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Introducdo as clinicas do trabalho: aportes tedricos, pressupostos e aplicagdes Pedro F. Bendass Lis Andrea P. Sobol! 1 Introdugio Compreende-se por “clinicas do trabalho” um conjunto de teorias que tém como foco de estudo a relagao entre trabalho e subjetividade. Apresentande uma diversidade epistemolégica, Orica e metodolégica, 0 objeto comum dessas teorias éa situagdo do trabalho, que, em sintese, compreende a relagdo entre o sujeito, de um lado, € 6 trabalho e o meio, de outro (CLOT; LEPLAT, 2005). A primeira vista, 0 u: ica” pode, equivocadamente, Alidefa de uma “clini 7m énfase em problemiiticas singulares, girando em torno das fantasméticas individuais. Contudo, o trabalho é também da esfera “social”. Portanto, a associagéo entre “clinica” e “trabalho” de- pende, nas abordagens apresentadas neste livro, de uma reconhecida articulagao do ‘mundo psiquico com 0 mundo social. Ao ter como foco de pesquisa e interveri¢&o a Téalidade vivenciada pelos SujeitGs, a clinica do trabalho aproxima-se de uma ‘clinica social, mas que também contempla as vivéncias de sofrimento, neste caso ancoradas nas experiéncias objetivas e subjetivas de trabalho. Nao se trata, tam- pouco, de uma clinica do softimento ou do “trabalho psiquicamente nocivo”, pois, embora atenta ao softimento e 20s aspiitgs deletérios do trabalho, ela transcende estes e também enfatiza os processos criativos e construtivos do sujeito, bem como sua capacidade de mobilizacéo, de agir e de resistencia face ao real do trabalho. ‘Analisamos, neste capitulo, as clinicas do trabalho no campo da Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT), destacando seus principais focos de pesquisa tendéncias e desafios das teorias clin compdem a terceira parte desta obra, o leitor encontrard riqueza maior de detalhes sobre a aplicacdo e os desafios de cada abordagem em nosso pais. 2 Clinicas do trabalho e o campo da psicologia organizacional e do trabalho Considerando as configuragées do mundo do trabalho e dos avancos teéricos nas diversas éreas de conhecimento, a psicologia voltada ao estudo do trabalho reflete grande diversidade de posicionamentos, abordagens ¢ filiagGes epistemo- légicas. Numa répida avaliacio, é possivel perceber diversas vertentes de andlise 1a das questées engendradas pelo trabalho, das quais podemos citar, icamente, a cognitivo-comportamenta, a social e a clinica. ‘Aanilise do trabalho pode sér tealizada tendo em vista, por exemplo, repre- sentagées sociais, identidade pessoal e social, efeitos do desemprego ¢ prodessos “organizativos (especialmente na abordagem conhecida como construcio cotidiana de sentides - ver SPINK, 2004), como proposto pela psicologia social. J4 para a ‘ieologia do trabalho de inspiracdo cognitivo-comporvamental, o interesse esta centrado no comportamento humano, que deve ser gerenciado € nos “modelos mentais" que definem © modo como os individuos “processam” as informagées, ‘que recebem do ambiente de trabalho e da proptia atividade em que estdo envol- vidos, e que aparecem na forma de pressupostos, histrias, imagens e abstragies. Por sua vez, as abordagens clinicas buscam evidenciar a relago entre o trabalho 0s processos de subjetivagao, de forma que os conhecimentos produzidos nesta erspeétiva oportilsizant Conscientizacéo relativa as vivencias nas relages de tra- balho, visando a transformacio da realidade. Sendo assim, esses conhecimentos podem subsidiar agbes de mobilizagbes e resisténcias dos sujeitos individuais coletivos diante das diversas situagies de trabalho, nas quais predominam a vul- nerabilidade e a segmentacao dos coletivos, sejam elas manifestadas na forma de sofrimento, adoccimento ou de submissio, como também na forma de demandas, de “proves” do real do trabalho contra as quais o sujeito é chamado a se afirmar. No campo da psicologia organizacional e do trabalho (POT), 0 posicionamento das clinicas do trabalho diferencia-se em relagio ao de outras abordagens, o que implica desenhos especificos na atuagdo do psicdlogo. Para entendermos tais dife- renciagées, precisamos colocar a prépria POT em perspectiva: trata-se de uma érea “psicolovia anlicaca”. a qual nossui uma forte vocacio Iictnrieamonte Heada A i quant , ‘mento. Denominada inicialmente de psicologia industrial e, e cologia