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Cap 4 item 2.

(Após citação direta ao canône vi do concilio de zaragoza)

A disposição em questão entrevia a preocupação eclesiástica com a repercussão social angariada pelos
monges, uma vez que esta impunha dificuldades à organização do clero. Jacqueline Calazans apontou
para a possibilidade de que o cânone fosse uma resposta à aproximação entre o movimento priscilianista
e os ideais monásticos, (citar!). O I Concilio de Toledo, realizado em Xxx, vinculava resoluções que
repreendiam o rigorismo ascético, fosse pela adoção do vegetarianismo ou pela condenação ao
matrimônio e à procriação, o que, segundo Calazans, decorria dos desafios mpostos à hierarquia pelos
priscilianista.

Esse momento inicial da inserção do monaquismo na Península Ibérica, marcado por ressalvas ao
movimento por parte de segmentos da elite clerical, deve ser entendido à luz de um contexto mais
amplo. Naquele momento, não havia um consenso quanto à posição do monge no âmbito da Ecclesia, à
dinâmica que os monges deveriam manter com as autoridades clericais e as modalidades legítimas de
ascese cristã. Daí o rigorismo ascético constituir uma das principais prepcupações dos partidários da
ortodoxia nicena em relação ao priscilianismo.

No século VI, por outro lado, o monaquismo peninsular dispunha de uma inserção mais estável nas
relações de poder, decorrente do reforço da sua subordinação ao episcopado. O Concílio de Lérida,
celebrado em 516, apresentou em seu terceiro cânone uma resolução nesse sentido:

(Citação direta - prosseguir, pois falta uma parte do canone que é importante no texto da tese)

De acordo com a interpretação de Linage Conde, competia ao bispo o reconhecimento da fundação e o


ministério da ordenação dos monges, sendo a independência patrimonial do mosteiro uma
contrapartida (citar texto sobre autoridade no monaquismo visigodo!). Endosso a hipótese. Ao que
percebo, o consenso conciliar estabelecido não se opunha à expansão monástica sem autorização prévia,
contanto que fosse aceita a necessidade da eventual chancela episcopal para que uma fundação de fato
fosse um mosteiro. O apoio de um bispo no reconhecimento de um espaço como mosteiro ampliava as
possibilidades do seu fundador obter os benefícios de se liderar uma comunidade, enquanto o bispo, por
sua vez, cooptava apoio junto à comunidade que reconhecia para capilarizar sua influência. A solução
conciliar não constituía uma decisão unilateral que impunha o poder episcopal às comunidades, mas no
resultado de relações tensas entre bispos e monges cujo razoável apaziguamento demandava ofertas de
vantagens mútuas - tanto é que os interesses econômicos das lideranças monacais foram
salvaguardados.

Ainda sobre esse cânone, sublinho a imposição da observância de uma regra reconhecida por um bispo
para que uma comunidade fosse considerada um cenóbio autêntico.

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Item 2.1 final do texto

Dunn também destacou o endosso da hierarquia a partir da Regulae Patrum. Segundo a estudiosa, esse
conjunto de regras apresentavam valores e normas direcionadas a um tipo de liderança que não seria de
procedência aristocratica, nem de alto grau de aperfeiçoamento espiritual. Também apresentava menos
subsídios teológicos para justificar a norma da obediência ao abade que a obra de João Cassiano.
Todavia, expandia a estratificaçãp da comunidade ao instituir uma hierarquia de monges com deveres
específicos e incrementar o distaciamento entre o abade e o restante dos cenobitas.

Portanto, as Regulae Patrum marcam o início de uma tendência de reforço da hierarquização e da


autoridade abacial, não necessariamente direcionada a comunidades compostas por monges de origem
aristocrática. Na avaliação de Dunn, a regra escrita por Bento de Núrsia expressaria da forma mais clara e
contundente esse aspecto, uma vez que concentrava mais prerrogativas de autoridade e de exercício de
poder no cargo abacial que qualquer outra regra monástica anterior.

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Item discretio e exercício do poder em joão cassiano

Questão da confissão

João Cassiano estabelecia como norma a prática da Confissão, justificando-a mediante o valor da
humildade. O marselhês afirmou que a discretio verdadeira só poderia ser adquirida a partir do
reconhecimento da própria incapacidade de julgar a si mesmo e da submissão de todos os pensamentos
e ações ao exame dos anciões. A admissão da própria

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Discretio e exercício do poder


A dinâmica prevista por João Cassiano entre o ancião e o novato era de direção
espiritual. Conforme esclarecido no capítulo introdutório desta tese, nesse tipo de relação
caberia a uma parte governar e ensinar e à outra, desejar o conhecimento e a experiência de
seu instrutor e remeter a ele decisões sobre si mesmo. O vínculo detinha, ainda um caráter
pastoral, pois nele uma pessoa deveria servir a outra para assegurar sua salvação, devendo,
para tanto, estar atenta à consciência de cada componente da sua comunidade. Nessa
perspectiva, o exercício do poder era imbuído de um sentido pedagógico e espiritual.

