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Livro GEOGRAFIA Agraria PDF
Livro GEOGRAFIA Agraria PDF
Geografia Agrária
Aldo Dantas
Rosana Silva de França
Sara Raquel Fernandes Queiroz de Medeiros
Geografia Agrária
Aldo Dantas
Rosana Silva de França
Sara Raquel Fernandes Queiroz de Medeiros
Geografia
Geografia Agrária
2ª Edição
Vice-Presidente da República
Michel Miguel Elias Temer Lulia
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Vice-Reitora
Maria de Fátima Freire Melo Ximenes
FICHA TÉCNICA
Diagramação
REVISÃO DE MATERIAIS Ana Paula Resende
Revisão de Estrutura e Linguagem Carolina Aires Mayer
Eugenio Tavares Borges Davi Jose di Giacomo Koshiyama
Janio Gustavo Barbosa Elizabeth da Silva Ferreira
Jeremias Alves de Araújo Ivana Lima
Kaline Sampaio de Araújo José Antonio Bezerra Junior
Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Rafael Marques Garcia
Thalyta Mabel Nobre Barbosa
Módulo matemático
Revisão de Língua Portuguesa Joacy Guilherme de A. F. Filho
Camila Maria Gomes
Cristinara Ferreira dos Santos
IMAGENS UTILIZADAS
Emanuelle Pereira de Lima Diniz
Acervo da UFRN
Janaina Tomaz Capistrano
www.depositphotos.com
Priscila Xavier de Macedo
www.morguefile.com
Rhena Raize Peixoto de Lima
www.sxc.hu
Encyclopædia Britannica, Inc.
Revisão das Normas da ABNT
Verônica Pinheiro da Silva
Dantas, Aldo.
Geografia Agrária / Aldo Dantas, Rosana Silva de França e Sara Raquel Fernandes Queiroz de Medeiros.
– 2. ed. – Natal: EDUFRN, 2011.
190 p.: il.
ISBN: 978-85-7273-890-3
1. Geografia. 2. Agrária. 3. Agricultura. I. França, Rosana Silva de. II. Medeiros, Sara Raquel Fernandes
Queiroz de. III. Título.
CDU 91
D192g
© Copyright 2005. Todos os direitos reservados a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – EDUFRN.
Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa do Ministério da Educacão – MEC
Sumário
Apresentação Institucional 5
A
Secretaria de Educação a Distância – SEDIS da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte – UFRN, desde 2005, vem atuando como fomentadora, no âmbito local, das
Políticas Nacionais de Educação a Distância em parceira com a Secretaria de Educação
a Distância – SEED, o Ministério da Educação – MEC e a Universidade Aberta do Brasil –
UAB/CAPES. Duas linhas de atuação têm caracterizado o esforço em EaD desta instituição: a
primeira está voltada para a Formação Continuada de Professores do Ensino Básico, sendo
implementados cursos de licenciatura e pós-graduação lato e stricto sensu; a segunda volta-se
para a Formação de Gestores Públicos, através da oferta de bacharelados e especializações
em Administração Pública e Administração Pública Municipal.
Para dar suporte à oferta dos cursos de EaD, a Sedis tem disponibilizado um conjunto de
meios didáticos e pedagógicos, dentre os quais se destacam os materiais impressos que são
elaborados por disciplinas, utilizando linguagem e projeto gráfico para atender às necessidades
de um aluno que aprende a distância. O conteúdo é elaborado por profissionais qualificados e
que têm experiência relevante na área, com o apoio de uma equipe multidisciplinar. O material
impresso é a referência primária para o aluno, sendo indicadas outras mídias, como videoaulas,
livros, textos, filmes, videoconferências, materiais digitais e interativos e webconferências, que
possibilitam ampliar os conteúdos e a interação entre os sujeitos do processo de aprendizagem.
Assim, a UFRN através da SEDIS se integra o grupo de instituições que assumiram o
desafio de contribuir com a formação desse “capital” humano e incorporou a EaD como moda-
lidade capaz de superar as barreiras espaciais e políticas que tornaram cada vez mais seleto o
acesso à graduação e à pós-graduação no Brasil. No Rio Grande do Norte, a UFRN está presente
em polos presenciais de apoio localizados nas mais diferentes regiões, ofertando cursos de
graduação, aperfeiçoamento, especialização e mestrado, interiorizando e tornando o Ensino
Superior uma realidade que contribui para diminuir as diferenças regionais e o conhecimento
uma possibilidade concreta para o desenvolvimento local.
Nesse sentido, este material que você recebe é resultado de um investimento intelectual
e econômico assumido por diversas instituições que se comprometeram com a Educação e
com a reversão da seletividade do espaço quanto ao acesso e ao consumo do saber E REFLETE
O COMPROMISSO DA SEDIS/UFRN COM A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA como modalidade
estratégica para a melhoria dos indicadores educacionais no RN e no Brasil.
5
Bases teórico-conceituais
da questão agrária
Aula
1
Apresentação
N
esta primeira aula, iniciaremos os estudos referentes à disciplina Geografia Agrária,
na qual discutiremos as bases teórico-conceituais da agricultura. Nesse sentido, você
estudará elementos como: o contexto histórico do desenvolvimento da agricultura, a
relação latifundiário/camponês e suas transformações marcantes ao longo do tempo histórico,
em especial, as relações que perpassam o escravismo, o feudalismo e, principalmente, o
capitalismo. Destacaremos as principais correntes de pensamento que tratam da relação
existente entre o camponês, o latifundiário e o modo de produção capitalista; por fim, os
conceitos fundamentais para o estudo, a saber: questão agrária, questão agrícola, renda da
terra, renda diferencial e renda absoluta.
Objetivos
Conhecer os conceitos pertinentes ao tema, tais como:
1 questão agrária, questão agrícola, renda da terra, renda
diferencial e renda absoluta.
A
s teorias que abordam a temática da agricultura trazem a discussão do contexto
histórico, para entendermos melhor como ocorreu o processo de dominação dos meios
de produção. Essa fundamentação é primordial para compreendermos como ocorrem
as relações entre a terra e o trabalho, no capitalismo. A título de comparação, faremos uma
Sedentarização explanação dessas relações no sistema feudal de produção. Outra discussão teórica será as
contradições do capitalismo, que cria e recria novas relações de trabalho para manter-se como
Movimento de
sedentários, ou sistema de produção.
seja, aquele que tem
habitação fixa.
Fonte: <http://www.iejusa.org.br/civilizacoesantigas/imagens/mapa3.jpg>.
Acesso em: 22 abr. 2009.
Com a evolução das relações de poder dentro dessas civilizações e o aumento do território,
especificamente o império romano, deu-se a implosão a partir das invasões “bárbaras” e a
explosão a partir de movimentos instaurados dentro do próprio império, por exemplo, os
conflitos entre alguns generais romanos. Como consequência principal da dissolução do
império romano, podemos citar um evento ímpar na história da humanidade, o êxodo urbano,
ou seja, a migração das pessoas para o campo, dando início, assim, a um novo sistema de
produção de característica essencialmente agrícola – o Feudalismo.
Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/_VrXwiKWjecE/ScPQxDcZqjI/AAAAAAAAGMs/
jIOyGgNKshU/s320/Feudalismo1.jpg>. Acesso em: 22 abr. 2009.
Tal fato gerou a crise no sistema cooperativo feudal, que não tinha capacidade de suprir
as demandas, principalmente nos núcleos urbanos, causando a dissolução da indústria rural
doméstica, o que gerou uma migração da indústria rural de subsistência para os núcleos
urbanos europeus.
No entanto, com a crise do Feudalismo, ocorre a formação dos Estados Nacionais e novas
práticas econômicas são efetivadas, ocorre o aumento do consumo e produção européias.
Dessa forma, novas relações de produção emergem com o florescimento do Capitalismo.
Com a expansão marítima comercial, metrópoles como Inglaterra, Portugal e Espanha
transformaram as colônias de exploração em grandes plantations de produtos agrícolas, como a
Acumulação cana-de-açúcar, o algodão, o fumo etc. Essa exploração definiu a divisão internacional do
primitiva
trabalho entre os continentes africano, americano e asiático e foi importante para a acumulação
Expressão que primitiva do capital para os países da Europa Ocidental, sobretudo a Inglaterra, principal
designa as primeiras
potência econômica até a Primeira Guerra Mundial.
acumulações de
riquezas (ou capitais)
que levaram ao
Desde então, o Capitalismo tem se expandido e as mudanças nas relações de trabalho
surgimento do e no modo de vida da sociedade, tanto na cidade quanto no campo, são evidentes e geram
capitalismo. grandes discussões, em especial, destacaremos as repercussões do Capitalismo na
agricultura. A terra, tida como fonte natural de vida, passa a ser vista como fonte de lucro
com o advento do Capitalismo.
Relações feudais?
Dentro da discussão teórica, cabe destacar os estudos que apontam que os camponeses e
os latifundiários são na realidade evidências da permanência de relações feudais de produção.
Para essa corrente de pensamento, houve uma penetração das relações capitalistas no
campo. Essa penetração é explicada com o rompimento das estruturas políticas tradicionais
de dominação. Segundo essa corrente, apenas uma reforma profunda por meio da distribuição
de terra provocaria transformações no momento em que a luta camponesa poderia destruir o
latifúndio e os vestígios feudais e, assim, ocorreria a substituição pela propriedade camponesa
ou capitalista.
Atividade 1
Como o Capitalismo consegue apropriar-se da renda da terra sem
1 apropriar-se diretamente dela, ou seja, sem comprá-la?
[...] a questão agrícola diz respeito aos aspectos ligados às mudanças na produção
em si mesma: o que se produz, onde se produz e quando se produz. Já a questão
agrária está ligada às transformações nas relações de produção: como se produz, de
que forma se produz. No equacionamento da questão agrícola, as variáveis importantes
são a quantidade e os preços dos bens produzidos. Os principais indicadores da questão
agrária são outros: a maneira como se organiza o trabalho e a produção; o nível de renda
e emprego dos trabalhadores rurais; a produtividade das pessoas ocupadas no campo etc.
Cabe destacar, como diz Graziano da Silva (1980), que a questão agrária e a questão
agrícola estão internamente relacionadas, sendo que muitas vezes suas crises ocorrem
simultaneamente, mas nem sempre isso é uma condição necessária, pois muitas vezes a
resolução do problema agrícola pode servir para agravar a questão agrária. Discutiremos
melhor a respeito desta relação entre agrícola e agrária, nas próximas aulas.
Atividade 2
Faça uma pesquisa em seu município evidenciando a questão agrícola.
1 Especifique os tipos de renda existentes.
Para esta aula, merece destaque o capítulo V sobre a sujeição da renda da terra ao
capital e ao novo sentido da luta pela reforma agrária. Nesse capítulo o autor analisa as
relações capitalistas de produção, as contradições entre renda da terra e o capital, como
se dá a apropriação da renda da terra pelo capital e as diferenças entre concentração da
propriedade e a do capital.
Resumo
Nesta aula, aprendemos as bases teóricas do Capitalismo, com ênfase nas
principais correntes de pensamento que tratam da relação existente entre o
camponês, o latifundiário e o modo de produção capitalista. Destacamos ainda
os conceitos fundamentais para o estudo, tais como: questão agrária, questão
agrícola, renda da terra, renda diferencial, renda absoluta e renda de monopólio.
Referências
GOFF, Jacques Le. A civilização do ocidente medieval. Lisboa: Estampa, 1984.
MOURA, Margarida Maria. Camponeses. 2. ed. São Paulo: Ática, 1988. (Série Princípios).
OLIVEIRA, A. U. de. Modo capitalista de produção e agricultura. 4. ed. São Paulo: Ática.
1995. (Série Princípios).
SILVA, José F. Graziano da. O que é questão agrária. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 1980.
Aula
2
Apresentação
Nesta segunda aula, daremos continuidade e aprofundamento à aula 1 (Bases
teórico-conceituais da questão agrária). Discutiremos o desenvolvimento e a evolução da
agricultura no modo capitalista de produção, em especial, as transformações na agricultura
ao longo das fases do capitalismo concorrencial e monopolista.
