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Soluções de “Cutter Soil Mixing” em Contenção de Terrenos

Alexandre Pinto
JetSJ Geotecnia, Lda., Lisboa, Portugal, apinto@jetsj.pt

Rui Tomásio
JetSJ Geotecnia, Lda., Lisboa, Portugal, rtomasio@jetsj.pt

Xavier Pita
JetSJ Geotecnia Lda., Lisboa, Portugal, xpita@jetsj.pt

Pedro Godinho
JetSJ Geotecnia, Lda., Lisboa, Portugal, geral@jetsj.pt

RESUMO: Tendo por base a experiência recente da aplicação da tecnologia de Cutter Soil Mixing
(CSM), o objectivo do presente artigo é o de apresentar um caso de obra em que a referida tecnolo-
gia de CSM foi aplicada em estruturas de contenção de terras, estabilizadas através de tirantes defi-
nitivos, dando ênfase aos principais critérios de conceção e de execução adoptados. É destacada a
importância da definição do ligante, bem como do controlo de qualidade, antes e durante a execu-
ção dos painéis de solo-cimento. Por fim, é apresentada uma comparação entre a tecnologia de
CSM e outras técnicas convencionais, do ponto de vista das vantagens e limitações técnicas, eco-
nómicas e ambientais.

PALAVRAS-CHAVE: Cutter Soil Mixing, CSM, Contenção.

