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Os olhos da sociedade... Uma etnografia nas esquadras de policia de Lisboa’ Resumo ‘A partir de duas categorias permanentes no discurso nativo dos policias ~ fora e dentro -, analis as hesitagbes entre vigilinca e controle poticias. Estes esto na base de saberes e poderes menos consensuais e aticulados do que tendemos a imaginar ou a ver projetados nas agoes das burocracas de Estado. Dertro e fora se revelam categoras analiticas funda ‘mentais para entender a estruturagdo con:empordnea e as dindmicas da ago poical entre rua ea esquadra, a prevencio e a pré-atvidade, a produgdo de centratidades e de margens ‘no dmago do proprio Estado. O objetivo deste texto & demonstrar como, por meio de wma andlise de priticas quotidianas, mas tanbém de discursos e entendimentos em torno da ativdade polical, as ilegibilidades produzdas pelo Estado nao afetam apenas quem esta fem suas margens, mas também quem esté nos centros, nomeadamente os produtores de ‘otdens: 0s policias. Baseio-me numa pescuisa etnografica recente desenvolvida no seio da Policia de Seguranca Pablica portuguesa Palavras-chave Vigilancia/controle, polciamento, etnograia, Portugal. Introdugao Nas Ciéncias Sociais, a vigilancia tem sido vista como premissa do controle € do poder. Esta é encarada como primeira fase ou fase simultnea do controle. "Doutora em Antropotogia pelo no Insttto de Ciéncas Socias do Trabalho e da Empresa em Lisboa (Lishoa/ Portugal) ¢ investigadoraauxiliar no Instituto de Giéncias Sociais da Univers- dade de Lisboa (Lisboa, Portugal). Eanai ssbduraot@gmailcom. "Uma versio diferente deste texto fot publica no Hiro onganizado por Catarina Fro, A sociedad lant ena tr gina, privacidad eanonimato (Lisboa nsprensa de Ciéncas Sociis, 2008). MRSS enn) v.19. hm 209 ~ DURA, 0 ob dsc ° L:Heuillet, numa longa incursio acerca do trabalho poli Tal como a contemplacio, a vgiliincia € uma arte da demora; ela € *perma- nente, exaustiva, cmnipresente” (cf. Foucault, 1975:249). O olhar disciplinar nao observa para encontrar qualquer coisa de preciso, nem para manter a ‘ordem, mas tem aambicao de cobrir 0 corpo social com sua vigilancia: é um controle” (L’Heullet, 2004:232)%, Mas nem sempre é especificado 0 modo como 0 poder cixcula entre um € outro, como vai da vigilincia ao efetivo poder de controlar; dos olhos aos tivras da sociedad’. Embora desde 2001 estivesse a trabalhar sobre a policia urbana portuguesa (a denominada Pelicia de Seguranca Paiblica, vulgo PSP), tendo realizado de- zenas de entrevistes toda uma série de profissionais em diferentes segmentos internos, foi somente durante o ano de 2004 que acompanhei mais de perto as rotinas de trabalho em esquadras de Lisboa. Fixe-me em particular nas rotinas de uma esquadra da zona ocidental de Lisboa, mas conheci méltiplas uunidades e contatei com policias de toda a teia institucional do pais, Para fixar as observacdes, mantive um longo e detalhado difirio de campo, procedimento metodol6gico comum na antropologia situada. A pesquisa culminou numa tese de doutoramento (Duro, 2008) que proponho é um olhar de fora ¢ de dentro, a partir desses lugares de praticas e lugares discursivos que circulam nas franjas do proprio Estado. diza certaaltura Analisarei as dissimetrias, os descompassos ¢ as hesitagdes entre vigilincias ¢ controles policiais que esto na base de saberes e poderes de Estado menos consensuais ¢ articulados do que tendemos a imaginar oua ver projetados no real. Estes levam a tracar uma reflexio sobre concepedes do que significa na policia a rua ea esquadra, a proximidade e a proatividade para, deste modo, fornecer dados inteligiveis sobre a producio de centralidades e de margens no seio do proprio Estado. ‘Aautoraaderte que “talvez Michel Foucault jogue com aetimologia deste term, ji que ‘com ‘werdle’ (do francés oni conttolo) €0 duplo do mie raeé otermo antigo que sigaiica texto € registo. Ora, do olho que depende olvro que descreve a sociedade™ (bid:232), * Norbert Elis (199, 1990) racou a histéria do longo camino cvlizacional ocidental no sentido da consliéago do Estado Modern, da centalzacio dos poderese do concomitante autocontrole egestio da volEneia por parte dos indivdues. Ji Giles Deleuze (1902), num ensaiofamoso, surgi a argumentar que as sociedad disciplnares tio bem documentadas ‘por Foucault, na contemporaneidade esto sendo substituldas, em toda a sua extensio, por tociedades de controle, 10 INTERES ee 11.593, 20 — RA, Os a dc Dentro e fora [Nas esquadras as nogies de dentro € fora sto usadas frequentemente, pelos agentes ¢ chefias, na linguagem quotidiana como metafora que atravessa a tarefa institucional do policiamento. Nesse sentido, 0 edificio da esquadra representa o estar mais préximo do conjunto de normas que enquadraaacio, mais “dentro do sistema”, como dizem os policias, € 0 terrt6rio em volta, a supervisionar a expansio “para fora” desse poder de policia. Neste contexto, fav sentido que os policia digam, quando detém alguém, que o “levam dentro”, para as instituicdes de confinamento social, ou que de cada vez que iniciam ‘uma patrulha verbalizem entre si: "Vamos li para fora, vemos girar™. Pretendo aqui demonstrar que mais do que espacialmente definidas, dentro € fora se revelam categorias analiticas fandamentais para entender a estruturacio ¢ as dinémicas da agZo policial tal como estas se do, vistas a partir das priticas do poticiamento de esquadra, A clasificagao espacial enforma todo um conjunto de diferenciagdes nao lineares que, & primeira vista, aparentam estar perfeitamente interconetadas, As primeiras sio as lassficagdes que emolduram as praticas de trabalho: o trbalho mais dentro, na produgio das eseritas da instituicao, pode diferenciar-se de um trabalho ais ora, de decisio mais situacional, considerado vigilante ¢ operacional, ¢ nem sempre transformado em escrita, em partcipagao, em auto, ou sequer conduzido ao seio da esquadra (isto é, sobressaindo em dado legal). Assim teriamos uma separagio cada vez maior entre escrita e vigilancia/operacio- nalidade, Este entendimento da atividade ganhou particular dinamica depois das reestruturacdes sucessivas de que a PSP foi alvo desde os anos 1980, na fase p6s-ditatorial da historia portuguesa, ¢ que tem vindo a reconfigurar 0 trabalho das esquadras’ “De acordo com pesquiss sobre a histria da institaconalizacio da poicia em Portugal a ideia de esquadrafobse modificando & medida que seu mandato foi adquirindo cada vez ‘mais componentes de controle criminal, Entre 1887 ¢ 1930, o periodo mats reformador da instvuigio, 1 nocio de eaquadra remetia para o teritéro e conjunto de ruas a policar © ‘menos parao lugar fsico, como velo a acontecer, As posturss mun cipas, ordenamento do {trnsito, supervsio da prosituigao, mendicidade e comércios ambulantes eram as questes {que ocupavam a generaldade dos patrlheirosedefiniam a maior parte da agenda de seg aca pblica nas maiores cdades (Dus, Goncalves & Cordeiro, 2005; Goncalves, 2007) * Arconganizaco da poicia urbana levou iris anos para ser implementada, process que fot inicio em 1985, Teve especial incremento no final dos anos 0, coma Lei de Onganizacio ‘¢Funcionamento da PSP n, 5/99, de 27 de jancizo, e com a mais recente lei n. 55/2007 ‘Taisreonganzagbes demonsraram um exforgoe reforgo do control governamental no que NTR ft dew 1 9.832 209 ~ 9A, sas ct, a Tais classificagdes estao na base de uma outra divisio profissional e iden- titaria, associada aos diferentes subgrupos que compdem a policia aspecto, os oficiais comandam mais a partir de dentro e os agentes operam mais fora. Tal organizacao corresponde a uma divisio assente em diferentes poderes estatutarios, proprias de instiuigdes estreitamente hierarquizadas. Embora os policias estejam muito conscientes da hierarquia em que se in- serem, as configuragdes da mesma e as geometrias do poder so dinamicas € tém implicagdes concretas na agao, jé que “mais que um instrumento, a policia € secretaria do politic [...], no consiste tanto em calarse como agir “em nome de” (L'Heuillet, 2004:83)°. .garfamos assim 2 relagao dos poderes en nas ruas ¢ por intermédio dos agentes o poder de vigiar, proprio da operacio- nalidade e com uma discricionaridade inerente para em situacio decidir por policias: fazendo uma ou outra resposta; ¢ um poder de controle mais situado nas esquadras cescrita e internamente supervisionado, com extensdes a outras instituigées do Estado. saber policial é considerado o saber das ruas, um saber “cl ico”, que se interessa pelo “refugo, pelo detalhe, pelo indicio, pelo trago” (Ginzburg, 1989; L’Heuillet 2004:235) ¢, em sua versio & paisana, conforme ao concei to pan-6ptico, tal como avancado por Foucault (1975 na medida em que tudo vé sem ser visio ¢ desindividualiza o poder, Tratase de um saber que € também ele um peder de artculacio entre o politico (quer da organizagao, quer ministerial) eo judicial. E um poder que se articula a partir de dentro «que visa 0 controle, nao 36 dos resltados do conjunto das atividades pro- cessadas por seus agentes como dos mesmnos’. Toda a configuracéo didria do trabalho de uma esquadra de policia faz com que 0s agentes se encarre- concerme ao sstemz pblico, em geral, es burocralas poicas, em particular Nese ea, politica completowse com recente revisio dos cngos penais, com a proisionalizagao eapecialzagao do pestoal -wdo a partir de um manifesto desejo de ransparencia ede ‘burocracias mais ‘wodernizadas”. “Por exemplo, até 19% ox chefes de exquadra assamiam um papel fundamental no policiamento ena formacio dos guardas em Lisboa (Goncalves, 2072). F possvel antever para a época ‘uma grande autonemnia nos esilos de poiciamento entre as esquadira sinadas nas dives regides da cidade, que vio ase modifcar com 0 sentido cada vex mais adminiseativ da vagilinciac patrutha no presente. " Nese sentido, a policia parece ser una das instinigdes em que melhor se podem observar 98 visiosniveis do poder em processamento, tal como form delimitados por Erie Wolf (2001), um poder was. um outro tictico ou oganizacional, mas também 0 relacional e' pesol 1 IMTS Peden 11.933, 0 - Ra oad ade _guem das ruas, os subchefes! assistam a elas e a denunciantes nas esquadras ¢ 0s comandantes nunca delas precisem de sair. Nao admira que do prisma dos agentes, ¢ globalmente dentro de toda a policia, o lado de fora, as ruas, sejam representados como os seus dominios, lugares de libertagio de cons- trangimentos que evocam as codificacdes comportamentais, hierarquizantes, {duos de entendimentos militares das relag6es interpessoais combinados ‘com exigéncias administrativas e burocraticas. Tem sido argumentado que no presente estas organizacdes sao hibridos do modelo militar e do burocratico Goldstein, 1977; Bittner, 2008). Por um lado, apesar dos “agentes de rua” (termo dos préprios) terem poderes amplos no ciclo do trabalho, que vao da vigilincia ao controle, sendo responsiveis pela sinalizacao, identificacao registo das ocorréncias escritas, a organizacao policial assegura varias ins- tincias de supervisio desse trabalho. Cada registo tende a passar por varias corregdes, que podem ir do chefe direto ao comandante de esquadra. Por outro lado, estudos sobre estes universos apontam uma tendéncia comum: com raras excecdes, os agentes valorizam 0 trabalho fora e desvalorizam 0 trabalho dentro, considerando frequentemente que 0 segundo atrapalha 0 primeiro (Banton, 1964; Bittner, 2003; Reiner, 1985; Manning, 2003). Se esta separago tem sido analisada como manifestacao de duas formas de cultura, a “culuura dos policias gestores” (management cops), neste caso 08 of ais de policia, ea “cultura dos policias de rua” (street cops), como defenderam Reuss-lanni & Ianni (1983), temos boas razdes para acreditar que tais from as, méveis, expoem aspectos muito mais complexos da realidade policial que cextravasam o entendimento organizacional, Propriamente no plano da acio policial, tem sido também identificado todo um sistema de classficaces para a atividade, nas muas, que ndo tem exata coincidéncia com o plano da acio regulamentadora registada nos sistemas de informacao administrativa (Duro, 2008b, caps. 4 € 5). No plano das nominagdes ¢ esterestipos como “mitra” para o suspeito de rua ou “carocho” para 0 consumidor degradado, a policia 1ndo s6 encontra ligagdes a prénocdes hegemdnicas associadas & delinquéncia como é parte integrante da sua producto (Becker 1991; Chaves, 1999, 2000; Duro, Gongalves & Cordeiro, 2005). Se este duplo sistema de entendimento da atividade surge para evidenciar algumas particularidades do funcionamento e " Divisbes do trabalho na hiséria recente ealterages nas carreras fazem do subchefe de ex «quadra um home do mai, com um poder relatvamente restringido no desenho institucional A presente, quer nos dominios de fora quer de dentro (ver Durio, 2008, cap. 2, no qual se deserever os mods de organizago efuncionamento das esquadsas). Annie eon, 00 ~ 0, Oa a sca 3B ‘mecanismos dos poderes na atividade policial—que na Antropologia tendemosa considerar esses sim culturais, na medida em q icosatravessam gerac de policias e, com estes, enformam entendimentos da atividade no pais-, tais lassficagdes da acao representam mais um eixo que de certa maneira aponta para separagdes entre as dimens6es forae dentro, Entendimentos politicos sobre trabalho polical, relativamente globalizados, fazem-nos assistr, logo no plano «da patrulha, a valorizagio crescente das ocorréncias criminais ea desvalorizacio de todo um outro conjunto polimorfo e heterogéneo de ocorréncias, numa imposicdo que surge para regular de dentro as realidades exteriores'. Podem seridenificadas hierarquias de representacio (pré-criminal) que inver- tem hierarquias resultantes da acio pratica (de regulaco ordinaria quotidiana) «que, desse modo, sio reveladoras de importantes transformagdes das priicas de atuacio policial. Todavia, nada