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Poemas de

UM MUNDO NOVO

Carminda H. Proença
Poemas de U M M U N D O N O V O
Pg
Abertura 3
Viagem ao centro de mim 4
Autocriação 5
Vibrações 6
Continuum(Ar) 8
Tríptico (Aguarelas) 9
Vertigem 10
Agni (Fogo) 11
Água 12
Poema sem nome 13
O é e o pode ser 14
Poema de amor 15
Abrir caminho 16
Vida 17
Celebração 18
Natureza 19
Perdidos 20
Descobrir-Abrir-Abril 21
Nesteoutro Universos 22
Mulher 23
Fusão Origem 25
Meu caminho 26
Mar de mim 27
Desejo 28
Pedra Alta 29
Repetir 31
Esse estado amoroso de Ser 32
Alma nossa 33
Poema Oração 34
Solta-te! 35
Mmqaa 36
Sempre fomos… 37
A B E R T U R A

O paraíso? É aqui.
O fogo? Quase se vê...
Ouve-se na caldeira fervente.
É fim e é princípio
de toda a vida,
o magma incandescente.

Força telúrica, temível,


contida nesta beleza
que a cobre.
Sabe-se que existe;
mas quase se esquece
e mal se sente...

furnas, açores.
VIAGEM AO CENTRO DE MIM

"A busca de quem somos na distância de nós"


Fernando Pessoa

Eu fiz uma viagem


no interior de mim
e encontrei-me em ti.

Procurei conhecer-me
na distância de mim
e descobri-me em ti.

No regresso, conheci -me outra.


E, pela primeira vez,
gostei de mim.

Eu fiz uma viagem


na distância de mim,
e inteira fiquei
na memória que de mim encontrei.
A U T O C R I A Ç Ã O

Divisão interior.
Cisão esquizóide.
Que ao tocar-se, dói
ao tocar, se dói.

Atravessar a experiência
da divisão
pelo buraco negro do Universo
simétrico
na esperança de sair inteiro,
de ser de novo Um.

Aceitar a experiência
crística
de retorno ao Todo
atravessando a morte.

Aceitar o não ser mais


para Ser de novo.
Dualidade do ser e do não ser.
Dualidade do ser e do Ser.

Processo a fazer-se
por dentro
enquanto se vive.

Processo a fazer-se
na morte
(se morrer se souber...)

Autocriação. Cura.

Entender e aceitar a morte vivendo,


é viver.
O resto...é viver morrendo.
V I B R A Ç Õ E S

As palavras
são vibrações.
Como os silêncios.
Só valem
pelo seu eco
no mais fundo de nós.
Ressonâncias que somos
em tubos
de um mesmo orgão.

Palavras e silêncios.
Sons e pausas
de uma única harmonia:
o fluir
da energia da Vida.
C O T I N U U M
(Ar)

O dentro e o fora
tudo é igual
porque é distância
além do consciente
do aqui e agora.

Se eu consciente for
do dentro e do fora
como consciente sou
do eu que os delimita
e os separa...

Não há mais dentro


e fora e eu.
Não há mais
consciente e inconsciente.

Não há mais
polaridade e contradição.

Sou e não sou.


Todo continuum é.

No aqui de todo o lado


No agora de todo o sempre.
T R I P T I C O
( Aguarelas )

A fecundação...
potência de ser
entrando na matéria
pelo vortex
da carência e da obsessão.

A explosão...
purga da paixão
rebentar dos medos
o receber
a submissão.

A cura...
transparência calma
vazia e luminosa
da própria matriz
inteira
harmoniosa.
V E R T I G E M

Preparo-me
em cada instante
para viver em glória
a minha morte permanente,
pois logo já não sou mais
o que até agora fui.

Tomo fôlego.
Determinada sigo
na vertigem da viagem,
no rodopio para o Vortex
da minha própria matriz,
descobrindo sempre
novos e deslumbrantes Universos.
A G N I
(Fogo)

Partilhar-me toda
em cada instante,
e estar sempre só
inteira, em mim.

Toda ligada
e nunca presa,
nunca partida.

Solta e alegre,
leve e feliz:
não dividida.

Inteira, isolada,
na continuidade
harmoniosa
do dentro e do fora.

Só, mas em um Todo;


sempre toda no todo Um.

Vibração constante.
Constante latejar.
Ser interior ressonante.

Viver.
Feliz.
Amar, sem receber nem dar.
Vibrar com tudo
sem uma parcela
perder ou tirar
da substância que sou
ou não sou.

Nenhum poder mais


nada tem sobre mim.

Esta é a lei do Universo:


na harmonia do Todo
o poder não existe.
Só o Todo é poder.
Á G U A

Fluir e vibrar
leve
sem nada receber
nem dar
da substância essencial
interior.

Moldar-se
nas formas
de todas as estruturas
sem resistir;
só sendo
o que se é.

Responder
ao todo
transformando-se
com ele
sem nada deixar
de ser.
P O E M A S E M N O M E

As coisas só são
o que nós sentimos
que são.

Quando as sentimos
de outra maneira,
elas deixam de ser...
o que são.

