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Marcel: LE197.

Poderá ser tão adiantado quanto o de um adulto o Espírito de uma


criança que morreu em tenra idade?

“Algumas vezes o é muito mais, porquanto pode dar-se que muito mais já tenha
vivido e adquirido maior soma de experiência, sobretudo se progrediu.”

a) – Pode então o Espírito de uma criança ser mais adiantado que o de seu pai?

“Isso é muito frequente. Não o vedes vós mesmos tão amiudadas vezes na Terra?”

198. Não tendo podido praticar o mal, o Espírito de uma criança que morreu em
tenra idade pertence a alguma das categorias superiores?

“Se não fez o mal, igualmente não fez o bem e Deus não o isenta das provas que
tenha de padecer. Se for puro, não o será pelo fato de ter animado uma criança,
mas porque já progredira até à pureza.”

199. Por que frequentemente a vida se interrompe na infância?

“A curta duração da vida da criança pode representar, para o Espírito que a


animava, o complemento de existência precedentemente interrompida antes do
momento em que deveria terminar, e sua morte muitas vezes constitui provação
ou expiação para os pais.”

a) – Que sucede ao Espírito de uma criança que morre pequenina?

“Recomeça outra existência.”

Se uma única existência tivesse o homem e se, extinguindo-se-lhe ela, sua sorte
ficasse decidida para a eternidade, qual seria o mérito de metade do gênero
humano, da que morre na infância, para gozar, sem esforços, da felicidade eterna,
e com que direito se acharia isenta das condições, às vezes tão duras, a que se vê
submetida a outra metade? Semelhante ordem de coisas não corresponderia à
justiça de Deus. Com a reencarnação, há igualdade entre todos. O futuro a todos
toca sem exceção e sem favor para quem quer que seja. Os retardatários só de si
mesmos se podem queixar. Forçoso é que o homem tenha o merecimento de seus
atos, como tem deles a responsabilidade.

Aliás, não é racional considerar-se a infância como um estado normal de


inocência. Não se veem crianças dotadas dos piores instintos, numa idade em que
ainda nenhuma influência pode ter tido a educação? Algumas não há que parecem
trazer, ao nascer, a astúcia, a falsidade, a perfídia, até pendor para o roubo e para
o assassino, não obstante os bons exemplos que de todos os lados se lhes dão? A
lei civil as absolve de seus crimes, porque, diz ela, obraram sem discernimento.
Tem razão a lei, porque, de fato, elas obram mais por instinto do que
intencionalmente. Donde, porém, provirão instintos tão diversos em crianças da
mesma idade, educadas em condições idênticas e sujeitas às mesmas
influências? Donde a precoce perversidade, senão da inferioridade do Espírito,
uma vez que a educação em nada contribuiu para isso? As que se revelam
viciosas, é porque seus Espíritos progrediram menos. Sofrem então, por efeito
dessa falta de progresso, as consequências, não dos atos que praticam na
infância, mas dos de suas existências anteriores. Assim é que a lei é uma só para
todos e que todos são atingidos pela justiça de Deus.

Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1867 > Maio > Uma expiação terrestre
O jovem Francisco

As pessoas que leram O Céu e o Inferno sem dúvida se lembram da tocante


história de Marcel, o menino nº 4, relatada no Cap. VIII das Expiações terrestres. O
fato seguinte apresenta um caso mais ou menos análogo e não menos instrutivo,
como aplicação da soberana justiça e como explicação do que por vezes parece
inexplicável em certas posições da vida.

Numa boa e honesta família morreu, eu outubro de 1866, um rapaz de doze anos,
cuja vida, durante nove anos, tinha sido um sofrimento contínuo, que nem os
cuidados afetuosos de que era cercado, nem os socorros da ciência tinham podido
ao menos suavizar. Ele foi acometido de paralisia e de hidropisia; seu corpo estava
coberto de chagas invadidas pela gangrena e suas carnes caíam aos pedaços.
Muitas vezes, no paroxismo da dor, ele exclamava: “Que fiz eu, então, meu Deus,
para merecer tanto sofrimento? Desde que estou no mundo, entretanto, não fiz
mal a ninguém!” Instintivamente esse menino compreendia que o sofrimento devia
ser uma expiação, mas, na ignorância da lei de solidariedade das existências
sucessivas, não remontando o seu pensamento além da vida presente, ele não se
dava conta da causa que poderia justificar nele tão cruel castigo.

Uma particularidade digna de nota foi o nascimento de uma irmã, quando ele tinha
cerca de três anos. Foi nessa época que se declararam os primeiros sintomas da
terrível moléstia da qual ele devia sucumbir. Desde esse momento ele concebeu
pela recém-vinda uma repulsa tal que não podia suportar sua presença e à sua
vista pareciam redobrar seus sofrimentos. Muitas vezes ele se reprochava esse
sentimento que nada justificava, porque a pequena não o partilhava, ao contrário,
ela era para ele suave e amável. Ele dizia à sua mãe: “Por que, então, a visão de
minha irmãzinha me é tão penosa? Ela é boa para mim, e contra minha vontade
não possa impedir-me de detestá-la.” Entretanto não podia suportar que lhe
fizessem o menor mal, nem que a magoassem; longe de se alegrar com suas
penas, afligia-se quando a via chorar. Era evidente que dois sentimentos nele se
combatiam; ele compreendia a injustiça de sua antipatia, mas seus esforços para
superá-la eram impotentes.
Que tais enfermidades sejam, em certa idade, consequência de má conduta, seria
uma coisa muito natural, mas de que faltas tão graves um menino dessa idade
pode ser culpado para suportar semelhante martírio? Além disso, de onde podia
provir essa repulsa por um ser inofensivo? Eis problemas que se apresentam a
cada instante, e que levam muita gente a duvidar da justiça de Deus, porque aí
não encontram solução em nenhuma religião. Essas anomalias aparentes
encontram, ao contrário, sua completa justificação na solidariedade das
existências. Um observador espírita poderia dizer, então, com toda a aparência de
razão, que esses dois seres eram conhecidos e tinham sido colocados um ao lado
do outro na existência atual para alguma expiação e para a reparação de alguma
falta. Do estado de sofrimento do irmão poderíamos concluir que ele era o
culpado, e que os laços de parentesco próximo que o uniam ao objeto de sua
antipatia lhe eram impostos para preparar entre eles as vias de uma
reaproximação. Assim, já se vê no irmão uma tendência e esforços para superar
seu afastamento, que ele reconhece injusto. Essa antipatia não tinha os caracteres
do ciúme que por vezes se nota em crianças do mesmo sangue. Ela provinha,
pois, conforme toda a probabilidade, de lembranças penosas, e talvez do remorso
despertado pelo presença da menina. Tais são as deduções que racionalmente
podem ser tiradas, por analogia, da observação dos fatos, e que foram
confirmadas pelo Espírito do rapaz.

Evocado quase imediatamente após a morte, por uma amiga da família, pela qual
ele tinha muita afeição, a princípio não pôde explicar-se de maneira completa e
prometeu dar ulteriormente detalhes mais circunstanciados. Entre as diversas
comunicações que deu, eis as duas que se referem mais particularmente à
questão.

“Esperais de mim o relato, que prometi, do que fui numa existência anterior, e a
explicação da causa de meus grandes sofrimentos. Será um ensinamento para
todos. Bem sei que tais ensinamentos estão em toda parte; encontram-se por
todos os lados, mas o relato de fatos cujas consequências nós mesmos vimos, é
sempre, para os que existem, uma prova muito mais chocante.

“Eu pequei, sim, eu pequei! Sabeis o que é ter sido assassino, ter atentado contra
a vida de seu semelhante? Não o fiz pela maneira que os assassinos empregam,
matando rápido, com uma corda ou com uma faca ou qualquer outro instrumento.
Não, não foi desta maneira. Matei, mas matei lentamente, fazendo sofrer um ser
que eu detestava! Sim, detestava essa criança que eu julgava não me pertencer!
Pobre inocente! Tinha ela merecido essa triste sorte? Não, meus pobres amigos,
não o tinha merecido ou, pelo menos, não me cabia fazê-la sofrer esses
tormentos. Entretanto, eu o fiz, e eis por que fui obrigado a sofrer como vistes.

“Eu sofri, meu Deus! É bastante? Sois muito bom, Senhor! Sim, em presença de
meu crime e da expiação, acho que fostes muito misericordioso.
“Orai por mim, caros pais, caros amigos. Agora meus sofrimentos passaram.
Pobre Sra. D..., eu vos faço sofrer! É que era muito penoso para mim vir fazer a
confissão desse crime imenso!

“Esperança, meus bons amigos! Deus me perdoou minha falta. Agora estou na
alegria e, entretanto, também na pena. Vede! É bom estar num estado melhor, ter
expiado: o pensamento, a lembrança de seus crimes deixam uma tal impressão
que é impossível que não se sinta ainda por muito tempo todo o horror, porque não
foi somente na Terra que sofri, mas antes, nesta vida espiritual! E que sofrimento
que tive para me decidir a vir sofrer esta expiação terrível! Não vos posso narrar
tudo isto, pois seria muito horroroso! A visão constante de minha vítima e a outra, a
pobre mãe! Enfim, meus amigos, preces por mim e graças ao Senhor! Eu vos tinha
prometido este relato; era preciso que até o fim eu pagasse a minha dívida, por
mais que ela me custasse.”

(Até aqui o médium havia escrito sob o império de uma viva emoção. Depois,
continuou com mais calma).

“E agora, meus bons pais, uma palavra de consolação. Obrigado, oh obrigado a


vós que me ajudastes nesta expiação e que carregastes uma parte; suavizastes,
tanto quanto de vós dependia, o que havia de amargo em meu estado. Não vos
magoeis, porque é coisa passada; estou feliz, eu vo-lo disse, sobretudo
comparando o estado passado com o presente. Amo-vos a todos; agradeço-vos;
beijo-vos; amai-me sempre. Encontrar-nos-emos e todos juntos continuaremos
esta vida eterna, procurando que a vida futura resgate inteiramente a vida
passada.

“Vosso filho, François E.”

Numa outra comunicação, o Espírito do jovem François completou as informações


acima.

Pergunta. ─ Caro rapaz, não disseste de onde vinha tua antipatia por tua
irmãzinha.

Resposta. ─ Não o adivinhais? Essa pobre e inocente criatura era minha vítima,
que Deus tinha ligado à minha existência como um remorso vivo. Eis por que sua
visão me fazia sofrer tanto.

P. ─ Entretanto não sabias quem era ela.

R. ─ Não sabia em estado de vigília, sem o que meus tormentos teriam sido cem
vezes mais horríveis, tão horríveis quanto tinham sido na vida espiritual, onde eu a
via incessantemente. Mas credes que meu Espírito, nos momentos em que estava
desprendido, não o soubesse? Nisso estava a causa de minha repulsa; e se eu me
esforçava por combatê-la, é que instintivamente sentia que era injusta. Eu não era
ainda bastante forte para fazer bem àquela que eu não podia impedir-me de
detestar, mas não queria que lhe fizessem mal: era um começo de reparação.
Deus levou em conta esse sofrimento, por isto permitiu que cedo ficasse livre de
minha vida de sofrimento, sem o que eu teria podido viver ainda longos anos na
horrível situação em que me vistes.

“Bendizei, pois, minha morte, que pôs um termo à expiação, porque ela foi o preço
de minha reabilitação.

P. ─ (ao guia do médium). Por que a expiação e o arrependimento na vida


espiritual não bastam para a reabilitação, sem que seja necessário a isto juntar
sofrimentos corporais?

R. ─ Sofrer num mundo ou no outro é sempre sofrer, e se sofre o tempo


necessário para que a reabilitação seja completa.