1 INTRODUÇÃO grau de desenvolvimento do equipamento e o


método executivo possibilita a criação, de for-
A tecnologia de CSM consiste na mistura de ma económica e com elevada qualidade geomé-
solo com um ligante (cimento, gravilha, cal, trica e de homogeneidade, de painéis verticais
etc.), com recurso a um conjunto de rodas de de mistura solo-ligante, com possibilidade de
corte (Cutters) – análogas às utilizadas, por serem armados com perfis metálicos (Figura 1).
exemplo, em paredes diafragma, realizadas A espessura dos painéis pode ainda ser ajustada
através da tecnologia de hidrofresa. Esta tecno- através da raspagem dos mesmos durante os
logia permite a produção de painéis rectangula- trabalhos de escavação.
res com a resistência e características químicas
ajustadas à composição do solo atravessado. No
processo de execução dos painéis, as rodas de
corte desagregam a matriz do solo e promovem
a mistura deste com a calda de ligante, de modo
a possibilitar a obtenção de uma mistura solo-
ligante homogénea. Na génese do sistema está,
como referido, um par de rodas de corte (Cut-
ters) com a capacidade de rodarem em ambas
as direcções. A tecnologia pode ser aplicada em
vários enquadramentos geotécnicos desde solos
rijos a rochas brandas ou até mesmo através de
camadas estratificadas, tornando a utilização
deste método bastante universal. O elevado Figura 1. Faseamento de execução de painéis com recurso
à tecnologia de CSM.
Como já referido, durante o processo de cor- Figura 2. Fotografia aérea do local de intervenção, antes
te, o solo natural é desagregado e misturado do início dos trabalhos.
com a calda ligante, sendo esta introduzida O conjunto de estruturas de suporte apresenta
através de injectores, localizados entre as duas um desenvolvimento longitudinal de 700m com
rodas de corte. Como igualmente já referido, os a altura das mesmas a tomar valores médios de
painéis rectangulares de CSM podem ser pro- cerca de 10m, com o muro M2 a atingir os 13m.
duzidos em qualquer tipo de solos e em rochas
brandas, com um espessura até 1,5m e profun-
didades até cerca de 60m. 2 PRINCIPAIS CONDICIONAMENTOS
Para o controlo da execução, a informação
principal, como por exemplo: velocidade e di- 2.1 Geologia, Geotecnia e Hidrologia
recção das rodas de corte, verticalidade dos
painéis, pressões de corte, volumes de injecção As soluções desenvolvidas foram apoiadas nu-
de calda, entre outra, é continuamente apresen- ma caracterização geológica e geotécnica, reali-
tada, em tempo real, ao operador do equipa- zada a partir dos resultados de uma campanha
mento. de prospecção geológico-geotécnica, envolven-
No âmbito do Projecto de Quadruplicação e do a execução de trinta e nove (39) sondagens
Inserção da Linha de Alta de Velocidade, na mecânicas de furação vertical, incluindo a rea-
Linha do Norte / Linha de Cintura, em Lisboa, lização de ensaios SPT, a cada 1,5m. Foram
foi necessário executar escavações de modo a ainda recolhas amostras remexidas, para poste-
permitir a expansão, para Poente, da plataforma rior tratamento laboratorial (identificação e
ferroviária existente. Como tal, e localizando-se caracterização dos solos colhidos).
a obra em terrenos com utilização industrial, Com base na prospecção geológico-
com uma faixa possível de implantação delimi- geotécnica efectuada, assim como nas informa-
tada pela Linha do Norte, a Nascente, e por ções recolhidas na Carta Geológica de Lisboa,
edificado, a Poente, para vencer o desnível exis- foi possível a caracterização prévia do maciço a
tente entre as duas confrontações, de forma escavar e a conter. O mesmo era constituído
compatibilizada com os condicionamentos exis- pela unidade litoestratigráfica das Areolas de
tentes, foram executadas quatro (4) estruturas Braço de Prata. Esta unidade litoestratigráfica
de suporte. Estas estruturas forma materializa- encontrava-se irregularmente coberta por depó-
das com recurso a painéis de solo cimento, exe- sitos coluvionares e aluvionares, datados do
cutados através da tecnologia de CSM, revesti- Holocénico, e por aterros contemporâneos.
dos com uma parede de concreto armado e tra- A campanha de prospecção levada a cabo
vados por tirantes pré esforçados, definitivos permitiu identificar as seguintes formações, a
(Figura 2). partir da superfície:
 Camada de aterro, mais superficial, de-
finida em todas as sondagens, com es-
pessura reduzida de 0,5m.
 Camadas de areolas, constituídas por
areias muito finas e siltes greso-
carbonatadas, levemente argilo-margosa,
com passagens de “cascão” fossilífero,
variando em profundidade de mediana-
mente compactas a compactas.
 Pontualmente, camadas de siltes-
argilosos, margoso de consistência de
muito dura a rijo e de cor cinzento-
escuro azulado.
No que diz respeito a à hidrologia do local, a No enquadramento descrito, as soluções pro-
análise das leituras efectuadas através de pie- postas tentaram minimizar o impacto no normal
zometros, revelou a presença de nível freático, funcionamento destas estruturas e de todas as
em algumas sondagens, à profundidade de cerca infraestruturas, tendo sido compatibilizadas
10m, o que se traduziria, em alguns pontos dos com o levantamento das mesmas, disponível
muros a executar, a cerca de 5m acima da cota durante a fase de projecto.
final de escavação.
Na Tabela 1 apresenta-se um resumo do zo-
namento geológico-geotécnico efectuado, inclu- 3 SOLUÇÕES PROPOSTAS
indo os valores dos principais parâmetros geo-
mecânicos considerados: As soluções propostas e implementadas consis-
tiram, no essencial, na execução de uma parede
Tabela 1 - Parâmetros geomecânicos das diferentes zonas de contenção constituída por painéis de solo-
geotécnicas consideradas. cimento, realizados a partir da superfície, antes
Zona  E  c’ de qualquer trabalho de escavação, com recurso
Formação
Geotécnica kN/m³ MPa º kPa à tecnologia de CSM, posteriormente revestidos
ZG1 Aterros 19 10 22 0 com uma parede de concreto armado. Na exe-
Areolas cução da parede em painéis de solo-cimento
ZG2 Medianamente 20 20 33 0 foram adoptados painéis com 2,40 x 0,50m²,
Compactas com uma sobreposição mínima de 0,20m e uma
ficha mínima de 4,00m, abaixo do fundo da
Areolas Com-
ZG3 21 35 35 0 escavação, de forma a garantir a mobilização do
pactas
impulso passivo, necessário ao equilíbrio e cor-
2.2 Principais Condições de Vizinhança recto funcionamento da estrutura de suporte
(Figura 4). A dosagem de cimento utilizada,
A área da intervenção inseria-se numa zona cerca de 600kg/m3, permitiu a obtenção de va-
industrial, delimitada por arruamentos e por lores de resistência à compressão não confinada
diversas construções vizinhas, algumas a pre- e do modulo de deformabilidade de 4MPa e
servar e outras a demolir. Destas condicionantes 1GPa, respectivamente.
destacavam-se os edifícios existentes no topo
da escavação, cuja fachada principal confronta
a Av. Infante Dom Henrique, a Poente, e o Via-
duto da Av. Marechal Gomes da Costa, a Sul
(Figura 3).

