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Os motivos da revolta popular: UM BALANC0 CRITICO DO GOVERNO DO PT Daniel Romero, Erika Andreassy e Nazareno Godeiro Classe média, eu? Atndgoras Lopes Noticia Tupiniquim: Aclasse média cresceu! Passou de mil, um “poquim” Emudaram oque era Eu Como pode ser assim, Seoque tenho no 6 meu? 2 fato que ter uma“Led’, E uns cartfo de comprar, Dar de presente um “Ai-Ped” Pros Hiipuder" navegar Di sensagio que se perde Olugar que voes té Qualquer coisa que se passe No rédio ou televisio Diz que mudei de classe Que eu vivo como um patréo ‘Mas vejam na minha face: O espanto desse peio Eu devo pra todo mundo "Os cartiio tudo estorado” Meu nome segue Raimundo Nada que compro é quitado jo vive nem um segundo Sem eu té sendo cobrado Ese me “dé” uma vontade Derepente, um supetio, Pra.almoyar de “alacarte’ Peixe, “munquec ‘Nio tenho um tostio parte Pra eu pagar no baledo ‘Nem pra comprar um chinelo Casoomeuarrebentar Sendo tiver um “Cielo” ‘Nao vou ter como pagar Como que sou classe média, Senem “média” eu vou tomar? (Quero sim esses acessos ‘Moreco, por trabalhar, ‘Mas nffo ver com esse pracesso Tentando me enganar ‘Nio preciso ter exc ‘Taio pouco pode faltar que por traz das “nuticia” Dizendo que melhorou ‘Tem tico, feito milicia, Esnobando o que roubou. Eo governo enfeitiga “Os pobre” que ele enganou Aclasse trabalhadora Ba que eu sempre pertenci Nafabrica ouna “lavora” Lutando foi que aprendi: Prater vida duradora, Livre elibertadora, Patrio vai ter de sum Os motivos da revolta popular: um balanco critico do governo do PT NAZARENO GODEIRO (Organizador) Autores: Daniel Romero Erika Andreassy Nazareno Godeiro Colaboradores: Ana Pagu, Elder Sano “Folha’ Hertz Dias e Marilia Macedo ILAESE Sao Paulo 2014 O ILAESE - Instituto Latino-americano de Estudos Socioecondmicos ~ é um instituto de formacio politica e tedrica a servigo dos movimentos sociais, cujo objetivo é auxiliar a nova geragao de ativistas a se formar no campo do marxismo revolucionario como concepgio de luta dos trabalhadores e da juventude, Queremos contribuir para que os sindicatos e as organizacées sociais se convertam em ala- vancas da transformagao social, Dados intern Iraci Borges ~ CRB-8 - 2263, Godeiro, Nazareno, org. jonas de catalogacio elaborados na fonte por (0s motives da revolts popular: um balancocrtice do governo do PT Por Nazareno Godelro, Danlel Romero e Brika Andreas. So Paul: ILAESE, 2014, 80p. dus. CColaboradores: Ana Pagu, Herta Dias, Elder Sano “Folha" e Maria Macedo ISBN: 978-8566955.00-2 1. Governo ~ PT, 2 Partido dos Trabalhadores- governo. 3. Gaverno peista - balance citico, 5. ILAESE. I. Titulo, Romero, Daniel, 1, Andeassy, Eka, op: 320 Coordenagio Nacional do tlaese: Anténio Fernandes Neto, Arthur Gibson, Bernardo Lima, Cristiano Monteiro, Daniel Kraucher, Daniel Romero, Eric Gil Dantas, Brka ‘Andreassy, Fernando Antonio Soares dos Santos (Nando Poeta), Fred Bruno ‘Toma, Guilherme Fonseca, José Pereira Sobrinho, Juary Chagas, ‘Luci Praun e Nazareno Gadeit, Enderego para contato: Praga Padte Manuel da Nabeege, 16 - 4 andar, Sé ~ Sto Paulo ~ SP CEP:01015-000 E-mail iaese@ilaese orgbr Site: wwwilaese.org br Design e infografia: Gustavo Sixel, ‘© Macsedisponibiliza qualquer parte deste texto para ser reproduzida, desde que citada afonte 4 NOTA DOS EDITORES Este texto foi escrito no inicio de 2013, no aniversério de 10 anos do PT no poder. Portanto, o texto esté com- pletando um ano de vida. Por circunstincias alheias @ nossa vontade, 0 texto nio foi publicado em 2013. Vieram as manifestagbes de junho de 2013, que mudaram a sitt- ago politica no Pals ¢, mesmo assim, 0 texto nio enve- Iheceu. Fizemos apenas pequenas mudangas de adaptagio do calendaio, incorporando as manifestagbes de junho. ‘Todo o texto se manteve igual e, na verdade, deixa- ‘mos exatamente como foi redigido no ano passado, pois j prenunciava e explicava, a partir de muitos dados da realidade brasileira a revolta popular que explodiria em seguida, 86 por isso, se justficava a publicagao deste texto que 0 fazemos, com atraso, em margo de 2014, Esperamos que o texto ajude para a compreensio da situagio econdmica e politice brasileira e na luta para transformer o pais, na ruptura com o capitalismo e o im- perialismo. Institut Latino-americane de Estos Scioeconimios ILAESE) SLUT Io) INTRODUGAO e CAPITULO 1 - DIVIDA PUBLICA @ we Mais envied do que manca/ Evite cone yard co Ib Divee porate /Papante for poverno/ Média de gamer por great portempo/Oqueseriapooteleom over da diva Financerzagio da economia brava —.... Enivdamento geneaizaco 3 populseto @»3 CAPITULO 2 - DESIGUALDADE ‘Uma das piores distribuigées de renda do mundo / Distribuigéo funcional / Populacio por rendimento omiciliar per capita / Pobres e precarizados / Dera: ‘ogia e "nova classe media ‘Gastos soiais no Brasil / Orgarnento 2012 e CAPITULO 3 - TRABALHO Qr*7 “Pleo emprego” ou precarizagdo da mdo-de- obi? (Taxa desemprego /Eroprego precirio/ Compescio ocupagées por vinculo/ Taxa derotatividade(stores) CAPITULO 4 - RENDA © governo petista garanteum salériomirimo digno? {Bvolugéo do salério minim, desde 1940 e salsrio ‘inimo DIEESE /Salario Minimo real / Rendimento médio Regides Metropolitanas / Sélarios minimos ‘por tamanho da empresa / Rotatividade por rend @-' CAPITULO 5 - CAMPO @ Governo do PT se uniu ao agronegécio e abandonou ‘areforma agréria/ Familias assentadas (1995-2012) CAPITULO 6 - DEPENDENCIA .......... eo © Brasil € um pais mais soberano ou mais depen- 5 dent? / Investimento Estrangeiroeremessas/ Produ- tosbisicos X manufaturados/Investimentos,ajudase remessas eto automobilistice/ Controleestrangeiro R60 inns Q “Da metivos da evel popular: um blag critica do govern do PT CAPITULO 7 - LUCROS “Empresirios ganharam como nunca no meu go- verno" / Lucrodosbancos /Faturarento 500 maiores empresas / Distribuicao faturamento: trabalhador x empresas / Custo Brasil / Produtividade indtistria CAPITULO 8 - PRIVATIZACAO e “0 modo petistade privatizar/Pevatizagio no Br si(1990 Pivatizacoes com Lula eDilma /Pacerias Piiblico-Privadas/ Lelio do Petréleo/ Ferroviasero- Aovias /Acroporios / Previdéncia servidores CAPITULO 9 - OPRESSAO @ ‘As contradicées para as mulheres trabalhadoras / Renda mulheres x homens / Bolsa-amilia / Rede ‘Cegonha / Raz4o da mortalidade materna / Mortali- dace cor/raga / Politica de Creches / Programa Brasil Carinhoso Violéncia contra mulher /Taxadehomicidios 2) de mulheres / Homicidi por cor / Rede de en- frentamento / Evolugio DEAMs / Orcamento para politica de combate violencia .. © Pr ea“tntusso marsina” de negrosenesras / @) 2 wile contra avenue eg stato da iealdace Raia Pla de Cotas Difrenga sal talenre ngrese branes Governos do PT ¢ LGBTs: 10 anos de jogo duplo / (2) “Brasil sem homofobia e a Conferéneia LGBT / Em nome da governabilidade ane CAPITULO 10 - CONCLUSAO ........ ‘Para quem governou o PT? /Financiamento da cam- panha eeitoral de Dilma Roussett CAPITULO 11 - PROGRAMA ....