organizacional, tem fundamenio na psicologia cognitivo-comportamental, “Com intéiéssé primnacio no comportamento, Colada aos objetivos de gerenciamento a psicologia organizacional o comportamento enquanto sco e 0 manejo das questées relacionadas ao de- sempenho, unidade temética fundamental nesta perspectiva. Espera-se de um psicdlogo otyanizacional em organizagbes de economia capitalista que este oferega imentos de controle & gestao. E neste ponto podemos localizar um importan- ‘ponto dé diferérictagae entre as clinicas do trabalho e a psicologia cognitivo- comportamental aplicada as questdes do trabalho e das organizagbes, 2 saber, papel que cada uma delas exerce, especialmente em torno da demanda e da in- tervengao, em relacio aos interesses das organizacies capitalistas e os interesses dos trabalbadores. Se as teorias cognitivo-comportamentais apresentam-se como capazes de intrumentalizar o gerenciamento dos fatores humanos no trabalho ¢ promover a |, adaptago do sujeito aos imperativos do desempenho e dat \, psicologia do trabalho de énfase clinica nfo pretende ser \ como instrumental na gestéo organizacional. Ao contrério, quando ocupa-se das piticas de gerenciamento, o faz evidenciafido os mecanismos que interferem nos processos de subjetivacio. As andlises inspiradas nessa perspectiva focam nos processos emancipatérios dos trabalhadores, ¢ nao apenas (ou prioritariamente) no desempeniho produtivo destes. [esse sentido, a pesquisa-actio é uma prética importante nessas cinieas, que pressupée um tipo de envolvimento do psicéiogo ou profissional de POT no qual cle atua como um coagente na transformacao dos processos organizacionais, especialmente os micro-organizacionais. Para Lhuilier (2006a, 2006c), a contri- buigdo do modelo da pesquisa-aclo ajusta-se & proposta das clinicas do trabalho por permitir a0 pesquisador o desenvolvimento de dois papéis, simultaneamenté: () 0 papel de “clinico social’, interessado na transformacao efetiva do trabalho, voltado para a reducéo dos fatores de sofrimento e adoecimento dos trabalhadores, assim como dos elementos que bloqueiam ou rechuzem o poder de agir dos sujeitos; (i) a postura de “pesquisador-clinico”, quando se espera dele um questionamento do préprio conhecimento produzido e as apropriagdes deste pelos coletivos de trabalho, tratando a pesquisa como pres social. Sendo assim, a pesquisa-acéo, ‘além do desenvolvimento do conhecimento, permite que o psicélogo do trabalho ‘cumpra com os propésitos de conscientizacio e 0 “empoderamento” dos sujeitos nas situagdes de trabalho. Trata-se de uma coprodugéo de conhecimento-agio vinculado as situagbes reais ¢ &s vivencias dos sujeitos. sensiveis &s probleméticas investigadas, tais como a técnica da “autoconfrontacéo cruzada’ (CLOT, 2005), ou dos “grupos de andlise das praticas” (DEJOURS, 1996, 1998). Nessas técnicas sto destacados, em primeiro plan, diSpositivos interpreta- tivos que permitam o aumento da reflexividade dos sujeitos sobre suas atividades, a compreensio das defesas utilizadas para fazer face as dificuldades. as angustias a0 sofrimento, bem como a apropriagio de estratégias bem-sucedidas ecriativas de enfrentamento do real do trabalho. A adogéo dos propésitos emancipatérios é transparentemente assumida pelas clinicas do trabalho. Além disso, elas nao elegem como seu “ambiente” exclusivo de atuacdo as organizacBes capitalists (como, em gral, rende a ocorrer nas ps- s cognitivo-comportamentais aplicadas ao trabalho e as organizagées). Elas tendem que hé mais no trabalho do que simplesmente a relagio contratual € _/ instivaida do emprego. O trabalho é atividade pela qual o sujeito se afirma na sua {/-relagdo consigo mesmo, com os outros com quem ele trabalha e pela qual colabora \ para a perpetuagio de um género coletivo. Néo éa toa que encontramos a utiliza- ‘$40 das clinicas do trabalho em contextos nao “tradicionais”, como em hospitais, residios, instituigbes da policiae escolas. Sua extensdo a esses ambientes nos per- mite captar outta premissa assumida e compartithada pelas clinicas do trabalho: ' qnecessidade de lutar contra a vulnerabilizacdo social, contra a ocultacéo do real trabalho e as formas de alienagao ¢ invisibilidade social. ‘Um othar para as fontes que inspiraram o nascimento des ctinicas do trabalho pode ser instrutivo neste contexto, pois, contrariamente a outras abordagens da POT (notadamente as que se baseiam no modelo cognitivo-comportamental), 2s das clinicas do trabalho receberam influéncias importantes da tradigéo da psico- patologia do trabalho, especialmente francesa. 