Figura 4. Planta da seção da solução.

Os painéis de CSM foram armados vertical-


mente com perfis em aço laminado, cujas sec-
ções transversais, ajustadas aos esforços a que
se encontrariam submetidos, foram do tipo
Figura 3. Principais confrontações dos muros a executar.
IPE270 (NP EN 10025:S275JR).
Os perfis metálicos ficaram afastados de cer- roamento e de distribuição, estas últimas com
ca de 1,10m entre si, tendo sindo localizados secção de 0,65x0,5m², sendo a restante superfí-
junto à face intradorso dos painéis de CSM, de cie, existente entre vigas, revestida com uma
forma a facilitar a sua ligação às vigas de distri- parede de concreto armado, com uma espessura
buição, com o eixo da alma orientado na per- de 0,2m. Os tirantes foram constituidos por 6
pendicular à escavação. cordões, de aço de pré-esforço do tipo Y1860S7
(EN 10027) (Figura 6). Para a transmissão de
carga dos tirantes ao terreno de fundação foram
executados bolbos de selagem, com 10m de
comprimento, através da tecnologia de injecção
repetida e seletiva IRS, recorrendo a obturador
duplo e a válvulas anti-retorno (Bustamante, M.
e Doix, B., 1985). Com vista a facilitar a even-
tual realização de tirantes de reforço foram dei-
xados negativos, tanto nas vigas de coroamento,
como nas de distribuição.
Face à previsível existência de nível freático
acima da cota da base de escavação, instalaram-
se geodrenos Ø50mm, materializados por tubos
PVC crepinado, envoltos em geotêxtil de sepa-
Figura 5. Fase intermédia da execução da contenção. ração, não tecido, com no mínimo 200g/m2.

A parede de contenção, formada pelos pai- 4 DIMENSIONAMENTO


néis de CSM, pelos perfis verticais e pela pare-
de de forro em concreto armado, foi encabeça- A análise realizada consistiu no estudo das sec-
da por uma viga de coroamento em concreto ções mais representativas de cada muro de su-
armado, com secção de 0,8x0,7m², e travada porte, no total de 7 secções tipo, com o intuito
definitivamente, através de 4, 3 ou 2 níveis de de avaliar as deformações, estados de tensão e a
tirantes definitivos, em função da altura total de estabilidade do maciço a conter, bem como a
escavação vencer. Os tirantes foram executadas estimar os factores de segurança associados a
durante a escavação, de cima para baixo, em cada fase do processo construtivo, de modo a
paralelo com a realização da parede de revesti- melhor avaliar e compreender a evolução dos
mento (Figura 5). esforços e das deformações a que a estrutura,
como um todo, e os painéis de CSM, em parti-
cular, se encontrariam submetidos (Figura 7).

Figura 6. Corte tipo do Muro M3A.

Os referidos tirantes, ficaram afastadas entre


si de 3,3m e inseridas ao longo de vigas de co- Figura 7. Campo de deslocamentos para o M3A.
Nas verificações de segurança efetuadas, foi vas, devido à sua extensão e diâmetro de fura-
adoptada a regulamentação internacional em ção, foram realizados quatro (4) ensaios prévios
vigor (EN 14679:2005) ou, em situações não de tirantes, de acordo com a EN 1537. Os en-
previstas regulamentarmente, metodologias de saios foram divididos entre o Muro M2, com
cálculo reconhecidamente comprovadas (Bus- dois (2) ensaios, e o Muro M3A, com outros
tamante e Doix, 1985). Os terrenos interessados dois (2) ensaios (Figura 8).
foram modelados a partir dos parâmetros geo-
mecânicos.