-- @) ‘Um programa dos trabathadores em ruptura com 0 ‘imperialismo para desenvolver o Brasil / Suspensio dopagamento da divida /Estatizagio das multinacio- rai, do sistema financeiro e do agronegécio / Refor- ‘maagraria/Elevacdodo salirlominimo soriwnr i i } i Institut tatino americare de xtudos Soloeconico ILAESE) INTRODUGAO O Brasil, de fato, mudou? Nestes 10 anos, os empresarios levaram muito mais que a classe trabalhadora endo houve mudanga estrutural nas causas da desigualdade social no pais. NAZARENO GODEIRO Em 2012, completamos 10 anos de governo petis- ta no Brasil. A cartilha comemorativa do PT afirma gue o governo inverteu as prioridades do neolibera- lismo e fez duas transformagées no Brasil: 1.0 Brasil est entre as seis maiores eco- nomias do mundo, com crescimento susten- tavel, liderando um projeto de desenvolvi- ‘mento mundial; 2. Tal desenvolvimento teve como mola propulsora a distribuigao de renda, com ple- Ro emprego e pobreza diminuta, em vias de acabar; E verdade que teve crescimento econdmico nos liltimos 10 anos, mas ndo houve uma reparticgo igualitaria do bolo. Os empresdrios levaram muito mais que a classe trabalhadora e no houve nenhu- ma mudanga estrutural nas causas da desigualdade social no pafs. Produzimos muita riqueza: apenas os traba- Thadores de seis paises produziram mais riqueza que 0s trabalhadores brasileiros, Porém, na distribuicao desta riqueza, estamos na rabeira: 84 paises estéo na frente do Brasil, Essa disparidade foi a motivagio de fundo que originou as manifestagées de massas da juventude brasileira, expressando a insatisfacio geral de toda a populagio, ‘Toda a propaganda oficial de que estamos prestes @acabar com a pobreza e criar um pais de classe mé- dia foi por agua abaixo. Existem dois “Brasis’: 0 Bra- sil dos ricos, classe composta por menos de 1% da Populacio, que vivem como reis, eo Brasil dos traba- Ihadores, que produzem muito e ganham pouco, em. ‘Os motives revella popular um balango crite do gverno do PE trabalhos precarizados e informais. Somos favordvels a toda assisténcia social que possa minimizar o sofrimento dos mais pobres, Para milhdes de brasileiros, pode significar um prato de comida para seus filhos. Porém, opinamos que a redugio da jornada de trabalho para 36 horas sema- nais e a reforma agraria garantiriam emprego para milhoes de usuarios (as) do Programa Bolsa Familia, tornando-o desnecessario. ‘Também acreditamos que a chegada de um ope- rrarlo, pobre e migrante nordestino, no poder revela a forca da classe trabalhadora brasileira. A esquerda marxista defende um governo dos trabalhadores, es- pecialmente dos setores mais explorados e oprimidos pelo capitalismo, como migrantes nordestinos, ne- grose mulheres, Nao acreditamos, porém, que se possa mudar 0 Brasil de bragos dados com os ricos, com os pafses im- perialistas, com as multinacionais e o capital inter- nacional. Lula falou que era "barato e facil cuidar dos po- bres’: estendeu o alcance da Bolsa Familia, ampliou o crédito e aumentou 0 saldrio minimo, Isto, somado com um forte crescimento econémico mundial entre 2002 e 2008, deu uma sensacao de desenvolvimento econdmico e inclusio social, Esta sensagio de bem-estar esta se evaporando aos primeiros sinais de que a crise econdmica inter- nacional est se aproximando do Brasil. ‘Ao optar para governar em harmonia com os ricos, teve que entregar muito mais para eles, im- pedindo uma verdadeira distribuicso de renda no pais. Vejam, na pagina seguinte, dados econdmicos ‘em perspectiva histérica de 40 anos. INTRODUGAO_7 Em 40 anos, populagao e riqueza mais do que dobraram erie Ere mllhocs PTC) _ Pee We Oey 70 7000 1980 1990 rear tel Tay Riqueza do Pais dividida por habitante em um ano, em délares gett tay Panera are Perea Saldrio minimo real, Em R$, de maio de 2012. 615 571 542 naar, 539 as nm Povey 337, corr gee a ae ee iyeteny ‘Quanto mais préximo de 0, mais igualitario € pais Entre 187 paises, ne en PAIN ser «0587 OG ses aproxima de 0. Apen: o 0543 0,543 Res a Indice de Desenvolvimento Humano. O75 0718 Guastamalepessine ik mans Shama as condigdes de vida da populacéo 0,665. 0,600 0549, ad Cee at Naodisponivel oo 70 980 90 7000 710 ont Fane Anuar tastins202-Sngps-202- Mss Mn Ens ta cds Ho IRE, Mla CN 8 lust Laine anericn de tle Sakae LAESE Orcgamento: A prova dos nove ‘Um termémetro para saber quais interesses sao atendidos pelo governo é a distribuicao dos gastos do Orcamento publico federal. Os gastos do governo petista nao deixam dividas. BOLSA-FAMILIA Gasto com o programa DIVIDA PUBLICA Gasto com juros e amortizagdes 753 703 bihées Veja a injustica: Em 2012, 0 governo Dilma gastou R$ 753 bilhoes para pagar juros e pagamentos da divida publica, Enquanto isso gastou R$ 18 bilhdes no Bolsa- Familia, que beneficia cerea de 50 milhdes de pessoas, Nao foi para isso que toda uma geragao da classe trabalhadora Drasileira doou sua vida zou zo Alcance do pagamento da divida Alcance do programa Bolsa-familia 10-15 ma 50 mit pessoas, 13,9 mitndes 50 milhées de pessoas, familias” no maximo de familias aproximadamente fon ie PDP pa goed Dt, aban AES {HANES 9 Badin Novsa ,20 7 ‘xaos dare pm oc doen da PT moDUcho 9 INTRODUCAO INTRODUGAO. O programa de luta de uma geracao Entre 1978 e 1990, uma geracao inteira conquistou o pais: milhées de grevistas, ocupacées de latifindio, mobilizacées por terra, trabalho ¢ liberdade. Esse foi o alicerce que formou, duas das maiores organizacées de trabalhadores do mundo: a CUT e 0 PT. Foi nessa forca que Lula se apoiou para chegar ao poder. Nao foi somente sua habilidade pessoal ou sua capacidade politica individual que o permitiu chegar a Presidéncia. O PT se tornou um grande partido, lutando por reformas estruturais no Brasil, expresso em sete transformacées: Lula sintetizou assim os pontos do programa: vivendo no Brasil hoje? E de cumprir isto aqui [Constituic&o Brasileira de 1988]. Veja que outro dia pensei em me transformar no homem do livrinho, Andar com a Constituigo em baixo do brago e dizendo: esto me chamando de revolucionario e que eu quero luta armada, pois aqui esta minha arma. Eu quero que seja cumprido 0 saldrio minimo que est contido aqui. Eu quero que seja cumpridaa seguridade social que est contida aqui. Eu quero que se pague aos aposenta- dos o que esta contido aqui. Eu quero que se pague aos pensionistas o que estd contido aqui. Eu quero que hajao respeito & democracia que est contido aqui. (...) Eu quero uma sociedade aonde todos tenham casa, onde todos tenham o direito de ter uma boa escola, uma boa satide. E por isso que eu defendo uma satide na mio do Estado e nfo é que eu vou fechar as privadas no, aque- las que so da iniciativa privada, nés vamos enquanto Estado dar uma satide de tal qualidade que 0 povo nao vai precisar procurar a satide paga. E nds jd dissemos claramente que a reforma agraria esta para nés assim como o oxigénio est para a humanidade. A suspensio do pagamento da divida externa estd parands como uma questio politica e nfo somente 9 9 é Vocé sabe qual é a dificuldade que estamos Acabar com a especulagéo financeira em torno da divida puibli- ca (externa e interna) que sugava toda a riqueza da nagéio, que da para os cofres dos grandes bencos. Reorientar este dinheiro para investimentos no setor produ- tivo e gerar um desenvolvimento sustentado da economia e da industria. Utiizar o dinheiro economizado do pagamento de juros da divida para garantir educacéo, satide e moradia, como reza a Constituicko Federal de 1988. Discurso de Lula na campanha de 1989, durante debate da TV Garantir uma reforma agréria, em ruptura com o latifiindio, para assentar o homem na terra, garantir a soberania alimen~ tar do povo brasileiro e diminuir o éxodo rural, que formava bolsoes de miséria