disso se da apenas num sentido. Ninguém parece disposto a desistr de todas as dimensGes desse mandato, tal como ele veio aarquitetarse na modernidade' e que o tornaram em boa medida “impossivel le gerir e de definir legalmente”, como resumiu Manning (1978:7'31). Tais interferéncias e entendimentos da atividade policial avivam enten- dimentos polissémicos ¢ até “rumores” na organiza¢io que resultam, mais ‘uma ver, na dualidade da classificacdo dentro/fora”, Agentes se perguntam frequentemente: “O que querem eles de nés2”, eles, os de dentro, os coman- dantes ¢ os politicos, os que governam a sua aco. Tais rumores se originam de uma certa hesitacao entre quem se encarrega da vis quem se compromete com as téenicas do controle. Ofato das fronteiras entre 0 que esta fora e dentro da instituicao nem sempre cestarem claras e se moverem no seio das instituigSes, bem como 0 fato de os resultados prticos oscilarem a partir de entendimentos polissémicos sobre 0 incia de rotina e © Textosecentestém asinalado a redueio contemporineada dea de seguranga ama esta ‘dimensio criminal, sendo exta, por sua ver, reduzida & dimensio de delinquéncia de rk (Cunha, 2000; Waequant, 2008), ad bordinariam toda a organizacio socal: aracionaldade,aberdade individual, aconsagracio ‘dos direitos humanos universas (ver Touraine, 2008, cap. 4),e que, segundo esteeumasérie ‘de autores, esti hoje em profunda reviso, "rumor aquié entendido nko como m a informagio, mas como informagio;nio ‘como forma subalterna de comunicagio (como foi sugerido por Guha, 1988), mas como fon que adquire uma cera suspeigio generalzada. Os mods de representaio ‘que o Estado projeta em relao aos sujeitos como mais dados a paixio do que razio tem ma contraparte no proprio Ustado, retornam a ele e asim the questionam (Das & Poole 2004; Nelion, 2004), 4 MRE eS] 5.838, hm 808 = BO ato tae {queseriaafinalo essencial do trabalho de policiagera “legibilidades” nas regras| de funcionamento das esquadras, isto é, do € no Estado". Taisilegibilidades sio desde logo manifestas em conceitos fundamentais do policiamento, mas tio difices de universalizar, como, por exemplo, 0 que seria a “sociedade” ~ para os agentes muito mais 0 territ6rio logo em volta da esquadra, vsivel e a supervionar, que nao abrangeria sequer a cidade © menos ainda a metrépole ~ ‘ou sobre o que seria o “cidado”, Para os agentes equipados com um conjunto de resposias ajustadas ao que deles se espera nas mais diferentes situacbes € lugares", o “cidadiio” é muito mais um certo tipo de pessoa, digna de tratamento, de recepgio e de protecio do que de efetiva vigikincia, sendo esta preferen- almente dirigida a outras figuras “da rua", como dizem, em particular se a interacao se passa em bairros ditos “problematicos” da rua. Rua e esquadra Esta duplicidade recorrente do policiamento, entre fora © dentro, vigilancia € controle, que, como vimos, esti intimamente ligada as diversas formas que vio asumindo as instituicdes policiais, desaia um entendimento linear associado a estruturas tradicionais ¢ incontestadas do poder. Como tal, faz esconfiar da simplificacao das equacées tedricas dos fendmenos do poder € da policia como ora submetidos a uma ampla discricionariedade © poten- cialmente desviantes (mais presente em anilises criminol6gicas), ora como disciplinadores ¢ controladores da vida social (mais presente na Filosofia & nas ciéneas politcas) ‘Tem havido uma certa insisténcia na dimensio oculta e opaca da ativida- de policial por ser uma realidade miitipla e inacessivel, 0 que justficaria 0 fato de seu estudo ter tido uma presenca menor nas ciéncias que se ocupam do Estado, como argumentam, por exemplo, L’Heuillet (2004) e Palacios Cerezales (2005). Em estudos recentes da Antropologia, a questio da ocul- Em muitos hagares,o Estado € continuamente experienciado através da ilegbiidade de suas pritcas documentos e pala (Asad, 2004:279). Como dvia Da, faz parte da logia do Estado consiruirse xs mesmo como projetoincompleto com regrasilegives, porque exitem sempre margens onde ax pesoastém de ser edueadas de modo a se tornarem sujeits do Estado (Das, 2004:248), Nese ventido, é preciso ter em conta que ailegibilidade das regras {as ages humanas que as incorporam fazem amas parte do modo como esas regras io mplementadas (Das, 2004239, "A este respeito, ver Holdaway (1983), Sykes & Clark (1970) MISES fo eo 3121 9.9% on 20 BU, tse oat. 6 tagdo e violéncia alargou entendimentos sobre fendm 10 politico. Temse. afirmado que o Estado nao se produz para ser legivel, mesmo nas formas praticas, documentais e discursivas que ambicionam o controle sobre sujeitos, populagdes, territérios e vidas. As margens dos Estados desafiam a todo momento as racionalidades do centro! As margens podem ser encaradas como [oa] lugares onde a natureza pode serimaginada como selagem ¢ descontrolada e, simultaneamente, onde ordens les io constantemente refeitas pelo Estado. Estes Iugares nfo sio meramente terrtoriais eles io também, ¢ sobretudo, lugares de priticas onde a lei e outras priticas do Estado sio colonizadas por diversas formas dle regulagao que emanam das presses e necessidades de populagées que visam imanter politics ¢ sobrevivéncias econdmicas (Das & Poole, 20048) [Asim sendo, as referidasautorasretomam a visio da vida politica de Max Weber, em que o Estado moderno é concebido como um processoincompleto que tem de ser constantementefalado, imaginado, através da invocagio do que selvagem, legal, do que no s6 reside do lado de fora da jursdicSo como a ameaca no se interior (Das & Poole, 2004.7). As margensnio so inertes As populacSes, enquanto entdades a serem administradas, apenas existem na imaginacao dos proprios Estados. Varios autores na mesma obra evidenciam que os habitantesnas margens nao sio objeto crédulose passvos, convidando apercorrer a heterogeneidade nos modos de administraco da vida nas quais 0 Estado se engaja. O cariterindeterminado das margens desafia, enti, en- tendimentos do Estado como “coisa sla’, como dria Das (2004:18). Ea descida aos quotidianose na transformacio de problemas filosoficos em explorages etnogrificas que melhor podemos compreender a8 i Ges permanentes entre os mados de acupar as margens e a producio de jopoder - quer na "gestio das vidas", no enunciado de Foucault (1994), aquerna “gestdo de quem deixa morrer’, na proposi de Agamben (1998) ~ como atividade original dos Estados soberanos, neste caso através da atv dae polical, Para trazer a reflexio a0 que esté a ser tratado, poderseia dizer que nem a ua é um territério plenamente controlado pelos po "No se trata de contestar a dea de que “parece menos coretoafiemar que a hegemonia produz marginslidade do que dizer que ea gera centralidade, no sentido em que Pina {Cabral surge a recuperar a nogio de Vietor Turner, onde a marginaidade seria “o proprio findamento da vida social cultural sobre o qual 3 hegemonia impde procenos de ets "(Pina Cabral, 2000883). Tratase antes de percorrr os mecanismos que surgem a fesafiar permanentemente ca tecompor este mesmo proceso. 