Você está na página 1de 4

TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/NCF PROCESSO Nº 29.287/14


ACÓRDÃO

L/M “BRITA DO MAR”. Colisão do hélice contra laje submersa. Erro de manobra
e de navegação. Condenação.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.


Tratam os autos da colisão entre uma lancha e uma laje de pedra submersa, ocorrida
no dia 13 de março de 2014, nas proximidades da saída do canal de Marapendí, na Barra da
Tijuca, litoral da cidade do Rio de Janeiro, RJ, que provocou danos materiais na embarcação.
A embarcação envolvida no acidente foi a L/M “BRITA DO MAR”, com 7,7m de
comprimento, 2,6m de boca e 0,1 AB, classificada para esporte e recreio em área de navegação
interior, construída em fibra de vidro, inscrita no Rio de Janeiro sob a propriedade de Serafim
Joaquim dos Santos Filho. Foram apresentados todos os documentos de praxe da embarcação,
todos em vigor na data do acidente.
Segundo se apurou encontravam-se a bordo em faina de pesca amadora um
tripulante e dois pescadores e ao contornarem a baixa velocidade a laje conhecida como ilha
Pargueira foram atingidos por uma onda, que levantou a proa e fez com que o hélice e a rabeta
colidissem com uma laje submersa, causando avarias no sistema de propulsão. Com o auxílio de
remos e das varas de pesca a embarcação foi empurrada para longe da laje ficando à deriva em
direção a oeste. Foram rapidamente socorridos por uma embarcação que navegava pelas
proximidades e rebocados para a marina Djalma na Barra da Tijuca para reparos, onde a lancha
foi periciada pela Capitania dos Portos.
Os peritos da Capitania descreveram a lancha como em bom estado de conservação,
com o material de salvatagem comunicação e navegação dentro do preconizado nas normas e
documentação em dia. Como danos apuraram a perda de parte da rabeta, do hélice e do trem de
engrenagens. Afirmaram que o tempo estava bom, não tendo relação com o acidente, que a
capacidade da lancha seria para dez passageiros e no momento do acidente estava com dois
passageiros e um tripulante habilitado e afirmaram que a causa do acidente teria sido a
imprudência na condução da lancha, pois o condutor não teria observado a Regra 5 do RIPEAM.
O encarregado do IAFN ouviu duas pessoas que estavam a bordo, o condutor, ARA
Maurício Silva da Costa e o ARA Fernando Rodrigues de Abreu Filho, que descreveram os
acontecimentos como acima narrado, tendo ambos acrescentado que o acidente foi uma
fatalidade, pois têm experiência na navegação naquele local, a água estava clara, permitindo a
visualização das pedras no fundo, tendo sido uma onda inesperada que fez com que o hélice
colidisse com a laje quando contornaram a ilha Pargueira e aproavam para seguir para a ilha

1/4
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 29.287/2014....................................................)
=====================================================================
Redonda.
Com base nessas provas o encarregado do IAFN destacou que a lancha era dotada
de sonar e GPS e mesmo assim não foi possível evitar a colisão, afirmando que a causa
determinante do acidente da navegação teria sido a imprudência e a falha de vigilância na
condução da embarcação, apontando como possível responsável o ARA Maurício Silva da Costa
por realizar a aproximação das pedras sem observar as peculiaridades da ilha e sem levar em
consideração as consequências previsíveis das condições adversas das ondas, considerando sua
atitude como imprudente.
O Sr. Maurício Silva da Costa foi notificado do resultado do IAFN e apresentou
defesa prévia, afirmando em resumo que não agiu com imprudência e nem falhou na vigilância,
informando ainda que o mar estava calmo, sem ondas em sequência, tendo a colisão ocorrido por
uma fatalidade.
Os autos foram remetidos ao Tribunal Marítimo que os encaminhou à PEM, que
ofereceu Representação em face de Maurício Silva da Costa, na qualidade de condutor da lancha
a motor “BRITA DO MAR”, com fulcro no artigo 14, alínea “a”, da Lei nº 2.180/54.
Depois de resumir os principais fatos narrados no inquérito, a PEM concluiu que o
representado deve ser responsabilizado por sua conduta imprudente, eis que realizou a
aproximação sem observar as peculiaridades da ilha Pargueira e sem levar em consideração as
consequências previsíveis em função das condições adversas das ondas. Disse que ele teria sido
negligente ao deixar de observar a regra 5, do RIPEAM, pois faltou com o dever de atenção e
vigilância na condução da lancha sinistrada. Pediu sua condenação nas penas da Lei e ao
pagamento das custas processuais.
A representação foi analisada na Sessão Ordinária do dia 28 de julho de 2015 e o
Tribunal Marítimo reunido resolveu acatar a recomendação do Juiz Revisor no sentido de que os
autos fossem devolvidos à Douta PEM para que essa emendasse a inicial, uma vez que o
acidente foi uma colisão e a fundamentação legal utilizada seria o RIPEAM, regras que tratam de
Abalroamentos.
A PEM, assim, reapresentou a inicial fundamentando seu pedido na afirmação de
que o representado teria sido negligente e imprudente ao faltar com o dever de atenção e
vigilância na condução da lancha, incorrendo em erro de navegação por se aproximar da ilha sem
observar suas particularidades e as consequências previsíveis das ondas. Pediu sua condenação
nas penas da Lei e ao pagamento das custas processuais.
A nova peça foi recebida pelo Tribunal Marítimo na Sessão Ordinária do dia 10 de
outubro de 2015, o representado foi citado pela via postal e apresentou contestação escrita e
tempestiva, firmada por advogado devidamente constituído.
A contestação afirma que o representado é navegador e pescador amador experiente

