanto, que o instituto do tribunal do
júri não passa de mera forma procedimental, não havendo argumentos que
justifiquem sua permanência no rol dos “Direitos e Garantias Fundamentais”.
105
TOURINHO FILHO, op. cit., p. 95.
106
CASTRO, op. cit., p. 45.
107
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 11ª ed. São Paulo:
Saraiva, 1982. p. 286.
28
Inicialmente, quanto ao destaque feito por Moraes ao fato de que ser julgado
pelos semelhantes é uma prerrogativa democrática108, como já fundamentado no
subtítulo anterior, isto é uma idéia reducionista do que representa a democracia.
No que diz com a justiça emanar do povo109 que pode decidir e ser julgado
como e por pessoas comuns, formadas em um conselho naquela comunidade,
acostumadas com os hábitos regionais e não viciados à prática jurisdicional110,
argumentos utilizados por Cretella Júnior e Bueno, tal fundamentação também não
oferece subsídios suficientes para legitimar o júri.
108
MORAES, op. cit., p. 110.
109
CRETELLA JÚNIOR, op. cit., p. 468-469.
110
BUENO, José Antônio Pimenta, Marquês de São Vicente. Apontamentos sobre o processo
criminal brasileiro. Rio de Janeiro: Empr. Nacional do Diário, 1857. p. 38-39.
111
VASCONCELOS, op. cit., p. 75.
29
Os juízes que digam qual o proveito que tiram do contacto com os jurados e
suas decisões... Se as decisões do júri raramente traduzem a opinião
pública e se raramente encarnam o verdadeiro espírito de justiça, que
exemplo poderia dar o júri para os juízes togados, a quem usurpa a função
113
de julgar?
112
Ibidem, p. 75-76.
113
VASCONCELOS, op. cit., p. 80.
114
TORNAGHI, Hélio. Compêndio de processo penal. Rio de Janeiro: J. Konfino, 1967. 4 v. p. 255.
115
VASCONCELOS, op. cit., p. 86.
116
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 145.
30
Mas por muito pouco aptos que sejam os juristas penaes, elles são sempre
preferiveis, todavia, aos jurados designados pela sorte, expediente infeliz de
epochas barbaras perpetuado até aos nossos dias como instituição
117
inseparavel da liberdade politica de um paiz.
117
GAROFALO, op. cit., p. 421.
118
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 146.
119
Idem. Colocação exposta na III Jornada Lia Pires de Tribunal do Júri: delito, direito e sociedade,
ocorrida entre os dias 24 e 26 de abril de 2006. Palestra: Instrumentalidade garantista e
Tribunal do Júri, no dia 24 de abril de 2006, anotação feita por Raccius Twbow Potter.
120
Idem. Introdução crítica ao processo penal: (fundamentos da instrumentalidade
garantista). Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. p. 141.
121
GAROFALO, op. cit., p. 422.
31
122
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 141.
123
GAROFALO, op. cit., p. 427.
124
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo, SP: Juarez de
Oliveira, 1999. p. 338.
125
BUENO, José Antônio Pimenta, Marquês de São Vicente. Apontamentos sobre o processo
criminal brasileiro. Rio de Janeiro: Empr. Nacional do Diário, 1857. p. 38-39.
32
O Juiz leigo (...), vai decidir, no júri, por íntima convicção, sem dar seus
motivos e sem, necessariamente, vincular-se à lei. Daí porque é
extremamente sensível à opinião pública. (...). Eis por que é maléfica a
atuação da imprensa na divulgação de casos sub judice, especialmente na
esfera criminal e, pior ainda, quando relacionados ao Tribunal do Júri.
Afinal, quando o jurado dirige-se ao fórum, convocado para participar do
julgamento de alguém, tomando ciência de se tratar de “Fulano de Tal”,
conhecido artista que matou a esposa e que já foi “condenado” pela
imprensa e, conseqüentemente, pela “opinião pública”, qual isenção terá
para apreciar as provas e dar o seu voto com liberdade e fidelidade às
provas?127
126
RANGEL, Paulo. Tribunal do Júri: Visão Lingüística, Histórica, Social e Dogmática. Rio de
Janeiro: Editora Lumen Júris, 2007. p. 31.