6 TREES Fe 13,39. 0 = UR, td ade ke nem a esquadra se apresenta como realidade nita, como demonstra 0 caso etnogrifico que se segue. Quando conheci o “Rato”, nasincursdes policiais pelos bairros, este vivia nas _margens das margens da economia de rua do narcotrifico, Sobrevivia ha anos sem teto, residindo nos escombros de um bairro devoluto, desmantelado pelos poderes autérquicos no final dos anos 190, onde durante décadas se situou. ‘uma visivel economia de compra e venda de drogas a retalho, transagdes reati- vadasalguns anosap6s a demolicao mas com muito menor energia. Este sujeito vivialiteralmente dos restos de droga que encontrava ~ p6 castanho (heroina) imo, desse “produto” rpreendia escondido em algum muro, mas também de Firmacos, pra ‘ou branco (cocaina) -, conforme os ditames do con’ ques tas, seringas e tampas de plistico que aproveitava e revendia a consumidores sidiam na damental do que, como cle, ia. Os agentes viam nele comércio local ilicito de drogas, adivinhavam-the saberes acumulados sobre suas “teias” de operadores", Ao contrario de outros, o Rato recusara sempre informar e colaborar com a policia". Como tal, era frequentemente alvo de paragem, revistas ¢ questionamento na rua por parte dos policias. A estes se levantava um obsticulo: como conduzilo a esquadra, como “incrimind-to” (como diziam) mesmo quando Ihe surpreendiam ilicitos se este nao tinha apéis, quaisquer certificados de identidade? Sabia-se que tinha vendido os documentos ha anos nem o seu nome proprio era conhecido pelos agentes neros casos semelhantes, quer nos dominios do equeno trafico, quer nos dominios dos furtosa propriedade, quer mesmo em. Como ele, deparei com ‘sos i primeira vista mais complexos, como os de imigrantesaparentemente em situacao ilegal no pais que passavam por estes lugares. Em meu trabalho de campo no acompanhamento das patrulhas nos “bairros da droga”, verifiquei que varias pessoas vendiam suas documentacies' 2 Tem sid evidenciada a crescente percep p nizariam em “grandes redes”~ percepeao alin Jc de proce cla ociokigica, Tal vealidadeyeulen ‘em grande medida de se terem ceiocertosbairrossetores popilacionaie crimes de deoga ‘como alos preferenciais da poica, fazendlovararestilos de policamento de acordo com dlferentesreasurbanas, Tal atitude provocou um aumento notéro da demografia priional de feixes de reclusosenredados em lagos pré-prisionals (Cunha, 2002), bica de que as coligaies do tifico se ong por operagées potcaise pela getio oo que araments tm correpo A delagio,o “chibanco” so prtias desprezadas nas comunidades de representages dos ‘matoe de teficincia,Alée de outros conrequtnciaa i cacutdas tie pets interferer ‘manuten¢ao de uma estrutura de eportunidades teats (ver Chaves, 20001019), Acexpressio € usada pelos agentes como metonimia¢ se fundamenta na cleicio de alvos policiais que determinam que certo contextosreidenciais so potencialmentecrimin6genos, NESS fed] 1151.9. 8 sa ae ae. v arias nao apenas porque ganhavam algum dinheiro com isso, e nem mesmo ‘porque nada teriam a perder, como me diziam e justificavam repetidas yezes ‘0s policias. Essas pessoas adivinhavam as légicas do controle policial ao longo de muitos anos de interacdes preferenciaisa eles dirigidas nas ruas por estes e outros funcionatios do Estado, encontrando assim os siléncios buracos nos quais podiam situar'se e manter-se relativamente an6nimas. Como algumas diziam no momento em que eram interpelados pelos agentes: “Prefiro levar com 0 policia do que com a policia’. ‘O exemplo demonstra como 0s no documentados so simultaneamente alvo das taticas de vigilincia territorial e, simultaneamente, resistem a elas, individualmente, porque s4o dificeis de registar burocraticamente ¢, por isso, de existirperante o Estado que visa conhecé-os para, entre outras coisas, poder lancar mao de suas ferramentas de ativacio de penas e de controle. Assim, ilustragdes etnogrficas deste tipo evidenciam aspectos pedagégicos do Estado, na medida em que esta determinado em transformar sujeitos no rregulamentados em sujeitos regulados. ‘Sem redes pessoais locais de comprovacdo de suas identidades ~ a via al- ternativa a documentacio formal e requerida pelos policias ~, pessoas como Rato ficam sem resposta dentro do complexo de administragao da policia. Se esta resulta numa figura amplamente conhecida dos universos policiais locais, lembrathes o tempo todo impoténcias institucionais, a dificil transfor- ‘macao de saberes vigilantes em saberes de Estado. Os nao documentados nao se revelam aos policias apenas como figuras da pobreza ou da droga que aler- tam para estere6tipos discriminat6rios, ou que fazem lembrar determinagdes tidas como evidéncia de um poder estrutural da policia que historicamente tenderia a recair sobre classes sociais perigosas, considerando-as corpos a “docilizar” (Foucault, 1994:141) © que veio a inspirar leituras sociolégicas sobre a dimensio disciplinar do trabalho policial (Choongh, 1997; Herbert, 1997). Os nao documentados constituem uma das ilustragdes dos limites da cdo policial e do Estado, o que de certa forma diminui o poder de controle policial, mas nao a discricionariedade da vigilancia, geralmente adensando violéncias nessas zonas de incerteza'*. Nessa gestio das vidas, tais intervalos do que pessoas ou sages em concrete, © que condu & sua descriminacio numa. titude de suspeitao genéricae logo &dexignacao de um espaco como um todo homogéneo, Como defend recentemente Cunha (2008), " Mas como Das & Poole defendem, bascandose nas k (1992) e Tausig (1993), as priticas em zonas de emersé as de Benjamin (1978), Derrida ‘ou “entdos de excegio", nio 18 ‘TRE deen 8 4, 9.933, Jo 288 ~ BRK, sc, ko abrem ainda espaco a vigilincia policial ¢criam outras formas de autorizacio que mio podem ser evidenciadas nem como legitimas nem propriamente ilegitimas, de um prisma estritamente legal, mas que surgem precisamente das ilegibilidades da lei. As margens sio vistas como implicadas no Estado, assim como a excecio é um componente necessirio da regra (Das & Poole, 2004: 4), Para retomar uma imagem usada por Pina Cabral, estarfamos as sim perante “aspectos diurnos e noturnos da vida sociocultural” (2000:874) alargados ao proprio Estado, Muita literatura antropol6gica tem-se demorado na forma como os Esta dos produzem tecnologias de saber e de poder para tornar as populages legiveis (Appadurai, 1996; Cohn 1987; Trouillot 2001). Todavia, os mesmos documentos sobre os quais a identidade é supostamente fixada adquirem utra espécie de vida, de acordo com manipulagbes ¢ diferentes fins, seja pela parte dos funcionariosseja pelos proprios cidadios. Neste caso podemos comtestar, como fez Nelson (2004), a ideia de que o Estado seria legivel e a populacao ilegivel ‘Voltemos agora a atencio para lado de dentro da organizagio, enquanto esta se vai ordenando em suas tendéncias p icas e policiais contempo- Proximidade e proatividade Bac notar’ como nos Gikimice anos a proximidade com oa ckiadées ganhou predominancia no tracado organizacional que recuperou as chamadas “es- quadras de bairros”. Depois de alguns anos de hesitagio nos modelos de Policiamento a adotar numa sociedade pés-ditatorial, desde 1995 a unidade fisica e administrativa da esquadra foi recuperada e temse insistido na im- plementacio da flosofia de visbilidadee prosimidade, convocando a presenca dde agentes ¢ a participagao mais atva na vida comunitaria” ‘devem ser ententdas em termos de lie transgressio, mas sim em termos de priticas que Fesidem simultancamente fora dentro da lei. Nesses momentos através devas formas de Incorporoio do Exo, opie no cazon squeak mars propia ponds ‘de lei em si mesma (Das & Poole, 2004:15). a ae Na verdade, na arquitetura polcial portugues, inspirada na francesa, o poticiamento de proximidade se distingue do policiamento de orientagao eomunitiia de Wadicio anglos- ‘énica. 