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Cultura e História de Portugal Ficha Informativa

Arte contemporânea em Portugal


Muitos autores consideram que o início do Modernismo em Portugal é marcado pela realização,
em Lisboa, de uma mostra de arte chamada Exposição dos Livres no ano de 1911, enquanto outros
defendem que o movimento modernista português se iniciou com a criação da revista Orpheu em
1915.

Um ano depois da Implantação da República, inauguraram-


se em Portugal dois museus importantes: o Museu de Arte
Contemporânea em Lisboa e o Museu Soares dos Reis no Porto.
No Salão Bobone, em Lisboa, realizou-se a importante Exposição
dos Livres onde expuseram, entre muitos outros, Eduardo Viana
(1881-1967) e Emmerico Nunes (1888-1968). Esta exposição, que
pretendia ser o oposto das mostras conservadoras realizadas
pela Sociedade Nacional de Belas-Artes, foi a primeira de
muitas que abraçaram a produção artística moderna que então
se fazia em Portugal.

1915 foi o ano em que a artista francesa Sonia Delaunay


(1885-1979) se mudou para o Porto com o seu marido Robert. O
casal Delaunay, juntamente com outros artistas, fundou o
[1] Museu Nacional Soares dos Reis
Orfismo ou Cubismo Órfico. Partilhou casa com o pintor
português Eduardo Viana e fez amizade e até parcerias de
trabalho com vários artistas portugueses, incluindo Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) e Almada
Negreiros (1893-1970).

Nas primeiras décadas do século XX, vivia-se em Portugal um


período de extrema criatividade que pretendia romper com a
tradição, mas as mortes prematuras de Amadeo e Santa-Rita em
1918 e o golpe militar, que em 1926 instalou a ditadura em Portugal,
refrearam a criação artística da época.

Durante a ditadura, a produção artística teve altos e baixos.


Alguns artistas foram apoiados pelo Secretariado de Propaganda
Nacional e os principais arquitetos, pintores e escultores nacionais
chegaram mesmo a participar na Exposição do Mundo Português,
comemorativa dos 800 anos da nação portuguesa. Outros artistas
foram presos e em 1952, o regime ordena o encerramento da
Sociedade Nacional de Belas-Artes. Devido à repressão política,
muitos artistas emigram para Londres ou Paris. [2] Amadeo de Souza-Cardoso, Entrada,
óleo sobre tela com colagem, 1917

Glossário
prematuras: antes do esperado
refrearam: tornaram mais contida, mais moderada
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Depois de 1974, muitos artistas regressam do seu exílio e iniciam uma nova fase de produção
artística. O interesse pela cultura e pela arte aumenta em todo o país e surgem novos centros culturais,
exposições e galerias. A Sociedade Nacional de Belas-Artes organiza a exposição Depois do
Modernismo em 1983. No mesmo ano, é inaugurado o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste
Gulbenkian e seis anos mais tarde a Fundação de Serralves inicia as suas atividades. A estabilidade
política e a retoma económica facilitam a abertura de várias galerias que passam a representar os
artistas portugueses nos mercados internacionais.
Alguns dos artistas portugueses que se exilaram durante a ditadura, como Maria Helena Vieira da
Silva e Paula Rego, acabaram por fixar residência no país que os acolheu antes da revolução e
ganharam fama internacional.

Aprende mais sobre Paula Rego: consulta o manual Cultura e História


de Portugal, vol. 2, p.49.

Curiosidades
Em 2013, celebraram-se os 120 anos do nascimento de Almada Negreiros e 100 anos
da sua primeira exposição individual com uma série de eventos na cidade de Lisboa
e um Colóquio Internacional organizado na Fundação Calouste Gulbenkian. Para
mais informações consulta o portal oficial do evento.

[3] Almada Negreiros, Auto-retrato,


óleo sobre tela, c.1927

Saber mais
Calouste Gulbenkian e Joe Berardo
Em Portugal, é possível visitar um vasto número de obras de arte
graças a dois colecionadores privados Calouste Sarkis Gulbenkian
(1869-1955) e Joe Berardo (1944-).