3. Origens e filiagdes De fato, a clinica voltada as questdes do trabalho teve seu marco inicial no Ambito dos estudos sobte satide mental, especialmente em duas grandes abor- dagens atreladas & psicopatologia do trabalho, campo originalmente vinculado & psiquiatria. No contexto francés, por exemplo, Sivadon (1957), Veil (1964) ¢ Le Guillant (1984) so os principais precursores. Sivadon (1957) abordou os problemas de adaptacéo individual no trabalho, centrando sua andlise nas fragilidades do trabalhador nas mais variadas situagSes | com a inscrigdo de suas obras; quando essa possibil (1957), 20 abordar no somente os aspettos singulares e psicolégicos do sujeito, mas também a organizagao do trabalho. Assim, destaca a dupla polaridade do trabalho: se por um lado o trabalho € fonte de desgastee softimento, ele é tam- bém atividade criativa e meio de sublimacio. Ocupa-se da andlise situacional das experiéncias do sujeito no trabalho e das diversas formas de desadaptacio provo- cadas pela saturagao dos mecanismos de defesa. Le Guillant (1984), contudo, é quem mais parece ter contribuido para a dagdo de uma abordagem especificamente clinica do trabalho, insistindo na indi- visivel unio entre o individuo e seu meio. Inspirado em tradigées do materialismo Gauillant prope que o analista (clinico) do trabalho tome como ponto de partida as situagSes concretas vivenciadas pelo trabalhador, pois so nestas que ele encontraré as diversas manifestagdes patol6gicas. Algumas de suas investigagGes tornaram-se bem conhecidas, como a hipstese da “neurose das telefonistas”. 0 autor propde entdo uma andlise da fadiga em trés planos: no bio- fisioldgico, no psicoafetivo e no psicossocial, tendo como pano de fundo o préptio trabalho ¢ as relagdes objetivas criadas entre o trabalhador ¢ seu mundo laboral._ Em sintese, Sivadon (1957) e Veil (1964) inauguram uma clinica do sujeito em. suas relacées com o trabalho, enfatizando as questBes de natuceza intrapsiquica, a0 passo que Le Guillant (1984) abre as vias para uma clinica (social) das sizuagées de trabalho (LHULLIER, 2006a). Nessas duas grandes abordagens, podemos localizar os primérdios de uma clinica social do trabalho, que entende ser 0 seu objeto de estudo os provessos de subjetivagio relacionados ao trabalho eo seu papel a trans- formagies das situagées de trabalho. 4 Temas de pesquisa e focos de intervencao, Como observado anteriormente, embora as questées envolvendo o sofrimento no trabalho no representem todo o dominio de temias das elinicas do trabalho, nio ha diivida de que € nesse terreno que elas deixam uma contribuigio desta: cada, Formas de “desmontagem” do traballio (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 1999) seguidas, em geral, de fraturas nos processos subjetivadores a ele associados, sao ‘ocasiées de sua intervenco. O mesmo pode ser dito com respeito as diversas formas de “dessimbolizacio” do trabalho, quando este deixa de serum objeto investido de significado leva ao desengajamento afetivo dos sujeitos Cloz (1998, 1999) deno- mina esse processo de “des-obramento” na situacio de trabalho — isto €, 0 busca reconhecer e ser reconhecido em géneros coletivos, nos quais ele contribui de & impedida, o trabalho quais tém, em sua génese, o crescente nivel de exigéncias ¢ demandas colocadas pelas organizacoes de trabalho 20s individuos e a redugéo (ou manutengzo em letivos para seu enfrentamento. Diante randas ou graves de ‘grupo, diz respeito, as “patologias da soliddo da indeterminacio no devido & Fragilizacio dos oficios engiianto eoletive- de regras, normas, atividades e identida Evidéncia nesse sentido sfo as diversas modalidades de gestao"dos recursos, hhumanos, centradas na segmentagio do coletivo e na individualizagio, como a remuneracio varidvel por desempenho individual, o coaching e a gestio persona- lizada das carreiras. Jé a indeterminagéo no trebalho tem a ver com uma dificul- dade dos trabalhadores em compreender os meios ¢ os fins de suas atividades, 0 ‘que dificulta o processo de apropriacao subjetiva da atividade. Um exemplo pode