0 eixo fundamental da diferenga resulta do fato de a proximidade ser oferecida da insitugSo para ax poplages, de den para fra, e nfo inverso, como no caso bitnico TASES ene) «1 1.9m 208 ~ DF, aes sce, 8 Assim, embora a “proximidaée” se proponha como “metifora mobiliza- dora” (Shore & Wright, 1997:20}, manteve-se sempre como conceito pouco consensual ¢ ambiguo no panorama portugués. De cima a haixa, em toda jerarquia policial, em todos os policias que entrevistei ou com quem conversei detectei pelo menos cinco sentidos diferentes para 0 conceito: 1) para muitos a proximidade representa um modelo desnecessirio ¢ até nefasto para a policia, defendendo os mesmos que a instituicio deve manter- se distante € relativamente fechada no que se refere a influéncias externas; 2) para.a maioria dos comandantes operacionais, a proximidade é apenas uma titica de policiamento, usada de modo a obter informacao c a agir sobre a realidade (um uso instrumental mais proativo que subverte a filosofia preven a técnica, tiva original); 8) para a maioria dos policis de rua, tatase de w nada mais do que uma variante do trabalho de patrulha tradicional e regular, 4) para muitos é considerado um modelo inovador, mas apenas aplicivel aos programas ja existentes ¢ delimitados; com presenca de agentes nas 5) por fim, paradoxalmente, apenas para uma minoria de burocratas da pol ima nova filosofia de pol baixo, mas longe de ser impler Embora politicamente mais ambicioso, na pratica a proximidade fe aprox nidade é vista como projeto global, ia que poderia transformar a organizacio de ntada em Portugal (cf. Oliveira, 2003) ypenas mantida por meio de “projetos” ou “programas” paralelos ao tradicional tra- batho de patrulha (ver, por exemplo, Oliveira, 2003) ¢ ocupando nunca mais do que cerca de 10% de seu efetivo de patrutheiros®. Mas se estes chegam 4s esquadras como normativa governamental, ai enfrentam frequentemente ede policias de ‘a possibilidade de ser desativados. Ainda que de modo diferente em varias unidades do pais e de Lisboa, no terreno 0 estatuto dos programas se revela |. pelo quadramento formal (seu comando é instavel, sem a historia e consolidacao institucional da patrulha € menos, trés limitagdes: tém fraco e1 «em alguns Estados da América do Norte, na partcipagio mais ata da comunidade no jamento (Skonick & Bayley 2002), que levariaa “fazer de um nero importante de ‘oso olhos ouvidos da polica”(’Hevalet, 2004224), Tal circunstincia tem rlacio “ireta com a historia das insides policiase don Estados nos diferentes pases, embora Scam cal ver mais anuneiadas parcerias entre varios servcos pablics €privados para & -Corprodugio da seguranga” (Olive, 2001:1525). * ta estimativa foi encontrada a partir das esquadras nas qua cerca de 60 patruheitos poviem corresponder, na melhor das hipdteses, sis agentes pra rabalhar nos programas da proximate Os programas oficsid proximidade si focaos em comunidades escolares, ‘lowos, comecio , de modo muitomals as de rime de wolencia doméstca 2 nese eee 31.3. 9 Jo. 208 DU a sce. hesitante, ora situado na Divisio, ora na esquadra, ora temporariamente inexistente, 0 que nao acontece em n outro servico); as politicas pra 1aginacio dos patrulheiros que thes dao corpo (sem formacao especifica); os agentes podem ser recrutados para ‘outros servigos se as chefias locais assim 0 considerarem. Como varios agentes manifestam, esta forma de policiamento é deixada ‘nas margens por nao oferecer a instituico um tipo de visibilidade mais ope- racional em niimeros ¢ “produtos” do polic ticas tio frequentemente deixadas ymento, resultantes do que se considera ser o “verdadeiro trabalho de policia”, considerado mais operacio- nal, Desde o final dos anos 1990, os programas passaram a ganhar alguma vida propria na medida em que comecaram a sobressair nos media, tendo a eles sido associada a ideia de que a policia portuguesa estaria a mudar, com ‘elementos masculinos ¢ femininos, mais jovens, mais letrados, mais prestiveis, ‘0 que favoreceu a “imagem” da \stituicao € forneceusthe capital simbélico, ‘confundindo frequentemente os tais programas com a presenca das mulheres na policia®, Mas com 0 decorrer dos anos, no plano local também se evi denciaram interesses por esse formato policial. Porta-vozes de grupos locas ‘e,mais ainda, individuo: isolados, comecaram a ditigirse, a comunicar ou a ‘escrever com mais frequéncia para as esquadras, muitas vezes com o fim de apenas manifestar seu apreco pelo trabalho dos agentes, ou a pedir apoio ‘especifico dos policias para estes programas”, Nos quotidianos das esquadras de suas unidades de supervisio (as Divisbes), tais micropressdes acabaram por resultar em pressio politica, refreando os descontentamentos das chefias face aos programas ‘Além da instabilidade institucional, taisservicos da proximidade tém uma ‘abrangéncia territorial limitada, Estes sio muito mais presentes em bairros da "Certo dia um comandante de exquada chamonsme ao seu gabinete parame perguntaro que nas, Diseme que nio acreditva nels e que pensava desmantclstos agentes como elementos encobertos, para avair ocorréneias para vendo: "Para que mais me seriiam? comet ek ee eats macnn ener opera eteraer sapere eerer spar ease ea rns pee ee ee ea ee eee ee Se ee ae Tee ea eee ee rag tp eee pr tesleratio TERS ene 38 19:98 00 ~ RK, Oi a cine a cidade do que nas periferias metropolitanas; € mesmo nos centros da cidade, ‘em bairros considerados pelos policias como sendo de classe média, sao mais vistos do que em bairros identificados como pobres, com focos de trifico ou amento social (Duriio, 2008a). Em lugares considerados complexos de rea ‘4 montante como “bairros problematicos”, também considerados “referen- Giados™, a proximidade far-se representar através de aces planeadas, com dispositivos coletivos e automebilizacos, e menos pela presenca quotidiana de agentes apeados, © que reduz muito os contatos estabelecidos com as populagdes