Essa criança sofreu muito na Terra. Ora! Isto nada é em comparação com o que
suportou no mundo dos Espíritos. Aqui ele tinha, em compensação, os cuidados e
a afeição de que era rodeado. Há ainda esta diferença entre o sofrimento corporal
e o sofrimento espiritual, que o primeiro é quase sempre voluntariamente aceito
como complemento de expiação, ou como provação para adiantar-se mais
rapidamente, ao passo que o outro é imposto.

Mas há outros motivos para o sofrimento corporal: inicialmente, para que a


reparação se faça nas mesmas condições em que o mal foi feito; depois, para
servir de exemplo aos encarnados. Vendo seus semelhantes sofrerem e sabendo
a razão, eles ficam muito mais impressionados do que ao saber que são infelizes
como Espíritos; podem melhor compreender a causa de seus próprios sofrimentos;
a justiça divina se mostra, de certo modo, palpável aos seus olhos. Enfim, o
sofrimento corporal é uma ocasião para os encarnados exercitarem a caridade
entre si, uma prova para seus sentimentos de comiseração, e muitas vezes um
meio de reparar erros anteriores, porque, crede-o, quando um infortunado se acha
em vosso caminho, não é por efeito do acaso.

Para os pais do jovem Francisco, era uma grande prova ter um filho nessa triste
posição. Pois bem! Eles cumpriram dignamente seu mandato, e serão tanto
melhor recompensados por terem agido espontaneamente, pelo próprio impulso
do coração. Se os Espíritos não sofressem na encarnação, seria porque na Terra
só haveria Espíritos perfeitos.

JULIANA MARIA 274. Da existência de diferentes ordens de Espíritos, resulta


para estes alguma hierarquia de poderes? Há entre eles subordinação e
autoridade?

“Muito grande. Os Espíritos têm uns sobre os outros a autoridade correspondente


ao grau de superioridade que hajam alcançado, autoridade que eles exercem por
um ascendente moral irresistível.”

a) – Podem os Espíritos inferiores subtrair-se à autoridade dos que lhes são


superiores?

“Eu disse: irresistível.”

O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos >
Capítulo VI - Da vida espírita > As relações no além-túmulo > 275
275. O poder e a consideração de que um homem gozou na Terra lhe dão
supremacia no mundo dos Espíritos?

“Não; pois que os pequenos serão elevados e os grandes rebaixados. Lê os


Salmos.”

a) – Como devemos entender essa elevação e esse rebaixamento?

“Não sabes que os Espíritos são de diferentes ordens, conforme seus méritos?
Pois bem, o maior da Terra pode pertencer à última categoria entre os Espíritos, ao
passo que o seu servo pode estar na primeira. Compreendes isto? Não disse
Jesus: Aquele que se humilhar será exalçado e aquele que se exalçar será
humilhado?”

Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1864 > Agosto > Palestra de além-túmulo
Juliana Maria, a mendiga

Na comuna da Villate, perto de Nozai (Loire-Inférieure), havia uma pobre mulher


chamada Juliana Maria, velha, enfermiça, e que vivia da caridade pública. Um dia
ela caiu num pântano, de onde foi retirada por um habitante da região, Sr. Aubert,
que habitualmente a socorria. Transportada para sua casa, faleceu pouco tempo
depois, em consequência do acidente. Era opinião geral que ela quis suicidarse.
No mesmo dia de seu falecimento, o Sr. Aubert, que é espírita e médium, sentiu
sobre toda a sua pessoa como que o roçar de uma pessoa que estivesse ao seu
lado, sem, contudo, explicar a causa. Quando soube da morte de Juliana Maria,
veio-lhe o pensamento de que talvez o seu Espírito tivesse vindo visitá-lo.

Seguindo o conselho de um de seus amigos, o Sr. Cheminant, membro da


Sociedade Espírita de Paris, ao qual havia relatado o que havia acontecido, fez a
evocação dessa mulher, com o objetivo de ser-lhe útil. Mas, previamente, pediu
conselho a seus guias protetores, dos quais recebeu a seguinte resposta:

“Tu podes, e isto lhe dará prazer, posto seja inútil o serviço que lhe queres prestar.
Ela está feliz e inteiramente devotada aos que dela se apiedaram. Tu és um dos
seus bons amigos. Ela quase não te deixa, e muitas vezes se entretém contigo
sem que o percebas. Mais cedo ou mais tarde os serviços prestados serão
recompensados, se não pelo favorecido, por aqueles que por ele se interessam,
tanto antes quanto depois da sua morte. Se o Espírito não teve tempo de se
reconhecer, são outros Espíritos simpáticos que em seu nome testemunham todo
o seu reconhecimento. Isto esclarece o que sentiste no dia de sua morte. Agora é
ela que te ajuda no bem que queres fazer. Lembra-te do que disse Jesus: “Aquele
que se humilha será exaltado.” Terás a medida dos serviços que ela te pode
prestar, se, contudo, só lhe pedires assistência para ser útil a teu próximo.”

Evocação:

─ Boa Juliana Maria, sois feliz, eis tudo quanto eu queria saber. Isto não me
impedirá de pensar em vós muitas vezes e de jamais vos esquecer em minhas
preces. Resposta:

─ Tem confiança em Deus; inspira aos teus doentes uma fé sincera, e triunfarás
quase sempre. Não te ocupes jamais com a recompensa que disso virá. Ela
ultrapassará a tua expectativa. Deus sabe sempre recompensar o mérito de quem
se dedica ao alívio de seus semelhantes e pratica suas ações com completo
desinteresse. Sem isto, tudo não passa de ilusão e quimera. Antes de tudo é
necessária a fé; do contrário, nada. Lembra-te desta máxima e ficarás admirado
com os resultados que obterás. Os dois doentes que curaste disso são a prova.
Nas circunstâncias em que se encontravam, com os simples remédios terias
falhado.

Quando pedires a Deus que permita que os bons Espíritos derramem sobre ti seus
fluidos benéficos, se o pedido não te fizer sentir um arrepio involuntário, é que tua
prece não foi bastante fervorosa para ser escutada; ela só o será nas condições
que te assinalo. É o que tens experimentado quando dizes do fundo do coração:
‘Deus todo-poderoso, Deus misericordioso, Deus de bondade sem limites, ouvi a
minha prece, e permiti que os bons Espíritos me assistam na cura de...; tende
piedade dele, meu Deus, e dai-lhe saúde; sem vós nada posso. Que se faça a
vossa vontade.’

Fizeste bem em não desprezar os humildes. A voz daquele que sofreu e suportou
com resignação as misérias deste mundo é sempre escutada, e, como vês, um
serviço prestado sempre recebe a sua recompensa.
Agora uma palavra a meu respeito, e isto confirmará o que foi dito acima.

O Espiritismo te explica minha linguagem como Espírito. Não preciso entrar em


detalhes a respeito disso. Também creio inútil dar-te detalhes da minha existência
anterior. A posição em que me conheceste na Terra deve fazer-te compreender e
apreciar as minhas outras existências, que nem sempre foram sem reproches.
Votada a uma vida de miséria, enferma e sem poder trabalhar, mendiguei a vida
toda. Não entesourei, e na minha velhice. Minhas pequenas economias se
limitavam a uma centena de francos, que eu reservava para quando as pernas já
não me pudessem levar. Deus julgou a minha provação e minha expiação
suficientes, e lhes pôs um termo, libertando-me sem sofrimento da vida terrena,
porque eu não me suicidei, como a princípio pensaram. Eu caí fulminada à borda
do pântano, no momento em que dirigia minha última prece a Deus. A rampa do
terreno foi a causa da presença de meu corpo na água. Não sofri; estou feliz por
ter podido cumprir minha missão sem entraves e com resignação. Tornei-me útil,
na medida de minhas forças e de meus meios, e evitei fazer mal ao próximo. Hoje
recebo a recompensa, pelo que dou graças a Deus, nosso divino Mestre, que, no
castigo que inflige, alivia a amargura fazendo-nos esquecer, durante a vida, as
nossas passadas existências, e põe em nosso caminho almas caridosas, para nos
ajudarem a suportar o fardo de nossos erros passados.

Tu, também, persevera, e, como eu, serás recompensado.

Agradeço-te as boas preces e o serviço que me prestaste. Jamais o esquecerei.


Um dia nos veremos novamente, e muitas coisas ser-te-ão explicadas. No
momento seria supérfluo. Sabe apenas que te sou muito devotada, estou muitas
vezes ao teu lado, e sempre que necessitares de mim para aliviar o que sofre.

A pobre mulherzinha JULIANA MARIA

Tendo sido evocado na Sociedade de Paris, a 10 de junho de 1864, pela médium


Sra. Patet, o Espírito de Juliana Maria ditou a comunicação seguinte:

“Obrigado pela bondade de me admitir em vosso meio, caro presidente. Sentistes


bem que minhas existências anteriores foram mais elevadas como posição social,
e se voltei para sofrer esta provação da pobreza, era para me punir de um vão
orgulho que me fazia repelir quem fosse pobre e miserável. Então sofri essa justa
lei de Talião, que me tornou a mais horrível mendiga desta região, e, como para
me provar a bondade de Deus, eu não era repelida por todos. Isto era todo o meu
medo. Assim, suportei minha provação sem murmurar, pressentindo uma vida
melhor, de onde não devia mais voltar a esta Terra de exílio e de calamidade. Que
felicidade, no dia em que nossa alma, ainda jovem, pode entrar na vida espiritual
para rever os seres amados, porque eu também amei e sou feliz por haver
reencontrado os que me precederam. Obrigado a esse bom Aubert. Ele me abriu a
porta do reconhecimento. Sem sua mediunidade eu não lhe poderia agradecer e
lhe provar que minha alma não esquece as felizes influências de seu bom coração
e lhe recomendar que propague sua divina crença. Ele é chamado a reconduzir as
almas transviadas. Que ele que se persuada bem de meu apoio. Sim, eu lhe posso
retribuir ao cêntuplo o que ele me fez, instruindo-o na via que seguis. Agradecei ao
Senhor por ter permitido que os Espíritos vos possam dar instruções para
encorajar o pobre em suas penas e deter o rico em seu orgulho. Sabei
compreender a vergonha que há em repelir um infeliz. Que eu vos sirva de
exemplo, a fim de evitar que venhais, como eu, expiar as vossas faltas nessas
dolorosas posições sociais que vos colocam tão baixo e vos fazem o rebotalho da
Sociedade.

JULIANA MARIA

OBSERVAÇÃO: Este fato está cheio de ensinamentos para quem quer que medite
as palavras deste Espírito nas duas comunicações. Todos os grandes princípios do
Espiritismo aí estão reunidos. Desde a primeira, o Espírito mostra sua
superioridade pela sua linguagem; como uma fada benfazeja, ela vem proteger
aquele que não a desprezou sob seus trapos da miséria. É uma aplicação destas
máximas do Evangelho: “Os grandes serão humilhados e os pequenos serão
exalçados; bem-aventurados os humildes; bem-aventurados os aflitos, porque
serão consolados; não desprezeis os pequenos, pois o que é pequeno neste
mundo talvez seja maior do que imaginais.” Que aqueles que negam a
reencarnação como contrária à justiça de Deus, expliquem a posição dessa mulher
votada à infelicidade desde o seu nascimento pelas enfermidades, senão por uma
vida anterior!

Transmitida esta comunicação ao Sr. Aubert, por sua vez ele obteve a que se
segue, que lhe é uma confirmação.

─ Boa Juliana Maria, considerando-se que quereis mesmo ajudar-me com os


vossos bons conselhos a fim de me fazer progredir na via da nossa divina
doutrina, tende a bondade de vos comunicardes comigo. Envidarei todos os meus
esforços para tirar proveito dos vossos ensinamentos.

