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Arte Urbana No Brasil Expressoes Da Diversidade Contemporanea PDF
Arte Urbana No Brasil Expressoes Da Diversidade Contemporanea PDF
Resumo: O presente trabalho pretende, de forma mais ampla, refletir sobre a visualidade contemporânea,
sob a expressão da Arte Urbana. Entendemos, portanto, Arte Urbana por aquelas manifestações visuais
realizadas e expostas nas cidades, em vias públicas e de grande circulação.
Dentro desta linguagem visual, podemos destacar algumas principais maneiras de expressão, como o
graffiti, o mais popular entre eles, feito com spray ou tinta. Ainda podemos destacar o estêncil, técnica
que se utiliza de uma mascara na qual é traçado o desenho vazado para a posterior aplicação de tinta. O
Sticher que são adesivos, geralmente em pequenas medidas feitos de material vinílico. E por fim o pôster-
arte, mais conhecido no Brasil como Lambe-Lambe, que são pôsteres em papel, que podem ser impressos
por diversas técnicas, ou mesmo desenhados manualmente.
Estas manifestações populares, que se dão de modo geral, em grandes cidades de todo o mundo, serão
abordadas no artigo de modo historiográfico, para que se possa pensar como estas visualidades implicam
na comunicação contemporânea.
Corpo do texto
! Faz-se necessário, antes de tudo, uma definição do que seja Arte Urbana.
Foram pautadas acima algumas divagações sobre o que seja Arte, no que tange ao seu
estatuto na contemporaneidade. A seguir, um breve percurso sobre o popular. Então, a
partir destes parâmetros, pode-se começar a delimitar e enunciar algumas qualidades
características que definem Arte Urbana.
Assim, Arte Urbana pode ser definida como uma arte contemporânea, de
cunho popular, que é feita em espaços externos da cidade, sobre o mobiliário urbano,
sejam eles paredes, muros, placas e todo tipo de aparato de sinalização. Ela é
transgressora já que, em certo sentido, não respeita os limites do público e do privado
para se fazer expressar.
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Texto publicado na revista Cine Olho nº 5/6 jun/jul/ago 1979
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Contudo as bases para a linguagem da arte urbana não estão somente em seu
viés de transgressão, mas também de uma importante linguagem urbana que se
constituiu no final da década de 60, nas periferias de Nova Iorque: o Hip-Hop. Com a
consolidação dos ativismos sociais ligados a grupos étnicos, principalmente dos negros,
emergem movimentos importantes de contestação e de expressão artística. O mais forte
destes movimentos foi sem dúvida o Hip-Hop.
Ele surge efetivamente a partir da organização não governamental Zulu
Nation, criada pelo ativista e DJ Afrika Bambaata em 1973. Eram organizados “bailes
Black” que se constituíam de expressões de dança (break-dance), de música comandada
por um DJ (disque-joquei) que manipulava dois toca discos, remixando as batidas, por
um MC (mestre de cerimônia) que cantava letras de protestos com ritmo e rimas e a
figura dos grafiteiros que com seus sprays elaboravam a cenografia para este grande
happening metropolitano.
O movimento Hip-Hop teve, e tem ainda hoje, muita relevância para o
desenvolvimento da linguagem da Arte Urbana. Este fato pode ser comprovado por tal
intimidade entre os movimentos, que muitas vezes a Arte Urbana é considerada um
movimento advindo puramente do Hip-Hop. Porém, apesar de ter grande peso esta
influencia, ou um espaço privilegiado para o desenvolvimento de uma estética peculiar
dentro da Arte Urbana, não é só desta raiz que ela é descendente.
Dentro da Arte Urbana, principalmente no que se refere ao graffiti, se
desenvolveu uma linguagem muito própria que tem ligação estrita com o Hip-Hop.
Algumas técnicas são características deste movimento. Já em outras linguagens como as
pixações percebem-se a influencia contundente de outro movimento urbano: o punk-
rock.