Objetivos
Saber as bases teóricas que consolidaram o capitalismo
1 como sistema hegemônico no tocante a agricultura.
A fase do capitalismo monopolista se deu com a crise no final do século XIX. Especialmente
na agricultura inglesa e européia, ocorreu o crescimento da produção e a queda da renda.
Essa fase caracteriza-se pelo desenvolvimento da mecanização do campo, fusão de grandes
empresas nos países desenvolvidos e fundação de grandes bancos, ou seja, concentração
e centralização de capitais. Ainda nessa fase, a agricultura desenvolveu-se no aumento da
produtividade do trabalho e no contexto de baixa geral de seus preços, criando assim as
condições de acumulação, da efetivação dos monopólios industriais.
Agricultura e modo
capitalista de produção
Força de trabalho
Como vimos na aula 1, o capitalismo é produto de um processo contraditório e seu
Capacidade dos
desenvolvimento é produto desse processo de reprodução ampliada do capital, ou seja, o modo
trabalhadores para
produzir riquezas. capitalista de produção não se restringe apenas à produção de mercadorias, mas também inclui
Karl Marx explica que a sua circulação e troca, quer seja por dinheiro quer por mercadoria.
a compra e venda da
força de trabalho é uma O capitalismo, na realidade, está em constante desenvolvimento e expansão. Seu princípio
característica básica do
básico é representado por D – M – D’, ou seja, dinheiro compra mercadoria e força de trabalho
capitalismo. A força de
trabalho do trabalhador para gerar mais dinheiro, ou seja, lucro. Esse é o princípio da reprodução ampliada do capital.
é uma mercadoria No entanto, reprodução do capital também se dá de forma simples, ou seja, M – D – M, sem a
que o capitalista
geração de excedente em dinheiro, ou melhor, lucro. Nesse esquema, produz-se apenas para
compra e que gera as
riquezas. Porém, essa garantir a sobrevivência.
mercadoria (a força
de trabalho) gera mais Para entender o processo de desenvolvimento do capitalismo no tocante à agricultura,
riqueza do que quanto é importante compreender se esta se desenvolveu nas duas diferentes fases ou etapas do
ela mesma vale.
capitalismo, nas quais se destacam o capitalismo concorrencial e o monopolista.
Atividade 1
Como o capitalismo se apropriou das formas de produção nas
1 comunidades nativas?
Atividade 2
Quais as principais características da agricultura na fase do capitalismo
1 concorrencial?
Atividade 3
Elabore um quadro comparativo demonstrando as diferenças e semelhanças
entre o camponês da fase do capitalismo concorrencial e o camponês da fase do
capitalismo monopolista.
Livro clássico escrito em 1898, destinado aos estudiosos das áreas humanas e sociais,
analisa o desenvolvimento, as políticas e a evolução da agricultura na sociedade capitalista.
Para esta aula, merece destaque o capítulo IV que trata da agricultura moderna em que é
discutida a divisão do trabalho, o sistema de adubação da terra, a ciência na agricultura e a
introdução da máquina na agricultura.
Resumo
Nesta aula, estudamos as bases teóricas do capitalismo e sua relação com o
desenvolvimento da agricultura, você estudou especificamente a evolução da
agricultura durante as fases capitalista concorrencial e capitalista monopolista.
Referências
KAUSTSKY, Karl. A questão agrária. Tradução de Otto Erich Walter Mass. Brasília: Linha
Gráfica, 1998.
OLIVEIRA, A. U. de. Modo capitalista de produção e agricultura. 4. ed. São Paulo: Ática.
1995. (Série Princípios).
SILVA, José Graziano da. O que é questão agrária. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
Anotações
Aula
3
Apresentação
N
esta aula, estudaremos a respeito das origens da concentração da terra no Brasil desde
o período colonial até a atualidade, demonstrando suas causas e consequências. Para
isso, levaremos em consideração o processo histórico, ou seja, a relação entre os
espaços geográficos periféricos e centrais do sistema capitalista.
Objetivos
Entender as diferenças na relação capitalista entre os
1 países periféricos e os países centrais no que se refere à
estrutura agrária.
Para Milton Santos (1982), a combinação espacial entre centro e periferia no sistema Relação
mundial deve considerar três aspectos especiais: centro-periferia
Constitui-se
a) aquelas forças que promovem a modernização e operam no centro do sistema não historicamente como
alcançam a periferia ao mesmo tempo; existe um efeito decrescente definido da distância. resultado da forma pela
Isso poderia explicar a acumulação histórica capitalista, as variações entre países e as qual o progresso técnico
propaga-se na economia
desigualdades regionais dentro dos países; mundial. O centro são
economias que as técnicas
b) alguns pontos do espaço são alcançados por novas forças, enquanto outros não recebem capitalistas de produção
penetram primeiro.
tais impactos. Sem dúvida, esses impactos não se dão ao acaso, sendo dirigidos do centro
A periferia são economias
do sistema em termos de máxima produtividade; cuja produção permanece
inicialmente atrasada do
c) as forças emitidas nos centros ou polos mudam à medida que alcançam a periferia, ou ponto de vista tecnológico
e de sua organização.
seja, para se entender a reprodução dos espaços geográficos agrários deve-se levar em
consideração as diferenças socioespaciais.
O primeiro pilar prediz que a agricultura desenvolvida nos países periféricos em geral
constitui-se num apêndice dos países centrais, que dominam as técnicas modernas, a
implementação de insumos e o desenvolvimento de tecnologia. No que se refere à expansão
das áreas cultivadas, destaca-se o seu crescimento devido a fatores estruturantes, como o
desenvolvimento dos transportes para circulação de mercadorias e a melhoria nas condições
de armazenamento, acondicionamento e nas comunicações. Nos últimos 40, ocorreu uma
grande expansão das áreas cultivadas, permitindo a incorporação de novas áreas agrícolas ao
mercado mundial, tendo como principais agentes financiadores o Banco Mundial, o Estado
e as multinacionais e transnacionais, repercutindo na estrutura agrária e fundiária do espaço
geográfico mundial.
Fonte: <http://historiando.files.wordpress.com/2007/04/capitanias-hereditarias.gif>.
Acesso em: 29 set. 2009.
A doação de terras em sesmarias – embora estas não dessem o domínio, mas tão somente
a posse ao seu titular – provocou um processo de ocupação e apropriação das mesmas,
sob a égide da grande propriedade, e definiu um processo de dominação do latifúndio
que ainda hoje subsiste no País.
Esse cenário ficou caracterizado pela distribuição desigual da terra. De um lado, grandes
glebas pertencentes aos Senhores, classe composta por nobres e burgueses; de outro lado,
pequenos lotes de terra adquiridos por meio da posse ilegal pelos sujeitos sem recursos que
se reproduziam à margem das necessidades de suprimentos da grande propriedade onde
se utilizava mão-de-obra escrava em suas lavouras. Segundo Andrade (1996), os sujeitos
se instalavam em áreas menos acessíveis através da posse e implantavam roças e currais,
ao passo que esses posseiros, ao terem suas terras apropriadas pelos Senhores, tinham
duas alternativas: tornarem-se foreiros do Senhor ou migrarem para outra área mais distante,
efetivando uma agricultura predatória.
A estrutura agrária brasileira foi definida pelos interesses dos colonizadores, segundo o
qual a grande propriedade constituía fundamental importância para atender os interesses
e fornecer produtos ao mercado europeu:
Com o fim do sistema sesmarial, nos anos de 1820, emerge a chamada fase áurea
do posseiro; com a suspensão do regime Sesmarial, em 1822, por falta de uma legislação,
ocorre a expansão das pequenas propriedades através da posse. Esse período chega ao fim
com a jurisdição da Lei de Terras, em 1850, que consolida a grande propriedade através
da legitimação das posses, formação de um mercado de trabalho com o fim do tráfico de
escravos e criação do Imposto Territorial Rural (ITR). A Lei de Terras determina, a partir de
sua data de regulamentação (1854), a compra como única forma de aquisição das terras
devolutas (SILVA, 1997). Dessa forma, as terras adquiridas ilegalmente, e/ou através das
posses, são regularizadas. “O projeto foi elaborado tanto para regularizar a situação daquelas
propriedades que tinham sido ilegalmente adquiridas, como também, ao mesmo tempo, para
estender o controle governamental sobre as terras em geral” (COSTA, 1985, p. 146). Essa
legislação tornou mais difícil o acesso a terra daqueles sujeitos que não tinham condições
Na realidade, a Lei de Terras, além de legalizar as propriedades adquiridas por meio das
sesmarias e das posses, representou um regime de propriedade estratégico dos grandes
fazendeiros, que asseguraram o controle político sobre a transição do trabalho escravo para
o trabalho livre, conforme pontua Martins (2004, p. 5):
O regime de propriedade de 1850 tinha por objetivo criar mecanismos de interdição à livre
posse da terra e, portanto, criar meios institucionais de gestação de uma superpopulação
relativa à disposição das grandes fazendas. Desse modo, assegurar que o fim da
escravidão não seria também o fim da grande lavoura de exportação.
Nesse quadro, vale salientar que a Lei de Terras, considerada um marco jurídico de
mudanças à escravidão, é substituída pela superexploração da força de trabalho, aumentando
as desigualdades e solidificando o latifúndio. Com a constituição de 1891, a responsabilidade
e legislação das terras públicas passam a pertencer aos estados, o que torna mais fácil a
expansão dos latifúndios na manipulação do poder político através de uma rede de relações
Coronelismo determinadas pelo coronelismo e a formação das oligarquias (MONTEIRO, 2001).
Conjunto de ações
políticas de latifundiários
Sob a ótica do monopólio, os grandes proprietários garantiram seus domínios baseados
(chamados de coronéis) num regime de propriedade, que mais do que atender seus objetivos e privilégios gerava uma
em caráter local, regional massa de trabalhadores rurais dependentes.
ou federal, onde se aplica
o domínio econômico e Dessa forma, podemos dizer que as raízes da estrutura agrária dos países periféricos –
social para a manipulação
eleitoral em causa própria
em específico o espaço agrário brasileiro – foi e ainda continua sendo delineado no processo
ou de particulares. histórico na produção e reprodução do capital entre centro e periferia do sistema capitalista.
Oligarquias Atividade 1
Oligarquias são grupos
fechados e pequenos que
detêm o controle do poder,
geralmente formadas por
Explique como se deu o processo de concentração de terras no Brasil. A política
familiares de grandes agrária do presente sofre conseqüência deste processo? Por quê?
proprietários.
No sentido restrito, usado pela FAO e por vários órgãos oficiais e paraoficiais, a expressão
estrutura agrária corresponde apenas ao estudo das formas de acesso à propriedade da terra
e à maneira como esta é explorada, tendo, assim, grande importância as relações existentes
entre proprietários e trabalhadores agrícolas não proprietários. A estrutura fundiária é apenas a
forma de acesso à propriedade da terra e a explicação da distribuição da propriedade, sendo seu
estudo de grande importância, porque dela vai depender a melhor compreensão da estrutura
agrária e dos fatores que presidem a formação da morfologia agrária e do habitat rural.
Outra categoria importante é o módulo fiscal, definido como unidade de medida expressa
em hectares, fixada para cada um dos municípios brasileiros a partir de critérios tais como o
tipo de exploração predominante e a renda média obtida nesse tipo de exploração. No conjunto
do território nacional, o tamanho dos módulos fiscais varia entre 5 e 110 hectares.
A concentração da
propriedade da terra
O processo de concentração da terra difere da concentração de capital, ou seja, a terra
é um meio de produção específico monopolizado por uma classe detentora dos meios de
produção. Cabe salientar que a terra não é um meio de produção criado pelo trabalho humano;
portanto, a terra não tem valor, e sim preço, o qual foi produzido pelo capitalismo. Os grandes
capitalistas, ao se apropriarem de grandes extensões de terra, utilizam essa terra como reserva
de valor para especular e apropriar-se de sua renda.
