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Autor: Cláudia Menino

Responsável: Prof. A. B. de Almeida

Hidrodinâmica: “Fluidos Perfeitos” e


Escoamentos (módulo 8)
Sumá
Sumário:
Cascata de modelos de Hidrodinâmica
 Modelo de “Fluido Perfeito”
 Equações de Euler
2ª Forma do Teorema de Bernoulli (líquidos perfeitos)
Linhas piezométrica e de energia
 Piezómetro e tubo de Pitot
Teorema de Bernoulli aplicado a líquidos reais
Fórmula de Torricelli
Jactos líquidos na atmosfera
Vórtices

Escoamentos Irrotacionais
 Teorema de Bernoulli – 3ª Forma

Cascata de modelos da hidrodinâmica

Eq. da Continuidade
Equações de Cauchy Eq da Q.de Movimento
(Eq. Da Energia)
Modelo Geral Modelos Simplificados

“Fluido” “Fluido perfeito”


incompressível “Fluido perfeito”
(incompressível e Escoamento
Fluido
não viscoso) irrotacional
Newtoniano

Eq. de Navier - Stokes Eq. de Euler Eq. de Laplace

2
Cascata de modelos da hidrodinâmica
1 – Modelo simplificado de “Fluido Perfeito”
Perfeito”

Em muitas situações é razoável desprezar o efeito da viscosidade


(tensões tangenciais).

Ao anular a viscosidade nas equações de Navier-Stokes


desaparece o efeito das tensões tangenciais.

As partículas de fluido ficam sujeitas unicamente à acção das


forças normais (pressões) e as equações da quantidade de
movimento (equações de Navier-Stokes) transformam-se nas
Equações de Euler.

Fluido Perfeito – Eq. de Euler


1 – Equaç
Equações de Euler

 Hipóteses simplificativas
Incompressibilidade

 ( div V = 0)
 Não há viscosidade ( µ = 0)

Equações de Navier – Stokes  Eq. de Euler (1755)



dV
ρ = ρ g − grad p

dt

peso
Força de Resultante
Inércia total da pressão
4
Hidrodinâmica – forma diferencial
Fluido Perfeito
 A equação de Euler pode ser modificada tendo em conta a
caracterização do campo gravítico
h=z

g = − g grad h g

grad h
Aceleração da gravidade

 Trocando a posição de alguns dos seus membros ter-se-á:


 
dv dv
ρ = ρ g − grad p ⇔ grad p + ρ g grad h = − ρ ⇔

dt dt
 
p a 1 dv
⇔ grad ( + h) = − = −
γ g g dt dv ∂v 
 
= + (v .grad ) v

Nota :
dt dt
(aceleração total ou material)
5

Hidrodinâmica – forma diferencial


Fluido Perfeito
∂ p  1 dvx
Desenvolvendo as expressões, obtém-se:  + h  = −
 ∂x  γ  g dt
∂ p  1 dv y
 + h  = −
∂y  γ  g dt
∂ p  1 dvz
 + h  = −
∂z  γ  g dt
 As equações de Euler podem ser escritas em coordenadas intrínsecas.
Estas coordenadas são definidas em cada ponto da trajectória de uma
partícula por um sistema de eixos ortonormados com os seguintes
versores: 
v 

s ⇒ is − segundo a tan gente à trajectória
  b
is
n ⇒ in − segundo a normal a v e a s , no
    b 
 s
plano osculador da trajectória, dirigida para in 
n

centro de curvatura da trajectória n
 
b = ib , vector normal ao plano osculador, definido pelos vectores s e n
  6
Hidrodinâmica – forma diferencial
Fluido Perfeito

Tendo em conta as coordenadas intrínsecas e



 v 
admitindo que as trajectórias não se modificam is
com o tempo, as equações de Euler podem ser b
escritas do seguinte modo: 
 in
v = v iS e vn = vb = 0, obtendo − se
 
n
∂ p 1  ∂v ∂v 
( + h) = −  + v  e r – raio de curvatura da
∂s γ g  ∂t ∂s  trajectória 
V
∂ p 1 v2
( + h) = −
∂n γ g r 
r

Centro de curvatura
7

Hidrodinâmica – forma diferencial


Fluido Perfeito – 2ª Forma

 Equação de Euler segundo a direcção segundo “s” da trajectória

∂ p 1 ∂v 1 ∂v
( + h) = − − v
∂s γ g ∂t g ∂s
1 ∂v 2
2 ∂s
 O que permite obter a expressão da variação de carga
hidráulica H  2ª Forma do Teorema de Bernoulli,
Bernoulli ao longo
de cada trajectória de acordo com o modelo de “fluido
perfeito”
∂ p v2 1 ∂v
( +h+ )= −
∂s γ 2g g ∂t
H 8
Hidrodinâmica – forma diferencial
Fluido Perfeito – 2ª Forma do teorema de Bernoulli

∂ p v2 1 ∂v
( +h+ ) = −
∂s γ 2g g ∂t
 A 2ª forma do Teorema de Bernoulli aplica-se aos
escoamentos consistentes com a hipótese simplificativa dos
fluidos perfeitos
 Escoamentos permanentes

∂v
=0 , µ = 0 e div v = 0

∂t
∂ p v2
⇒ ( +h+ ) =0⇒
∂s γ 2g
Conclusão: nos escoamentos de
v2p fluidos perfeitos a carga hidráulica
⇒ +h+ = cte
γ 2g mantém-se constante ao longo de cada
trajectória
9

Teorema de Bernoulli para fluidos perfeitos


 Mas então e o que significam as várias parcelas da expressão
referida?
z cota geométrica e relação a um plano horizontal de referência
representa a energia de posição da unidade de peso de líquido
situada á cota z
p
 Altura piezométrica  representa a energia de pressão da unidade de
γ peso de líquido submetido á pressão p

V2
 Altura cinética  corresponde à energia cinética por unidade de peso
2g
p
+ z Cota ou carga piezométrica
γ
 No movimento permanente de líquidos perfeitos a carga total é
constante ao longo de uma trajectória (embora possa variar de
trajectória em trajectória)
10
Linha piezométrica e linha de energia
 Considere-se uma trajectória num escoamento da qual são
conhecidos, nos respectivos pontos, as variadas cotas
geométricas em relação a um plano horizontal de referência e
os valores correspondentes aos campos de velocidade e de
pressão.

 Admitindo que o escoamento é permanente e que o fluido


pode ser considerado como perfeito, a carga hidráulica H
mantém-se constante em todos os pontos da trajectória.