─ Lembra-te da recomendação que te vou fazer e jamais dela te afastes. Sê


sempre caridoso, na medida das tuas possibilidades; tu compreendes bastante a
caridade tal qual deve ser praticada em todas as posições da vida terrena. Assim,
não necessito vir dar-te um ensinamento a propósito disso, pois serás tu mesmo o
melhor juiz, seguindo, contudo, a voz de tua consciência, que jamais te enganará
quando a escutares sinceramente.

“Não te equivoques quanto às missões que vós tendes a cumprir na Terra;


pequenos e grandes têm a sua; a minha foi muito penosa, mas eu merecia
semelhante punição, por minhas existências precedentes, como vim confessar ao
presidente da Sociedade mãe de Paris, à qual todos vos ligareis um dia, e esse dia
não está tão longe quanto pensas. O Espiritismo marcha a passos de gigante,
malgrado tudo o que fazem para entravá-lo. Marchai, pois, todos, sem medo,
fervorosos crentes da doutrina, e vossos esforços serão coroados de sucesso.
Pouco vos importe o que dirão de vós. Colocai-vos acima de uma crítica irrisória
que recairá sobre os adversários do Espiritismo.

“Os orgulhosos! Eles se julgam fortes e pensam em facilmente vos abater. Vós,
meus bons amigos, ficai tranquilos e não temais medir-vos com eles. Eles são
mais fáceis de vencer do que supondes. Muitos dentre eles têm medo e temem
que a verdade venha, enfim, ofuscar-lhes os olhos. Esperai. Eles virão, por sua
vez, ajudar no coroamento do edifício.

JULIANA MARIA

MAX, O MENDIGO
Parábola do mau rico
5. Havia um homem rico, que vestia púrpura e linho e se tratava magnificamente
todos os dias.

– Havia também um pobre, chamado Lázaro, deitado à sua porta, todo coberto de
úlceras – que muito estimaria poder mitigar a fome com as migalhas que caíam da
mesa do rico; mas ninguém lhas dava e os cães lhe vinham lamber as chagas. –
Ora, aconteceu que esse pobre morreu e foi levado pelos anjos para o seio de
Abraão. O rico também morreu e teve por sepulcro o inferno. – Quando se achava
nos tormentos, levantou os olhos e viu de longe Abraão e Lázaro em seu seio – e,
exclamando, disse estas palavras: Pai Abraão, tem piedade de mim e manda-me
Lázaro, a fim de que molhe a ponta do dedo na água para me refrescar a língua,
pois sofro horrível tormento nestas chamas.

Mas Abraão lhe respondeu: Meu filho, lembra-te de que recebeste em vida teus
bens e de que Lázaro só teve males; por isso, ele agora está na consolação e tu
nos tormentos.

Ao demais, existe para sempre um grande abismo entre nós e vós, de sorte que
os que queiram passar daqui para aí não o podem, como também ninguém pode
passar do lugar onde estás para aqui.

Disse o rico: Eu então te suplico, pai Abraão, que o mandes à casa de meu pai –
onde tenho cinco irmãos, a dar-lhes testemunho destas coisas, a fim de que não
venham também eles para este lugar de tormento. – Abraão lhe retrucou: Eles têm
Moisés e os profetas; que os escutem. – Não,meu pai Abraão, disse o rico: se
algum dos mortos for ter com eles, farão penitência. – Respondeu-lhe Abraão: Se
eles não ouvem a Moisés, nem aos profetas, também não acreditarão, ainda
mesmo que algum dos mortos ressuscite.

(S. LUCAS, 16:19 a 31.)

O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos >
Capítulo IV - Da pluralidade das existências > Transmigrações progressivas

189. Desde o início de sua formação, goza o Espírito da plenitude de suas


faculdades?

“Não, pois que para o Espírito, como para o homem, também há infância. Em sua
origem, a vida do Espírito é apenas instintiva. Ele mal tem consciência de si
mesmo e de seus atos. A inteligência só pouco a pouco se desenvolve.”

190. Qual o estado da alma na sua primeira encarnação?

“O da infância na vida corporal. A inteligência apenas desabrocha: a alma se


ensaia para a vida.”

191. As dos nossos selvagens são almas no estado de infância?

“De infância relativa; mas já são almas desenvolvidas; nutrem paixões.”

a) – Então as paixões são um sinal de desenvolvimento?

“De desenvolvimento, sim; de perfeição, porém, não. São sinal de atividade e de


consciência do eu; ao passo que na alma primitiva, a inteligência e a vida se
acham no estado de gérmen.”

A vida do Espírito, em seu conjunto, apresenta as mesmas fases que observamos


na vida corporal. Ele passa gradualmente do estado de embrião ao de infância,
para chegar, percorrendo sucessivos períodos, ao de adulto, que é o da perfeição,
com a diferença de que para o Espírito não há declínio, nem decrepitude, como na
vida corporal; que a sua vida, que teve começo, não terá fim; que imenso tempo
lhe é necessário, do nosso ponto de vista, para passar da infância espírita ao
completo desenvolvimento; e que o seu progresso se realiza, não num único
mundo, mas vivendo ele em mundos diversos. A vida do Espírito, pois, se compõe
de uma série de existências corpóreas, cada uma das quais representa para ele
uma ocasião de progredir, do mesmo modo que cada existência corporal se
compõe de uma série de dias, em cada um dos quais o homem obtém um
acréscimo de experiência e de instrução. Mas assim como na vida do homem há
dias que nenhum fruto produzem, na do Espírito há existências corporais de que
ele nenhum resultado colhe, porque não as soube aproveitar.
192. Pode alguém, por um proceder impecável já na vida atual, transpor todos os
graus da escala do aperfeiçoamento e tornar-se Espírito puro, sem passar por
outros graus intermédios?

“Não, pois o que o homem julga perfeito longe está da perfeição. Há qualidades
que lhe são desconhecidas e incompreensíveis. Poderá ser tão perfeito quanto o
comporte a sua natureza terrena, mas isso não é a perfeição absoluta. Dá-se com
o Espírito o que se verifica com a criança, que por mais precoce que seja tem de
passar pela juventude, antes de chegar à idade da madureza; e também com o
enfermo, que para recobrar a saúde tem que passar pela convalescença. Ademais,
ao Espírito cumpre progredir em ciência e em moral. Se somente se adiantou num
sentido, importa se adiante no outro, para atingir o extremo superior da escala.
Contudo, quanto mais o homem se adiantar na sua vida atual, tanto menos longas
e penosas lhe serão as provas que se seguirem.”

a) – Pode ao menos o homem, já desde a vida presente, preparar com segurança,


para si, uma existência futura menos prenhe de amarguras?

“Sem dúvida. Pode reduzir a extensão e as dificuldades do caminho. Só o


descuidadoso permanece sempre no mesmo ponto.”

193. Pode um homem, nas suas novas existências, descer mais baixo do que
esteja na atual?

“Com relação à posição social, sim; como Espírito, não.”

194. É possível que, em nova encarnação, a alma de um homem de bem anime o


corpo de um celerado?

“Não, visto que não pode degenerar.”

a) – A alma de um homem perverso pode tornar-se a de um homem de bem?

“Sim, se se arrependeu. Isso constitui então uma recompensa.”

A marcha dos Espíritos é progressiva, jamais retrógrada. Eles se elevam


gradualmente na hierarquia e não descem da categoria a que ascenderam. Em
suas diferentes existências corporais, podem descer como homens, não como
Espíritos. Assim, a alma de um potentado da Terra pode mais tarde animar o mais
humilde obreiro e vice-versa, visto que, entre os homens, as categorias estão
frequentemente na razão inversa da elevação das qualidades morais. Herodes era
rei e Jesus, carpinteiro.

195. A possibilidade de se melhorarem noutra existência não será de molde a


fazer que certas pessoas perseverem no mau caminho, dominadas pela ideia de
que sempre poderão corrigir-se mais tarde?

“Aquele que assim pensa em nada crê, e a ideia de um castigo eterno não o
refrearia mais do que qualquer outra,

porque sua razão a repele, e semelhante ideia induz à incredulidade a respeito de


tudo. Se unicamente meios racionais se tivessem empregado para guiar os
homens, não haveria tantos céticos. De fato, um Espírito imperfeito poderá,
durante a vida corporal, pensar como dizes; mas, liberto que se veja da matéria,
pensará de outro modo, pois logo verificará que fez cálculo errado e,
então, sentimento oposto a esse trará ele para a sua nova existência. É assim que
se efetua o progresso, e essa a razão pela qual na Terra os homens são
desigualmente adiantados. Uns já dispõem de experiência que a outros falta, mas
que adquirirão pouco a pouco. De cada um depende acelerar seu próprio
progresso ou retardá-lo indefinidamente.”

O homem que ocupa uma posição má deseja trocá-la o mais depressa possível.
Aquele que se acha persuadido de que as tribulações da vida terrena são
consequência de suas imperfeições procurará garantir para si uma nova existência
menos penosa; e esta ideia o desviará mais da senda do mal do que a do fogo
eterno, em que não acredita.

196. Não podendo os Espíritos aperfeiçoar-se, a não ser por meio das tribulações
da existência corpórea, segue-se que a vida material seja uma espécie de filtro ou
de depurador, por onde têm que passar os seres do mundo espírita para
alcançarem a perfeição?

“Sim, é exatamente isso. Eles se melhoram nessa provas, evitando o mal e


praticando o bem. Mas é somente após muitas encarnações ou depurações
sucessivas que atingem, ao cabo de um tempo mais ou menos longo, conforme os
esforços que empreguem, a finalidade para que tendem.”

a) – É o corpo que influi sobre o Espírito para que este se melhore, ou o Espírito
que influi sobre o corpo?

“Teu Espírito é tudo; teu corpo é simples veste que apodrece: eis tudo.”

O suco da vide nos oferece um símile material dos diferentes graus da depuração
da alma. Ele contém o licor que se chama espírito ou álcool, mas enfraquecido por
uma imensidade de matérias estranhas, que lhe alteram a essência. Esta só chega
à pureza absoluta depois de múltiplas destilações, em cada uma das quais se
despoja de algumas impurezas. O corpo é o alambique em que a alma tem que
entrar para se purificar. Às matérias estranhas se assemelha o perispírito, que
também se depura, à medida que o Espírito se aproxima da perfeição.
O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos >
Capítulo IV - Da pluralidade das existências > Transmigrações progressivas > 194

194. É possível que, em nova encarnação, a alma de um homem de bem anime o


corpo de um celerado?

“Não, visto que não pode degenerar.”

a) – A alma de um homem perverso pode tornar-se a de um homem de bem?

“Sim, se se arrependeu. Isso constitui então uma recompensa.”

A marcha dos Espíritos é progressiva, jamais retrógrada. Eles se elevam


gradualmente na hierarquia e não descem da categoria a que ascenderam. Em
suas diferentes existências corporais, podem descer como homens, não como
Espíritos. Assim, a alma de um potentado da Terra pode mais tarde animar o mais
humilde obreiro e vice-versa, visto que, entre os homens, as categorias estão
frequentemente na razão inversa da elevação das qualidades morais. Herodes era
rei e Jesus, carpinteiro.

O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos >
Capítulo VI - Da vida espírita > As relações no além-túmulo

274. Da existência de diferentes ordens de Espíritos, resulta para estes alguma


hierarquia de poderes? Há entre eles subordinação e autoridade?

“Muito grande. Os Espíritos têm uns sobre os outros a autoridade correspondente


ao grau de superioridade que hajam alcançado, autoridade que eles exercem por
um ascendente moral irresistível.”

a) – Podem os Espíritos inferiores subtrair-se à autoridade dos que lhes são


superiores?

“Eu disse: irresistível.”