À medida que esta linguagem vinha se popularizando nos centros urbanos, a
repressão institucional e policial a ela vinha aumentando na mesma medida. Na década
de 80, a cidade Nova Iorque sofreu uma onda de forte de repressão às práticas do
graffiti.
Nestes anos foram regimentadas leis rígidas contra o graffiti o que amenizou
de certa forma o bombardeio que a cidade e seus trens vinham recebendo. Ao mesmo
tempo os artistas foram elaborando novas técnicas que conseguiam burlar a repressão, aí
nascem os adesivos e os pôsteres-arte, ou lambe-lambes, como são denominados no
Brasil. Estes materiais podem ser transportados discretamente e sua inserção nos muros
é mais rápida.
Ao mesmo tempo em que a linguagem da arte Urbana vai sofrendo
transformações, o mercado da arte também vai se interessando por sua expressividade e
vê aí um valor artístico. Na década de 80 foram criadas galerias em que eram exibidas
produções de linguagem da Arte Urbana. A primeira delas foi a Fun Gallery, e
impulsionou a carreira de artistas que começaram nas artes de ruas e viriam ter uma
carreira promissora nas artes contemporâneas como Jean Basquiat e Keith Haring.
Este movimento de incorporação da linguagem da arte urbana dentro dos
circuitos fechados da arte foi crescendo. As galerias, museus e outros espaços
expositivos dedicam períodos para exposição de tais trabalhos. Portanto, desde a década
de 80 até este início do século XXI percebe-se um movimento de acolhimento destas
linguagens pelos espaços institucionalizados da arte.
Em paralelo a este movimento de institucionalização da Arte Urbana, as
práticas nas ruas das cidades continuaram a existir de maneira mais diversificada e em
pólos mais diversos. As bases estilísticas dos graffitis norte-americanos rapidamente se
espalharam por outras partes do mundo como a Europa e a América Latina adquirindo
assim expressão mundial.
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Técnica que é feita com um molde vazado em que se passa tinta sobre ele, formando assim um desenho
bem delineado. Esta técnica é amplamente usada em arte urbana, seja ela feita diretamente sobre a
parede ou sobre papel que é depois colado.
atmosfera de curiosidade por parte da população e da imprensa.
Com o reconhecimento do trabalho desenvolvido, Alex Vallauri participa de
três Bienais de Arte, assim como de muitas exposições em galerias. Junto a Carlos
Matuck e Waldemar Zaidler, estes três artistas foram os primeiros a serem reconhecidos
como artistas da linguagem do graffiti brasileiro.
Em paralelo a sistemática assimilação da arte urbana pelo sistema da arte
legitimada, sempre houve as expressões mais marginais. O movimento de pichação
sempre esteve presente e permeando as atividades das manifestações de rua. Um caso
emblemático é de Ivan Sudbrek, que assinava e deixava seu número de telefone junto à
inscrição: “Associação Paulista de Graffiti e Pichação”, esta última palavra com grande
destaque.
A imprensa frete à pichação sempre teve uma posição de rechaço a esta
atividade. E em determinado momento isto era uma espécie de triunfo para os ativistas
da pichação. Eles, de certa forma criam um jogo de desafios, em primeiro lugar é a
repetição em grande escala na cidade, depois a caligrafia, que quanto mais “estilizada”
melhor, desafiar lugares de difícil acesso é também grande trunfo e por último aparecer
na mídia.
Já nos anos 80, o coletivo de Arte Urbana TupinãoDá, constituído por Jaime
Prades, Milton Sogabe, José Carratu, Carlos Delfino e Rui Amaral, atuam com
intervenções de grande porte na cidade de São Paulo, que se tornam emblemáticas para
história das artes urbanas no país.
A partir desta década o graffiti e suas expressões adjacentes, com estêncil
arte, pôster arte e adesivos, começam a serem cada vez mais reconhecidos pelo circuito
legitimado da arte. Os artistas mais expoentes desta primeira geração sempre eram
chamados a participar de grandes eventos das artes visuais como Bienais de arte. Assim
como organizaram mostras específicas da linguagem, um caso emblemático foi a
Mostra Paulista de Graffiti, que teve três edições e se realizou a partir de 1990 no MIS.