O pai de Calouste Sarkis Gulbenkian era natural da Arménia e


quando Calouste Sarkis nasceu a sua família estava a viver na Tur-
quia. Calouste Sarkis estudou em Londres e, tal como o seu pai,
exerceu a profissão de empresário petrolífero. Gulbenkian tornou-
-se num dos homens mais ricos do seu tempo e a sua coleção de
[4] Museu Calouste Gulbenkian
arte foi considerada uma das maiores coleções de arte privadas
do mundo. Um dos sonhos de Gulbenkian era reunir toda a sua coleção debaixo de um único teto para que pudesse
ser visitada. Esse desejo concretiza-se em Portugal no ano de 1969 com a criação em Lisboa do museu da Fundação
Calouste Gulbenkian.

Glossário
exílio: período de ausência da pátria, expatriação
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José Manuel Rodrigues Berardo, também conhecido como Joe


Berardo, nasceu no Funchal em 1944, mas aos 18 anos emigrou
para a África do Sul, onde se tornou empresário. A sua coleção
inclui obras de arte moderna e contemporânea, arte publicitária,
objetos decorativos e mobiliário Art Déco, azulejos, e cerâmica
artesanal das Caldas da Rainha. Parte desta coleção, avaliada
em 2006 pela empresa de leilões Christie’s em 316 milhões de
euros, pode ser visitada no Museu Coleção Berardo instalado no
Centro Cultural de Belém (CCB) em Lisboa. Berardo coleciona
ainda esculturas contemporâneas do Zimbabué que podem ser
visitadas no Museu Monte Palace, na Madeira. [5] Museu Coleção Berardo

Curiosidades
Os jardins da Fundação Calouste Gulbenkian foram dese-
nhados pelos arquitetos paisagistas António Viana Barreto e
Gonçalo Ribeiro Telles. Este último ganhou, em 2013, o prémio
Sir Geoffrey Jellicoe, atribuído pela Federação Internacional
dos Arquitetos Paisagistas.

[6] Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian

Joana Vasconcelos
Considerada uma das artistas de maior destaque da primeira
década do século XXI, Joana Vasconcelos nasceu em Paris em
1971, mas realizou os seus estudos em design e joalharia no
Centro de Arte e Comunicação Visual Ar.Co em Lisboa. Desde
meados da década de 90 que Vasconcelos apresenta as suas
criações artísticas em exposições individuais ou coletivas. Os
seus trabalhos incluem esculturas, instalações, performance,
vídeo e fotografia, recorrem frequentemente a objetos do
quotidiano e são inspirados no artesanato regional português,
como a joalharia de Viana do Castelo, os bordados de Nisa ou
as rendas em croché dos Açores. Uma das suas criações,
Bordaliana (2009), chegou mesmo a reutilizar o Bestiário de
Bordalo Pinheiro (1846-1905) — um conjunto de onze animais
originalmente criado para levar à Exposição Universal de Paris [7] Joana Vasconcelos, Cleópatra (faiança de
de 1889 – revestindo-os de croché. Bordalo Pinheiro revestida de croché)
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Em 2005, Vasconcelos participa pela primeira vez na


51.ª Exposição Internacional de Arte Bienal de Veneza
com a peça A Noiva e em 2013 regressa a Veneza com
o barco Trafaria Praia que fez as vezes de Pavilhão de
Portugal na 55.ª edição desta mostra internacional de
arte contemporânea. No ano de 2012, a artista franco-
portuguesa torna-se na primeira mulher a expor no
histórico palácio barroco de Versalhes, em França. Esta
exposição recebeu 1,6 milhões de visitantes e o seu
êxito deve-se sobretudo ao enorme contraste entre a
decoração do palácio barroco e as surpreendentes
[8] Joana Vasconcelos, Marilyn
instalações da artista que incluíam Marilyn (2009), um
par de sapatos de salto-agulha feitos de panelas e
tampas; Coração Independente Vermelho (2005), uma réplica ampliada dum coração de filigrana de
Viana do Castelo feito de talheres de plástico; Gardes (2012), dois leões revestidos a renda em croché
dos Açores; e Valquíria Enxoval (2009), uma obra construída com alinhavado, bordados, aplicações
em feltro e olaria pedrada tradicionais de Nisa e rendas de bilros, entre outros materiais. No ano
seguinte, realiza uma exposição semelhante à de Versalhes, no Palácio Nacional da Ajuda em Lisboa,
que bate o recorde de exposições mais visitadas do país, com um total de 235 373 visitantes.
Os montantes conseguidos nos leilões das suas obras são prova da sua popularidade internacional.
Em 2010, a peça Coração Independente Vermelho 2 foi vendida por 148,5 mil euros. Um ano antes,
Coração Independente Dourado tinha sido vendido por 192 mil euros e Marilyn tinha arrematado 573
964 euros.
Segundo o portal oficial de Joana Vasconcelos, “a artista oferece-nos uma visão cúmplice, mas
simultaneamente crítica, da sociedade contemporânea e dos vários aspetos que servem os enunciados
de identidade coletiva, em especial aqueles que dizem respeito ao estatuto da mulher, diferenciação
classista, ou identidade nacional”.