Agora, preste bastante atenção no texto a seguir, porque ele será utilizado para responder
a próxima Atividade.
A questão da propriedade da terra no Brasil e da situação das pessoas que nela trabalham ou
dela precisam para trabalhar é hoje extremamente grave. O Censo Agropecuário de 1975 revelou
que 52,3% dos estabelecimentos rurais do país têm menos de 10 ha e ocupam tão somente a
escassa área de 2,8% de toda a terra utilizada. Em contrapartida, 0,8% dos estabelecimentos
têm mais de 1.000 ha e ocupam 42,6% da área total. Mais da metade dos estabelecimentos
agropecuários ocupam menos de 3% da terra e menos de 1% dos estabelecimentos ocupa quase
metade da terra. Se levarmos em conta que, provavelmente, muitos dos grandes proprietários
têm o domínio de mais de uma propriedade, estaremos em face de uma concentração fundiária
ainda maior. Além disso, a propriedade da terra vem se tornando inacessível a um número
crescente de lavradores que dela necessitam para trabalhar e não para negociar.
Os estabelecimentos registrados nos dados censitários incluem os que são dirigidos por
lavradores que não têm a propriedade da terra (arrendatários, parceiros autônomos e
posseiros). Em 1950, apenas 19,2% dos lavradores não eram proprietários dos seus
estabelecimentos rurais. Em 1975, essa porcentagem tinha subido para 38,1%; em 1950, para
cada lavrador não proprietário havia 4,2 que eram proprietários. Em 1975, para cada lavrador
não proprietário havia apenas 1,6 proprietários. Esses números constantes dos censos oficiais
não incluem aqueles que são trabalhadores rurais propriamente ditos e, portanto, sem terra
(assalariados permanentes, assalariados temporários, parceiros subordinados), mas somente
os responsáveis pelos estabelecimentos.
Além disso, devemos considerar os milhares de lavradores que tiveram que sair da terra – seja
terra própria, seja terra arrendada, seja terra ocupada. Entre 1950 e 1970, as oportunidades
de trabalho para terceiros na agropecuária (assalariados e parceiros subordinados) caíram em
cerca de um milhão e meio de empregos.
O autor faz uma abordagem histórica sobre os quatro séculos de latifúndio e a estrutura
social que tem permitido o latifúndio subsistir. Para esta aula merece destaque os capítulos
X e XI. O capítulo X trata da estrutura agrária no século XX e o capítulo XI evidencia o cenário
econômico e social na perspectiva da estrutura agrária no período pós 1964.
Fonte: <http://www.iteral.al.gov.br/sala-de-imprensa/noticias/a-um-passo-de-
guimaraes/image_mini>. Acesso em: 29 set. 2009.
Resumo
Nesta aula, examinamos a estrutura agrária brasileira desde suas origens, causas
e consequências socioterritorias. Destacou-se o processo histórico e a relação
entre os espaços geográficos periféricos e centrais do sistema capitalista.
Autoavaliação
De que maneira a estrutura agrária de um território está diretamente relacionada
à sua estrutura social, política e econômica? Cite exemplos.
COSTA, Emilia Viotti da. Política de terras no Brasil e nos Estados Unidos. In: ______.
Da monarquia à república: momentos decisivos. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985.
GUIMARÃES, Alberto Passos. Quatro séculos de latifúndio. São Paulo: Fulgor, 1963.
GONÇALVES, Carlos Walter Porto. O desafio ambiental. Organizador Emir Sader. Rio de
Janeiro: Record, 2004.
KAUSTSKY, Karl. A questão agrária. Tradução de Otto Erich Walter Mass. Brasília: Linha
Gráfica, 1998. 588 p.
OLIVEIRA, A. U. de. Modo capitalista de produção e agricultura. 4. ed. São Paulo: Ática,
1995. (Série Princípios).
PRADO JUNIOR, Caio. A questão agrária no Brasil. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. 188p.
SILVA, Ligia Osório. As Leis agrárias e o latifúndio improdutivo. São Paulo em Perspectiva,
v. II, n. 2, p. 115–125, abr./jun. 1997.
Aula
4
Apresentação
N
esta aula serão abordados os conflitos sociais no campo brasileiro e sua evolução
histórica, quando serão destacadas as causas e consequências desses conflitos de
luta pela terra e por melhores condições de vida e trabalho. Nesse sentido, também
se destaca a questão política e o papel do Estado frente às reivindicações dos sujeitos sociais
envolvidos na questão agrária, uma vez que, como veremos nesta aula, o Estado em muitos
momentos buscou conter os avanços dos movimentos sociais, quer seja de forma repressiva,
quer seja ignorando a situação.
Objetivos
Conhecer o surgimento e evolução histórica dos conflitos
1 sociais no campo brasileiro.
A violência no campo não é recente. A história está repleta de casos e tentativas de romper
com o sistema fundiário e as injustiças sociais no país. No período da escravidão, destaca-se
Quilombo a luta dos quilombolas. Dentre esses quilombos, Palmares, situado em Alagoas, foi o grande
Sistema comunitário exemplo de luta, resistência e destruição. No entanto, o fim da escravidão não foi suficiente para
de vida na floresta para acabar tais lutas e injustiças sociais. Destaca-se a luta sangrenta de Canudos (1893-1897), no
onde iam os negros
que conseguiam fugir
sertão da Bahia, que segundo Martins (1981), envolveu o exército e milhares de camponeses.
da escravidão, ou seja, O saldo foi de cinco mil mortos, com severas derrotas às forças militares.
território negro livre
no seio do latifúndio
branco europeu.
Como podemos notar, são vários os exemplos de luta dos trabalhadores do campo por
melhores condições de vida e trabalho, ou melhor, nas palavras de Oliveira (1988, p 22),
Pernambuco – limite
agreste/mata – foreiros;
mata – luta por melhores
salários e leis trabalhistas
Goiás – Formoso e
Trombas – posseiros – Bahia – zona do cacau –
luta por terra; Pires do melhores salários e leis
Rio – arrendatários trabalhistas
Atividade 1
Justifique a frase: “A formação do Brasil foi feita através da destruição de muitas
1 nações indígenas” (OLIVEIRA, 1988, p.56).
Figura 3 – Assassinatos de trabalhadores rurais relacionados aos conflitos fundiários, Brasil, 1964-2000
Fonte CPT e MST, disponível em: <www.scielo.br/img/revistas/rep/v26n4/07f2.gif>. Acesso em: 26 maio 2009.
A repressão militar em si mesma abrira as portas para a ação violenta dos grandes
proprietários de terra, através de seus capatazes e pistoleiros, em centenas de pontos
no país inteiro, na certeza de que eram impunes e, além disso, aliados da repressão na
manutenção da ordem [...] Nunca na história do Brasil o latifúndio foi tão poderoso no
uso da violência privada e nunca as forças armadas foram tão frágeis em relação a ele
quanto durante o regime militar (MARTINS, 1999, p. 83).
Durante o período militar, em meados dos anos 70, a Igreja cria a as Comunidades Eclesiais
de Base (CEB´s) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) que, mesmo com a repressão, continuariam
o trabalho na articulação de novos movimentos, tão logo terminasse a ditadura militar. Em meio
a toda essa repressão nasce, em 1979, o movimento mais organizado do país, o Movimento
dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), sendo institucionalizado em 1985 (FERNANDES, 1996).
Foto: Sebastião Salgado. Disponível em: <http://www.vermelho.org.br>. Fonte: <http://www.seresteros.com>. Acesso em: 26 maio 2009.
Acesso em: 26 maio 2009.
Nos anos de 1985 e 1986 ampliaram-se os conflitos armados e, em apenas dois anos,
foram mortos 524 trabalhadores. Tal aumento do número de mortos teve conexão direta
com o processo de desenvolvimento da implementação e início do PNRA (Plano Nacional
de Reforma Agrária) e surgimento da UDR (União Democrática Ruralista), que passaram a
fazer a defesa dos latifundiários. Nesse período concentram-se conflitos na região Norte (em
especial na região do Bico do Papagaio, na Amazônia, na região sudeste do Pará) e no Nordeste
(principalmente no Maranhão). O uso da violência se generalizou principalmente nas áreas de
fronteira (OLIVEIRA, 1988).
De forma geral, nos anos de 1980 surgem novos personagens gerados pela expulsão de
seringueiros de suas áreas (que se tornaram pastagens), na construção de usinas hidrelétricas,
pela expulsão de milhares de trabalhadores agrícolas devido à modernização do campo etc.
Dessa forma, intensificou-se a luta pela terra e pela reforma agrária (este tema será analisado
na próxima aula).
Nos anos 1990 até a atualidade um dos movimentos que mais se destacou entre vários
outros pela articulação nacional foi o MST, com a participação de milhares de trabalhadores
rurais e com a ocupação de terras ociosas ou públicas, o que tem forçado o Estado a realizar
políticas redistributivas e de (re)socialização dos sujeitos envolvidos. Abordaremos mais
detalhadamente o assunto na próxima aula.
É interessante ler, em especial: o capítulo II, que trata da emergência e consolidação das
organizações de trabalhadores rurais entre 1945 e 1964; o capítulo III, sobre a atomização das
lutas; e o capítulo IV, sobre como os trabalhadores rurais recuperam espaço na cena política.
GUERRA de Canudos. Direção de Sérgio Rezende. [s.l.]: Columbia TriStar Pictures, 1997.
Sinopse do filme:
CABRA marcado para morrer. Direção de Eduardo Coutinho. [s.l.]: Globo Vídeo, 1984.
Sinopse do filme:
Neste filme, teremos uma ideia real dos movimentos das ligas camponesas. O retrato da
violência é dramático. A exclusão é narrada, demonstrando o lado perverso da ausência de
uma reforma agrária no Brasil.
Resumo
Nesta aula, estudamos os principais conflitos sociais no campo brasileiro,
tematizando suas causas e consequências. Destaca-se a questão política e o
papel do Estado frente às reivindicações dos trabalhadores do campo.
Modelo:
CONFLITO AÇÃO DO ESTADO CAUSA E CONSEQUÊNCIA
Referências
FERNANDES, Bernardo M. MST: movimento dos trabalhadores rurais sem terra: formação e
territorialização em São Paulo. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1996. 285 p.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A Geografia das lutas no campo. São Paulo: Contexto;
EDUSP, 1988. (Coleção repensando a Geografia).
______. O poder do atraso: ensaios de sociologia da história lenta. 2. ed. São Paulo: Hucitec,
1999. 174 p.
Aula
5
Apresentação
N
esta aula, estudaremos o tema da reforma agrária no Brasil, tratando as principais
dificuldades para sua implantação. O debate sobre a reforma agrária não é novo, mas
nos anos mais recentes muitas políticas de reforma agrária foram desenvolvidas pelo
Estado. Nesse cenário, destaca-se a participação dos movimentos sociais reivindicatórios da
luta pela terra, como os sindicatos de trabalhadores rurais e o Movimento dos Trabalhadores
Rurais – MST, que tem se revelado bastante forte pela articulação nacional. Veremos, nesta
aula, quais são as necessidades e estratégias utilizadas pelos movimentos sociais de acordo
com suas especificidades regionais e a as políticas de reforma agrária realizadas pelo Estado,
em que se destacam os assentamentos rurais.
Objetivos
Entender os percursos da reforma agrária brasileira e as
1 principais dificuldades para sua implementação.
O
debate da reforma agrária no Brasil não é novo. Entretanto, na atualidade ele ganha uma
nova roupagem, muito distinta da que teve nos períodos anteriores (por exemplo, nos anos
de 1950). Esse debate estava ligado, em geral, ao caminho da industrialização brasileira.
Temia-se que a agricultura viesse a constituir um obstáculo ao processo de industrialização,
porque não aumentaria a produtividade dos trabalhadores nela ocupados. Isso significava, por
um lado, que o setor agrícola não responderia em absoluto às necessidades alimentícias e às
matérias-primas de que a indústria necessitaria, assim como os níveis de renda da população
agrícola também não aumentariam, impossibilitando a criação de um mercado interno.
