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“Algumas vezes o é muito mais, porquanto pode dar-se que muito mais já tenha
vivido e adquirido maior soma de experiência, sobretudo se progrediu.”
a) – Pode então o Espírito de uma criança ser mais adiantado que o de seu pai?
“Isso é muito frequente. Não o vedes vós mesmos tão amiudadas vezes na Terra?”
198. Não tendo podido praticar o mal, o Espírito de uma criança que morreu em
tenra idade pertence a alguma das categorias superiores?
“Se não fez o mal, igualmente não fez o bem e Deus não o isenta das provas que
tenha de padecer. Se for puro, não o será pelo fato de ter animado uma criança,
mas porque já progredira até à pureza.”
Se uma única existência tivesse o homem e se, extinguindo-se-lhe ela, sua sorte
ficasse decidida para a eternidade, qual seria o mérito de metade do gênero
humano, da que morre na infância, para gozar, sem esforços, da felicidade eterna,
e com que direito se acharia isenta das condições, às vezes tão duras, a que se vê
submetida a outra metade? Semelhante ordem de coisas não corresponderia à
justiça de Deus. Com a reencarnação, há igualdade entre todos. O futuro a todos
toca sem exceção e sem favor para quem quer que seja. Os retardatários só de si
mesmos se podem queixar. Forçoso é que o homem tenha o merecimento de seus
atos, como tem deles a responsabilidade.
Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1867 > Maio > Uma expiação terrestre
O jovem Francisco
Numa boa e honesta família morreu, eu outubro de 1866, um rapaz de doze anos,
cuja vida, durante nove anos, tinha sido um sofrimento contínuo, que nem os
cuidados afetuosos de que era cercado, nem os socorros da ciência tinham podido
ao menos suavizar. Ele foi acometido de paralisia e de hidropisia; seu corpo estava
coberto de chagas invadidas pela gangrena e suas carnes caíam aos pedaços.
Muitas vezes, no paroxismo da dor, ele exclamava: “Que fiz eu, então, meu Deus,
para merecer tanto sofrimento? Desde que estou no mundo, entretanto, não fiz
mal a ninguém!” Instintivamente esse menino compreendia que o sofrimento devia
ser uma expiação, mas, na ignorância da lei de solidariedade das existências
sucessivas, não remontando o seu pensamento além da vida presente, ele não se
dava conta da causa que poderia justificar nele tão cruel castigo.
Uma particularidade digna de nota foi o nascimento de uma irmã, quando ele tinha
cerca de três anos. Foi nessa época que se declararam os primeiros sintomas da
terrível moléstia da qual ele devia sucumbir. Desde esse momento ele concebeu
pela recém-vinda uma repulsa tal que não podia suportar sua presença e à sua
vista pareciam redobrar seus sofrimentos. Muitas vezes ele se reprochava esse
sentimento que nada justificava, porque a pequena não o partilhava, ao contrário,
ela era para ele suave e amável. Ele dizia à sua mãe: “Por que, então, a visão de
minha irmãzinha me é tão penosa? Ela é boa para mim, e contra minha vontade
não possa impedir-me de detestá-la.” Entretanto não podia suportar que lhe
fizessem o menor mal, nem que a magoassem; longe de se alegrar com suas
penas, afligia-se quando a via chorar. Era evidente que dois sentimentos nele se
combatiam; ele compreendia a injustiça de sua antipatia, mas seus esforços para
superá-la eram impotentes.
Que tais enfermidades sejam, em certa idade, consequência de má conduta, seria
uma coisa muito natural, mas de que faltas tão graves um menino dessa idade
pode ser culpado para suportar semelhante martírio? Além disso, de onde podia
provir essa repulsa por um ser inofensivo? Eis problemas que se apresentam a
cada instante, e que levam muita gente a duvidar da justiça de Deus, porque aí
não encontram solução em nenhuma religião. Essas anomalias aparentes
encontram, ao contrário, sua completa justificação na solidariedade das
existências. Um observador espírita poderia dizer, então, com toda a aparência de
razão, que esses dois seres eram conhecidos e tinham sido colocados um ao lado
do outro na existência atual para alguma expiação e para a reparação de alguma
falta. Do estado de sofrimento do irmão poderíamos concluir que ele era o
culpado, e que os laços de parentesco próximo que o uniam ao objeto de sua
antipatia lhe eram impostos para preparar entre eles as vias de uma
reaproximação. Assim, já se vê no irmão uma tendência e esforços para superar
seu afastamento, que ele reconhece injusto. Essa antipatia não tinha os caracteres
do ciúme que por vezes se nota em crianças do mesmo sangue. Ela provinha,
pois, conforme toda a probabilidade, de lembranças penosas, e talvez do remorso
despertado pelo presença da menina. Tais são as deduções que racionalmente
podem ser tiradas, por analogia, da observação dos fatos, e que foram
confirmadas pelo Espírito do rapaz.