127
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo, SP: Juarez de
Oliveira, 1999. p. 104.
128
Ibidem, p. 33.
33
Vasconcelos arrazoa:
129
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 140.
130
Ibidem, p. 77.
131
GAROFALO, op. cit., p. 428.
132
Ibidem, p. 438.
133
Ibidem, p. 431.
134
Ibidem, p. 432.
34
Por fim, afora influencias externas, cabe destacar que em plenário, vários
fatores podem exercer controle sobre a decisão dos jurados, sendo imensurável a
diferença da facilidade com que um julgamento por Juizes leigos torna-se parcial
com aquele decidido por Juiz togado:
No que diz com a colocação de Tourinho Filho sobre os jurados não terem
de ficar presos às provas processuais ou justificativas jurídicas para absolvição ou
condenação136, bem como, segundo Tornaghi, que o júri é preferível nos
julgamentos em que a motivação tem maior importância, pois o jurado é quem
melhor avalia os motivos do crime em determinado ambiente137, na realidade, este
fator nem pode ser considerado positivo para o julgamento.
135
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo, SP: Juarez de
Oliveira, 1999. p. 158.
136
TOURINHO FILHO, op. cit., p. 98.
137
TORNAGHI, Hélio. Compêndio de processo penal. Rio de Janeiro: J. Konfino, 1967. 4 v. p. 255.
35
Importante ressaltar a visão dada por Bueno, quando aduz que em todo
julgamento há duas operações: a do fato e a do direito. Este autor argumenta que a
primeira operação é simples, demanda apenas o bom senso e sincera expressão da
convicção pessoal, enquanto que a segunda, operação do direito, demanda
conhecimento profissional, ciência e inteligência das leis, e o reconhecimento da
disposição do direito prévio à hipótese dada.138
No mesmo sentido:
Como cita Lopes Júnior: “O golpe fatal no júri está na absoluta falta de
motivação do ato decisório.”145
142
Ibidem, p. 85.
143
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo, SP: Juarez de
Oliveira, 1999. p. 183.
144
Idem. Código de Processo Penal Comentado: Estudo integrado com Direito Penal e
Execução Penal, Apresentações Esquemáticas da matéria. 5. ed. rev. atual. ampl. São
Paulo: Rev. dos Tribunais, 2006. p. 667.
145
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 142.
37
sim explicar o porquê da decisão, o que levou a tal conclusão sobre autoria e
materialidade.146
Rangel aprofunda:
Não faz sentido que o poder emane do povo e seja exercido em seu nome,
por intermédio dos seus representantes legais, mas quando diretamente o
exerça não o justifique para que possa lhe dar transparência. Todos atos do
Poder Judiciário devem ser motivados, e o júri não pode fugir dessa
151
responsabilidade ética.
146
Ibidem, p. 142.
147
Ibidem, p. 142-143.
148
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 143.
149
Ibidem, p. 143.
150
RANGEL, Paulo. Tribunal do Júri: Visão Lingüística, Histórica, Social e Dogmática. Rio de
Janeiro: Editora Lumen Júris, 2007. p. 123.
151
Ibidem, p. 124.
38
atual, não há espaço para uma decisão sem arrimo e justificativa em meio idôneo de
prova, razão pela qual também se deve refutar o sistema de íntima convicção.152
Complementando:
152
Ibidem, p. 124-125.
153
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 143.
154
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 143.
155
ALBERNAZ, Flávio Böechat. O Princípio da Motivação das Decisões do Conselho de Sentença.
Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, nº 19, p. 55, jul/set. 1997.
39
E conclui:
Ainda, dissertou que ser jurado deveria ser direito fundamental de todo e
qualquer cidadão e não obrigatoriedade aos maiores de vinte e um anos com notória
idoneidade, pois “Isso, por si só, não é o suficiente para entregar nas mãos do outro
156
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 9. ed. rev. ampl. atual. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Júris, 2005. p. 454-455.
157
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 9. ed. rev. ampl. atual. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Júris, 2005. p. 455.
