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Universidade de Brasília

Departamento de História
Disciplina: Tópicos Especiais em História Medieval 2
2º Semestre de 2016

AS LUTAS SOCIAIS EM FLORENÇA (1177)

Brasília, novembro de 2016.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO
2. AS LUTAS SOCIAIS EM FLORENÇA
2.1. Desenvolvimento urbano
2.2. Gente nouva
2.3. As lutas sociais em Florença (1177)
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
5. ANEXO

2
1. INTRODUÇÃO
Tendo como fonte primária uma crônica do século XIV, sobre lutas entre algumas classes da
sociedade florentina do século XII. Este trabalho tem o intuito de analisar, de maneira
concisa, alguns aspectos da sociedade medieval européia.

3
2. AS LUTAS SOCIAIS EM FLORENÇA

2.1. Desenvolvimento urbano

A partir do século X a sociedade européia passa a ser sustentada por uma rede de
núcleos urbanos. Por todo o continente as cidades refletem suas condições políticas
pelo seu grau de autonomia ou de subordinação ao poder real. Na França, a
autoridade real não é tão influente sob os súditos fora de seus domínios. Na
Alemanha, as cidades desfrutam de substancial independência com o declínio da
força dos imperadores. E na Itália, neste período Milão, Florença e Siena já
conseguem mobilizar exércitos próprios enquanto Pisa, Gênova e Veneza já
possuem poderosas frotas. Contudo, havia ainda milhares de pequenas povoações
que eram essenciais à existência não só dos centros urbanos maiores, mas também
de nobres poderosos.1
Na metade do século XI o desenvolvimento urbano europeu já se torna irrefutável.
Em meados do século XII, no norte da Itália, nota-se o surgimento de uma nova
forma de organização social e política. Praticamente todo o país já se divide em
cidades. Estas, por sua vez, desenvolvem concepções políticas divergentes
daquelas que até então prevaleciam. Esta nova concepção se opunha ao princípio
de que a monarquia hereditária seria a única forma de governo correta. As cidades
italianas se convertem então em “repúblicas independentes”, por aspiração à mais
liberdade. Elas elegem cônsules, quase que anualmente, e passam a ser
governadas mais pela vontade destes do que pela vontade dos príncipes. 2 Estas
cidades que se autogovernavam, chamadas de comunas, adquiriam sua autonomia
por meio de rebeliões ou por força.

2.2. Gente nouva


Com o crescente desenvolvimento urbano novas classes sociais começam a
ganhar maior destaque. Skinner fala sobre uma classe de gente nouva, composta

1
LOYN, Henry. Dicionário de Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997, p. 149-150.
2
SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. P. imprensa: São Paulo.
Companhia das Letras, 1996, p.25.
4
de pessoas que enriqueceram com o comércio.3 Apesar de sua riqueza, essa
burguesia não possui participação política alguma. O que gera as inquietações entre
essa nova classe com emergente riqueza, que buscava por maior poder político e a
nobreza oligárquica, que buscava manter concentrado o poder político.
Le Goff quando discorre sobre o século XIII, afirma que as cidades já estão
dominadas política e socialmente pelos grandes comerciantes. Isto ocorre em
decorrência “das complexas relações com as demais categorias sociais: nobres,
artesãos, trabalhadores e camponeses. Sem falar da Igreja [...] e das autoridades
superiores, senhores e monarcas.” O poder econômico desta classe está
diretamente ligado ao crescimento, ao desenvolvimento das cidades. É no quadro
urbano que a sua dominação social e política se estabelece, em decorrência de sua
riqueza e de seu poder econômico.4

2.3. As lutas sociais em Florença (1177)


As Isto posto, no início da metade do século XII (1151) Florença já é uma
comuna, já possui autonomia política. A influência do poder imperial já se
encontra enfraquecida.5 Sendo assim, como nos informa a crônica de
Giovanni, Florença era governada por um Consulado. O Consulado foi por
um tempo a mais alta magistratura das comunas italianas. Em seu livro, As
fundações do pensamento político moderno, Skinner afirma que a ânsia das
cidades italianas por liberdade era tamanha que “se converteram em
repúblicas independentes; cada uma delas era governada ‘pela vontade de
cônsules mais que de príncipes’, a quem ‘trocavam [do cargo] quase que
anualmente’, a fim de garantir que fosse controlado seu ‘apetite de poder’ e
preservada a liberdade popular”.6 Estes cônsules eram oriundos da nobreza
das cidades italianas. Mais tarde o consulado é substituído por "uma forma
mais estável de governo [...] conhecida como podestà." SKINNER 25.
No ano de 1177 começam grandes agitações entre os cidadãos de Florença.
Dá-se início à uma violenta guerra entre os cidadãos quando uma poderosa
3
Ibid, p.45.
4
LE GOFF, Jacques. Mercaderes y banqueros. Buenos Aires: EUDEBA,1982, p. 54-55.
5
Disponível em: http://www.aboutflorence.com/pt/historia-de-Florenca.html
6
SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. P. imprensa: São Paulo.
Companhia das Letras, 1996, p.25.
5
casa florentina se volta contra o governo dos cônsules. A família Uberti dá
início à guerra, aliada a nobres e populares da cidade, por não concordar
com o governo dos cônsules. As lutas fazem muitas vítimas e traz fadiga à
cidade. Após dois anos em conflito, os cidadãos florentinos acabam por
estabelecer a paz e o governo da cidade volta aos cônsules. Este episódio
nos serve como exemplo da luta da crescente burguesia por não só maior
participação política mas também um lugar na própria sociedade. Le Goff
inclusive nos diz que muitas vezes nobres se misturam com essa nova
classe social e desta fusão nasce uma aristocracia. Aristocracia essa em que
se misturavam os antigos senhores feudais, os antigos funcionários
senhoriais ou reais e os novos ricos. 7
O documento aqui utilizado como fonte primária se trata de uma crônica a
respeito das lutas sociais em Florença no ano de 1177. Ele nos mostra um exemplo
em meados do século XII, de uma família burguesa que provoca uma guerra contra
o governo em busca de poder político.
Sobre o autor, Giovanni Villani foi um comerciante, escritor, administrador e
soldado italiano. Ele nasce por volta de 1276 em Florença e morre em 1348 em
decorrência da peste. Villani foi um dos maiores cronistas florentinos, ele escreveu
uma das mais significativas obras da cultura italiana do século XIV, a NUOVA
CRONICA.