5 CONTROLO DE QUALIDADE E DE
EXECUÇÃO

5.1 Painéis de CSM

Sendo uma tecnologia ainda relativamente re-


cente no panorama geotécnico, torna-se difícil o
recurso a metodologias previamente testadas,
para o estabelecimento prévio dos parâmetros
de rácios de ligante por metro cúbico de solo
para a obtenção dos valores de resistência e de
deformabilidade requeridos em projecto. Como Figura 8. Vistas do ensaio prévio de um tirante.
tal, no âmbito de toda a empreitada dos quatro
(4) muros, foram executados dois (2) painéis Através da realização destes ensaios prévios,
teste, com um comprimento de 6,00m com o provou-se ser possível, no presente dispositivo
objectivo de ajustar os principais parâmetros. geotécnico, a mobilização de uma tensão tan-
Os valores finais, para garantir o valor de gencial calda-solo com um valor de, pelo me-
4,00 MPa de resistência à compressão simples e nos, 275kPa, sendo que, para efeitos de dimen-
o valor de módulo de deformabilidade dos pai- sionamento e de cálculo da capacidade resisten-
néis, para cargas axiais, de 1,0 GPa, ambos os te dos bolbos de selagem, se havia inicialmente
valores aos 28 dias, foram os apresentados na considerado uma tensão tangencial com um
Tabela 2. valor de apenas 200kPa, resultando numa eco-
nomia substancial do comprimento total dos
Tabela 2 - Parâmetros adotados para os painéis de CSM. tirantes.
Relação Quantidade Programação
Quantidade 6 FASEAMENTO CONSTRUTIVO
A/C da de cimento da quantidade
de cimento
calda da calda de calda
0,9 750 kg/m³ 1065 l/m 600 kg/m³ Apresenta-se em seguida, de forma sucinta, um
resumo do faseamento dos trabalhos executados
Estes valores foram verificados em fase de recorrendo a fotografias tiradas no local de o-
obra, através do registo contínuo dos parâme- bra, para o caso particular do Muro M3A.
tros de execução, assim como através da reco-
lha de carotes e de amostras em fresco com 6.1 Fase 1
vista a realização de ensaios laboratoriais do A primeira fase dos trabalhos, incluiu as seguin-
tipo UCS, com medição do valor do módulo de tes principais operações:
deformabilidade. a) Execução dos painéis CSM, com geometria
e comprimento total que garantisse o encas-
5.2 Tirantes Definitivos tramento mínimo definido em Projecto, ten-
do em consideração os parâmetros previa-
De uma forma análoga, de modo a optimizar os mente calibrados através dos painéis de tes-
comprimentos de selagem dos tirantes definiti- te.
b) Colocação dos perfis verticais IPE270 (NP
EN 10025: S275JR) no interior dos painéis,
imediatamente após a conclusão destes e an-
tes do início de presa do cimento. Estes per-
fis foram colocados junto à face visível dos
painéis, de forma a facilitar a sua posterior
ligação às vigas metálicas de distribuição em
concreto armado.

6.2 Fase 2
Na segunda fase dos trabalhos, podem ser des-
tacadas as seguintes principais actividades:
c) Execução da viga de coroamento, em con-
creto armado, com os negativos para os ti-
rantes, de forma a solidarizar todos os pai- Figura 10. Fase 3 a 5 do faseamento construtivo do Muro
néis e todos os perfis verticais IPE, embebi- M3A.
dos nos mesmos.
d) Execução do 1º nível de tirantes definitivos, 6.4 Fase 6
localizado na viga de coroamento. (Figura A última fase, sexta fase dos trabalhos, inclui-
9). ram as seguintes principais actividades:
f) Continuação da escavação, com a repetição
das etapas anteriores, até atingir a cota do
fundo da escavação, com a instalação dos
geodrenos Ø50mm com 6m e execução da
sapata de fundação (Figura 11).