2/4
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 29.287/2014....................................................)
=====================================================================
e a modalidade de pesca de “rapala” obriga a navegar com a lancha a uma distância de
aproximadamente 15m de distância da ilha para que a isca atraia os peixes ali escondidos, o que
demonstraria ser impossível que o acidente fosse resultado da imprudência do condutor em
navegar muito próximo da ilha. Destacou que ao contornarem a ilha e aproarem para a ilha
Redonda uma onda os teria atingido pela proa, fazendo com que a popa se chocasse com o
fundo, o que seria uma fatalidade sem relação qualquer com atos de imprudência ou de
negligência na vigilância. Ressaltou que estava atento à navegação, com todos seus sentidos
alertas, seguindo a orientação dos equipamentos de navegação, sendo a colisão inesperada e
impossível de evitar, uma vez que o estado do mar era calmo e a onda surgiu de repente. Pediu
para ser exculpado.
Aberta a instrução a PEM afirmou que não faria novas provas e o representado
pediu para ouvir uma testemunha, mas no dia marcado para a audiência não compareceram o
representado, sua advogada, nem a testemunha, encerrando-se a fase de instrução.
Em alegações finais a PEM reportou-se à inicial e o representado nada disse.
É o relatório.
Decide-se:
A PEM acusou o representado de ter sido negligente e imprudente ao faltar com o
dever de atenção e vigilância na condução da lancha, incorrendo em erro de navegação por se
aproximar da ilha sem observar suas particularidades e as consequências previsíveis das ondas.
Em sua defesa o representado afirmou que o mar estava calmo e uma onda
inesperada os atingiu pela proa, fazendo com que a popa atingisse uma laje submersa.
A tese da defesa não pode ser acatada e a representação deve ser julgada
procedente.
A pesca de “rapala” obriga uma navegação muito próxima das pedras e, conforme
de depreende da narrativa do acidente por parte das duas pessoas ouvidas durante o inquérito,
sendo uma delas o próprio representado, quando aproaram para seguir para a ilha Redonda uma
onda forçou a proa para o alto, fazendo com que o hélice e a rabeta atingissem uma laje
submersa. Fica evidente por esse relato que o representado aproou sua lancha para a ilha redonda
enquanto ainda passava sobre a laje da ilha Pargueira, pois se estivesse alguns metros mais
aberto antes de guinar, poderia até se chocar contra a onda pela proa, mas não atingiria a laje
submersa e não causaria, assim, o acidente. Foi um pequeno erro de cálculo quanto ao
posicionamento da lancha que provocou o acidente e não o choque com a onda, que não pode,
jamais, ser considerada inesperada. Nada é mais esperado no mar do que o vento e as ondas.
Desse modo, o acidente da navegação que se caracterizou pela colisão entre a popa
de uma lancha contra uma laje de pedras submersa, causando danos materiais na lancha, teve por
causa determinante um erro de navegação e de manobra por parte do condutor da lancha.

3/4
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 29.287/2014....................................................)
=====================================================================
Deve, assim, ser a representação julgada procedente, para responsabilizar o
representado pelo acidente da navegação.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza
e extensão do acidente da navegação: colisão do hélice de uma lancha contra uma laje submersa,
causando danos materiais na lancha; b) quanto à causa determinante: erro de navegação e de
manobra; e c) decisão: julgar o acidente da navegação constante do art. 14, alínea “a” como
decorrente da imperícia do representado, ARA Maurício Silva da Costa, condenando-o à pena de
repreensão e ao pagamento das custas processuais, com fulcro no art. 121, inciso, I, c/c art. 124,
inciso I, todos os artigos da Lei nº 2.180/54.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 14 de novembro de 2017.

NELSON CAVALCANTE E SILVA FILHO


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o Trânsito em julgado.


Rio de Janeiro, RJ, em 20 de fevereiro de 2018.

MARCOS NUNES DE MIRANDA


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Primeiro-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

4/4
COMANDO DA MARINHA
c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
2018.03.14 10:56:14 -03'00'

Você também pode gostar