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Cartas ao
Trabalhador
Espírita
2013
C APÍTULO 1
Momento de
transcender
Sempre pareceu que o bem tardava, hesitava e se fazia em O que é isso perto da redenção do próprio Espírito imortal?
pequena monta. Nada, pois muito de material já se teve e foi perdido,
É que o solo estava sendo trabalhado. fatalmente perdido, na beira do túmulo.
A sensibilidade humana carecia de se sutilizar. Oh, homens, não recusem se doar à grande causa.
Mas hoje eis que o momento chega. Propaguem os valores cristãos, cantem a imortalidade da
alma, entoem o cântico da fraternidade.
Ainda um tempo, a semeadura, em labor de fadiga.
O túmulo é nada, pois vivemos e seguiremos todos adiante.
Mas o solo já se faz mais fértil.
Então, o momento é de transcender.
A humanidade, mais sensível ao bem, choca-se mais com a
dor do semelhante. Soou a hora no relógio da eternidade para quem se vincula à
Terra.
Em breve, o bem, que sempre pareceu tardar, se fará rápido e
abundante. Surgem dores coletivas, a Terra se estorce enquanto um novo
mundo surge.
Por que duvidam os que labutam na seara do Cristo?
Um mundo de fraternidade, humildade, trabalho e pureza.
Por que questionam, em vez de se entregarem com alegria no
derradeiro instante de luta forte e difícil? Compensa doar de si, de seu tempo, de sua inteligência, para
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construí-lo. Não o desperdicem.
Os cristãos se hoje são os trabalhadores da última hora, cuja Muito lamentará quem, ciente das realidades imortais, deixar
recompensa será imensa. passar a oportunidade de se fazer artífice do progresso.
Momento de transcender. Carentes de mérito, para fazer face aos equívocos do passado,
De esquecer pequenas querelas, de perdoar e ser perdoado, de aos cristãos de hoje a oportunidade é imperdível.
doar e doar-se, de pedir e receber. É preciso que seus corações vibrem esperançosos ao som da
Momento de partilhar. promessa que ecoa no éter cósmico: o amor cobre a multidão
de pecados.
Ninguém tem tanto que não careça de algo.
Momento de transcender.
Ninguém tem tão pouco que nada possa doar.
Momento de liquidar débitos pela decisão firme.
Ninguém é grande demais para não se apoiar em um amigo.
Momento de conquistar a alegria de poder recordar a própria
Jesus não recusou a ajuda do Cirineu. história sem medo ou vergonha.
Trata-se de um exemplo e de uma mensagem. Afinal, o mal foi mesmo feito e vivido.
Forte ao extremo, permitiu-se ajudar. Houve limitações e quedas.
Não imaginem que tudo podem fazer sozinhos, nem que o Mas, no momento crucial, no momento extremo, eis que a
outro é tão forte a ponto de nada precisar. redenção se fez.
Fraternidade, fraternidade é a canção, o hino que os anjos Houve disposição ao trabalho.
cantam na esperança de tocar os corações humanos.
Houve finalmente dignidade.
Para transcender, é preciso ser irmão.
Por fim, as mãos se fizeram operosas no bem.
Para ser irmão, é preciso humildade.
O coração se ajustou aos desígnios divinos.
Iguais, com talentos diversos e todos importantes.
Houve finalmente o glorioso ajuste e o cristão mereceu o seu
A irmandade no bem é o próprio motor para seguir em frente. título de seguidor do Cristo.
Ninguém avança de verdade sozinho. Momento de transcender.
Unam-se no amor do belo e do bem. É agora.
Talvez a mensagem não pareça nova, e não o é de fato. Mãos à obra.
Mas o momento é novo e propício.
Novo em sua urgência.
Novo pela fecundidade do solo.
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C APÍTULO 2
Utilidade
Mas o que é grande, segundo os padrões ordinários, raramen- Serviço, eis o tesouro precioso do homem que busca a reden-
te engrandece a alma. ção.
As grandezas buscadas costumam ficar para trás, em algum Pressupõe grande decisão desabituar-se de ser servido e dis-
momento da jornada. por-se ao papel de servo.
As grandes riquezas ficam na beira do túmulo. O termo, malgrado sua origem e os preconceitos que lhe são
inerentes, nada tem de indigno.
O grande poder não resiste à passagem do tempo.
Ao contrário, o que serve é o que tem utilidade.
As grandes influências, as grandes experiências e descobertas
cedo ou tarde são ultrapassadas. Já o que espera ser servido por vezes não passa de um parasi-
ta.
O grande, porque se estabelece por comparativo, nunca basta
ou sacia. O parasita não cumpre sua função no mundo.
O grande no mundo arrisca-se a apequenar a alma. Não está engrenado na extensa sinfonia de trabalho que rege
o universo.
Porque o que realmente engrandece não costuma ser valoriza-
do ou buscado.
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Para se pacificar, para se sentir pleno, o homem precisa se ha- Se, para servir, tiver de ir sob os holofotes, faça-o com modés-
bituar a servir. tia.
Sem preguiça, sem as tolices da irreflexão. Se precisar limpar locais tidos por escusos, faça-o.
Servir bem é ser útil, ser causa de progresso e libertação. Mas seja útil.
Não se humilhar sem propósito. Em todo momento, seja a fonte do bem, do consolo, da espe-
rança.
Não se fazer de tapete para ser pisado.
Que em sua presença a ignorância seja menos triste e agressi-
Mas auxiliar na construção do bem. va, a miséria cesse de desesperar, as desgraças físicas e morais
arrefeçam.
Ser professor da ignorância.
Se conquistar a alegria de quem serve pela simples alegria de
Médico dos enfermos da alma.
servir, já será a paz em você.
Pai dos órfãos.
Ser útil.
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C APÍTULO 3
Ambiente no
Centro
Espírita
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S EÇÃO 2 cionamento dos centros espíritas, apresentam-se perante a Es-
piritualidade Superior em grave situação.