275. O poder e a consideração de que um homem gozou na Terra lhe dão


supremacia no mundo dos Espíritos?

“Não; pois que os pequenos serão elevados e os grandes rebaixados. Lê os


Salmos.”

a) – Como devemos entender essa elevação e esse rebaixamento?


“Não sabes que os Espíritos são de diferentes ordens, conforme seus méritos?
Pois bem, o maior da Terra pode pertencer à última categoria entre os Espíritos, ao
passo que o seu servo pode estar na primeira. Compreendes isto? Não disse
Jesus: Aquele que se humilhar será exalçado e aquele que se exalçar será
humilhado?”

276. Aquele que foi grande na Terra e que, como Espírito, vem a achar-se entre os
de ordem inferior, experimenta com isso alguma humilhação?

“Às vezes bem grande, mormente se era orgulhoso e invejoso.”

277. O soldado que depois da batalha se encontra com o seu general, no mundo
dos Espíritos, ainda o tem por seu superior?

“O título nada vale, a superioridade real é que tem valor.”

278. Os Espíritos das diferentes ordens se acham misturados uns com os outros?

“Sim e não. Quer dizer: eles se vêem, mas se distinguem uns dos outros. Evitam-
se ou se aproximam, conforme à simpatia ou à antipatia que reciprocamente uns
inspiram aos outros, tal qual sucede entre vós. Constituem um mundo do qual o
vosso é pálido reflexo. Os da mesma categoria se reúnem por uma espécie de
afinidade e formam grupos ou famílias, unidos pelos laços da simpatia e pelos fins
a que visam: os bons, pelo desejo de fazerem o bem; os maus, pelo de fazerem o
mal, pela vergonha de suas faltas e pela necessidade de se acharem entre os que
se lhes assemelham.”

Tal uma grande cidade onde os homens de todas as classes e de todas as


condições se vêem e encontram, sem se confundirem; onde as sociedades se
formam pela analogia dos gostos; onde a virtude e o vício se acotovelam, sem
trocarem palavra.

279. Todos os Espíritos têm reciprocamente acesso aos diferentes grupos ou


sociedades que eles formam?
Os bons vão a toda parte e assim deve ser, para que possam influir sobre os
maus. As regiões, porém, que os bons habitam estão interditadas aos Espíritos
imperfeitos, a fim de que não as perturbem com suas paixões inferiores.”

280. De que natureza são as relações entre os bons e os maus Espíritos?

“Os bons se ocupam em combater as más inclinações dos outros, a fim de ajudá-
los a subir. É uma missão.”

281. Por que os Espíritos inferiores se comprazem em nos induzir ao mal?


“Pelo despeito que lhes causa o não terem merecido estar entre os bons. Seu
desejo é impedir, quanto possam, que os Espíritos ainda inexperientes alcancem o
supremo bem. Querem que os outros experimentem o que eles próprios
experimentam. Isto não se dá também entre vós outros?”

282. Como se comunicam entre si os Espíritos?

“Eles se vêem e se compreendem. A palavra é material: é o reflexo do Espírito. O


fluido universal estabelece entre eles constante comunicação; é o veículo da
transmissão do pensamento, como, para vós, o ar o é do som. É uma espécie de
telégrafo universal, que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se
correspondam de um mundo a outro.”

283. Podem os Espíritos, reciprocamente, dissimular seus pensamentos? Podem


ocultar-se uns dos outros?

“Não; para os Espíritos, tudo é patente, sobretudo para os perfeitos. Podem


afastar-se uns dos outros, mas sempre se vêem. Isto, porém, não constitui regra
absoluta, porquanto certos Espíritos podem muito bem tornar-se invisíveis a outros
Espíritos, se julgarem útil fazê-lo.”

284. Como podem os Espíritos, não tendo mais corpo, constatar suas
individualidades e distinguir-se dos outros seres espirituais que os rodeiam?

“Constatam suas individualidades pelo perispírito, que os torna distinguíveis uns


dos outros, como faz o corpo entre os homens.”

285. Os Espíritos se reconhecem por terem coabitado a Terra? O filho reconhece


o pai, o amigo reconhece o seu amigo?

“Perfeitamente e, assim, de geração em geração.”

a) – Como é que os que se conheceram na Terra se reconhecem no mundo dos


Espíritos?

“Vemos a nossa vida passada e lemos nela como em um livro. Vendo a dos
nossos amigos e dos nossos inimigos, aí vemos a passagem deles da vida
corporal à outra.”

Os Espíritos também podem, quando necessário, se reconhecer pela aparência


que tinham quando vivos. Ao Espírito que acaba de chegar, e ainda pouco
familiarizado com seu novo estado, os Espíritos que o vêm receber apresentam-se
sob uma forma que lhe permite reconhecê-los.
286. Deixando seus despojos mortais, a alma vê imediatamente os parentes e
amigos que a precederam no mundo dos Espíritos?

“Imediatamente nem sempre é o termo próprio. Como já dissemos, é-lhe


necessário algum tempo para que ela se reconheça a si mesma e alije o véu
material.”

287. Como é acolhida a alma no seu regresso ao mundo dos Espíritos?

“A do justo, como bem-amado irmão, desde muito tempo esperado. A do mau,


como um ser a quem se despreza.”

288. Que sentimento desperta nos Espíritos impuros a chegada entre eles de
outro Espírito mau?

“Os maus ficam satisfeitos quando vêem seres que se lhes assemelham e, como
eles, privados da infinita ventura, qual na Terra um bandido entre seus iguais.”

289. Nossos parentes e amigos costumam vir-nos ao encontro quando deixamos a


Terra?

“Sim, os Espíritos vão ao encontro da alma a quem são afeiçoados. Felicitam-na,


como se regressasse de uma viagem, escapando aos perigos da estrada, e
ajudam-na a desprender-se dos liames corporais. É uma graça concedida aos
Espíritos bons o lhes virem ao encontro os que os amam, ao passo que aquele
que se acha maculado permanece em insulamento, ou só tem a rodeá-lo os que
lhe são semelhantes. É uma punição.”

290. Os parentes e amigos sempre se reúnem depois da morte?

“Depende isso da elevação deles e do caminho que seguem, procurando


progredir. Se um está mais adiantado e caminha mais depressa do que outro, não
podem os dois conservar-se juntos. Ver-se-ão de tempos a tempos, mas não
estarão reunidos para sempre senão quando puderem caminhar lado a lado, ou
quando se houverem igualado na perfeição. Acresce que a privação de ver os
parentes e amigos é, às vezes, uma punição.”

O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos >
Capítulo VI - Da vida espírita > As relações no além-túmulo > 274

274. Da existência de diferentes ordens de Espíritos, resulta para estes alguma


hierarquia de poderes? Há entre eles subordinação e autoridade?
“Muito grande. Os Espíritos têm uns sobre os outros a autoridade correspondente
ao grau de superioridade que hajam alcançado, autoridade que eles exercem por
um ascendente moral irresistível.”

a) – Podem os Espíritos inferiores subtrair-se à autoridade dos que lhes são


superiores?

“Eu disse: irresistível.”

O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos >
Capítulo VI - Da vida espírita > As relações no além-túmulo > 275
275. O poder e a consideração de que um homem gozou na Terra lhe dão
supremacia no mundo dos Espíritos?

“Não; pois que os pequenos serão elevados e os grandes rebaixados. Lê os


Salmos.”

a) – Como devemos entender essa elevação e esse rebaixamento?

“Não sabes que os Espíritos são de diferentes ordens, conforme seus méritos?
Pois bem, o maior da Terra pode pertencer à última categoria entre os Espíritos, ao
passo que o seu servo pode estar na primeira. Compreendes isto? Não disse
Jesus: Aquele que se humilhar será exalçado e aquele que se exalçar será
humilhado?”

Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1863 > Julho > Uma expiação terrestre -
Max, o mendigo

Pelo ano de 1850, morreu, numa aldeia da Baviera, um velho quase centenário,
conhecido como Pai Max. Ninguém sabia, ao certo, a sua origem, pois não tinha
família. Há quase meio século, abatido por enfermidades que o impossibilitavam
de ganhar a vida pelo trabalho, ele não tinha outro recurso senão a caridade
pública, que ele dissimulava indo vender nas fazendas e castelos, almanaques e
pequenos objetos.

Tinham-lhe dado o apelido de Conde Max, e as crianças só o chamavam de


Senhor Conde, com o que ele sorria sem ofender-se. Por que tal título? Ninguém
saberia dizer, pois já era hábito. Talvez fosse por causa da fisionomia e das
maneiras, cuja distinção contrastava com seus trapos.

Vários anos após sua morte, apareceu em sonho à filha do dono de um dos
castelos onde era hospedado na cavalariça, pois ele não tinha domicílio. Ele lhe
disse: “Obrigado por vos terdes lembrado do pobre Max em vossas preces, pois
foram ouvidas pelo Senhor. Desejais saber quem sou eu, alma caridosa que vos
interessastes pelo infeliz mendigo. Vou satisfazer-vos. Será para todos uma
grande instrução.”

Então fez o relato que segue, mais ou menos nestes termos:

“Há mais ou menos um século e meio eu era um rico e poderoso senhor desta
região, mas vão, orgulhoso e enfatuado de minha nobreza. Minha imensa fortuna
jamais serviu senão para os meus prazeres, e apenas bastava, porque eu era
jogador, debochado, e passava a vida em orgias. Meus vassalos, que julgava
criados para meu uso como animais de fazenda, eram oprimidos e maltratados
para contribuir para as minhas prodigalidades. Eu ficava surdo às suas
lamentações, como às de todos os infelizes e, em minha opinião, deviam sentir-se
muito honrados de servir aos meus caprichos.

“Morri em idade pouco avançada, esgotado pelos excessos, mas sem haver
experimentado nenhuma verdadeira desgraça. Ao contrário, tudo parecia sorrir-
me, de sorte que, aos olhos de todos, eu era um dos felizes do mundo. Minha
classe me valeu funerais suntuosos; os folgazões lamentaram em mim o faustoso
senhor, mas nenhuma lágrima caiu em minha sepultura; nenhuma prece de
coração subiu a Deus por mim, e minha memória foi maldita por todos aqueles
cuja miséria eu havia agravado. Ah! Como é terrível a maldição dos que tornamos
infelizes! Ela não cessou de retinir em meus ouvidos durante longos anos, que me
pareciam uma eternidade! E, à morte de cada uma de minhas vítimas, era uma
nova figura ameaçadora ou irônica que se erguia à minha frente e me perseguia
sem tréguas, sem que eu pudesse encontrar um recanto escuro para me subtrair à
sua vista. Nenhum olhar amigo! Meus antigos companheiros de deboche, infelizes
como eu, me fugiam e pareciam dizer com desdém: ‘Não podes mais pagar os
nossos prazeres.’ Oh! Como eu teria pago caro um instante de repouso, um copo
d’água para estancar a sede causticante que me devorava! Mas eu não possuía
mais nada e todo o ouro que havia semeado a mancheias na Terra não havia
produzido uma só bênção! Uma só, ouvis, minha filha!

“Por fim, abatido pela fadiga e esgotado como um viajante tresmalhado que não vê
o termo de sua rota, exclamei:

“─ Meu Deus! tende piedade de mim! Quando terminará esta horrível situação?

“Então uma voz, a primeira que eu ouvia desde que deixara a Terra, me disse:

“─ Quando quiseres.

“─ Que devo fazer, grande Deus? respondi. Dizei! Eu me submeto a tudo.


“─ É preciso que te arrependas; que te humilhes ante aqueles que humilhaste; que
lhes peças que intercedam por ti, porque a prece do ofendido que perdoa é
sempre agradável ao Senhor.