nas favelas. Garantir o salério minimo que determinou a Constituicéo, que permitia o trabalhador ter alimentagéo adequada, casa, comi~ da, saride, educacéo, Previdéncia e lazer. Garantir emprego de qualidade para todos, reduzindo a jornada para 40 horas semanais, sem redugio salarial. Para 480, 05 ricos (grandes empresérios, banqueiros e Latifundiérios) teriam que perder para que se ganhasse na outra ponta, distribuindo renda na forma de salério. econémica e financeira. Um programa abandonado Em todos estes pontos programaticos fun- damentais, o governo do PT nao levou seu pro- grama a pratica. Deixou de ser um partido de trabalhadores para ser mais um partido que de- fende a ordem capitalista. No meio do caminho foi se adaptando as exigéncias dos ricos para alcangar e permanecer no poder. Nas paginas seguintes, iremos analisar, uma a uma, as refor- mas estruturais que o PT pretendia fazer no Brasil quando chegasse ao poder. Boa leitura ‘Cemativoe ds revita popular um blango creo do governo do PT mTRODUCKO 11 ai DIVIDA PUBLICA Mais endividado do que nunca Um dos principais pontos programaticos do PT na década de 1980 era acabar com a especu- ago financeira em torno da divida publica. Observemos as palavras de Lula no hordrio eleitoral, na campanha de 1989: “Primeiro, suspensio do pagamento da divida externa; segundo, acabar com a especulago financeira no Pais baixando as taxas de juros”. No en- tanto, chegando ao governo, Lula fez 0 oposto e, no final de 2012, com 10 anos de governo petista, a divida publica (interna e externa) era a maior da histéria, com R$ 3,72 trilhdes. Ea | Eq na | ia ci | Tamanho da divida em compara¢do com o Produto Interno Bruto (PIB) Em 1970, a divida representava 11% de toda a riqueza produzida pelos brasil Em 2012, atingiu 84% 1970 1980 1987 1990 2000 2010 2012 11% ; 40% Ss 60% 75% 84% Fonte Banco Centrale IBGE Eaboraco: LAESE ‘Quem nao se lembra de Lula falando que 0 Bra- sil nao tinha mais divida externa? Pols em dezembro de 2012, conforme Tabela do Banco Central, a divida externa alcangou a cifra de 441,7 bilhdes de délares, que correspondia a R§ 902 bilhdes. A Auditoria Cidada, cuja elaboragao_utiliza- ‘mos no tocante divida publica, esclarece que: ‘a- definigdo classica de divida interna jé ndo pode ser aplicada a realidade atual, tendo em vista que grande arte da divida interna é de fato externa, pois os titu- los emitidos pelo Tesouro Nacional tém sido adquiridos principalmente por bancos estrangeiros’. 12 _@BancoCenal Quadros St e5t-A {3} Ranco Central Quadros Em dezembro de 2012, a divida interna chegou a R§ 2,823 trilhées, conforme Tabela do Banco Cen- tral, Portanto, somando as dividas, no final de 2012, chegou a R$ 37 trilhées. ‘Notem que, entre 2000 e 2012, que engloba os 10 anos de governo petista, a divida publica total (inter- nae externa) saiu de 60% para 84% do PIB! OPT utiliza um artificio estatistico para dizer que adivida est no patamar de 35% do PIB. Usa dados da divida liquida, coisa que s6 se faz no Brasil. Interna- cionalmente se utiliza os valores da divida bruta. Quando FHC assumiu 0 governo, em 1995, cada Institut Latinoamericano de Estudos Sodosconémoe OLAESE) crianga que nasceu ja herdou uma divida de cerca de R$ 2 mil. Quando saiu, em 2002, cada brasileiro j4 devia cerca de RS 5 mil! Cada centavo pago desta divida ¢ dinheiro reti- rado da educacio, satide, moradia, reforma agraria, isto é, deixa-se de pagar a enorme divida social que o DIVIDA PUBLICA pais tem coma classe trabalhadora Com 0 PT no governo, esperava-se que esta san- gria ia diminuir. Ledo engano. Quando Lula saiu do governo, em 2010, cada recém-nascido jé devia quase R$ 15 mil. Com Dilma, na metade do seu mandato, a divida per capita ja chegava a R$ 18.500! 73 18.500 Divida por habitante, em R$ RS 14.578 1679 *84356, 1.059 RS1610 BS Rs114_ RS ——a ro 1960 1967 1990 2000 2010 2012 Fonte: Banco Central eIBGE.Faboraio: LAESE Divida ja foi paga 45 vezes e nao para de crescer Se esta divida fosse legitima, até poderia se argu- mentar a necessidade de honrar um compromisso, porém, esta divida éilegitima. Entre 1994 e 2012, ja pagamos R$ 135 trilhoesea divida nao para de crescer. Assim, tanto FHC, quanto Lula e Dilma, pagaram religiosamente a “divida’. Esta aberracio é resultado de um modelo capita- lista que privilegia 0s banqueiros. Os juros mais altos ddo mundo server para atrair 0 capital internacional, ‘que pega grana barata no Primeiro Mundo e investe aqui na produco e na especulacéo financeira, ‘OBrasil est muito vulnerdvel ao depender deste ivi om 2002 Diva em 1994 capital, A qualquer momento ele pode ir embora, provocando a quebra do Brasil Ja tivemos, em junho de 2013, uma saida de R$ 5 bilhes da Bolsa de Valores. Se persistir a fuga de capitais do Brasil, precipitara a crise econémica e trara recessdo. Divi 2012 RESUMO bm 994 aivies ‘oataera de R$0,3 trilhdo J esse ts 2012, severorpasan: R$13,5 trilhdes 4 Meare ast, 3 «alia pou pare FEMA ners) ivi em 2010, R$3,7 Quanto pou trilhdes feipage — RS6,L tithes oe Fonte: IAFI-STW/CCONT/GEINC Banco Central eSIGA BRASIL Senado Federal *-HlboraroILAESE pagou pagou 85,7 trilhoes R$ 1,46 trihdo (i) Observagdes A -Os valores dos pagamentos da divda pilica desde 1995 foram corrgids plo IGP-DL. BO estoque da dividapblica de 1994, 2002 2040 e 2012 inlul ures, amorinagoes e refinanciamento, C- Para ser incluida na dvlda plies total a divida externa foi convertida para Reala taxa de cémbio de 21/08/2013, ou sea. de wn dar equivalente a RS1.99, Fonte do pagatnento da vida nos governos FHC e Lula: SUAFI- STN/CCONTIGEINC. Fonte do Estoque da Divida Pblica em 1994, 2002, 2010 ¢ 2012; Banco Central Nota para a lmprensa~ Plies Fiscal ~Quadvos 35 St, Ministrio da Fazarda,SIAFL Geréncia de Informacbes e Estatsticas ‘a Divida Pica /CODIV e Banco Central Quadro 36 da Tabela em excel dsponivel em ht://wwr.beb gov br ftp/NotaEcon/NI20S204pfp, _lp>, Fonte do pagamento da diva piblca no governo Dilma: Sistema SIGA BRASIL »Senado Federal. O dato se refer ao pagament da divide federal,extera e interna, Elaboragio: LAESE a partir de sstematizaio ds dados por parte da Autor Cidad da Divid. “emotivos da revota popula um balang rte do governodo PT pivipa 13 ~ Capitulo 4 p enndans A Olimpiada da divida Quanto, em média, cada governante | gastou com pagamento: m3 2 tae : oy Begone: 2 da divida federal e241 binges e (externa e interna) Ezgsmlhos Bapsuuhos Mo tase Matihoe es BS ieeratoes Bazemihces Fonte: pacamento da dvs non governs FHC e Lal: SLAF - STNICCONT/GEING Paganento P “sjunio ESabinl 4a divida piblica no governo Dilma Sistema SIGA BRASIL -Senado Federal. Elsboragic-ILAESE. A financeirizacgao da economia brasileira: banqueiros fazem a festa O neoliberalismo produziu uma mudanga na economia brasileira: os ativos totais (todas as riquezas de posse dos banqueiros, suas e de terceiros) tiveram um crescimento espetacular, provocando uma financei rizagao da economia brasileira. O patriménio dos bancos cresceu a uma média anual de 40%, nos mandatos de FHC e de Lula, enquanto o PIB cresceu somente 3,5% ao ano, O hiato entre o crescimento da produgao de riqueza do Brasil e o crescimento da riqueza dos bancos ¢ de mais de 10 vezes. Nota-se que o salto maior se deu sob 0 governo Lula, Justo no meio da crise, onde uma das saidas do go- verno fol incentivar o endividamento da populacao, a riqueza em