Ambiente no Centro Espíri- Grave não significa ruim, mas importante, da qual as conse-
Em terrenos de diferentes calibres e qualidades que deram fru- O homem no mundo revela marcante fragilidade.
tos e produziram na conformidade de suas possibilidades. O discurso mundano anda tisnado de relevante liberalismo
Essas imagens, e com isso nada de novo se fala, representam a nos costumes, sem a necessária dose de reflexão quanto a res-
palavra do Senhor e o nível evolutivo dos seres que com ela en- ponsabilidade e consequências.
tram em contato. Sem um sustentáculo firme, um ambiente em que possa se
Entretanto, uma salutar reflexão pode ser feita sobre a espécie apegar, amizades sadias com as quais compartilhar valores,
de campo em que se constitui o centro espírita. experiências e dúvidas, é difícil que o homem comum consiga
fazer frente às tentações e seduções do século.
Se é certo que a frutificação dá-se conforme as possibilidades
de cada ser, não é menos certo que o meio é de superlativa im- Os partícipes do ideal espírita, localizados em seus centros,
portância para que o ser atinja e permaneça no estado ideal, a que lhes são os postos de trabalho, são convocados a formar e
fim de que nele a boa semente germine. sustentar pousos de luz, esclarecimento e amparo.
Os que assumem, querendo e buscando isso ou não, responsa- Se, compenetrados da gravidade da tarefa, executam-na com
bilidades pela condução e manutenção, de certo modo, do fun- esmero e boa vontade, auxiliam os Espíritos luminares a preve-
nir e impedir grandes desastres.
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Eis uma atividade na qual compensa despender importante
gama de energia.
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C APÍTULO 4
A Busca do
Divino
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Repelem no coração as provas que os devem fortalecer, purifi- São vários os desdobramentos, mas uma religiosidade saudá-
car e educar. vel é a base da vida equilibrada.
Entretanto, o Senhor Cósmico a ninguém violenta e permite Ciência, filosofia e religião dão-se as mãos para tornar o ho-
que cada um encontre o seu ritmo, a sua ocasião própria. mem feliz.
Envolto em suas teorias, filosofia, tecnologia e vida frenética, E ninguém tem paz no coração, serenidade nos embates, caso
corre o risco de se perder de si. não se sinta um filho amado de Deus.
Vazio de propósito e sentido, abisma-se com a vida. A ciência desse amor infinito, fruto de claras e lúcidas refle-
xões, é que pacifica, asserena e acalenta.
Como o selvagem de outrora, malgrado sua sofisticação, sen-
te-se pequeno ante a grandeza e a força da vida e dos aconteci- Assim, que se filosofe, que se experiencie, pois em tudo há uti-
mentos. lidade.
A tecnologia, a ciência e as teorias de vida plena, os discursos Mas que jamais se menospreze a reflexão sobre o divino, sob
que tudo querem justificar não substituem a carência de Deus pena de o raciocínio, os debates e as reuniões se tornarem ári-
no coração do homem. das e não consolarem.
É preciso a coragem de se tornar humilde e reconhecer-se pe- Nesse afã de consolo, ninguém foi mais feliz do que o Cristo,
queno ante a majestade de Deus. em Suas reflexões sobre o Deus Pai Amoroso, por terminar
sempre com frases de esperança: ‘Vinde a mim, todos os que
Essa ciência, essa percepção da grandiosa e linda ordenação estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei’.
do Cosmo é que permite o principiar de fruir da paz.
Tomemo-lo como exemplo e nos pacifiquemos, em nossas reu-
É necessário fazer as pazes com Deus para viver em harmonia. niões.
Neste momento humano de lucidez e raciocínio, essa paz vem Sempre detidas reflexões sobre Jesus e o Deus amoroso que
da compreensão de Suas soberanas leis. Ele apresentou, com o auxílio da lucidez das lições de Kardec.
É aí que o centro espírita pode e deve achar o seu papel maior,
a fim de cumpri-lo.
Oração
Nessa linha, nesses ambientes, tem-se o hábito de longas ladai- Identificamos virtudes em incontáveis fundadores de religiões
nhas em posições desconfortáveis. e mesmo de seitas.
Isso quando a adoração não degenera em algum gênero de cilí- Mas Jesus é nosso modelo e nosso guia.
cio.
Deus é o arquétipo primordial.
Há também os que oram muito e mal.
E Jesus é o arquétipo perfeito.
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Em orações sentidas e refletidas vinculamo-nos a Eles, abri-
mos espaços em nossas vidas para que o modelo do sumo bem
nos arrebate.
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S EÇÃO 2 Para não se amargurar com esses naturais percalços do evol-
ver, precisa de Deus.
Utilidade da Oração Essa necessidade ora não mais se acomoda e satisfaz, no imagi-
nário coletivo, com visões estereotipadas do divino.
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Entretanto, que jamais o homem, ao lançar mãos desses preci- Louvor.
osos recursos, olvide ou se sinta dispensado do recurso mor,
em se tratando de ligação com o divino. Ato de veneração e admiração a ser feito com a alma ungida,
dobrada sobre si mesma, em grande silêncio.
É da oração que se fala.
Propicia conexão com os eflúvios e as emanações que proce-
É dela que se cuida de modo muito carinhoso. dem do alto.
Como se afirma na Codificação, serve para louvar, pedir e agra- Hábito feliz que eleva e pacifica.
decer.
Mas não é só de louvor que se trata.
Ah, o louvor!
Pela oração, também se pode pedir e agradecer.
Como é feliz a alma que se habitua a louvar o Senhor da Vida.
O louvor é tocado de meditação e admiração pela grandeza do
Que, encantada com a grandeza das obras que revelam o Ser Senhor e pela sabedoria de Suas santas leis.
Supremo, a Ele se dirige, com modéstia, ciente de sua peque-
nez ante o Absoluto. Sempre se deve começar pelo louvor, para saber pedir e agra-
decer com propriedade, sem correr o risco de malbaratar esse
O louvor a Deus é incompatível com o bulício mundano. importante recurso.