É por isso
que as coisas são
sempre
o que são.
O é e o pode ser
(Terra)

Velhos companheiros
de jornada
somos e seremos
desde sempre
para sempre
enquanto tudo for...

Mais importante
do que querer (sem poder)
esgotar tudo
num aqui, num agora,
é viver bem fundo
cada todo do pouco que seja,

porque só o todo é
a felicidade única,
na dor do pouco
a que sabe o pode ser.
P O E M A D E A M O R

Eu quero ser capaz


de me oferecer a ti
toda

por inteiro
aqui.

Vibrante na emoção
de deixar de ser.

Explodindo
cada instante
em cada fibra
no êxtase
supremo
do prazer.

Eu quero morrer em ti
para em mim reviver.
ABRIR CAMINHO

No limiar de uma outra adultez,


Insegura sim; mas curiosa mais...
Abro caminho virgem,
o meu caminho.

No todo, mas só.


Na universalidade, mas único.

Só ao caminhar existe.
Minha criação.

Liberdade,
que destino se torna
por vivido ser.
V I D A

Tão só um início
incipiente
da caminhada.

De algum modo sabemos


na memória
do nosso inconsciente
oculto,

Que a tremenda potência


do princípio
será também o fim
a chegada.

Trememos e vibramos,
hesitantes
entre o ir e o ficar.

Fugir?

Não nos foi dado


o poder de não partir.

Será nosso
o poder de não chegar?
C E L E B R A Ç Ã O

Celebro
a minha entrega
à Tua Vontade.

Que a harmonia
do Teu Poder
- meu Todo -
se cumpra em mim.
N A T U R E Z A

Cada vez menos


sou eu que vivo.

Cada vez mais,


ser interior,
és tu em mim.

Olhando
pelos meus olhos
te deslumbras
com este entardecer
todo de espanto!

Meu critério
não é mais
a obra do homem,
mas a Natureza.

Meu olhar,
(porta aberta),
consente esta harmonia
em mim!
P E R D I D O S

A
TUDO
vou beber tudo
o que afinal já sei...
Esquecidos andamos
nas palavras;
perdidos de
que TUDO
SÓ JÁ
É.
DESCOBRIR - ABRIR - ABRIL

Meu corpo mar país


sofrendo
como antes
dores felizes
dum parto transmutação.

Abril, meu Abril,


sangrado de rosas e cravos,
tão novo e só...

...só de dentro para fora


Abril aberto:
além do mundo descobrindo...
descoberto!

Meu regresso.
Meu vibrante Lá.
Canção caravela
vela livre
que em Abril abriu
no coração
novo Universo.

Poema premiado num Concurso de Literatura e Artes


Plásticas sob o tema "Os Descobrimentos Portugueses"
promovido pelo C.C. Fonte Nova em 1991, Lisboa, com o
apoio da Comissão Nacional dos Descobrimentos
Portugueses.
NESTOUTRO UNIVERSOS

No tempospaço
destoutro universos
algures aqui,
o há-de ser já foi.

Todos os encontros
mesmo os desencantos
plenitude são
no há-de ser já foi
do tempospaço
algures aqui
destoutro universos.

É, toda a Poesia.
É, todo o Amor.

Lugar para a tristeza


não há.
Nem posse, nem poder.
Nem perda. Nem medo.
Nem não viver.

Consciência minha,
Meu coração,
Aberto vibra
E inteiro vive,
No tempospaço
Destoutro universos
Algures aqui.
M U L H E R

Teu corpo sangra.


E nessa morte
renasces
eternamente,
num redondo
sem princípio
nem fim.

És.
Fecunda, sempre.

Forte na partida
no prazer da diáspora,
cumprida.

Doce no regresso
aberta
consentindo em ti
outras vidas.

Sem mais dôr


de (te) prenderes
no desejo vazio
que já não és.

Corpo terra,
mar sangue.
Mulher vida.
Mãe.
Pátria.
Amada amiga.

Toda vazia
só podes receber.
Potência de ser.
Consagração amorosa
do poder de criar.

Corpo
sacrário ardente
teu fogo resplandesce.

Emoção interior
união semente
lua autogerando
no ventre
O que recebes
de um sol...

Rende-te.
Incendiada
aberta que foste
pela chave do sagrado

para sempre...
FUSÃO ORIGEM

Na semente
os extremos se tocam:
surge a vontade
de nascer...
... nasce a vontade
de viver.

Na vida
os extremos se afastam:
surge a vontade de morrer...

Tudo se enovela
até Tudo de novo ser:
e a semente da vontade de viver
volta a nascer!
MEU CAMINHO

Minha lua abaixo


crio raízes
atrás
no tempo.

Do Universo
bebo
a força luminosa,
por meu Neptuno.

Soltos os medos
as obsessões
sôo
radiante e leve!

Outrora já liberta
(só agora fraterna...)
feliz
na estima de mim.

Expande-te consciência!
Salta na fusão
sem limites
em que o ego morre...

Certeza integradora
do absoluto.
Missão
que docemente se cumpre.
MAR DE MIM...
Sesimbra

Entrei na vida
por porta
rochosa e agreste
já feliz e livre.