Observação:

A 1ª Forma do Teorema de Bernoulli é aplicada a tubos de fluxo (caso particular de


um volume de controlo finito). A 2ª Forma é aplicada a partículas de fluido ao longo
da respectiva trajectória. Os valores das velocidades e das pressões correspondem,
neste caso, aos valores dos respectivos campos nos pontos ao longo da trajectória.

11

Linha piezométrica e linha de energia


Caracterização da carga hidráulica
 Se representarmos, na vertical de
cada ponto da trajectória, os
valores p/γ e (p/γ + z) obteremos a H=cte
linha piezométrica
 Se representarmos, a partir de uma
plano horizontal de referência os
valores (p/γ + z) obteremos a cota
piezométrica ou carga piezométrica

 Se representarmos os valores V2/2g acima da linha piezométrica obtemos


a linha de cargas totais ou linha de energia (por unidade de peso de
líquido) cujas cotas em relação ao plano de referência representam os
valores da energia mecânica total por unidade de peso de líquido, ou da
carga total, correspondente à trajectória.

Observação:
O valor de H é constante ao longo de cada trajectória, mas pode ser diferente de
trajectória para trajectória 12
Linha piezométrica e linha de energia
 No caso de líquidos perfeitos em movimento permanente a linha
de energia que corresponde a uma determinada trajectória é
horizontal porque a carga total é constante ao longo dessa
trajectória.

 Observação:

 A linha de energia está acima da linha piezométrica ou coincidente


com esta quando a velocidade for nula.
 A linha piezométrica pode passar abaixo da trajectória se tomarmos
como referência pressões relativas – o que não acontece nunca caso
usemos pressões absolutas.

13

2ª Forma do Teorema de Bernoulli

Linha de energia

Linha piezométrica

 A 2ª Forma do Teorema de Bernoulli é muito útil na compreensão da relação


entre as três grandezas da carga hidráulica.
 Considere-se uma tubagem com secção constante e com tipográfica z do
eixo a variar com a distância ao reservatório.
 Admitindo-se uma trajectória no interior da tubagem (eixo da tubagem)
suficientemente afastada da parede para se considerar válida a
aproximação de “fluido perfeito”, a carga hidráulica poderá ser considerada
constante (aproximação simplificativa): a linha piezométrica está localizada
a uma distância constante da linha de energia e a altura piezométrica será
positiva nos trechos em que o eixo esteja abaixo deste ou negativa (inferior
à pressão atmosférica) quando estiver acima. 14
Linha piezométrica e linha de energia
Piezómetro (medição da pressão)
 Mas então, qual o significado físico da
cota piezométrica?
 Considere-se, para responder a esta
pergunta, um tubo fino com o topo em
contacto com a atmosfera e cujo eixo é
normal à trajectória num ponto P,
pertencente ao eixo mas na base do
tubo – o já conhecido tubo
Piezomé
Piezométrico ou tubo de Prandtl.

 A colocação deste tubo não altera a pressão no ponto P uma


vês que se mantém inalterada a trajectória que passa pelo
mesmo.

15

Linha piezométrica e linha de energia


Piezómetro (medição da pressão)
 Se considerarmos um outro ponto P’, muito próximo de P, mas
situado dentro do tubo, a pressão deste será igual à de P
pP pP '
+ zP = + zP'
γ γ
zP ≈ zP '
 Atendendo a que o líquido no interior do tubo se encontra em
repouso, verifica-se uma distribuição hidrostática de pressões, pelo
que se verifica:
pP' pS
+ zP' = + z S = z S pois p S = p atm = 0 ( pressões relativas )
γ γ
sendo S um ponto da superfície livre do líquido em contacto com a
atmosfera

16
Linha piezométrica e linha de energia
Piezómetro
 Assim podemos compreender como é que podemos determinar as
pressões num fluido em escoamento utilizando um piezómetro

 A cota atingida pela superfície livre da água num tubo piezométrico


(zs) corresponde à cota piezométrica na base do tubo e a distância na
vertical entre esta base e a superfície livre no piezómetro representa a
correspondente altura piezométrica (relativa).

Tubo piezométrico em laboratório


17

Linha piezométrica e linha de energia


Piezómetro e tubo de Pitot
 Considere-se um tubo ligeiramente diferente do anterior: com um
ramo em ângulo recto, que é colocado no ponto P da linha de
corrente do escoamento tendo a abertura dirigida para montante
donde vem o escoamento  este tubo é designado por tubo de
Pitot

 Num ponto Q no interior do tubo, junto à entrada do mesmo, a


velocidade é nula – velocidade de estagnação – e a pressão é
maior do que a que ocorre no ponto P, situado na mesma linha de
corrente, a montante, a uma distante pequena mas suficiente para
que o escoamento não seja perturbado. 18
Linha piezométrica e linha de energia
Piezómetro e tubo de Pitot
 Ao aplicarmos o teorema de Bernoulli (*) obtemos que
pP VP2 pQ
HP = + zP + = + zQ
γ 2g γ
o que permite concluir que a cota da superfície livre atingida no
ramo do tubo de Pitot em contacto com a atmosfera (igual à cota
piezométrica em Q) é também igual à carga total em P, HP.

 Deste modo, desprezando a pequena diferença de cotas entre P e


Q, pode afirmar-se que a energia cinética é transformada em
energia de pressão entre P e Q, sendo o aumento de pressão em
Q dado por:
pQ pP VP2
− =
γ γ 2g
19

Linha piezométrica e linha de energia


Piezómetro e tubo de Pitot
 Um tubo de Pitot é, desta forma, um dispositivo utilizado para a
medição da velocidade.

 Consiste em dois tubos: um para a medição da carga total,


ligado a um orifício no extremo do perfil arredondado do ramo
inferior, e outro que se destina a medir a cota piezométrica.

 A diferença de cotas da superfície do líquido atingidas nos dois


tubos é a altura cinética V2/2g.

20
Teorema de Bernoulli aplicado a Líquidos
Reais com viscosidade
 Quando o escoamento apresenta efeitos
relevantes da viscosidade, o líquido diz-
se “real”, em oposição a perfeito. Em
escoamento permanente, a carga total
diminui ao longo da trajectória, no
sentido do escoamento, em
consequência do trabalho realizado
pelas forças resistentes viscosas. Diz-se
então que há perda de craga ao longo
da trajectória.