poder dos bancos ultrapassou a producao de riqueza da sociedad (PIB): Riqueza do Brasil x riqueza nas mAos dos bancos Participacao dos Ativos dos Bancos no PIB nos governos de FHC e de Lula, em. R$ (PIB do Brasil (riqueza produzida durante o ano) 4,385 trilhoes i Ativos do sistema financeiro (riquezas em posses dos bancos, suas e de terceiros) 3,674 irhes 2,689 2,720 2,341 trilhoes trilhdes trilhées 0,598 trithao 1995 2000 2003 2010 Font: PIBIBGE- Ativos dos Bancos- Banco Central (BC) ~eaboracaeILAESt 4 Institut Latin american de Etudes Sciecondnics HLABSE € \ ~ = ~ a es 712biles 3559.3 hoes 197 vino 15164 mahoes DIVviDA puntica, O que é possivel fazer com o dinheiro da divida? Ogoverno esta gastando em um més com pagamento de juros da divida o que gasta em um ano com a Saide. Considerando que temos uma taxa de desemprego de 10,4% no Brasil em fevereiro de 2013, segundo 0 DIESE, e uma forca de trabalho por volta de 100 milhdes de trabalhadores, temos, portanto, cerca de 10 milhdes de desempregados no pais. Com 0 dinheiro que se paga aos banqueiros poderia se empregar todos os desempregados do Brasil pa- ‘gando R$ 5.000,00 por més. Poderia se entregar, também, R$ 5,057,00 or més para cada uma das 13,9 milhdes de familias cadastradas no Bolsa Familia. Ou pagar o salério minimo do DIEESE (R$ 2.329,35 em valores de 2011) para todos os 39 milhdes de trabalhadores brasileiros {que ganham até t salério minimo. vow R6279 miles 545 ral (© governo Dilma continua se apoiando no en- dividamento generalizado da populagao: em 2012, © PIB cresceu 0,9% enquanto 0 crédito a populacao, cresceu 16%! Esta febre de consumo via endividamento gene- ralizado é um sintoma que est se formando uma bolha de crédito que vai desmoronar, como ocorreu nos Estados Unidos em 2008. E impossivel prever quando a crise desembar: cara no Brasil e por qual meio. © problema sequer se resume em saber a data exata. O problema funda- mental é que perdemos a soberania sobre a econo- mia do Brasil e estamos a mercé das decisées estra- tégicas de outros paises ricos, que, com certeza, va0 nos prejudicar. Quanto mais tempo permitirmos que 0 Sistema Financeiro e especuladores parasitem nosso corpo econémico, maior seré a profundidade da crise e maiores as dificuldades para sair dela. BJS alerta para descompasso entre crédito e PIB no Brasil OBanco Central dos bancos centrais do mundo, 0 BIS, em seu relatério anual de 2012, alertou sobre 0 descompasso entre o alto crescimento do crédito ea baixa expansio da economia real: "Isso cria riscos de desequilibrios fnanceiros similares aos vistos nas eco- rnomias avancadas nos anos que precederam a crise”. Endividamento generalizado da populacao: bomba reldgio ja acionada Appesquisa da Confederacao Nacional do Comér: cio de abril de 2013 indica que temos 118 milhdes de brasileiros endividados, senclo que 37 milhées estao com contas atrasadas. Destes, 12 milhées nao podem pagar suas dividas Em 2012, segundo Reinaldo Goncalves, tivemos 8.5 milhoes de pessoas inadimplentes, que deixaram de pagar R$ 338 bilhdes. A isto se soma um valor de R$ 41.2 bilhdes em dividas nao pagas por parte de pessoas juridicas. Ainda sao indices de inadimplén- cia "baixos’, masa bomiba-rel6gio jé foi acionada. © mecanismo de endividamento é usado como ‘uma arma politica pelo governo petista. Através do crédito generalizado (combinado com longo periodo de crescimento econémico) gera uma sensacio de quea vida esta melhorando eas pessoas podem com- prar bens eservicos. Estamos, porém, pagando um alto pedagio aos banqueiros por possuir um dos juros mais altos do mundo. A tio propalada queda dos juros foi timida, restrita aos bancos estatais e jf retomou o cresci- mento, Os grandes bancos privados se burlaram da medida. A redueao de juros ocorreu de abril a outu- bro de 2013, Daf em diante jé se iniciou um ciclo de alta dos juros, desmentindo o governo, que no fala mais no assunto. (©) Banco de Componsagoes internacional (Bank fr International Settlements), com sede em Bal, Suga ‘Or motivo ds reves poplar in talngo ten do govern da PF pivipa 15, q 2 DESIGUALDADE Uma das piores distribuicées de renda do mundo “Para o conjunto da classe trabalhadora comecar a ganhar um pouco mais, é preciso que aqueles que ganharam muito durante os tiltimos 30 anos, deixem de ganhar o que esto ganhando para distribuir em forma de salério.” (Lula, em debate na TV, durante a campanha eletoral de 1989), Distribuicdo Funcional da Renda Participacdo na remuneracio total dos fatores Renda dos trabalhiadores @ Renda dos empresarios 49,2% 49.9% 39,6% 36% 1995 2008 Fonte: IBGE elaboracio de Esteve Kopchlte KavierBstos— PrubleagesdoIPEA texto par dlscussS0 1702 - aio de 2012 6 Apesar de haver uma pequena melhora no rendimento do trabalho, a parte dos trabalhadores na renda nacional vern caindo desde 1970. A peque- na recuperagao que teve durante o governo Lula nao retornou aos indices que tinhamos em 1990. O Brafico ao lado ¢ ilustrativo da distribuicao de renda entre trabalhadores e patrdes durante os governos de FHC e Lula, entre 1995 e 2008, A renda dos trabalhadores arrancou de 49,2% do total da renda nacional no primeiro governo de FHC eteve uma pequena melhora de 0,7% durante 0s gov- ernos petistas, mantendo praticamente inalterado a arte da renda nacional que cabe aos trabalhadores. Por sua vez, a renda dos patrées arrancou de 36% no inicio do governo de FHC e chegou a 2008 em quase 40%, ganhando mais do que ganhavamem 1995, no auge do Plano Real, E preciso salientar que esses 40% da renda na- cional estao indo para um punhado de empresarios {menos de 1% da populacao), enquanto a outra parte estd indo para 99% da populacao (os trabalhadores e pessoas que trabalham por conta prépria). Assim se comprova que os empresirios seguem ganhando muito no pais e esto cada vez mais ricos. Por que entao ha uma diferenca entre estes da- dos da distribuigao de renda com as informagées do governo? O governo trabalha com o indice de “dis- tribuicdo pessoal da renda’, que mede as mudancas no interior da classe trabalhadora, mostrando que hhouve uma melhora na base da pirdmide (de quern ganha até 1 salério minimo) e uma piora nos setores ‘melhor remunerados da classe trabalhadora. Na tiltima década, reduziu-se a distancia de ren- Gimentos entre o trabalhador informal e 0 operario ‘especializado. Mas o fosso que separa os trabalhado- tres dos patrées nao 56 permaneceu como aumentou: nao houve redistribuicao de renda, mas expansio. [natto Lativ-americno de Estudos Sriceconemios LABS) DESIGUALDADE O Brasil, infelizmente, continua pobre e injusto Acartilha do PT, na pagina 6, afirma: *O avango da mobilidade social, fundada na ge- ragdo de empregos formais e nas politicas puiblicas de protecdo social torna a pobreza diminuta com cadente desigualdade na repartioao da renda nacional jamais vista na Histéria nacional.” © governo também informa que retirou 22 mi- Ihdes de brasileiros da extrema pobreza e agora 56 restam 2 milhdes em todo o pais. Nés ndo acreditamos nisto, A pobreza nao aca- bou nem acabard sob o sistema capitalista. Este ufanismo petista se apoia em um artificio estatistico onde pobreza extrema é a familia que recebe até RS, 70 por pessoa ao més e pobre é quem recebe mais de R$70 até R$140 ao més. Este € 0 critério do Banco Mundial: quem tem renda menor que US$ 1,25 por dia é miservel e 0 que ganha