A reforma agrária tinha como objetivo principal solucionar as crises agrárias e agrícolas
pelas quais o país passava. Em suma, a reforma agrária objetivava alterar a estrutura de posse
no uso da terra no Brasil, com intuito de promover o desenvolvimento mais rápido das forças
produtivas no campo. O lema principal da reforma era: “é preciso acelerar a penetração das
relações capitalistas de produção na agricultura brasileira”. Com isso, entregar os latifúndios
para os camponeses suprimiria as relações pré-capitalistas e aumentaria a produção, derivando
o fim da ociosidade nos latifúndios.
No entanto, estudos realizados sobre a reforma agrária no Brasil nesse período mostraram
que não houve redistribuição de terra. Pelo contrário, aumentou a concentração da propriedade;
concomitantemente, aumentou a miserabilidade no campo. Entretanto, a estrutura agrária
brasileira não constituiu um empecilho à industrialização no país. Nesse sentido, podemos
dizer que o desenvolvimento das relações de produção capitalista no campo brasileiro teve
grandes avanços na solução da questão agrícola em detrimento da questão agrária, que, ao
Fordista-keynesiano contrário, foi agravada.
periférico
Nesse contexto, foi criado em 1963 a Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Nos anos de 1930 a
Agricultura (CONTAG), órgão máximo do sindicalismo brasileiro que, nos anos da ditadura
1970 prevaleceu, nos
países capitalistas, militar, sofreu grandes repressões e foi acusada pelos críticos de colocar “panos quentes” e
esse modelo que apagar incêndios nas questões agrárias por não exercer uma luta mais objetiva e reivindicatória
combinava consumo
dos problemas do campo. Porém, para alguns a CONTAG acumulou importantes vitórias,
e produção em massa
e caracterizava-se pela mesmo no período militar, sabendo recuar e avançar dependendo da conjuntura política.
regulação de mercado
de trabalho e pelo Segundo Linhares e Teixeira da Silva (1999), o período dos anos de 1950, baseado no
Estado interventor. modelo fordista-keynesiano periférico, a chamada substituição de importação, de relativo
bem-estar social, mas restrito a trabalhadores industriais urbanos, são características
principais do desenvolvimento regional desse momento. Em paralelo, a questão agrária é
Ethos identificada com a questão nacional na luta contra o atraso e pela soberania nacional; o binômio
Caráter cultural e social de minifúndio-latifúndio, com vínculo de dependência e prestígio distanciado do novo ethos da
um grupo ou sociedade.
produtividade industrial. Identifica raízes históricas na questão agrária brasileira.
Atividade 1
Na região Centro-Sul do país, o ponto central das lutas e reivindicações parece ser
o cumprimento da legislação trabalhista (salário mínimo, domingo remunerado, férias,
indenização etc.). Estas reivindicações estão contextualizadas no processo de informalidade
que passa essa classe, pois a maioria dos trabalhadores rurais não tem carteira assinada.
Assim, embora exista o Estatuto do Trabalhador Rural e uma legislação complementar,
elas soam insuficientes. Em outras palavras, além de pouco, o que existe em benefício do
trabalhador rural não é cumprido. O não cumprimento da legislação, segundo os próprios
líderes, deve-se à fraqueza dos sindicatos brasileiros.
Em relação à região Nordeste, com exceção das zonas do Brasil Central e da zona
litorânea pertencente a esta região, destaca-se a luta dos pequenos rendeiros contra os
proprietários de terra. Assim como os trabalhadores em geral, sua reivindicação específica
é o cumprimento da legislação existente, embora os rendeiros também reivindiquem a
aplicação da legislação agrária consubstanciada no Estatuto da Terra e textos complementares.
Entretanto, as normas do Estatuto da Terra constituem um sonho, pois a grande maioria dos
contratos de parceria e arrendamento no Brasil desrespeita a lei, tanto no que se refere às
condições especiais não permitidas, quanto à porcentagem máxima cobrada do parceiro, além
dos preços dos arrendamentos das terras. Desse modo, os trabalhadores rurais nordestinos
são obrigados a vender sua produção aos proprietários, a se abastecer nos armazéns destes,
a prestar serviços gratuitos aos proprietários etc.
O L
OCEANO
PACÍFICO
S
OCEANO
ATLÂNTICO
Amazônia
Nordeste ESCALA
Centro-Sul 0 500
Km
Nas zonas de expansão de fronteira agrícola na região Norte e Centro-Oeste, a luta dos
Grilagem posseiros se dá contra a grilagem de suas terras, que é uma das maneiras pelas quais as
Falsificação de grandes propriedades ampliam seus domínios. O que os posseiros da Amazônia reivindicam
documentos que se dá não são apenas terras, mas que as terras deixem de ter valor. Em outras palavras, a resistência
quando uma pessoa
dos posseiros contra os grileiros é uma luta contra a utilização da terra para fins não-produtivos,
(grileiro) consegue várias
procurações falsas de seja como reserva de valor, seja como meio de acesso a outras formas de riqueza (minério,
pessoas desconhecidas, madeira de lei etc.). Hoje, a luta dos posseiros é um dos mais profundos questionamentos à
geralmente camponeses
propriedade capitalista de terra no Brasil.
que assinam os papéis
para seus “patrões”. Com
A regionalização das reivindicações específicas dos trabalhadores rurais brasileiros não
estes documentos falsos,
é realizada a compra significa, em totalidade, a existência de uma unidade de um plano mais geral. O centro da
de várias propriedades questão é que todos os grupos de trabalhadores rurais pertencentes às regiões dependem,
vizinhas, como se fosse
em maior ou menor grau, da venda de sua força de trabalho para sobreviver, seja por não
um grande loteamento.
disporem dos meios de produção insuficientes ou por não possuírem nada para vender além
de sua força de trabalho.
Apesar de uma regionalização desigual nos país, não é possível ignorar o desenvolvimento
econômico pelo qual o campo brasileiro passou, principalmente nas últimas décadas. Como
consequência dessas transformações e do desenvolvimento, os trabalhadores rurais não se
limitam a reivindicar somente a reforma agrária parcial. Eles reivindicam uma reforma que
leve em consideração questões como preços mínimos, comercialização, crédito e assistência
técnica voltadas para os pequenos produtores, uma vez que as políticas agrícolas estão voltadas
para os grandes latifundiários e engendradas numa tríplice aliança entre indústria, banco e
grandes proprietários de terra. Tal fato se justifica porque o crédito é utilizado para comprar
mercadorias como tratores, colheitadeira, defensivos químicos etc. Além disso, os bancos
preferem grandes financiamentos, ou seja, os grandes fazendeiros – os bancos e a indústria
formam uma aliança crucial para a reprodução do capital no campo.
Atividade 2
O PNRA teve sua proposta derrotada pelos proprietários representados pela UDR, que
logo polarizaram o combate ao plano, defendendo o direito de propriedade – se necessário,
inclusive, com uso da força. Com isso, os resultados do PNRA foram poucos, uma vez que na
Nova República foram assentadas apenas 83.687 famílias.
No período de transição do final dos anos 1980 e início dos anos de 1990, o poder
judiciário fora o ator principal no comando da questão agrária brasileira, uma vez que havia uma
imprecisão em definir o latifúndio improdutivo. Em 1993, é aprovada a Lei 8.629, que definiu que
a propriedade que não cumprisse sua função social era passível de desapropriação, adotando
critérios de tamanho para essa desapropriação, em módulos fiscais (sendo passíveis de
desapropriação as propriedades acima de 15 módulos fiscais), banindo da lei o termo latifúndio.
O MST organiza marchas nacionais por reforma agrária, emprego e justiça, reunindo milhares
de trabalhadores. Essas medidas têm repercussões na mídia e nas primeiras páginas de jornal.
Como consequência direta da efervescência da questão agrária aludida pelo MST, dos
sindicatos de trabalhadores rurais e outros mediadores, o governo cria, em 1997, o Ministério
de Desenvolvimento Agrário (MDA) para retomar a iniciativa política e reduzir as ações do MST,
principalmente nas ocupações de terras. Assim, o governo estabelece uma série de medidas
provisórias, decretos e leis complementares que modificam o modo pelo qual o poder executivo
agia em relação aos conflitos. Essas medidas foram tomadas para agilizar as desapropriações
de terra e para acalmar os ânimos dos trabalhadores “sem-terra”, em especial dos movimentos
liderados pelo MST.
Além disso, foram criadas algumas regulamentações para acelerar a realização dos
assentamentos rurais, dentre as quais:
Uma dos aspectos derivado desses arranjos é avaliada por Medeiros (2003, p. 57), em
que o assentado passa a ser visto como “empreendedor”, devendo ajustar-se ao mercado
competitivo. Daí derivam inúmeras críticas sobre esse modelo de reforma agrária, que alguns
denominam de reforma agrária de mercado ou reforma negociada, que se caracteriza pelo
caráter produtivista.
Ao longo dos últimos 20 anos, em linhas gerais, assim tem-se dado a instalação de
assentamentos rurais via políticas públicas, sejam esses assentamentos do INCRA ou do
Estado, através do Programa Cédula da Terra e do Banco da Terra. A intensificação da luta
pela terra pelos trabalhadores rurais que assumem a identidade de sem-terra faz com haja
a expansão dos assentamentos rurais em todo o país. A maior parte dos assentamentos
rurais foram criados pelo governo Federal, mas há também assentamentos conduzidos pelos
governos estaduais e municipais, em menor escala. Vale salientar que em algumas áreas do
Brasil há, também, assentamentos extrativistas (em especial na região Norte), preservando
as formas tradicionais de utilização dos recursos naturais.
Para finalizar, é importante ressaltar que as lutas por terra resultaram na criação de uma
quantidade relativamente maior de assentamentos rurais em relação aos períodos anteriores, e
que os números da Tabela 1 foram objeto de intensa disputa entre governo e movimentos sociais.
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Conflitos de Terra*
Ocorrências de
152 277 174 366 495 659 752 777 761 615
Conflito
Ocupações 599 593 390 194 184 391 496 437 384 364
Acampamentos 65 64 285 150 90 67 48
Total Conf. Terra 751 870 564 625 743 1.335 1.398 1.304 1.212 1.027
Assassinatos** 38 27 20 29 43 71 37 38 35 25
Pessoas Envolvidas 662.590 536.220 439.805 419.165 425.780 1.127.205 965.710 803.850 703.250 612.000
Hectares 4.060.181 3.683.020 1.864.002 2.214.930 3.066.436 3.831.405 5.069.399 11.487.072 5.051.348 8.420.083
Conflitos Trabalhistas
Ocorrências de
14 16 21 45 147 238 236 276 262 265
Trabalho Escravo
Assassinatos 1 4 1 2 3 1
Pessoas Envolvidas 614 1.099 465 2.416 5.559 8385 6.075 7.707 6.930 8.653
Ocorrências de
Superexploração
56 28 33 25 22 97 107 178 136 151
e Desrespeito
Trabalhista
Assassinatos 5 1 2 1
Pessoas Envolvidas 366.720 4.133 53.441 5.087 5.586 6.983 4.202 3.958 8.010 7.293
Total
Nº de Conflitos 1.100 983 660 880 925 1.690 1.801 1.881 1.657 1.538
Assassinatos 47 27 21 29 43 73 39 38 39 28
Pessoas Envolvidas 1.139.086 706.361 556.030 532.772 451.277 1.190.578 975.987 1.021.355 783.801 795.341
Hectares 4.060.181 3.683.020 1.864.002 2.214.930 3.066.436 3.831.405 5.069.399 11.487.072 5.051.348 8.420.083
*Ocorrências de conflitos: número de famílias despejadas, expulsas, com pertences destruídos, que sofreram ação de milícia privada.