 A variação da cota da linha de energia na unidade de percurso (ie,


variação da energia do líquido que se escoa, nas unidades de peso e
de percurso) é igual ao trabalho das forças resistentes viscosas
(também na unidade de peso e de percurso) o qual é designado por i
(perda de carga unitária).
21

Teorema de Bernoulli aplicado a


Líquidos Reais
 De facto: ∂p V2 
 + z +  = −i
∂s  γ 2 g 
onde o sinal (-) se justifica por H diminuir
quando s aumenta.
 A grandeza adimensional i designa-se por
perda de carga unitária (diminuição da
carga total H por unidade de percurso ao
longo da trajectória).
 Integrando a equação acima entre dois pontos sobre a mesma
trajectória, 1 a montante e 2 a jusante obtém-se…
2 2 … e este membro representa a
H 2 − H 1 = − ∫ i ds ⇔ H 1 − H 2 = ∫ i ds perda de energia por unidade de
1 1
peso (ou perda de carga) entre os
pontos 1 e 2 da trajectória

22
Teorema de Bernoulli aplicado
Líquidos Reais
 No caso de líquidos reais em movimento variável é necessário
introduzir o termo 1 ∂V
g ∂t
que é também válido para líquidos perfeitos em movimento variável
 representa a variação na unidade de tempo da quantidade de
movimento por unidade de peso líquido.

 A expressão resultante da 2ª Forma do Teorema de Bernoulli é a


seguinte:
∂ p V 
2
1 ∂V
 + z +  = − −J
∂s  γ 2g  g ∂t

aplicável a movimentos variáveis de líquidos reais ao longo de uma


trajectória
23

Variação da cota piezométrica segundo a


normal às linhas de corrente
 Considere-se uma linha de corrente num escoamento permanente de
um líquido (linha de corrente coincidente com a trajectória).

 Como será que varia a cota piezométrica segundo a normal à linha de


corrente?

24
Hidrodinâmica – Forma Diferencial: Variação da cota
piezométrica segundo a normal às linhas de corrente

 Equação de Euler segundo a direcção “n” da trajectória (linha de


corrente):
∂ p  1 V2
 + h  = −
∂n  γ  g r
 Esta equação traduz o efeito da curvatura de trajectória na
distribuição da cota piezométrica segundo a normal.
Pode concluir-se que, no caso geral, a distribuição de pressões
segundo a normal à trajectória não segue a lei hidrostática. Esta
conclusão é muito importante!

Observação:
A equação segundo a normal mantém-se válida em escoamentos
variáveis no caso das das trajectórias não se modificam com o
tempo!! 25

Hidrodinâmica – Forma Diferencial: Variação da cota


piezométrica segundo a normal às linhas de corrente

 Exemplo: escoamento permanente num plano vertical

Centro de curvatura

A pressão em B não
obedece à lei hidrostática
PBR>PBH
Em resultado:
A hA
p
PBR + h ≠ cte
h γ
PBH B hB

z =0

26
Hidrodinâmica – Forma Diferencial: Variação da cota
piezométrica segundo a direcção “radial” às linhas de corrente

 Variação segundo a direcção radial “r”


∂ p  ∂ p  V2
 + h  = −  + h  = >0
∂r  γ  ∂n  γ  gr
 Observação: o sentido positivo da coordenada e é contrário ao
sentido positivo de n.
 Então:
p  p 
 + h  =  + h 
γ B  γ A

E sendo PA=Patm = 0

 p
  > hA − hB > altura de água do escoamento
 γ B
27

Variação da cota piezométrica segundo a


normal às linhas de corrente

 Para trajectórias rectilíneas, o raio r é infinito, logo:

∂ p 
 + z  = 0
∂n  γ 
ou seja, a cota piezométrica é constante segundo qualquer linha
normal às trajectórias (a pressão obedece, neste caso, à lei
hidrostática de pressões em superfície normais às trajectórias).

28
Variação da cota piezométrica segundo a
normal às linhas de corrente
 Se, para além de rectilíneas, são paralelas, a distribuição de
pressões em planos normais às trajectórias é hidrostática
 Se as trajectórias forem rectilíneas, mas não paralelas, a
distribuição de pressões é hidrostática sobre superfícies não
planas, normais às trajectórias

Distribuição hidrostática de pressões

29

Variação da cota piezométrica segundo a


normal às linhas de corrente
 Conclusão, para analisar o efeito da curvatura das trajectórias
sobre a lei de distribuição de pressões, é necessário considerar
três casos:
a) Trajectórias rectilíneas e paralelas;
b) Trajectórias rectilíneas e côncavas;
c) Trajectórias rectilíneas e convexas.

(Concavidade e convexidade no sentido positivo das cotas geométricas)

30
Variação da cota piezométrica segundo a
normal às linhas de corrente
 Vamos considerar, para os casos a) b) e c) dois pontos a igual distância, y,
situados na vertical que passa pelo centro de curvatura (comum às várias
trajectórias nos casos b) e c)).
 Tendo em conta a equação ∂ p  1 V2
 + z  = −
∂n  γ  g r
e atendendo, nos casos b) e c) aos sentidos relativos da normal e da cota
geométrica, verifica-se:
pA pB pB pA
+ zA = + zB ⇔ = +y
γ γ γ γ
p A' pB ' pB ' p A'
+ z A' < + zB' ⇔ > +y
γ γ γ γ
p A '' p B '' p B '' p A ''
+ z A '' > + z B '' ⇔ < +y
γ γ γ γ

31

Variação da cota piezométrica segundo a


normal às linhas de corrente
 As expressões anteriores mostram que a pressão cresce com a
profundidade segundo a lei hidrostática de pressões quando as
trajectórias são rectilíneas mas é maior ou menor do que a
correspondente à referida lei, consoante as trajectórias tenham a
concavidade ou a convexidade para cima.

 O efeito da curvatura na distribuição da cota piezométrica (e das


pressões) ilustra-se pela posição da superfície livre do líquido nos
piezómetros quando comparada com a superfície livre do escoamento.
Descendo a base do tubo piezométrico, a posição da superfície livre
dentro do tubo não se modifica no caso (a), sobe no caso (b) e desce no
caso (c).
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Aplicações na Engenharia

 Como exemplos de aplicações na engenharia temos:

 Determinação de força hidrodinâmicas actuantes em superfícies de


estruturas em contacto com os escoamentos.

