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A disposição em questão entrevia a preocupação eclesiástica com a repercussão social angariada pelos
monges, uma vez que esta impunha dificuldades à organização do clero. Jacqueline Calazans apontou
para a possibilidade de que o cânone fosse uma resposta à aproximação entre o movimento priscilianista
e os ideais monásticos, (citar!). O I Concilio de Toledo, realizado em Xxx, vinculava resoluções que
repreendiam o rigorismo ascético, fosse pela adoção do vegetarianismo ou pela condenação ao
matrimônio e à procriação, o que, segundo Calazans, decorria dos desafios mpostos à hierarquia pelos
priscilianista.
Esse momento inicial da inserção do monaquismo na Península Ibérica, marcado por ressalvas ao
movimento por parte de segmentos da elite clerical, deve ser entendido à luz de um contexto mais
amplo. Naquele momento, não havia um consenso quanto à posição do monge no âmbito da Ecclesia, à
dinâmica que os monges deveriam manter com as autoridades clericais e as modalidades legítimas de
ascese cristã. Daí o rigorismo ascético constituir uma das principais prepcupações dos partidários da
ortodoxia nicena em relação ao priscilianismo.
No século VI, por outro lado, o monaquismo peninsular dispunha de uma inserção mais estável nas
relações de poder, decorrente do reforço da sua subordinação ao episcopado. O Concílio de Lérida,
celebrado em 516, apresentou em seu terceiro cânone uma resolução nesse sentido:
(Citação direta - prosseguir, pois falta uma parte do canone que é importante no texto da tese)
Ainda sobre esse cânone, sublinho a imposição da observância de uma regra reconhecida por um bispo
para que uma comunidade fosse considerada um cenóbio autêntico.
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Item 2.1 final do texto
Dunn também destacou o endosso da hierarquia a partir da Regulae Patrum. Segundo a estudiosa, esse
conjunto de regras apresentavam valores e normas direcionadas a um tipo de liderança que não seria de
procedência aristocratica, nem de alto grau de aperfeiçoamento espiritual. Também apresentava menos
subsídios teológicos para justificar a norma da obediência ao abade que a obra de João Cassiano.
Todavia, expandia a estratificaçãp da comunidade ao instituir uma hierarquia de monges com deveres
específicos e incrementar o distaciamento entre o abade e o restante dos cenobitas.
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Questão da confissão
João Cassiano estabelecia como norma a prática da Confissão, justificando-a mediante o valor da
humildade. O marselhês afirmou que a discretio verdadeira só poderia ser adquirida a partir do
reconhecimento da própria incapacidade de julgar a si mesmo e da submissão de todos os pensamentos
e ações ao exame dos anciões. A admissão da própria
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João Cassiano reconheceu a possibilidade de que alguém escondesse seus pensamentos por vergonha.
Dessa forma, insistia na necessidade de superação desse constrangimento: "convém pis tudo manifestar
aos anciãos..." (coll. Ii 13 p. 80 subiaco)
O abade Moisés, personagem a quem a Coll. II foi atribuída, narrou um episódio que teria vivenciado na
infância para justificar a norma da confissão. Conforme discorreu, roubava diariamente um pãozinho
após a refeição da nona. Um dia, durante uma conferência, Theon, seu abade, por vontade de Deus,
teria abordado questões referentes à gula e sobre a necessidade de revelar pensamentos ocultos. As
palavras proferidas por inspiração divina teriam feito Sarapião confessar o roubo cotidiano, dissipando o
espírito da gula de tal forma que jamais voltou a ter vontade de comer fora de hora.
A discretio, portanto, era uma competência que não competeria ao próprio sujeito, tendo em vista que
só seria adequadamente pratica quando o monge punha o seu interior como objeto de exercício de
poder, mediante a confissão:
"O meio, pois, de alcançar a ciência da autêntica discretio é seguir as pegadas dos anciãos. Não
tenhamos a presunção de inovar ou de confiar em nosso próprio critério, mas, ao contrárii, procuremos,
em todas as circunstâncias, seguir as tradições e a santidade de vida que nossos maiores nos ensinam.
Quem se firma nessas instituições, não apenas alcançará a perfeita discretio, com também ficará
inteiramente a salvo das insídias do inimigo. Em contrapartida, não existr vício mediante o qual o
demônio ..." (coll ii 11 p. 72-73 subiaco)
Germano, o personagem que acompanhou João Cassiano em suas andanças no deserto, comentou sobre
o caso de um monge sírio, ancião muito aperfeiçoado, mas que, num momento de cólera, censurou
rispidamentr outro monge que lhe fez uma confissão. Desse caso, Germano ilustrou a causa que faria
com que alguns ficassem envergonhados de manifestar suas cogitações aos anciões (coll. Ii 12 p. 73-74)
Mais adiante, Moisés narrou o caso de um jovem não muito fervoroso atormentado pelo espírito da
fornicação. Ao confessar a um ancião, este o repreendeu severamente, chamando-o aos gritos de
miserável e indigno e alegando que este não merecia ser chamado de monge. Devido à condenação,
desesperou-se, abandonou a cela e entrou em tristeza tamanha que ao invés de procurar em combater
seu mal, procurou satisfazer a concupiscência. Quando estava para se dirigir a uma aldeia para se casar e
voltar ao mundo, encontrou o abade Apolo, para quem se confessou. O ancião o consolou com
compaixão, disse que também era pertubado com a concupiscência, afirmou que somente a misericódia
e a graça divinas poderiam promover a vitória sobre as tentações e rogou para que o monge voltasse à
sua cela
O abade Apolo, então, dirigiu-se ai mosteiro em que vivia o ancião para o qual o jovem asceta se
confessou primeiro. Diante do outro, rezou a Deus que transferisse a tentação do novo para aquele
idoso, para que aprendesse a ser condescendente com a fraqueza dos aflitos e misericordioso com a
debilidade dos mais jovens. Após a oração, surgiu um horrendo etíope atirando dardos de fogo contra o
outro ancião, que, atingido no coração, começou a correr em todas as direções, tamanha perturbação
dos sentidos e confusão da mente. Apolo afirmou ao ancião que o demônio o ignorou ou o desprezou
até aquele momento, mas que Deus permitiu tal ataque na velhice para que aprendesse a ter compaixão
com os menos experientes. Então, os dois abades oraram, pedindo a Deus o fim à provação, sendo seus
pedidos atendidos.