Evocado quase imediatamente após a morte, por uma amiga da família, pela qual
ele tinha muita afeição, a princípio não pôde explicar-se de maneira completa e
prometeu dar ulteriormente detalhes mais circunstanciados. Entre as diversas
comunicações que deu, eis as duas que se referem mais particularmente à
questão.
“Esperais de mim o relato, que prometi, do que fui numa existência anterior, e a
explicação da causa de meus grandes sofrimentos. Será um ensinamento para
todos. Bem sei que tais ensinamentos estão em toda parte; encontram-se por
todos os lados, mas o relato de fatos cujas consequências nós mesmos vimos, é
sempre, para os que existem, uma prova muito mais chocante.
“Eu pequei, sim, eu pequei! Sabeis o que é ter sido assassino, ter atentado contra
a vida de seu semelhante? Não o fiz pela maneira que os assassinos empregam,
matando rápido, com uma corda ou com uma faca ou qualquer outro instrumento.
Não, não foi desta maneira. Matei, mas matei lentamente, fazendo sofrer um ser
que eu detestava! Sim, detestava essa criança que eu julgava não me pertencer!
Pobre inocente! Tinha ela merecido essa triste sorte? Não, meus pobres amigos,
não o tinha merecido ou, pelo menos, não me cabia fazê-la sofrer esses
tormentos. Entretanto, eu o fiz, e eis por que fui obrigado a sofrer como vistes.
“Eu sofri, meu Deus! É bastante? Sois muito bom, Senhor! Sim, em presença de
meu crime e da expiação, acho que fostes muito misericordioso.
“Orai por mim, caros pais, caros amigos. Agora meus sofrimentos passaram.
Pobre Sra. D..., eu vos faço sofrer! É que era muito penoso para mim vir fazer a
confissão desse crime imenso!
“Esperança, meus bons amigos! Deus me perdoou minha falta. Agora estou na
alegria e, entretanto, também na pena. Vede! É bom estar num estado melhor, ter
expiado: o pensamento, a lembrança de seus crimes deixam uma tal impressão
que é impossível que não se sinta ainda por muito tempo todo o horror, porque não
foi somente na Terra que sofri, mas antes, nesta vida espiritual! E que sofrimento
que tive para me decidir a vir sofrer esta expiação terrível! Não vos posso narrar
tudo isto, pois seria muito horroroso! A visão constante de minha vítima e a outra, a
pobre mãe! Enfim, meus amigos, preces por mim e graças ao Senhor! Eu vos tinha
prometido este relato; era preciso que até o fim eu pagasse a minha dívida, por
mais que ela me custasse.”
(Até aqui o médium havia escrito sob o império de uma viva emoção. Depois,
continuou com mais calma).
Pergunta. ─ Caro rapaz, não disseste de onde vinha tua antipatia por tua
irmãzinha.
Resposta. ─ Não o adivinhais? Essa pobre e inocente criatura era minha vítima,
que Deus tinha ligado à minha existência como um remorso vivo. Eis por que sua
visão me fazia sofrer tanto.
R. ─ Não sabia em estado de vigília, sem o que meus tormentos teriam sido cem
vezes mais horríveis, tão horríveis quanto tinham sido na vida espiritual, onde eu a
via incessantemente. Mas credes que meu Espírito, nos momentos em que estava
desprendido, não o soubesse? Nisso estava a causa de minha repulsa; e se eu me
esforçava por combatê-la, é que instintivamente sentia que era injusta. Eu não era
ainda bastante forte para fazer bem àquela que eu não podia impedir-me de
detestar, mas não queria que lhe fizessem mal: era um começo de reparação.
Deus levou em conta esse sofrimento, por isto permitiu que cedo ficasse livre de
minha vida de sofrimento, sem o que eu teria podido viver ainda longos anos na
horrível situação em que me vistes.