quando a esséncia do trabalho se reduz. a cujas demandas e exigéncias de valor nem . Nesses contextos, hé uma rarefacio dos de como realizar e conduzir o trabalho, fato a intensificar as exigéncias endoreendas ane trahalhadores. Cinicos) recurs ‘com que o trabalho se tran: de afrontamento no qual, assimetria de poder com a organizagao. Da mesma rece destaque como tema da: ce tentativas de s 7 3 mentais, originarias em situagdes 5 As teorias clinicas do trabalho Embora as teorias elinicas do trabalho apresentem finalidades convergentes © alguns pressupostos comuns, existe entre elas divergéncias de ordem epistemol6- gica, tebrica e metodoldgica que muitas vezes podem dificultar articulagées reci- pprocas no desenvolvimento de uma pesquisa ou na andlise de uma situacdo real de trabalho. Cada uma das teorias parte de conceitos especificos tanto de subjetividade n como propée formas especificas de compreender e de de trabalho ¢ os processos de subjetivacso. Por exemplo, a compreensdo de subjetividade para a Psicodinémica do Trabalho tem fundamento na psicanlise. Por outro lado, a clinica da atividade entende o desenvolvimento dos sujeitos tomando por referéncia a teoria de Vygotski, Leontiev e Bakhtin, (O pesquisador necessariamente teré que optar por uma teoria de referéncia ¢ avaliar, epistemotogicamente, se ela permite um didlogo com outra teoria clinica do trabalho, sem perder a coerés ‘go breve das principais teorias centrais de cada uma. Néio cabe aqui fazer uma comparacio dos pontos de dive sgéncia entre as teorias, tendo em vista que, no decorrer dos préximos capt @ possivel contemplar os autores franceses e também os pesquisadores br tecendo andlises profundas e proficuas dos conftontos entre elas. Serdo contem- pladas as quatro clinicas do trabalho discutidas neste livro: a psicodindmica do trabalho, a clinica da atividade, a psicossociologia e a ergologia. Representada espe: te pelos trabal da desde a década de 1980, encontra seu: na ergonomia e na sociologia do trabalho. Concebe que o sujeito ¢ dividido por Confltos intrapsiquicos, mas que também nfo pode se constituir fora posto pela ergenomia, A psicodindmica desenvolve uma a cimenio e os mecanismos de defesa e de mediacao do soft 2007). Nesta abordagem, a pesquisa ¢ uma pratica de interver >, téenicas estas que permite que os trabalhadores tomem consciéncia de ss0s que eles mesmos felatam, mas que no tinham clareza antes de explicé- Jas 20s pesquisadores (DEJOURS, 2004). Por casio da pesquisa nestes molds, hé ‘uma perlaboracéo coletiva do que se vivencia no trabalho, subjetiva dos trabalhadores com seu préprio trabalho. 5.2 Aclinica da atividade A clinica da atividade fundamenta-se, em grande medida, na teoria de ‘Vygotsky, Leontiev e Bakhtin e teve sua origem a partir de 1990. Destacam-se 1 propositores desta teoria Yves Clot ¢ Daniel Faita, sendo o primeito a prin- para cumentar “o poder de agi Individualmente” (CLOT, Capitulo 2 deste vid). Considera o trabalho como uma atividade permanente de recriago de novas formas de viver, e nao apens como tarefa, mas como atividade dirigida, histérica e processual, Nessa perspectiva, entende-se que a subjetividade é constituida pela ena ativ- dade, Reconhece que o coletivo regula a agio individual, de modo que o trabalho permeia, simultaneamente, a dimensdo da histéria singular e da histéria de um oficio (de construco coletiva de um g2nero). O reconhecimento, diferentemente da compreensio da psicodinamica do trabalho, nao se refere 20 olhat do outro, mas A canacidade dos fascinate fom racomhener 2 ef macmn nn neitAna gia busca, déssa forma, investigar as reciprocidades entre 0 pstquico e o social. sossociologia cont ymbém para a compreensa ) € outra imagindria sobre a contribuicao jologia sobre a compreensdo das inst definidas como um cconjunto de signos de simbolos, de represemtagoes ¢ das relagées humanas. Nessa lin de consulta e pesquisa, ‘osujeito no quadiro da vida cotidiana, em seus grupos, organizagées cinstituigées. inicialmente, a psicossociologia utilizava principalmente a técnica da pesquisa- aco, mas a proposta da intervengio psicossoctal, estruturada sobre uma rélagio de ‘ofaboracio entre pesquisadorese operadores do trabalho, ganhou maior énfase, -acio com grupos atfciais al., 2001). Destacam-se atual 1c e E, Enriquer, dos