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The
Elgar companion to classical economics. Cheltenham, UK; Northampton, MA, USA,
Edward Elgar, 1998. p. 440-445.
Excedente
𝐴 = 𝐴𝑎 + 𝐴𝑏 + 𝐴𝑐
𝐵 = 𝐵𝑎 + 𝐵𝑏 + 𝐵𝑐
(1)
𝐶 = 𝐶𝑎 + 𝐶𝑏 + 𝐶𝑐
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Uma vez que uma das mercadorias, digamos a mercadoria a, deva ser escolhida
como o numerário dos preços, com consequentemente 𝑝𝑎 = 1, nas três equações acima
existe apenas duas incógnitas, 𝑝𝑏 e 𝑝𝑐. Mas se a equações (1) se mantêm, uma dessas
equações de preço não é independente das outras, como poder visto ao multiplicar cada
uma das equações (1) pelo preço da respectiva mercadoria e adicioná-las. Portanto, sob
essas condições, apenas duas das três equações seria independentes, sem espaço para
qualquer incógnita ser inserida nelas. Se, pelo contrário, a economia produz um
excedente, de modo que pelo menos uma das relações (1) o sinal = é substituído pelo
sinal >, as três equações de pressão são todas independentes, e haverá espaço para uma
terceira incógnita – a taxa de lucro geral, r. Então as equações de preço tomam a forma
usual (SRAFFA, 1960: capítulo II):
( )
𝐴𝑝𝑎 = 𝐴𝑎𝑝𝑎 + 𝐵𝑎𝑝𝑏 + 𝐶𝑎𝑝𝑐 (1 + 𝑟)
( )
𝐵𝑝𝑏 = 𝐴𝑏𝑝𝑎 + 𝐵𝑏𝑝𝑏 + 𝐶𝑏𝑝𝑐 (1 + 𝑟)
( )
𝐶𝑝𝑐 = 𝐴𝑐𝑝𝑎 + 𝐵𝑐𝑝𝑏 + 𝐶𝑐𝑝𝑐 (1 + 𝑟)
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parte da análise, e o excedente, o conteúdo da taxa de salário é consequentemente
determinada residualmente. Como é argumentado em algum trabalho recente ao longo
desta linha de raciocínio (PIVETTI, 1991), como justificação para tal tratamento da taxa
de lucro depende de dois elementos. A primeira, já presente no presente nos trabalhos
dos economistas clássicos, é a estável relação que pode ser razoavelmente assumida
existir no longo prazo entre a taxa de lucro e a taxa de juros (WN, I.ix.4), com a primeira
excedente a última como um prêmio para o “risco e problema” (“risk and trouble”)
associado ao investimento do capital na produção (WN, 1, vi.18; V.ii.f.3). A segunda e é
o elemento inovativo é a possibilidade de conceber a taxa de juros determinada fora do
sistema de produção, com base no que é decidido pelas autoridades monetárias. Esta
visão não implica, entretanto, que a divisão do excedente entre salários e lucros cesse de
depender de fatores sociais, e, em particular, da posição de barganha das classes. As
políticas monetárias são obviamente parte das políticas econômicas executadas no país,
e são amplamente afetadas por elementos institucionais tais como os sistemas de taxa de
câmbio, os regimes de movimento de capital, o grau de indexação salarial à inflação, e
assim por diante. Os conflitos sociais podem, então, serem vistos para se fazerem sentir
por meio desses canais, e assim, em última análise, ter uma influencia sobre os níveis
das taxas de juros.
Nos trabalhos dos clássicos, a disponibilidade de um excedente é uma condição
necessária para a acumulação de capital. Para a maioria deles também era visto como
uma condição suficiente, pelo menos no que diz respeito à parcela do excedente que
assume a forma de lucros: na verdade, estes últimos são em grande parte poupados, e
aqueles autores assumiam que qualquer decisão de poupança se transformaria, direta ou
indiretamente, em investimento (ver, por exemplo, RICARDO, Works, I, pp. 290-91,
396; cf. também GAREGNANI, 1978: 338-91).
Podemos agora fazer uso do princípio de Keynes da independência do
investimento das decisões de poupança de forma a reconsiderar a relação entre
excedente e acumulação (a este respeito, ver também CICCONE, 1994). Admitamos,
por enquanto, que a subsistência é inteiramente consumida, de modo que a capacidade
da economia produzir um excedente físico é ainda uma condição necessária para a
acumulação. Podemos excluir, entretanto, essa capacidade sendo também uma condição
suficiente. A independência do investimento da poupança implica, aplicando as
concepções keynesianas, que qualquer excesso de renda excedente poupada acima do
investimento “desapareceria” por meio da redução do tamanho absoluta tanto do
excedente como do produto social, em uma extensão suficiente para reestabelecer a
igualdade entre produto e gasto, e, portanto, entre as decisões de poupança e
investimento. Segue-se que, dado o nível de subsistência, e consequentemente a relação
𝐿𝑠
𝐿𝑣
entre as quantidades de trabalho mencionadas acima, a magnitude de 𝐿𝑠 assim como
a 𝐿𝑣, será menor, menor o nível de investimento (líquido).
De qualquer forma, com base em uma consideração adequada da noção de
subsistência, mesmo a premissa de que a poupança venha apenas das rendas excedentes,
para que um excedente seja estritamente necessário para a acumulação, não precisa ser
válido em geral. Em uma sociedade desenvolvida, a subsistência pode incluir a
capacidade do trabalhador poupar alguma parcela do salário, por exemplo de forma
sustentar seu padrão de vida após a aposentadoria, para fornecer a educação futura das
crianças, e assim por diante. Em tais casos a “propensão a poupar” dos trabalhadores
pode ser positiva mesmo ao nível de subsistência dos salários, e com respeito para a
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formação de poupanças para a produção de um excedente não seria, em princípio, uma
condição necessária para a acumulação de capital. Naturalmente, que isto não nega que
os lucros sejam uma característica inerente de uma economia capitalista, e que sob essa
forma de produção a disponibilidade de um excedente é de fato um requisito para a
cumulação, bem como para o processo de produção em geral, a ser realizado.
Ver também:
Bibliografia:
Ciccone, R. (1994), ‘Surplus approach’, in P. Arestis and M. Sawyer (eds), The Elgar
Companion to Radical Political Economy, Aldershot: Edward Elgar.
Garegnani, P. (1984), ‘Value and distribution in the classical economists and Marx’,
Oxford Economic Papers, 36,291-325.