Glossário
barroco: estilo arquitetónico dos fins do século XVI até meados
do século XVIII
réplica: cópia
montantes: quantias
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Propostas de atividades

1. Consulta as unidades 9, “Artes Plásticas”, dos manuais Cultura e História de Portugal


(vol. 1, pp. 55 a 60; vol. 2, pp. 46 a 50).

1.1. Estabelece as ligações entre o período (coluna A), o tipo de arte (coluna B) e as principais
características (coluna C).

Coluna A Coluna B Coluna C

Período Tipo de arte Principais características

• exploração de novos materiais


final do séc. III a. C. • • antiguidade •
e técnicas

fim do Império Romano


• barroco • • frescos e mosaicos romanos
c. 476 d. C. •

• paisagens e quotidiano do
sécs. XV e XVI • • conceptual •
povo

• pinturas e esculturas
sécs. XVII e XVIII • • medieval • influenciadas pela arte grega
e romana

primeira metade do séc. XIX • • modernismo • • pinturas e esculturas religiosas

segunda metade do séc. XIX • • naturalismo • • pinturas realistas

• recusa dos modelos


final do séc. XIX e primeira
• neoclassicismo • tradicionais, elogio do
metade do séc. XX •
progresso e da vida urbana

• talha dourada, estatuária e


década de 60 do séc. XX • • renascentista •
azulejaria

• temas nacionalistas e a
• romantismo •
vivência do indivíduo
Cultura e História de Portugal Ficha Informativa

1.2. Em que forma de arte se distinguiram os artistas referidos abaixo? Coloca-os nas colunas
correspondentes.
Almada Negreiros Julião Sarmento Amadeo de Souza-Cardoso
Júlio Pomar Graça Morais Júlio Resende João Cutileiro
Paula Rego Jorge Molder Pedro Cabrita Reis

Pintura Escultura Fotografia


Ex.: Santa-Rita Pintor Ex.: José Pedro Croft Ex.: Helena Almeida

1.2.1. Seleciona três nomes de entre os artistas acima e escreve uma pequena biografia para
cada um deles. Não te esqueças de fazer referência à sua obra.
1.2.2. Seleciona três obras de artes de artistas diferentes e escreve uma breve apreciação crítica
sobre cada uma. Não te esqueças de fazer uma breve referência à vida do artista.

Exploração lexical
• NEO provém do grego e significa novo ou atualizado. Usa-se frequentemente para designar
o ressurgimento ou renovação de um determinado movimento ou conceito.
Ex.: neoclassicismo
A partir do acordo ortográfico de 1990, este elemento deixou de usar hífen quando aparece
antes de palavras que começam com as consoantes r e s e passou a duplicar-se a consoante.
Ex.: neorrealista, neossocialista
Antes da letra h este prefixo continua a ser seguido de hífen.
Ex.: neo-helénico
• ISMO provém do latim e usa-se para formar substantivos abstratos.
Ex.: modernismo, romantismo, naturalismo

1. Encontra três palavras para cada um dos elementos usados na composição de novas
palavras, tal como nos exemplos dados.

neo- anti- in- des- -ismo -ista -eiro -ria

neoliberal antirrugas infeliz desfeito simbolismo jornalista livreiro churrascaria


Cultura e História de Portugal Ficha de Trabalho A

Nome: Turma: Número:

Data:

Verdadeiro ou Falso?

1. Não existe consenso sobre a data ou evento que marca o início do Modernismo em Portugal.

2. Os museus de Arte Contemporânea em Lisboa e Soares dos Reis no Porto foram inaugurados em
1911.

3. Sonia e Robert Delaunay são os fundadores da revista Orpheu.

4. Amadeo de Souza-Cardoso faleceu prematuramente com apenas 31 anos de idade.

5. O governo de Oliveira Salazar incentivou os artistas nacionais a continuarem os seus estudos


artísticos em Paris e Londres.