“Bendizei, pois, minha morte, que pôs um termo à expiação, porque ela foi o preço
de minha reabilitação.
Essa criança sofreu muito na Terra. Ora! Isto nada é em comparação com o que
suportou no mundo dos Espíritos. Aqui ele tinha, em compensação, os cuidados e
a afeição de que era rodeado. Há ainda esta diferença entre o sofrimento corporal
e o sofrimento espiritual, que o primeiro é quase sempre voluntariamente aceito
como complemento de expiação, ou como provação para adiantar-se mais
rapidamente, ao passo que o outro é imposto.
Para os pais do jovem Francisco, era uma grande prova ter um filho nessa triste
posição. Pois bem! Eles cumpriram dignamente seu mandato, e serão tanto
melhor recompensados por terem agido espontaneamente, pelo próprio impulso
do coração. Se os Espíritos não sofressem na encarnação, seria porque na Terra
só haveria Espíritos perfeitos.
O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos >
Capítulo VI - Da vida espírita > As relações no além-túmulo > 275
275. O poder e a consideração de que um homem gozou na Terra lhe dão
supremacia no mundo dos Espíritos?
“Não sabes que os Espíritos são de diferentes ordens, conforme seus méritos?
Pois bem, o maior da Terra pode pertencer à última categoria entre os Espíritos, ao
passo que o seu servo pode estar na primeira. Compreendes isto? Não disse
Jesus: Aquele que se humilhar será exalçado e aquele que se exalçar será
humilhado?”
Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1864 > Agosto > Palestra de além-túmulo
Juliana Maria, a mendiga
“Tu podes, e isto lhe dará prazer, posto seja inútil o serviço que lhe queres prestar.
Ela está feliz e inteiramente devotada aos que dela se apiedaram. Tu és um dos
seus bons amigos. Ela quase não te deixa, e muitas vezes se entretém contigo
sem que o percebas. Mais cedo ou mais tarde os serviços prestados serão
recompensados, se não pelo favorecido, por aqueles que por ele se interessam,
tanto antes quanto depois da sua morte. Se o Espírito não teve tempo de se
reconhecer, são outros Espíritos simpáticos que em seu nome testemunham todo
o seu reconhecimento. Isto esclarece o que sentiste no dia de sua morte. Agora é
ela que te ajuda no bem que queres fazer. Lembra-te do que disse Jesus: “Aquele
que se humilha será exaltado.” Terás a medida dos serviços que ela te pode
prestar, se, contudo, só lhe pedires assistência para ser útil a teu próximo.”
Evocação:
─ Boa Juliana Maria, sois feliz, eis tudo quanto eu queria saber. Isto não me
impedirá de pensar em vós muitas vezes e de jamais vos esquecer em minhas
preces. Resposta:
─ Tem confiança em Deus; inspira aos teus doentes uma fé sincera, e triunfarás
quase sempre. Não te ocupes jamais com a recompensa que disso virá. Ela
ultrapassará a tua expectativa. Deus sabe sempre recompensar o mérito de quem
se dedica ao alívio de seus semelhantes e pratica suas ações com completo
desinteresse. Sem isto, tudo não passa de ilusão e quimera. Antes de tudo é
necessária a fé; do contrário, nada. Lembra-te desta máxima e ficarás admirado
com os resultados que obterás. Os dois doentes que curaste disso são a prova.
Nas circunstâncias em que se encontravam, com os simples remédios terias
falhado.
Quando pedires a Deus que permita que os bons Espíritos derramem sobre ti seus
fluidos benéficos, se o pedido não te fizer sentir um arrepio involuntário, é que tua
prece não foi bastante fervorosa para ser escutada; ela só o será nas condições
que te assinalo. É o que tens experimentado quando dizes do fundo do coração:
‘Deus todo-poderoso, Deus misericordioso, Deus de bondade sem limites, ouvi a
minha prece, e permiti que os bons Espíritos me assistam na cura de...; tende
piedade dele, meu Deus, e dai-lhe saúde; sem vós nada posso. Que se faça a
vossa vontade.’
Fizeste bem em não desprezar os humildes. A voz daquele que sofreu e suportou
com resignação as misérias deste mundo é sempre escutada, e, como vês, um
serviço prestado sempre recebe a sua recompensa.