“Humilhei-me e pedi aos meus vassalos, meus servos que estavam ali à minha
frente, e cujos rostos, cada vez mais benevolentes, acabavam desaparecendo. Foi
então para mim como uma nova vida. A esperança substituiu o desespero e
agradeci a Deus com todas as forças de minha alma. A voz me disse então:

“─ Príncipe!

“E eu respondi:

“─ Aqui não há outro príncipe senão o Deus Todo-Poderoso, que humilha os


soberbos. Perdoai-me, Senhor, porque pequei; fazei de mim um servo de meus
servos, se tal for a vossa vontade.

“Alguns anos depois nasci de novo, mas dessa vez numa família de pobres
camponeses. Meus pais morreram deixando-me criança, e fiquei só no mundo,
sem apoio. Ganhei a vida como pude, ora como trabalhador, ora como criado de
fazenda, mas sempre honestamente, porque desta vez acreditava em Deus. Aos
quarenta anos, uma moléstia me tornou entrevado de todos os membros e tive que
mendigar por mais de cinquenta anos nas mesmas terras das quais tinha sido o
dono absoluto; receber um pedaço de pão nas fazendas que tinham sido minhas e
onde, por amarga ironia, me tinham apelidado Senhor Conde; sentir-me feliz,
muitas vezes, com um abrigo na escuderia do castelo que fora meu.

“Em meu sonho eu me comprazia em percorrer esse mesmo castelo onde


mandara como déspota. Quantas vezes, em meus sonhos, me revi em meio a
minha antiga fortuna! Essas visões me deixavam, ao despertar, um indefinível
sentimento de amargura e de pesar, mas nunca um lamento me escapou da boca,
e quando aprouve a Deus me chamar, eu o bendisse por ter-me dado coragem
para sofrer sem murmurar nessa longa e penosa prova, cuja recompensa hoje
recebo. E vós, minha filha, eu vos abençoo por haverdes orado por mim.

OBSERVAÇÃO: Recomendamos o caso aos que pretendem que os homens não


teriam mais freio se tivessem à frente o espantalho das penas eternas, e
perguntamos se a perspectiva de um castigo como o do Pai Max é menos apta
para estacar na via do mal do que as torturas sem fim, nas quais não mais
acreditam.

A HISTÓRIA DE UM EMPREGADO DOMESTICO


19. Que se deve pensar dos que, recebendo a ingratidão em paga de benefícios
que fizeram, deixam de praticar o bem para não topar com os ingratos?

Nesses, há mais egoísmo do que caridade, visto que fazer o bem, apenas para
receber demonstrações de reconhecimento, é não o fazer com desinteresse, e o
bem, feito desinteressadamente, é o único agradável a Deus. Há também orgulho,
porquanto os que assim procedem se comprazem na humildade com que o
beneficiado lhes vem depor aos pés o testemunho do seu reconhecimento. Aquele
que procura, na Terra, recompensa ao bem que pratica não a receberá no céu.
Deus, entretanto, terá em apreço aquele que não a busca no mundo.

Deveis sempre ajudar os fracos, embora sabendo de antemão que os a quem


fizerdes o bem não vo-lo agradecerão. Ficai certos de que, se aquele a quem
prestais um serviço o esquece, Deus o levará mais em conta do que se com a sua
gratidão o beneficiado vo-lo houvesse pago. Se Deus permite por vezes sejais
pagos com a ingratidão, é para experimentar a vossa perseverança em praticar o
bem.

E sabeis, porventura, se o benefício momentaneamente esquecido não produzirá


mais tarde bons frutos? Tende a certeza de que, ao contrário, é uma semente que
com o tempo germinará. Infelizmente, nunca vedes senão o presente; trabalhais
para vós e não pelos outros. Os benefícios acabam por abrandar os mais
empedernidos corações; podem ser olvidados neste mundo, mas, quando se
desembaraçar do seu envoltório carnal, o Espírito que os recebeu se lembrará
deles e essa lembrança será o seu castigo. Deplorará a sua ingratidão; desejará
reparar a falta, pagar a dívida noutra existência, não raro buscando uma vida de
dedicação ao seu benfeitor. Assim, sem o suspeitardes, tereis contribuído para o
seu adiantamento moral e vireis a reconhecer a exatidão desta máxima: um
benefício jamais se perde. Além disso, também por vós mesmos tereis trabalhado,
porquanto granjeareis o mérito de haver feito o bem desinteressadamente e sem
que as decepções vos desanimassem.

Ah! meus amigos, se conhecêsseis todos os laços que prendem a vossa vida atual
às vossas existências anteriores; se pudésseis apanhar num golpe de vista a
imensidade das relações que ligam uns aos outros os seres, para o efeito de um
progresso mútuo, admiraríeis muito mais a sabedoria e a bondade do Criador, que
vos concede reviver para chegardes a ele. – Guia protetor. (Sens, 1862.)

O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo XIII - Não saiba a vossa mão esquerda o
que dê a vossa mão direita > Instruções dos Espíritos > Os órfãos

18. Meus irmãos, amai os órfãos. Se soubésseis quanto é triste ser só e


abandonado, sobretudo na infância! Deus permite que haja órfãos, para exortar-
nos a servir-lhes de pais. Que divina caridade amparar uma pobre criaturinha
abandonada, evitar que sofra fome e frio, dirigir-lhe a alma, a fim de que não
desgarre para o vício! Agrada a Deus quem estende a mão a uma criança
abandonada, porque compreende e pratica a sua lei. Ponderai também que muitas
vezes a criança que socorreis vos foi cara noutra encarnação, caso em que, se
pudésseis lembrar-vos, já não estaríeis praticando a caridade, mas cumprindo um
dever. Assim, pois, meus amigos, todo sofredor é vosso irmão e tem direito à
vossa caridade; não, porém, a essa caridade que magoa o coração, não a essa
esmola que queima a mão em que cai, pois freqüentemente bem amargos são os
vossos óbolos! Quantas vezes seriam eles recusados, se na choupana a
enfermidade e a miséria não os estivessem esperando! Dai delicadamente, juntai
ao benefício que fizerdes o mais precioso de todos os benefícios: o de uma boa
palavra, de uma carícia, de um sorriso amistoso. Evitai esse ar de proteção,que
equivale a revolver a lâmina no coração que sangra e considerai que, fazendo o
bem, trabalhais por vós mesmos e pelos vossos. – Um Espírito familiar. (Paris,
1860.)

Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1863 > Janeiro > Os servos - História de
um criado

O caso descrito em nosso número de dezembro último, sob o título O tugúrio e o


salão, lembra-nos outro, um tanto pessoal. Numa viagem feita há dois anos,
vimos, numa família da alta sociedade, um jovem criado, cujo rosto fino e
inteligente nos chamou a atenção pelo ar de distinção. Nada, em suas maneiras,
denotava inferioridade. Sua dedicação ao serviço dos amos não tinha essa
obsequiosidade servil própria da gente de tal condição. Voltando àquela família no
ano seguinte, não mais vimos o rapaz e perguntamos se fora despedido. “Não”,
disseram-me, “ele foi passar uns dias em sua terra e morreu. Lamentamos muito,
pois era um excelente empregado e tinha sentimentos realmente acima de sua
posição. Era-nos muito dedicado e nos deu provas do maior devotamento.” Mais
tarde veio-nos a ideia de evocá-lo. Eis o que ele nos disse:

1. ─ Em minha penúltima encarnação eu era, como se diz na Terra, de boa família,


arruinada pela prodigalidade de meu pai. Muito cedo fiquei órfão e sem recursos.
O Sr. de G... foi meu benfeitor. Educou-me como filho e deu-me uma boa
educação, que me encheu de vaidade. Na última existência eu quis expiar meu
orgulho, nascendo em condição servil e tive ocasião de provar minha dedicação ao
meu benfeitor. Até lhe salvei a vida, sem que ele o tivesse notado. Era ao mesmo
tempo uma prova, da qual tirei proveito, pois tive bastante força para não me
corromper no contacto com um meio geralmente vicioso. A despeito dos maus
exemplos, fiquei puro, pelo que dou graças a Deus por ter sido recompensado com
a felicidade de que desfruto.
2. ─ Em que condições você salvou a vida do Sr. de G...? ─ Num passeio a cavalo,
em que só eu o seguia, percebi uma grande árvore que caía ao seu lado, sem que
ele a visse. Chamei-o, com um grito terrível. Ele voltou-se bruscamente, enquanto
a árvore caía aos seus pés. Sem o movimento que provoquei, ele teria sido
esmagado.

NOTA: Ao ser relatado o fato ao Sr. de G..., ele lembrou-se perfeitamente.


3. ─ Por que você morreu tão jovem? ─ Deus tinha julgado minha prova
suficiente.
4. ─ Como você pôde tirar proveito da prova, se não tinha lembrança da vida
anterior e da causa que a motivara? ─ Em minha humilde posição, restava-me o
instinto do orgulho, que tive a sorte de dominar. Isto tornou a prova proveitosa,
sem o que eu teria de recomeçá-la. Em seus momentos de liberdade, o meu
Espírito se recordava e, ao despertar, ficava-me um desejo intuitivo de resistir às
tendências, que sentia serem más. Tive mais mérito na luta do que se me
lembrasse do passado. A lembrança de minha antiga posição teria exaltado o meu
orgulho, perturbando-me, ao passo que tive que lutar apenas contra o
arrastamento da nova posição.
5. ─ Você havia recebido uma educação brilhante. De que isto lhe serviu na última
existência, já que você não se recordava dos conhecimentos que havia adquirido?
─ Esses conhecimentos teriam sido inúteis, e até mesmo um contra-senso, em
minha nova situação. Ficaram latentes, e hoje eu os reencontro. Contudo, não me
foram inúteis, pois desenvolveram minha inteligência. Instintivamente eu tinha
gosto pelas coisas elevadas, o que me inspirava repulsa pelos exemplos baixos e
ignóbeis que tinha sob meus olhos. Sem tal educação eu teria sido um simples
criado.
6. ─ Os exemplos de servidores dedicados a seus amos até à abnegação, têm por
causa vínculos anteriores? ─ Sem dúvida. É pelo menos o caso mais comum. Por
vezes tais criados são membros da própria família ou, como eu, devedores que
pagam uma dívida de reconhecimento e cujo devotamento lhes ajuda a progredir.
Não sabeis de todos os efeitos das simpatias e antipatias que essas relações
anteriores produzem no mundo. Não! A morte não interrompe tais relações, que se
perpetuam, às vezes, de um a outro século.
7. ─ Por que tais exemplos de devotamento dos servos são hoje tão raros? ─ Sua
causa é o espírito de egoísmo e de orgulho do vosso século, desenvolvido pela
incredulidade e pelas ideias materialistas. A verdadeira fé é destruída pela cupidez
e pelo desejo de ganho, e com ela os devotamentos. Trazendo os homens para o
sentimento do verdadeiro, o Espiritismo fará renascer as virtudes esquecidas.

NOTA: Nada pode melhor que este exemplo ressaltar os benefícios do


esquecimento das vidas anteriores. Se o Sr. de G... se tivesse recordado quem
tinha sido seu jovem criado, ficaria muito constrangido e não o teria conservado
naquela condição. Assim, teria entravado a prova que para ambos foi proveitosa.
O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos >
Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Letargia, catalepsia, mortes aparentes

422. Os letárgicos e os catalépticos, em geral, veem e ouvem o que se passa ao


redor, sem que possam exprimir que estão vendo e ouvindo. É pelos olhos e pelos
ouvidos que têm essas percepções?

“Não; pelo Espírito. O Espírito tem consciência de si, mas não pode comunicar-se.”

a) – Por quê?

“Porque a isso se opõe o estado do corpo. Esse estado especial dos órgãos vos
prova que no homem há alguma coisa mais do que o corpo, pois que, então, o
corpo já não funciona e, no entanto, o Espírito continua ativo.”