 Exemplo: laje de fundo de um canal curvo

33

Aplicação do Teorema de Bernoulli para líquidos


perfeitos – fórmula de Torricelli

 Exemplo de aplicação do modelo de “fluido perfeito”

 O modelo aproximado de “fluido perfeito” é váldo nos casos em


que o efeito de viscosidade não é relevante!
 Exemplo: fluido em movimento afastado de fronteiras (parcelas sólidas
– gradiente de velocidade pouco relevante perto das paredes sólidas,
o que implica um efeito pouco relevante da viscosidade).

 Com base na 2ª foma do teorema de bernoulli é possível deduzir a


velocidade de um jacto líquido à saída de um reservatório para a
atmosfera - Fórmula de Torricelli

34
Aplicação do Teorema de Bernoulli – fórmula de
Torricelli

 Para deduzir a fórmula de Torricelli


considere-se um reservatório de
grandes dimensões dotado de um
pequeno orifício numa das suas
paredes laterais.

 Neste caso o movimento é considerado permanente visto que a


velocidade de variação da cota da superfície é muito pequena.
 Não obstante, a massa líquida do reservatório participa no
escoamento, o campo de velocidades só é relevante numa zona perto
do orifício onde as trajectórias são convergentes. À saída do orifício o
jacto sofre uma grande contracção cujo limite é uma secção em que as
tangentes às linhas de corrente são praticamente rectilíneas e
paralelas – a secção contraída.

 Questão: com base no termo da equação de Euler segundo n ,
explique a razão da formação da secção contraída à saída do jacto
35
líquido.

Aplicação do Teorema de Bernoulli – fórmula de


Torricelli
 Em todos os pontos da secção contraída a
pressão tem aproximadamente o mesmo
valor da patmosférica (pressão relativa nula)

 Como o movimento é permanente e o efeito de viscosidade no interior do


reservatório pode ser desprezado, pode aplicar-se a 2ª forma do teorema de
Bernoulli, a uma trajectória fictícia entre dois pontos (A e P), logo
pA VA2 pP V2 p p
+ zA + = + zB + P ⇒ P = A = 0
A – ponto da superfície livre (V=0) γ 2g γ 2g γ γ
P – ponto da secção contraída, situado sobre o eixo do jacto

Se H=zA-zP for a carga hidráulica no ponto P do eixo d orifício, obtém-se a


fórmula de Torricelli (1604-1647):
V = 2gH
Observação: para líquidos “reais”, sem a aproximação de “fluido perfeito”, a expressão deve incluir um
coeficiente adimensional de correcção. 36
Jactos líquidos na atmosfera
 A trajectória de um líquido para a atmosfera a pós a saída por um
orifício é designada por jacto. Os jactos líquidos podem ser
encontrados em estruturas de lazer (ex.: fontes de água) e em
estruturas hidráulicas de grande porte (ex.: descarregador de
barragens de jacto livre). A determinação das trajectórias dos
jactos é importante para a obtenção da zona de impacto e a
protecção contra erosões.

Barragem de Cahora Bassa


37

Jactos líquidos na atmosfera


 Considere-se um jacto líquido na atmosfera: desprezando as
acções tangenciais entre o jacto e o ar (e se considerarmos a
pressão nula no interior do jacto) a força resultante reduz-se ao
próprio peso do líquido do trecho

z atmosfera

Jacto de água na
atmosfera
0
x

 Considere-se um jacto de água que é lançado na atmosfera com a


velocidade inicial V0.
 A equação que rege o escoamento é a Equação de Euler no plano
x,z, sendo a pressão sempre nula.
38
Jactos líquidos na atmosfera
 Aplicação da Equação de Euler:

dV
ρ =ρ g

dt
 De acordo com esta equação, as partículas de fluido ficam sujeitas a
forças de gravidade (peso) e forças de inércia (consideram-se forças
tangenciais nulas)

 A equação é vectorial e tem duas componentes: segundo x e segundo


z.

39

Jactos líquidos na atmosfera


 Tendo em conta o sistema de eixos definido, com origem no eixo
do jacto temos as duas componentes:

dVx dVz
ax = = 0, az = = −g
dt dt
A integração destas equações conduz a:

z
Vx = C1 e VZ = − g t + C2 , V 2
V2 V02x
0
2g 2g
C1 e C2 cons tan tes 2g V0
V0 z z z =0
α
0 V0 x V02z
2g
x
40
Jactos líquidos na atmosfera
 Se a velocidade na origem (x0=z0=0) tiver um valor V0 e fizer um
dado ângulo inicial com a horizontal, α:
Vx = Vox , VZ = Voz − g t ,
1
x = Vox t , z = Voz t − g t 2
2
ou ainda
1
x = Vo cos α t , z = Vo sin α t − g t 2 z
2 V2 V02x
2
V 0 2g
2g
2g V0
V0 z z z =0
α
0 V0 x 2
V0z
2g
x
41

Jactos líquidos na atmosfera


 Se eliminarmos t nas duas equações anteriores obtemos a
equação que define a trajectória do jacto: g
z = tg α x − x2
2 V0 cos 2 α
2

 De modo análogo podemos usar as equações anteriores para


obter a carga hidráulica
V2 V2
z + z = 0 z , e como
2g 2g
V 2 = Vx2 + Vz2 = V02x + Vz2 ⇒
z V2 V02x
V 2
V V2 2 V02 2g
2g
⇒ z+ z
= + 0z
⇔ 0x
2g
2g 2g 2g V0
V0z z z =0
V2 α
V2
⇔ z+ = 0 0 V0x V02z
2g 2g
2g
x
Observação: a pressão actuante é considerada nula (patmosférica) 42
Jactos líquidos na atmosfera
V2 V02
z+ =  Esta equação exprime pois a carga total em relação
2g 2g ao plano horizontal que passa pela origem (o plano
de referência), carga essa que é constante.
 A partir dela é possível saber, por exemplo, qual o ponto mais alto atingido pelo
jacto – ponto onde Vz=0, e, consequentemente, V=Vx=V0x

V02 V02x V02z


z máx = − =
2g 2g 2g z V2 V02x
2
V 0 2g
2g
2g V0
É, deste modo, igual à altura cinética
V0 z z z =0
correspondente à componente vertical α
da velocidade na origem. 0 V0 x 2
V
2g
0z
x
43

Vórtices de eixo vertical


 O movimento de um fluido com trajectórias circulares e
concêntricas é designado por Vórtice.
 Se os centros das trajectórias contidas nos diferentes
planos estiverem sobre a mesma vertical, está-se na
presença de um vórtice de eixo vertical.
 Os vórtices podem ocorrer na Natureza (tornados e
trombas de água), em escoamentos junto a orifícios ou
no interior de recipientes em rotação.
 A variação da cota piezométrica com o raio, num
vórtice de eixo vertical obedece à seguinte
componente da equação de Euler:
∂ p 2
 1V
 + z  =
∂r  γ  g γ

Observação: o sentido positivo de r é oposto ao de n , o

que explica o facto do segundo membro da equação
ser positivo! 44
Vórtices de eixo vertical
 A componente segundo a vertical (binormal) é a seguinte:
∂ p 
 + z  = 0
∂z  γ 
Concluindo-se que a distribuição hidrostática de pressões mantém-se
válida neste caso.
 Vórtice forçado – sob a acção de um binário exterior que mantém a
rotação do vórtice como sendo um movimento de corpo rígido:
V =wr
 Demonstra-se que, neste caso, as tensões tangenciais são nulas
 a equação de Euler (fluido perfeito) é válida.