6. A Fundação de Serralves inicia as suas atividades em 1989.

7. Paula Rego fixou residência em França.

8. Almada Negreiros realizou a sua primeira exposição individual em 1913.

9. Gonçalo Ribeiro Telles ganhou em 2013 o Prémio Sir Geoffrey Jellico, uma espécie de Nobel dos
arquitetos paisagistas.

10. Calouste Gulbenkian conseguiu realizar o seu sonho de criar um museu para a sua coleção de arte
antes de morrer.

11. A coleção de Joe Berardo inclui apenas esculturas e pinturas de arte contemporânea do século XX.

12. Joana Vasconcelos inspira-se frequentemente em peças de artesanato tradicional português.

13. Os animais de cerâmica desenhados por Bordalo Pinheiro foram recriados por Joana Vasconcelos
numa obra chamada Bordaliana.

14. Desde 2005 que Joana Vasconcelos envia uma peça sua para expor na Bienal de Veneza.

15. Duas réplicas ampliadas de corações de filigrana feitas com talheres de plástico da autoria de
Joana Vasconcelos foram vendidas ao mesmo colecionador.

16. O recorde da exposição mais visitada de todos os tempos em Portugal pertence a Paula Rego.
Cultura e História de Portugal Ficha de Trabalho A

Compreensão e produção oral


1. Assiste ao vídeo sobre a exposição do Museu Berardo.

1.1. Responde às perguntas que se seguem:

a. Quantas obras tem esta exposição?

b. Que período de criação artística cobre esta exposição?

c. Qual é, segundo o diretor artístico deste museu, o objetivo desta exposição?

d. Por que razão é “convencional” esta exposição?

2. Assiste ao vídeo sobre o Pavilhão Português da 55.ª Exposição Internacional de Arte Bienal de Veneza.

2.1. Prepara cinco ou seis perguntas cujas respostas sejam dadas por Joana Vasconcelos, como nos
seguintes exemplos:

Ex.: Como “nasceu” o Trafaria Praia?


Como foi o barco para Veneza?

3. Trabalho de Grupo

Assiste ao vídeo sobre a obra da artista contemporânea portuguesa Joana Vasconcelos. Produz um
comentário ou voice-over para substituir o original em inglês.

Poderás basear-te nas informações prestadas pelo original, mas deverás também acrescentar outras
informações relevantes sobre a vida e obra desta artista. O vídeo com o melhor comentário será
exibido para a turma e poderá ser partilhado com outros interessados através das redes sociais.
Cultura e História de Portugal Ficha de Trabalho B

Nome: Turma: Número:

Data:

Debate com os teus colegas os seguintes tópicos:

1. Qual a data mais plausível do início do Modernismo em Portugal: 1911 ou 1915? Porquê?

2. Por que razão a criação artística “arrefeceu” durante a ditadura?

3. O que aconteceu às artes em Portugal depois de 1974?

4. Qual o papel dos museus Calouste Gulbenkian e Berardo no panorama artístico português?

5. O que pensas sobre a obra da artista luso-francesa Joana Vasconcelos?

6. De que forma é que as obras de Joana Vasconcelos criticam o estatuto das mulheres?

7. Como é que esta artista representa a identidade nacional dos portugueses nas suas obras?

8. Achas que a qualidade de um artista se mede pelo preço a que são vendidas as suas obras? Porquê?

Compreensão e produção oral


1. Assiste ao vídeo sobre a origem e obra da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). Faz um levantamento
das informações dadas sobre os seguintes tópicos:
a. Calouste Gulbenkian
b. José de Azevedo Perdigão
c. Áreas de atuação da FCG
d. Centros Culturais de Paris e Londres

2. Assiste ao vídeo sobre o Pavilhão Português da 55.ª Exposição Internacional de Arte Bienal de Veneza.
Pepara cinco ou seis perguntas cujas respostas sejam dadas por Joana Vasconcelos, como nos
exemplos dados.

Ex.: Como “nasceu” o Trafaria Praia?


Como foi o barco para Veneza?

3. Trabalho de Grupo
Assiste ao vídeo sobre a obra da artista contemporânea portuguesa Joana Vasconcelos. Produz um
comentário ou voice-over para substituir o original em inglês.
Poderás basear-te nas informações prestadas pelo original, mas deverás também acrescentar outras
informações relevantes sobre a vida e obra desta artista. O vídeo com o melhor comentário será
exibido para a turma e poderá ser partilhado com outros interessados através das redes sociais.

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