Para ser efetivo, é ideal que se tranquilize a consciência pelo Após meditar longamente sobre a perfeição do universo, a jus-
acerto de pendências, dívidas, ódios e rancores. tiça e a bondade de Deus, a criatura naturalmente tende a ser
modesta e prudente no pedir e eloquente no agradecer.
‘Se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu
irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a Sabe-se que no mundo as ocorrências materiais são importan-
tua oferta e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e de- tes e por vezes afligentes.
pois vem, e apresenta tua oferta’.
Ninguém haverá de receitar a quem sofre que não peça auxílio
Observação a ser entendida em sentido relativo, sob pena de ao Senhor da Vida.
se concluir que só os santos podem orar.
Que peça, mas jamais se olvide também de rogar a força neces-
Mas traz o indicativo de que no louvor a Deus está implícito o sária para viver com dignidade suas provações.
respeito a Suas leis, o cuidado com Suas obras e criaturas.
A misericórdia divina é infinita e dispõe de recursos inimagi-
Não há como louvar a Deus com propriedade e ferir o próxi- náveis no socorro de Seus filhos.
mo.
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Tais recursos e benefícios são movidos com frequência espan- Que se agradeça pelas expiações, a corrigirem o passado que
tosa em favor de quem, ao se conectar com o divino, passa a se reflete no presente.
viver retamente.
Que se agradeça pelos amores, a família, os amigos, as facilida-
Então, que se relatem dificuldades, pois nisso não há proble- des materiais e intelectuais.
ma.
A criatura humana é essencialmente frágil, em sua caminhada
Mas sem revolta ou amargura, e também sem pressa. terrena.
É preciso ciência de ser diferente o tempo dos homens e o tem- Qual criança nos primórdios da vida.
po de Deus.
Nela, nada assenta melhor do que a gratidão para com Aquele
Este se rege pelo sumo bem e pelo objetivo de potencializar o que a fez, sustenta e ampara de modo incansável.
aprendizado.
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C APÍTULO 6
Espiritismo e
Misticismo
Em se tratando de leis e fenômenos naturais, sempre incidi- Ao contrário, podem dar-se as mãos.
ram e ocorreram. Mas não é só com a ciência que a Doutrina Espírita reconcilia
Entretanto, sob o enfoque de sua racionalidade, apresenta-se a religião.
inovador, renovador e purificador. Também o faz, em certa medida, em relação aos movimentos
Pela vez primeira, com acesso a todos, de modo amplo, o funci- místicos.
onamento da ordem cósmica, em seus reflexos morais, é apre- O misticismo comporta inúmeras leituras e tem grandes va-
sentada. riantes.
Não mais mistérios só revelados aos iniciados. Sua essência parece residir na junção da criatura com o Cria-
Não mais dogmas impenetráveis para justificar o injustificável dor sem intermediários.
e paralisar as inteligências perquiridoras. Na concepção religiosa tradicional, com sua hierarquia sacer-
Ele traz a fé raciocinada como novidade e progresso. dotal e ritos, todos com a finalidade de intermediar o contato
do suposto pecador com Deus, essa convivência harmônica
Com isso, permite a reconciliação entre ciência e religião. era impossível.
Ambas perquirem a verdade sob diferentes lumes. Já com o Espiritismo, que não propõe intermediários, ritos e
sacerdócios, o vínculo é possível entre misticismo e religião.
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Religião no sentido preciso e feliz de promover a religação da Pode prescindir de um sacerdócio constituído, quiçá remune-
criatura com o Criador. rado, talvez presunçoso, para intermediar o contato.
Mas o Espiritismo não só permite essa harmonia nova, como Mas não deve perder-se em quimeras, ou correr o risco de fa-
contribui com o aperfeiçoamento da própria posição mística. zê-lo, por abdicar da razão.
Surgido e sustentado como oposição aos intermediários e suas Religião e misticismo se unem para aproximar a alma do divi-
rígidas organizações, tende ele, o misticismo, a se apartar da no, na figura do Espiritismo.
racionalidade e do método.
Aquela, ao propiciar a fé raciocinada, esclarece quanto aos de-
Tudo fica ou pode ou tende a ficar em certo subjetivismo: cada veres e aponta o caminho da caridade como a rota maior e
um entende Deus a seu modo. mais bela.
Ocorre que o Criador é absoluto e imutável, de modo que não O misticismo não permite a aridez das colocações externas.
se altera conforme o gosto de quem o busca.
Influencia a alma de um modo muito peculiar, em relação às
Cada criatura O entende a seu modo, é um fato, e isso está de forças cósmicas, por encantá-la com a perspectiva de êxtases
acordo com a ordem natural das coisas e a lei do progresso. preciosos.
Ocorre que Deus rege o mundo não com base em casuísmos, Os dons da alma, em sua beleza e fulgor, notadamente na sea-
mas com base em leis perfeitas, justas, misericordiosas e imu- ra mediúnica, pressupõem uma entrega plena de intuição.
táveis.
Já não mais análise, mas síntese.
Consequentemente, Ele se revela, em certa medida, mediante
elas. Então é preciso, ao buscar o divino, refletir e sentir.
Isso possibilita que a busca do divino sem intermediários be- Essa é a junção mais feliz, a da razão e do sentimento, a tradu-
neficie-se de um cunho ou toque racional. zir-se em belos atos.
As leis divinas são reveladas pela Doutrina Espírita de forma Como se vê, a racionalidade Espírita é rica de possibilidades,
bela, encantadora e minuciosa. cuidando-se apenas para que não se torne árida, por entendê-
la em pobreza de espírito.
A meditação sobre elas, a refletirem a grandeza do Criador,
possui o condão de conduzir a alma mística a notáveis conclu- Reflitamos, sintamos e ajamos, na conformidade de seus ricos
sões. postulados e caminhemos firmes em direção à felicidade e ao
alto
Ela pode buscá-lo despida de peias e regras previamente defi-
nidas por terceiros.
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C APÍTULO 7
Mediunidade
Está escondendo, em parte, o talento que recebeu. Que os médiuns sejam jubilosos pela possibilidade de reden-
ção que em si trazem e sejam dignos.