até US$ 2,50 por dia pobre. Por isso, para Otaviano Canuto, vice-presidente da Rede de Reducao da Pobreza e Gerenciamento Econdmico do Banco Mundial, “o Bolsa Familia é bastante efi- ciente e tem um custo relativamente baixo (0,5% do PIB nacional)"* Opréprio Programa de Governo do PT em 1989, que trata da questo urbana (pagina 7) diz: “Percentagem de familias cuja renda por pessoa atinge 1/4 e 1/2 de salério minimo e sua distribuicdo elas regi6es metropolitanas. Todas elas esto num nivel de pobreza absoluta..” Esquecendo a visdo que tinha outrora, a linha demarcatéria da pobreza que o PT usa hoje é rebai- xada de propésito para inflar as conquistas do go- verno. A prépria burguesia incentiva este ufan- ismo, pois fortalece sua dominacao, reforcando a visto que o sistema capitalista pode distribuir renda de forma igualitaria Gastos mensais de uma familia com quatro pessoas Em 2013, Fortaleza (CE) ‘Vamos imaginar as contas na vida de uma familia, que esta no limite para sair da “pobreza’, segundo o governo, recebendo R$ 140 por més multiplicado por quatro pessoas. Vamos supor que a familia more em Fortaleza no inicio de 2013, com renda de R$ 560 ao més, abaixo do salario minimo, na época R$ 678. Alimentagio R$774,96 —Satide RS 26415, Habitacdo R$ 231,99 Educacao. «RS 12,12" Vestudrio R$ 40,61 —-Recreacdo R$ 11,01 Transporte $7985 Diversas. RS 111,52 TOTAL: R$ 1.288,21 Portanto, esta familia teria que ter uma renda de dois salarios minimos para poder sobreviver € Aispor de direitos sociais minimos em educacao, satide, moradia, et. PONTE: AlimentagSo: DIEESE 06/02/2013: Demalsitent: POF do IBGE de 200d, cum valores atalino po CA 2013. pr amas male pobres 47 No exemplo que vimos, seria necessario mul- tiplicar a linha de pobreza oficial por dois para ga- rantir uma condi¢ao minima de sobrevivéncia Dizemos minima porque apesar de se dizer que ha uma inflacdo baixa no Brasil, os pregos dos ali- mentos esto subindo. Por exemplo, em Fortaleza, © prego do feijao subiu 32%, a farinha 124%, a ba- nana 53% e tomate 44%, Enquanto isso, o governo diminui os impostos da cesta basica cobrados aos empresarios, que retribuem aumentando os precos. Dizemos minimos porque este critério de R$ 70 Por pessoa para sair da pobreza absoluta ¢ indig- nante: em Fortaleza a passagem de dnibus custa RS 2.20. Se o vivente usar dois énibus (para ir e voltar) gastaria R$ 105,60 por més. Nao daria nem para o transporte. Em todas as capitais monitoradas pelo DIEESE, esse valor nao permite nem comprar 1/4 da cesta asica alimentar para um adulto. Em Séo Paulo ou ‘em muitas outras capitais, o valor de R$ 560,00 ndo cobre sequer 0 pagamento do aluguel de um modes- to apartamento. Distribuicdo da populacao por rendimento domiciliar per capita ‘em latim) é calewiada dividing a KI¥ 5 BCs Ate R$70 Até R$ 127,50 Até R$ 255 Critérios diferentes para a pobreza Quanto€.a vendla per capita da pessoa e coma é lassen RENDAPERCAPTA _HAFORMULA Do.GOVERNO FORMULA ANTERIOR: D AERS 70 | Extremapobresa ——_ Miseravel, D> ateR$.127,50 Pobreca Extreme pobreza Ps AtéRS.255 Frade pobreza Pobreza ‘otal de pessoas na pobreza nos edleulos do governo 30 milhées 2, 9, 0 uns tn id tater 70 mithdes £2, 2, 0, 0. (60 DIEESEwitzou,em determinado momento uma classifiacto por ‘alilosminimos: Us Savio Minimo igervel; De 1 2SlArioe Minimes aia, pobre De 3a Slirios Minimos nédiabaltal De 610 Saliros Minima edo De 1 a 39 Saree Minimes mea ala 20.00 ‘ais Salaries Minimes(altal hetp//pcwikpedaorg/wik Classe socal 18 Para o governo, de acordo com 0 grafico ao lado, és teriamos 6,3% de extrema pobreza e 15,7% de po- breza, portanto, em “vias de acabar", Se utilizarmos o critério que em algum momento utilizou o DIESE, baseado em salarios minimos, te- riamos em 2010, 15,7% de pobreza extrema e 36,8% de pobreza. Os indices dobrariam, confirmando 0 exemplo da familia de Fortaleza. ‘Nao estamos falando nem do critério do salério imo garantir condigées dignas de vida, de acor- do com a Constituicao de 1988, que estabelece que 0 minimo deva ser suficiente para suprir as despesas, de um trabalhador e sua familia com alimentago, moradia, satide, educagao, vestuario, higiene, trans- porte, lazer e Previdéncia Segundo o DIEESE, em marco de 2013, este sa- lario deveria ser de R$ 282492, portanto, quatro vezes 0 salario-minimo de entio, Em ntimeros absolutos, segundo 0 governo, te~ riamos, pelo Censo de 2010, 30 milhdes de pobres, enquanto que, pelo critério anterior do DIEESE, seria 70 milhées, quase a metade no Nordeste. ‘A pobreza nao pode ser um simples dado es- tatistico de quanto se recebe por dia. Ela deve ser entendida como “privacao de capacidades basicas’, portanto, considera o atraso educacional, acesso aos servicos de satide, acesso ao transporte, situagao da moradia; acesso a servicos basicos; acesso a alimen- tagéo eA seguridade social. Porestecritériotivemosem 2011, 62 milhdessem acesso a servicos basicos, 113 milhdes com caréncias, sociais e 58 milhdes com caréncias de rendimentos. Estes nimeros confirmam que a pobreza segue em todo o pais, apesar da propaganda governamental. Institut Latino americine de Etudes Sociecondnien 1LAESE] Trabalhadores pobres e DESIGUALDADE precarizados no Brasil real Segundo Marcio Pochmann, esse segimento so- cial que ganha até 1,5 salario minimo, deve ser con- siderado working poor (trabalhador pobre), A tabela abaixo estima o numero de trabalha- dores pobres em trés categorias fundamentais: tra- balho doméstico, agricultura e auténomos, Este universo trabalhado por Pochmann, ape- nas nestes setores sociais, possui 31,4 milhdes de trabalhadores pobres, sendo 88% de mulheres e 68% de negrose negras. Portanto, no Brasil moderno, pobreza tem géne- roecor. ‘Também se demonstra a precarizacao do empre- g0, pois a maioria nao tem carteira assinada. TRABALHO AGRICULTURA AUTONOMOS DOMESTICO norarvioane 40% rotarvipant 90% ROTATIVIDADE > 23 milhGes 15,6 milhdes 22,9 milhées de trabalhadores (as) de trabalhadores (as) de trabalhadores (as) \ 16 milhdes 13,6 milhées 18 milhées so pobres sio pobres so pobres (recebem até (recebem até (recebem até 15 salario minimo) 15 salério minimo) 15 salario minimo) DESTES DESTES DESTES 14,4 milhoes 4,8 milhdes 8,6 milhdes sao mulheres so mulheres sio mulheres 10,5 milhées 9,7 milhoes 12,6 milhoes sio negros (as) sao negros (as) sio negros (as) Dos 31,4 milhées de trabalhadores pobres destes trés setores 88% so mulheres 68% sao negros (as) Fouts: POCHMANN, Mitco, Nova Classe Midi? © trabalho na bas cl pride vocal brasileira. Boitemp, 2012 Elboraco IL AESE » eapitile 2 Demagogia eleitoral e a “nova classe média” “Boa parte dessa aclamacao se baseia em um artificio estatistico, segundo o qual qualquer pessoa com uma renda de no maximo 7 mil délares por ano — paupérrimo em qualquer lugar ~ é classificada como pertencendo a “classe média’. A tdo incensada nova classe média seria apenas uma classe de “trabalhadores pobres’. (Perry Anderson, no artigo © Brasil de Lula) ‘Segundo Marcelo Neri, em estudo sobre a “Nova Classe Média brasileira’, tivemos "A adigdo de 40 mi- Ihdes de pessoas entre 2003 e 2011 na classe média bra- sileira’, deixando a condigio de pobres para tras. In- tegraria a classe média quem dispuser de renda per capita entre R$ 291 e RS 1.019 mensais, Marcio Pochmann, intelectual petista, faz uma critica a esta visio afirmando que Neri usa um “cri- tério errado de definir classe média pela renda e con- sumo, negando a estrutura de classe do sistema capita’ lista." De acordo com o autor, esta visio de estrutura de classes no Brasil é de interesse do Banco Mundial em difundir os éxitos da globalizagio neoliberal © governo adorou esta nova “teoria’ das clas- ses no Brasil. Agora, segundo 0 governo, o Brasil se tornou um Pais de classe média, classe que contaria com mais de 95 milhdes de pessoas, correspondendo a pouco mais de 50% da populacio, E evidente que, com uma renda tao baixa, o ter- mo classe média é questionavel e tem um forte apelo demagégico, Um valor de R$ 291 per capita somaria $1,164 comorendimento familiar para ingressar na classe mésdia, Esse valor nao paga nemo aluguel ou a prestagdo de um apartamento desta familia, imagine plano de satide, alimento, veiculos, lazer, roupas, etc. ‘A verdadeira classe média (profissionais iberais e setores melhor remunerados da classe trabalhadora) cesté sendo asfixiada, como demonstra a cobranca do Imposto de Renda de Pessoa Fisica: em 1996, quem re- cebia até nove salérios minimos nao pagava imposto de renda. Pela tabela recente, paga IR quem recebe até 25 salarios minimos. Enquanto isso, os empresérios so isentos de pagar IR sobre lucros recebidos” ‘Ao invés de nova classe média, estamos vivendo ‘um processo complexo de ampliacio da classe traba- Ihadora, Uma ampliacio sob o signo da precariedade € do sobretrabalho. Nisso se resumiu 0 projeto de transformacao social do PT. 7 Carttha“10 eas para una tributagio mals just do Sindifsco Nacional ed DIEESE pe, 1011 2018 Dispeivel em hep/wwrw diese og breartiha/2013/0idels, compltapdl 20 Comparativo gastos do governo federal, entre 1995 e 2012 (em % do Orgamento) Previdencia Social + 35% 30% 18% 1995, 2005 2012 Satide, educagao, transporte e outros 47% Amortizagdese gy juros da divida 47% 42% 18: 195 ‘2005: 2012 FONTE: Auris Cidads ounce SP DESIGUALDADE Gastos sociais no Brasil: Mentira tem pernas curtas Em sua cartilha, 0 PT se contrapée ao neoliberalismo e argumenta que inverteu prioridades, apostando no desenvolvimento e nos gastos sociais, Essa afirmacio, também, é falsa Os dez anos de governo petista seguiram o receituario neoliberal, como mostra o grafico ao lado, Cairam os gastos sociais enquanto os gas- tos com divida subiram vertiginosamente. Aqui se comprova que a dé- cada petista foi tao neoliberal quanto os oito anos de FHC. Ao priorizar corte de gastos com educacao e satide para pagar divida com banqueiros, o governo deu com uma mao e tirou com a outra, Esta orientacao neoliberal do governo petista coloca em risco seus réprios propésitos de distribuicdo de renda. O motivo é simples: nao se istribui renda por mefo do mercado. Exceto 0 Bolsa Familia, todas as outras politicas sociais tiveram como matriz o mercado: crédito consignado, modelo de reajuste do salario mi- nimo (atrelado ao PIB); Minha Casa, Minha Vida; incentivo a Agricultura Familiar, PROUNI ¢ PROIFES, Enquanto houver crescimento econémico, estas medidas cumprirdo 1s propésitos do governo. Quando vier a crise, serdo todos cortados, como esta ocorrendo agora na Europa Orcamento Geral da Unido 2012 por Funcao Executado até 31/12/2012 10% —~ cee tax tenes wernt aaa 4% saide rane A, 3% etucacio = trilhao Ix toe \ 26, —/ 22% Bx sont borage Autor Clad da Divi. Fontes ht//wvrwBasenado gov oeb/ebreDoc imidocd-24202%6 {Gases por Fungo hip /ww ea senado gov aw webabreDox htm oct4-1007001 {Gastne com a Divi Mtp/wivwasenade go b/d web/abreDoc emocld-1007782 Transference a Bata o Municipio (Prosrama ‘Operas Especkal~Tvansferenclas Consttuion aise as Decorrentes de Leislago species) [Nota Asdespests om dvd ea transtréncioa estado mnictpos elem dentro da fu (a0 "Encargos Especii Nota 20 rifco no considera or etor pagar de 2012 executados "Nota 3 Otservade o principe da uneiade oramentaria, 203 a Capitulo? A precaria situacao da educacao, da satide, da moradia e dos transportes No grafico da pagina anterior, pode-se apreciar as prioridades do governo Dilma, na for- ma como distribui o orcamento geral da Uniao em 2012. Enquanto destinou 44% do Orca- mento para pagamento de juros e amortizacao da divida publica, investiu apenas 4,2% na Satide, 3;3% na Educacao e 0,7% nos transportes. Por isso, 0s servicos sociais sao tao ruins. A redugao dos gastos sociais do governo leva a piora dos servicos sociais no Brasil: Educacgao Temos no Brasil 14 milhées de analfabetos (EGE, 2009) ¢ 30 milhdes de analfabetos funcion- ais. Na soma total de matriculados, tinhamos em 2009, 41,5 milhées de criancas e jovens entre 0 € 24 anos fora da escola, ou seja, mais da metade dos jovens nao frequenta a escola, negando todas as leis constitucionais que apontou em 1988 para a garan- tia de uma educacao publica, gratuita e universal. Moradia Segundo estatisticas', de cada 10 familias no Brasil, 1 familia nio tem onde morar ott mora em condigées precarias. Sao quase 6 milhées de fami- lias sem-teto no Brasil. Considerando que cada familia esta composta por 4 pessoas em média, isto significa que terios 24 milhées de pessoas sem-teto ou morando em barracos no Brasil Deve-se acrescentar a este déficit a quantidade de familias que pagam aluguel acima da sua capaci- dade financeira:sio quase 2 milhées de familias no Brasil Pelas necessidades da populacao brasileira, a cada ano, deve-se entregar cerca de 2 milhdes de casas € 0 governo sé oferece cerca de 500 mil por ano, via o Programa Minha Casa Minha Vida. Satide Brasil esta dividido em dois p6los: de um lado, abundancia e riqueza, com tratamento personali- zado em hospitais privados, a preco de ouro, e de outro, a pobreza e o desprezo com a populacao tra balhadora que usa o SUS (Sistema Unico de Satide), atendimento precério, longa espera por atendi- mento, falta de leitos, pacientes jogados em enfer- marias improvisadas em corredores, com muitas mortes que poderiam ser evitadas. Isto 6 assim porque o SUS se transformou em um sistema para atender “pobres” que nao podem pagar pela Satide. O sistema foi sucateado para fa- vorecer a satide privada, “complementar” ao SUS e agora jé representa 65% de toda a rede hospitalar do Brasil Init Latino ameriano de Estudos Sococconémios ULAFSE) Transportes No Brasil se realizam 150 milhdes de via- gens por dia, Desse total, 59% sio motoriza- das e somente 3% so de metré e trem. © sur- preendente ¢ que 38% das viagens sao feitas a pé, pelo preco alto das passagens, Elas sobem muito acima da inflacao. Um morador da cidade de Sao Paulo levou, em 2012, 2 horas e 23 minutes por dia para se deslocar ao trabalho. A matriz rodoviaria é responsdvel por 42 mil mortes a0 ano no Bra- sil, vitimas de acidente de transito, segundo a ANTT. 0 Brasil j6 possul uma frota de 30 mi- Ihdes de veiculos, um veiculo para cada seis habitantes do Brasil, em ntimeros de 2010 A proposta do governo Dilma para o setor de transporte é a mesma dos tucanos: privati- zagao através de PPPs (Parcerias Publico-Priva- das), expresso na privatizacio do metré de BH, na privatizagao dos aeroportos e na estaduali- zagao da CBTU (abusando da terceirizacao). ‘A critica situacao dos transportes, com os aumentos abusives das tarifas, motivou as grandes mobilizagées da juventude no inicio de junho de 2013, que modificaram o panorama politico do Brasil, abrindo uma crise no gover- no Dilma ecolocando os patrées