Exemplo: líquido no interior de um recipiente cilíndrico que roda com velocidade


angular constante em torno do eixo vertical.
45

Vórtices de eixo vertical


 A integração da equação de Euler segundo r conduz à seguinte
distribuição de pressões:
p w2 r 2
+ z = z0 +
γ 2g
Que mostra que as superfícies de igual pressão (isobáricas) são
parabolóides de revolução. A superfície livre em contacto com a
pressão atmosférica é uma isobárica  a superfície livre é
parabólica.
 A carga hidráulica é constante ao longo de cada trajectória circular
(2ª forma do teorema de Bernoulli)
w2 r 2 QUINTELA 4.12
H = z0 +
2g
Observação: para cada trajectória (valor específico para V) existe um
valor de H. 46
Vórtice livre
 O movimento de rotação de um fluido que ocorre livremente em
torno de um eixo, após ter causado a actuação dos binários que o
originaram, é designada por vórtice livre.

 Neste caso, a carga hidráulica H é constante em todos os pontos,


o que implica a seguinte lei de velocidade (tangencial):

K
V=
r
Sendo K uma constante.

47

Vórtice livre
 De acordo com a equação de Euler
∂ p  K2
 + z  = 3
∂z  γ  gr
E integrando entre dois pontos do escoamento com trajectórias
diferentes p K2
+z+ = cte
γ 2g r 2
 A carga total H, em todos os pontos, é igual à cota da superfície
livre do líquido a uma distância infinita do eixo.
 A superfície livre é um hiperbolóide de revolução, tendo por eixo o
eixo do vórtice:
K2
z+ =H
2g r 2

48
Vórtice livre
 Num vórtice livre, a superfície livre do líquido baixa na
aproximação do eixo (onde a velocidade seria infinita) e não o
atinge.
 Quando a zona central do vórtice está preenchida por líquido,
obtém-se um vórtice misto.
 Nos tornados ou nas trombas de água, o escoamento na zona
central também ocorre sob a forma de vórtice forçado, combinado
com um movimento axial

 FIGURA 4.17 QUINTELA

49

Escoamentos Irrotacionais (Potenciais)


 Um escoamento é designado como irrotacional quando o
respectivo campo de velocidades obedece, simultaneamente, às
seguintes duas condições:


div (V ) = 0 condição de incompressibilidade


rot (V ) = 0 condição de irrotacionalidade

 Estas condições estão associadas a uma aproximação que


corresponde à anulação do termo das tensões tangenciais das
equações de Navier-Stokes e à simplificação na obtenção de
soluções.

50
Escoamentos Irrotacionais (Potenciais)
 Recorda-se que:

  ∂V ∂V y    ∂Vz ∂Vx    ∂V y ∂Vx  


rot V = ∇ × V =  z − i −   j − k

− −
 ∂y ∂z   ∂x ∂z   ∂x ∂y 
ou
  
i j k
 ∂ ∂ ∂
rot V =
∂x ∂y ∂z
Vx V y Vz

51

Escoamentos Irrotacionais (Potenciais)


Teorema de Bernoulli (3ª Forma)

dV
 Substituindo na equação de Euler obtém-se:
dt
p V2 

∂V
+ grad  + h + =0
∂t γ 2 g 
sendo
g = − g grad h


Tendo em conta que V = grad Φ
obtém-se a seguinte expressão (3ª Forma do Teorema de Bernoulli)
p V2  ∂Φ
grad  + h +  = −
γ 2g  ∂t
válida para todos os pontos do escoamento Irrotacional

52
Escoamentos Irrotacionais (Potenciais)
Teorema de Bernoulli (3ª Forma)
 Em escoamentos Irrotacionais permanentes

p V2 
grad  + h +  = 0, e
γ 2 g 
p V2
+h+ = cons tan te = H 0
γ 2g
 Conclusão: nos escoamentos Irrotacionais, a carga hidráulica H0 é
uma constante para todos os pontos do escoamento! Conhecido o
valor de H0 num ponto do escoamento, esse será o valor de H0 em
todos os restantes pontos do escoamento!

(3ª Forma do Teorema de Bernoulli para escoamentos permanentes)


53

Escoamentos Irrotacionais (Potenciais)


Teorema de Bernoulli (3ª Forma)
 Equação de Laplace

 Substituindo V = grad Φ
Na equação da continuidade obtém-se a seguinte condição:

div V = div ( grad Φ ) = lap φ = 0

O potencial de velocidade φ obedece à equação de Laplace!


∂ 2 Φ ∂ 2Φ ∂ 2 Φ
+ + =0
∂x 2 ∂y 2 ∂z 2

Esta equação é uma equação fundamental para a obtenção das


soluções dos campos de velocidade e de pressão em escoamentos
irrotacionais (potenciais)
54
Escoamentos Irrotacionais (Potenciais)
Teorema de Bernoulli (3ª Forma)
 Processo de análise dos escoamentos Irrotacionais
 Resolução da equação de Laplace
lap Φ = 0 → solução Φ ( x, y, z, t )
 Obtenção do campo de velocidades

V = grad Φ
 Obtenção do campo de pressões (escoamento permanente)
V2
p ( x, y , z ) = H 0 − −h
2g
Sendo H0 a carga hidráulica
 Conclusão: nos escoamentos irrotacionais uma única equação
escalara – Equação de Laplace – permite a análise dos campos de
velocidade e de pressão
55

Escoamentos Irrotacionais (Potenciais)