423. Na letargia, pode o Espírito separar-se inteiramente do corpo, de modo a


imprimir-lhe todas as aparências da morte e voltar depois a habitá-lo?

“Na letargia, o corpo não está morto, porquanto há funções que continuam a
executar-se. Sua vitalidade se encontra em estado latente, como na crisálida,
porém não aniquilada. Ora, enquanto o corpo vive, o Espírito se lhe acha ligado.
Em se rompendo, por efeito da morte real e pela desagregação dos órgãos, os
laços que prendem um ao outro, integral se torna a separação e o Espírito não
volta mais ao seu envoltório. Quando um homem aparentemente morto volve à
vida, é que não era completa a morte.”

424. Por meio de cuidados dispensados a tempo, podem reatar-se laços prestes a
se desfazerem, restituindo-se à vida um ser que definitivamente morreria se não
fosse socorrido?

“Sem dúvida e todos os dias tendes a prova disso. O magnetismo, em tais casos,
constitui, muitas vezes, poderoso meio de ação, porque restitui ao corpo o fluido
vital que lhe falta para manter o funcionamento dos órgãos.”

A letargia e a catalepsia derivam do mesmo princípio, que é a perda temporária da


sensibilidade e do movimento, por uma causa fisiológica ainda não explicada.
Diferem uma da outra em que, na letargia, a suspensão das forças vitais é geral e
dá ao corpo todas as aparências da morte; na catalepsia, fica localizada, podendo
atingir uma parte mais ou menos extensa do corpo, de sorte a permitir que a
inteligência se manifeste livremente, o que a torna inconfundível com a morte. A
letargia é sempre natural; a catalepsia é por vezes espontânea, mas pode ser
provocada e anulada artificialmente pela ação magnética.
O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos >
Capítulo VIII - Da emancipação da alma > Letargia, catalepsia, mortes aparentes > 423

423. Na letargia, pode o Espírito separar-se inteiramente do corpo, de modo a


imprimir-lhe todas as aparências da morte e voltar depois a habitá-lo?

“Na letargia, o corpo não está morto, porquanto há funções que continuam a
executar-se. Sua vitalidade se encontra em estado latente, como na crisálida,
porém não aniquilada. Ora, enquanto o corpo vive, o Espírito se lhe acha ligado.
Em se rompendo, por efeito da morte real e pela desagregação dos órgãos, os
laços que prendem um ao outro, integral se torna a separação e o Espírito não
volta mais ao seu envoltório. Quando um homem aparentemente morto volve à
vida, é que não era completa a morte.”,

Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1861 > Setembro > Palestras familiares
de além-túmulo
A pena de Talião
(Sociedade, 9 de agosto de 1861. Médium: Sr. D'Ambel)

Um correspondente da Sociedade lhe envia a nota seguinte:

“O Sr. Antonio B..., um de meus parentes, escritor de mérito, estimado por seus
concidadãos, tendo desempenhado com distinção e integridade funções públicas
na Lombardia, há cerca de seis anos e em consequência de uma apoplexia, caiu
num estado de morte aparente que, infelizmente, e como por vezes acontece, foi
tomado como de morte real. O erro era muito mais fácil por julgaram perceber no
corpo sinais de decomposição. Quinze dias após o enterro, uma circunstância
fortuita levou a família a pedir a exumação. Tratava-se de um medalhão esquecido
no caixão por descuido. Grande, porém, foi o estupor dos assistentes quando, ao
abri-lo, reconheceu-se que o corpo tinha mudado de posição; tinha-se virado e,
coisa horrível, uma das mãos fora parcialmente comida pelo defunto. Ficou, então,
manifesto que o infeliz Antonio B... tinha sido enterrado vivo; devia ter sucumbido
nas garras do desespero e da fome. Seja como for, deste triste acontecimento e de
suas consequências morais não seria interessante, do ponto de vista espírita e
psicológico, fazer um inquérito no mundo dos Espíritos?”

1. (Evocação de Antonio B...) ─ Que quereis de mim?

2. ─ Um de vossos parentes pediu-nos que vos evocássemos. Fazemo-lo com


prazer, e sentir-nos-emos felizes se tiverdes a bondade de responder. ─ Sim,
quero mesmo responder.
3. ─ Lembrai-vos das circunstâncias de vossa morte? ─ Ah! Claro que sim.
Lembro-me. Por que despertar essa lembrança de castigo?

4. ─ É certo que fostes por descuido enterrado vivo? ─ Assim deveria ser, porque a
morte aparente teve todas as características de morte real. Eu estava quase
exangue. Não se deve atribuir a ninguém um fato previsto desde antes de meu
nascimento.

5. ─ Se estas perguntas são de molde a vos causar sofrimento, devemos parar? ─


Não, continuai.

6. ─ Queríamos saber-vos feliz, pois deixastes a reputação de um homem


decente. ─ Muito agradecido. Sei que orareis por mim. Tratarei de responder, mas
se fracassar, um de vossos guias habituais me substituirá.

7. ─ Poderíeis descrever as sensações que experimentastes naquele terrível


momento? ─ Oh! Que prova dolorosa! Sentir-se fechado entre quatro tábuas, de
modo a não poder mover-me, nem mudar! Não poder chamar, a voz não
ressoando num meio privado de ar. Oh! Que tortura a de um infeliz que em vão se
esforça para respirar numa atmosfera insuficiente e desprovida de elemento
respirável! Ah! Eu era como um condenado à garganta de um forno, exceto ao
calor. Oh! A ninguém desejo semelhantes torturas! Não, a ninguém desejo um fim
como o meu. Cruel punição de uma existência cruel e feroz! Não me pergunteis
em que eu pensava. Eu mergulhava no passado e vagamente entrevia o futuro.

8. ─ Dizeis cruel punição de uma existência feroz, mas vossa reputação, até agora
intacta, nada deixava supor tal situação. Podeis explicar isto? ─ Que é a duração
de uma existência na eternidade? Por certo, tratei de agir bem na última
encarnação, mas este fim tinha sido aceito por mim antes de voltar à Humanidade.
Ah! Por que me interrogar sobre esse passado doloroso, que só eu conhecia, além
dos Espíritos, ministros do Onipotente? Sabei, pois, já que é necessário dizer, que
numa existência anterior eu havia emparedado viva uma mulher, a minha, num
jazigo! Foi a pena de talião que tive de aplicar a mim! Olho por olho, dente por
dente.

9. ─ Agradecemos a bondade de haver respondido às nossas perguntas e


rogamos a Deus vos perdoe o passado em favor do mérito de vossa última
existência. ─ Voltarei mais tarde. Aliás, o Espírito Erasto terá a bondade de
completar.
REFLEXÕES DE LAMENNAIS SOBRE ESTA EVOCAÇÃO
Deus é bom! Mas, para chegar ao aperfeiçoamento, deve o homem sofrer as
provas mais cruéis. Este infeliz viveu vários séculos durante sua desesperada
agonia e, embora sua vida tenha sido honrada, esta prova deveria cumprir-se, pois
a tinha escolhido.
REFLEXÕES DE ERASTO
O que deveis extrair deste ensino é que todas as vossas existências se ligam, e
que nenhuma é independente das outras. As preocupações, os aborrecimentos,
como as grandes dores que ferem os homens, são sempre as consequências de
uma vida anterior, criminosa ou mal empregada. Contudo, devo dizer-vos que fins
semelhantes ao de Antonio B... são raros, e se esse homem, cuja última existência
foi isenta de censura, terminou desta maneira, é que ele próprio havia solicitado
esse gênero de morte, a fim de abreviar o tempo de sua erraticidade e mais
rapidamente atingir as esferas elevadas. Com efeito, após um período de
perturbação e sofrimento moral para expiar ainda o seu crime espantoso, será
perdoado e elevar-se-á a um mundo melhor, onde encontrará sua vítima, que o
espera e que há muito o perdoou. Sabei, pois, tirar vosso proveito deste exemplo
cruel, para suportar com paciência, ó meus caros espíritas, os sofrimentos
corporais, os sofrimentos morais, e todas as pequenas misérias da vida.

P. ─ Que proveito pode tirar a Humanidade de semelhantes punições?

R. ─ Os castigos não são feitos para desenvolver a Humanidade, mas para


castigar o indivíduo culpado. Com efeito, a Humanidade não tem nenhum
interesse em ver sofrer um dos seus. Aqui a punição foi apropriada à falta. Por que
os loucos? Por que os cretinos? Por que os paralíticos? Por que esses que
morrem no fogo? Por que os que vivem anos nas torturas de uma longa agonia,
sem poder viver nem morrer? Ah! Crede-me! Respeitai a vontade soberana e não
busqueis sondar a razão dos desígnios providenciais. Sabei que Deus é justo e faz
bem o que faz.

ERASTO

OBSERVAÇÃO: Não há neste fato um grande e terrível ensinamento? Assim a


justiça de Deus atinge sempre o culpado, e por ser às vezes tardia, nem por isso
deixa de seguir o seu curso. Não é eminentemente moral saber que se grandes
culpados terminam a existência pacificamente, e muitas vezes na abundância dos
bens terrenos, mais cedo ou mais tarde soará a hora da expiação? Penas de tal
natureza se compreendem, não só porque de certo modo estão sob os nossos
olhos, mas porque são lógicas. A gente crê nisto porque a razão o admite. Ora,
perguntamos se esse quadro que o Espiritismo desenrola a cada instante aos
nossos olhos, não é mais próprio para impressionar, para reter à beira do abismo,
do que o medo das chamas eternas em que não acreditamos. Releiamos apenas
as evocações publicadas nesta Revista e veremos que não há um só vício que
não tenha o seu castigo, nem uma só virtude que não tenha sua recompensa,
proporcionados ao mérito ou ao grau de culpabilidade, porque Deus leva em conta
todas as circunstâncias que possam atenuar o mal ou aumentar o prêmio do bem.
LETIL

O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos
Espíritos > Capítulo VII - Da volta do Espírito à vida corporal > Idiotismo,
loucura

371. Tem algum fundamento o pretender-se que a alma dos cretinos e dos
idiotas é de natureza inferior?

“Nenhum. Eles trazem almas humanas, não raro mais inteligentes do que
supondes, mas que sofrem da insuficiência dos meios de que dispõem para
se comunicar, da mesma forma que o mudo sofre da impossibilidade de
falar.”

372. Que objetivo visa a Providência criando seres desgraçados, como os


cretinos e os idiotas?

“Os que habitam corpos de idiotas são Espíritos sujeitos a uma punição.
Sofrem por efeito do constrangimento que experimentam e da
impossibilidade em que estão de se manifestarem mediante órgãos não
desenvolvidos ou desmantelados.”

a) – Não há, pois, fundamento para dizer-se que os órgãos nada influem
sobre as faculdades?

“Nunca dissemos que os órgãos não têm influência. Têm-na muito grande
sobre a manifestação das faculdades, mas não são eles a origem destas. Aí
está a diferença. Um músico excelente, com um instrumento defeituoso, não
dará a ouvir boa música, o que não fará que deixe de ser bom músico.”

Importa se distinga o estado normal do estado patológico. No primeiro, o


moral vence os obstáculos que a matéria lhe opõe. Há, porém, casos em que
a matéria oferece tal resistência que as manifestações anímicas ficam
obstadas ou desnaturadas, como nos de idiotismo e de loucura. São casos
patológicos e, não gozando nesse estado a alma de toda a sua liberdade, a
própria lei humana a isenta da responsabilidade de seus atos.

373. Qual será o mérito da existência de seres que, como os cretinos e os


idiotas, não podendo fazer o bem nem o mal, se acham incapacitados de
progredir?