Não se torna inútil, dissemos, pois, com esses contatos, faz-se
ponte para o socorro dos miseráveis. Dignos pela vida reta, pela conduta equilibrada e pela disposi-
ção para servir.
Mas perde em percepção, sua sensibilidade se embota e conse-
gue socorrer menos os que o rodeiam. Que se consolem pelas consolações que prodigalizem e se paci-
fiquem pela paz que proporcionem.
Os mentores o influenciam com maior dificuldade.
Pela mediunidade, os mortos comparecem diante dos vivos,
A palavra de esperança, que deveria brotar fácil de sua boca, dão-lhes notícias e alertas.
demora e ou se faz ausente.
O mundo do além-túmulo deixa de ser misterioso e imprevisí-
O médium, para bem servir, para ser considerado fiel, deve pri- vel.
mar pela oração e pela vigilância.
Mães sabem de seus filhos que as precederam no retorno à pá-
Precisa fazer-se alegre, mesmo por entre dificuldades, para tria espiritual.
que seja medianeiro da luz, da esperança e da consolação.
Irmãos se comunicam, eis que os laços de afeto não se rom-
Para que as entidades sofredoras que se lhe acerquem, para os pem e mais se afirmam.
serviços de socorro, sejam beneficiadas por seus fluidos saudá-
veis e revigorantes. Assim, a mediunidade é coisa santa.
Médiuns, alegrem-se pela oportunidade de trabalho. Mas por santa não se deve entender que deva ser trancafiada e
jazer oculta.
Não vejam nas disciplinas que se lhes sugere senão o esforço
que se espera do atleta que cobiça o podium. A vida humana é santa, quando santamente vivida.
Só que o podium que o aguarda não é o da vaidade e dos lou- A rigor, santa sempre o é, pelas oportunidades de aprendizado
ros mundanos, mas o da conquista da própria paz, pelo resga- que propicia, mesmo quando apequenada por vícios.
te dos erros do passado.
O santo se afirma no mundo, por não se corromper e por
A mediunidade é recurso sublime que não deve ser despreza- exemplificar o bem entre as tentações.
do, lamentado ou maltratado.
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Do mesmo modo, embora as compreensíveis cautelas, que não
se use de demasiados pruridos no trato mediúnico.
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S EÇÃO 2 Com sua sensibilidade peculiar e diferenciada, o médium dis-
põe dos melhores meios para servir nesse mister.
Mediunidade e Vícios Contudo, por navegar em águas turvas, por assim dizer, uma
vez que nem sempre tem a visão clara do rio por onde transi-
ta, precisa crescer na fé.
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S EÇÃO 3 Após um longo palmilhar na linha reta, lógica e previsível da
análise, urge dela saber abrir mão, em certa medida, mas não
Mediunidade e Insegurança de todo.
Notadamente quando o de que mais se necessita é de burilar o A partir de dado instante, e disso o atual panorama de múlti-
intelecto e aprimorar o raciocínio. plas informações dá o tom da necessidade, é preciso que algu-
mas ligações sejam feitas na mente de modo automático, pu-
Transita-se do instinto para a razão e chega um momento em lando certas etapas.
que esta precisa se afirmar.
É uma riqueza da alma, a ser cultivada com carinho, pois acele-
Entretanto, também chega a hora de gradualmente ceder espa- ra o progresso e deste, em sua maior pujança, é um genuíno
ço à intuição. pressuposto.
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Assim, os médiuns treinam hoje uma modalidade nova de co-
nhecer e saber de súbito, com a supressão do caminho habitu-
al, que implica uma ordenada, lenta e racional construção.
Mas eis que uma fase nova chega e com o tempo haverá mais
conforto com a lide das visões psíquicas, com a manifestação
dos dons radiantes.
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S EÇÃO 4 Que o ser haja gastado tempo infinito a ler, estudar e refletir
sobre a vida nos mais variados setores, seus mecanismos e
Mediunidade e Preparação mistérios.
O discurso da boa vontade não mais impressiona em uma soci- Compensa se dedicar a conquistá-los, pois figuram entre aque-
edade tecnológica. les que não podem ser roubados e nem destruídos.
Primeiro, a modéstia.
Sendo universais tais ideias, pois fundadas na pureza de costu- Segundo, o anonimato e o silêncio quanto ao que sabe e faz.
mes, no respeito aos desencarnados e à privacidade do próxi-
mo, no desinteresse e no amor fraterno, podem se fazer pre- Respeito aos segredos e dores alheias, cujo conhecimento lhe
sentes em todas as religiões e grupos. chega à consciência.
Contudo, nos que se denominam cristãos, em especial nos es- Jesus recomendou silêncio aos beneficiados, em inúmeras oca-
píritas, a responsabilidade é maior, pois a referência é direta. siões.
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Silencie também o médium.
Jesus é o modelo.
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S EÇÃO 6 Apenas não se contamina, por vibrar em esfera diferente de
ideal e de conduta.
Mediunidade e Pureza Os médiuns são convidados a imitar Jesus.
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É preciso silêncio para notar o que vem de si e o que vem de
outrem, em se tratando de influência espiritual.
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C APÍTULO 8
Fraternidade
O detentor do conhecimento se enriquece de modo surpreen- É muito importante tornar atrativas as reuniões e aprazível o
dente, se disposto a tal, com a simplicidade dos raciocínios de ambiente.
quem chega desataviado e sem disfarces.
Muitos familiares desencarnados regozijam-se ao extremo
Já o ignorante se ilustra. quando percebem que seus amores na carne adentram e se fi-
xam nesses lugares abençoados.
Eis a beleza da fraternidade: todos ganham e mais feliz é
quem mais doa. Neles se desfazem velhos vínculos infelizes, difíceis nós cármi-
cos se desatam por conta de novas ideias e faixas de sintonia
Muito se fala em paz e em consciência tranquila. que se estabelecem.