Teorema de Bernoulli (3ª Forma)
 Exemplo: escoamento em torno de um
ângulo recto
 Função potencial de velocidade φ
a 2
Φ=
2
(
x − y2 )
 Campo de velocidades
∂Φ ∂Φ
Vx = =ax Vy = = −a y
∂x ∂y
 Campo de pressões (admite-se que o plano é horizontal)
p V2
+h+ = cte = H 0 (T .Bernoulli)
γ 2g
H0 - valor da carga hidráulica no ponto (0,0)
V = Vx2 + V y2
2

ρ
p = p0 − a2 (x2 + y2 ) 56
2
Escoamentos Irrotacionais (Potenciais)
Teorema de Bernoulli (3ª Forma)

 Exemplos de redes isométricas (φ, χ)


 O caudal entre duas linhas de corrente mantém-se constante
 Quando as linhas de corrente se aproximam, a velocidade média
aumenta, e quando se afastam diminui
 Nos pontos angulosos (duas tangentes) das linhas de corrente a
velocidade do escoamento num ponto é:
a) Nula – ponto de estagnação
b) infinita 57

Escoamentos Irrotacionais (Potenciais)


Teorema de Bernoulli (3ª Forma)
 Mais alguns exemplos
de redes isométricas (φ, χ)

58
Escoamentos Irrotacionais (Potenciais)
Escoamentos planos(x,y)
 A equação de Laplace possui duas famílias de soluções que são
ortogonais entre si:
 Uma das funções é a função potencial de velocidade, φ
 A outra solução é a função χ designada por função de corrente

χ1
χ2
χ3

χ4 As soluções podem ser


representadas por linhas de
y χ5 igual valor de φ e de χ (linhas
Φ1 Φ6 ortogonais)
Φ2 Φ3 Φ4 Φ5
x
59

Escoamentos Irrotacionais (Potenciais)


Escoamentos planos(x,y)
 As linhas de χ constante correspondem a linhas de corrente do
escoamento. Estas linhas são ortogonais às equipotenciais φ:

Linha equipotencial
φ = cte
∂χ
Vx =
∂x

V ∂χ
Linha de corrente Vy = −
χ = cte ∂y

 Observação:
A função χ obedece também à equação de Laplace  lap χ =0

60
Escoamentos Irrotacionais (Potenciais)
Escoamentos planos(x,y)

 Num escoamento plano, a diferença entre dois valores de χ


corresponde ao valor do caudal por metro de largura que se escoa
entre as respectivas linhas de corrente:

χ2 q = χ2- χ1
(p.u.largura)

χ1
 Sendo o caudal constante entre duas linhas de corrente, conclui-se
o seguinte:
 Quando as linhas de corrente se aproximam, a velocidade aumenta;
 Quando as linhas de corrente se afastam a velocidade diminui.

61

Escoamentos Irrotacionais (Potenciais)


Escoamentos planos(x,y)
 Exemplos de escoamentos irrotacionais simples
 Escoamento uniforme
Φ = U x +V y
U,V – componentes de velocidade
segundo x e y

 Nascente (poço) q
Φ= log r

Nascente ou poço consoante o sinal de q
(q – caudal por metro, ao longo do eixo)

 Vórtice potencial rectilíneo (vórtice livre)


Γ
Φ= θ

62
Γ - circulação em torno do eixo do vórtice
Propriedades das soluções da equação de
Laplace
 Princípio da solidificação - princípio de Rankine

 Ao sobrepor soluções pode ser obtida uma linha de corrente fechada


que separa duas zonas de escoamento: um escoamento exterior e um
escoamento interior. O resultado corresponde à solução de um
escoamento em torno de um corpo sólido com a forma da rgião
isolada (escoamento interno). A forma do corpo pode ser obtida por
sobreposição de soluções simples.

 [exemplo 2]

63

Propriedades das soluções da equação de


Laplace
 Exemplo 2
1 – a sobreposição de um escoamento uniforme
com uma nascente e um poço origina uma linha
de corrente fechada;
2 – as linhas de corrente exteriores a essa linha
fachada correspondem ao escoamento
perturbado por um corpo com a forma indicada
(sombreado). Essa forma pode ser “construída”
através do escoamento simples sobreposto.

Observação: a zona exterior do escoamento


potencial pode ser obscurecida e ser
considerada como um corpo sólido (exemplo:
uma secção do pilar de uma ponte).

64
Propriedades das soluções da equação de
Laplace
 Exemplo 3:
A selecção de nascentes e poços com caudais (intensidades)
adequadas permite “construir” uma asa (ou uma pá de máquina)
envolvida por um escoamento).

nascentes poços

65

Propriedades das soluções da equação de


Laplace
 Escoamento em torno de um cilindro
1 – Dipolo
 Sobrepondo uma nascente com um poço, com idênticos valores de
q, e impondo que a distância d entre estes tenda para zero mantendo
constante o valor de q.d, obtém-se um escoamento irrotacional
designado por dipolo

2 – Cilindro
 Sobrepondo um dipolo com um escoamento uniforme obtém-se o
escoamento em torno de uma linha de corrente fechada
(circunferência) que pode ser considerada como a superfície limítrofe
de um cilindro.

66
Propriedades das soluções da equação de
Laplace
3 – Resultado
Sobreposição de um escoamento
uniforme (velocidade Vx=U) com um
dipolo  aparecimento de uma linha
de corrente fechada  superfície de
um cilindro hipotético com eixo
normal ao plano.

 Malha resultante das linhas de


corrente e das equipotenciais. As
velocidades e as pressões em torno
do cilindro podem ser obtidas!

 Não esquecer: estas linhas são


ortogonais!
67

Propriedades das soluções da equação de


Laplace
 Método da imagem
 O principio da sobreposição permite resolver de forma simples alguns
problemas de escoamentos condicionados por paredes planas. Um
plano sólido (linha de corrente através da qual não pode passar fluido)
pode ser considerado um eixo de simetria).
 O efeito desse eixo de simetria no escoamento em estudo pode ser
obtido através da sobreposição deste com um outro escoamento
idêntico mas colocado numa posição simétrica (imagem),
relativamente à parede (eixo de simetria)
 Exemplo:

68
Propriedades das soluções da equação de
Laplace
 Obtenção de soluções de equação de Laplace
 Para além das soluções analíticas de escoamentos simples, a obtenção das
funções φ e χ que obedecem à equação de Laplace, tendo em conta as
condições de fronteira (nos limites da zona do escoamento) pode ser obtida
por meio de métodos numéricos e computacionais.