Em 1988, artistas já reconhecidos pelo público e pela mídia, como Rui
Amaral, John Howard, Maurício Villaça, entre outros, foram presos no centro da cidade
quando graffitavam o túnel da Praça Roosevelt, em comemoração ao aniversário da
cidade. Isto demonstra claramente quanto é contraditório, desde os primórdios, a
atividade da Arte Urbana.
De um lado ela é reconhecida e legitimada pelas instituições sociais. Por
outro, é sempre reprimida, pois ainda e sempre carrega em si o ato transgressor. Assim
se dá a história da arte urbana no Brasil e em outros países. Porém temos aqui um
cenário que em relação a outros lugares é tido como um tanto permissivo, talvez por
esta característica a expressão brasileira desta linguagem urbana tenha se desenvolvido
tanto e alcançado um grande destaque internacional.
Depois dos anos 80 a linguagem do graffiti, e por conseqüência das artes
urbanas no Brasil, se modificou particularmente. Isso se deve a um fenômeno vindo dos
EUA e trazido para o país, primeiramente para São Paulo: o Hip-Hop. Este movimento
cultural explora as linguagens da música, comandada pela figura do DJ, da poesia,
fala/cantada pelo MC, pela dança, executada pelo break-girl ou break-boy e finalmente
pelo visual que é feito pela figura do graffiteiro.
O Hip-Hop tem em si uma linguagem bem singular no que se refere aos
graffitis. São particularmente coloridos, trabalham muito com a escrita estilizada, que
são denominadas de throwm up, também usam muito o 3D como recurso para sofisticar
esta escrita. Dentro da temática de seus desenhos as próprias atividades do movimento
Hip-Hop como a dança e a música (Dj e MC) tem espaço privilegiado.
No Brasil este movimento começa a acontecer com força na cidade de São
Paulo nos anos 80. No centro, mais propriamente na Estação São Bento do Metrô,
jovens da periferia paulistana se reúnem para traçar experiências e fazer sua arte. Lá se
encontram artistas das quatro linguagens que se constitui o hip-hop. Do graffiti estão
presentes artistas que marcariam a arte urbana dái para frente, como OsGêmeos, Speto e
Binho, entre outros.
Assim, a Arte Urbana brasileira, depois da década de 80, se vê fortemente
marcada pela expressão do Hip-Hop. Esta cultura urbana se prolifera fortemente no
Brasil por suas características principalmente de contestação social e por dar vazão a
expressões artísticas para comunidades da periferia. Dá espaço de articulação social e
possibilidade de criação artística, que adquire uma linguagem própria, uma linguagem
brasileira dentro das vertentes do hip-hop.
Hoje o graffiti brasileiro é reconhecido internacionalmente como uma
expressão de particular qualidade. Ele tem características próprias, uma delas é o uso
intensivo de cores, que demonstra esta raiz do hip-hop, que se adéqua perfeitamente a
plasticidade da expressão brasileira.
Fica elucidado, portanto, as três vertentes que constituem a base da Arte
Urbana: a primeira e mais radical e transgressora delas é a pichação. A segunda são os
movimentos de intervenção artística feita nas ruas, com base e influências em
movimentos da arte e a última é a raiz do hip-hop e dos movimentos sociais.
Com este alicerce eclético, a Arte Urbana brasileira pode se desenvolver
plenamente, dentro de suas contradições que são não um empecilho para sua
manifestação, mas antes as bases para a melhor expressão da diversidade
contemporânea.
Referências
BAGNARIOL, P. (org.). Guia Ilustrado de Graffiti e Quadrinhos. Belo Horizonte:
Fapi, 2004.
BAUDRILLARD, Jean. ‘Kool Killer ou insurreição pelos signos’, traduzido por
Fernando Mesquita. Revista Cinema/Cine Olho, n. 5, jul/ago, 1979. .