João Cassiano estabelecia como norma a prática da confissão, justificando-a mediante o


valor da humildade. Na Coll. II, o marselhês afirmou que a discretio verdadeira só poderia ser
adquirida a partir do reconhecimento da própria incapacidade de julgar a si mesmo e da
submissão de todos os seus pensamentos e ações ao exame dos anciões e seguir suas
instruções. A delegação da avaliação sobre si a outro estava fundamentada na suposição do
aperfeiçoamento espiritual dos mais experientes e da ignorância dos novatos:
Pois toda a esperteza do inimigo não é capaz de prevalecer sobre a ignorância de um
homem que não consegue ocultar, por falsa vergonha, todos os pensametnos que lhe
nascem no coração, mas, ao contrário, os submete ao maduro critério dos anciãos para
saber se deve acolhê-los ou rejeitá-los (Coll. II 10 p. 69 subiaco –AJEITAR!)

As cogitações que atormentariam o sujeito em seu âmago por instigação demoníaca só


poderiam ser combatidas caso fossem reveladas. A dominação negativa dos espíritos malignos
só ocorreria enquanto sua atuação não fosse exposta aos anciões:
"Um pensamento maligno, tão logo seja ..." co ii 69 subiaco

João Cassiano reconheceu a possibilidade de que alguém escondesse seus pensamentos por vergonha.
Dessa forma, insistia na necessidade de superação desse constrangimento: "convém pis tudo manifestar
aos anciãos..." (coll. Ii 13 p. 80 subiaco)

O abade Moisés, personagem a quem a Coll. II foi atribuída, narrou um episódio que teria vivenciado na
infância para justificar a norma da confissão. Conforme discorreu, roubava diariamente um pãozinho
após a refeição da nona. Um dia, durante uma conferência, Theon, seu abade, por vontade de Deus,
teria abordado questões referentes à gula e sobre a necessidade de revelar pensamentos ocultos. As
palavras proferidas por inspiração divina teriam feito Sarapião confessar o roubo cotidiano, dissipando o
espírito da gula de tal forma que jamais voltou a ter vontade de comer fora de hora.

A discretio, portanto, era uma competência que não competeria ao próprio sujeito, tendo em vista que
só seria adequadamente pratica quando o monge punha o seu interior como objeto de exercício de
poder, mediante a confissão:

"O meio, pois, de alcançar a ciência da autêntica discretio é seguir as pegadas dos anciãos. Não
tenhamos a presunção de inovar ou de confiar em nosso próprio critério, mas, ao contrárii, procuremos,
em todas as circunstâncias, seguir as tradições e a santidade de vida que nossos maiores nos ensinam.
Quem se firma nessas instituições, não apenas alcançará a perfeita discretio, com também ficará
inteiramente a salvo das insídias do inimigo. Em contrapartida, não existr vício mediante o qual o
demônio ..." (coll ii 11 p. 72-73 subiaco)

A Coll. II continha poucas diretrizes quanto à atuação dos superiores.

Germano, o personagem que acompanhou João Cassiano em suas andanças no deserto, comentou sobre
o caso de um monge sírio, ancião muito aperfeiçoado, mas que, num momento de cólera, censurou
rispidamentr outro monge que lhe fez uma confissão. Desse caso, Germano ilustrou a causa que faria
com que alguns ficassem envergonhados de manifestar suas cogitações aos anciões (coll. Ii 12 p. 73-74)

Mais adiante, Moisés narrou o caso de um jovem não muito fervoroso atormentado pelo espírito da
fornicação. Ao confessar a um ancião, este o repreendeu severamente, chamando-o aos gritos de
miserável e indigno e alegando que este não merecia ser chamado de monge. Devido à condenação,
desesperou-se, abandonou a cela e entrou em tristeza tamanha que ao invés de procurar em combater
seu mal, procurou satisfazer a concupiscência. Quando estava para se dirigir a uma aldeia para se casar e
voltar ao mundo, encontrou o abade Apolo, para quem se confessou. O ancião o consolou com
compaixão, disse que também era pertubado com a concupiscência, afirmou que somente a misericódia
e a graça divinas poderiam promover a vitória sobre as tentações e rogou para que o monge voltasse à
sua cela

O abade Apolo, então, dirigiu-se ai mosteiro em que vivia o ancião para o qual o jovem asceta se
confessou primeiro. Diante do outro, rezou a Deus que transferisse a tentação do novo para aquele
idoso, para que aprendesse a ser condescendente com a fraqueza dos aflitos e misericordioso com a
debilidade dos mais jovens. Após a oração, surgiu um horrendo etíope atirando dardos de fogo contra o
outro ancião, que, atingido no coração, começou a correr em todas as direções, tamanha perturbação
dos sentidos e confusão da mente. Apolo afirmou ao ancião que o demônio o ignorou ou o desprezou
até aquele momento, mas que Deus permitiu tal ataque na velhice para que aprendesse a ter compaixão
com os menos experientes. Então, os dois abades oraram, pedindo a Deus o fim à provação, sendo seus
pedidos atendidos.

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