“É uma expiação decorrente do abuso que fizeram de certas faculdades. É


um estacionamento temporário.”
a) – Pode assim o corpo de um idiota conter um Espírito que tenha animado
um homem de gênio em precedente existência?

“Certo. A genialidade se torna por vezes um flagelo, quando dela abusa o


homem.”

A superioridade moral nem sempre guarda proporção com a superioridade


intelectual e os grandes gênios podem ter muito que expiar. Daí,
frequentemente, lhes resulta uma existência inferior à que tiveram e uma
causa de sofrimentos. Os embaraços que o Espírito encontra para suas
manifestações se lhe assemelham às algemas que tolhem os movimentos a
um homem vigoroso. Pode dizer-se que os cretinos e os idiotas são
estropiados do cérebro, como o coxo o é das pernas e dos olhos o cego.

374. Na condição de Espírito livre, tem o idiota consciência do seu estado


mental?

“Frequentemente tem. Compreende que as cadeias que lhe obstam ao voo


são prova e expiação.”

375. Qual, na loucura, a situação do Espírito?

“O Espírito, quando em liberdade, recebe diretamente suas impressões e


diretamente exerce sua ação sobre a matéria. Encarnado, porém, ele se
encontra em condições muito diversas e na contingência de só o fazer com o
auxílio de órgãos especiais. Altere-se uma parte ou o conjunto de tais órgãos
e eis que se lhe interrompem, no que destes dependam, a ação ou as
impressões. Se perde os olhos, fica cego; se o ouvido, torna-se surdo, etc.
Imagina agora que seja o órgão que preside às manifestações da inteligência
o atacado ou modificado, parcial ou inteiramente, e fácil te será compreender
que, só tendo o Espírito a seu serviço órgãos incompletos ou alterados, uma
perturbação resultará de que ele, por si mesmo e no seu foro íntimo, tem
perfeita consciência, mas cujo curso não lhe está nas mãos deter.”

a) – Então o desorganizado é sempre o corpo, e não o Espírito?

“Sim; mas, convém não perder de vista que, assim como o Espírito atua
sobre a matéria, também esta reage sobre ele, dentro de certos limites, e que
pode acontecer impressionar-se o Espírito temporariamente com a alteração
dos órgãos pelos quais se manifesta e recebe as impressões. Pode mesmo
suceder que, com a continuação, durando longo tempo a loucura, a repetição
dos mesmos atos acabe por exercer sobre o Espírito uma influência, de que
ele não se libertará senão depois de se haver desligado de toda impressão
material.”
376. Por que razão a loucura leva o homem algumas vezes ao suicídio?

“O Espírito sofre pelo constrangimento em que se acha e pela


impossibilidade em que se vê de manifestar-se livremente; por isso procura
na morte um meio de quebrar seus grilhões.”

377. Depois da morte o Espírito do alienado se ressente do desarranjo de


suas faculdades?

“Pode ressentir-se, durante algum tempo após a morte, até que se desligue
completamente da matéria, como o homem que desperta se ressente, por
algum tempo, da perturbação em que o lançara o sono”.

378. De que modo a alteração do cérebro reage sobre o Espírito depois da


morte?

“Como uma recordação. Um peso oprime o Espírito e, como ele não teve a
compreensão de tudo o que se passou durante a sua loucura, sempre se faz
mister um certo tempo, a fim de se pôr ao corrente de tudo. Por isso é que,
quanto mais durar a loucura no curso da vida terrena, tanto mais lhe durará a
perturbação, o constrangimento, depois da morte. Liberto do corpo, o
Espírito se ressente, por certo tempo, da impressão dos laços que àquele o
prendiam.”

O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos
Espíritos > Capítulo VII - Da volta do Espírito à vida corporal > Prelúdio da
volta > 337

337. Pode a união do Espírito a determinado corpo ser imposta por Deus?

“Pode, do mesmo modo que as diferentes provas, mormente quando ainda o


Espírito não está apto a proceder a uma escolha com conhecimento de
causa. Por expiação, pode o Espírito ser constrangido a se unir ao corpo de
determinada criança que, pelo seu nascimento e pela posição que venha a
ocupar no mundo, se lhe torne instrumento de castigo.”

Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1860 > Julho > A


frenologia e a fisiognomia

A frenologia é a ciência que trata das funções atribuídas a cada parte do


cérebro. O Dr. Gall, fundador dessa ciência, pensava que, desde que o
cérebro é o ponto onde terminam todas as sensações, e de onde partem
todas as manifestações das faculdades intelectuais e morais, cada uma das
faculdades primitivas deveria ter ali o seu órgão especial. Assim, seu sistema
consiste na localização das faculdades.
Como o desenvolvimento da caixa óssea é determinado pelo
desenvolvimento de cada parte cerebral, produzindo protuberâncias,
concluiu ele que do exame dessas protuberâncias poder-se-ia deduzir a
predominância de tal ou qual faculdade e, daí, o caráter ou as aptidões do
indivíduo. Daí, também, o nome de cranioscopia dado a essa ciência, com a
diferença de que a frenologia tem por objeto tudo o que concerne às
atribuições do cérebro, ao passo que a cranioscopia se limita às induções
tiradas da inspeção do crânio. Numa palavra, Gall fez, a respeito do crânio e
do cérebro, o que Lavater fez para os traços fisionômicos.
Não vamos aqui discutir o mérito dessa ciência, nem examinar se é
verdadeira ou exagerada em todas as suas consequências. Mas ela foi,
alternadamente, defendida e criticada por homens de alto valor científico. Se
certos detalhes ainda são hipotéticos, nem por isso deixa de repousar sobre
um princípio incontestável, o das funções gerais do cérebro, e sobre as
relações existentes entre o desenvolvimento ou a atrofia desse órgão e as
manifestações intelectuais. O nosso propósito é o estudo das suas
consequências psicológicas.
Das relações existentes entre o desenvolvimento do cérebro e a
manifestação de certas faculdades, concluíram alguns cientistas que os
órgãos do cérebro são a própria fonte das faculdades, doutrina que não
passa de materialismo, porque tende para a negação do princípio inteligente,
estranho à matéria. Consequentemente, ela faz do homem uma máquina sem
livre-arbítrio e sem responsabilidade por seus atos, pois sempre poderia
atribuir os seus erros à sua organização e seria injustiça puni-lo por faltas
que não teriam dependido dele. Ficamos, com razão, abalados pelas
consequências de semelhante teoria. Devia-se, por isso, proscrever a
frenologia?
Não, mas examinar o que nela poderia existir de verdadeiro ou de falso na
maneira de encarar os fatos. Ora, esse exame prova que as atribuições do
cérebro em geral e mesmo a localização das faculdades, podem conciliar-se
perfeitamente com o espiritualismo mais severo, que encontraria nisso a
explicação de certos fatos.
Admitamos, por um instante, a título de hipótese, a existência de um órgão
especial para o instinto musical. Suponhamos, além disso, como nos ensina
a Doutrina Espírita, que um Espírito, cuja existência é muito anterior ao seu
corpo, se encarne com a faculdade musical muito desenvolvida. Essa
faculdade influirá naturalmente sobre o órgão correspondente, e impelirá o
seu desenvolvimento, como o exercício de um membro aumenta o volume
dos músculos. Na infância, como o sistema ósseo oferece pouca resistência,
o crânio sofre a influência do movimento expansivo da massa cerebral.
Assim, o desenvolvimento do crânio é produzido pelo desenvolvimento do
cérebro, como o desenvolvimento do cérebro é produzido pelo de sua
faculdade. A faculdade é a causa primeira; o estado do cérebro é um efeito
consecutivo. Sem a faculdade não existiria o órgão, ou ele seria apenas
rudimentar.
Encarada sob este ponto de vista, como se vê, nada tem a frenologia de
contrário à moral, porque deixa ao homem toda a sua responsabilidade, e
acrescentamos que esta teoria é, ao mesmo tempo, conforme à lógica e à
observação dos fatos.
Objetam com os casos conhecidos, nos quais a influência do organismo
sobre a manifestação das faculdades é incontestável, como os da loucura e
da idiotia, mas é fácil resolver o problema. Diariamente veem-se homens
muito inteligentes tornarem-se loucos. O que isto prova? Um homem muito
forte pode quebrar uma perna e não poderá mais andar. Ora, a vontade de
andar não está na perna, mas no cérebro. Essa vontade só é paralisada pela
impossibilidade de mover a perna. No louco, o órgão que servia às
manifestações do pensamento, uma vez desarranjado por uma causa física
qualquer, o pensamento não pode manifestar-se de maneira regular. Ele vaga
a torto e a direito, fazendo o que chamamos extravagâncias. Nem por isso
deixa de existir em sua integridade, e a prova está em que, se o órgão for
restabelecido, volta o anterior pensamento, assim como o movimento da
perna que se restabelece. Assim, o pensamento não está no cérebro, como
não está na caixa craniana. O cérebro é o instrumento do pensamento, como
o olho é o instrumento da visão, e o crânio é a superfície sólida que se molda
aos movimentos do instrumento.
Se o instrumento for deteriorado, não se dá a manifestação, exatamente
como, quando se perdeu um olho, não mais se pode ver.
Às vezes, entretanto, acontece que a suspensão da livre manifestação do
pensamento não é devida a uma causa acidental, como na loucura a
constituição primitiva dos órgãos pode oferecer ao Espírito, desde o
nascimento, um obstáculo do qual sua atividade não pode triunfar. É o que
ocorre quando os órgãos são atrofiados, ou apresentam uma resistência
insuperável. Tal é o caso da idiotia. O Espírito está como que aprisionado e
sofre essa constrição, mas nem por isso deixa de pensar como Espírito, do
mesmo modo que um prisioneiro atrás das grades. O estudo das
manifestações do Espírito de pessoas vivas, pela evocação, lança uma
grande luz sobre os fenômenos psicológicos. Isolando o Espírito da matéria,
provase pelos fatos que os órgãos não são a causa das faculdades, mas
simples instrumentos, com o auxílio dos quais as faculdades se manifestam
com maior ou menor liberdade ou precisão; que muitas vezes eles são como
abafadores que amortecem as manifestações, o que explica a maior
liberdade do Espírito quando desprendido da matéria.
No conceito materialista, o que é um idiota? Nada. Quando muito, é um ser
humano. Conforme a Doutrina Espírita é um ser dotado de razão, como todo
mundo, mas enfermo de nascença pelo cérebro, como outros o são pelos
membros.
Reabilitando-o, esta doutrina não é mais moral, mais humana do que aquela
que dele faz um ser de refugo? Não é mais consolador para um pai, que tem
a infelicidade de ter um tal filho, pensar que esse envoltório imperfeito
encerra uma alma que pensa?
Aos que, sem serem materialistas, não admitem a pluralidade das
existências, perguntaremos: O que é a alma do idiota? Se a alma é formada
ao mesmo tempo que o corpo, por que cria Deus seres assim desgraçados?
Qual será o seu futuro? Ao contrário, admiti uma sucessão de existências e
tudo se explica conforme a justiça: a idiotia pode ser uma punição ou uma
prova e, em todo o caso, não passa de incidente na vida do Espírito. Isto não
é maior, mais digno da justiça de Deus, do que supor que Deus tenha criado
um ser eternamente malogrado?
Agora lancemos as vistas para a fisiognomonia. Esta ciência é baseada no
princípio incontestável de que é o pensamento que põe os órgãos em ação,
que imprime certos movimentos aos músculos. Daí se segue que estudando
as relações entre os movimentos aparentes e o pensamento, daqueles
movimentos que não se vêem, pode-se deduzir o pensamento, que não se
vê. É assim que não nos enganaremos quanto à intenção de quem faz um
gesto agressivo ou amigo; que distinguimos, pela maneira de andar, um
homem apressado do que não o é. De todos os músculos, os mais móveis
são os da face. Ali se refletem muitas vezes até as mais delicadas nuanças
do pensamento. É por isso que, com razão, se diz que o rosto é o espelho da
alma. Pela frequência de certas sensações, os músculos adquirem o hábito
dos movimentos correspondentes e acabam formando a ruga. A forma
exterior se modifica, assim, pelas impressões da alma, de onde se segue que
dessa forma, por vezes se podem deduzir essas impressões, como do gesto
pode deduzir-se o pensamento. Tal é o princípio geral da arte, ou, se se
quiser, da ciência fisiognomônica. Este princípio é verdadeiro. Ele não só se
apoia sobre base racional, mas é confirmado pela observação, e Lavater tem
a glória, se não de havê-lo descoberto, ao menos de tê-lo desenvolvido e
formulado em corpo de doutrina.
Infelizmente, Lavater caiu no erro comum à maior parte dos autores de
sistemas. É que, de um princípio verdadeiro, sob certos aspectos, eles
concluem por uma aplicação universal e, em seu entusiasmo por terem
descoberto uma verdade, vêemna em tudo. Eis aí o exagero e, por vezes, o
ridículo. Não vamos aqui examinar o sistema de Lavater em detalhe. Diremos
apenas que tanto é ele coerente ao remontar do físico ao moral por certos
sinais exteriores, quanto é ilógico ao atribuir um sentido qualquer às formas
ou sinais sobre os quais o pensamento não pode ter qualquer ação. É a falsa
aplicação de um princípio verdadeiro que muitas vezes o relegou ao plano
das crenças supersticiosas, e que leva a confundir na mesma reprovação os
que veem certo e os que exageram.
Digamos, entretanto, para ser justo, que muitas vezes a falta é menos do
mestre que dos discípulos que, em sua admiração fanática e irrefletida, por
vezes levam as consequências de um princípio para além dos limites do
possível.
Se examinarmos agora esta ciência nas suas relações com o Espiritismo,
teremos que combater várias induções errôneas que dela poderiam ser
tiradas. Entre as relações fisiognomônicas, uma há, sobretudo, sobre a qual
a imaginação muitas vezes se exerceu. É a semelhança de algumas pessoas
com certos animais.
Procuremos, então, buscar a causa.
A semelhança física resulta, entre os parentes, da consanguinidade que
transmite, de um a outro, partículas orgânicas semelhantes, porque o corpo
procede do corpo. Mas não poderia vir à mente de ninguém supor que aquele
que se parece com um gato, por exemplo, tenha nas veias sangue de gato.
Há, pois, uma outra causa. Para começar, pode ser fortuita e sem qualquer
significação, o que é o caso mais comum. Contudo, além da semelhança
física, por vezes se nota uma certa analogia de inclinações. Isto poderia
explicar-se pela mesma causa que modifica os traços fisionômicos. Se um
Espírito ainda atrasado conserva alguns dos instintos animais, seu caráter,
como homem, terá esses traços e as paixões que o agitam poderão dar a
esses traços algo que lembra vagamente os do animal cujos instintos
possui. Mas esses traços se apagam à medida que o Espírito se depura e
que o homem avança na via da perfeição.
Aqui seria o Espírito a imprimir o cunho à fisionomia; mas da similitude dos
instintos seria absurdo concluir que o homem que tem os do gato, possa ser
a encarnação do Espírito de um gato. Longe de ensinar tal teoria, o
Espiritismo sempre demonstrou o seu ridículo e a sua impossibilidade. É
certo que se nota uma gradação contínua na série animal; mas entre o
animal e o homem há uma solução de continuidade. Ora, mesmo admitindo,
o que é apenas um sistema, que o Espírito haja passado por todos os graus
da escala animal, antes de chegar ao homem, haveria sempre, de um ao
outro, uma interrupção que não existiria se o Espírito do animal pudesse
encarnar-se diretamente no corpo do homem. Se assim fosse, entre os
Espíritos errantes haveria os de animais, como há Espíritos humanos, o que
não se dá.
Sem entrar no exame aprofundado desta questão, que discutiremos mais
tarde, dizemos, segundo os Espíritos, que nisto estão de acordo com a
observação dos fatos, que nenhum homem é a encarnação do espírito de um
animal. Os instintos animais do homem se devem à imperfeição do próprio
Espírito ainda não depurado e que, sob a influência da matéria, dá
preponderância às necessidades físicas sobre as morais e sobre o senso
moral ainda não desenvolvido suficientemente. Sendo as mesmas as
necessidades físicas no homem e no animal, necessariamente resulta que,
até o senso moral estabelecer um contrapeso, pode haver entre eles uma
certa analogia de instintos, mas aí estaca a paridade. O senso moral que não
existe num, e que no outro está em germe e cresce incessantemente,
estabelece entre eles uma verdadeira linha de demarcação.
Outra indução não menos errônea é tirada do princípio da pluralidade das
existências. Da sua semelhança com certas pessoas, alguns concluem que
podem ter sido tais pessoas. Ora, do que precede, fácil é demonstrar que aí
existe apenas uma ideia quimérica. Como dissemos, as relações
consanguíneas podem produzir uma similitude de formas, mas este não é o
caso, pois Esopo pode ter sido mais tarde um homem bonito e Sócrates um
belo rapaz. Assim, quando não há filiação corpórea, só haverá uma
semelhança fortuita, pois não há qualquer necessidade do Espírito habitar
corpos parecidos e, ao tomar um novo corpo, não traz qualquer parcela do
antigo. Entretanto, conforme o que dissemos acima quanto ao caráter que as
paixões podem imprimir aos traços, poder-se-ia pensar que, se um Espírito
não progrediu sensivelmente e volta com as mesmas inclinações, poderá
trazer no rosto identidade de expressão. Isto é exato, mas seria no máximo
um ar de família, e daí a uma semelhança real há muita distância. Aliás, este
caso deve ser excepcional, pois é raro que o Espírito não venha em nova
existência com disposições sensivelmente modificadas. Assim, dos sinais
fisiognomônicos não é possível, absolutamente, tirar qualquer indício das
existências anteriores. Não se pode encontrá-las senão no caráter moral, nas
ideias instintivas e intuitivas, nas inclinações inatas, nas que não resultam
da educação, assim como na natureza das expiações enfrentadas. E ainda
isto não poderia indicar senão o gênero de existência, o caráter que se
deveria ter, levando em conta o progresso, mas não a individualidade. (Ver o
Livro dos Espíritos, n.0 216 e 217).

Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1860 > Junho > O Espírito
de um idiota

Charles de Saint-G..., é um jovem idiota de treze anos, vivo, e cujas


faculdades intelectuais são de uma tal nulidade que nem conhece os pais e
apenas pode alimentar-se. Há nele uma parada completa do desenvolvimento
em todo o sistema orgânico.
Pensou-se que poderia ser assunto interessante de estudo psicológico.
1. (A São Luís) ─ Poderíeis dizer-nos se podemos evocar o Espírito dessa
criança?
─ Podeis evocá-lo como se fosse um morto.
2. ─ Vossa resposta faz-nos supor que a evocação poderia ser feita em
qualquer momento.
─ Sim. Sua alma se liga ao corpo por laços materiais, mas não por laços
espirituais. Ela pode sempre desprender-se.
3. Evocação de Ch. de Saint-G...
─ Sou um pobre Espírito ligado à terra, como uma ave por um pé.
4. ─ Em vosso estado atual, como Espírito, tendes consciência de vossa
nulidade neste mundo?
─ Certamente. Sinto bem o meu cativeiro.
5. ─ Quando vosso corpo dorme e vosso Espírito se desprende, tendes as
ideias tão lúcidas quanto se estivésseis em estado normal?
─ Quando meu corpo infeliz repousa, estou um pouco mais livre para me
elevar ao Céu, a que aspiro.
6. ─ Como Espírito experimentais um sentimento penoso do estado
corporal?
─ Sim, pois é uma punição.
7. ─ Lembrai-vos da vossa existência anterior?
─ Oh, sim! Ela é a causa de meu exílio atual.
8. ─ Qual foi essa existência?
─ Um jovem libertino ao tempo de Henrique III.
9. ─ Dissestes que vossa condição atual é uma punição. Então não a
escolhestes?
─ Não.
10. ─ Como pode vossa existência atual servir ao vosso progresso, no
estado de nulidade em que estais?
─ Ela não me é nula perante Deus, que a impôs.
11. ─ Prevedes a duração da existência atual?
─ Não: mais alguns anos e voltarei à minha pátria.
12. ─ Desde a existência precedente até a encarnação atual, que fizestes
como Espírito?
─ Porque eu era um Espírito leviano, Deus me aprisionou.
13. ─ No estado de vigília tendes consciência do que se passa em vosso
redor, a despeito da imperfeição dos órgãos?
─ Vejo, entendo, mas meu corpo não compreende nem vê.
14. ─ Podemos fazer-vos algo de útil?
─ Nada.
15. (A São Luís): ─ As preces por um Espírito reencarnado podem ter a
mesma eficácia que por um errante?
─ As preces são sempre boas e agradáveis a Deus. Na posição deste pobre
Espírito, elas não lhe podem servir; servirão mais tarde, pois Deus as deixa
de reserva.
OBSERVAÇÃO: Ninguém desconhecerá o alto ensinamento moral que
decorredesta evocação. Além disso, ela confirma o que sempre foi dito sobre
os idiotas. Sua nulidade moral não significa nulidade do Espírito, que,
abstração feita dos órgãos, goza de todas as faculdades. A imperfeição dos
órgãos é apenas um obstáculo à livremanifestação das faculdades; não as
aniquila. É o caso de um homem vigoroso, cujos membros fossem
comprimidos por laços. Sabe-se que, em certas regiões, longe de serem
objeto de desprezo, os cretinos são cercados de cuidados benevolentes.
Este sentimento não brotaria de uma intuição do verdadeiro estado desses
infelizes, tanto mais dignos de atenções quanto mais seu Espírito, que
compreende sua posição, deve sofrer por se ver como um refugo da
Sociedade?
Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1860 > Novembro >
Dissertações espíritas - Recebidas ou lidas por vários médiuns na sociedade
> Scarron

SCARRON
(MÉDIUM, SRTA. HUET)

Meus amigos, fui muito Infeliz na Terra, porque meu Espíritoera igual e
por vezes superior ao das pessoas que me cercavam; mas o corpo
era inferior. Assim, meu coração era ulcerado pelos sofrimentos morais e
pelos males físicosque haviam reduzido o meu envoltório terreno a um
estado lastimoso e miserável.

Meu caráter se azedara com as moléstias e as contrariedades que


experimentava nas relações com os amigos. Deixei-me arrastar à
malignidade mais causticante; eu era alegre e aparentemente sem mágoas;
contudo, sofria no mais fundo do coração. E quando estava só, entregue aos
secretos pensamentos de minh’alma, gemia por encontrar-me em luta entre o
bem e o mal. O mais belo dia de minha existência foi aquele em que
meu Espírito separou-se do corpo; em que, leve e iluminado por um ralo
divino, lançou-se às esferas celestes. Parecia que eu renascera e a felicidade
apoderou-se de meu ser. Enfim, eu repousava.

Mais tarde, a consciência despertou. Reconheci os erros contra o


Criador; experimentei o remorso e implorei piedade ao Todo-Poderoso.
Desde então, procuro instruir-me no bem; procuro tornar-me útil aos homens
e progrido diariamente. Contudo, sinto necessidade de que orem por mim e
peço aos crentes fervorosos que em meti favor elevem o pensamento a
Deus. Se me evocam, procuro atender sempre e responder às perguntas
tanto quanto o posso. Assim se pratica a caridade.

PAUL SCARRON

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