Agora uma palavra a meu respeito, e isto confirmará o que foi dito acima.
JULIANA MARIA
OBSERVAÇÃO: Este fato está cheio de ensinamentos para quem quer que medite
as palavras deste Espírito nas duas comunicações. Todos os grandes princípios do
Espiritismo aí estão reunidos. Desde a primeira, o Espírito mostra sua
superioridade pela sua linguagem; como uma fada benfazeja, ela vem proteger
aquele que não a desprezou sob seus trapos da miséria. É uma aplicação destas
máximas do Evangelho: “Os grandes serão humilhados e os pequenos serão
exalçados; bem-aventurados os humildes; bem-aventurados os aflitos, porque
serão consolados; não desprezeis os pequenos, pois o que é pequeno neste
mundo talvez seja maior do que imaginais.” Que aqueles que negam a
reencarnação como contrária à justiça de Deus, expliquem a posição dessa mulher
votada à infelicidade desde o seu nascimento pelas enfermidades, senão por uma
vida anterior!
Transmitida esta comunicação ao Sr. Aubert, por sua vez ele obteve a que se
segue, que lhe é uma confirmação.
“Os orgulhosos! Eles se julgam fortes e pensam em facilmente vos abater. Vós,
meus bons amigos, ficai tranquilos e não temais medir-vos com eles. Eles são
mais fáceis de vencer do que supondes. Muitos dentre eles têm medo e temem
que a verdade venha, enfim, ofuscar-lhes os olhos. Esperai. Eles virão, por sua
vez, ajudar no coroamento do edifício.
JULIANA MARIA
MAX, O MENDIGO
Parábola do mau rico
5. Havia um homem rico, que vestia púrpura e linho e se tratava magnificamente
todos os dias.
– Havia também um pobre, chamado Lázaro, deitado à sua porta, todo coberto de
úlceras – que muito estimaria poder mitigar a fome com as migalhas que caíam da
mesa do rico; mas ninguém lhas dava e os cães lhe vinham lamber as chagas. –
Ora, aconteceu que esse pobre morreu e foi levado pelos anjos para o seio de
Abraão. O rico também morreu e teve por sepulcro o inferno. – Quando se achava
nos tormentos, levantou os olhos e viu de longe Abraão e Lázaro em seu seio – e,
exclamando, disse estas palavras: Pai Abraão, tem piedade de mim e manda-me
Lázaro, a fim de que molhe a ponta do dedo na água para me refrescar a língua,
pois sofro horrível tormento nestas chamas.
Mas Abraão lhe respondeu: Meu filho, lembra-te de que recebeste em vida teus
bens e de que Lázaro só teve males; por isso, ele agora está na consolação e tu
nos tormentos.
Ao demais, existe para sempre um grande abismo entre nós e vós, de sorte que
os que queiram passar daqui para aí não o podem, como também ninguém pode
passar do lugar onde estás para aqui.
Disse o rico: Eu então te suplico, pai Abraão, que o mandes à casa de meu pai –
onde tenho cinco irmãos, a dar-lhes testemunho destas coisas, a fim de que não
venham também eles para este lugar de tormento. – Abraão lhe retrucou: Eles têm
Moisés e os profetas; que os escutem. – Não,meu pai Abraão, disse o rico: se
algum dos mortos for ter com eles, farão penitência. – Respondeu-lhe Abraão: Se
eles não ouvem a Moisés, nem aos profetas, também não acreditarão, ainda
mesmo que algum dos mortos ressuscite.
O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos >
Capítulo IV - Da pluralidade das existências > Transmigrações progressivas
“Não, pois que para o Espírito, como para o homem, também há infância. Em sua
origem, a vida do Espírito é apenas instintiva. Ele mal tem consciência de si
mesmo e de seus atos. A inteligência só pouco a pouco se desenvolve.”
“Não, pois o que o homem julga perfeito longe está da perfeição. Há qualidades
que lhe são desconhecidas e incompreensíveis. Poderá ser tão perfeito quanto o
comporte a sua natureza terrena, mas isso não é a perfeição absoluta. Dá-se com
o Espírito o que se verifica com a criança, que por mais precoce que seja tem de
passar pela juventude, antes de chegar à idade da madureza; e também com o
enfermo, que para recobrar a saúde tem que passar pela convalescença. Ademais,
ao Espírito cumpre progredir em ciência e em moral. Se somente se adiantou num
sentido, importa se adiante no outro, para atingir o extremo superior da escala.