158
BUENO, José Antônio Pimenta, Marquês de São Vicente. Apontamentos sobre o processo
criminal brasileiro. Rio de Janeiro: Empr. Nacional do Diário, 1857. p. 39.
159
RANGEL, Paulo. Tribunal do Júri: Visão Lingüística, Histórica, Social e Dogmática. Rio de
Janeiro: Editora Lumen Júris, 2007. p. 98.
40
a vida humana como bem maior que deve ser preservado, sem que haja uma maior
responsabilidade de quem julga.”160
160
Ibidem, p. 115.
161
VASCONCELOS, op. cit., p. 74-75.
162
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo, SP: Juarez de
Oliveira, 1999. p. 330-331.
163
TORNAGHI, Hélio. Compêndio de processo penal. Rio de Janeiro: J. Konfino, 1967. 4 v. p. 251-
256.
41
164
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 146.
165
NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo, SP: Juarez de
Oliveira, 1999. p. 182.
166
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 147.
167
Ibidem, p. 147.
42
Além da clara contribuição ao julgar com juízes técnicos, com saber jurídico
indiscutível, talvez a maior contribuição do sistema do escabinato esteja no
intercâmbio do saber.
Neste sistema, o que se sugere é que os juízes leigos sejam somente leigos
em relação à matéria jurídica, à disciplina do direito, mas técnicos em áreas úteis ao
julgamento, como em economia (para julgamentos que envolvam questões
comercias), em educação e pedagogia (para julgamentos de crianças e
adolescentes), em informática (para delitos cometidos por Internet), em psiquiatria,
sociologia e antropologia (em relação às causas criminais), entre outros.169
168
Ibidem, p. 147.
169
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 148.
170
Ibidem, p. 148.
43
171
Ibidem, p. 149.
172
Ibidem, p. 148-149.
173
Ibidem, p. 148.
174
LOPES JÚNIOR, op. cit., p. 148.
175
Ibidem, p. 149-150.
44
CONCLUSÃO
Isto significa dizer que não foram poucos os estudiosos que se debruçaram
neste tema na tentativa de reconstruir seu esqueleto e motivação no momento de
sua criação e expansão pelo mundo.
176
Ibidem, p. 150.
45
d) proteger contra atuações arbitrárias, pois embora outro tribunal não possa
reformar o mérito da decisão do júri, esta “proteção” enclausura o julgamento do
mérito nos crimes dolosos contra vida, não podendo ser revisados por outro tribunal,
somente pelo próprio tribunal do júri, e sendo arbitrária reiteradamente a decisão dos
jurados, assim permanecerá;
g) certificar que a justiça emane do povo que pode decidir e ser julgado
como e por pessoas comuns, formadas em um conselho naquela comunidade,
46
Salutar lembrar que a extinção do júri não iria resolver todos os problemas
existentes no processo penal. Na verdade, o Código de Processo Penal merece uma
reforma ampla e interdisciplinar, pois nada justifica a inércia legislativa neste sentido.
impossível para extinção do rito, que ele sofra uma modificação estrutural com a
instalação de uma forma de escabinato, conforme referido na pesquisa.
REFERÊNCIAS
BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 10. ed. rev. atual. São Paulo: Malheiros,
2003.
BUENO, José Antônio Pimenta, Marquês de São Vicente. Direito público brasileiro
e a análise da constituição do Império. Rio de Janeiro: J. Villeneuve, 1857. 2 v.
CASTRO, Kátia Duarte de. O júri como instrumento do controle social. Porto
Alegre: S. A. Fabris, 1999.
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução de: Ana
Paula Zomer Sica, Fauzi Hassan Choukr, Juarez Tavares e Luiz Flávio Gomes. 2.
ed. rev. ampl. São Paulo: Rev. dos Tribunais, 2006.
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri. São Paulo: Edição Saraiva, 1963.
v. 1.
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 9. ed. rev. ampl. atual. Rio de Janeiro:
Editora Lumen Júris, 2005.
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 5. ed. rev. atual.
ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev.
atual. São Paulo: Malheiros, 2005.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 27. ed. rev. atual. São
Paulo: Saraiva, 2005. v. 4.