grupos, mente nesta pel 5.4 Aergologia Representado especialmente pelos trabalhos de Yves Schwartz, a ergologia tem como fundamento o projeto de melhor conhecer o trabalho para intervir e trans- formé-Jo, buscando contemplar a ati vided humana em todas as suas dimensées. ces concretas. Concebe a atividade como otientada por um universo instdvel de valores e normas, constantemente refor- tmulados e transgredidos diante de diferentes variabilidades. A ergologia parte do lade, a0 exigir um debate perpétuo de experiéncias e con- responsével por uma aprendizagem permanente das normas e valoies, projetando o ser viveate a um constante processo de conhecimento-transformacao da sua atividade. A intervencdo na ergologia tem como objetivo “incitar aqueles que vivem trabalham a pér em palavras um ponto de vista sobre sua atividade, a fim de tomé-la comunicavel e de submeté-la & conftontagio de saberes” (Schwartz, neste livro). Com esse propésito, fundamenta-se no “dispositivo dinamico de trés Polos", 0 qual articula eonceltos, a dimensto histéica da situagdo de trabalho ¢ o debate de valores. ee 6 Pressupostos compartilhados Conforme observa Lhuilier (2006b), as clinicas do trabalho nao constituem uma escola de pensamento, tampouco as abordagens nelas agregadas podem ser ditas homogéneas ~ quer em termos epistemolégicos, tedricos e metodolégicos. ‘Mesmo assim, alguns pontos em comuns so af observados, e é com eles que aqui nos ocuparemes. 5) 0 primeiro ponto é o interesse pela ago no trabalho, Mais especificamente, como eficoatzamas na “clinica da atividade” proposta por Clot (1999; 2008), 0 interesse pela excenséo do “poder de agir” dos sujeitos no trabalho. Buscam-se criar condig6es psicossociais para que os sujeitos se apropriem de sua atividade, seja na forma de um retorno reflexivo sobre ela (pensar sobre), como também na forma de agées conjuntas elaboradas pelos coletivos de trabalho, as quais buscar Js que um dos focos das cinicas to tral & o poder de agi dos sui tivo de trabalho, precsaros entender 0 que est implicado na ideia de “poder” neste caso, Na verdade, muitas so a representagSes sobre © poder, podenci elas se efrizem a classes sci, & posse sobre recursos escassos, 2 capacidade de infuéncia, a autoridade. Mas © poder de que se rata aqui se refete ao poder encontrado no nivel do ao, no sentido mendeliano Clot (2008) 9 sto poder acrescenti que 6 poder, nesse registro, possui alguns enderecament sobre si mesmo, no sentido do poder do “uso de si” (SCHWARTZ, 1993); 0 po- der Sobre @ atividade (a maestria sobre meios-fins); e o poder sobre a atividade gs outros. Hid ainda 0 poder sobre as resisténcias do real (LHUILIER, 2006a), quando o sujeito consegié enfrent: ente, as restrigdes, as frustragdes @ a indeterminagéo da realidade material implicada em toda forma de im segundo ponto de comy i liniéas do trabalho, este ultimo nao é restrito a sua uum projeto de transformagio do real ¢ de construcio dé significados pessoais € sociais (CLOT, 1999, 2001; LHUILIER, 20068, 20066, 2006c). Trata-de de ativi- jeito enreda-se em uma narrativa coletiva, “sai atividade dos 01 normas, histérias, regras) e & atividade propriamente dita, isto é, aquilo que esta sendo feito, o que levanta a questdo da eficiéneia, do propésito, até mesmo da estética e do gosto, Adicionalmente, na concepeéo das clinicas do trabalho, este ¢ considerado isto 6, numa demanda pela transformagdo izer que o trabalho & uma prova implica 0 trax como uma prova inscrita numa da realidade (LHUILIER, 2006a) tamento da dimenséo do real. Conforme observa Lhuilier (2006a), 0 ato mendeliano expe 0 sujeito ao con- tato com o real, situaco que inevitavelmente compreende o risco de fracasso de seu ptojeto de aco. Eé precisamente neste ponto, com a introducéo da dimenséo en) diseussdo sobre o ato, que a mesma Lhuilier, uma das principais auroras 2 delinear a nocio de clinicas do trabalho, prope situarmos este dltimo, jé que © trabalho igualmente envolve um confronto do'sujeito com o real - entendido ‘como 0 que resiste & simbolizagio, 0 que “ultrapassa” o pensamento que dele se pode ter ou fazer previament (O delineamento do coneeito de “real” no ambito das: se também & contribuigio da ergonomia. Embora ndo SeTzA"7 arnnnnmnia & anweendidda am con contract:

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