Contudo, essas realidades são apenas notícia para quem ainda A alegria dessas almas reconhecidas, as dores e tragédias que
não aprendeu a ser fraterno, a doar-se de forma espontânea, foram impedidas, os novos caminhos que se abrem na vida de
simples e alegre. quem chega, tudo isso repercute de forma notável na contabili-
dade cósmica.
Grande é o júbilo da alma que se afina com o projeto divino,
com os desígnios cósmicos para ela estabelecidos. Não se trata de mensurar com rasura lucros e perdas, e com
isso matematizar o auxílio ao semelhante.
Tranquiliza-se por parar de se defender da vida, por cessar de
se economizar, sem nada de real acumular em seu favor. Mas de demonstrar com clareza que toda luz acesa no cami-
nho do próximo converte-se em clarão na própria estrada.
Ganha em ventura e calma ao entregar-se ao sabor dos recla-
mos que recebe. Quem doa, recebe à porta, instrui com paciência e sorri se en-
che de inesperadas bênçãos.
O pensamento viciado no egoísmo sempre quer estabelecer li-
mites para não ser sugado ou abusado. Eis o sentido da fraternidade: irmãos que se reúnem, com dife-
rentes talentos e possibilidades, partilham suas forças, con-
Mas, na contabilidade da vida, essa preocupação é vã e tola.
tam suas fraquezas, fortalecem-se no bem e seguem juntos, de
Que júbilo gastar a própria vida no socorro e no esclarecimen- mãos dadas pela vida afora.
to de consciências!
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C APÍTULO 9
Curas
Mais responsáveis, em face da experiência vivida, candidata- A intolerância é vício terrível, que nega valor ao que surge dife-
ram-se a importantes padecimentos redentores. rente.
Houve, por certo, quem bem aproveitou a cura do corpo para A indiferença à dor humana engendrou e engendra ainda dra-
curar de modo definitivo a sua alma. mas atrozes nos destinos individuais e coletivos.
Mas o que Espiritismo que tem a ver com as curas de Jesus? Oremos pela saúde física, busquemo-la, sempre com o impres-
cindível auxílio da medicina humana.
Sendo a continuação minudenciada de sua mensagem, sob
novo enfoque, com ela se vincula, de certo modo, em todos os Prece, passe, água fluidificada e mesmo magnetização, em ha-
aspectos. vendo domínio deste último recurso.
Também houve a fase de chamada de atenção das massas, Mas não esqueçamos que, em havendo doente genuíno, este é
com os fenômenos físicos que hoje já rareiam. o Espírito.
Como se deu na época áurea do Senhor da Luz, fenômenos ati- A única cura real é a retificação de rumos pela iluminação dos
nentes à matéria não são o primordial. pensamentos, a dulcificação dos sentimentos e a retificação do
proceder.
O essencial é que os Espíritos se iluminem ao contato com a
mensagem, retifiquem pensamentos, sentimentos e atos e se A vivência da Doutrina Espírita desfaz perigosos e tristes lia-
libertem das amarras da matéria e do primarismo das sensa- mes espirituais do passado.
ções, de modo definitivo.
Quem se anima a trabalhar no bem, a viver com dignidade,
Mas, por rareados que sejam, os fenômenos persistem. lentamente se quita com a lei divina e coloca-se ao abrigo das
maquinações de desafetos espirituais.
Por vezes se fazem patentes, às vezes se sutilizam, embora
sempre persistam, em alguma medida. Como isso ele se pacifica, seu corpo e sua mente se harmoni-
zam.
Nem superestimados e nem desvalorizados, devem ser encara-
dos em seu justo valor. Eis a cura real, a ser buscada e disseminada como prioridade
absoluta nos centros espíritas: a iluminação das consciências
É compreensível, até como decorrência do instinto de conser- pela assimilação e vivência da mensagem cristã rediviva na co-
vação, que o homem enfermo busque a cura. dificação kardequiana.
Em sendo esta possível, grande alegria se tem. Tudo o mais é instrumental e passageiro.
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C APÍTULO 10
Afetividade
Funciona como um chamariz para que a criatura atente para Assim, a chegada à casa espírita é plena de expectativas e cons-
questões mais relevantes. titui um momento crítico.
Essas questões já se encontram presentes em quem vai ao cen- Quem chega, fora exceções muito raras, traz a alma desassos-
tro espírita por força de desassossego íntimo indefinível. segada.
No fundo, todos os Espíritos encarnados sabem que estão na Justamente por isso, precisa ser acolhido com afeto.
Terra de passagem e mais dia, menos dia, deverão retornar à Esse afeto nada tem de arroubos de sentimentalismo barato,
pátria espiritual. que depois não se sustentam na vivência digna e sóbria.
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Ser afetivo não é forçar afagos e situações pouco ou nada natu- Mas nenhum método é mais valioso do que atender um irmão
rais. que sofre, angustia-se e pergunta.
A afetividade sincera implica disponibilizar-se ao próximo, na Então, nada de rigores quanto a programas e tratativas do que
medida de suas necessidades, enquanto se apresentarem estas deve ser falado aqui ou depois.
dignas e respeitáveis.
Ordem, mas também sensibilidade.
Que haja abraços, mas sempre nos estreitos limites da fraterni-
dade evangélica. Bondade e fraternidade nunca são demais, embora não se des-
conheça a necessidade de alguma disciplina.
O centro espírita não é local de encontros amorosos, de olha-
res langorosos, de requestos românticos. Na linha do afeto que se busca, constitui a sua oferta uma im-
portante forma de cura, tratamento e fixação de quem chega.
Podem estes ocorrer, é fato, na medida em que encontros de
almas se operam em todos os locais do planeta. Os que buscam a casa espírita situam-se em diferentes níveis
intelectuais e morais e suas demandas variam bastante.
Mas, em sendo assim, seu aprofundamento e efetivação deve
cercar-se de grandes cautelas, para que não se tome admira- Entretanto, no mundo terreno não há quem não careça de se
ção por amor romântico. sentir especial, distinguido e querido.
De todo modo, o ambiente, entre evangélico e hospitalar, cla- Esse cuidado com o outro é o começo da cura de suas mazelas
ma pelo mais amplo respeito. emocionais.