na defensiva DESIGUALDADE Lula criticava assistencialismo de Fernando Henrique Como concluséo, podemos dizer que o PT esta oferecendo pequenas melhoras para os ex- tratos mais pobres do povo brasileiro, através da assisténcia social, porém, retirando ver- bas dos gastos sociais. Esta se demonstrando ‘que o Programa Bolsa Familia rende mais vo- tos que um sistema eficaz de Satide, Educagéo e Transporte puiblico e gratuito. Hoje o PT é defensor férreo da orientacao de privilegiar estes programas, mas houve um tempo em que 0 PT criticava 0 excessivo peso do assis tencialismo, quando era usado por FHC. “Lamentavelmente, no Brasil, voto nfo é ideolégico. Lamen- tavelmente as pessoas nao votam partidariamente. E lamentavelmente ‘vocé tem uma parte da sociedade que pelo alto grau de empobrecimento, ela 6 conduzida a pensar pelo estémago e nfo pela cabeca. E por isso que se distribui tanta cesta basica, é por isso que se distribui tanto tiquete de leite, porque isso na verdade é peca de troca em época de eleic&io e assim vocé absolutiza o processo eleitoral, vocé trata o povo mais pobre da mesma forma que Cabral tratou os indios ‘quando chegou no Brasil, entregando bijuterias e espelhos para ganhar os. indios, eles distribuem de novo, vocé tem como légica manter a politica de dominagao.” LULA em 2000, em programa de TV do PT 3 TRABALHO. rs “Pleno emprego’” ou pleno subemprego? As estatisticas ufanistas do governo federal falam em “pleno emprego”. Para isso, nao levam em conta milhGes de trabalhadores precarios, além do desemprego oculto. ‘Um dos grandes méritos do governo, segundo o PT, foi a geragdo de 18,5 milhdes de postos de trabalho du- rante dez anos contra apenas 5 milhdes de empregos gerados nos dots mandatos de FHC. O governo fala em. “pleno emprego” eo IBGE, mais cauteloso, fala em “quase pleno emprego” De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego em fevereiro de 2013 era de 5,6%, uma das mais baixas da historia, Porém, os indices de desemprego do IBGE sio incompletos, pois néo capturam o subemprego, odesalen- toe chega ao ponto de colocar a pessoa que realizou um trabalho de 1 hora/més como “ocupado’ elo DIEESE, que inclui o desemprego oculto na sua metodologia, 0 indice de desemprego nas 7 regides metropolitanas em fevereiro de 2013 foi de 10,4%, quase o dobro do indice do IBGE. Considerando quea situa- ‘edo € pior nos municfpios do interior, de uma populagio economicamente ativa de 100 milhées de pessoas (IBGE 2012), temos 10,4 milhées de desempregados no Brasil. Eum indice superior a0 dos Estados Unidos e ade boa parte dos pafses europeus, que estdo em crise econémi- ‘ca, Em algumas cidades brasileiras, como Salvador, por exemplo, as mulheres negras tém indice de 19% de de- ‘semprego, préximo ao da Espanha, que vive uma das maiores crises da sua historia, Taxa de desemprego por cor e sexo (2011, em %) MBNecr0(a)_ ME Naonegro a) ‘BELO HORIZONTE Dr 156, 106 Mag 89 a4 en | ae i ti l lii Mather Homan Maher Here — Mulher Homem OB FORTALEZA PORTO ALEGRE ginwanon —shorauto % 146 BB aa Mather Honen Fonte DIEESE A pesquisa do IBGE nao captura as pessoas que ndo procuram mais emprego, portanto nao reflete a realidade do desemprego e subemprego. Por exem- plo, segundo um estudo da UFRJ, coordenado pelo professor Adalberto Cardoso, temos 5,3 milhdes de jovensentre 18 e 25 anos que fazem partedageragio “Nem-Nem’, nem trabalham, nem estudam, nem procuram emprego. Sao principalmente mulheres (3.5 milhdes frente a 18 milhdes de homens}, jovens, negras, mies solteiras que nao tém com quem def- ar 0s filhos ou cuidam da casa ou ambas as coisas, 2A A geracio “nem-nem' é pobre e representa 46% do setor de extrema pobreza no Brasil. As estatisticas ufanistas do governo Dilma de “pleno emprego” nao levam em conta estas pessoas. No maximo, aparecem como niimeros para receber obeneficio da Bolsa Familia. Se esses 5,3 milhées de jovens fossem incorporados nos indices de desem- prego, nés teriamos um desemprego de 10 a 15% da mao-de-obra, indice altissimo, ainda considerando que o carregamos antes da crise chegar ao Brasil. Mas isto nem é 0 pior. Inst Latio-amerleano de stud Socioeconémics ILAESE] TRABALHO Crescimento vertiginoso do emprego precario ‘O que o governo federal esconde a sete chaves é que a maforia destes 18,5 milhées de postos de tra- alho novos, gerados no decénio petista, sio em: pregos precarizados, que substitufram empregos de melhor qualidade e maior remuneracao. Entre 2000 e 2010, foram criados 20 milhées de postos de trabalho formais com salarios de até 1.5, salario minimo e, no mesmo periodo, foram perdi- dos mais de 4 milhdes de empregos que recebiam. acima de 5 salérios minimos. Segundo Marcio Pochmann’, a maioria dos pos- tos de trabalho gerados concentraram-se na base da pirémide social, uma vez que 95% das vagas abertas tinham remuneracao mensal de até 1,5 salario mi- nimo, Isto significou um saldo liquido de 2 milhées de ocupacées abertas ao ano, ern média para os tra- balhadores de baixa remuneracao. Perdeu-se cerca de 400 mil postos de trabalho com rendimento aci- ma de 3 salarios ménimos por ano durante governo petista, como se observa no grafico abaixo: Evolucao do saldo das ocupacées segundo faixa de remunera¢ao | Senremunergto a pored EvpREsOS cor [a souemmwass 62448 12sse4 | 90sama tO : | | esas , Aes eo 5892.06, asian | -ansis —s99a0aa a | | a , peisaaee | 5.497.983 4084393 = «A0L697 6122158 i | | | | B DesassM | —g400:303 3997057 ag2azt | 310676 il = Mi rasscsn4 | 2855786 some = sasat =| 4.279340 [iuz--= | ease | mmus | owe | aoase Fonte:1BGE,Censo Demogrfico PNAD, 9 bona Clase Mita? O trabalho na base da pdm soil basta, Boltempo, 2012 "Os motives da revta popular: um balingoetico do govero do PT 2 Capitolos Durante a década de 1970 e 1980, cresceram os ‘empregos de todas as faixas de renda, inclusive os mais altos, acima de trés saldrios minimos. De 1970 até 0 ano 2000, havia a trajetéria de reducao de em- pregos com remuneracao de até 1,5 salarios mini- ‘mos, que passou de 77% para 49% de todos os postos em 2000, Durante a primeira década de 2000 (auge de crescimento mundial], a parcela de ocupados com até 1,5 salario minimo voltou a crescer, che- gando a 59% do total Dos 21 milhdes de novos empregos geradosentre 2000 e 2010 (a maior parte sob os dois mandatos de Lula), 20 milhdes se deram no esquema de precari- za¢do neoliberal. Neste Aclassetrabalhadora aspecto, também se ganhouem niimero —_aplicou a linha neolibe- eperdeu em renda, __limpostapeloimperi- seguranca, empregoe alismo, que rebaixou 0 idade de vida. salario mundial a partir qualidade de vic da restauraglo caplta- lista da URSS, Leste Eu- ropeu e da China e seu consequente controle pelas multinacionais. Desse ponto de vista, ao contrérioda propaganda oficial, aumentou o tamanho da classe trabalhadora (especialmente dos setores que ganham menos) di- minui 0 peso de trabalhadores de “classe média’, que ganhavam mais de 5 salarios minimos mensais. A classe trabalhadora ganhou em nimero © perdeu em renda, seguranga, emprego e qualidade de vida. Porém, é este crescimento avassalador de empregos precarizados que da a sensacéo de dis- sribuigdo de renda a favor dos pobres. No caso dos trabalhadores com remuneracao de até 1,5 salario minimo mensal, registra-se que as, profissGes que tiveram maior expansdo na década de 2000 foram as de