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IESP FACULDADES

PROF: JOSÉ CARLOS

Ana Luisa Brito da Costa

TED DIREITO EMPRESARIAL II

Desconsideração da Personalidade Jurídica

João Pessoa

2018
1) Defina o que é Desconsideração da Personalidade Jurídica, apontando
qual o objetivo do instituto e comente sobre as duas teorias (subjetiva ou
maior e objetiva ou menor).

A desconsideração da personalidade jurídica ("Disregard theory") é o instrumento


utilizado, no direito civil e do consumidor, para que, em casos de fraude ou abuso da
pesonalidade jurídica, possa o devedor ou consumidor não somente alcançar os bens
da empresa, bem como os bens daqueles que a utilizaram de modo fraudulento.

Diante do reconhecimento de uma personalidade às sociedades e, também, na


hipótese da mesma ser desconsiderada, a doutrina brasileira delimitou duas
"subteorias" acerca da Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica,
chamadas teorias maior e menor da desconsideração da personalidade jurídica, que
se diferenciam pela forma e momento da sua aplicação.

Na Teoria Maior, há a autorização da autonomia patrimonial das pessoas jurídicas


ser ignorada, como forma de coibir fraudes e abusos praticados através delas. Ocorre
que, nesta modalidade, deverão ser atendidos alguns requisitos estabelecidos
legalmente e, por isso, considera-se como uma teoria de maior consistência, que
oferece maior segurança aos sócios. Esta foi a opção adotada pelo Código Civil de
2002, através do artigo 50, pois carece de abuso da personalidade jurídica, desvio de
finalidade ou ainda a confusão patrimonial.

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de


finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e
determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos
administradores ou sócios da pessoa jurídica.

Entretanto, referente à Teoria Menor, existem legislações com situações


específicas, em que não há necessidade de atender nenhum dos requisitos descritos
na Teoria Maior e, por isso, chama-se de teoria menor da desconsideração. A falta de
bens ou direitos na sociedade que sirvam aos credores é o suficiente para atribuir ao
sócio a obrigação da sociedade.

A Teoria menor só será aplicada nas hipóteses vinculadas a nichos sociais que
merecem uma maior atenção do Estado, tais como consumidores, empregados e
meio ambiente, por exemplo.

2) Em qual hipótese ou circunstância se dá a aplicação da teoria Inversa da


DPJ?

Para ser aplicada, a desconsideração inversa da personalidade jurídica


deverá ser caracterizado o desvio de bens, a fraude ou abuso de direito por parte
dos sócios que se utilizam da personalidade jurídica para transferir ou esconder
bens, prejudicando assim os credores, ou ainda, em casos de separação judicial,
onde se verifica o esvaziamento do patrimônio do casal como forma de burlar a
partilha. Assim, o juiz desconsidera a autonomia patrimonial da pessoa jurídica,
alcançando bens que estão em seu próprio nome, para responder por dívidas
que não são suas e sim de um ou mais de seus sócios.

3) Na atual legislação trabalhista, a DPJ tem ou não aplicação? Em caso


positivo, qual das teorias é aplicada: a subjetiva (maior) ou a objetiva
(menor)? Explique.

Antes da reforma trabalhista, a CLT era omissa em relação à desconsideração da


personalidade jurídica, sendo pacificado o entendimento, que se usava por
analogia, o previsto no artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor, que em
síntese dispunha que a mera insuficiência financeira da empresa poderia acarretar
a execução direta dos sócios. Nesse caso, teoria menor.

Ocorre que este tema passou a gerar grande controvérsia no judiciário, posto
que, usar por analogia uma legislação prevista no CDC em relações trabalhistas
era bastante controvertido. Por isso, a reforma trabalhista incluiu o artigo 855-A,
que dispõe:

Aplica-se ao processo do trabalho o incidente de desconsideração da personalidade jurídica


previsto nos arts. 133 a 137 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 - Código de
Processo Civil. [...]

§ 2º A instauração do incidente suspenderá o processo, sem prejuízo de concessão da


tutela de urgência de natureza cautelar de que trata o art. 301 da Lei nº 13.105, de 16 de
março de 2015 Código de Processo Civil.

A nova legislação trabalhista fez referência ao disposto no Código de Processo


Civil de 2015, que trata a desconsideração de personalidade jurídica como um
incidente processual apartado, que suspende o andamento do processo principal
enquanto se julgará através deste a responsabilidade dos sócios.

Diante do exposto, resta a conclusão de que o legislador, ao criar este artigo,


visou dar uma segurança jurídica maior aos empresários em relação à
desconsideração da personalidade jurídica, fazendo com que estes não tenham
seu patrimônio pessoal atingido apenas por insuficiência econômica de suas
empresas, mas sim através de um incidente apartado do qual os empresários
possam se defender e apresentar provas, para ao final ser julgado positiva ou
negativamente sua responsabilidade.

4) Comente se a DPJ tem aplicação ou não em matéria tributária. Em caso


positivo, qual das teorias se aplica e por qual fundamento?

No campo tributário são freqüentes e variados os expedientes lícitos e ilícitos


buscando a fuga do ônus financeiro representado pela carga fiscal. Uma das
possibilidades mais "sedutoras" consiste no uso (ou abuso) da pessoa jurídica
justamente pela separação patrimonial desta em relação às pessoas físicas ou
naturais vinculadas, notadamente sócios e administradores.