Figura 9. Fase 2 do faseamento construtivo do Muro


M3A.

6.3 Fase 3, 4 e 5
A terceira, quarta e quinta fases dos trabalhos,
incluiram as seguintes principais operações: Figura 11. Fase 6 do faseamento construtivo do Muro
e) Escavação até, no máximo, 0,5m abaixo do M3A.
2º nível de tirantes, compatibilizada com a
execução da parede de revestimento em con- 7 INSTRUMENTAÇÃO /OBSERVAÇÃO
creto armado. Execução da viga de distribui-
ção e do 2º nível de ancoragens, seguindo as Sendo a instrumentação uma comprovada fer-
metodologias descritas nos pontos anteriores, ramenta de verificação e validação da solução
incluindo instalação de alvos topográficos, adoptada, não só na fase construtiva, mas i-
conforme definido no Plano de Instrumenta- gualmente durante a fase de serviço, foi imple-
ção e Observação (Figura 10). mentado um Plano de Instrumentação e Obser-
vação (PIO), com o objectivo de avaliar, em
tempo útil, o comportamento das estruturas.
No enquadramento descrito, foram instalados mação da estrutura de contenção na direcção à
65 Alvos topográficos (A), distribuídos pelos escavação (Figura 13).
vários alçados das estruturas de contenção, 22 Após a análise destas ocorrências, constatou-
Células de carga (C), para aferição da carga se que no tardoz da estrutura de contenção, o
instalada nas ancoragens, e 11 Inclinómetros tráfego de veículos pesados tinha deformado os
(I), a tardoz das estruturas de contenção. tubos inclinométricos excessivamente, e, por
Estes aparelhos permitiram a definição de um questões de organização de trabalhos, a não
total de 23 perfis verticais de observação, pro- realização dos geodrenos imediatamente após a
cedendo-se à leitura dos mesmos com uma pe- execução da escavação, tinha comprometido a
riodicidade semanal, em fase de obra, e uma capacidade de drenagem da estrutura de supor-
vez por trimestre durante os primeiros 3 anos de te. Este facto terá promovido o estabelecimento
serviço. de impulso hidrostático no tardoz da contenção,
situação que não havia sido considerada no di-
mensionamento da estrutura de contenção.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As soluções apresentadas destacaram-se pela


