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07/03/2018 Itália | Na Sicília, a vitória do 5 Estrelas foi demasiado grande | PÚBLICO

ITÁLIA

Na Sicília, a vitória do 5
Estrelas foi demasiado grande
Entre eleitos através do sistema proporcional e os
escolhidos directamente, o Movimento não tem candidatos
suficientes para os lugares obtidos.

SOFIA LORENA , em Roma • 6 de Março de 2018, 13:19

REUTERS

Pode uma vitória ser demasiado grande?


Aparentemente, sim, pelo menos para o
Movimento 5 Estrelas, pelo menos no
caso na Sicília. A lei eleitoral, um
complexo sistema misto, uninominal e
proporcional, ajuda a perceber o
sucedido.

Ora bem, os “grillini”, grandes


vencedores das legislativas de domingo,
arrasaram no Sul, principalmente nas
ilhas. Na Sicília, o movimento elegeu 44
deputados e senadores, 28 através do
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sistema uninominal, mais 16


parlamentares na quota decidida com as
regras de um sistema proporcional.

O problema é que cada lista do partido


nos diferentes círculos só podia, por lei,
ter quatro nomes e, nalguns casos, o
movimento só apresentou três. Como
parte destes candidatos, eleitos através
dos votos na lista do movimento
também venceram no confronto directo
com os escolhidos pelos outros partidos
(eleição uninominal ou maioritária), o
total dos candidatos não chega para
preencher os lugares realmente obtidos.

É a “ironia suprema”, diz Raffaella


Svizzeretto, restauradora de arte e
conselheira municipal em Roma do
M5S. “Uma lei disparatada, inventada
para beneficiar as coligações, os
mesmos de sempre, e nós não só
vencemos como temos uma vitória
demasiado grande numa região”.

Sucedeu em vários círculos, qualquer


um serve de exemplo. No conjunto da
Catânia, Giulia Grillo e Simona Suriano
venceram na quota maioritária, mas o
partido obteve três lugares no
proporcional, devendo assim enviar
cinco eleitos para Roma. Problema: para
além de Grillo e Suriano, na lista total
que foi a votos só sobra um candidato,

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Luciano Cantone. A solução deverá


passar pela eleição de suplentes, mas
para já só se debate o inaudito dos
factos.

Segundo a muito criticada lei, um terço


dos membros da Câmara dos Deputados
e do Senado foram eleitos através da
escolha de um membro por círculo –
cada partido ou coligação nomeou um
candidato, ganhou o mais votado. Os
restantes 398 lugares da Câmara e 199
do Senado foram escolhidos de forma
proporcional.

A lei obriga a contas tão complexas que


na terça-feira de manhã ainda havia
senadores da Liga à espera de saber se
tinham sido eleitos. As contas
complicam-se mais no caso das
coligações, onde a percentagem de votos
num candidato eleito de forma directa
(sistema uninominal) é depois
distribuída pelos diferentes partidos,
tendo em conta o resultado que cada um
obteve no círculo nesse círculo.

Leis e confusões à parte, o que explica o


sucesso do M5S no Sul de Itália? O
movimento criado por Beppe Grillo já
era forte nas regiões mais pobres do
país, de tal forma que o líder, Luigi Di
Maio, passou grande parte da campanha
no Norte. “O Movimento arrasa no país

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que está pior. Recebe os votos do mal-


estar de uma Itália marcada pelas
desigualdades”, escreve o diário
económico Il Sole 24 Ore.

Subsídios e legalidade
Os números são impressionantes. Na
mesma Catânia onde os candidatos não
chegam para os votos obtidos, o M5S
sobe de 22,14% em 2013 para 50%. Ao
todo, o partido ultrapassa os 48% na
Sicília e os 40% na Sardenha. Mas o Sul
não são só as ilhas: no círculo Nápoles 1,
o deputado Roberto Fico venceu com
58%, chegando aos 75% em bairros
particularmente complicados, como
Scampia, na periferia norte da cidade,
resultados inéditos para qualquer
partido por estas zonas.

A explicação óbvia é a promessa que a


direita descreve como mais absurda e
impossível de concretizar: um subsídio
de desemprego mínimo de 780 euros (o
mesmo valor que passaria a contar para
as pensões mais baixas). Mas em
territórios onde a ameaça das máfias se
mantém, contou também seguramente
a mensagem de legalidade e luta contra
a corrupção, uma das bandeiras
fundamentais do M5S desde a criação,
há quase dez anos.

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Mas esta vitória é de, facto nacional,


com o movimento a ser o segundo mais
votado no Piemonte, por exemplo, atrás
da Liga, e o primeiro na Lácio, com 32%.
No caso da capital, onde o partido
controla a autarquia, terão contado
outros factos, como a gestão do mau-
tempo e o anúncio, na última semana de
campanha, do fim dos carros a gasóleo
no centro histórico até 2024.

Claro que a subida extraordinária do


M5S é também a derrota calamitosa do
centro-esquerda e do Partido
Democrático: o PD de Matteo Renzi
perdeu 5 milhões de eleitores; destes,
um em cada três transferiram-se para
movimento no movimento que Beppe
Grillo deixou a Di Maio. O partido anti-
sistema também foi buscar a maioria
dos abstencionistas de 2013 que desta
vez decidiram votar. Contados todos os
boletins e atribuídos quase todos os
lugares, o M5S soma 32,7% na Câmara
dos Deputados e 32,2% no Senado.

slorena@publico.pt

O SEU PÚBLICO EM 01:47 MINUTOS  1/4 Os Óscares são de… 


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