em tais contextos. ‘0 que este breve trecho evidencia € que mais do que uma politica com: prometida com a mudanga para manter a proximidade, neste caso através de programas, a policia e suas instituigdes politicas reguladoras estao sob per- manentes pressdes contradit6rias que lembram ambivaléncias fundamentais, da atividade e a impossibilidade de a defini apenas num ou noutro sentido — dificuldades essas que se revelam em particular nas escolhas entre a vigilancia eo controle. Parece ser neste segundo plano que a polfcia mais tem avangado. De acordo com politicas de fixagao e normalizagao de dados—acompanhada por tecnologias de registo ¢ ges ganharam novo folego desde os primeiros ni jo de informaao —, as estatisticas criminais, do policiamento, da patrulha. Acopladas a elas gerou-se uma politica de operacdes — nao originaria em Por- ‘ugal, mas amplamente fomentada no mundo por inspiracao anglo-americana, acolhendo a ideia de “tolerancia zero” e outras derivas de menor expressio — ‘que consomem cada vez mais o trabalho dos agentes ¢ das chefias. Jaem 2004, as aparatosas operacdes slopao transito, operagdes inusitadas e de mua, ocorriam ‘usgas dirigidasa bairros onde se conheciam focos de trai ‘a partir das esquadas em virias madrugadas do més e ameacavam vir a tor nar-se cada vez mais frequentes®, Manifestava-se mais requerida a copresenca das brigadas de intervencio rapida (antigas brigadas anticrime), coletivos de agentes, supervisionados no local por um graduado, com equipamentos que, se tornar suspeita nos en om penas que remetem © Em éreas metropolitanas mais perifrica tae rusga, a0 estilo bitshrig,tornaramse cfetiva- mente “ocupagdessemipermanentes dos barros” (Davies, 190:277),repetindo tendéncias ‘que surgiram de idles dos Estados Unidos, tomando muito difcilaimplementacio de wna presenea poical de rotina de outro tipo, centrada em polciasindviduais, veclamada pelas populaciese asorigSeslocais, como iriaaaperceber me nas minhas ncurses etnograicas. [Nao se tratava de restr &poliia, mas duet tipo de policiamento 2 MTSE he eine «11% 1.993. 09 - UR, Os a dence ‘como bem observa Cunha (2009), confunde-os com os policias do “Corpo. de Interven¢io”, circulando em robustas carrinhasnegras.e usando, asemelhanga daqueles, capacetes, viseiras © bast6es, Para tais eventos eram escolhidos os dias do més em que havia mais dinheiro em cireulacio, em que os cidad: recebiam seus salarios € que se esperava mais transito, movimentagio de ‘condutores alcoolizados, o que induzia os resultados estatisticos, consubstat ciados em mais autos e detencdes™. Certo € que em nivel local a metodologia introduziu concorréncia entre os préprios comandantes de esquadra por resultados estatisticos. No entanto, estes enfrentavam alguma dificuldade em recrutar agentes paras operacdes, isto €, “voluntarios”, ja que estas envolviam tum coletivo que teria de fazer trabalho extraservigo, extraescala, Na generalidade, salvo se queriam obter alguns privilégios concretos, os agentes se revelavam céticos em relagio a tais operagées, nio apenas pelo excedente de trabalho que representavam mas por considerarem que estas, nao recobriam interesses de “controle criminal” mas outros, o “fazer politi- ca”, Na pratica, nao foi pouco comum observar nas operacbes agentes que ilibavam alguns transeuntes por quem sentiam simpatia (sobretudo quando identificados com indices menores de alcool). Mas o que sobressaia em stias consideragdes cra uma critica profunda implicada na forma como nao re~ conheciam nas operagdes o essencial de seu trabalho. Muitos manifestavam sentir-se enganados desde a formacao, pois se a “missio” de policia, de salvar vidas, de entrar em agio, de responder a chamadas, parecia-Ihes carismatica®, 0 “jogo politico da patrulha”, como diziam, evidenciowlhes uma realidade esperada: as grandes operacies fazedoras de niimeros. *Porexte motivo, ocomandante da dvs que sperviionava atid das exquadeas loca se orga deter aumentado em quate 1008 a operas eo eslades que propor ‘ava em 200s, por comparagao 43008, com apende ma 50% de pessoal enol, Dia serextemotode cxemplo no comando de Lab, segundo cle stain dos comand ue mas presto mutant do comandante superior mewopottane * Como bem avert Antonia Borges, pars un eo sobre a igaco ene 0 fendmeno Poltico ea gest edt deeapacon ara esr ms marge aia € coer 4a “polica” quando deslocaa aco para o space da ambigidae, mas a fealidade toe Paripam dela (2003535, *Notese que tal epresentagio io encom origem nor gente mas mappa instiuiio, Bartcularmente quando aa "misdo” (ve, por ex, Lei 3/99 de dejo, que rene: $n oa ogni) a lesen formas de apresentagio de st Na "scent expsiio da Feira Intemaconal Sqrerque acoren em 2006 one eee pateme © Mini da Admininracs Interna comsescrpond olcasnasona ums exposs0 sobre a PSP, que via accor po grands conten cerca do ps configu slimenio de poi como her do quotdano parcipant avo na ean denquemtes ‘ouem situagdesde saamento, quer ve encontando em terigo que de aga IMERSEHS Wei «11% 1,993, 209 - UR, a sii. a © carro-patrulha, elemento identificador por exceléncia do trabalho policial da patrulha, reativo, de resposta a chamadas, parece assim perder cada ver mais seu prestigio paras mais pequenas ¢ improvisadas operacoes lideradas por uma dupla de agentes, 3 civil, dirigidas para determinados alvos (nos territorios da droga) em busca de dados criminais. Na verdade, existe todo um “campo de possibilidades” (Velho, 1994:28) que no decurso do processo sécio-hist6rico vaise oferecendo aos sujeitos para a formulacio ¢ implementacéo de projetos pessoais no qual uma organiza¢io complexa como a policia se inscreve. Muitas opcdes se apresentam as carreiras dos agentes, numa imensa variacao de conjugagoes. Mas 0 que observei com o decorrer do tempo nas esquadras foi como servicos algo improvisados de investigacao representam, para alguns agentes que neles sobressaem, uma porta de safda destas unidades ¢ entrada noutros dominios organizacionais, em particular na especializacao cada ver mais valo- rizada da investigacao criminal. Estes policias se tornam agentes preferenciais nos convites para outros servigos mais ambicionados, recebem mais louvores formais publicados nas ordens de servico lidas em todas as unidades policiais ¢, a0 lerem melhor 0 que a instituigao espera deles, tém acesso preferencial ‘a toda uma série de pequenos privilégios. Cada vez mais as taticas proativas que esto na origem de uma estratégia de fixagao de dados criminais (cujo expoente mais visivel sio as operacdes), configuram-se como meio ¢ fim em simesmas®. Elasameacam ¢ redirigem a iniciativa dosagentes e comandantes ‘em seu trabalho, mais conformesa politicas que extravasam saberes/poderes problemas da ordem territorial que devem gerir ou minimizar numa base quotidiana, Nao por acaso a maioria dos agentes denomina ironicamente seus comandantes como "gestores de estatisticas criminais”. Assim, a estratégia politica da proatividade tende a ser desenhada em alternativa a proximidade, ou melhor, a segunda é subjugada pela primeira. Mesmo que em nome de uma ret6rica de prevencio do crime, a estratégia mais representativa, em crescimento gradual ¢ alimentada pelos proprios governos € a proativa, Tal fato se torna mais not6rio quando nos apercebemos de como sio limita- das as politicas policiais dirigidaspara fins locais, como a regulacao quotidiana © As teas proatvas so caracerizads pelo fato de nio necessarem de acusaco ou de de- ‘huneia para serem colocadas em pratica pelos policias Hatassa0 usu com o tao de ser dentifieado um crime enquanto ene ext sendo praticado, Sd sida combinages entre policia uniformizados e"pasana”,0 que faz eom que muitas exes os policias participem {os cenirios de crime (Black, 1978). 