sua dimensão, e, acima de tudo, pela aposta
numa tecnologia inovadora, permitindo demos-
trar, na sequência de realizações anteriores
(Pinto, 2011), a excelente aplicabilidade da
tecnologia de CSM em diferentes tipos de solu-
ções e de ambientes geológicos e geotécnicos.
O recurso a uma parede mista de painéis de
Figura 12. Análise comparativa das deformações estima- solo – cimento, executados através da tecnolo-
das e medidas para o Muro M3A. gia de CSM, revestidos com uma parede em
concreto armado, possibilitou, em primeiro
A partir dos resultados dos cálculos realiza- plano, uma solução que se destaca pelo trata-
dos para o dimensionamento das soluções fo- mento do solo existente e utilização do mesmo
ram definidos critérios de alerta e de alarme, como parte constituinte da estrutura final, em
assim como medidas de reforço, caso os referi- detrimento da mera substituição do solo por
dos critérios viessem eventualmente a ser atin- elementos de aço ou concreto, como são exem-
gidos. plo a generalidade das soluções tradicionais.
Verificou-se que, no decorrer da obra, os des- Em segundo plano, a garantia do confinamento
locamentos apresentados pelas estruturas de do maciço ao longo de todas as fases de escava-
contenção foram, em geral, inferiores aos esti- ção. Esta segunda valência apresenta ainda uma
mados numericamente. Destaca-se que através dupla economia já que, face a uma solução de
dos dados obtidos foi possível detectar duas estruturas de contenção do tipo “Berlim defini-
situações anómalas no Muro M3A. Nos primei- tivo”, foi possível a abertura de grandes frentes
ros metros do inclinómetro, extensão corres- de escavação, sem a necessidade de paineliza-
pondente ao murete sobre a viga de coroamen- ção, com diminuição substancial do rendimento
to, foram detectados deslocamentos excessivos do faseamento construtivo, assim como possibi-
na direcção da escavação, valores que não eram litou o controlo do sobreconsumo de concreto,
confirmados pelos alvos topográficos. Nos úl- visto a face de betonagem ser constituída pelos
timos 4 metros de escavação, profundidade painéis de solo-cimento, executados ao abrigo
coincidente com a posição estimada do nível da tecnologia de CSM. A solução implantada
freático, foi igualmente detectada uma defor- apresentou assim, e comparativamente com
soluções tradicionais, vantagens ambientais,
associadas a uma economia de tempo e de ma-
terial aplicado em obra.
A tecnologia de CSM permitiu igualmente o
reforço dos painéis com perfis metálicos, con-
seguindo-se assim um aumento da resistência
ao corte e à flexão. O reforço com os perfis
metálicos facilita igualmente a interligação com
outros elementos estruturais como lajes, ou, no
presente caso, as vigas de distribuição.
O próprio comportamento, praticamente im-
permeável, dos painéis de CSM, assim como a
ausência de juntas construtivas, possibilita a
escavação abaixo do nível freático, como de
resto já tinha sido apresentado em trabalhos
anteriores (Pinto et al, 2010), aspeto este que,
na ausência de elementos de caracterização da Figura 14. Fotografia do final da obra: muro M3A.
presença e posição do nível freático, constitui
ainda uma vantagem adicional face a uma solu- Como nota final, considera-se importante
ção do tipo “Berlim definitivo”. voltar a destacar o papel importante da instru-
mentação e observação na comprovação do
bom desempenho das soluções projectadas e
executadas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a todas as entidades en-


volvidas no processo a autorização para a reda-
ção e publicação do presente artigo. Conside-
ram ainda importante sublinhar que a solução
implementada resultou de um trabalho de equi-
pa, no âmbito do qual deve ser destacado o pa-
Figura 13. Fotografia do final da obra: muro M2. pel importante a empresa REFER, Dono de
Obra e Fiscalização, GeoRumo, empreiteiro dos
O grau de sofisticação do equipamento de trabalhos de geotécnica, Obrecol, empreiteiro
execução garante o ajuste e a correção, em geral, e Profico, revisor do Projecto.
tempo real, dos parâmetros de execução dos
painéis assim como um registo contínuos das REFERÊNCIAS
diferentes variáveis geométricas e construtivas
de cada painel. Bustamante, M. e Doix, B. (1985) Une method pour le
No entanto, com a presente empreitada, fo- calcul de tirants et des micropieux injectes, Bulletin de
Liason des Laboratories des Ponts et Chaussées,
ram também identificadas algumas limitações Ministére de L’Équipement, du Logement, des
do recurso à tecnologia de CSM. As grandes Transports et de la Mer, Paris, nº 140, pp. 75-92.
dimensões e peso do equipamento, e sobretudo, Fernandes, M. M. et al (2010) A Técnica de Cutter Soil
a necessidade de um controlo de qualidade e de Mixing aplicada a escavações urbanas” – V Congresso
execução muito exigente, como de resto ineren- Luso Brasileiro de Geotecnia, Gramado - RS, Brasil,
Sessão Paralela 2 – Escavações Profundas em Áreas
te à maioria das técnicas de tratamento de solos. Urbanas, publicado em CD.
De uma forma geral, e como base na informa- Pinto, A. et al (2011) Ground Improvement Solutions
ção recolhida, até à data, pela instrumentação using Cutter Soil Mixing Technology, Proceedings of
instalada, as soluções implantadas têm vindo a the 1st International Conference on Advances in Ge-
demostrar um bom comportamento estrutural e otechnical Engineering, Perth, Australia, pp. 511 –
518.
geotécnico (Figura 13 e Figura 14).

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