Faculdade de Direito Acadêmica: Ândria Cristine Pereira dos Santos.
Título provisório da pesquisa:
A linha tênue entre o estrito cumprimento do dever legal e abuso de autoridade. Tema: Direito Penal, direito constitucional, direito administrativo e direito civil. Problema: Como limitar o estrito cumprimento do dever legal (artigo 23, inciso III do Código Penal) e o abuso de autoridade. A legislação vigente tem sido capaz de distingui-los e punir o excesso de forma satisfatória? Hipótese: O projeto de lei de autoria do senador Randolfe Rodrigues que dispõe sobre os crimes de abuso de autoridade atualiza as legislações antecessoras ao passo que expõe taxativamente os atos a serem punidos além de atribui-los sanções mais duras. Objetivos: a) Esclarecer as diferenças entre o estrito cumprimento do dever legal e o abuso de poder; b) Analisar e comparar os dispositivos contidos na Lei nº 4.898/95, os agravantes de pena no artigo 61, alíneas “f” e “g”, do Código Penal, e o projeto de lei 7.596 (projeto de lei Luiz Carlos Cancellier de Olivo); c) Averiguar a dificuldade de produção de provas, tendo em vista palavra da vítima contra a palavra da autoridade que detém fé pública, especialmente nos casos que envolvem autoridade policial; d) Analisar os mandados de condução coercitiva e exposição de investigações/processos à mídia; e) Explorar a dificuldade de julgar casos relacionados ao abuso de autoridade; f) investigar a responsabilização penal com a possibilidade de aplicação dos benefícios penais, inclusive os descritos na lei 9.099/95; g) analisar a responsabilização cível; h) Considerar a importância das corregedorias e das sanções administrativas; i) Analisar alguns casos de abuso de autoridade julgados em Santa Catarina. Justificativa: Por todo tempo velava-se o abuso de autoridade dentro das comunidades carentes do país, dizia-se que para capturar um criminoso “valia de tudo”, nesse Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciências Júridicas Faculdade de Direito Acadêmica: Ândria Cristine Pereira dos Santos. “vale tudo” caracterizado como um “Estado de exceção” em que antes mesmo de dizer seu nome a pessoa já estava condenada, sendo que o limite territorial para as arbitrariedades era onde iniciava-se o “asfalto”. Nunca foi raro, nem ao menos poucas, as reclamações de abuso de autoridade que sofriam os moradores de favelas, entretanto, muitos casos não eram denunciados por terem receio de perseguições que já sofriam, isto ainda sem denúncias. Os poucos casos denunciados não eram levados adiante em virtudes de os autores do fato serem agentes públicos que detém fé pública, e estariam em tese, no estrito cumprimento do seu dever legal. Os chamados crimes de “colarinho branco” no qual figuram em sua maioria políticos e administradores de grandes empresas deram foco para a atuação dos poderes ligados diretamente ao governo estadual e federal. Diferentemente do que sempre se viu, os rostos que passavam na grande mídia não eram de pobres e favelados. Para os pobres, o rosto estampado nos jornais e televisão, para os poderosos o direito de permanecerem em silêncio e não serem filmados além do cuidado com cada palavra dita em relação a estes. Todavia, nos últimos tempos o cenário mudou, as operações contra a corrupção cresciam, em contramão, cresciam também as denúncias de perseguição política e abuso de autoridade, principalmente com a recorrente exposição tanto do processo como do agente governamental, e que por tal razão punha em cheque a imparcialidade dos poderes. Mandados de condução coercitiva, prisões temporárias e preventivas tornaram-se comuns, e de certa forma banais tendo em vista que agora o discurso é que “para pegar um corrupto, vale de tudo”, este é o discurso atualmente usado por muitas autoridades que valem-se de suas atribuições governamentais para satisfazer interesses pessoais, além disso a nova regra é que “tem mais poder e trabalha mais aquele que mais aparece nas grandes mídias”. O fator responsabilização do agente que comete abuso de autoridade que por muitos anos e até hoje nunca se viu dentro de comunidades mais pobres começa a ser ganhar mais ênfase. A discussão sobre a linha tênue entre o estrito cumprimento do dever legal e a sua dificuldade de limitação ganhou força, mas, fato é que a legislação vigente está desatualizada ao passo que não tipifica algumas condutas recorrentes, dificultando assim a produção de provas e o julgamento dos crimes envolvendo abuso de autoridade. Recentemente, no estado de Santa Catarina houve a operação “ouvidos moucos” da polícia federal, operação esta que investigava o desvio de recursos destinados aos cursos de ensino à distância da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em fase investigatória, foram determinadas as conduções coercitivas de alguns servidores da universidade, incluindo o reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo que foi solto no dia seguinte e que por ordem judicial continuava afastado do seu cargo e da universidade. Segundo o reitor, a sua prisão teve caráter humilhante. A prisão temporária de Cancellier e investigação da polícia federal tiveram repercussão nacional. Em 02/10/2017 o reitor cometeu Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciências Júridicas Faculdade de Direito Acadêmica: Ândria Cristine Pereira dos Santos. suicídio, deixando um bilhete no seu bolso em que dizia que sua morte havia sido decretada no dia de sua prisão, fato este que gerou grande comoção dentro da comunidade universitária. Alias, na opinião de muitas pessoas, em sua maioria operadores do direito, a prisão preventiva do ex-reitor da universidade foi desnecessária com traços certos de abuso de autoridade já que não se tinha notícias de que o reitor ou seus demais colegas estivessem atrapalhando as investigações. Não se questiona a necessidade de investigações ou prisões para os crimes “a” ou “b” desde que estas estejam amparadas legalmente respeitando princípios basilares do direito brasileiro como o de defesa e de ser considerado inocente até o transito em julgado da sentença condenatória, seja no asfalto ou na favela. A dificuldade de limitação do estrito cumprimento do dever legal sendo este excludente de antijuridicidade está diretamente ligado ao recorrente abuso de autoridade tendo em vista que abre brechas para o cometimento do delito. O projeto de lei nº 7.596/17 (projeto de lei Luiz Carlos Cancellier de Olivo) de autoria do senador Randolfe Rodrigues que está em tramitação no senado altera as legislações vigentes e inclui providências mais severas a serem tomadas. O país encontra-se no momento ideal para esclarecer e limitar a excludente ilicitude e o ilícito penal, e assim evitar que mais desastres aconteçam e que seja aplicada a lei da forma correta, uma lei que seja também eficiente e que satisfaça o desejo de justiça da população.
Levantamento bibliográfico inicial
BRASIL. Lei n. 4.898, de 9 de dezembro de 1965 Projeto de Lei do Senado, nº 85, de 2017, de autoria do Senador Randolfe Rodrigues. GRECO, Rogério, Curso d Direito Penal: parte especial, volume III, Rio de Janeiro: Impetus, 2008.