Contudo, quanto mais o homem se adiantar na sua vida atual, tanto menos longas
e penosas lhe serão as provas que se seguirem.”
193. Pode um homem, nas suas novas existências, descer mais baixo do que
esteja na atual?
“Aquele que assim pensa em nada crê, e a ideia de um castigo eterno não o
refrearia mais do que qualquer outra,
O homem que ocupa uma posição má deseja trocá-la o mais depressa possível.
Aquele que se acha persuadido de que as tribulações da vida terrena são
consequência de suas imperfeições procurará garantir para si uma nova existência
menos penosa; e esta ideia o desviará mais da senda do mal do que a do fogo
eterno, em que não acredita.
196. Não podendo os Espíritos aperfeiçoar-se, a não ser por meio das tribulações
da existência corpórea, segue-se que a vida material seja uma espécie de filtro ou
de depurador, por onde têm que passar os seres do mundo espírita para
alcançarem a perfeição?
a) – É o corpo que influi sobre o Espírito para que este se melhore, ou o Espírito
que influi sobre o corpo?
“Teu Espírito é tudo; teu corpo é simples veste que apodrece: eis tudo.”
O suco da vide nos oferece um símile material dos diferentes graus da depuração
da alma. Ele contém o licor que se chama espírito ou álcool, mas enfraquecido por
uma imensidade de matérias estranhas, que lhe alteram a essência. Esta só chega
à pureza absoluta depois de múltiplas destilações, em cada uma das quais se
despoja de algumas impurezas. O corpo é o alambique em que a alma tem que
entrar para se purificar. Às matérias estranhas se assemelha o perispírito, que
também se depura, à medida que o Espírito se aproxima da perfeição.
O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos >
Capítulo IV - Da pluralidade das existências > Transmigrações progressivas > 194
O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos >
Capítulo VI - Da vida espírita > As relações no além-túmulo
276. Aquele que foi grande na Terra e que, como Espírito, vem a achar-se entre os
de ordem inferior, experimenta com isso alguma humilhação?
277. O soldado que depois da batalha se encontra com o seu general, no mundo
dos Espíritos, ainda o tem por seu superior?
278. Os Espíritos das diferentes ordens se acham misturados uns com os outros?
“Sim e não. Quer dizer: eles se vêem, mas se distinguem uns dos outros. Evitam-
se ou se aproximam, conforme à simpatia ou à antipatia que reciprocamente uns
inspiram aos outros, tal qual sucede entre vós. Constituem um mundo do qual o
vosso é pálido reflexo. Os da mesma categoria se reúnem por uma espécie de
afinidade e formam grupos ou famílias, unidos pelos laços da simpatia e pelos fins
a que visam: os bons, pelo desejo de fazerem o bem; os maus, pelo de fazerem o
mal, pela vergonha de suas faltas e pela necessidade de se acharem entre os que
se lhes assemelham.”
“Os bons se ocupam em combater as más inclinações dos outros, a fim de ajudá-
los a subir. É uma missão.”
284. Como podem os Espíritos, não tendo mais corpo, constatar suas
individualidades e distinguir-se dos outros seres espirituais que os rodeiam?
“Vemos a nossa vida passada e lemos nela como em um livro. Vendo a dos
nossos amigos e dos nossos inimigos, aí vemos a passagem deles da vida
corporal à outra.”
288. Que sentimento desperta nos Espíritos impuros a chegada entre eles de
outro Espírito mau?
“Os maus ficam satisfeitos quando vêem seres que se lhes assemelham e, como
eles, privados da infinita ventura, qual na Terra um bandido entre seus iguais.”
O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos >
Capítulo VI - Da vida espírita > As relações no além-túmulo > 274
O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos >
Capítulo VI - Da vida espírita > As relações no além-túmulo > 275
275. O poder e a consideração de que um homem gozou na Terra lhe dão
supremacia no mundo dos Espíritos?
“Não sabes que os Espíritos são de diferentes ordens, conforme seus méritos?
Pois bem, o maior da Terra pode pertencer à última categoria entre os Espíritos, ao
passo que o seu servo pode estar na primeira. Compreendes isto? Não disse
Jesus: Aquele que se humilhar será exalçado e aquele que se exalçar será
humilhado?”
Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1863 > Julho > Uma expiação terrestre -
Max, o mendigo
Pelo ano de 1850, morreu, numa aldeia da Baviera, um velho quase centenário,
conhecido como Pai Max. Ninguém sabia, ao certo, a sua origem, pois não tinha
família. Há quase meio século, abatido por enfermidades que o impossibilitavam
de ganhar a vida pelo trabalho, ele não tinha outro recurso senão a caridade
pública, que ele dissimulava indo vender nas fazendas e castelos, almanaques e
pequenos objetos.
Vários anos após sua morte, apareceu em sonho à filha do dono de um dos
castelos onde era hospedado na cavalariça, pois ele não tinha domicílio. Ele lhe
disse: “Obrigado por vos terdes lembrado do pobre Max em vossas preces, pois
foram ouvidas pelo Senhor. Desejais saber quem sou eu, alma caridosa que vos
interessastes pelo infeliz mendigo. Vou satisfazer-vos. Será para todos uma
grande instrução.”
“Há mais ou menos um século e meio eu era um rico e poderoso senhor desta
região, mas vão, orgulhoso e enfatuado de minha nobreza. Minha imensa fortuna
jamais serviu senão para os meus prazeres, e apenas bastava, porque eu era
jogador, debochado, e passava a vida em orgias. Meus vassalos, que julgava
criados para meu uso como animais de fazenda, eram oprimidos e maltratados
para contribuir para as minhas prodigalidades. Eu ficava surdo às suas
lamentações, como às de todos os infelizes e, em minha opinião, deviam sentir-se
muito honrados de servir aos meus caprichos.
“Morri em idade pouco avançada, esgotado pelos excessos, mas sem haver
experimentado nenhuma verdadeira desgraça. Ao contrário, tudo parecia sorrir-
me, de sorte que, aos olhos de todos, eu era um dos felizes do mundo. Minha
classe me valeu funerais suntuosos; os folgazões lamentaram em mim o faustoso
senhor, mas nenhuma lágrima caiu em minha sepultura; nenhuma prece de
coração subiu a Deus por mim, e minha memória foi maldita por todos aqueles
cuja miséria eu havia agravado. Ah! Como é terrível a maldição dos que tornamos
infelizes! Ela não cessou de retinir em meus ouvidos durante longos anos, que me
pareciam uma eternidade! E, à morte de cada uma de minhas vítimas, era uma
nova figura ameaçadora ou irônica que se erguia à minha frente e me perseguia
sem tréguas, sem que eu pudesse encontrar um recanto escuro para me subtrair à
sua vista. Nenhum olhar amigo! Meus antigos companheiros de deboche, infelizes
como eu, me fugiam e pareciam dizer com desdém: ‘Não podes mais pagar os
nossos prazeres.’ Oh! Como eu teria pago caro um instante de repouso, um copo
d’água para estancar a sede causticante que me devorava! Mas eu não possuía
mais nada e todo o ouro que havia semeado a mancheias na Terra não havia
produzido uma só bênção! Uma só, ouvis, minha filha!
“Por fim, abatido pela fadiga e esgotado como um viajante tresmalhado que não vê
o termo de sua rota, exclamei:
“─ Meu Deus! tende piedade de mim! Quando terminará esta horrível situação?
“Então uma voz, a primeira que eu ouvia desde que deixara a Terra, me disse:
“─ Quando quiseres.
“Humilhei-me e pedi aos meus vassalos, meus servos que estavam ali à minha
frente, e cujos rostos, cada vez mais benevolentes, acabavam desaparecendo. Foi
então para mim como uma nova vida. A esperança substituiu o desespero e
agradeci a Deus com todas as forças de minha alma. A voz me disse então:
“─ Príncipe!
“E eu respondi:
“Alguns anos depois nasci de novo, mas dessa vez numa família de pobres
camponeses. Meus pais morreram deixando-me criança, e fiquei só no mundo,
sem apoio. Ganhei a vida como pude, ora como trabalhador, ora como criado de
fazenda, mas sempre honestamente, porque desta vez acreditava em Deus. Aos
quarenta anos, uma moléstia me tornou entrevado de todos os membros e tive que
mendigar por mais de cinquenta anos nas mesmas terras das quais tinha sido o
dono absoluto; receber um pedaço de pão nas fazendas que tinham sido minhas e
onde, por amarga ironia, me tinham apelidado Senhor Conde; sentir-me feliz,
muitas vezes, com um abrigo na escuderia do castelo que fora meu.