**Assassinatos: está separado nos grandes eixos: Terra, Trabalhista, Água.
*** Outros: Conflitos em Tempos de Seca.
Funeral de um lavrador
Esta cova em que estás
Com palmos medida
É a conta menor
Que tiraste em vida
É de bom tamanho
Nem largo nem fundo
É a parte que te cabe
Deste latifúndio
Não é cova grande
É cova medida
É a terra que querias
Ver dividida [...]
(João Cabral de Melo Neto, 1965)
As organizações que compõem o Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo
– acreditando na urgência da democratização do acesso à terra e à água – defendem a realização
de uma ampla reforma agrária e o fortalecimento da agricultura familiar, pois só elas garantirão
o direito ao trabalho para a população rural, historicamente excluída, e a produção de alimentos
para o mercado interno, estruturando o caminho para a soberania alimentar do nosso país.
10) a elaboração de políticas públicas específicas para cada região do País, sobretudo para
as que sofrem com condições climáticas adversas; com ênfase ao desenvolvimento de
políticas de convivência com o semiárido brasileiro, especialmente o nordestino (onde
se concentra o maior número de agricultores e agricultoras familiares) que, submetido
ao esgotamento dos recursos naturais, a práticas clientelistas históricas e a tecnologias
inadequadas, fica à mercê de programas compensatórios, fazendo-se urgente uma
política de desenvolvimento sustentável para o mesmo.
Leituras complementares
MEDEIROS, Leonilde Servolo de. Reforma agrária no Brasil: história e atualidade da luta pela
terra. São Paulo: Perseu Abramo, 2003. (Coleção Brasil Urgente).
A obra debate sobre a reforma agrária e a complexidade das relações que geraram
os demandantes de terra – que continuam a ter essa demanda na ordem do dia, num país
urbanizado e industrializado. Para esta aula é interessante ler os capítulos 2, 5 e 6. O capítulo
2 trata da origem do debate sobre a reforma agrária no Brasil, a política fundiária do governo
militar e das bases legais para a reforma agrária. O capítulo 5 mostra os resultados das ações
fundiárias nos anos de 1980-1990 e a experiência dos assentamentos rurais e o capítulo 6
analisa a atualidade da reforma agrária.
VIDAS secas. Direção de Nelson Pereira dos Santos. [s.l]: Sino Filmes, 1963. Baseado no
livro Homônimo de Graciliano Ramos.
Sinopse: No paupérrimo Nordeste brasileiro, uma família vive sem esperanças no futuro
por causa da seca e miséria que assolam suas vidas. Uma das grandes obras-primas do cinema
brasileiro.
Autoavaliação
Explique, de maneira resumida, o percurso da reforma agrária no Brasil.
1
Quais as principais dificuldades na implementação da reforma agrária no Brasil?
2
Destaque as principais políticas de reforma agrária promovidas pelo Estado brasileiro
3 entre meados dos anos 1970 e 1990.
LEITE, Sergio et al. Impactos dos assentamentos: um estudo sobre o meio rural brasileiro.
Brasília: Instituto de Cooperação para a agricultura: NEAD; São Paulo:
LINHARES, Maria Yedda Leite; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Terra prometida: uma
história da questão agrária no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A Geografia das lutas no campo. São Paulo: Contexto;
EDUSP, 1988. (Coleção repensando a Geografia).
MARTINS, José de Souza. O sujeito da reforma agrária. In: J. S. (Coord.). Travessias: a vivência
da reforma agrária nos assentamentos. Porto Alegre: UFRGS, 2003. p. 11-52.
MEDEIROS, Leonilde Servolo de. Reforma agrária no Brasil: história e atualidade da luta pela
terra. São Paulo: Perseu Abramo, 2003. (Coleção Brasil Urgente).
STÉDILE, João Pedro. Questão agrária no Brasil. São Paulo: Atual, 1997.
Anotações
Aula
6
Apresentação
N
esta aula, você estudará o tema Agricultura e sustentabilidade em que discutiremos
a necessidade de repensar um novo modelo agrário-agrícola, uma vez que o meio
ambiente tem sofrido diversos impactos, apresentando sinais de esgotamento. Você
verá que a continuidade do modelo vigente apresenta limitações ecológicas na medida em que
se intensifica o uso de práticas agrícolas prejudiciais aos ecossistemas. Nesse sentido, tem-se
buscado novas formas baseadas na sustentabilidade dos recursos naturais. Veremos nesta
aula os fundamentos da Agroecologia e as alternativas, as dificuldades e as vantagens para o
desenvolvimento rural sustentável.
Objetivos
Compreender as mudanças na agricultura no contexto da
1 sustentabilidade.
A
nalisando o processo de evolução tecnológica da agricultura, podemos observar que
várias práticas e tecnologias foram desenvolvidas no sentido de melhorar o padrão de
produtividade e diminuir as restrições ambientais a atividade agrícola. A expansão do
uso de fertilizantes, adubos, herbicidas, pesticidas e fungicidas há décadas é motivo de críticas
de ambientalistas, de órgãos ligados à saúde e de sindicatos de trabalhadores, principalmente,
rurais. Nesse sentido, tem-se buscado novas alternativas de produção uma vez que o meio
ambiente tem apresentado sinais de esgotamento. A continuidade do modelo vigente de
consumo exacerbado apresenta limitações ecológicas na medida em que se intensifica o uso
de práticas agrícolas prejudiciais aos ecossistemas.
Um dos marcos políticos mais relevantes que intensificou as práticas agrícolas predadoras
foi a Revolução Verde concebida pelos Estados Unidos, no período pós-Segunda Guerra
Mundial, em que os países receberam um “pacote tecnológico” que visava combater a fome,
a miséria nos países subdesenvolvidos, entretanto o que se assistiu foi a acentuação dos
problemas socioambientais nos países beneficiados com essa política. O pacote tecnológico
era constituído de novas técnicas de cultivo, equipamentos, fertilizantes, agrotóxicos, etc. Tal
política aumentou à distância entre os grandes agricultores e os pequenos agricultores que
não tiveram condições de competir com o novo modelo de produtividade.
Nos anos de 1980, inicia-se uma discussão na opinião pública e, principalmente, nos
países desenvolvidos sobre temas ambientais impactantes resultantes da Revolução Verde, da
agricultura moderna, do efeito estufa, da poluição industrial, do desflorestamento entre outros.
Com isso, questionava-se até que ponto ou até quando os recursos naturais suportariam o
ritmo do crescimento econômico, tecido pelo Industrialismo e pela própria humanidade. Dessa
forma, consolidou-se um novo paradigma: o da sustentabilidade.
Social
Ecomômico
Ambiental
Agroecologia
A Agroecologia é uma ciência que surgiu na década de 1970, como forma de estabelecer
uma base teórica para viabilizar uma agricultura alternativa, que aparece da necessidade de
mudar as técnicas modernas que causam diversos impactos ao solo com o uso intensivo de
agrotóxicos, fertilizantes, máquinas pesadas e sementes de alta produtividade, etc.
No campo cientifico existem várias definições para Agroecologia, mas podemos dizer
baseado em Servilha Guzmmán e González Molina (apud CAPORAL; COSTABEBER, 2001,
p. 37) que:
Social
Ecomômico
Ambiental
Resumo
Nesta aula, estudamos o tema Agricultura e sustentabilidade em que é
evidenciada a importância de repensar um novo modelo de agricultura baseada
na sustentabilidade dos recursos naturais. Destacamos o desenvolvimento
sustentável e os fundamentos da Agroecologia que se baseiam no manejo racional
dos agroecossistemas.
Referências
BOEMEKE, L. Rogério. Agroecologia: uma proposta em construção. In: ETGES, Virginia
Elisabeta (Org.). Desenvolvimento rural: potencialidades em questão. Santa Cruz do Sul:
EDUNISC, 2001. 139 p.
VIANA, Gilney Amorim; SILVA, Marina; NILO, Diniz. O desafio da sustentabilidade: um debate
socioambiental no Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001.
Aula
7
Apresentação
N
esta aula, você estudará o tema agricultura e a questão ambiental, em que são
evidenciados os principais impactos ambientais rurais intensificados pela agricultura
moderna – baseada principalmente na monocultura, que vem utilizando novas
técnicas de produção em que se destacam o uso de máquinas, adubos, irrigação, agrotóxicos
e fertilizantes. Destaca-se também o desenvolvimento da engenharia genética e introdução
dos transgênicos e suas possíveis repercussões no meio ambiente. Além disso, você verá os
impactos ambientais causados pela agricultura predatória nos principais biomas brasileiros.
Objetivos
Analisar o uso das novas tecnologias no campo e suas implicações
1 ambientais.
O
espaço rural caracteriza-se pela heterogeneidade, que se traduz na existência do rural
tradicional, do rural moderno, do rural global muitas vezes num mesmo espaço social
e geográfico. Tal característica deve-se, entre outros fatores, a sua formação social. No
entanto, destacaremos os processos evolutivos na utilização de novas técnicas na agricultura
Impactos
em relação ao uso do solo dos quais derivam vários impactos ambientais.
ambientais
Entretanto, em relação ao DDT, em 1939, foram descobertas por Paul Muller suas
propriedades inseticidas. A aplicação do DDT para combater insetos rendeu-lhe o prêmio Nobel
da Química em 1948. O composto químico era uma arma para combater o inseto causador
da malária. No entanto, anos depois se descobriu que todos os compostos organoclorados
possuem propriedades cancerígenas e apresentam grande estabilidade química e alta toxidade.
No entanto, com o tempo foi ficando evidente o custo da Revolução Verde. A exploração
da terra e seu aproveitamento máximo aliado à falsa ideia da infinidade de recursos naturais
na perspectiva de lucro rápido resultaram numa degradação ambiental intensa, quer seja na
contaminação dos solos e da água, quer seja no envenenamento dos trabalhadores agrícolas,
contaminação dos alimentos, empobrecimento da terra etc. Além disso, podemos destacar
outros aspectos negativos do ponto de vista social, uma vez que para adquirir o pacote
tecnológico da Revolução Verde os produtores deveriam dispor de capital ou de empréstimo
bancário. Dessa forma, o pequeno produtor foi expelido do mercado.
Atividade 1
Outro problema diz respeito à irrigação, que constitui uma prática bastante desenvolvida,
mas que deve ser planejada e acompanhada por outras práticas. O objetivo fundamental da
irrigação é levar água aos cultivos, possibilitando a produtividade e boa qualidade. Segundo
Transgênicos e biotecnologia
Figura 2 – Transgênicos
Os defensores dos transgênicos argumentam que eles podem trazer benefícios ecológicos
em função de necessitarem de menor quantidade de aplicação de agrotóxico. Em contrapartida,
a maioria dos ambientalistas sustenta que os transgênicos deverão dinamizar o processo de
Mudança de porcentagem
desde 2006
6% USA 57.7
6% Argentina 19.1
30% Brasil 15.0
15% Canadá 7.0
63% Índia 6.2
9% China 3.8
30% Paraguai 2.6
29% África sul 1.8
25% Uruguai 0.5
NA Filipinas 0.3
–50% Australia 0.1
0 10 20 30 40 50 60
Área de colheita transgênica em 2007 (milhão hectare)
OBS: O crescimento percentual da área plantada entre 2006 e 2007 está mostrado na coluna da esquerda. As barras
à direita evidenciam as áreas de cultivo de transgênicos, ou seja, representam a área ocupada pelos transgênicos
em hectares.
Figura 3 – Crescimento da área plantada e ocupada pelos transgênicos entre 2006 e 2007
Entretanto, cabe lembrar que durante a RIO-92 foi assinada a Convenção Internacional
sobre Diversidade Biológica (CDB), ratificada por mais de 170 países, que reconhece os riscos
advindos da engenharia genética e ressalta o relevante papel que tem o acesso e transferência
de tecnologia entre os países signatários da Convenção para a conservação e uso sustentável
da biodiversidade, de modo que o uso de recursos genéticos não venha a causar danos
ambientais significativos.