2% MTSE (ode 31%. 93, 2009 - UR, aba dct, do trnsito, por exemplo. Certo dia, quando circulava com agentes num carro- patrulha, fomos chamados sede da Divisio para transportar até a esquadra 0 ‘comandante local. Quando entrou no carro, estava visivelmente perturbado e resolveu explicar-me a rarao para tal descontentamento. Acabara de ter uma discussio com seu superior, comandante da divisio: levarathe um plano de policiamento de rotina que considerava propicio para alterar o xadrez de esta- cionamento irregular ¢ os engarrafamentos permanentes na area. Defendia ter trabalhado afincadamente num projeto que 0 superior agora recusava, argue ‘mentando: “Quer comprar uma guerra com a classe médi Nem pense nisso, hhomem! Concentrese nas operacdes”. Assim, 0 comandante local retucava: *86 pensam em niimeros. Nao Ihesinteressa realmente resolver os problemas’ [io admira que neste contexto, a regulagio do wrinsito, a autuacio direta ¢ {ndireta a condutores em situacao visivel de infragao seja uma ttica que tende ‘acair em desuso nas rotinas dos agentes — ja que osagentes consideram que sio cencaradas pelos cidadios como “repressio” e por superiores sensiveis a essas presses como "excessos de zelo™. Aosagentes é demandada uma atitude gene- ricamente classificada como “preven¢do”, sobretudo quando se refere ailicitos de rotina no trinsito, mas prevencao aqui significa diminuicao da reatividade diretae situacional, atitude policial tipica da regulacio quotidiana, Ede destacar ainda que essa infragies se escondem frequentemente atris de confitos que surgem entre cidaelios e policias no exercicio da autoridade. ‘Muitas dessas ocorréncias contraordenacionais aparentemente simples podem transformarse em complexas letencdes sem razio aparente para tal. Obviamente que nao € possivel comprovar uma tal afirmagio com dadosestatistcos, porque o ‘objetivo & exatamente que estes no seam vives. Mas é de sublinhar que tal mo- ‘vimento acaba porter efeitos politicos maiores nao s6 a0 avolumar as estatisticas ‘ctiminais, como também na incursio em representagdes culturais popularmente difundidas como as que determinam maior insubordinacao civil ou resistencia a ‘utoridade policial, beneficiando retoricas associadas a panicos morais tEsposstvel antcver unta retirada ‘gradual daquela que fol durante anos ddefendida como a mais central ferramenta do poder policial: a reatividade Assim, este reewo assume mexno a posigio de “extratgia coletva de engajamento”, no sentido em que fala Asad (200430), neste caso nao tanto de resistencia no trabalho, mas de policiament, que o configura num dado sentido, Nao admira asim que as mortes de policus em servgo,embora acontecimentossngulares «em Portugal, sejam eapitalizadas como Fendmenos miiticos, convidando a viriosritoseaté redirigios para manifestages pblicas de insatisfaio e dsmatvaodestsfunciomsrios do Estado, evorando rex que tm muito pouearelae com os fatos INTERES fl dene 11 1.99.9. 209 ~ DG, a sce 2 situacional, substituindo-a por uma dispersa ¢ desenraizada preventividade e poruuma cada vez mais sletiva proatividade, frequentemente desvinculada de saberes teritoriais locais. “Misen-scéne da seguranca” (Wacquant, 2004:269), nesta medida do proprio policiamento proaativo, combinase com uma proximidade que se implementa em bairros ditos “problematicos”. Mais do que uma efetiva rotina, a presenga dos agentes, em particular daqueles que conduzem a proximidade nessas ruas, d-se através de acdes de prevencio ou agdes diddticas®, geralmente mediatizadas ¢ evocando a necessidade da pre- sen¢a policial em permanéncia, mas oferecendo aos eventos sobretudo uma das componentes inerentes aosrituais, a de eterno recomeco. A avaliacio de resultados dse por uma semelhante “contabilidade semantica” (MacNeal, 1994), num caso pela seletiva estatistica criminal, por outro pelas somas de dezenas ou centenas de pessoas visitadas ou envolvidas em tais acdes. Tais derivas da acio policial do presente surgem a desafiar os saberes vigilantes de rotina. De certa forma, os saberes da patrulha se produzem nas ret6ricas policai saberes”, no sentido de que tém menor capital simbélico e material no plano da acio institucional, no trabalho para dentro desta. Observamos, por esta via da chamada das operacdes para 0 centro da aco policial, uma certa rede~ finicao dos saberes policiais. Estes tendem a ser constituidos como menos individualizados (em cada policia) para passarem a ser mais coletivos, mais intersticiais, entre agentes, cada vez mais como “nao smizados e normativos, mais eonformes a exigéncias politicas e adminie trativas. Todavia, esta alteracio opera mantendo um plano organizacional, de agio, de recolha de informagioe de comunicagio interna assente em saberes individuais (pouco partilhados). Taissaberes sio mantidos repetidas vezes na posse de policias singulares e isolados que, de cada ver que sio transferidos de unidade, com eles fazem circular os mesmos. Como desenvolii noutro Tals operagSes, também conhecidas entre os policias como “agde de cosmétia’, so com mente dirgidasa colewos de crianyas em dade eco so feta simlages de operacsies sop, fardam-e 0s infants, so eitas demonstragdes canideas ou de veiculon, so realizadat partidas de futebol mistas et. A frequéncia de wansferéncias intenas de policias& enorme. Tal fat se deve sobretudo 3 diticuldae da instituio policial pra lidar com um coletvo de pessoas que geralmente nio oriunda eno se fia nas regides metropolitanas onde existe mais necesidade de reruta- ‘mento de policas. Duas eres por ano é aberta a possibldade aos agentes para ctcularem para diferentes unidades dentro des grandes comandos metropolitans de Lisbos Porto {Uma outa lista de tansferéncias€ mantida pars ox higares do pais mais procursdos por bo parte dos agentes, fora deses dois comandos. Esta consante movimentagao de pesto dlticultaem larga medida a aquisicio desenvolvimento de saberes locas © profsionais pelos polis 26 TASES (5 a 31.933, 200) ~ UE 0 tn cea ugar, tais saberes estio profundamente enraizados em relacdes sociais € em conhecimento acumulado sobre as geografias, toponimias e topografias, turbanas, isto é, em conheci