Exemplo: linhas de corrente obtidas em computador num canal com uma soleira descarregadora
a jusante; a velocidade do escoamento aumenta na zona próxima do descarregador (as linhas
de corrente convergem). 69

Propriedades das soluções da equação de


Laplace
 Condições de fronteira
 Na integração da equação de Laplace não é imposta a condição de
velocidade nula ao longo das superfícies sólidas!
 No caso de superfícies não porosas pode ser imposta a condição da
componente da velocidade normal à superfície ser nula
∂χ
V n= − =0
 ∂n
sendo n a direcção normal à superfície sólida.

Em outras zonas das fronteiras poderá ser especificado o valor de χ (ou de φ) 70


Vórtice de Rankine
 Os escoamentos em vórtice podem ocorrer
na Natureza (tornados e trombas de agua na
atmosfera) e em instalações hidráulicas
 É o caso do esvaziamento de um
reservatório por um orifício no fundo, onde
há tendência para a formação de um vórtice
de Rankine  combinação de um vórtice
livre com um movimento radial e vertical e
um vórtice forçado na zona central.

71

Vórtice de Rankine
 No esvaziamento de um reservatório
tende a formar-se numa zona afastada
do eixo do orifício um escoamento
irrotacional (aceleração a partir do
repouso) com um momento angular
constante (região I)
K Γ
Vθ = =
r 2Π r
 Pela 3ª forma do Teorema de Bernoulli obtém-se a lei da altura de
água h(r) (perfil de tipo hiperbólico):
Γ2
h(r ) = h0 −
8 Π2g r 2
Sendo Γ a “circulação” em torno do eixo do orifício e h0 a altura de
água longe deste (r=R)
72
Vórtice de Rankine
 A velocidade num vórtice potencial é puramente tangencial…

73

Vórtice de Rankine
 Os efeitos de viscosidade (tensões viscosas) aumentam à medida
que r decresce. A partir de um determinado valor de r a tensão
tangencial é suficiente para mover a massa de líquido do interior
de acordo com um “vórtice forçado” (núcleo de vórtice) com um
vector vorticidade constante e um perfil parabólico (zona II).

 Observação: este tipo de vórtice pode propiciar a entrada de ar


nas tubagens e provocar danos relevantes.

74
Vórtices (cont.)
 A sobreposição do vórtice potencial rectilíneo (conservação da
quantidade de movimento angular) com o escoamento radial para
o orifício (poço) resulta num escoamento com linhas de corrente
(trajectórias) rectilíneas:
Φ = m ln r + k θ
χ = m θ − k ln r

75

Irrotacionalidade - Validade
 Validade da aproximação da irrotacionalidade:
 A não consideração dos efeitos da viscosidade implica (à semelhança do
que também acontece com a aproximação de “fluido perfeito”) a perda
de validade dos escoamentos irrotacionais nas zonas sob forte influência
de paredes sólidas: a condição de aderência deixa de ser imposta e são
nulas as tensões viscosas.
 A aproximação será especialmente válida em escoamentos que
aceleram a partir da situação em repouso (com V = 0 ⇒ rot V = 0 ) e em
 
zonas afastadas das fronteiras sólidas.
• Exemplo: zonas de aproximação a canais descarregadores a partir de
albufeiras

76
Irrotacionalidade - Validade
 Limitação importante dos modelos aproximados irrotacionais
 A não consideração da viscosidade e da condição de aderência nas
paredes sólidas pode conduzir a consequências importantes nos
escoamentos; uma dessas consequências é a conclusão que a força
resultante exercida pelo escoamento num corpo imerso é nula
(Paradoxo d’Alembert).
 Nos escoamentos reais (manifesta-se a viscosidade, obedecendo à
condição de aderência) o efeito de parede sólida pode modificar
significativamente o comportamento do escoamento, nomeadamente
o campo de pressões em torno de um corpo sólido
• Exemplo: ocorrência do fenómeno de separação
 A capacidade actual dos computadores já permite que as equações
de Navier-Stokes possa ser uma plataforma para a análise dos
escoamentos complexos, tendo em conta a condição de aderência
• Exemplo: escoamentos em torno de aviões

77

Líquidos perfeitos e líquidos reais


Camada limite. Separação
 Considere-se o escoamento irrotacional em torno de um cilindro
recto, de directriz circular e eixo normal à direcção do escoamento
incidente (paralelo e uniforme). A velocidade é nula e a pressão
máxima, nos pontos A e D (pontos de
estagnação); a velocidade é máxima e a pressão mínima, nos pontos
B e C.

Escoamento irrotacional em
torno de um cilindro

 Conclusão: o escoamento é simétrico, o campo de pressões é


simétrico e, a força resultante sobre o cilindro é nula! (Paradoxo) 78
Líquidos perfeitos e líquidos reais
Camada limite. Separação

Escoamento irrotacional
em torno de um cilindro

 A condição de irrotacionalidade permite o deslizamento das


partículas líquidas sobre a parede sem se desenvolverem tensões
tangenciais. Não haveria, assim, perda de energia. Se o
escoamento ocorre no plano horizontal, o excesso da energia de
pressão em A em relação ao escoamento uniforme incidente
transformar-se-ia integralmente em energia cinética até B e C; a
energia cinética em B e C voltaria a ser recuperada na totalidade,
como energia de pressão, no percurso de B para D e de C para D
(o campo de pressões é simétrico e a força resultante é nula).
79

Líquidos perfeitos e líquidos reais


Camada limite. Separação
 O escoamento de um líquido real em torno do cilindro (e ao longo
de qualquer parede) difere do obtido pela aproximação irrotacional
(potencial); de facto, a velocidade (relativa) de um líquido real em
contacto com a parede sólida é nula, o que implica a existência de
uma região do escoamento com forte gradiente de velocidade
segundo a normal à parede e, portanto, o aparecimento de
tensões tangenciais viscosas.

 Surge, então, o conceito de camada limite: zona adjacente à


parede sólida onde os efeitos viscosos são importantes.
Exteriormente à camada limite, onde os gradientes da velocidade
são pequenos, o escoamento pode ser estudado como se fosse
perfeito ou, eventualmente, irrotacional.
80
Líquidos perfeitos e líquidos reais
Camada limite. Separação
 EXEMPLO: escoamento em torno de uma asa

81

Líquidos perfeitos e líquidos reais


Camada limite. Separação
 No contacto entre o líquido em movimento e a parede sólida
origina-se o desenvolvimento da camada limite,
cuja espessura cresce para jusante.