Agricultura, tecnologia
e meio ambiente no Brasil
No Brasil, o início da influência dos seres humanos sobre o meio ambiente começa a
partir da chegada dos portugueses. Antes da ocupação do território brasileiro, as sociedades
indígenas que aqui habitavam sobreviviam basicamente da exploração dos recursos naturais
em harmonia com a natureza.
Todos os grandes domínios brasileiros foram e estão sendo afetados pela expansão e
intensificação das atividades agrícolas baseados no manejo inadequado da terra. Os estudos
indicam que são perdidas 25 toneladas/ano de solo por hectare, muito acima dos índices
mundialmente considerados razoáveis, os quais variam entre 3 e 12 toneladas/ano. Atualmente,
esse processo alcança novas fronteiras ecológicas intensificado pelas novas tecnologias
da informática e da engenharia genética na produção de alimentos, principalmente pelas
agroindústrias, modificando profundamente as paisagens ambientais no Brasil.
No cenário brasileiro, um dos produtos agrícolas que tem se destacado é a soja, maior
produto de exportação e de área plantada. Ela tem avançado nas novas fronteiras agrícolas
(conforme Figura 4), principalmente no cerrado e na Amazônia, sendo o estado de Mato Grosso
o principal produtor. Entretanto, a monocultura da soja, assim como a pecuária, tem provocado
vários problemas ambientais nos domínios dos biomas brasileiros. O desmatamento no Brasil
é um reflexo do avanço da agropecuária. A derrubada da vegetação tem dado lugar a campos
para a agropecuária. Na Amazônia, o desmatamento, como pode ser visto na Figura 5 e na
Figura 6, tem sido uma constante preocupação que desperta vários estudos sobre o uso da
terra, uma vez que as florestas têm sido substituídas pela pecuária extensiva, plantio de grãos
e agricultura de corte e queima.
Km2/ano
20000
15000
10000
5000
0
88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08
(a) (b) (b) c
Ano
Consolidado Estimativa
ÁREAS DESMATADAS
OCEANO OCEANO
1950 - 1960 ATLÂNTICO
1980 - 2000 ATLÂNTICO
0 360 Km 0 360 Km
Os impactos ambientais no setor agrícola são mais intensos nos grandes latifúndios
monocultores e nas agroindústrias e com menor intensidade na pequena produção.
Por todos os impactos ambientais causados pela agricultura, torna-se relevante pensar um
novo modelo de produção agrícola que priorize a sustentabilidade ambiental, pois os recursos
naturais estão se exaurindo.
Faça uma leitura do texto a seguir e indique quais são os principais impactos
2 causados pelo aquecimento global na agricultura brasileira.
O estudo avalia que, se nada for feito para mitigar os efeitos das mudanças
climáticas ou adaptar as culturas para a nova situação, deve ocorrer uma migração
da produção agrícola para regiões que hoje não são de sua ocorrência em busca
de condições climáticas melhores. Os autores, todavia, lembram que a agricultura
pode ter um papel importante na mitigação e na adaptação aos impactos das
mudanças climáticas.
Fonte: <http://www.embrapa.br/imprensa/noticias/2008/agosto/2a-semana/
estudo-avalia-impacto-de-aquecimento-global-na-agricultura/>. Acesso em: 19 out. 2009.
Com base em seus conhecimentos, que medidas poderiam ser adotadas para
3 minimizar os impactos ambientais na agricultura brasileira?
Resumo
Nesta aula, você estudou os impactos ambientais na agricultura fazendo um
percurso no contexto mundial e brasileiro. Discutimos os problemas ambientais
rurais, a introdução de novas tecnologias no campo, o uso intensivo de
agrotóxicos, os transgênicos e os impactos ambientais rurais, destacando-se a
situação dos biomas brasileiros.
Autoavaliação
Com base em tudo o que foi discutido nesta aula, responda às seguintes questões.
LAWRENCE, Stancy. Brazil surpasses US in new transgenic crop plantings. Revista Nature
Biotechnology, v. 26, n. 3, mar. 2008. Disponível em: <http://www.nature.com/nbt/journal/
v26/n3/index.html>. Acesso em: 8 abr. 2009.
Anotações
Aula
8
Apresentação
Nesta aula, você estudará o tema Espaço rural e urbano no que se refere a sua conceituação,
constituição e evolução histórica. Destacamos as mudanças socioespaciais no transcorrer do
tempo em sua evolução na relação cidade-campo.
Objetivos
1 Saber os conceitos sobre rural e urbano.
No período medieval, os limites físicos entre a cidade e o campo eram evidentes nas
cidades muradas. As cidades nas sociedades tradicionais segundo Giddens (2000, p. 560),
eram na maioria pequenas e normalmente muradas e suas muralhas destinavam-se à defesa
militar, realçavam a separação entre a comunidade urbana e o campo.
Para Lefebvre (2001b, p. 29), a separação entre a cidade e o campo toma lugar entre as
primeiras e fundamentais divisões do trabalho (a biológica e a técnica) e completa:
Como entender na atualidade o que é rural e o que é urbano? Como qualificar o rural e o
urbano, sabendo-se que esses espaços têm passado por uma série de mudanças e têm gerado
debate entre os estudiosos que passam a falar de um novo rural no Brasil e do chamado rurbano?
Silva (1996) em seus estudos sobre o rurbano, ou seja, fusão do rural e do urbano
demonstra em suas análises a tendência à urbanização do campo e a inserção de atividades
não-agrícolas no campo ligadas ao lazer, à prestação de serviços e a indústria (conforme a
aula Transformações recentes no espaço rural)
No entanto, observa-se que a falta de definição do que é urbano, do que é cidade, do que
é rural é um embate. Dessa forma, destacamos alguns teóricos que assim definem:
Como se pode perceber, vários autores discutem e tentam definir o que é rural é o que
é urbano e suas especificidades territoriais, econômicas e sociais. Além disso, ainda há uma
questão metodológica na definição do que vem a ser urbano e rural.
Atividade 1
O urbano e o rural também podem ser definidos pela natureza das atividades econômicas,
ou melhor, nessa visão o rural está vinculado às atividades primárias e o urbano reúne
percentual significativo em relação à ocupação da população em atividades secundárias e
terciárias. Esse critério é utilizado em países como o Peru e a Itália.
a b
A evolução geral
do campo e da cidade
No decorrer da formação e ocupação territorial, a sociedade está em constante mudança
que reflete diretamente na organização espacial e, consequentemente, nas relações humanas.
Na atualidade, uma das questões mais relevantes é sobre o rural e o urbano tanto no meio
acadêmico quanto nos órgãos de gestão pública na definição de políticas.
1) A cidade e o campo numa sociedade de cultura rural – Essa fase diz respeito ao
surgimento da cidade no contexto da história geral, marcada pela presença de uma
economia de base rural. Nesse contexto, o trabalho é uma atividade rural e não urbana,
ou seja, pertence ao universo rural e não urbano.
Atividade 2
Para orientar seus estudos, leia o texto “O urbano e o rural em Henri Lefebvre” da página 53 à
página 64 e, também, o texto “Reflexões em torno do urbano no Brasil” da página 65 à página 80.
Resumo
Nesta aula, discutimos os conceitos de espaço rural e urbano, assim como os
critérios de delimitação desses espaços. Destacam-se as mudanças socioespaciais
no transcorrer do tempo em sua evolução em relação cidade-campo.
Autoavaliação
Elabore um texto, apontando as dificuldades encontradas na definição dos
espaços rural e urbano, considere:
b) dimensão espacial;
CORRÊA, Roberto Lobato. A rede urbana. São Paulo: Ática, 1989. (Série Princípios).
ENDLICH, Ângela Maria. Perspectivas sobre o urbano e o rural. In: SPOSITO, M. Encarnação
Beltrão; WHITACKER, Arthur Magon (Org.). Cidade e campo: relações e contradições entre
urbano e rural. São Paulo: Expressão Popular, 2006. p. 11-31.
SILVA, José Graziano da. O novo rural brasileiro. Campinas: Unicamp, 1996.
SPOSITO, M. Encarnação Beltrão; WHITACKER, Arthur Magon (Org.). Cidade e campo: relações
e contradições entre urbano e rural. São Paulo: Expressão Popular, 2006. 248 p.
Anotações
Aula
9
Apresentação
Nesta aula, você estudará as transformações recentes no espaço rural em que se
destaca a pluriatividade, ou seja, a inserção de atividades não-agrícolas no campo. Nesse
contexto, discutiremos o percurso da pluriatividade desde sua origem no cenário europeu e
sua repercussão no Brasil.
Objetivos
Saber as transformações no campo e suas implicações
1 socioespaciais no território brasileiro.
N
a atualidade, o mundo rural no Brasil não é mais restrito às atividades agropecuárias
e agroindustriais. Essas atividades dividem espaço com outras atividades ligadas ao
turismo, prestação de serviços e até indústria ficando difícil para os estudiosos do
“mundo agrário” delimitar onde começa ou termina o rural e o urbano (conforme discutimos
na aula 8 - Espaço rural e espaço urbano).
Segundo Graziano da Silva (1996), o mundo rural é maior que o mundo agrícola. O
mundo rural incorpora atividades novas tais como, os hobbies ou pequenos empreendimentos,
transformando-as em negócios rentáveis multiplicando os pesque-pague (figura 1), os sítios
de lazer, as casas de campo, fruticulturas, floriculturas, além de hotéis-fazenda (figura 2),
campos de golfe etc.
A área rural brasileira não se restringe mais à agropecuária e à agroindústria [...] Agora, a
agropecuária moderna e a agricultura de subsistência dividem espaço com um conjunto
de atividades ligadas ao lazer, à prestação de serviços e até à indústria, reduzindo cada
vez mais os limites entre o rural e o urbano do país. [...] Os mais de mil pesque-pague
espalhados por chácaras e sítios em todo o Brasil, por exemplo, utilizados como lazer
pela classe média urbana, já são responsáveis por 90% do destino dos peixes de água
doce criados em cativeiro. (SILVA, 1996, p. 48-54).
Um fenômeno através do qual membros das famílias que habitam o meio rural optam
pelo exercício de diferentes atividades, ou mais rigorosamente, optam pelo exercício
de atividades não-agrícolas, mantendo a moradia no campo e uma ligação, inclusive
produtiva, com a agricultura e a vida no espaço rural (Schneider, 2003, p. 48).
As duas noções supracitadas surgem no mesmo momento, mas não são idênticas, o
conceito de pluriatividade é de longe mais adequado à dinâmica agrícola atual, uma vez que
o trabalho agrícola é pautado na descontinuidade temporal, pois não existe correspondência
entre tempo de trabalho e de produção, uma vez que essa dinâmica depende da natureza
não nos permitindo afirmar que a outra atividade signifique dedicação em tempo parcial à
agricultura. Ao contrário, a dinâmica sazonal do trabalho agrícola permite uma combinação
de atividade familiar de tempo integral. Portanto, a noção de pluriatividade é mais significativa
para compreendermos esse fenômeno que vem ocorrendo na agricultura.
A pluriatividade no Brasil
As discussões em torno da questão da pluriatividade ou agricultura parcial no Brasil é
limitada e recente. Segundo Alentajano (2001), essas discussões começam na Europa na década
de 1980 e no Brasil começa em meados de 1990. Na realidade há uma série de controvérsias a
cerca da pertinência da utilização desses termos (pluriatividade e agricultura em tempo parcial).
Uma primeira controvérsia aparece no debate europeu para definir o tempo em que
a pluriatividade em tempo parcial predomina no mundo agrário. Para alguns especialistas
a pluriatividade sempre foi uma característica do campesinato, na realidade o que estaria
ocorrendo é um fortalecimento dessa prática. Para outros especialistas é uma novidade no
campesinato, uma vez que não se trataria de uma multiplicidade de atividades em função da
precariedade do acesso aos mercados em conjunto com as estratégias que ainda têm em
comum, a não ser a negação da moderna agricultura familiar: da espacialização e especialização.