aprendidos de cada vez que se efetua a mudanca (Duro, 2008a). Portanto, ‘9s dados indicam que cada ver mais a institui¢Zo e seu controle se produzem yentos locais que tém de ser individualmente sem necessitar dos saberes de seus vigilantes. Elementos conclusivos ‘Teme estudado como os individuos ¢ coletivos nas margens, em “bairros de relegacio" (Wacquant, 2004) desenvolvem um imaginario persecutério ¢ esto frequentemente submetidos a uma “atmosfera de tensio permanente" (Chaves, 2000; 234.6), em grande medida devido ao efeito das investidas po- liciais de que sio alvo preferencial. Procurei aqui lancartracos de simetria sobre o que se passa nos centras, no seio dos proprios Estados, entre poicias, «em particular em seus pontos de contato com as populagbes¢, neste sentido, também com os aspectos considerados marginais do trabalho de Estado. Vimos como dentroe fora, mais do que metiforas,sio dimensbes constitu- tivas da atvidade poticial, que surgem para lembrar as hesitagbes entre vigi- lincia profissional e controle burocriticoe institucional, De fora, das ruas,¢ «em particular das margens do Estado, emergem desafios nfo apenas a0 set projeto de ordem mas i legibilidade das regras eles. O Estado se defende e, Yoliando-e para dentro, com recurso a estratégias administrativas, fz varia 4s geometrias do policiamento do lado de fora. Os policias, em particular os agentes os saberes que transportam, também eles se encontram num cixo de pressées, como vimos, esto sujeitos a dividas fundamentais que derivam da forma ambivalente como se tem vindo a fixar nas prticas o mandato da Seguranca, cada vez mais desenhado no eixo das proativdades Por um lado, os policias sio particularmente permeaveis a circulos discur- sivos entendimentos frequentemente conflituantes, no tempo € no espaco, Sobre o que é 0 essencial do seu trabalho nos territorios. Por outro lado, individuos reflexivos, critics, intérpretes de seu mandato profisional, com identidades pessoais plurais ¢ manifestando-se mesmo, em algum nivel, de- safiadores das mais estreitas autoridades superiores pela possbilidade que a Aiscricionariedade local Ihes aufere na acao. Todavia, uma ver que os enten- ddimentos sobre a atividade polical sio eles proprios polissémicos no seio das ddindmicas do Estado, na organizagio policial e na sociedade em geral, todo MESES Ye ei «1, 9.93 BD — DRA, a a secede a proceso se da com acentuadas perturbacdese uso de metiforas mobilizadoras produto da prépria ilegibiidade de que 0s policias sio também atores. Nese sentido, € 0 proprio sujeito policial, em sua construco coletiva, que parece encontrarse em transformagao. Esperase que os policias se tommem mais operacionais € menos vigilantes; mais centrados no crime € menos noutras ocorréncias, embora estas continuem a ocupar a maior parte de seu tempo de sabalho. Tal rabalho, por seu turno, tem vindo a ser mais determinado por exigéncias administrativas do que por demandas locais; mais flxado em ntimeros € métrieas do que na informags0. Como conseque cdo como um coletivo éncia, os policias tendem a ser considerados na insti homogéneo € menos como profissionais individualizados. O “bom policia” é cada vez. mais um sujeito proativo, criador de fatos e eventos politicos ~ muitas veres dispensando a vigilincia de rotina ou a participacao e a dentincia dos cidadios. Neste contexto, a patrulha de rotina, na qual se fundamenta toda a logica do trabalho de esquadra ¢ até mesmo a logica de base do trabalho poli a poli agéncias piblicas que se envolvam num estilo de gestio por resultados em ‘muitos aspectos semelhante ao de agéncias privadas (Hirst, 2000:139; Shore & Wright, 1997; Strathern, 2000). Estaremos assim a caminhar para o fim do “politico de esquina” (Muir, 1977), do policia “fil6sofo, guia e amigo” (Cum- ming, Cumming & Edell, 1973), integrado num sistema de seguranga e de primeira assisténcia que durante décadas marcou a cadéncia das cidades? |, ocupa um lugar cada vez mais desvalorizado no sistema policial. Assim, ndo parece escapar a uma “ordem posiberal”, em que se pede as Referéncias bibliograficas AGAMBEN, Giorgio ASAD, Talal (1998) Homo Sacer Sovereign power and bare (2004) Where are the margins ofthe tate?” In: life. Stanford: Stanford University Pres. DAS, Veena & POOLE, Debora (orgs). Anthro- pology in the margins ofthe State, Oxford/Nova APPADURAE, Arujn ‘ York: Oxford University Press, p. 279-88, (2996) "Numbers ir the colonial imagination” 1m: _. Moderay ot large: Cultural amen- ANTON, Michael sions of globalization. Minneapolis: Univer- (1964) The policeman in the comunity. Lon- sity of Minnesota Press, p. 114-39. es: Tavistock 2s RSE ae), 2.923, 208 = BN, a sce, pologst omong the Histerians. Delhi: Oxford University Press, p. 224-54, BECKER, Howard S. (1991) Outsiders. Stuies in the Sociology of ee Ths Hoe Press ‘CUMMING, ane; CUMMING, Ian & EDEL, Laura Water (2973) “The policeman a: philosopher, guide DEMETEZ, and friend’ In: NIEDERHOFFER, Arthur & BLUMBERG, Abraham (om). 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Inside and outside ae fundamental categories to understand the contemporary structures and the dynamics of police ac- tion between the street and the precinct, prevention and pro-activity, production of centralites and of margins inside the State, ‘The goal ofthis paper is to enlighten how State illegibiites are produced not only ‘towards the people who are on its margins but also towards its centres, namely the policemen, the ones who produce orders from the State. I analyse practices and discourses developed in daly police activ- ity and have based myself on a recent eth- nographica research inside the Portuguese Police Force. Key words surveillaneecontro, policing, ethnography, Portugal Recebido em ‘novembro de 2008, Aprovado em Janeiro de 2009 Résumé . Ce teste analyse les hésitations a partir de deux catégories permanentes dans le discours hati des policies: devans et dehors. Elles restent& la base des sais et des powvoirs, moins consensuels et articulés quion les imagine ou quion a tendance & projecter dans les actions burocratiques de (Etat Dedans et déhors sont. deux catégories fon- damentales pour comprende la structurtion contemporaine et les dynaniques de Cation pola entre are etl conissariat de plice, {a préventon et a po-activit, a production de centraits et de péiphéies dans le coeur de UEtat lui meme. Lobjectit du texte est émontrer comment, par moyen de Canayse es pratique quotdiennes et des discours sur (activité poicile, les ilies produites par tEtat rfaffectent pas seulement qui est dans les bordues, mais aust qu est dans les centres, notamment les producteurs des ores: les policies. Ce qui sustente Fanalyse Cest ‘une etnographie developpée dans la Police de ‘Sécurité Publique portugase. Mots-clé surveilance/contrdle, activité poicile, etno- raphe, Portugal. MERE fo sen «1 6.93. 20 - th, Oat sce 3

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