Vim de novo sofrer


ilusões
de ser encarcerado.

Metade da vida
esquecida do que fui
só a meio lembrada,
faço a ponte...

e deixo-me fluir
deixo-te fluir
coração bem aberto.

Para isso voltei.


Para ser rio de ti
para ser mar de mim...
D E S E J O

Este pouco de mim


só em ti pode crescer
ligados que estamos
ligados que fomos
ligados que aceitámos ser
esse pouco de ti
só em mim
pode acontecer...

Ligados que estamos


ligados que fomos
unidos que nos desejamos
algo em cada mim
só em cada ti
pode
Ser...
“P E D R A A L T A” (1)

Na praia
sentada na Pedra Alta
perguntei ao meu corpo:

"o que é que em mim é Terra?"


...Senti meu peso
na dureza da rocha fria
e minha própria solidez
ao tocá-la...

"O que é que em mim é Água?"


O barulho exaltado
duma emoção ondulada
a quietude tranquila
dum silencioso marulhar,
no interior de mim senti...

"O que é que em mim é Ar?"


Por cima da minha cabeça
vi meu pensamento partir,
turbilhar...
Senti na brisa leve e fresca
longínquas mensagens
acariciando minha pele
em íntimo diálogo...
Finalmente perguntei
ao meu corpo
(ansiosa por senti-lo):

"O que é que em mim é Fogo?"


Um suave incêndio
de pronto flamejou
e ao calor do sol
numa tocha ardente
toda me tornei...

"De onde vem tanta força?


Tanto poder?" Perguntei.

Por trás das pálpebras cerradas


tudo, de repente, se ilumina!
E do centro de mim
-cadinho alquímico -
é meu coração
quem responde...

"Da substância prima


do solvente Universal
do Caos que tudo cria...
...o Amor..."

(1) Poema recebido na Praia de Seimbra, sentada na


“Pedra Alta” onde se diz ter aparecido uma estátua
do Senhor Jesus das Chagas, padroeiro de
Sesimbra.
R E P E T I R

Repetir para quê?


Se cada momento
vivido no seu pleno
é sempre mais belo
que qualquer repetição?

Repetir para quê?


Repetir
é encontrar desilusão!
ESSE ESTADO AMOROSO DE SER

Esse estado amoroso de Ser


Criador e Criatura

De ser voz
de ser pedra
de ser nada...

De ser uma só contigo,


de sermos os dois, um só Outro.

Esse estado amoroso de Ser...

Esse estado de, amorosamente,


Viver!
ALMA NOSSA

Meu irmão
na alegria da tua presença
permanente
não há lugar para a saudade...

Minha amiga
no calor do teu regaço
aconchegante
não há lugar para a solidão...

Meu Amado
na Manifestação
da Tua Presença iluminante,
dá-nos a Graça do receber e do dar.

Terna felicidade
Este irradiante bailado de alma nossa!
Poema O R A Ç Ã O

Então a única coisa que eu tenho que fazer é


oferecer-me à Tua Graça / Merçê / Vontade como
um elo que n’Ela me descubro, de uma imensa
Realidade transbordante de Amor?

E, pela Tua Graça, crescer / expandir-me na


consciência / sabedoria da qualidade / timbre de
que sou feita / me fizeste?

Assim, posso ir (re)conhecendo -me e ao “grupo de


almas” a que pertenço, aos cachos de qualidade /
timbre / vocação afim?

Como Tudo se torna mais claro às nossas


consciências quando nos afinamos juntos, pela
união da comum intenção, da intenção certa da
nossa comum missão específica para o bem da
humanidade, para a plena Glória da Tua, e nossa,
Manifestação!

O que houver a fazer Tu m'o indicarás e abrirás


meus caminhos, eu sei!

Assim estejam os meus sentidos (interiores e


exteriores) abertos e atentos (aware), dispertos,
para Te (re)conhecer….

Assim esteja a minha alma alegre e serena para Te


receber e espelhar, como o lago recebe o riacho
cintilante, brilhando à luz do Sol…

Assim esteja o meu espírito leve, vibrante e


cristalino para ressoar na Tua Palavra e levar Teu
eco na brisa, ao redor, por entre planícies, fragas e
montanhas…

Aqui estou, Agora. Presente, Te aguardo, meu Bem


Amado.
SOLTA-TE!

Solta-te!
Solta-te e voa, leve, num bailado sem peso,
de alegria esvoaçante,
minha alma, meu ser…
Solta-te e voa!
Entrega-te sem receio algum,
ousada e submissa…
Banha-te na Fonte que te viu nascer!
TAO

Só tu rasgas
um sorriso
em meus lábios
Quando estou triste

Só tu vertes lágri mas


Em meus olhos,
De serena paz
E amorosa entrega

Só tu...
Meu amado
Meu amigo
SEMPRE FOMOS ...

Procuro-te fora de mim


E não te encontro.
Percebo então que olhas, por meus olhos
Sorris, na minha boca
Teu coração bate no meu...

Já não somos dois mas um só.


O Um que sempre fomos...
O UM que sempre somos.

Pois Tu, Amor, vives em mim!

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