O amor que nele surgir, primordialmente fraterno e a clamar Os vínculos saudáveis que se estabelecem – e assim se devem
por respeito, pode evoluir, em sendo isso possível, sem empe- manter – permitem a confissão sobre dificuldades e o ouvir
ços de ordem moral, para outros tons. atento – e respeitoso, nunca é demais frisar – dos problemas
alheios.
Contudo, e não é demais frisar, que não se tome o hábito de
namorar e procurar namorado no ambiente evangélico. Também por isso, o hábito da fofoca e da crítica mordaz é de
todo desnecessário no ambiente espírita.
Lá se busca afeto, como forma de cura e redenção da indiferen-
ça e das dores do viver humano. Por certo, a imperfeição humana faz com que nem sempre se
consiga gostar de todos.
Que se cuide bastante do outro, preste-se atenção em suas ne-
cessidades. Mas a tolerância implica que se respeite a todos, entendamo-
los ou não.
É importante haver um programa a delimitar os rumos dos es-
tudos, pois o método é sobremodo relevante.
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Assim, o afeto é a base da fixação de quem chega e de sua Cuida-se de diferença ínfima, facilmente superada com um
cura. pouco de boa vontade.
Viabiliza uma lenta libertação de mazelas humanas, de senti- A diferença genuína revela-se sempre no moral – notável é
mentos de menos valia, de violência, ingratidão e mágoas. quem consegue viver os ensinamentos espíritas, quem interna-
lizou os comandos evangélicos.
Ocorre que a mensagem espírita não se foca apenas no senti-
mento. E esse sempre encontra prazer em servir, em amparar e em
disseminar o pouco que já entende e possui.
Amai-vos é o primeiro ensinamento, mas o instruí-vos o segue
de imediato. Assim, que se cuide muito bem de quem chega, olhando-o
atentamente e prestando atenção em suas necessidades.
Que o afeto se desdobre no cuidado em ministrar conhecimen-
tos na conformidade das possibilidades intelectivas de quem Depois, sem que isso implique concessões descabidas e cedên-
chega. cia a eventuais ditadores que se apresentem, que o estudo ilu-
minativo se desenrole em clima de afetividade límpida e singe-
Sem uma rigorosa divisão em classes, à semelhança de escola- la.
res, pois tal pode importar em desestímulo a quem já estudou
alhures ou por conta própria. A receita parece muito simples, mas na verdade a vivência do
bem e do reto, a realização dos comandos evangélicos, nada
Não é viável se desvalorize o esforço individual, com uma pa- de tem complexa.
dronização improdutiva.
Exige apenas bastante boa vontade e considerável dose de dis-
Claro que a generosidade há de mesclar variados níveis de co- ciplina para se manter nos parâmetros estabelecidos.
nhecimentos, a bem de quem os ministra e com isso aprende a
doar-se, e de quem aprende, e com isso vislumbra a beleza do
estudo e desenvolve, quiçá, certa humildade quanto ao seu pa-
pel mundo.
46
C APÍTULO 11
Esperança
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O genuíno cristão, e outra não é a condição do espírita since- Ao contrário, sucedem-se na conformidade de leis sublimes
ro, traz em si recursos preciosos e responsabilidades graves. em sua perfeição e em seu caráter de maravilhosa justiça.
Dispõe do norte seguro das palavras e dos exemplos de Jesus, Ciente, pois, de seu valor, ele tem recursos íntimos para não
que o Espiritismo clarifica e minudencia. cair, não desanimar, não desistir.
Assim, transita em suas provas com um mapa nas mãos, por Esses recursos o dotam de esperança.
assim dizer.
A dor é um evento pequeno, um trecho acidentado colocado
Sempre consegue, com um esforço não muito importante, antes de uma estrada asfaltada.
identificar a conduta mais adequada.
Vai acabar em breve.
Esse diferencial o torna infinitamente mais responsável do
que o descrente ou o que professa crenças menos claras. Esse panorama vasto da existência humana luariza a alma, dul-
cifica e conforta o coração.
De outro lado, incontáveis o observam em seus atos e opções
diárias. É feliz quem segue no mundo com o coração assim cantante
da esperança de dias que surgirão radiosos logo mais.
O exemplo que dá reflete em sua economia moral, na econo-
mia moral dos conhecidos e amigos e, por consequência, na O que são alguns pequenos percalços, quando comparados
economia moral do planeta. com a plenitude íntima própria dos seres redimidos?
Eis a cota de possibilidades e responsabilidades tão especiais A perfeita tranquilidade, feita não de ócio, mas de ação apro-
do espírita-cristão. priada e feliz, no interesse de todos, constitui um prêmio cujo
preço nunca é alto demais.
De outro lado, sua fé o fortifica.
Outro fator de esperança muito próprio do Espírita é a certeza
Ele sabe que é um Espírito imortal, com incontáveis vivências da vida futura, com uma riqueza de detalhes que nenhuma ou-
e com um futuro imortal. tra religião proporciona.
Sabe que já errou bastante no passado e também acertou. Não se trata de meras ideias, elucubrações de filósofos ou teó-
ricos.
Por isso, vivencia dificuldades destinadas a despojá-lo de seus
vícios e a testá-lo quanto a seus valores. São as próprias almas bem aventuradas que relatam a alegria
e o bem estar de que desfrutam, como consequência do amoro-
As dificuldades não constituem obra do acaso ou de um Deus so cumprimento do dever que lhes cabia no mundo.
caprichoso.
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Elas dão detalhes, falam da facilidade de libertação das vísce-
ras, da alegria do reencontro com seus amigos, seus mentores,
todos os que as amam.
50
C APÍTULO 12
Confiança
Porque já os usou demais de forma infeliz e muito sofreu. Hoje, retemperados e amadurecidos, eventuais erros serão me-
nores e de fácil absorção e correção.
53
C APÍTULO 13
Virtudes em
Desuso
Como se superar o semelhante fosse o máximo a ser consegui- Onde a vida sinalizar a continência como recurso iluminador,
do. recusar os convites do mundo.