Vislumbramos, duas possibilidades: a) a pessoa física é o efetivo contribuinte,


"protegido" por uma pessoa jurídica (com existência meramente formal) e b) a
existência efetiva da pessoa jurídica com aproveitamento pontual de sua "proteção"
por sócios ou administradores.
Na primeira hipótese, a autoridade fiscal, autorizada expressamente pelo art. 142
do Código Tributário Nacional, identificará o sujeito passivo (contribuinte stricto
sensu). A identificação do sujeito passivo, significa encontrar aquele que realizou
efetivamente o fato gerador. Se entre aquele que praticou o fato descrito em lei e a
responsabilidade pelo tributo devido existe uma pessoa jurídica meramente formal,
um anteparo, uma "proteção" do patrimônio individual, ela será afastada (ou
desconsiderada).

Na segunda hipótese, nos casos em que a pessoa jurídica efetivamente


existe (não é uma realidade meramente formal), a ilicitude, inclusive na forma de
simulação, não se utiliza diretamente da pessoa jurídica. Um quadro fático desta
natureza amolda-se, na seara tributária, ao disposto no art. 135 do Código Tributário
Nacional. Com efeito, a constatação de infração à lei, praticada por administrador de
pessoa jurídica em desfavor do Fisco, viabiliza a caracterização de responsabilidade
tributária pessoal.

Sustentamos que, nas duas hipotéses cogitadas, o direito tributário já


manuseia a figura da "desconsideração da personalidade jurídica". Trata-se de
utilização não explícita, ainda tímida ou incompleta. Neste sentido, a figura da
"desconsideração" desenvolveu-se com mais substância no direito privado.

Assim, o desenvolvimento mais explícito, rápido e completo da figura da


"desconsideração da personalidade jurídica" nos domínios do direito privado pode e
deve ser aproveitado no campo do direito tributário, já familiarizado, embora
parcialmente, com a prática. Nesta linha, o art. 50 do novo Código Civil afirma e
confirma a possibilidade de se afastar a personalidade jurídica quando esta concorre
para a proteção indevida de patrimônios individuais em detrimento do Fisco.

Importa, ainda, destacar que o agente da desconsideração da personalidade


jurídica no campo tributário não é o juiz. A menção ao magistrado no art. 50 do novo
Código Civil decorre do fato daquele dispositivo estar voltado para a aplicação da
desconsideração em relações jurídicas de direito privado, caracterizadas pela
horizontalidade, onde uma das partes não pode, unilateralemente, impor obrigações
ou constituir direitos em desfavor da outra. Na seara tributária, compete à autoridade
fiscal, nos termos do art. 142 do Código Tributário Nacional, constituir o crédito
tributário, identificando o sujeito passivo da obrigação. Neste momento, se for o caso,
será aplicada a desconsideração da personalidade jurídica. Evidentemente, o sujeito
passivo poderá impugnar, utilizando todos os meios de defesa possíveis, em sede
administrativa e judicial, o ato da autoridade fiscal. Por se utilizar do art. 50 do Código
Civil, deduz-se aplicada a teoria Maior.

5) Em quais áreas do direito é aplicada a teoria Objetiva ou Menor?


Pessoalmente você concorda ou não com a aplicação desta teoria? Por
quais razões?

Nas ações judiciais que tratam de relação de consumo, aplicável as disposições


da Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Assim sendo, a teor do que dispõe o parágrafo 5º do artigo 28 do Código de


Defesa do Consumidor, a desconsideração da personalidade jurídica do fornecedor-
devedor não se subordina apenas à demonstração dos requisitos previstos
no caput do citado artigo, mas também sempre que a sua mera existência for
obstáculo ao ressarcimento do prejuízo causado ao consumidor-credor.

Art. 28. § 5° “Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre sua
personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados aos consumidores.”

Diante do resultado negativo na localização de bens do fornecedor-devedor,


resta evidenciado não mais ter este condições de cumprir sua obrigação,
autorizando o consumidor-credor, por força do que dispõe o acima transcrito
dispositivo legal, a se socorrer do patrimônio de seus sócios e/ou administradores.

Essa norma consagra a teoria (menor) objetiva da desconsideração da


personalidade jurídica, para a qual o risco empresarial normal às atividades
econômicas não pode ser suportado por aquele que contratou com a pessoa
jurídica, mas pelos sócios e/ou administradores desta, ainda que não haja qualquer
conduta culposa ou dolosa por parte dos mesmos.
Concordo com essa aplicação, porque o legislador quis proteger o lado
hipossuficiente da relação de consumo, que nada tem a ver com intenção ou não de
fraude do sócio, evitando possíveis prejuízos ao consumidor.

Bibliografia

Disponível em: <https://www.perguntedireito.com.br/803/o-que-e-desconsideracao-


da-personalidade-juridica>. Acesso em: 17/03/2018.
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/40707/as-teorias-menor-e-maior-da-
desconsideracao-da-personalidade-juridica>
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/41652/desconsideracao-inversa-da-
personalidade-juridica>
Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/Civilizalhas/94,MI178414,21048-
A+desconsideracao+inversa+da+personalidade+juridica>
Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI265431,31047-
Desconsideracao+da+personalidade+juridica+na+nova+CLT>
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/10234/aplicacao-no-direito-tributario-da-
desconsideracao-da-personalidade-juridica-prevista-no-novo-codigo-civil>
Disponível em: <https://juridicocerto.com/p/lopesamaral/artigos/da-aplicacao-da-
teoria-menor-objetiva-da-desconsideracao-da-personalidade-juridica-as-relacoes-de-
consumo-1591>

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