O trabalho realizado por Graziano da Silva e Del Grossi (1997 apud ALENTAJANO, 2001)
revela que a região sudeste apresenta uma maior pluriatividade no meio rural corroborando a
afirmação anterior. Entretanto, a região sul do Brasil possui a maior população em pequenas
propriedades e apresenta um espaço industrial desconcentrado, revelando uma baixa
pluriatividade conforme os dados que seguem:
Tabela 1 – População rural ocupada segundo setor de atividade principal que exerce; Brasil e regiões 1995
(1000 pessoas).
A situação atual mostra que as ocupações essencialmente agrícolas são as que geram
menor renda e que o número de famílias ocupadas em atividades agrícolas está diminuindo,
pois estas não conseguem sobreviver apenas com as rendas advindas da agricultura. Da
mesma forma, as famílias pluriativas, ou seja, que combinam atividades agrícolas e não-
agrícolas, também estão passando por um processo de redução, causado pela queda da
renda das atividades agropecuárias. Neste contexto, as famílias rurais brasileiras estão se
tornando cada vez mais não-agrícolas, obtendo sua sobrevivência de transferências sociais
(aposentadorias e pensões) e de atividades não-agrícolas (SILVA, 1996).
Outro fator importante a destacar é que as ocupações agrícolas mais genéricas, como
trabalhador rural e empregado agrícola, que empregam os trabalhadores com menor grau de
qualificação vêm diminuindo nos últimos anos, ao contrário das ocupações rurais não-agrícolas que
apresentam considerável crescimento. Cabe salientar que um terço das atividades não-agrícolas
geradas nos anos de 1980 a 1990 estão ligadas às ocupações de baixa qualificação como
empregados domésticos, ajudantes de pedreiro e prestadores de serviços diversos.
Atividade 1
Quais são os fatores determinantes para o desenvolvimento da
1 pluriatividade no Brasil?
No mundo atual, as mudanças no campo político, econômico e social que vêm ocorrendo
indicam um novo estilo de vida em que as inovações nos setores de comunicação e transporte
mudaram as noções e as distâncias físicas conhecidas. A informática e a microeletrônica
possibilitam novas formas de organização industrial. Vários autores como, por exemplo,
Graziano da Silva (1996), Eli da Veiga, Alentajano (2001) e Porto Gonçalves (2004) apontam
a emergência de um novo paradigma produtivo tanto para agricultura como para a indústria,
pois as novas tecnologias estão alterando as formas de organização do trabalho e redefinindo a
localização espacial. O que temos assistido é um rearranjo espacial em que indústrias, atraídas
pelos benefícios fiscais e estimuladas pelo desenvolvimento das telecomunicações, têm se
instalado no campo em busca de melhores condições de produção e trabalho. O campo se
industrializa e se urbaniza na visão de vários autores.
Cabe destacar que as políticas voltadas para o campo ainda são muito incipientes e
direcionam-se para a melhoria das condições básicas de transporte, comunicação, saúde e
habitação. As áreas rurais apresentam outras necessidades, como definição ou zoneamento
de áreas industriais e de moradia, estabelecimento de áreas de preservação ambiental etc.
23 jul. 2009
A cidade, distante 280 quilômetros de Teresina, ganhou uma pequena fábrica para
beneficiamento de castanha do caju e José Francisco foi um dos 36 moradores que conseguiram
ocupação por lá. “Ganho por volta de R$ 450 por mês. É menos do que recebia na cana, mas
vale mais a pena”, conta. “Agora, já dá para fazer planos para o futuro. Quero dar conforto aos
meus filhos e ficar perto deles.” Sua mulher, Maria da Cruz, 30 anos, que só tinha trabalhado
como empregada doméstica, ainda antes de se casar, foi contratada pela unidade, gerenciada
por uma cooperativa dos trabalhadores rurais de Ipiranga. Com seus ganhos, vai engordar a
renda da família em mais R$ 250.
Fonte: <http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4602&Itemid=62>. Acesso em: 21 out. 2009.
Resumo
Nesta aula, você estudou as transformações recentes no espaço rural em que
se destaca a pluriatividade no campo. Nesse contexto, faz-se um percurso sobre
a origem da pluriatividade e seu desenvolvimento no campo brasileiro em que
se destaca o dinamismo e as relações estabelecidas com as novas atividades.
Autoavaliação
Com base em tudo o que foi discutido nesta aula, responda às seguintes questões.
GONÇALVES, Carlos Walter Porto. O desafio ambiental. Rio de Janeiro: Record, 2004.
SILVA, José Graziano da. O novo rural brasileiro. Campinas: Unicamp, 1996.
Anotações
Aula
10
Apresentação
N
esta aula, você vai estudar a agricultura familiar e as políticas agrícolas, destacando-se
um pouco da história das políticas agrícolas brasileiras até a criação e desenvolvimento
do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Na aula,
você verá o conceito de agricultura familiar e analisaremos os rebatimentos do PRONAF na
agricultura face às políticas atuais no que se refere a sua origem, objetivos e tendências.
Objetivos
Analisar o papel do Estado em relação às políticas
1 agrícolas no Brasil.
A
Política agrícola política agrícola brasileira ao longo de sua história tem beneficiado os grandes
É o conjunto de
latifundiários. Segundo Manuel Correia de Andrade (1979), os grandes latifundiários
providências de amparo à sempre obtiveram apoio e auxílio governamentais concedidos através de crédito
propriedade da terra que subsidiado, de assistência agronômica, da organização da comercialização e da garantia de um
se destina a orientar, no
interesse da economia
preço mínimo compensador para seus produtos agrícolas. Ao contrário, o pequeno agricultor
rural, as atividades nunca usufruiu de uma política agrícola dessa magnitude, ficando na maioria das vezes a mercê
agropecuárias, seja no do mercado espoliativo ligado ao setor bancário.
sentido de garantir-lhes
o pleno emprego,
A partir da Segunda Guerra Mundial, a agricultura brasileira passou a ser vista como a
seja de harmonizá-los
com o processo de solução para o desenvolvimento do capitalismo e, ao mesmo tempo, lhe foi atribuída a tarefa
industrialização do país. de abastecer os centros urbanos e equilibrar a balança de pagamentos através da exportação
e valorização de produtos agrícolas nobres (café, soja, cana-de-açúcar, algodão, trigo etc.)
em detrimento dos produtos agrícolas considerados ordinários (feijão, milho, mandioca etc.).
Esse modelo, que já vinha sendo praticado desde o período colonial em que a exportação de
alguns produtos nobres já era estimulada, deixava a revelia a agricultura de subsistência. As
políticas no campo, de uma forma geral, beneficiavam os grandes latifundiários que dispõem
de capital, bens e outras garantias para a obtenção de crédito.
Nos anos seguintes, não se observa avanço nas políticas agrícolas, pelo contrário, nos
anos de 1980 o modelo de desenvolvimento entra em crise acentuando as disparidades sociais
devido a, entre outros fatores, má distribuição de renda e ao baixo nível de crescimento do país.
Nas últimas décadas, tem-se destacado uma série de políticas compensatórias para tentar
minimizar as desigualdades e os efeitos da pobreza. Entre essas medidas, pode-se citar o vale
gás, bolsa-escola, bolsa-família. Em relação às políticas agrícolas, faz-se necessário implementar
políticas estruturais que beneficiem os trabalhadores rurais. Nesse contexto, o Programa Nacional
de Agricultura Familiar, criado em 1996, parece ser um marco no qual faremos uma análise. No
entanto, inicialmente faremos uma leitura conceitual sobre o que é agricultura familiar.
Agricultura familiar:
questão conceitual
Uma discussão notável no cenário político atual diz respeito à definição da agricultura
familiar. No campo teórico, existe um vasto debate acerca da temática, nesta aula destacaremos
algumas concepções importantes sobre a problemática. Primeiramente, pontuaremos os
estudos teóricos acadêmicos e, em seguida, destacaremos a questão política e a agricultura
familiar no campo das políticas públicas.
Em concepção semelhante, Wanderley (2003) ressalta que a agricultura familiar não pode
ser pensada apenas como uma categoria produzida pelas políticas públicas, especialmente a
partir da criação do PRONAF. A agricultura familiar insere-se numa perspectiva evolutiva de
continuidade e ruptura das formas tradicionais de produção
O PRONAF surgiu na década de 1990, sendo dois fatores apontados como essenciais
para a sua criação: o primeiro diz que o PRONAF é elaborado em resposta a uma forte pressão
e reivindicação dos trabalhadores rurais, que se organizaram em marchas nacionais e em
outros movimentos de grande pungência; o outro refere-se ao desenvolvimento de pesquisas,
fruto da união da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) com o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que definem com maior precisão
a agricultura familiar.
Contudo, institucionalmente, o PRONAF foi uma política que teve início no governo de
Itamar Franco, com a criação, em 1994, do Programa de Valorização da Pequena Produção
Rural (PROVAP), que subsidiava crédito com taxas de juros acessíveis, concedidas pelo BNDES.
Em 1995, o PROVAP foi reformulado e, no ano seguinte, foi operacionalizado o PRONAF, que
se divide basicamente em três modalidades: crédito rural, infra-estrutura e serviços municipais
e capacitação.
Atividade
Analise a tabela a seguir e faça uma relação com a trajetória do PRONAF e a
1 agricultura familiar
Tabela 2 – Evolução dos municípios atendidos pelo PRONAF Brasil 2002/2002 – 2006/2007.
O estudo do perfil da agricultura familiar revela que uma diversidade tão grande de
sistemas produtivos, de estratégias de produção e sobrevivência, de condições estruturais e
disponibilidade de recursos que seria impossível pensar em desenvolver tecnologias para os
agricultores familiares. Além disso, os que pensam em tecnologia apropriada se esquecem que
vivemos em um mundo no qual o ritmo das transformações sociais, econômicas e tecnológicas
é vertiginoso, e que a tecnologia apropriada de hoje será inútil amanhã, quando provavelmente
começar a ser difundida entre os agricultores.
Leitura complementar
OLIVEIRA, Ariovaldo. Umbelino. de. O campo brasileiro no final dos anos de 1980. In: STÉDILE,
João Pedro (Org.). A questão agrária hoje. 3. ed. Porto Alegra: UFRGS, 2002. 322 p.
O livro reúne uma série de textos que buscam elementos de (re)leitura da questão agrária,
sendo assim uma referência importante para a reformulação e entendimento das políticas de
desenvolvimento.
Resumo
Você estudou nesta aula a respeito das políticas agrícolas brasileiras e sua
importância. Nesse contexto, você viu a questão conceitual sobre a agricultura
familiar e as políticas agrícolas mais recentes em que se destaca o desenvolvimento
do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) e suas
repercussões socioterritoriais.
Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. Agricultura e capitalismo. São Paulo: Ciências Humanas,
1979. 115 p.
BUANIN, Antonio Márcio; SILVEIRA, José Maria da. Agricultura familiar e tecnologia no Brasil.
Jornal da Unicamp, ed. 217, jun. 2003. Disponível em: <http://www.unicamp.br/unicamp/
unicamp_hoje/ju/junho2003/ju217pg02.html>. Acesso em: 29 out. 2009.
CARNEIRO, Maria José. Agricultura familiar e pluriatividade: tipologias e políticas. In: COSTA,
L. F. Carvalho; BRUNO, Regina; MOREIRA; J. Roberto (Org.). Mundo rural e tempo presente.
Rio de Janeiro: Mauad, 1999. p. 325-344.
OLIVEIRA, A. U. de. O campo brasileiro no final dos anos de 1980. In: STÉDILE, João Pedro
(Org.). A questão agrária hoje. 3. ed. Porto Alegra: UFRGS, 2002. 322 p.
_______. Raízes históricas do campesinato brasileiro. In: TEDESCO, João Carlos. (Org.).
Agricultura familiar: realidades e perspectivas. 2. ed. Passo Fundo: EDIUPF, 1999. p. 21-55.