Nesses, há mais egoísmo do que caridade, visto que fazer o bem, apenas para
receber demonstrações de reconhecimento, é não o fazer com desinteresse, e o
bem, feito desinteressadamente, é o único agradável a Deus. Há também orgulho,
porquanto os que assim procedem se comprazem na humildade com que o
beneficiado lhes vem depor aos pés o testemunho do seu reconhecimento. Aquele
que procura, na Terra, recompensa ao bem que pratica não a receberá no céu.
Deus, entretanto, terá em apreço aquele que não a busca no mundo.
Ah! meus amigos, se conhecêsseis todos os laços que prendem a vossa vida atual
às vossas existências anteriores; se pudésseis apanhar num golpe de vista a
imensidade das relações que ligam uns aos outros os seres, para o efeito de um
progresso mútuo, admiraríeis muito mais a sabedoria e a bondade do Criador, que
vos concede reviver para chegardes a ele. – Guia protetor. (Sens, 1862.)
O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo XIII - Não saiba a vossa mão esquerda o
que dê a vossa mão direita > Instruções dos Espíritos > Os órfãos
Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1863 > Janeiro > Os servos - História de
um criado
“Não; pelo Espírito. O Espírito tem consciência de si, mas não pode comunicar-se.”
a) – Por quê?
“Porque a isso se opõe o estado do corpo. Esse estado especial dos órgãos vos
prova que no homem há alguma coisa mais do que o corpo, pois que, então, o
corpo já não funciona e, no entanto, o Espírito continua ativo.”
“Na letargia, o corpo não está morto, porquanto há funções que continuam a
executar-se. Sua vitalidade se encontra em estado latente, como na crisálida,
porém não aniquilada. Ora, enquanto o corpo vive, o Espírito se lhe acha ligado.
Em se rompendo, por efeito da morte real e pela desagregação dos órgãos, os
laços que prendem um ao outro, integral se torna a separação e o Espírito não
volta mais ao seu envoltório. Quando um homem aparentemente morto volve à
vida, é que não era completa a morte.”
424. Por meio de cuidados dispensados a tempo, podem reatar-se laços prestes a
se desfazerem, restituindo-se à vida um ser que definitivamente morreria se não
fosse socorrido?
“Sem dúvida e todos os dias tendes a prova disso. O magnetismo, em tais casos,
constitui, muitas vezes, poderoso meio de ação, porque restitui ao corpo o fluido
vital que lhe falta para manter o funcionamento dos órgãos.”
“Na letargia, o corpo não está morto, porquanto há funções que continuam a
executar-se. Sua vitalidade se encontra em estado latente, como na crisálida,
porém não aniquilada. Ora, enquanto o corpo vive, o Espírito se lhe acha ligado.
Em se rompendo, por efeito da morte real e pela desagregação dos órgãos, os
laços que prendem um ao outro, integral se torna a separação e o Espírito não
volta mais ao seu envoltório. Quando um homem aparentemente morto volve à
vida, é que não era completa a morte.”,
Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1861 > Setembro > Palestras familiares
de além-túmulo
A pena de Talião
(Sociedade, 9 de agosto de 1861. Médium: Sr. D'Ambel)
“O Sr. Antonio B..., um de meus parentes, escritor de mérito, estimado por seus
concidadãos, tendo desempenhado com distinção e integridade funções públicas
na Lombardia, há cerca de seis anos e em consequência de uma apoplexia, caiu
num estado de morte aparente que, infelizmente, e como por vezes acontece, foi
tomado como de morte real. O erro era muito mais fácil por julgaram perceber no
corpo sinais de decomposição. Quinze dias após o enterro, uma circunstância
fortuita levou a família a pedir a exumação. Tratava-se de um medalhão esquecido
no caixão por descuido. Grande, porém, foi o estupor dos assistentes quando, ao
abri-lo, reconheceu-se que o corpo tinha mudado de posição; tinha-se virado e,
coisa horrível, uma das mãos fora parcialmente comida pelo defunto. Ficou, então,
manifesto que o infeliz Antonio B... tinha sido enterrado vivo; devia ter sucumbido
nas garras do desespero e da fome. Seja como for, deste triste acontecimento e de
suas consequências morais não seria interessante, do ponto de vista espírita e
psicológico, fazer um inquérito no mundo dos Espíritos?”