Camada limite provocada por uma placa


plana, fina e paralela à velocidade do
escoamento
82
Líquidos perfeitos e líquidos reais
Camada limite. Separação
 Numa conduta ou num canal com origem num reservatório, a
camada limite desenvolve-se a partir da entrada e, a determinada
distância ocupa a totalidade da secção.
 O crescimento da espessura da camada limite é menor quando as
pressões no exterior a ela decrescem no sentido do escoamento.

Progressão da camada limite no trecho inicial de uma conduta

83

Líquidos perfeitos e líquidos reais


Camada limite. Separação
 Assim, se um trecho curto de escoamento nas proximidades de
uma parede for acelerado a partir do repouso (pressões
decrescentes para jusante), poderá admitir-se que o escoamento é
quase irrotacional, pois a espessura da camada limite poderá ser
pequena. Este procedimento não é válido no caso de escoamento
retardado, em que a espessura da camada limite tende a crescer
mais rapidamente, podendo ainda dar lugar à separação da
camada limite, ou simplesmente separação (a estudar a seguir).

Progressão da camada limite no trecho inicial de uma conduta


84
Líquidos perfeitos e líquidos reais
Camada limite. Separação
 A fim de ilustrar o fenómeno da separação, considere-se o
movimento de um líquido real em torno de um cilindro. Entre A e B
e entre A e C a camada limite vai crescendo mas é sempre muito
pequena.

esteira

 Entre B e D, e C e D, a pressão tende a crescer no sentido do


escoamento (gradiente adverso da pressão), a espessura da
camada limite cresce rapidamente e a pressão vai retardar a
velocidade do escoamento no seu interior e inverter o respectivo
sentido: ocorre a separação do escoamento e a formação de uma
zona especial rotacional - esteira 85

Líquidos perfeitos e líquidos reais


Camada limite. Separação
SENTIDO DO ESCOAMENTO

SEPARAÇÃO NUM
ESCOAMENTO EM
TORNO DE UM CILINDRO

86
Líquidos perfeitos e líquidos reais
Camada limite. Separação

87

Líquidos perfeitos e líquidos reais


Camada limite. Separação

88
Líquidos perfeitos e líquidos reais
Camada limite. Separação
 A energia cinética é máxima em B e C e tende a ser recuperada
como energia de pressão de B e C para D. O escoamento separa-se
da parede em dois pontos simétricos, onde se originam vórtices (em
sentidos contrários em cada um dos pontos de separação). Em
determinadas condições, os vórtices desprendem-se e deslocam-se
dando lugar a uma esteira.

esteira

Esteira a jusante de um cilindro 89

Líquidos perfeitos e líquidos reais


Camada limite. Separação
 Exemplo: fenómeno de separação numa conduta divergente
 Quando a separação ocorre, as fronteiras sólidas deixam de
corresponder a linhas de corrente exterior;
 A separação é inconveniente devido ás perdas de energia a que dá
lugar no transporte de líquidos e pelas vibrações que pode originar –
uma forma de reduzir esta últimas é conferir formas apropriadas, as
ditas hidrodinâmicas.

Distribuição da velocidade num canal divergente


90
Líquidos perfeitos e líquidos reais
Camada limite. Separação
LÍQUIDO REAL
Condição de aderência

A velocidade é nula na parede


sólida.A pressão aumenta no
sentido do escoamento e faz
retardar e até inverter o sentido
das camadas de fluido próximas
da perede sólida.

Zonas Separadas

91

Líquidos perfeitos e líquidos reais


Camada limite. Separação

ESCOAMENTO SEPARADO
Zona quase irrotacional DIVERGENTE RISCO DE SEPARAÇÃO

92
Outras aproximações da hidrodinâmica
 Escoamentos em meios porosos – Modelo de Darcy
 Muitos dos escoamentos em solos naturais ou em meios artificiais
obedecem à lei de Darcy:

 V = − K ∇Φ
Em que V é a velocidade aparente (ou macroscópica) do escoamento –
velocidade nos poros dividida pela porosidade do meio e,
desprezando a altura cinética,
p
Φ = h+ carga hidráulica
γ
 A constante de proporcionalidade K é designada por coeficiente de
permeabilidade.

93

Outras aproximações da hidrodinâmica


 Condição da incompressibilidade:

div V = − K lap Φ = 0
 Conclusão: este tipo de modelo aproximado de escoamento
obedece também à equação de Laplace  malhas isométricas

 Observação: o modelo de Darcy é muito utilizado na engenharia


civil (mecânica dos solos, geotecnia) nomeadamente na análise de
fundações e na estabilidade de barragens de aterro.
 Na realidade, o escoamento nos poros do solo é viscoso (laminar) e
não irrotacional!!

94
Outras aproximações da hidrodinâmica
 Escoamento sem inércia (escoamento lento)

 Quando os escoamentos são muito lentos os termos de inércia na


equação de Navier-Stokes poderão ser desprezados:

p 
grad  + h  = µ lap V

γ 
• Exemplo de aplicação: estudo de movimentos de pequenas partículas
sólidas no ar ou na água  Solução de Stokes

95

Modelos aproximados
 A aproximação de “fluido perfeito” permite um conhecimento de
algumas características importantes dos escoamentos.
 Salientam-se os efeitos das curvaturas das linhas de corrente

 A consideração da viscosidade nula ou a hipótese da


irrotacionalidade podem ser aceitáveis em alguns tipos ou zonas
de escoamentos, nos quais a influência das superfície sólidas não
seja significativa, ou não estejam instaladas tensões tangenciais
relevantes.

96
Modelos aproximados
 A aproximação do escoamento irrotacional (potencial) permite, quando
válida, a obtenção dos campos de velocidade e de pressão, a partir do
conhecimento de funções escalares (φ ou χ) associadas a escoamentos bi
ou tridimensionais (2D ou 3D).
 Salienta-se a adopção destes métodos na análise das turbo-máquinas e na
aeronáutica
 Os efeitos da viscosidade junto das paredes sólidas (formação da camada
limite) conduz em muitas situações práticas relevantes a comportamentos
que as afastam significativamente das soluções aproximadas
 Exemplo: a ocorrência de separação
 A capacidade computável actual permite a obtenção de soluções
numéricas aplicáveis a casos práticos com base nas equações de Navier
– Stokes (2D e 3D)
 A instabilidade do escoamento (ocorrência de escoamentos turbulentos)
exige, contudo, modificação das equações de Navier - Stokes

97

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