servicos (1,6 milho de novos pos- tosde trabalho, 31% da ocupagio total). Na sequéncia, vieram os trabalhadores do comércio (2,1 milhées), da construcao civil (2 milhdes), de escriturarios (1.6 milhdo), da indiistria téxtil ede vestudrio (1,3 milhao) edo atendimento puiblico (1,3 milhao}. Estas seis profissOes foram responsaveis por 14 milhdes de empregos ou 72% de todos os empregos de até 1,5 salarios minimos. Também, 60% destes postos de trabalho foram. cocupados por mulheres, que ganham menos que os homens, ¢ 80% das vagas ocupadas por trabalha- dores nao brancos, mostrando que a precarizagio do emprego tem género e raca. Ha também desigualdade de rendimentos entre homens e mulheres, jd que elas recebem menos que os homens (em média, 73,3% do rendimento deles) Os trabalhadores de cor negra ganhavam 60% do que ganhava um trabalhador da cor branca.” Segundo Pochmann'#, com base em dados do IBGE, que contempla o intervalo entre 1995 e 2005, "33,8% dos postos de trabalho gerados pelo setor pri vado formal foram de responsabilidade da terceiri- zacéo no Brasil’ Apprecarizagio dos novos postos de trabalho ¢ re- sultadoda aplica¢ao do neoliberalismo no Brasil, com FHC, Lula e Dilma. Informalidade e terceirizagao, so- mados & rotatividade da mao-de-obra, foram as cha- gas que derrubaram 0 salario e as condicées de tra- balho. TRABALHO Evolucdo da composi¢ao das ocupagées para trabalhadores de salario base (em %) cosaos ra Boman 20 wo2 pesann oa ws omy | 8 no — «| onte:IBGE, PNAD 2008, EaboragSoILAESE Pode-se perceber pelo grafico acima que houve uma pequena expansio do trabalho formal sob 0 governo Lula, ainda mantendo-se a maior parte dos ocupados na base da piramide so- ma | a89 wo ams “4 | 12 “Como ponto de partida, o Governo Lula-Bisol nao serd conivente com o desrespeito generalizado a lei, que ‘comega pelo fato de apenas 40% dos assalariados pos- suirem carteira de trabalho assinada” cial excluida da protecao socialetraba- 40,8 milhdes Em 2010, nos dados do Censo do Ihista, a0 somar os trabalhadores sem de trabalha- _—IEGE. ainda tinhamos 40,8 milhées de carteira e os trabalhadores por conta trabalhadores na informalidade, signifi propria. doresestavam —cando 4794 dos trabalhadores ocupados ‘Temos, portanto, mais da metade a informali- Essa é uma forma eficaz de pre- dos ocupados no Brasil, sem direitosso- dadeem2010 carizar as relacdes de trabalho, pois a Ciais como aposentadoria,férias, 19° sa- lario, FGTS, seguro-deseraprego, etc. OPT hoje comemora estes mimeros, quando no Programa de Governo da campanha de 1989, para presidente, na pagina 4, dizia o seguinte: 10- Amor dor soda PNAD IBGE 2011 11 Nova Clase Média? 201.109, Balternpo, 12- Disponve em http://www pabramocorgbrhuplondssocedade pt “Os motivo da reveta polar: um bane erin do gverno do PT renda média de um trabalhador com carteira assinada em 2010 foi de R$ 41.255,00, enquanto a média dos trabalhadores sem carteira assinada foi de R$ 658,00, quase a metade do salrio do trabalhador formal. 2 capitulo 3 Alta rotatividade: arma do patrao para diminuir o salario e dificultar a luta Em 2009, de cada trés trabalhadores, dois foram demitidos antes de completar um ano No mesmo programa do PT de 1989, na parte sobre a questdo urbana, consta 0 seguinte: "Todos sabem que a rotati- vidade da mao-de-obra é um dos mecanismos usados para man- ter baixos os salérios dos trabalhadores': Nem por isso, a rotatividade diminuiu no pais sobodecénio petista. Estudo do DIEESE® indica que sao demitidos dois tercos dos trabalhadores antes de completar um ano de trabalho, ‘em dados de 2009, Os desligamentos sao sem justa causa, pela vontade do empregador, que revela a flexibilizacao do traba- Iho durante o decénio petista. O salario do novo admitido re- presentava 89% do que era 0 salario anterior. Taxa de rotatividade no mercado formal brasileiro TAXA TOTAL: POR SETOR DE ATIVIDADE ECONOMICA: 2007 2008 2009 37,5% Extrativa Mineral 19,3% (22% 20% 34,3% SO" 36% industria de transformacéo 345% 38,656 368% Servicos industria de utilidade publica 13,3% 144% 17.2% Construgéo civil 83.4% 92.25% 862% Comércio 403% 425% 41.6% Servigos 376% 398% 377% Administragao publica direta 84% 11.4% 10,6% 2007-2008 =—-2009 Agricultura, silvicultura, extrativismo 799% 786% 744% ‘onte RAIS MTE.Escuidasransferénclsaposentadoragflecimentos desigamnentos voluntirios. laborer: DIEESE Pbliaci: Min. do Trae Emprego> Essa flexibilizagio das condigées de trabalho € Por fim, na década de 2000, podemos observar a caracteristica fundamental do neoliberalismo a forma principal de extrair mais-valia dos traba- Thadores nos tiltimos 20 anos, além da introducao de novas maquinas no proceso produtivo. (© governo petista permitin que os empresarios implantassem a flexibilizagio da mao-de-obra, tanto nas condi¢ées de trabalho quanto na remuneracao. (Os anos 1990 foram de barbarie no mercado de trabalho, com estagnagao dos empregos, excetoa cria- ‘cdo de quase seis milhes de "postos de trabalho" sem. remuneragio, fruto de desindustrializacéo, privati- zac6es e desregulamentagio do mercado de trabalho. um aumento vigoroso do nivel de emprego, com sal- do total de 21 milhdes de postos de trabalho. No en- tanto, a maior parte foi de baixa remunerag3o. ‘Ao mesmo tempo, ficaram estagnados ou -e isso original na nossa histéria - foram destruidos os em- pregos com faixas salariais mais elevadas. No total das regides metropolitanas, o salario médio teve aumento real de apenas 7% entre 2002e 2010, segundo o IBGE. Com isso, a estagnacao do salario médio per- mitiu ao capital mobilizar mais trabalho com o mes- mo custo, portanto, aumentando seu lucro. 19 DIEESE, Movimentagho Contratual ne Mercade de Taba Formal eRottvidade No Bras, 2010. 28 Instituto Latinoamericana de Estos Saicondmnica LAE v2 RENDA O governo petista garante um salario minimo digno? Selériominime "ess, “sem que alguém percando é posstvel alguém ganhar em politica salarial. Os banquetros, peo DiEESE, latifundidrios, especuladores terao que parar de especular, terdo que investir na producao e ne2207, 53 terdo que diminuir suas gordas contas bancdi se quiser distribuir renda neste pais” LULA, em debate na TV, durante a campanha de 1989 ias e pagar melhores saldrios aos trabalhadores ‘A partir da viséo acima, o programa de governo do PT em 1989 propunha: “dobrar o valor real do salério minimo, de forma gradativa, ao longo do primeiro ano de governo. (...) Até 0 fim do governo, ‘queremos atingir o nivel de salério minimo proposto pelo Dieese” A tabela abaixo, do DIEESE, mostra que Lula, no primeiro ano de mandato, néo dobrou o salério minimo. O erescimento real foi de 1,4%, Nem em oito anos de governo, Lula dobrou o salério minimo e muito menos chegou perto de pagar o salario do DIEESE. Em 2010, osalario minimo era R$ 510,00€ osalario minimo do DIEESE era R$ 2.227,53, Representava apenas 22,9% do salério do DIESE. Salario Minimo Real - Brasil 1940-2010 (médias anuais) Houve recuperacio do salério minimo du- ante o governo Lula, Porém, recuperou 20s niveis da década de 1980. representa 36 48% do que era em, julho de 1940, quando foicriado por Getilio Vargas | SeEgigigs Fonte DIEESE. Valores matgo de 201, relerentes capital pauls} 19400 aire md corrsponde ao segundo semetre ray 3 asagia ‘Os meta tseveta pola lang evte do govern do 29

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