Contudo, além de qualquer outra cogitação, o homem tem pre- É preciso muita resignação para silenciar-se na continência.
mente necessidade de conquistar em definitivo a própria inti-
E a resignação, que permite manter a paz nos embates e nas
midade.
negativas da vida, só surge plena no coração após muita medi-
Para atender essa meta superior, urgente e impostergável, sur- tação, muita reflexão a respeito da finalidade educativa da vi-
gem soberanas nos caminhos humanos algumas qualidades vência terrena.
pouco em voga.
Acomodar-se no papel de aprendiz confiante, entregar-se aos
Entretanto, ninguém há que se ilumine sem vivê-las em pro- suaves comandos que descem das esferas superiores.
fundidade.
Trilhar docemente o caminho por vezes áspero que leva ao Não há prazer no mundo maior do que o fruído por uma alma
alto – doçura. que se pacificou.
56
C APÍTULO 14
Amizade
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C APÍTULO 15
Amor ao
Dever
Em especial, não comentaremos o amor romântico e nem o Também implica o acertamento de antigos e, por vezes, graves
amor erótico. equívocos.
Têm sua finalidade no contexto humano e são bons se vividos Importa, pois, não reclamar dos deveres que surgem exigentes
com a necessária nobreza. e incontornáveis nos caminhos humanos.
De modo particular, toca-nos comentar o amor ao dever. Eles devem antes ser recebidos como chaves de velhas alge-
mas, cura de antigos vícios, recursos para pagar importantes
Entenda-se, de início, que esse amor, como não poderia dei- dívidas, farol para iluminar novos caminhos, pontes para a es-
xar de ser, implica ligação afetiva com o seu objeto. trada ascendente.
Amar o dever é uma conquista evolutiva de peso. Que se dirá, nesse contexto feliz, da atividade mediúnica?
Compensa treinar o coração e disciplinar todas as fibras do Constitui bênção sem preço, dádiva de subido valor, tesouro
ser para despertar esse especial sentimento. maravilhoso a ser tutelado com carinho.
61
Reabre oportunidades de acerto de velhas contas, reajuste
com antigos desafetos, conúbios felizes com amores do passa-
do que retornam ao procelo da vida.
62
C APÍTULO 16
Bons Hábitos
no Centro
Espírita
Excessivo apego a regras antigas costuma impedir a ascensão Sempre há os que se sobressaem e são mais conhecidos.
rumo ao sublime.
Mas todos precisam ser notados e justamente valorizados, na
Contudo, o processo revisional necessita ser gradual, seletivo posição em que se colocam.
e racional.
Importa do mesmo modo não adquirir o costume das brinca-
Não se louva a rebeldia sem causa, tão só pela justificativa de deiras de mau gosto.
ser moderno ou diferente.
Não se pretende criar clima de velório, mas de respeito sadio,
É preciso refletir sobre o que se consolidou, buscar ver as ra- onde pode haver humor, mas fino e elegante.
zões que levaram à adoção de certos hábitos, para verificar se
ainda se justificam. Apelidos, referências a dificuldades físicas ou a fealdades são
francamente desnecessários.
Caso contrário, em que medida a revisão se faz necessária.
Em tudo moderação, mas palavrões são um completo despro-
Nessa linha, alguns costumes do passado persistem úteis e atu- pósito na casa espírita.
ais.
O mesmo se diz de altercações em voz exaltada.
Não há razão válida para abandoná-los.
Trata-se de cristãos a refletir sobre a doutrina do Cristo, não
Em um centro espírita, é importante cuidar para que o uso de de contendores e nem de comerciantes de feira.
roupas provocantes não se torne um hábito infeliz.
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Não é preciso vencer; se possível convencer, mas sempre en-
tender.
Ela também não deve virar uma muleta sem a qual a concen-
tração não ocorre.
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C APÍTULO 17
Administração
Prudente
Frugalidade, continência e disciplina surgem desagradáveis Por isso, o Senhor Jesus afirmou a necessidade de seus segui-
aos ouvidos coletivos e individuais. dores serem mansos como as pombas e prudentes como as ser-
pentes.
Tudo é preciso realizar, e realizar agora.
Antes de dar as chaves, físicas e espirituais, da casa espírita,
As relações humanas cedo se tornam íntimas. convém conhecer quem chega.
Confidências são trocadas com grande rapidez. Entretecer longas conversas, perquirir seus hábitos e ideais.
Parece haver grande pressa para tudo. Ouvi-lo, aguardar que demonstre constância na presença, fir-
meza doutrinária, equilíbrio emocional.
Afigura-se feio esperar a maturidade de pessoas, desejos, senti-
dos e relações. Gradualmente, surgem os espaços a serem ocupados por
quem chega.
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Se a criatura está realmente vibrando em boa faixa, ficará tran- A condução de almas, a iluminação de consciências, a gerên-
quilizada ao se sentir respeitada em seu tempo de adaptação. cia do patrimônio físico e espiritual do centro espírita são coi-
sa séria.
Líderes não se fazem em um momento.
Cuida-se de um depósito sagrado.
Eles se afirmam e demonstram no convívio, conquistam confi-
ança. Por isso, deve ser encarado com seriedade e grandes cuidados.
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C APÍTULO 18
Outras
Religiões
Amor e
Evolução
Ainda por um tempo, no contexto das massas que habitam o Esperam de retorno tudo o que dão.
orbe, as dificuldades da caminhada serão de vulto. Mas a meta do amor que amadurece é a doação.
Envolverão dores e decepções, projetos frustrados, Jesus o representou e representa no mundo.
importantes dificuldades. A humanidade terrestre nada tinha e nada tem para Lhe
Trata-se do remédio amargo necessário para a recuperação da oferecer.
saúde. Ele de nada necessitava em Sua pureza integrada ao Criador.
Na jornada para o infinito, é preciso abandonar certos apetites Mas eis que gasta com os destinos humanos incansavelmente
grosseiros. Seu tempo precioso, Seus recursos magníficos e
Caminha-se para o sublime, para faixas transcendentes da inimagináveis.
existência imortal. Porque é da essência do bem a doação.