4. ─ É certo que fostes por descuido enterrado vivo? ─ Assim deveria ser, porque a
morte aparente teve todas as características de morte real. Eu estava quase
exangue. Não se deve atribuir a ninguém um fato previsto desde antes de meu
nascimento.
8. ─ Dizeis cruel punição de uma existência feroz, mas vossa reputação, até agora
intacta, nada deixava supor tal situação. Podeis explicar isto? ─ Que é a duração
de uma existência na eternidade? Por certo, tratei de agir bem na última
encarnação, mas este fim tinha sido aceito por mim antes de voltar à Humanidade.
Ah! Por que me interrogar sobre esse passado doloroso, que só eu conhecia, além
dos Espíritos, ministros do Onipotente? Sabei, pois, já que é necessário dizer, que
numa existência anterior eu havia emparedado viva uma mulher, a minha, num
jazigo! Foi a pena de talião que tive de aplicar a mim! Olho por olho, dente por
dente.
ERASTO
O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos
Espíritos > Capítulo VII - Da volta do Espírito à vida corporal > Idiotismo,
loucura
371. Tem algum fundamento o pretender-se que a alma dos cretinos e dos
idiotas é de natureza inferior?
“Nenhum. Eles trazem almas humanas, não raro mais inteligentes do que
supondes, mas que sofrem da insuficiência dos meios de que dispõem para
se comunicar, da mesma forma que o mudo sofre da impossibilidade de
falar.”
“Os que habitam corpos de idiotas são Espíritos sujeitos a uma punição.
Sofrem por efeito do constrangimento que experimentam e da
impossibilidade em que estão de se manifestarem mediante órgãos não
desenvolvidos ou desmantelados.”
a) – Não há, pois, fundamento para dizer-se que os órgãos nada influem
sobre as faculdades?
“Nunca dissemos que os órgãos não têm influência. Têm-na muito grande
sobre a manifestação das faculdades, mas não são eles a origem destas. Aí
está a diferença. Um músico excelente, com um instrumento defeituoso, não
dará a ouvir boa música, o que não fará que deixe de ser bom músico.”
“Sim; mas, convém não perder de vista que, assim como o Espírito atua
sobre a matéria, também esta reage sobre ele, dentro de certos limites, e que
pode acontecer impressionar-se o Espírito temporariamente com a alteração
dos órgãos pelos quais se manifesta e recebe as impressões. Pode mesmo
suceder que, com a continuação, durando longo tempo a loucura, a repetição
dos mesmos atos acabe por exercer sobre o Espírito uma influência, de que
ele não se libertará senão depois de se haver desligado de toda impressão
material.”
376. Por que razão a loucura leva o homem algumas vezes ao suicídio?
“Pode ressentir-se, durante algum tempo após a morte, até que se desligue
completamente da matéria, como o homem que desperta se ressente, por
algum tempo, da perturbação em que o lançara o sono”.
“Como uma recordação. Um peso oprime o Espírito e, como ele não teve a
compreensão de tudo o que se passou durante a sua loucura, sempre se faz
mister um certo tempo, a fim de se pôr ao corrente de tudo. Por isso é que,
quanto mais durar a loucura no curso da vida terrena, tanto mais lhe durará a
perturbação, o constrangimento, depois da morte. Liberto do corpo, o
Espírito se ressente, por certo tempo, da impressão dos laços que àquele o
prendiam.”
O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos
Espíritos > Capítulo VII - Da volta do Espírito à vida corporal > Prelúdio da
volta > 337
337. Pode a união do Espírito a determinado corpo ser imposta por Deus?
Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1860 > Junho > O Espírito
de um idiota
SCARRON
(MÉDIUM, SRTA. HUET)
Meus amigos, fui muito Infeliz na Terra, porque meu Espíritoera igual e
por vezes superior ao das pessoas que me cercavam; mas o corpo
era inferior. Assim, meu coração era ulcerado pelos sofrimentos morais e
pelos males físicosque haviam reduzido o meu envoltório terreno a um
estado lastimoso e miserável.
PAUL SCARRON