2.4. Cidades autônomas


No final do século XII, essa forma de autogoverno já era predominante em
quase todas as cidades do Norte da Itália. Elas possuíam uma certa independência,
mas continuavam a ser vassalas do Santo Império romano. Os século XII e XIII são
repletos de investidas das cidades(aliadas ao papado) contra o poder imperial, em
busca de mais liberdade. Essa busca das cidade por liberdade significava
primeiramente sua liberdade do imperador, mas também ter o direito de conservar
suas formas vigentes de governo. Skinner diz que “o termo ‘liberdade’ então veio a
conotar tanto a independência política quanto o autogoverno republicano [...] Mas
essa distinção da “liberdade” não deve ser considerada uma mera invenção do

7
LE GOFF, Jacques. Mercaderes y banqueros. Buenos Aires: EUDEBA,1982, p. 56.

6
Trezentos. Já encontramos os mesmos ideais invocados no ano de 1177, no
decorrer das primeiras negociações que jamais ocorreram entre as cidades
italianas, o imperador e o papa. Elas se seguiram à decisiva derrota de Barbarossa
pelas forças da Liga Lombarda, no ano anterior.”8
A Liga das cidades da Lombardia, com a ajuda do papado, se unem contra o
imperador Barbarossa. Em 1174 Barbarossa tenta tornar a impor sua autoridade,
mas as forças da Liga conseguem derrotar os exércitos imperiais em 1176. E em 1177 o

papa pode forçar Frederico a aceitar a paz em Veneza.9

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Fonte:
Giovanni Villani, Croniche Fiorentine, livro v, trad. inglesa de R. E. Selfe,
Westminster, 1897, pp. 109-110

Bibliografia:
Skinner, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo:
Companhia das letras, 1996.

LE GOFF, Jacques. La baja edad media. México: siglo XIX, 1990.

8
Ibid, pg. 29.
9
LOYN, Henry. Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997,
p. 43.
7
LE GOFF, Jacques. Mercaderes y banqueros. Buenos Aires: EUDEBA, 1982.
Disponível em:
http://www.fmmeducacion.com.ar/Bibliotecadigital/Le_Goff_Mercaderesybanqueros.
pdf

LOYN, Henry. Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
Disponível em:
http://www.meuportalacademico.com.br/wp-content/uploads/2013/04/Dicionario-da-
Idade-Media-H.-R.-Loyn.pdf

http://www.treccani.it/enciclopedia/giovanni-villani/

http://www.aboutflorence.com/pt/historia-de-Florenca.html

http://www.archivioflaviobeninati.com/2011/08/giovanni-villani/

8
4. CONCLUSÃO
O crescimento do comércio das cidades e o nascimento da burguesia são aspecto
que modificam a sociedade medieval.

9
5. ANEXO

AS LUTAS SOCIAIS EM FLORENÇA


(1177)
A mais alta magistratura das comunas italianas foi a princípio o
Consulado, recrutado na nobreza urbana. Em finais do século XII, certas
famílias burguesas enriquecidas no comércio e na indústria e até então
excluídas do poder provocaram rebeliões no intuito de conquistar uma
participação política activa.

[...] Nesse mesmo ano10(1) começaram em Florença dissensões e grandes lutas


entre os cidadãos, as piores que jamais se haviam dado nessa cidade; e isto devido
à demasiada prosperidade e sossego, juntamente com orgulho e ingratidão;
porquanto a casa dos Uberti que eram os mais poderosos e os maiores cidadãos de
Florença, com os seus aliados, tanto os nobres como os populares, começaram a
guerra contra os cônsules (que e de acordo com certas regras), por inveja do
Governo que não era a seu gosto; e a guerra tornou-se tão feroz e pouco natural
que quase todos os dias, ou dia sim dia não, os cidadãos combatiam uns contra os
outros em diversas partes da cidade, de bairro para bairro, conforme o sítio de onde
eram as facções e de como haviam fortificado as suas torres, em grande número na
cidade, com 100 a 120 cúbitos de altura. E nesta época, devido à dita guerra, muitas
torres foram fortificadas de novo pelas comunidades dos bairros, a partir dos fundos
comuns da vizinhança. Eram chamadas <<torres das companhias>> e sobre elas
estavam instalados engenhos para atirar de umas para as outras, encontrando-se a
cidade barricada em muitos sítios. Esta praga durou mais de dois anos, morrendo
muitos devido a ela e caindo sobre a cidade grandes riscos e danos; mas esta
guerra entre os cidadãos tornou-se tão usual e costumeira que num dia podiam
combater e no dia seguinte comiam e bebiam juntos, contando uns aos outros
histórias do seu próprio valor e proezas dessas batalhas; e por fim deixaram de
combater, porque estavam fartos de tanta fadiga, fizeram a paz e os cônsules
ficaram no seu governo. [...]

10(1)
Em 1177.
10
[Giovanni Villani, Croniche Fiorentine, livro v, trad. inglesa de
R. E. Selfe, Westminster, 1897, pp.109-110.]

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