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A plenitude surge nos caminhos humanos com o gosto de renúncia.
cuidar e de fazer feliz o próximo, com desprendimento. Alguns estavam prontos para segui-Lo de plano.
Então, as paixões são gastas e perdem a força. Outros se habilitaram ao longo dos séculos.
No relógio cósmico, incontáveis veem soar o momento de Mas um contingente muito significativo dá mostras de
transcender. preparação agora.
Por isso, sentem vazio e enfado em seus corações. Então, que o enfado com as coisas do mundo se converta em
À custa de reiterados golpes da vida convertida em mestra, alegria: chegou o momento da redenção.
cansaram do jogo dos sentidos. A renúncia a si mesmo já não é impossível e nem dói tanto,
Cansaram de mandar e do fogo dos brilhos mundanos. pois o tempo cuidou de desbastar as maiores causas de apego.
Mas ainda esperam retorno, pelo vício de seu sentir milenar. Resta apanhar a própria cruz, feita de serviço desinteressado,
Precisam, contudo, entender que sua felicidade doravante não de labuta animada para que o próximo seja feliz, para que o
virá de apetites satisfeitos, sensualidade, poder e glória. mundo seja melhor, sem expectativa de qualquer recompensa.
A busca disso só os deprimirá. Feito isso, seguir o Mestre é algo que já se terá feito no
coração.
O caminho, único possível para encher o coração de alegria e a
vida de sentido, é descobrir o prazer de servir.
Não se trata de conselho pueril, apartado da realidade
humana e desconhecedor de sua psicologia.
Não é aos ignorantes que se fala, não é aos adeptos satisfeitos
de variadas baixezas.
Fala-se ao cansados das decepções do mundo, aos deprimidos
em meio a conquistas habitualmente valorizadas.
A estes, cansados do mundo, resta servir no mundo para
serem felizes.
Resta-lhes o amor em sua acepção maior, o amor feito de
renúncia e de doação.
Finalmente, após longos périplos, eis que estão preparados
para ouvir e seguir o chamado que ressoa há séculos: ‘Se
alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada
dia a sua cruz, e siga-me.’
Como se vê, seguir o grande Amor sempre pressupôs
73
C APÍTULO 20
Tríplice
Aspecto
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C APÍTULO 21
Ritos e Tradições
Ao traçar essa meta para o futuro, Jesus sinalizou um tempo Sua vida deve ser um ato de adoração e independe de fatores
em que o Criador seria mais bem entendido em seus atributos. externos sem os quais isso seria impossível.
Por ser imaterial é que deve ser adorado em espírito. Mas e os rituais?
Disso se extrai a inocuidade de tudo o que atine à matéria, no Há variados ritos estabelecidos para marcar transições
afã de conectar-se a Ele. importantes na história humana, individual e coletiva.
Pouco importam locais, horários, posições do corpo, fórmulas, São nascimentos, casamentos, natal, ano novo, páscoa.
cantigas e cantilenas. Ninguém pensará em impedir celebrações singelas de partilha
Não se tem uma vaidosa personalidade humana, a reclamar e comunhão.
sinais exteriores de submissão, como genuflexões. Elas são necessárias para demarcar acontecimentos
Entretanto, quem negará o valor da união, do hábito e dos importantes.
horários definidos para que as criaturas se disciplinem na Orações, leituras, estudos voltados à época ou ao tema.
conexão com o Criador? Tudo isso é válido e não se questiona sua propriedade.
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Mas que não se desvirtue o Espiritismo, como se fez com o
Cristianismo nascente, ao importar ritos do paganismo.
Que não se pretenda celebrar casamentos espíritas, com
liturgia copiada de outras agremiações religiosas.
Que o centro não vire palco de batizados à moda católica ou
protestante.
Que não se coloque a figura do Papai Noel, não se decore a
instituição com coelhinhos na época da páscoa.
Tais períodos e ocorrência devem ser marcados e celebrados,
mas com reflexões, estudos e orações.
O Espiritismo tem um incontornável aspecto de razão, de que
não convém jamais abdicar.
Ele entende a necessidade humana de certos ritos de
passagem e celebração.
Mas persiste como o prenunciador da era em que Deus deve
ser adorado em espírito e verdade.
Espírito em contraposição à matéria, a suas delimitações de
fórmula, de tempo e de espaço.
Verdade, a indicar a necessidade de estudo detido e sério,
para a cada dia mais aproximar as próprias crenças da
realidade vigorante no universo.
De tudo isso, há de sair ou surgir uma religiosidade fundada
na ética cristã, na fraternidade, na compaixão e na caridade, e
não em aspectos exteriores.
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C APÍTULO 22
Aflições
Também não tem uma percepção muito clara do caminho a As renúncias necessárias pesam pouco.
trilhar. Assim, o mundo terreno, em sua posição atual, é sempre
Por isso se debate em dúvidas. afligente.
Cultiva desejos e sonhos que não se concretizam. Mas o jugo do Senhor é leve.
Acalenta até temores sem o menor fundamento. Compensa tomá-lo sobre os ombros.
Caminha no mundo às cegas ou com pouca luz, por assim Compensa identificar os próprios desejos à vivência que a
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Espiritualidade Maior traça e a vida lentamente revela.
Não procurem alhures uma paz deletéria, feita de ócio.
Não achem que em seu presente momento evolutivo
encontrarão alguma alegria nas ardências do mundo.
Renunciem a tudo isso com a mesma leveza e alegria dos
mártires.
Eles abriram mão da vida, dos bens, da família, e se
entregaram ao martírio dos circos por entre cânticos.
Felizmente, a organização social não mais comporta esses
espetáculos.
Espera-se dos novos cristãos uma renúncia mais refinada.
A renúncia das folgas, da preguiça e das discórdias.
Espera-se que vivam com dignidade por entre a corrupção de
um mundo que estertora.
Mas que o façam com alegria e paz, e não desgostosos, como
quem cumpre uma pena.
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