Aula
11
Apresentação
N
esta aula, você estudará as políticas energéticas e sua relação com a agricultura. Verá também
o Proálcool e suas novas perspectivas que se inserem na política do biodiesel implantada
recentemente no Brasil. Além disso, analisaremos o Programa Nacional de Produção e Uso
de Biodiesel – PNPB, suas perspectivas e efetivação tanto nos segmentos da agroindústria como da
agricultura familiar. Destaca-se também o panorama atual do biodiesel no Brasil.
Objetivos
Conhecer as políticas energéticas e sua relação com a agricultura.
1
Compreender a necessidade e desenvolvimento de fontes de energia
2 alternativas consorciadas com a indústria e com a agricultura.
Seres que vivem Apesar dos problemas citados, no momento atual, o país vive um grande crescimento
em águas doces de da produção dos canaviais na tentativa de criar uma fonte alternativa de energia. O plantio
lagos e lagoas.
Rendimento
Evolução da área e produtividade de cana-de-açúcar − Brasil Área Plantada
Área Colhida
10 90
9 80
8 70
7
Toneladas por ha
60
Milhões de ha
6
50
5
40
4
30
3
2 20
1 10
0 0
2004
2000
2006
2003
2002
2005
2008
2001
2007
1994
1984
1990
1996
1993
1999
1983
1992
1985
1998
1986
1995
1980
1988
1989
1977
1982
1991
1997
1987
1981
1979
1978
1975
1976
30
25
20
Milhões de m3
15
10
5
2002/03
2003/04
2000/01
1982/83
1992/93
2004/05
2005/06
1983/84
1953/54
1952/53
1962/63
1963/64
1993/94
2008/09
2006/07
1972/73
1964/65
1995/96
1949/50
1965/66
1984/85
1985/86
1994/95
1955/56
1998/99
1954/55
1969/70
1999/00
2001/02
1996/97
1956/57
1966/67
1968/69
1989/90
1990/91
1980/81
1986/87
1988/89
1948/49
1958/59
1960/61
1979/80
1959/60
1976/77
1950/51
1970/71
1991/92
1978/79
1975/76
1961/62
1971/72
2007/08
1981/82
1967/68
1973/74
1997/98
1957/58
1987/88
1951/52
1977/78
1974/75
MT, GO
Algodão 0,86 a 1,4 15 Anual MS, BA e Mecanizada 0,1 a 0,2
MA
Amendoim 1,5 a 2 40 a 43 Anual SP Mecanizada 0,6 a 0,8
Intensiva
Dendê 15 a 25 20 Perene BA e PA MO 3a6
GO, MS,
Girassol 1,5 a 2 28 a 48 Anual SP, RS e PR Mecanizada 0,5 a 0,9
Intensiva
Mamona 0,5 a 1,5 43 a 45 Anual Nordeste MO 0,5 a 0,9
Pinhão Nordeste e Intensiva
manso 2 a 12 50 a 52 Perene MG MO 1a6
Quadro 1 – Caracterização das principais oleaginosas com potencial para produção de biodiesel no Brasil
Fonte: adaptada de Meirelles e Zoneamento de risco climático, MAPA (2003 apud SEBRAE, 2007, p.31).
O etanol produzido através da cana-de-açúcar pode ser uma das alternativas para a
diminuição da emissão de gases e partículas que comprometem o geossistema planetário e a
saúde humana. A cana-de-açúcar sempre foi e, ainda, continua sendo um produto importante
para o Brasil, desde o processo de colonização de exploração implantada pelos países europeus
(Portugal, Holanda, Inglaterra).
Atividade 1
padronização do ICMS;
Além desses instrumentos, o governo criou uma legislação específica para dar suporte
e segurança jurídica ao projeto e garantir a demanda da parte do biodiesel produzido no país,
independente do custo de produção e de transação. Além disso, o governo federal determinou
um prazo para introdução do biodiesel no mercado brasileiro; prazo que inicia em 2008 e vai
até 2012. Nesse intervalo de tempo, será obrigatório o uso de 2% do biodiesel ao óleo diesel e
a partir de 2013 será obrigatório o uso de 5%. Outra medida anunciada pelo governo se dá no
âmbito fiscal, a criação da Lei n.116/2005 que dispõem sobre a desoneração total ou parcial
dos tributos federais sobre o biodiesel (PIS, PASEP E COFINS). A proposta inicial de isenção
do governo resume-se conforme a tabela abaixo:
Em relação à tributação estadual o governo estabeleceu uma alíquota de 12% para o ICMS
(Imposto sobre circulação de Mercadorias e Serviços) em todo o território brasileiro. No que
se refere à agricultura, o MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) criou instrumentos
para o financiamento da produção de oleaginosas as quais foram inseridas ao PRONAF
(Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) que se subdivide em: PRONAF
biodiesel, PRONAF agroindústria, PRONAF infraestrutura e por último o PRONAF diversificação,
capacitação, assistência técnica e extensão rural, inovação e insumos. Além dessas medidas, o
governou criou o Programa Financeiro a Investimentos em Biodiesel para grandes investidores,
O PNPB tem gerado amplo debate na agricultura brasileira se constituindo tema relevante
da economia. No entanto, cabe destacar que o projeto tem sido alvo de diversas críticas
em que podemos citar alguns fatores positivos e fragilidades. Entre os fatores positivos,
considera-se que o projeto é viável socioeconomicamente e ambientalmente e, ainda, insere
a agricultura familiar ao agronegócio, possibilitando novas relações entre o setor industrial
e os produtores familiares. No que se refere às fragilidades, destaca-se a ausência de uma
política especifica de apoio a organização da produção ligada a agricultura familiar (GARCIA;
ROMEIRO, 2009). Portanto, o PNPB abre oportunidades tanto para o setor agrícola como
para o setor industrial e há também possibilidades de abertura de novos mercados em escala
local e global, tanto em bens quanto em tecnologias, pois o Brasil é pioneiro no setor de
biocombustíveis. No país são apontados diversos benefícios com a produção de biodiesel,
conforme podemos visualizar na figura abaixo:
NORTE NORDESTE
O biodiesel pode ser a solução Associado a um programa de
para o isolamento energético de assentamentos sustentáveis,
regiões longínquas na Amazônia, possibilita a geração de emprego e
onde gasta-se normalmente até renda para a população rural,
o equivalente a 3 litros de diesel através da ricinocultura.
para transportar 1 litro.
SUDESTE
CENTRO-OESTE O biodiesel ajuda a
Cerca de 50% dos transportes melhorar a qualidade
de carga são feitos por de vida nos grandes
rodovias. Com o biodiesel, centros urbanos. Assim
essa atividade pode tornar-se como no Sul, a soja
mais barata e ecológica. parece ser a oleginosa
de maior potencial.
SUL
Com a queda do consumo de
óleos de soja, a produção de
biodiesel pode equailizar os
déficits do óleo de soja nos
mercados convencionais.
Atividade 2
O texto trata de questões atuais sobre as políticas desenvolvidas para o biodiesel brasileiro,
evidenciando as potencialidades e fragilidades da agricultura em relação ao desenvolvimento
do setor energético.
Resumo
Nesta aula, você estudou a questão energética e sua relação com a agricultura,
destacando-se as políticas energéticas do Proálcool e do Programa Nacional
de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). Nesse sentido, foram discutidas as
perspectivas e os desafios da política do biodiesel e sua efetivação nos segmentos
da agroindústria e da agricultura familiar. O panorama atual do biodiesel no Brasil
também foi destacado.
Autoavaliação
Com base em tudo o que foi discutido nesta aula, responda às seguintes questões:
GARCIA JUNIOR, Ruiz; ROMEIRO Ademar Ribeiro. Governança da cadeia produtiva do biodiesel
brasileiro. Revista de Política Agrícola, ano XVIII, n. 1, jan./mar. 2009.
Anotações
Aula
12
Apresentação
Nesta aula, estudaremos as relações de trabalho no campo. Para tanto, faremos um
breve histórico do trabalho rural no Brasil e, em seguida, destacaremos as relações de trabalho
propriamente ditas. Veremos, também, as relações de gênero e a participação da mulher no
trabalho agrícola.
Objetivos
1 Entender as relações de trabalho no campo brasileiro.
O mundo rural não é mais um espaço isolado sobre o qual se desenvolve um conjunto de
atividades agropecuárias. O isolamento não mais existe, pelo menos em grande parte do território
nacional. Estamos caminhando em direção a uma sociedade de forte complementaridade
urbano-rural. Nesse contexto, torna-se interessante resgatarmos um pouco da história do
trabalho rural no país para compreendermos quem são os atores responsáveis por importante
parte da riqueza gerada no campo brasileiro.
O Brasil colônia foi marcado pela grande propriedade, pela monocultura de exportação e
o trabalho escravo. Nesse contexto, outras formas de exploração da natureza como a pecuária
extensiva e as pequenas lavouras constituíram-se como atividades marginais, subordinadas a
economia colonial que originaram a agricultura familiar de subsistência.
Nas ultimas décadas do século XX, constituí-se o mercado de trabalho brasileiro capitalista
formado por trabalhadores livres, trabalhadores escravos recém libertos e imigrantes europeus.
A mão de obra imigrante foi importante e permitiu o desenvolvimento da cafeicultura e de
outras atividades agrícolas e não-agrícolas.
A organização da produção da
agricultura brasileira e relações de trabalho
Na organização da produção da agricultura, podemos evidenciar 4 relações que se
destacam na literatura brasileira em relação ao trabalho no campo, são elas: o latifúndio, a
unidade familiar produtora de mercadorias, a unidade familiar de subsistência e a empresa
agropecuária capitalista, incluindo os complexos agroindustriais - CAIs.
1) O latifúndio – São grandes extensões de terra voltadas para a produção agrícola para o
mercado interno e, principalmente, para o externo. Nessas grandes propriedades, a força
de trabalho é diversificada classificando-as em: trabalho assalariado, parceiro, morador
ou agregado, boia-fria ou diarista e o arrendatário.
a) Trabalhador assalariado – Trabalhador rural que recebe salário mensal em dinheiro para
prestar serviço nas propriedades. Este trabalhador pode possuir vínculo trabalhista.
Relação de trabalho tipicamente capitalista.
c) Morador ou agregado – Trabalhador rural que vive em grandes propriedades com sua
família, produzindo para subsistência e prestando serviço para o proprietário da terra.
50,00
Percentual (%)
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Urbana Rural
Gráfico 1 – Distribuição das crianças de 10 a 14 anos de idade por situação de ocupação e local de residência
Fonte: PNADS (1995). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/publi_04/COLECAO/TRABIN1.HTM>. Acesso em: 22 out. 2009.
4,2%
GRUPOS DE ÁREA
15,0%
De 0 a 9 ha
40,8% De 10 a 99 ha
De 100 a 999 ha
40,0%
De 1.000 ou mais
Atividade 2
1 Leia o poema a seguir e, em seguida, responda o que se pede.
Açúcar
(Poema de Ferreira Gullar, 1963)
Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.
Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram
este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
b) Ferreira Gullar escreveu em 1963 o poema Açúcar, em que expõe a exclusão social e as
precárias condições de trabalho nas usinas de açúcar. Nas relações de trabalho no campo
ainda é possível detectar essas situações? Justifique.
Fonte: http://www.iea.usp.br/iea/imagens/ariovaldooliveira.jpg
Resumo
Nesta aula, você estudou as relações de trabalho na agricultura, destacando a
organização da produção da agricultura brasileira e as formas de trabalho no
campo. Nesse contexto, você viu também a transformação do agricultor em
capitalista e o aumento da participação feminina no trabalho agrícola.
Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. Agricultura e capitalismo. São Paulo: Ciências Humanas,
1979. 115 p.
OLIVEIRA, A. U. de. Modo capitalista de produção e agricultura. 4. ed. São Paulo: Ática.
1995. (Série Princípios).
_______. O campo brasileiro no final dos anos de 1980. In: STÉDILE, João Pedro (Org.). A
questão agrária hoje. 3. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2002. 322 p.
ROMEIRO, Juan Ignácio. Questão agrária: latifúndio ou agricultura familiar. São Paulo:
Moderna, 1998.
Anotações
9 788572 738903